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FUNDAMENTOS DE GESTÃO AULA 4 Prof. Cláudio Aurélio Hernandes 2 CONVERSA INICIAL Nessa aula vamos falar a respeito de alguns conceitos básicos relacionados com funções exercidas pelo gestor no ambiente organizacional, em cinco temas principais: (i) Estratégia; (ii) business intelligence; (iii) Processo Decisório Organizacional; (iv) Estratégia de Inovação e (v) Mudança Organizacional. O objetivo principal dessa aula é discutir aspectos relativos à estratégia competitiva no contexto das organizações. Discutiremos inicialmente sobre os conceitos de estratégia e sua aplicação no ambiente organizacional. No tema 2 trataremos de instrumentos cada vez mais empregados para a execução da estratégia das empresas, conhecidos como inteligência competitiva de negócios ou business intelligence. Complementarmente, o tema 3 trata da noção de processo decisório organizacional, complementando a noção de decisão discutida em capítulos anteriores. Por fim, os últimos temas tratarão sobre questões relacionadas às estratégias de inovação e o processo de mudança e que constituem, portanto, duas faces da mesma moeda. CONTEXTUALIZANDO Você já teve a oportunidade de entrar em contato com alguns elementos que fundamentam o trabalho do gestor, como exemplificado anteriormente. Também se deparou com elementos que fazem parte do cotidiano do indivíduo que atua como gestor e com os quais tem de lidar, como a gestão do tempo e o uso de ferramentas de busca da efetividade na execução de ações como a gestão da atenção. Seja um gerente do nível operacional de uma grande ou pequena organização, do nível tático ou estratégico; todos lidam com diferentes assuntos simultaneamente, necessitam comandar e se relacionar com pessoas e, ao final de tudo, buscar o resultado almejado pela organização. Nesta aula aprofundaremos os conhecimentos e as ferramentas disponíveis ao gestor de uma empresa de negócios ou organização, introduzindo a noção de estratégia. O conceito de origem militar foi introduzido no campo da gestão e se tornou peça chave na construção de conceitos e ferramentas que buscam resultados e objetivos estabelecidos por aqueles que se propõem a dirigir e 3 operar pequenos e grandes empreendimentos. Esperamos que os elementos descritos a seguir possam contribuir na instrumentalização do gestor em formação. TEMA 1 – ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA De acordo com Maximiano (2002), a palavra estratégia deriva de uma palavra de origem grega que designava “a arte dos generais”. Estrategos designava os comandantes dos exércitos gregos. Maximiano (2002) afirma que para o filósofo Aristóteles, a noção de estratégia compreendia o objetivo de alcançar a vitória no contexto da guerra. O conhecimento da estratégia militar até os dias atuais é alvo de estudos, de modo que práticas e conhecimentos relativos a batalhas desde a antiguidade são estudadas para o aperfeiçoamento das ações militares contemporâneas. O que se tornou algo inovador com a emergência das escolas de negócios norte-americanas a partir da década de 1950 do século XX foi a introdução destes conhecimentos no contexto corporativo dos negócios. A noção de estratégia, em que partes concorrem pela disputa de recursos foi aplicada ao ambiente dos negócios corporativos em que empresas concorrem entre si ao disputarem mercados e recursos. Descartado o uso da violência física, a noção de estratégia passa a ser empregada com vistas a vencer empresas concorrentes no ambiente dos negócios e buscar melhores resultados financeiros. Diversas obras relacionadas à estratégia militar são referências no mundo dos negócios, como: A arte da Guerra, obra de um antigo militar chinês – Sun Tzu; O príncipe, de Maquiavel, que apesar de tratar também das habilidades políticas do governante também descreve suas estratégias de caráter militar; estudos relativos às realizações do general e intelectual militar alemão que viveu entre os séculos XVIII e XIX “Von Clausewitz”, os quais também destacam as estratégias militares e sua relação com a noção de política (Fernandes, 2018). A estratégia pode ser compreendida como a disputa por recursos entre concorrentes, mas a noção de cooperação entre organizações diversas também se aplica ao conceito de estratégia, como afirmam Begnis, Pedrozo e Estivalete (2008). A noção de estratégia no contexto corporativo se desenvolveu desde a década de 1950 do século XX a partir de estudos realizados por especialistas em negócios corporativos dos quais merecem destaque: Igor Ansoff e Alfred D. 4 Chandler, Michael Porter, Henry Mintzberg e, por fim, Norton e Kaplan (Maximiano, 2002). As ideias desenvolvidas por estes autores são