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1 Rafaela Pamplona Imunologia dos Tumores O câncer surge da proliferação e disseminação descontroladas de clones de células transformadas O crescimento de tumores malignos é determinado pela capacidade de proliferação das células tumorais e pela capacidade delas de invadir os tecidos do hospedeiro e metastatizar para locais distantes A letalidade dos tumores malignos se deve ao crescimento descontrolado dentro de tecidos normais, causando danos e prejuízos funcionais O caráter maligno reflete - Defeitos na regulação da proliferação celular - Resistência das células tumorais à morte apoptótica - Capacidade das células tumorais de invadir os tecidos do hospedeiro e formar metástases para locais distantes - Evasão tumoral dos mecanismos de defesa imune Função fisiológica do sistema imune é de reconhecer e destruir clones de células transformadas antes que se transformem em tumores e de eliminar tumores depois de formados Vigilância imunológica: é controle e a eliminação das células malignas pelo sistema imune Imunoeditoração do câncer: descrever os efeitos do SI na prevenção da formação de tumores e definir as propriedades imunogênicas, selecionando as células tumorais que escapam à eliminação Características Gerais da Imunidade Tumoral SI interage com a célula tumoral durante a formação e o desenvolvimento Processo envolve a seleção de mecanismos de evasão pelas células tumorais, permitindo o seu crescimento até o estágio clinicamente detectável Teoria da imunoedição tumoral é constituído de três fases Três “Es” da imunoedição - Eliminação: inicialmente, o sistema imune reconhece as células transformadas e recruta moléculas pró-inflamatórias - Equilíbrio: no segundo momento, as células tumorais selecionadas que não foram destruídas geram variantes que carregam mutações possibilitando a resistência. Na fase de equilíbrio, coexistem as células de baixa imunogenicidade que compõem o tumor e as células e moléculas responsáveis pelo controle do crescimento - Evasão: fase final, após esta seleção natural darwiniana, as células tumorais se desenvolvem agora em um ambiente anérgico Tumores estimulam respostas adaptativas específicas - Circundados por infiltrados de células mononucleares, compostos por linfócitos T, células natural killer (NK) e macrófagos ativados - Linfócitos e macrófagos ativados estão presentes nos linfonodos que drenam os locais de crescimento tumoral - As respostas imunes contra os tumores definem a imunidade adaptativa, ou seja, a especificidade e a memória, a função fundamental dos linfócitos As respostas imunes frequentemente falham em evitar o crescimento de tumores - Tumores apresentam mecanismos especializados para evadir da SI - As células tumorais são derivadas das células do hospedeiro e assemelham-se a células normais - Os tumores que crescem sofreram mutações que reduzem a capacidade de estimular fortes respostas imunes - O crescimento rápido e a disseminação de um tumor supera a capacidade do SI de controlar eficazmente o tumor O SI pode ser ativado para eliminar eficazmente as células tumorais e erradicar tumores - O aumento da resposta antitumoral do hospedeiro é o objetivo do tratamento Antígenos Tumorais Classificação de acordo com os padrões de expressão - Antígenos específicos do tumor: antígenos expressos apenas nas células tumorais - Antígenos associados ao tumor: antígenos tumorais que também são expressos nas células normais Classificação moderna é baseada na estrutura molecular e na origem dos antígenos expressos pelas celular tumorais, que estimulam respostas de células T ou de anticorpos nos seus hospedeiros 2 Rafaela Pamplona Produtos de Genes Mutados Transformação neoplásica resulta das alterações genéticas em proto- oncogenes em genes supressores de tumor Genes cujos produtos são necessários para a transformação maligna ou para a manutenção do fenótipo maligno - Produzidos por: mutações pontuais, deleções, translocações cromossômicas ou inserções de genes virais que afetam os proto- oncogenes celulares ou genes supressores de tumor - São proteínas nucleares e citosólicas que são degradadas no proteassoma e podem ser apresentadas ao MHC de classe I nas células tumorais Antígenos tumorais podem ser produzidos por genes mutados aleatoriamente cujos produtos não estão relacionados ao fenótipo maligno - Os agentes carcinogênicos que induzem os tumores podem