Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O caso dos Exploradores de Cavernas (Resenha Crítica) Anna Larissa Nascimento Quintal O caso dos exploradores de cavernas, Lon L. Fuller, 2013, 1ª edição e-book, Tradução e notas Ricardo Rodrigues Gama, Russel editores, Campinas/SP. Introdução: Analisando sociologicamente, o direito é um conjunto de normas e regras retas, rígidas, que visam a resolução de conflitos, o cumprimento das normas jurídicas promovem a estabilização dos indivíduos na vida em sociedade. Os fatos relatados no Caso dos Exploradores de Cavernas, gera muitos questionamentos para os que buscam exercer a justiça de forma correta, tendo em vista que há variáveis concepções do justo. No decorrer dos fatos apresentados pelo autor é possível desenvolver a noção inicial jurídica e teórica do direito, o livro aborda uma situação conflitante entre o estado de necessidade e o conceito do que é ilícito, abrindo dessa forma caminhos para discussões entre juízes e estudantes da área. O escritor apresenta noções práticas do funcionamento dos Tribunais de Justiça, a rigidez do raciocínio jurídico e as preocupações quanto a possíveis falhas na jurisdição devido a casos particulares não previstos na criação das leis. Resumo da obra: O livro relata a história de cinco exploradores de cavernas amadores que se passa em meados de maio do ano de 4299, ao entrarem em uma caverna de rocha calcária, ocorreu um desmoronamento de terra aprisionando-os no interior da mesma, ao fim do dia quando não retornaram para seus lares, as famílias notificaram o secretário da sociedade, que por sua vez encontrou na sede da sociedade indicações da localização da caverna a qual pretendiam explorar, enviaram então um grupo de resgate para o local, em uma das tentativas dez trabalhadores foram mortos em um novo desmoronamento, os fundos monetários da Sociedade Espeleológica se exauriram dificultando ainda mais o resgate. Dentro da caverna não havia animais ou vegetais para que pudessem se alimentar, e os exploradores haviam levado poucos mantimentos, o risco de morrerem de inanição era considerável. No 20º dia descobriram que eles haviam levado para a caverna um rádio sem fio, portátil e logo providenciaram uma forma de entrar em contato, os exploradores pediram contato com os médicos presentes no local e descreveram a situação em que se encontravam e pediram opinião médica sobre a probabilidade de sobreviverem mais dez dias sem alimentos, e receberam a resposta de que a possibilidade era remota. Após passadas oito horas entraram em contato novamente com os médicos, sendo Whetmore o porta voz dos exploradores, questionou se poderiam sobreviver por mais dez dias caso consumissem a carne de um deles, e a contragosto responderam que sim, mas nenhuma autoridade quis responder a pergunta sobre como deveria decidir qual deles seria sacrificado, então a comunicação foi cortada. No 32º dia foram resgatados e testemunharam do que havia ocorrido, no 23º dia haviam decidido por intermédio de sorte com dados qual deles deveria ser sacrificado, e apesar de Whetmore querer desistir do acordado, eles prosseguiram e Whetmore não se opôs quando um deles perguntou se poderia lançar os dados por ele. Por uma falta de sorte Whetmore foi o escolhido através da jogada dos dados, foi então morto e comido pelos companheiros, que dessa forma puderam sobreviver os dias que se seguiram até o resgate. Após receberem todo o tratamento necessário, os sobreviventes foram indiciados pelo assassinato de seu companheiro Roger Whetmore e sentenciados a pena de morte, mas recorreram para que a pena fosse reduzida a sentença de seis meses de reclusão, no entanto sobre este pedido os juízes e juris não conseguiram chegar a uma conclusão. Devido ao empate na decisão da sentença, prevaleceu a primeira, os réus foram executados através de forca as seis horas, sexta-feira, 2 de abril de 4300. Resenha Crítica: Dados os fatos presentes no livro “O caso dos exploradores de cavernas – Lon