Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
26/04/2021 Gastroenterites O que é diarreia aguda: fezes liquidas e frequentes + perda de peso que levam a desidratação (perda de água e eletrólitos) Tempo: no máximo 1 semana é a diarreia aguda. Após 14 dias se considera diarreia crônica. Até 7d: diarreia aguda 7-14d: diarreia aguda prolongada Mais de 14d: diarreia crônica (persistente) Patogenia – mecanismos que fazem ocorrer a diarreia: Osmótica e secretora • Osmótica (perda de água em função da osmolaridade que se concentra na luz intestinal): pode ser causada por vírus, protozoários e bact. Há a alteração da permeabilidade da mucosa intestinal e fazendo com que ocorra menor produção de dissacaridases (ex.: enzimas que digerem os açúcares, como a lactase) pela lesão no intestino, menor digestão e absorção de açúcar, redução de ph fecal (ph ácido pela fermentação dos dissacarídeos que liberou hidrogênio), maior produção de gases (liberação do hidrogênio) e maior distensão abdominal. Principalmente causada por vírus, comumente o rotavírus. Vilosidades agredidas → perde a capacidade de absorver açucares → açúcares fica na luz → luz com maior osmolaridade puxa a água → desidratação • Secretora: mesmos agentes (vírus, protoz, bact.) produzem enterotoxinas que causam alteração no AMPc, GMPc, bomba de cálcio e aumento de secreção de eletrólitos. Diarreia com perda além da água perde os eletrólitos juntos. Aumento de citotoxinas, diminuição da absorção e aumento da perda de água. Vírus da cólera (perda de agua bem intensa, há muitas citotoxinas), e.coli, giárdia, rotavirus. A ação secretora ocorre principalmente no seguimento proximal do intestino (delgado) – perda de água e eletrólitos. Quando a ação secretora compromete mais o seguimento do intestino distal (colón) – diarreia com muco, sangue e tenesmo. • Preocupação maior na diarreia é a desidratação. Transmissão da diarreia: • Fecal-oral: tanto adulto-criança como criança-si mesma. • Crianças vão ser mais suscetíveis (convívio próximo, questão do controle esfincteriano) Mecanismos de defesa que o nosso organismo utiliza quando entramos em contato com algum agente causador da diarreia: • Mecanismos não imunológicos: peristaltismo (a rapidez dele é um mecanismo de defesa), muco natural do organismo (barreira de proteção na permeabilidade da mucosa do intestino, muco é produzido pelas células do intestino), suco gástrico (quem usa omeprazol, por exemplo, cronicamente pode predispor o desenvolvimento de bact./vírus), sais biliares, microbiota • Mecanismos imunológicos: tecidos linfáticos, glândulas salivares (IgA secretora que é anticorpo de primeira linha para os patógenos), amigdalas, linfonodos (das cadeias respiratórias e gastrointestinais), imunoglobulinas → tudo isso está em fase de desenvolvimento na criança Principais enteropatogenos causadores de diarreia: • Bactérias: Escherichia coli (nem todas as cepas são patógenas, algumas nos fazem bem – saprófitas que fazem parte da nossa microbiota normal), Shigella sp, Salmonella sp, Campylobacter jejuni e Yersínia enterocolitica • Vírus: rotavírus (tem vacina! Antes da vacina ele era o grande vilão), adenovírus • Protozoários: Giárdia lamblia, Entamoeba histolytica Outras causas de diarreia que não são infecciosas: (quadros com evolução mais lenta) • APLV: diarreia a proteína do leite de vaca, pode se manifestar de várias formas, ocorre mais nos primeiros meses de vida. Não tem febre! Não é do dia pra noite! • Intolerância à lactose: na criança chamamos de intolerância à lactose ontogênica (padrão de diminuição da lactase), começa a se manifestar ali pelos 5-6 anos. Não tem lesão no intestino, só não tem a produção de quantidade de lactase