mudar aleatoriamente qualquer gene do hospedeiro - A via apresentadora de antigeno MHC I pode apresentar os peptídeos a partir de qualquer proteína citossólica mutada de qualquer tumor Proteínas Celulares Superexpressas Antígenos tumorais que induzem respostas imunes podem ser proteínas celulares normais, que são anormalmente expressas nas células tumorais - Alguns antígenos tumorais são proteínas não mutadas em níveis baixos nas células normais e superexpressas nas células tumorais Ex.: tirosinase, enzima envolvida na biossíntese da melanina expressa nos melanócitos normais e nos melanomas - A tirosina é produzida em quantidades tão pequenas e em tão poucas células que não é reconhecida pelo SI e não induz a tolerância - O aumento na quantidade produzida pelas células do melanoma pode desencadear respostas imunes Antígenos de câncer/testículos são proteínas expressas nos gametas e trofoblastos e em muitos tipos de canceres, mas não nos tecidos somáticos normais Antígenos de Vírus Oncogênicos Os produtos de vírus oncogênicos funcionam como antígenos tumorais e induzem respostas de células T especificas que podem servir para erradicar tumores - Vírus de DNA estão envolvidos no desenvolvimento de vários tumores ↳ Vírus Epstein-Barr (EBV), que está associado ao linfoma de células B e ao carcinoma nasofaríngeo; ↳ Papilomavírus humano (HPV), que está associado ao carcinoma do colo do útero, orofaringe e em outros locais; ↳ Herpesvírus associado ao sarcoma de Kaposi (KSHV/HHV-8), associado a tumores vasculares. - Nos tumores induzidos por vírus de DNA, os antígenos proteicos codificados pelos vírus são encontrados no núcleo, citoplasma ou membrana plasmática das células tumorais - A imunidade adaptativa pode ter capacidade de impedir o crescimento de tumores - A constatação de resposta imune contra vírus levou ao desenvolvimento de vacinas contra vírus oncogênicos Antígenos Oncofetais São proteínas expressas em níveis elevados nas células cancerosas e em condições normais de desenvolvimento de tecidos fetais, mas não em adultos - Genes que codificam estas proteínas são silenciados durante o desenvolvimento e são reativados na transformação maligna Antigeno carcinoembrionário (CEA) - É uma proteína de membrana altamente glicosilada que é um membro da superfamília de imunoglobulinas (Ig) e funciona como uma molécula de adesão intercelular - A expressão do CEA está elevada em muitos carcinomas do colo do intestino, pâncreas, estômago e da mama - Nível sérico do CEA é utilizado como marcador de diagnóstico α-feto proteína (AFP) - AFP é uma glicoproteína circulante normalmente sintetizada e secretada na vida fetal pelo saco vitelino e pelo fígado, que é substituída proteína pela albumina 3 Rafaela Pamplona - Nível sérico elevado de AFP é um indicador de tumores hepáticos ou de células germinativas avançados ou de recidiva destes tumores após o tratamento Glicolipídios e Glicoproteínas Alterados A maioria dos tumores expressam altos níveis ou formas anormais de glicoproteínas e glicolipídios de superfície, que podem ser marcadores de diagnóstico e alvos para terapia Incluem gangliosídeos, antígenos do grupo sanguíneo e mucinas Alguns aspectos do fenótipo maligno dos tumores, incluindo a invasãotecidual e o comportamento metastático, podem refletir propriedades alteradas da superfície celular, resultantes da síntese de glicolipídios e glicoproteínas anormais Gangliosídeos: são glicolipídios expressos em níveis elevados em neuroblastomas, melanomas e diversos sarcomas Mucinas: CA-125 e CA-19-9, expressa em carcinomas de ovário, e a MUC- 1, expressa em carcinomas da mama e do colo do intestino. ↳ MUC-1 é uma proteína integral da membrana que indica carcinoma ductal da mama Antígenos de Diferenciação Tecido-Específicos Os tumores podem expressar moléculas que são normalmente expressas apenas nas células de origem do tumor e não nas células de outros tecidos. Denominados antígenos de diferenciação, pois são específicos para determinadas linhagens ou estágios de diferenciação de vários tipos de células. Importantes para identificação do tecido de origem dos tumores Os linfomas podem ser diagnosticados como tumores derivados de células B por meio da detecção de marcadores de superfície característicos desta linhagem, como o CD10 e o CD20 Mecanismos Efetores Antitumorais Respostas imunes adaptativas, mediadas por células T, controlam o desenvolvimento e a progressão