empregadas até os dias atuais no delineamento de planejamentos e ações estratégicas de pequenas e grandes corporações. A medida que tais conhecimentos são difundidos entre escolas de negócios, estes autores se tornaram referência para executivos e administradores de todo o mundo ocidental. Destacam-se algumas de suas ideais principais e modos de aplicação de seus conceitos no ambiente corporativo. De acordo com Maximiano (2002), Igor Ansoff busca explicar a estratégia com base na análise da situação atual do negócio, da identificação de tendências e do processo decisório. Já o historiador Alfred D. Chandler, segundo Maximiano (2002), enfatiza que a empresa deve estabelecer metas e objetivos de longo prazo, cursos de ação e a definição sobre onde irá aplicar seus recursos. A ênfase destes autores está na análise da concorrência e de produtos e serviços ofertados pelas empresas e no planejamento de ações. Tratam-se, portanto, de estratégias voltadas para empresas em ambientes de negócios concorrenciais essencialmente. Estes autores estimularam a aplicação de uma ferramenta bastante difundida entre organizações de negócios, públicas e não governamentais, conhecida como “Planejamento Estratégico”, um conjunto de itens a serem avaliados pelos dirigentes da organização, com intenção de definir seu plano de ações de curto, médio e longo prazo. A primeira etapa do planejamento estratégico constitui a definição da sua visão, missão e objetivos. A visão compreende o modo como seus dirigentes esperam que seu negócio seja identificado pela sociedade no curto, médio e longo prazo. A missão estabelece a finalidade a que se propõe a organização e os objetivos que são estabelecidos para cumprir esta missão. Definida a visão, a missão e os objetivos da organização, o segundo passo do planejamento estratégico compreende um diagnóstico do ambiente externo à organização, de forma a identificar ameaças e oportunidades decorrentes do ambiente. As diversas áreas externas de influência devem ser analisadas, desde a dimensões política, econômica, cultural, social e tecnológica. 5 A terceira etapa compreende o diagnóstico interno em que se avaliam os pontos fortes e fracos da organização em relação aos objetivos propostos e ao diagnóstico externo previamente realizado. O nível de detalhamento de um planejamento estratégico está diretamente associado à sua efetividade. Durante muito tempo, ao menos no contexto brasileiro, a ênfase no planejamento estratégico como ferramenta estratégica sucumbiu por um simples motivo: a falta de acompanhamento da sua execução. Não basta, portanto, realizar um planejamento estratégico extremamente detalhado. Faz-se necessário acompanhar sua execução e, se necessário, revisá-la continuamente. Outro autor que contribui até hoje para aplicação de diversosconceitos no campo da estratégia é Michael Porter, que desenvolveu duas ferramentas no campo estratégico bastante difundidas: o esquema de forças competitivas de um ramo de negócios e a cadeia de valor. O esquema de forças competitivas pode ser exemplificado na Figura 1 e representa um modo de diagnosticar a influência de agentes externos entre os concorrentes de um ramo de negócios. Trata-se de uma ferramenta que auxilia o dirigente e ou investidor de um determinado ramo de negócios a avaliar a posição de sua empresa ou potencial no ramo de atuação escolhido. Analisa a ameaça de entrada de novos concorrentes no ramo de atuação, o poder de barganha que detém fornecedores e compradores e a ameaça da entrada de novos produtos que possam substituir o produto ou serviço ofertado. Figura 1 – Esquema das forças de Porter Fonte: Adaptado de Porter (1985). 6 Considerando as cinco forças, Porter sugere três estratégias: 1. Liderança em custos; 2. Diferenciação; 3. Foco. A segunda ferramenta de diagnóstico desenvolvida por Porter diz respeito ao ambiente interno da organização, trata-se da análise da cadeia de valor do negócio, exemplificado na Figura 2. Figura 2 – Cadeia de valor de Porter Fonte: Adaptado de Porter (1985). Por meio da compreensão dos processos da organização como um encadeamento de atividades que geram valor, seus dirigentes podem avaliar de modo sistêmico o inter-relacionamento entre as diferentes atividades chave do negócio. 