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Doenças Pulmonares I O SISTEMA PULMONAR As estruturas respiratórias incluem nariz, faringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos, ductos alveolares e alvéolos. As estruturas de sustentação incluem o esqueleto e os músculos (p. ex., intercostais, abdominais e diafragma). O sistema pulmonar cresce e amadurece durante a gestação e a infância, e não são produzidos novos alvéolos depois dos 20 anos de idade aproximadamente. Com o envelhecimento, existe uma perda de capilares pulmonares, e os pulmões perdem a elasticidade. As trocas gasosas são a função primária do sistema respiratório. Os pulmões possibilitam ao corpo obter o oxigênio necessário para atender às suas demandas metabólicas celulares e remover o dióxido de carbono (CO2) produzido. Nervos, sangue e linfa saudáveis são necessários para oferecer o oxigênio e os nutrientes a todos os tecidos. Os pulmões também filtram, aquecem e umidificam o ar inspirado. FIBROSE CÍSTICA Doença hereditária autossômica recessiva mais comumente vista na população caucasiana. É causada por mutações na proteína reguladora da condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR), um canal de cloreto complexo e uma proteína reguladora encontrada em todos os tecidos exócrinos. Esse defeito causa comprometimento do transporte de cloreto, sódio e bicarbonato, o que resulta na produção de secreções viscosas e espessas nos pulmões, pâncreas, fígado, intestinos e sistema reprodutivo, levando a aumento do conteúdo de sal nas secreções das glândulas sudoríferas. Doença pulmonar e desnutrição são o ônus predominante da doença. Fisiopatologia Os pacientes com FC apresentam tosse persistente crônica, dispneia e sibilância. À medida que a doença progride, os pacientes desenvolvem bronquiectasia, uma afecção crônica dos brônquios que se desenvolve em decorrência de infecções pulmonares recorrentes. O exame de um paciente com bronquiectasia pode mostrar a presença de dedos em baqueta de tambor. A radiografia do tórax pode mostrar hiperinsuflação, e uma TC pode mostrar o quadro clássico de bronquiectasia cística. Os testes de função pulmonar mostram obstrução das vias aéreas. A espirometria mostra redução da capacidade vital forçada (CVF), o que é conhecido como “padrão restritivo”. A redução do volume expiratório forçado (VEF1) e da razão VEF1 /CVF é sugestiva de obstrução das vias aéreas. Dedo em baqueta de tambor A doença também afeta outros sistemas. As manifestações gastrintestinais são, na sua maioria, secundárias à insuficiência pancreática, que ocorre em cerca de 85% dos pacientes. A obstrução dos canalículos pancreáticos por tampões mucosos impede a liberação das enzimas para o duodeno, determinando má digestão de macronutrientes (gorduras, proteínas e carboidratos). Isso pode ocasionar diarreia crônica, com fezes volumosas, gordurosas, pálidas, fétidas, que, se não tratada adequadamente, leva à desnutrição energético- proteica. Sendo assim, a desnutrição e o déficit de crescimento desses pacientes ocorrem tanto devido à dificuldade em alcançar as necessidades energéticas (que são aumentadas nos portadores de FC) quanto em função das perdas causadas pela doença, que se devem principalmente a inflamação e infecção pulmonar crônica, má absorção causada pela insuficiência pancreática, alteração na circulação êntero-hepática de sais biliares e antibioticoterapia frequente. A desnutrição pode ainda ser agravada pela presença de anorexia, decorrente de refluxo gastresofágico e/ou tosse, piora da infecção respiratória crônica e estresse psicossocial, e está associada a queda da qualidade de vida e maior morbidade. A função pulmonar e o estado nutricional têm íntima correlação, sendo a desnutrição em FC causa da perda global de massa muscular, com diminuição na contratilidade e resistência dos músculos, incluindo os respiratórios. Esse enfraquecimento nos músculos respiratórios contribui para a diminuição de trocas gasosas nas vias respiratórias e aumenta o risco de infecções. Assim, a desnutrição energético-proteica é reconhecida como um dos piores fatores prognósticos da doença, e o bom estado nutricional do paciente com FC é crucial no