de tumores malignos Linfócitos T Principal mecanismo de proteção imune adaptativa contra tumores está na eliminação das células tumorais por CTL CD8+ - Os CTLs podem desempenhar uma função de vigilância por reconhecer e destruir células potencialmente malignas que expressam peptídeos derivados de antígenos tumorais que são apresentados associados ao MHC de classe I - Células mononucleares derivadas do infiltrado inflamatório em tumores sólidos, denominadas de linfócitos infiltrantes do tumor (TILs), contém CTL com a capacidade de destruir o tumor a partir do qual foram derivadas - O bloqueio das vias inibitórias, eliminando as contenções das respostas imunes, induz o desenvolvimento de fortes respostas de células T contra o tumor As respostas de células TCD8+ específicas para antígenos tumorais podem exigir apresentação cruzada dos antígenos tumorais pelas células dendríticas - Processo de apresentação cruzada ou cross-priming gera CTL efetor, que são capazes de reconhecer e destruir as células tumorais sem a necessidade de haver uma coestimulação - As células CD4+ podem desempenhar um papel nas respostas imunes antitumorais, proporcionando citocinas para a diferenciação de células T CD8+ naive e de memória em CTL efetores - As células T auxiliares específicas para antígenos tumorais são capazes de secretar citocinas, como TNF e IFNᵧ, que podem aumentar expressão do MHC I pelas células tumorais e a sensibilidade à lise por CTLs - O IFNᵧ também pode ativar macrófagos para eliminar células tumorais - Importância do IFNᵧ na imunidade antitumoral é demonstrada pelo aumento da incidência de tumores na ausência dessa citocina, do 4 Rafaela Pamplona receptor de IFNᵧ ou dos componentes da cascata de sinalização do receptor de IFNᵧ Anticorpos Portadores de tumores podem produzir anticorpos contra vários antígenos tumorais Os anticorpos podem destruir as células tumorais através da ativação do complemento ou por citotoxicidade dependente de anticorpos, na qual macrófagos portadores do receptor Fc ou células NK medeiam a eliminação Células NK Eliminam muitos tipos de células tumorais, especialmente células que apresentam expressão diminuída do MHC de classe I e expressam ligantes para receptores de ativação da célula NK Podem destruir células infectadas por vírus e certas linhagens de células tumorais, especialmente de tumores hematopoéticos. Respondem à ausência de moléculas do MHC I, pois o reconhecimento delas proporciona sinais inibidores para as células NK A capacidade tumoricida das células NK é aumentada pelas citocinas, incluindo o IFNᵧ, IL-15 e IL-12, e os efeitos antitumorais destas citocinas são parcialmente atribuídos à estimulação da atividade das células NK As células NK ativadas por IL-2, chamadas de células assassinas ativadas por linfocina (LAK), são as assassinas mais potentes de tumores do que as células NK não ativadas Macrófagos São capazes tanto de inibir como de promover o crescimento e a propagação de cânceres, dependendo do seu estado de ativação - Macrófagos M1 podem destruir células tumorais - Macrófagos M2 contribuem para a proliferação tumoral, secretando fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), TGF-β, e outros fatores solúveis que promovem a angiogênese tumoral SI pode contribuir para o crescimento de tumores sólidos A ativação crônica de algumas células imunes inatas é caracterizada por angiogênese e remodelação tecidual, que favorecem o crescimento e disseminação tumorais Vigilância e Escape Imunes Tumores malignos desenvolvem mecanismos para escapar das respostas imunes antitumorais Mecanismos de evasão podem ser classificados - Inibição ativa de respostas imunes antitumorais - Perda dos antígenos que dirigem essas respostas Crescimento seletivo de variantes antigeno-negativas: durante a progressão tumoral, subclones fortemente imunogênicos podem ser eliminados Perda ou redução da expressão de moléculas de MHC: células tumorais podem ser capazes de expressar níveis normais de MHC I, escapando do ataque das células T citotóxicas Falta de coestimulação: evita a sensibilização, gera células T anérgicas ou induzem a apoptose das cél T 5 Rafaela Pamplona Imunossupressão: agentes oncogênicos suprimem a resposta imune. Mascaramento de antígenos por moléculas de glicocálice Apoptose de células T citotóxicas: expressão do FasL elimina as células T tumor-especificas
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