necessária para digerir derivados de leite. Não tem febre! Não é do dia pra noite! • Apendicite: quadros agudos de dor abdominal intensa podem ter junto a diarreia. O que podemos usar para diferenciar é que a dor vai se tornar mais localizada. • Antibióticos: determinados atb tem a capacidade de desequilibrar a microbiota ou agressão nas vilosidades intestinais – ex.: amoxi+clavulanato (clavulanato é um grande indutor de diarreia) • Intoxicação: alimento ou outra substância causadora. Diagnóstico: • Na grande maioria dos casos não pedimos exames. • Quando o quadro é mais prolongado e temos dúvida é ok pedir parasitológico. • Coprocultura quando pensamos em gastroenterite bact. e que precisamos tratar (precisa tratar em crianças com risco de disseminação bacteriana – lactente pequeno, diarreia com muco e sangue, imunocomprometidos, comprometimento do estado geral). • Ph fecal é bem inespecífico, assim como as subst. redutoras (lactose nas fezes) – pouca aplicação prática, assim como os leucócitos fecais • Elisa quando precisamos identificar o padrão de vírus e o PCR é pra identificar a bact. mais rapidamente que a coprocultura. Risco de generalização: risco de evoluir pra septicemia Tratamento, independente do agente causador: 1. Hidratação – com Na e glicose no mínimo (soro oral) A osmolaridade não pode passar de 311, a OMS já preconiza uma solução com osmolaridade reduzida, menor que 311, porém ainda não está disponível no Brasil. NaCl: para compensar perdas (hiponatremia pode levar até a morte) Bicarbonato: pra compensar a acidose metabólica Glicose: pra facilitar a absorção (facilitar o mecanismo ativo de entrada dos eletrólitos) Soro caseiro: recomendado em último caso, quando não teve acesso os sais de reidratação oral. Preocupação é o risco de contaminação (orientar higiene bem feita e fervura de água). Tentar não misturar com outros alimentos, como sucos e refrigerante (pois aumentam a osmolaridade) Parar a hidratação oral quando houver crise convulsiva, vômitos ou se nota de grande distensão abdominal ou ainda está perdendo peso. Para avaliar o estado da desidratação: • Estado geral-sensório (criança ativa-comunicativa x criança prostrada) • Olhos (fundos e choro sem lágrimas – quadro de desidratação mais grave) • Coloração da pele • Lagrimas • Boca e língua • Sede (pede água e depois vomita) • Diurese (se está urinando, a quantidade, ou não está) Exame físico: • Turgor cutâneo: prega cutânea (não se desfaz rapidamente quando desidratada) • Pulsos: frequência cardíaca • Pressão arterial • Enchimento capilar: perfusão (lentificado também pode ser sinal de desidratação) • Fontanela: criança menor de 1 ano principalmente, se estiver deprimida pode ser sinal de desidratação • Peso SRO: solução de reidratação oral (ou sais?) Cuidar na hiper-hidratação (principalmente no lactente)!!! A cada 6h reavaliar essa criança para recalcular e ajustar o soro. Pode ocorrer uma insuficiência cardíaca na super hidratação. Sinal de hiper-hidratação: edema periorbital Como deve ser a dieta da criança com diarreia: normal, sem exageros, pode tomar leite, evitar alimentos açucarados e questionáveis (cachorro quente de esquina por exemplo). Coca-cola não e gatoreide não (osmolaridade alta). Quando suspendemos o leite de vaca: se suspeitamos de uma intolerância à lactose, diarreia maior de 14 dias. Nem sempre se usa atb quando diarreia bacteriana, se criança está bem, melhorando, ela está combatendo a bactéria com sua própria imunidade!!!! Características especiais: • Shigella: essa infecção pode levar a uma septicemia e convulsão (diarreia com muco e sangue e convulsão pensar em shigella). • Toxina shiga: causa um efeito sistêmico de anemia hemolítica, plaquetopenia