prognóstico geral. Os pacientes com insuficiência pancreática exócrina também podem desenvolver um comprometimento da função do pâncreas endócrino, levando ao desenvolvimento de diabetes relacionado com a fibrose cística (DRFC). A doença óssea é comum nos pacientes com FC e se caracteriza por aumento das taxas de fratura, baixa densidade óssea e cifose, que é o aumento da curvatura da parte superior da coluna, causando uma corcova. Múltiplos fatores de risco contribuem para o desenvolvimento de doença óssea — uso crônico de corticosteroides, atraso do crescimento, má absorção de cálcio, de vitamina D, de vitamina K e de magnésio, ingestão global inadequada e redução das atividades de sustentação da massa corporal. Íleo meconial, prolapso retal, doença biliar, infertilidade, transtornos musculoesqueléticos e trombose venosa recorrente são outras afecções que ocorrem em pacientes com FC. Estes são suscetíveis ao SBID (supercrescimento de bactérias no intestino delgado) secundário à diminuição da motilidade. Esse transtorno interfere na absorção de lipídios e no apetite. Tratamento Uso de antibióticos, broncodilatadores, medicamentos inalatórios, anti-inflamatórios, fisioterapia respiratória. Alguns pacientes são considerados para transplante pulmonar bilateral. Por causa da insuficiência pancreática, a terapia de reposição de enzimas pancreáticas (PERT ou TREP) é componente importante do tratamento para pacientes com FC absorverem adequadamente os carboidratos, as proteínas e os lipídios. Se os sintomas gastrointestinais não puderem ser controlados, a dose de enzimas, a adesão do paciente e o tipo de enzimas devem ser reavaliados. Dietoterapia Avaliação Os pacientes com FC frequentemente têm crescimento comprometido, cuja causa é multifatorial: má absorção, aumento das necessidades de energia e redução do apetite. Existe uma relação estreita entre os testes de função pulmonar (TFP) e o estado nutricional. Todos os pacientes com FC devem passar por avaliações nutricionais a cada 3 meses para detecção precoce de depleção do estado nutricional. Crianças com FC devem passar anualmente por monitoração de suas concentrações de paratormônio (PTH), vitamina D, cálcio e fosfato no sangue. As crianças mais velhas devem ter sua densidade óssea avaliada usando absorciometria por dupla emissão de raios X (DXA). Objetivos: aumentar a força muscular, promover crescimento e manutenção da massa corporal ideais, melhorar a qualidade de vida, corrigir a má digestão, a má absorção e fornecer nutrientes comumente deficientes. Energia – 120 a 150% da RDA (Krause) 110 a 200% da RDA (Rossi) Proteínas – 15 a 20% VET Carboidratos – 40 a 50% VET Lipídeos – 40% do VET Vit. lipossolúveis – suplementar As recomendações são para manter um IMC no 50° percentil ou acima entre as idades de 2 a 19 anos e uma mediana do IMC de 22,1 kg/m2 para adultos com 20 a 40 anos. Pode ser um problema obter carboidratos com alto índice glicêmico (IG), porque uma dieta assim pode promover comprometimento da tolerância à glicose (FCCTG) e DRFC por exceder a capacidade de produção de insulina na FC. O excesso de perda de sal na transpiração nos pacientes com FC os predispõe à desidratação hiponatrêmica sob condições de estresse pelo calor. A maioria dos pacientes precisa de suplementação com cloreto de sódio. A quantidade de suplementação com sal deve aumentar sob circunstâncias como temperatura e umidade altas; clima seco e desértico; exercício vigoroso em tempo quente; sudorese excessiva; febre e presença de diarreia ou vômitos. Mesmo crianças em aleitamento materno exclusivo deverão ser suplementadas com sódio, pois o leitematerno, assim como fórmulas infantis, não contém sódio suficiente para a reposição dessas perdas. A perda de sódio através da pele é tão grande que, popularmente, a FC é conhecida como “doença do beijo salgado”, uma vez que, anteriormente, a mãe percebia a doença na criança ao beijá-la e sentir o sabor salgado. Pacientes com insuficiência pancreática recebem suplementação de vitaminas lipossolúveis em meio hidrossolúvel (para facilitar a absorção) padronizada para FC. Atualmente, é oferecido pelo governo brasileiro, de modo gratuito, o AquaDEKS®. No entanto, novos