L. Fuller”, irei discorrer de forma crítica e argumentativa, o meu ponto de vista sobre a sentença dos réus, que a meu ver são inocentes, com base nas informações que foram prestadas no mesmo. Segundo Aristóteles o equitativo é o mesmo que a justiça, porém ainda melhor, entretanto apesar de ser justo, nem sempre o é segundo a lei, mas é um corretivo da justiça legal; quando o legislador faz a lei, tem a impossibilidade de previsão de casos que se possam ocorrer posteriormente, então em caso de injustiças o aplicador das leis deve ser maleável e se ater as peculiaridades do fato, pois cada realidade é única. No livro “Justiça – Michael Sandel” é relatado o caso de náufrago, onde em uma situação extrema, 3 homens mataram e comeram a carne de um companheiro que havia bebido água do mar e adoecido, ficando à beira do falecimento. Os homens após resgatados relatam o seguinte: “Diante das circunstâncias fora necessário matar uma vida para salvar três, se ninguém tivesse sido morto e comido, todos os quatro provavelmente teriam morrido.”, o sujeito mais fraco dessa forma era o candidato mais lógico. Apesar de sermos seres sociais, somos também "animais" em nossa natureza, sujeitos ao Instinto de sobrevivência do nosso corpo e tratando-se da natureza humana não podemos deixar de abordar um aspecto filosófico pertinente: não são as nossas leis e a nossa moral, construídas para aprisionar o lobo que somos? quem determinam nossas práticas? É a vontade de potência quem nos mantém vivos em circunstâncias anormais que colocam em risco a nossa vida, é o instinto atribuído a lei natural, a lei da sobrevivência. Dito isto, se os exploradores de cavernas se encontravam em condição de extrema necessidade, posso presumir que cometeram esses atos em um estado de desespero e agiram por instinto, movidos pela lei da sobrevivência, e já não tinham total lucidez e domínio próprio tendo em vista que apesar de não relatado, deviam estar desnutridos e desidratados devido ao esgotamento de seus mantimentos. Trago outra questão, ao estudar direito aprendemos a seguinte expressão: “Ubi societas, ibi jus”, que significa “Onde está a sociedade, está o direito”. Mas no caso dos réus, eles estavam isolados da sociedade que rege as leis, portanto não teriam eles formado uma nova sociedade dentro da caverna onde não eram regidas as leis da sociedade externa, mas sim as leis naturais, onde prevalece a lei da sobrevivência dos mais fortes? O próprio Whetmore sugeriu tal acordo, apesar de posteriormente querer se retirar do acordado e ter se recusado a jogar os dados, quando lhe foi questionado se ele tinha alguma objeção quanto a justiça da jogada, ele declarou que não tinha nenhuma objeção a fazer. Após analisar todos os fatos reunidos na narração do livro, e efetuar algumas pesquisas referentes a situação apresentada no livro e situação semelhante em outro caso, através de fatos, concluo que o julgamento dos réus não foi justo, os réus não deveriam sair impunes, contudo suas penas deveriam ter sido alteradas de pena de morte através de forca para reclusão de seis meses a um ano. Sobre o autor: Lon Luvois Fuller nasceu em 1902 e faleceu em 1978, tem lugar de destaque entre os filósofos ocidentais, além de ser considerado um dos grandes juristas da América; Estudou Economia e Direito em Stanford, foi professor de Teoria do Direito nas Faculdades de Direito do Oregon, Illinois e Duke. A partir de 1940 lecionou na Faculdade de Direito da Universidade de Harvard, onde se manteve até 1972. Autor profícuo, criou e publicou inúmeros estudos em direito civil, filosofia e teoria do direito; Obteve grande reconhecimento como filósofo do direito e sua notoriedade tornou-se ainda maior devido ao ensaio, O Caso dos Exploradores de Cavernas. Obras de Lon L. Fuller: The Case of the Speluncean Explorers The Morality of Law. Basic Contract Law. (coautoria).Anatomy of the Law. Problems of Jurisprudence. The Law in Quest of Itself. Legal Fictions. The Principles of Social Order.
Compartilhar