1.1 Estratégias de mercado De acordo com Maximiano (2002), as estratégias organizacionais também podem ser analisadas do ponto de vista de um negócio ou produto inserido no mercado. A Matriz BCG, desenvolvida pelo Boston Consulting Group (BCG) também se tornou uma ferramenta de estratégia bastante difundida entre profissionais de Marketing. Seu conceito está basicamente associado à ideia de que produtos ou serviços possuem um ciclo de vida e irão variar de acordo com a dinâmica de crescimento e com a participação no mercado. Identificada a 7 posição do produto ou serviço em relação a estas duas dimensões, o executivo terá mais subsídios para avaliar se vale a pena investir ou desinvestir recursos na sua estratégia de negócios. A partir da dimensão em que se enquadra o produto ou serviço no quadro anterior, podemos ter as seguintes qualificações do negócio (produto ou serviço): Estrelas: produtos ou serviços com elevada participação em mercados com altas taxas de crescimento. São considerados boas oportunidades de investimento. Ponto de interrogação: produtos que possuem pequenas participação em mercados com altas taxas de crescimento, nestes casos conclui-se que há maior incerteza sobre retornos de investimentos. Vacas leiteiras: produtos com alta participação em mercados estáveis (baixa taxa de crescimento), e conclui-se que os retornos são positivos sem a necessidade de aumentar investimentos. Vira-latas: produtos e negócios com pequenas participações em mercados com baixo crescimento. Não são considerados boas oportunidades de investimento. 1.2 Balance Score Card e configurações da estratégia Como dito anteriormente, não basta que uma organização, seja ela pública, privada ou voluntária, planeje suas ações por meio de um sofisticado esquema de planejamento estratégico. Faz-se necessário o olhar contínuo e criterioso para acompanhar os resultados, alterando o curso de ações quando necessário. Baseado nesta preocupação, vamos descrever brevemente o conceito de Balance Score Card desenvolvido pelos autores Norton e Kaplan (Maximiano, 2002), e que será detalhado adiante. Estes autores contribuem para o campo da estratégia organizacional a partir da preocupação com o monitoramento da execução da estratégia. Descrevem a importância da definição de indicadores em diversos âmbitos da operação das empresas para fins de monitoramento: na dimensão dos clientes e mercados no seu faturamento; na participação de produtos e serviços no faturamento; desempenho das vantagens competitivas próprias e dos 8 concorrentes; participação do mercado em relação aos concorrentes; evolução do faturamento e grau de realização dos objetivos estratégicos. De forma integrada são monitorados: objetivos, faturamento e posições de mercado. Atualmente, novas dimensões passaram a ser integradas contemplando a realização e satisfação dos empregados, e a dimensão associada à responsabilidade social da empresa no contexto em que atua. Para finalizar, veremos as contribuições de Henry Mintzberg para o campo da estratégia. Professor canadense, Mintzberg (2000) se destaca em sua obra bastante difundida, “Safari da estratégia”, pela análise das diferentes formas de estratégia ou não estratégia que podem ser identificadas entre empresas de um determinado ramo de negócios. Assim como Porter, enfatiza a análise concorrencial entre competidores (Maximiano, 2002). No âmbito interno da organização, Mintzberg (2003) exemplificou em sua obra, As 5 configurações, diferentes configurações de negócios. Sua análise possibilita compreender que existem diferentes tipos de estruturas organizacionais, em que predominam diferentes tipos de estruturas hierárquicas, organizações, informações, tipos de conflitos e recursos sobre os quais o executivo deve atuar. Como exemplo: a configuração de uma universidade é bastante distinta de uma fábrica de autopeças ou um hospital. Aplicar medidas e decisões estratégicas em cada uma destas configurações exige o conhecimento de características básicas intrínsecas. TEMA 2 – INTELIGÊNCIA DE NEGÓCIOS OU BUSINESS INTELLIGENCE Quando discutimos os diferentes aspectos que compõem a gestão de uma organização, seja do ponto de vista das práticas como o PDCA, o modo de enxergar a organização de modo sistêmico, ou as ferramentas estratégicas, estamos realizando o uso de instrumentos de diagnóstico organizacional para aperfeiçoar o processo de tomada de decisão. Sejam de origem teórica ou prática, o fato é que estas ferramentas auxiliam o gestor a alcançar melhores resultados nas operações da empresa. A capacidade de realizar diagnóstico de situações em uma organização para buscar decidir de forma a atingir os objetivos está associada ao que se chama de inteligência competitiva de negócios, ou business intelligence. 