entendimentos sobre as necessidades reais em FC estão surgindo, e artigos ressaltam os riscos de toxicidade de alguns nutrientes, como a vitamina A. Por isso, deve-se estar atento às recomendações de cada micronutriente. DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) Síndrome caracterizada pela obstrução crônica difusa das vias aéreas inferiores, de caráter irreversível, com destruição progressiva do parênquima pulmonar. A DPOC agora é a terceira causa mais comum de óbito no mundo. Fatores de risco Tabagismo (85%); fumaça; irritantes químicos; infecções respiratórias graves na infância; deficiência de alfa-1-antitripsina; hiper- responsividade brônquica; desnutrição; prematuridade; exposição ocupacional; poluição do ar; fatores genéticos. Fisiopatologia DPOC é um termo que engloba bronquite crônica (condição de longo prazo de DPOC em que os brônquios inflamados levam à produção de muco, tosse e dificuldade para respirar) e enfisema (um tipo de doença pulmonar de longa duração caracterizada por destruição do parênquima pulmonar com falta de retração elástica). Essas condições podem coexistir em graus variáveis e, em geral, não são reversíveis. Os pacientes com enfisema primário sofrem de maior dispneia e caquexia. Por outro lado, os pacientes com bronquite têm hipóxia, hipercapnia (aumento da quantidade de dióxido de carbono) e complicações, como hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca direita. A deficiência de alfa-1 antitripsina está presente em 1% a 2% dos pacientes com DPOC e provavelmente é sub-reconhecida. As exacerbações de DPOC podem ser causadas por Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis, S. pneumonia, rinovírus, coronavírus e, em menor grau, por microrganismos como P. aeruginosa, S. aureus, Mycoplasma spp. e Chlamydia pneumoniae. Alergias, tabagismo, insuficiência cardíaca congestiva, embolia pulmonar, pneumonia e infecções sistêmicas são a razão para 20% a 40% das exacerbações de DPOC. A osteoporose, nos pacientes com DPOC, não apenas predispõe os pacientes a fraturas vertebrais dolorosas, mas também afeta a função pulmonar, alterando a configuração da parede torácica. As exacerbações agudas frequentes, nos pacientes com DPOC, aumentam a intensidade da inflamação sistêmica crônica. Isso leva à perda óssea por inibição do metabolismo ósseo. A falta de exposição ao sol e de atividade física na DPOC leva a uma falta de vitamina D. Os fatores que influenciam o prognóstico da DPOC são a intensidade da doença, a predisposição genética, o estado nutricional, exposições ambientais e exacerbações agudas. Manifestações clínicas Facilmente fadigado, infecções respiratórias frequentes, uso de músculos acessórios da respiração, ortopneia, aparência emagrecida, sibilos / chiado, respiração de lábios franzidos, tosse crônica, peito de barril, dispneia, tempo de expiração prolongado, bronquite (aumento do escarro). Asma Enfisema Bronquite crônica Diagnóstico Sintomas respiratórios crônicos + exposição a fatores de risco + espirometria e outros exames (radiograma de tórax e oximetria/gasometria). Tratamento Abstinência do tabagismo, tratamento farmacológico (para a doença e as exacerbações), programas de reabilitação pulmonar, oxigenoterapia (para hipoxêmicos), transplante pulmonar ou cirurgia pneumorredutora. Dietoterapia Avaliação Desnutrição é um problema comum associado à DPOC, tendo taxas de prevalência de 30% a 60% devido à energia extra necessária para o trabalho da respiração e frequentes e recorrentes infecções respiratórias. A respiração com pulmões normais gasta 36 a 72 kcal/dia; aumenta 10 vezes nos pacientes com DPOC. A infecção com febre aumenta a taxa metabólica ainda mais. Um preditor independente de aumento da mortalidade em pacientes com DPOC é a baixa massa corporal. A perda de massa corporal na DPOC avançada é considerada fator de risco independente para mortalidade, enquanto o ganho de massa corporal reverte o efeito negativo da diminuição da mesma. Objetivos: fornecer uma alimentação que promova a manutenção da força, massa e função muscular respiratória; manter uma reserva adequada de massa corporal magra e tecido adiposo; corrigir o desequilíbrio hídrico; controlar a interações