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Valvulopatias Valvas Cardíacas # 4 valvas: Valvas Atrioventriculares: o Tricúspide; o Mitral. Valvas Semilunares: o Pulmonar; o Aórtica. Função: mantém o fluxo sanguíneo unidirecional. Endotélio e parede com 3 camadas: o Fibrosa: colágeno denso; o Esponjosa: tecido conjuntivo frouxo; o Ventricular/Atrial: rica em elastina. # Células intersticiais valvares: produzem matriz extracelular e mediadores que fazem a remodelação do colágeno (reparo das valvas em alterações hemodinâmicas); # Colágeno: importante para a integridade da valva; # Tecido elástico: importante para o fechamento e abertura das valvas. # Músculos papilares: ligados às valvas pelas cordas tendíneas; permitem a abertura e fechamento das valvas. Valvulopatias Relevância clínica: ESTENOSE = dificuldade de abertura completa da valva (bloqueio do fluxo). INSUFICIÊNCIA (regurgitação) = dificuldade de fechamento (fluxo reverso). Pode acometer uma ou mais válvulas, isoladas ou coexistindo com outras condições patológicas. Pode ser primária (defeito próprio do tecido valvar) ou secundária (associada a defeitos nas estruturas de suporte da valva). Regurgitação funcional = incompetência valvar decorrente da alteração de uma das estruturas de suporte (não por um defeito 1º da valva). Ex: dilatação dos ventrículos (altera a anatomia do m. papilar) na cardiomiopatia dilatada ou DCI → regurgitação. Depende da valva acometida, do grau, do t de acometimento e da qualidade dos mecanismos compensatórios (fisiologia e estruturas de suporte). Ex: Destruição da valva aórtica na endocardite infecciosa → regurgitação aguda, intensa, e potencialmente fatal. Na estenose mitral reumática, a doença é lenta e insidiosa, com efeitos toleráveis por longos períodos. Algumas condições exacerbam a valvulopatia → ex: gestação (↑ DC – aumento da sobrecarga). Hipertrofia miocárdica por sobrecarga de pressão (estenose) ou de volume (insuficiência) → falência cardíaca; Lesão endocárdica 2ª ao jato rápido do fluxo sanguíneo que passa pela valva estenosada; # Quanto menor a área, mais rápido é o fluxo sg → lesão na parede endocárdica. Podem ser congênitas ou adquiridas (doenças crônicas, doenças intrínsecas das valvas ou lesões das estruturas de suporte incluindo a aorta, anel mitral, cordões tendinosos, músculos papilares e a parede ventricular livre). Estenose aórtica: calcificações e esclerose da valva aórtica. Insuficiência aórtica: dilatação da aorta ascendente, geralmente secundária a hipertensão ou idade avançada. Estenose mitral: cardiopatia reumática. Insuficiência mitral: degeneração mixomatosa (prolapso de valva mitral). As valvas são sujeitas a níveis altos de estresse mecânico repetitivo, como consequência de: o ±30-40 milhões de contrações cardíacas por ano. o Deformação tecidual relevante em cada contração. o Gradiente de P transvalvar na fase fechada (±120mmHg na mitral e 80mmHg na aórtica). # Gera dano cumulativo e calcificações, com repercussão clínica importante. Estenose Aórtica por Calcificação Valvulopatia mais comum (prevalência de ±2% população geral). Desgaste valvar associado a idade, com clínica significante entre 7ª-9ª décadas. Pode estar associada a valva bicúspide congênita (valva aórtica com apenas 2 folhetos) → clínica precoce (↑ estresse mecânico). Consequência da lesão crônica recorrente (devido a hiperlipidemia, HAS, inflamação) → degeneração valvar e deposição de hidroxiapatita → calcificações. # Estenose aórtica ≠ aterosclerose → células ∼ osteoblastos → síntese de proteínas da matriz óssea e sais de Ca. Ausência de impacto significativo com as intervenções preventivas para aterosclerose (ex: estatinas). Macroscopia Massas calcificadas e sobrelevadas nos folhetos da valva aórtica. Eventual protrusão para a superfície de saída do fluxo (seios de Valsalva) → impede a abertura valvar. Bordas livres dos folhetos geralmente não estão acometidas. Arquitetura em camadas preservada. A calcificação se inicia na c. fibrose (colágeno denso) na região da superfície de saída da valva, no ponto de flexão máxima do folheto. Inflamação variável, com metaplasia óssea (e ocasionalmente MO). ↓ área valvar pelos depósitos calcificados (obstrução do fluxo) → sobrecarga de P crescente no miocárdio do VE (hipertrofia). Não ocorre fusão comissural ou acometimento da v. mitral (≠ estenose aórtica reumática). Obstrução do fluxo → estreitamento gradual do orifício valvar e ↑ P através da valva aórtica → hipertrofia ventricular → isquemia miocárdica (↓ perfusão pela microcirculação) e angina pectoris. Disfunção miocárdica sistólica/diastólica → pode evoluir para ICC. Início dos sintomas (angina, ICC, síncope) = indica descompensação cardíaca (prognóstico ruim). Se não tratados, a maioria dos pacientes morrem em 5 anos (pós-angina), 3 anos (pós-síncope) ou 2 anos (pós-ICC). Tratamento: substituição cirúrgica da valva. Estenose da Valva Aórtica Bicúspide (congênita) Anormalidade do desenvolvimento (±1% população geral). Frequentemente associada a malformações do VE e aorta. Genes específicos ainda não identificados. Apenas 2 folhetos funcionantes, assimétricos, com rafe (espaço) na linha média do folheto maior (separação incompleta das comissuras – fusão de 2 folhetos). # A rafe é o local mais frequente de calcificação. Uma vez a estenose presente, segue o mesmo curso clínico da estenose aórtica por calcificação previamente descrita. Calcificação do Anel Mitral # Anel mitral: estrutura que adere os folhetos da valva mitral à parede cardíaca. Na v. mitral, depósitos degenerativos calcificados se depositam no anel fibroso (≠ da v. aórtica, que é nos folhetos). Mulheres com > 60 anos e pcts com prolapso da valva mitral. Macroscopia: nódulos endurecidos, irregulares e ocasionalmente ulcerados. Geralmente não afeta a função da valva. Maior risco de formação de trombos/choque embólico e endocardite infecciosa. Prolapso da Valva Mitral # Degeneração mixomatosa. Um ou ambos os folhetos da v. mitral estão prolapsados/balonizados para dentro do átrio E durante a sístole. 