9 Todo o arcabouço de informações e conhecimentos do qual o gestor faz uso, quando de forma objetiva e não baseada meramente no seu processo intuitivo ou juízo de valor, pode constituir uma ferramenta de business intelligence. Com o aperfeiçoamento das tecnologias computacionais de informação e telecomunicações, tais ferramentas estão evoluindo de forma radical a cada momento. No entanto, não se pode confundir business intelligence apenas com tecnologias de informática ou vinculadas à internet, pois o conceito vai além e pode estar associado a metodologias de diagnóstico organizacional, no trabalho de análise de especialistas em negócios. As tecnologias geralmente vêm potencializar modelos de inteligência de negócios preexistentes. Alguns exemplos de inteligência competitiva de negócios ou business intelligence: A ferramenta de planejamento estratégico quando implementada possibilita situar a posição atual da empresa do ponto de vista em relação à concorrência e ao ambiente externo como da situação interna quanto a pontos fortes e fracos. O monitoramento do alcance de resultados com as metodologias de “Balance Score Card” ou ainda, a identificação da situação dos produtos e serviços de uma empresa em uma matrizBCG possibilitam a tomada de decisões relativas a investimentos (e desinvestimentos) em novos e atuais negócios. Todas estas ferramentas estratégicas, quanto aplicadas e monitoradas continuamente, representam ferramentas de business intelligence. Aliado a isso, as operações relacionadas às diferentes funções de uma organização: recursos humanos, finanças e produção geram uma série de informações de negócios relativas ao seu desempenho. A capacidade dos gestores de empregarem estas informações para fazer a avaliação de desempenho usando as ferramentas estratégicas anteriormente citadas, constitui outro elemento fundamental na inteligência competitiva dos negócios. Muitas empresas adotam softwares sofisticados denominados de ERP sigla para Enterprise Resource Planning, que significa: “Planejamento de Recursos Corporativos”, entre os quais, a empresa alemã SAP é uma das mais conhecidas. Estes programas realizam operações das diferentes funções 10 organizacionais, como produção, recursos humanos, financeiro (inicialmente estavam orientados apenas para funções de logística, produção e suprimentos), além de centralizar dados, gerando indicadores analisados pelos níveis gerencias táticos e estratégicos. No entanto, para empresas que não utilizam estes sistemas, estas mesmas informações estão disponíveis, seja em controles manuais ou em planilhas eletrônicas de gestores, no caso das empresas menores, e podem ser empregadas do mesmo modo para buscar avaliações que auxiliam na tomada de decisão. O fato é que as tecnologias de softwares avançam dia após dia em termos de complexidade e sofisticação, e cabe ao gestor se atualizar com ferramentas que sejam capazes de ajudar na análise do seu desempenho frente à concorrência e até mesmo em predizer possíveis orientações do processo decisório. Há um terceiro conceito associado à inteligência competitiva de negócios, a inteligência artificial. Este conceito não se confunde com o primeiro, mas é complementar. Provavelmente você já deve ter se deparado com serviços de telemarketing, em que você é atendido por uma gravação e dependendo da sua resposta, a voz do outro lado da linha telefônica dá diferentes respostas. Estes serviços já contam com tecnologias sofisticadas que são baseadas em complexas programações de computador, as quais preveem o comportamento do consumidor ou cliente, e conforme novas variáveis são incluídas na resposta a estes sistemas, os softwares que gerenciam estas operações passam a “aprender” novas rotinas para responder novas situações. Estas tecnologias estão presentes atualmente no âmbito jurídico fazendo recomendações de pareceres, no âmbito da saúde no auxílio da identificação de diagnósticos de doenças, e em outras inúmeras atividades. A inteligência artificial passa também a ser uma realidade nos negócios, tanto na gestão de empresas, como no atendimento a clientes e consumidores. Quando você entra em um site e clica o mouse ou movimenta sua íris para um anúncio de um produto específico, haverá possivelmente dispositivos que reconhecem seu interesse e passam a lhe direcionar outros anúncios de produtos relacionados. Estas tecnologias já são uma realidade, mesmo que você não se dê conta disso. 