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ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO 4ª VARA CRIMINAL DO JUÍZO DE VITÓRIA COMARCA DA CAPITAL PROCESSO Nº 024.91.003222-6 (942) NATUREZA: ARTIGO 121, parágrafo 2º, incisos I, II, e IV, c/c 29, ambos do CPB. AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL ACUSADO: ROMUALDO EUSTÁQUIO LUZ FARIA S E N T E N ÇA Vistos, etc. Relatório já realizado e juntado aos autos. CONSIDERANDO que o Egrégio Conselho de Sentença, por maioria de votos (mais de 03), ao responder o primeiro quesito, reconheceu que no dia 05 de julho de 1989, por volta das 07:00 horas, na Rua Aleixo Neto, nas proximidades da Academia de Ginástica "Corpo e Movimento", no Bairro Praia do Canto, nesta Cidade e Comarca, a vítima Maria Nilce dos Santos Magalhães recebeu disparos de arma de fogo, causando-lhe as lesões descritas no Laudo Cadavérico de fls. 30-30-verso; CONSIDERANDO que o Egrégio Conselho de Sentença, por maioria de votos (mais de 03), ao responder o segundo quesito, reconheceu que essas lesões, por sua natureza e sede, deram causa à morte da vítima; CONSIDERANDO que o Egrégio Conselho de Sentença, por maioria de votos (mais de 03), ao responder o terceiro quesito, reconheceu que o acusado ROMUALDO EUSTÁQUIO LUZ FARIA, qualificado nos autos, concorreu para o crime, contratando o pistoleiro responsável por desferir os disparos de arma de fogo contra a vítima Maria Nilce dos Santos Magalhães CONSIDERANDO que o Egrégio Conselho de Sentença afirmou, por maioria de votos (mais de 03), ao responder o quarto quesito, que NÃO absolve o acusado; CONSIDERANDO que o Egrégio Conselho de Sentença, afirmou, por maioria de votos (mais de 03), ao responder ao quinto quesito, que o acusado NÃO agiu mediante paga ou promessa de recompensa. 1 ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO 4ª VARA CRIMINAL DO JUÍZO DE VITÓRIA COMARCA DA CAPITAL CONSIDERANDO que o Egrégio Conselho de Sentença, por maioria de votos (mais de 03), ao responder ao sexto quesito, reconheceu que o acusado agiu por motivo fútil. CONSIDERANDO que o Egrégio Conselho de Sentença, por maioria de votos (mais de 03), ao responder ao sétimo quesito, reconheceu que o crime foi praticado mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima. ISTO POSTO, e considerando a vontade soberana do Tribunal Popular do Júri, declaro, por sentença, a PROCEDÊNCIA PARCIAL DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL, para o fim de CONDENAR o réu ROMUALDO EUSTÁQUIO LUZ FARIA, vulgo "Japonês", devidamente qualificado nos autos, como incurso na pena do artigo 121, parágrafo 2º, incisos II e IV c/c 29 do Código Penal Brasileiro. A pena em abstrato para o delito tipificado no art. 121, §2º, do Código Penal Brasileiro é de 12 (doze) a 30 (trinta) anos de reclusão. Em consonância com o preceito constitucional da individualização da pena (art. 5º, XLVI, da CRFB/88) e em obediência ao sistema trifásico adotado pelo Código Penal Brasileiro (art. 68) passo a aferir as circunstâncias judiciais previstas no artigo 59 do Código Penal, para fixação da pena. Em relação à culpabilidade, verifico que o grau de reprovabilidade da conduta do acusado é elevado, distanciando-se daquele inerente ao próprio tipo penal, uma vez que foi o responsável por contratar o pistoleiro que ceifou a vida da vítima Maria Nilce dos Santos Magalhães, revelando-se a sua participação como essencial para o sucesso da empreitada criminosa. Em relação aos seus antecedentes, serão considerados apenas para fins de reincidência, evitando-se o bis in idem. Não existem relatos sobre a sua conduta social, razão pela qual é considerada presumivelmente boa. Não há exame criminológico nos autos que viabilize decifrar a sua personalidade. Os motivos não justificam a sua conduta, sendo considerado fútil o móvel do crime, todavia, não serão considerados nessa etapa, haja vista o reconhecimento da qualificadora descrita no artigo 121, §2º, II, do Código Penal Brasileiro. As circunstâncias do crime lhe são desfavoráveis, eis que praticado com extrema violência e ousadia, em plena luz do dia, em local de intenso movimento de pessoas (Rua Aleixo Neto), implicando em risco para outros cidadãos, inclusive, aqueles que estavam dentro do coletivo onde a vítima tentou se abrigar e na própria via pública. As consequências extrapenais do crime foram 2 ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO 4ª VARA CRIMINAL DO JUÍZO DE VITÓRIA COMARCA DA CAPITAL especialmente gravosas, em razão da repercussão nacional que o fato gerou, expondo o Espírito Santo no cenário nacional como um Estado em que o crime organizado imperava, denegrindo a imagem da própria Unidade da Federação e das Autoridades que aqui atuavam à época. Por outro lado, foi eliminada uma importante jornalista, cujo trabalho tinha alcançado grande repercussão neste Estado, gerando, inclusive, manifestação de organizações internacionais, conforme