2-3% adultos nos EUA (F:M = 7:1) – geralmente achado incidental no exame físico (complicação na minoria de casos). Patogênese: etiologia desconhecida na maioria dos casos. o Raramente: associado a doenças hereditárias (ex: Sd. de Marfan). Macroscopia Balonização/abaulamento intercordal dos folhetos da v. mitral. Folhetos aumentados, espessados e com consistência emborrachada. Cordões tendíneos alongados, adelgaçados ou até mesmo rompidos, e o anel mitral pode estar dilatado. Outras valvas podem estar acometidas. Microscopia Espessamento importante da c. esponjosa (intermediária) com depósito de material mucoide (mixomatoso) → degeneração mixomatosa. Atenuação do colágeno da c. fibrosa. Alterações secundárias: espessamento fibroso dos folhetos, espessamento da superfície endocárdica do VE, trombos na parede atrial e calcificações focais na base do folheto mitral posterior. Maioria dos pcts assintomáticos (diagnóstico incidental pela ausculta de estalidos no meio da sístole e confirmado pela ecocardiografia). Minoria dos casos: dor torácica (∼angina) e dispneia (devido à insuficiência valvar). ±3% complicações → endocardite infecciosa, insuficiência mitral, ruptura dos cordões tendíneos, choque, tromboembolismo, arritmias. Tratamento: reparo ou substituição cirúrgica da valva em pacientes sintomáticos ou com risco de complicações. Doença Cardíaca Reumática Febre reumática (FR): doença inflamatória aguda multisistêmica, mediada pelo sistema imune, que ocorre semanas após episódio de faringiteestreptocócica do grupo A (pode estar associada a infecções estreptocócicas de outros locais - ex: pele). Cardite Reumática aguda: manifestação comum da FR ativa e pode progredir para doença cardíaca reumática crônica, se manifestando principalmente com valvulopatias. Doença cardíaca reumática crônica: caracterizada pela deformação fibrosa valvular (pp. mitral). Virtualmente, é a única causa de estenose mitral. # Incidência e mortalidade: ↓ países desenvolvidos → melhoria sanitária, dg rápido e tto da faringite estreptocócica. Países em desenvolvimento → problema de saúde pública. A FR resulta da resposta imune do hospedeiro a antígenos estreptocócicos do grupo A que fazem reação cruzada com proteínas do hospedeiro. A ligação do anticorpo ativa o sistema complemento e recruta células que expressam o receptor Fc (neutrófilos e macrófagos); a produção de citocina estimulada por linfócitos T leva a ativação dos macrófagos. Portanto, o dano cardíaco pode ser causado pela combinação de reações mediatas por anticorpos e linfócitos T. # FR/Doença cardíaca reumática aguda: Lesões inflamatórias focais em vários locais anatômicos. No coração: corpos de Aschoff (focos de linfócitos T, plasmócitos e macrófagos ativados – células de Anitschkow). Células de Anitschkow: citoplasma abundante, núcleo redondo/oval, cromatina em forma de uma fita central, delgada e ondulada (“núcleo em taturana” ou “catterpillar cels”). Podem em qualquer camada do coração: pancardite. Inflamação do endocárdio e valvas do lado esquerdo → necrose fibrinoide dos cordões tendíneos com sobreposição de vegetações pequenas (verrugas). Lesões subendocárdicas geram espessamento irregular pp. do AE (placas de MacCallum). : Macroscopia Alterações cardinais: o Espessamento dos folhetos; o Fusão e encurtamento comissural; o Espessamento/fusão dos cordões tendíneos. Comprometimento da v. mitral virtualmente em todos os casos. Estenose mitral: o Calcificação e pontes fibrosas através das comissuras → aspecto de “boca de peixe” ou “casa de botão”. o Dilatação do átrio esquerdo → trombos murais/êmbolos Microscopia Organização da inflamação → neovascularização e fibrose transmural → obliteração do folheto valvar Corpos de Aschoff → raramente observados. Frequência de comprometimento: o 2/3 casos: acometimento isolado da mitral. o 25% casos: v. mitral e v. aórtica. o Raro: v. Tricúspide e v. Pulmonar. FR - Critérios maiores: (1) Poliartrite migratória (articulações maiores); (2) Pancardite; (3) Nódulos subcutâneos; (4) Eritema marginatum da pele; (5) Coreia de Sydenham. Diagnóstico - Critérios de Jones: o Evidência de infecção estreptocócica prévia + 2 critérios maiores ou 1 critério maior + 2 critérios menores (febre, artralgia). FR aguda: 10d a 6 semanas após a infecção estreptocócica. # Após o ataque inicial, o pct fica mais vulnerável à reativação por infecções faríngeas subsequentes, com as mesmas manifestações clínicas em cada ataque (DCR crônica). DCR crônica: manifestações anos após o episódio inicial, dependendo das valvas acometidas → arritmias (FA), ICC, TE, endocardite infecciosa. Tratamento: substituição cirúrgica da valva acometida.
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