11 Portanto, seja de modo operacional nas empresas, ou no uso de ferramentas de diagnóstico de desempenho, ferramentas de inteligência competitiva nos negócios são uma realidade. Se você é um gestor, busque identificar ferramentas que auxiliem a potencializar as operações e diagnósticos de suporte à decisão de sua organização. As ferramentas de business intelligence não devem se tornar elementos que dificultem a vida do gestor, pelo contrário, sua única finalidade é apoiar o processo de operação e decisão nos negócios. O capítulo a seguir trata sobre o processo de decisão organizacional. TEMA 3 – PROCESSO DECISÓRIO ORGANIZACIONAL De acordo com Braga (1987), o processo decisório pode ser definido como: “o pensamento e a ação que resulta em uma escolha”. Alisson e Zelikow (1999) depois de estudar o evento que ficou conhecido como “a crise dos mísseis de cuba” (episódio que ocorreu em 1962 e marcou o ponto alto da disputa entre Estados Unidos e União Soviética durante a guerra fria), tiveram insights e propuseram três modelos de tomada de decisão em organizações: Modelo racional: o processo decisório deve se basear na racionalidade, buscando sempre a melhor alternativa com base no cálculo de benefício. Modelo organizacional: considera que as decisões na organização são influenciadas pelo grupo e pretendem chegar na decisão mais satisfatória naquele determinado momento. Modelo político: considera a decisão como resultado da negociação entre grupos de interesse distintos. Trataremos agora da relação entre o processo decisório no contexto das organizações. O processo decisório muitas vezes conta com um conjunto incompleto de informações que servem de subsídio ao trabalho do gestor. A argumentação sobre a limitação da escolha racional devido à falta de informações, segundo Maximiano (2002), foi desenvolvida por Herbert Simon e que deu origem ao conceito de “Racionalidade Limitada”. Este argumento indica que os indivíduos tendem a tomar decisões lógicas dentro das restrições impostas pela disponibilidade de informações que possuem. 12 Como vimos anteriormente, o processo decisório nem sempre segue critérios únicos ou padronizados para cada indivíduo, diversos critérios podem ser empregados e, portanto, compreender esses critérios que determinam as escolhas dos indivíduos representa um aspecto chave para a tomada de decisão. No contexto do processo decisório organizacional, duas outras dimensões se associam à complexidade do processo decisório individual: As situações contingenciais da empresa associadas a situações econômicas, políticas, sociais e de mercado, que podem estar em contínua mudança; A influência dos grupos políticos que irão influenciar o processo decisório, sejam eles dirigentes, empregados ou a própria opinião pública. A falta de informação é uma precondição das limitações que se impõem ao processo decisório, conforme os conceitos de racionalidade propostos por Herbert e Simon (Maximiano, 2002). Portanto, as ferramentas de inteligência competitiva dos negócios constituem elemento essencial no processo decisório. Todo executivo e dirigente de uma organização, seja do nível operacional, tático ou estratégico deve utilizar o máximo de informações objetivas possíveis para auxiliar no processo decisório. Passou o tempo que o gestor confiava apenas na sua intuição, se ainda há pessoas que usam a prerrogativa da intuição no processo decisório, possivelmente é porque o processo intuitivo está vinculado à experiência anterior, que não deixa de ser uma informação concreta baseada em fatos prévios. Porém, diante da quantidade de recursos tecnológicos disponíveis atualmente, entre elas as ferramentas de inteligência competitiva e inteligência artificial, não faz mais sentido negar seu uso como apoio à decisão, seja nas operações de mercado, sobre contratação, premiação ou demissão de empregados, ou ainda em decisões relativas aos recursos financeiros, cabe ao gestor utilizar ao máximo as informações disponíveis, a partir de recursos tecnológicos como planilhas ou softwares de gestão, a fim de tomar as melhores decisões de acordo com a situação que vive. Para suprir a limitação de informações disponíveis para a tomada de decisões, o gesto fará uso de instrumentos de informações disponibilizadas pelos indicadores, gerados por relatóriosde dados operacionais de controles financeiros e resultados de desempenho e deverá ser capaz de interpretar essas 13 informações. Por exemplo, em eventos sociais em que se encontram pessoas influentes no seu setor, há a oportunidade de discutir tendências de mercado, ou seja, não é apenas do uso de informações disponibilizadas por meio das tecnologias da informação que serão úteis, mas também, as que são absorvidas no contexto. Outra dimensão associada ao processo decisório que afeta as organizações é a política. Com exceção das empresas de empreendedores individuais, a maioria das organizações compreende a conjunção de esforços de várias pessoas envolvidas em diferentes graus no processo decisório. Em empresas menores, geralmente os sócios e alguns colaboradores mais experientes auxiliam a definir escolhas e rumos de ação. Entre empresas maiores, o conselho de acionistas, de acordo com sua participação societária, é responsável pela votação sobre as decisões a serem tomadas. Estas decisões não são muitas vezes, fruto de consenso entre os acionistas. Nos