demonstra o documento de fls. 3058/3061, oriundo da “Sociedade Interamericana de Imprensa”. O comportamento da vítima não contribuiu para o evento delituoso. A situação econômica do acusado é razoável. Analisando as circunstâncias judiciais, fixo-lhe a pena-base em de 16 (dezesseis) anos de reclusão. Verifico que não incidem circunstâncias atenuantes, mas incidem as agravantes relativas à reincidência, eis que como se vê da informação acostada aos autos, proveniente do Cartório da 1ª Vara Criminal de Serra, explicitada no documento de fl. 4366 dos autos, o réu foi condenado nos autos da ação penal nº 0007409-06.1911.8.08.0048, pela prática do crime previsto no art. 129, caput, alíneas “d”, “g” e “i”, do inciso II, e do art. 61 c/c o art. 29, todos do Código Penal Brasileiro, cujo fato ocorreu em 10/05/1984, a uma pena de 06 (seis) meses de detenção, tendo o trânsito em julgado da sentença ocorrido no dia 21/03/1986, bem como a relativa à circunstância de ter o réu praticado o crime mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima (art. 61, inciso II, alínea “c”) razão pela qual lhe aumento a pena em 01 (um) ano, fixando-a, nesta fase, em 17 (dezessete) anos de reclusão, que à míngua de outras circunstâncias agravantes, causas de diminuição ou aumento de pena é transformada em definitiva. Com o advento da nova Lei nº 12.736/2012, que alterou o art. 387 do Código de Processo Penal acrescentando a este dispositivo o § 2º, determina-se o cômputo do tempo de prisão provisória para a imposição do regime inicial de cumprimento de pena privativa de liberdade. Considerando que, conforme atesta a Certidão de fl. 4352, o réu foi preso cautelarmente no dia 17/11/1989 (fl. 1506, vol. VI), permanecendo recolhido até a data de 13/12/1989 (alvará de soltura de fl. 1598, vol. VI), totalizando 27 dias de prisão, sendo novamente preso cautelarmente no dia 3 ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO 4ª VARA CRIMINAL DO JUÍZO DE VITÓRIA COMARCA DA CAPITAL 01/06/2012 (fl. 4206, vol. XV), estando recolhido até a presente data, tendo, portando, alcançando mais 01 (um) ano, 06 (seis) meses e 02 (dois) dias de prisão provisória, SUBTRAIO da pena aplicada 01 (um) ano 06 (seis) meses e 29 (vinte e nove) dias, restando ao réu o cumprimento de 15 (quinze) anos, 05 (cinco) meses e 01 (um) dia de reclusão. Fixo o regime fechado para o início do cumprimento da pena, nos termos do art. 33, § 2º, alínea “a”, do Código Penal Brasileiro. Deixo de substituir-lhe a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, uma vez que totalmente incabível, seja pelo quantum da pena fixada, que ultrapassa 04 (quatro) anos de reclusão, ou, ainda, porque as circunstâncias indicam que essa medida não é suficiente para o caso, nos termos do art. 44, incisos I, e III, do Código Penal Brasileiro. Incabível a concessão de sursis. Condeno o réu ao pagamento das custas processuais. Não reconheço ao acusadoo direito de aguardar o julgamento de eventual recurso em liberdade, tendo em vista que permaneceu foragido durante a tramitação do processo, conforme bem relatado na decisão de fls. 4306/4308 dos autos, revelando-se a sua custódia como sendo necessária para garantir a futura aplicação da lei penal e a ordem pública, tendo em vista ser reincidente em crime cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, nos termos do art. 312, do CPP. Considerando que, devidamente intimado, o réu Romualdo Eustáquio Luz Faria quedou-se silente, não tendo constituído novo advogado nos autos, motivo pelo qual foi nomeada a Ilustre Causídica Doutora Terezinha Sant'an de Castro, OAB nº 6008 para atuar em sua Defesa, na condição de Defensora Dativa, apenas para a sessão de julgamento do Júri realizada na data de hoje, CONDENO o Estado do Espírito Santo a pagar à mesma os honorários advocatícios que fixo em R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais), por apreciação equitativa, tendo como parâmetro o Decreto nº 2821-R, de 10 de agosto de 2011, em razão do elevado zelo profissional demonstrado pela advogada nomeada. Intime-se o Estado do Espírito Santo acerca do teor desta sentença, apenas para fins de pagamento dos honorários advocatícios à Advogada Dativa, requisitando-se, após, o pagamento. 4 ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO 4ª VARA CRIMINAL DO JUÍZO DE VITÓRIA COMARCA DA CAPITAL Expeça-se a competente guia de execução provisória. Após o trânsito em julgado, LANCE-SE o nome do réu no rol dos culpados, EXPEÇA-SE Guia de Execução Criminal definitiva, PROCEDAM- SE às comunicações de estilo e ARQUIVEM-SE. Dou esta por lida e publicada no plenário do Tribunal do Júri e dela intimadas as partes. Registre-se. Sessão Plenária do Egrégio Tribunal Popular do Júri da Comarca de Vitória, Estado do Espírito Santo, aos 02 (dois) dias do mês de dezembro do ano dois mil e treze (2013). GISELE SOUZA DE OLIVEIRA JUÍZA DE DIREITO 5
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