drogas-nutrientes; promover uma melhor qualidade de vida. Energia – adequar para manter, ganhar ou perder peso +500 a 1000Kcal (ganho) -500 kcal (perda) Proteína – 15 a 20% (até 1,5g/kg) Carboidrato – 50 a 60% (Cuppari) 40 a 55% (Krause) Lipídeo – 25 a 30% (Cuppari) 30 a 45% (Krause) Líquidos – 35ml/kg (18 a 60 anos) 30 ml/kg (>60 anos) ✓ Evitar superalimentação: A ingestão de calorias em excesso resulta em CO2 que deve ser expelido ✓ Os pacientes com cor pulmonale e subsequente retenção hídrica precisam de restrição de sódio e de líquidos. ✓ Dependendo dos resultados do exame da densidade mineral óssea, juntamente com a história alimentar e o uso de glicocorticoides, pode ser necessário acrescentar vitaminas D e K Dieta para o paciente com caquexia pulmonar Energia – 30 kcal/kg habitual Proteínas – (11,2 – 1,4) x kg atual Líquidos – kg atual x 9/16 (xícaras por dia) As necessidades hídricas aumentam devido a febre, regime de quimioterapia, uso de oxigênio e presença de DPOC. A falta de energia ou a desidratação aumenta o cansaço e a constipação. Déficits hídricos de 1% da massa corporal reduzem a função metabólica em 5%. ASMA Doença crônica que afeta as vias aéreas e se caracteriza por hiper-reatividade brônquica, obstrução reversível do fluxo de ar e remodelação das vias aéreas. Os sintomas de asma incluem episódios periódicos de aperto no peito, falta de ar e sibilância. Fisiopatologia A asma resulta de uma interação complexa entre exposições ambientais e a genética. Quando as pessoas são geneticamente suscetíveis, fatores ambientais exacerbam a hiper-reatividade das vias aéreas, a inflamação das vias aéreas e a atopia (tendência a desenvolver reação alérgica), o que finalmente leva à asma. Fatores ambientais ligados ao desenvolvimento da asma incluem alergias a interiores (ácaros da poeira, alergias a animais) e alergias a locais externos (pólen e fungos). O aumento do risco do desenvolvimento de asma também está ligado à poluição do ar, à exposição à fumaça de cigarros, ao tamanho pequeno ao nascer, a infecções respiratórias e a condições socioeconômicas mais baixas. Embora a asma alérgica ou “asma extrínseca” seja causada por inflamação alérgica crônica das vias aéreas, a “asma intrínseca” é desencadeada por fatores não alérgicos, como exercício, certas substâncias químicas e emoções extremas. Manifestações clínicas Sintomas como sibilância, tosse, dispneia e sensação de aperto no peito ocorrem na maioria dos pacientes, bem como sintomas que pioram à noite são comuns. Diagnóstico 1. Obstrução do fluxo de ar pelo menos parcialmente reversível 2. Obstrução recorrente ao fluxo de ar 3. Exclusão de outros diagnósticos Tratamento Monitoração de rotina dos sintomas e da função pulmonar, orientação dos pacientes, controle dos desencadeantes ambientais e farmacoterapia (alívio rápido e medicamentos de controle no longo prazo). Dietoterapia A modulação da ingestão de antioxidantes com suplementaçãonutricional tem um efeito benéfico na gravidade e progressão da asma. Uma dieta rica em antioxidantes e gorduras monoinsaturadas parece ter um efeito protetor sobre a asma infantil, opondo-se ao estresse oxidativo. Estudos também têm associado a asma a um estado de redução de selênio. Um IMC mais alto que o desejável durante a infância se associou a aumento significativo do desenvolvimento de asma. A instituição de dietas que ajudem na perda de massa corporal em crianças asmáticas obesas parece mostrar melhoras no controle da asma, da função pulmonar estática e melhor qualidade de vida. A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e os alérgenos alimentares são os dois desencadeantes mais comuns na dieta para asma (a DRGE é altamente prevalente nos pacientes asmáticos). Um componente crítico da terapia de nutrição médica para pacientes asmáticos é uma dieta sem irritantes conhecidos, como alimentos picantes, cafeína, chocolate e alimentos ácidos. Limitar a ingestão de alimentos ricos em lipídios e controle das porções pode impedir secreções gástricas, que exacerbam a DRGE. Os alérgenos alimentares e aditivos alimentares são outros desencadeantes dietéticos em potencial para asma.
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