níveis tático e operacional, executivos e gerentes também encaram, muitas vezes, a reação de subordinados quanto às decisões tomadas e podem ser influenciados pela opinião deles. A capacidade de persuasão quanto à escolha decisória, portanto, acaba influenciando a efetividade das decisões. Quanto mais bem fundamentado o gestor estiver em relação as escolhas que pretende tomar e que demandam a adesão de grupos, maior será a eficácia do processo decisório, mas isto não basta. A dimensão política implica também na adesão que o gestor tem das partes envolvidas, ou seja, é preciso convencer outros agentes na decisão sobre o caminho que deve ser escolhido. Havendo conflitos de interesses entre os diferentes atores que influenciam as decisões organizacionais, possivelmente haverá também divergências nas escolhas que exigem consenso. As relações de poder, portanto, entre o gestor e seus colaboradores constituem um aspecto importante e representam o grau de influência que o gestor possui em relação aos demais. Apesar do tema ser complexo, em síntese, quanto maior o poder de influenciar que o gestor tem, maior sua capacidade de buscar a adesão nos processos decisórios. Este é um conceito sintético do que constitui as relações 14 políticas, e que podem ser vislumbradas em várias esferas de nossa sociedade, seja no ambiente familiar, comunitário, empresarial e de Estado. Saiba mais Quer se aprofundar em processo decisório? Veja o capítulo 9 de: STONER, J. A. F.; FREEMAN, R. E. Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: Prentice Hall, 1995. Para quem quer ir mais longe: BAZERMAN, M. H.; MOORE, D. Processo decisório. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, Elsevier, 2010. TEMA 4 – ESTRATÉGIA DE INOVAÇÃO Até a década de 1990 do século XX, o paradigma que pairava sobre o ambiente corporativo de negócios estava vinculado à busca pela qualidade. Práticas organizacionais muito influenciadas pelas práticas da indústria japonesa tinham como ênfase a redução a zero do índice de perdas e a implantação de programas como o de “qualidade total”. Tais políticas compreendiam inclusive os departamentos voltados exclusivamente para a prática da qualidade e representavam fontes de inovação, mirando atingir metas e resultados orientados para a redução de perdas e a padronização da produção e oferta de serviços. A partir do final da década de 1990 do século passado, gradativamente, passou a assumir o lugar do paradigma da qualidade, o paradigma da Inovação. É preciso compreender que algumas empresas atuam em mercados de novos produtos, tendo como objeto de seus negócios, o lançamento contínuo de novos produtos. É o caso de empresas como a 3M, a Unilever e a General Electrics, por exemplo. Tais empresas estão habituadas a criar diariamente inovações de mercado e obviamente, suas práticas se tornam referência, tais práticas inovativas passaram a ser adotadas também por empresas que mantém seus negócios em mercados relativamente estáveis. A inovação de processos em produtos e serviços passou a ser um instrumento de busca por maior vantagem competitiva. Assim, empresas dos mais diversos segmentos passaram a adotar estratégias de inovação, não 15 apenas de seus produtos e serviços voltados para seus clientes finais, mas também nos processos que permeiam toda sua cadeia de produção. Outras empresas vão ainda mais além, e em colaboração com seus parceiros externos como os fornecedores, estendem estas políticas para processos da cadeia produtiva mais ampla. As estratégias de inovação entre empresas buscam estimular de forma sistemática a colaboração de seus empregados na busca por aperfeiçoamento dos processos de produtos e serviços. Algumas empresas trabalham com sistemas de premiação de acordo com o impacto das inovações, outras possuem políticas meritórias vinculadas a bonificações de acordo com o volume de inovações. É comum, tanto em âmbito nacional quanto internacional, identificar exemplos de empresas que chegam ao final do ano com mais de 100 inovações implementadas, decorrentes da iniciativa de seus empregados. Não raro, estas políticas também implicam na geração de patentes, o que as torna mais poderosas, sob o ponto de vista do impacto que proporcionam. Não apenas no setor privado é possível identificar exemplos de políticas de inovação, entre empresas públicas como concessionárias de energia, por exemplo, tais iniciativas também são observáveis e passam cada vez mais a constituir políticas permanentes estimuladas por programas de valorização e premiação dos empregados inovadores. As premiações são existentes também no setor judiciário brasileiro, por meio das iniciativas da Comissão Nacional de Justiça as duas são exemplos de