e lesão renal aguda → síndrome hemolítico urêmica, é uma complicação de diarreia (uma das causas é o uso de atb inadvertidamente daí ocorre a liberação da toxina shiga). Diarreia causada por atb – perguntar pra mãe se criança está usando ou usou a pouco atb. Colite pseudomembranosa: complicação do uso de atb pelo Clostridiumdifficile, essa colite irá causar diarreia prolongada com muco e sangue. Uso de atb na diarreia aguda • Diarreia sanguinolenta sugestiva de shigella • Quadros associados com septicemia • Crianças menores de 3 meses ou imunodeprimidos Uso de antidiarreicos: • Inibidores do peristaltismo (imozec) são CONTRAINDICADOS (porque o peristaltismo é um mecanismo auxiliar, só é usado quando a diarreia não é infecciosa como no adulto em síndrome do intestino irritável) • Adsorventes intestinais (como carvão ativado) são CONTRAINDICADOS (mascara a diarreia, continua tendo a perda de líquidos e eletrólitos) Outras opções terapêuticas: • Zinco (principalmente nas crianças desnutridas): efeito de reestruturação da mucosa e efeito imunológico • Probióticos (sacaromices buradi, lactobacilos LGG, reuteri) diminuem o tempo de diarreia. Bem caros. • Racecadotril: diminui a perda de eletrólitos, nome comercial é o Tiorfam. Bem caro. Em criança não se usa de forma disseminada ainda. • Ondasedrona: Vonal, para controle de vômitos. Profilaxia: • Higiene: lavagens de mãos e lavagem de alimentos • Saneamento adequado • Vacinação • Suplementação de vit A (principalmente em regiões com deficiência de vit A): orientar ingestão de alimentos ricos em vitamina A Resumindo: • Autolimitada • Elevada mortalidade infantil (pela desidratação e desnutrição que causa) • Relação com condições de higiene pessoal e ambiental • Hidratação é o tratamento principal • Prevenção: aleitamento materno, praticas adequadas de desmame, condições adequadas de saneamento básico e educação em saúde • Evitar iatrogenia!! João tem 2 anos e acordou com febre alta e dor abdominal. A tarde apresentou vômitos e diarreia aquosa. Como já sabia que havia casos de diarreia na creche, logo pensou se tratar de uma “virose”. Porém, no final do dia, apareceu muco e sangue nas fezes, e sua mãe resolveu levar no plantão da cidade onde o clínico geral atende todos os pacientes. O médico atendeu rapidamente e prescreveu Bactrin® e Imosec®. Porém, na mesma noite o menino apresentou uma crise convulsiva em casa. Possiveis diagnósticos: enterite bacteriana por Shigella e distúrbios hidroeletrolíticos. Charles tem 6 meses e chega na emergência com história de diarreia líquida, febre e vômitos há 2 dias. O exame físico demostra sinais de desidratação severa: Olhos muito fundos Dificuldade para beber agua Prega cutânea desaparece em mais de 2 segundos Qual o tratamento correto? Plano C e Soro fisiológico 0,9%- 20 ml/Kg *glicose é no soro de hidratação oral Kevin tem 3 anos iniciou com diarreia líquida e febre. Mãe logo iniciou os medicamentos indicados na outra vez que o menino teve os mesmos sintomas. Como não houve melhora nas primeiras 24 horas, Dona Dulce levou no plantão. Você avaliou a criança e verificou que estava ativo e hidratado e prescreveu os medicamentos adequados. Qual a prescrição inicial indicada para esse menino? Plano A e probióticos, posso usar zinco também Uma semana após o quadro, Kevin já estava melhor da diarreia e da febre, porém sua mãe observou que estava ficando “inchado “ nas mãos e nos pés. Observou também algumas lesões na pele. Quando questionada sobre o volume de urina, relata que observou que estava urinando muito pouco nos últimos dias. Ao exame, Arthur estava pálido, irritado e em anasarca. Qual a suspeita clínica nesse momento? Síndrome hemolítico-urêmica
Compartilhar