estratégias aplicadas no setor público. TEMA 5 – MUDANÇA ORGANIZACIONAL Diante da estratégia da inovação e do paradigma emergente que a inovação preconiza, podemos pensar que toda inovação representa, do ponto de vista concreto na organização, uma mudança sobre um processo ou modo de produzir ou sobre os próprios bens e serviços, resultado das tarefas coordenadas na organização. Portanto, lidar com inovações implica em saber lidar com a mudança. Se os executivos de uma empresa identificam modos mais econômicos e eficientes de produzir um bem, é preciso capacitar e convencer os seus operários sobre o novo modo. 16 Se uma empresa prestadora de serviços recebe um “feedback” de seus clientes de que o atendimento deve ser aperfeiçoado, os funcionários desta empresa devem ser capacitados para atender a esta necessidade. Se os executivos de uma empresa identificam que o clima organizacional entre seus empregados não contribui para sua satisfação no trabalho e, portanto, reflete no resultado do trabalho, terá que promover mudanças sobre este aspecto. À medida em que nos deparamos com cenários concorrenciais mais intensos entre as empresas, as vantagens competitivas decorrem de maiores quantidades de iniciativas de inovação de processos e produtos e serviços. Se isto é um fato, intensificam-se também as demandas por mudanças dentro das organizações para atender as demandas puxadas pelas inovações. O tema da mudança organizacional é alvo de estudos de pesquisadores e especialistas como grandes consultorias empresariais, pois é preciso distinguir os diferentes aspectos que contribuem para um processo de mudança programada em uma organização. O primeiro aspecto a ser considerado é o diagnóstico a respeito da necessidade de um processode mudança: Por que mudar? Quais as razões que provocam um processo de mudança em uma organização? Como identificar a necessidade de mudar? Todos estes são questionamentos que os gestores devem estar atentos a fim de assegurar a competitividade (no caso de empresas comerciais) ou relevância do papel de uma organização. As ferramentas estratégicas citadas anteriormente para diagnóstico da situação da organização apontam ameaças e oportunidades no planejamento estratégico por exemplo, e auxiliam no diagnóstico da necessidade de mudança. Se o contexto regulatório em um determinado segmento industrial muda, isso irá impactar os processos para fabricação de bens de uma determinada empresa do respectivo setor. Fatores contextuais podem estar associados a fatores econômicos, demográficos (aumento da população de idosos por exemplo), ambiental (escassez de recursos naturais), socioculturais ou tecnológicos. Identificadas as possíveis necessidades de mudança, se houver a iniciativa e expectativa de promove-la, alguns estudiosos do tema têm buscado compreender como se dá a dinâmica de um processo de mudança. 17 Na maioria das vezes o processo de mudança incorre em etapas mais ou menos traumáticas ou “tensas”, até se alcançar o resultado desejado. É preciso estar consciente de que nenhuma mudança ocorre de forma harmoniosa ou sem conflitos. Autores como Jaffe e Scott (2003) desenvolveram um modelo que exemplifica isso e que tem sido bastante difundido no mundo dos negócios, a curva de transição da mudança, que por sua vez, também é baseada em um modelo mais sofisticado de Elizabeth Kubler-Ross. Os autores afirmam que para que um processo de mudança ocorra, geralmente os seus envolvidos irão passar por quatro principais estágios ou etapas: 1. Negação; 2. Resistência; 3. Exploração; 4. Comprometimento; Figura 3 – Curva da transição da mudança Fonte: Adaptado de Jaffe e Scott (2003). Na fase de negação, a proposição de mudança terá uma reação de rejeição por parte dos envolvidos, buscando manter a situação de conforto alcançada até aquele momento. Na fase de resistência existe uma tendência a esta rejeição se aprofundar, podendo ocorrer uma recusa em aceitar os novos padrões propostos pela mudança. À medida em que os proponentes conseguem demonstrar os aspectos 18 positivos que a mudança irá proporcionar e que ela constitui um caminho sem retorno ao estágio anterior, os envolvidos, que antes apresentavam um comportamento de rejeição, passam a examinar as possibilidades que a nova situação traz. Conquistada e transmitida a confiança dos envolvidos, é percebido por todos que a mudança é um processo inexorável, esta é a fase do comprometimento. É claro que não há uma receita de bolo sobre como alcançar a efetividade em cada situação singular de mudança, a experiência e habilidade de cada gestor é que fará a diferença. No entanto, saber identificar o estágio em que se encontra cada processo de mudança auxilia muito os gestores a tomarem as decisões mais adequadas. TROCANDO IDEIAS A realidade atual das empresas nos dias atuais considera a capacidade de adaptação à mudança como uma virtude profissional. Há cargos e profissões que exigem que as pessoas sejam mais ou menos adaptáveis, por exemplo, um profissional de vendas de uma empresa quase sempre precisa se adaptar a novas demandas, realizar viagens para novos lugares em que há potencial para a conquista de novos clientes, isto faz com que sua atividade seja continuamente desafiada e ele enfrente novas situações, que estão fora de uma previsibilidade das atividades realizadas em um escritório, por exemplo. Pense sobre o tipo de atividade que você mais se adapta, levando em conta que mesmo em atividades mais estáveis, a mudança sempre fará parte da realidade das empresas, sejam elas do setor público ou privado. Acerca dos modelos de decisão de Alisson e Zelikow (1999), vale a pena conferir o filme. Saiba mais TREZE DIAS que abalaram o mundo. Direção de Armyan Bernstein; Thomas A. Bliss; Kevin Costner. Estados Unidos. Produção de Beacon Pictures. 2000. 145 minutos. 19 NA PRÁTICA Imagine que você atua na área administrativa de uma pequena empresa. Suponha que seu gerente e sócio necessita de apoio para a seleção de um currículo para um estagiário que deverá ser contratado em sua área. No entanto, devido à falta de tempo, ele encarregou você de realizar uma seleção dos melhores currículos, para que ele possa realizar uma entrevista, e então, selecione o melhor candidato. Pense em como você poderia realizar este processo de forma mais objetiva possível, utilizando de recursos tecnológicos simples, mas eficazes. Passos a considerar: Você terá de definir com seu gerente critérios e pesos para os prioritários na seleção, e pontuar os currículos. Precisará constituir uma ferramenta de apoio à decisão. Uma planilha eletrônica será fundamental para este trabalho; com a pontuação obtida, inserindo os dados dos candidatos a fim de que possa fazer a análise de pontos. Deverá selecionar mais de um currículo, caso o primeiro colocado por algum motivo, não possa assumir o posto de estagiário. Portanto, todos os candidatos devem ser classificados, independentemente da posição. Ao final, depois de elaborar uma planilha para auxiliar o processo decisório; pense em como você pode automatizar o processo, ou seja, como constituir uma ferramenta que realize a apresentação automática do resultado ao se inserir futuros dados de novos candidatos para outros postos de trabalho. Faça suas anotações e as leve para a nossa aula interativa. FINALIZANDO Buscamos até aqui discutir aspectos que contemplam elementos que compõem o “coração” da atividade do gestor. Entre elas, a dimensão estratégica, que congrega as ações decisórias do gestor. Apontamos elementos que fazem parte do processo estratégico e decisório e as ferramentas de inteligência competitiva ou business intelligence, que englobam desde uma planilha de dados sobre as operações e resultados da empresa, até softwares e redes sofisticadas de apoio à decisão gerencial. É preciso que o gestor entenda que não há fórmulas mágicas para se gerenciar, e sim, a junção da capacidade diferenciada de trabalhar e realizar 20 projetos (o que diferencia um gestor e um empreendedor de outros profissionais); e a capacidade essencial de se utilizar das mais diversas fontes de informação para tomar decisões no momento adequado. Quando falamos em diversas fontes, estamos falando desde aquela informação obtida na conversa de cafezinho no corredor da empresa, até os dados estatísticos disponibilizados por softwares. Neste sentido, o que diferencia o gestor efetivo pode estar associado com as capacidades a serem desenvolvidas, como o relacionamento interpessoal. Aprofundaremos ainda mais algumas práticas e ferramentas de apoio ao trabalho do gestor nas organizações. 21 REFERÊNCIAS ALLISON, G.; ZELIKOW, P. Essence of decision: explaining the Cuban missile crisis. New York: Addison Wesley Longman, 1999. BEGNIS, H. S. M.; PEDROZO, E. A.; ESTIVALETE, V. F. Cooperação como estratégia segundo diferentes perspectivas teóricas. Revista de Ciências da Administração. V. 10, n. 21, 2008. BRAGA, N. O processo decisório em organizações brasileiras. Revista de administração pública, Rio de Janeiro. V. 21, n. 3, 1987. FERNANDES, C. O conceito de guerra de Clausewitz. Disponível em: <https://guerras.brasilescola.uol.com.br/seculo-xvi-xix/o-conceito-guerra- clausewitz.html>. Acesso em:13 maio 2019. JAFFE, D. T.; SCOTT, C. Auto renovação: alto desempenho em um mundo altamente tenso. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Difel, 2005. MAXIMIANO, A. C. A. 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