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GABARITO DA AD2- 2021.1 QUESTAO 1 (3 PONTOS) Texto I A RAPOSA E O CACHO DE UVAS, de Esopo Uma raposa faminta, ao ver cachos de uva suspensos em uma parreira, quis pegá-los, mas não conseguiu. Então, afastou-se dela, dizendo: “Estão verdes.” Moral: Assim também, alguns homens, não conseguindo realizar seus negócios por incapacidade, acusam as circunstâncias. Texto II A RAPOSA E AS UVAS, de MillôrFernandes De repente a raposa, esfomeada e gulosa, fome de quatro dias e gula de todos os tempos, saiu do areal do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia por um precipício a perder de vista. Olhou e viu, além de tudo, à altura de um salto, cachos de uvas maravilhosos, uvas grandes, tentadoras. Armou o salto, retesou o corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas. Caiu, tentou de novo, não conseguiu. Descansou, encolheu mais o corpo, deu tudo o que tinha, não conseguiu nem roçar as uvas gordas e redondas. Desistiu, dizendo entre dentes, com raiva: “Ah, também, não tem importância. Estão muito verdes.” E foi descendo, com cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço empurrou a pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra, perigosamente, pois o terreno era irregular e havia risco de despencar, esticou a pata e... Conseguiu! Com avidez colocou na boca quase o cacho inteiro. E cuspiu. Realmente as uvas estavam muito verdes! Moral: A frustração é uma forma de julgamento tão boa como qualquer outra. 1.1 O que se pode dizer da relação entre as duas fabulas? Com relação às configurações contextuais dos fabulistas em questão, Esopo e Millôr ocorrem em momentos históricos diferentes. As fábulas apresentam acontecimentos, situações e ações do dia a dia protagonizados, na maioria das vezes, por animais e que aludem a eventos e valores humanos. Fazem referência à injustiça, à dominação, à falsidade, à esperteza, à inteligência, à ganância, enfim, às fraquezas, aos vícios e às virtudes do ser humano nas sociedades clássica, moderna e globalizada. Ambas pertencem ao mesmo gênero discursivo, sendo que o segundo é uma releitura do primeiro. A interdiscursividade se evidencia: alguns elementos se mantêm; outros são acrescentados e outros, completamente distorcidos. Apesar de serem de épocas diferentes, as duas fábulas apresentam essências iguais, pois os autores tentam explicar de alguma forma o comportamento humano, já que os valores não mudam. 1.2 Millôr Fernandes, sobre fazer humor, diz: “Fazer humor é adotar uma forma completamente desinibida e descondicionada de ver as coisas.” Relendo a fabula clássica, recontada por ele, sobretudo considerando a Moral da historia, diga como se pode interpretar o que Millôr diz sobre fazer humor. (Fonte http://www.filologia.org.br/vicnlf/anais/caderno03-07.html) A moral da história é que Millôr Fernandes usa a fábula como recurso de crítica e denúncia social para dizer o que muitos gostariam, sem, propriamente, tê-lo dito. Metaforicamente, com o uso de alegorias, por meio de situações e palavras, a fábula revela nas entrelinhas o que o autor deseja dizer. Com isso esquiva-se de possíveis censuras e punições ou, ao menos, as ameniza. Assim utiliza o humor para levar ao leitor a diversão junto com as questões do dia a dia daquela época, sem, no entanto, ser direto como em um discurso jornalístico. Millôr transforma uma crítica à dissimulação da frustração, acrescentando ao texto elementos de uma nova ideologia, que, fugindo do caráter didático- pedagógico, parte para uma formação discursiva fisiológica, em busca do humor. Fazer humor para Millôr é uma forma de abordar os conflitos que surgem na vida para ensinar valores, ética e lição de moral por meio de uma escrita lúdica. 1.3 Que elemento da fábula de Esopo é mantido na versão de Millôr Fernandes e qual a sua importância? A moral da história é o elemento presente nos dois textos. http://www.filologia.org.br/vicnlf/anais/caderno03-07.html “A frustração” por nem sempre termos o que queremos. O elemento essencial para uma fábula é a moral da história, pois justamente essa peculiaridade é o que classifica as obras nesse gênero. QUESTAO 2 (7 PONTOS) 2.1 Perguntas em relação ao conto abaixo, O enfermeiro, de Machado de Assis. OBS.:Para todas as respostas use o texto como base para exemplificar. A exemplificação vale 50% da resposta. Descreva o narrador, pensando em: a) que tipo de narrador se tem neste conto de Machado de Assis? Narrador personagem, em primeira pessoa, protagonista, que organiza a referência espaço-temporal e apresenta ao leitor o universo narrativo. Ex. :“Chegando à vila, tive más notícias do coronel. Era homem insuportável, estúrdio, exigente, ninguém o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais enfermeiros que remédios.” No conto “O enfermeiro” de Machado de Assis o tipo de narrador apresentado é o narrador personagem, sendo que o conto é apresentado na primeira pessoa e o narrador é o protagonista. O enfermeiro Procópio, além de narrar também participa dos acontecimentos narrados como se observa no exemplo abaixo: “Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o”. b) Quem ele era como pessoa, antes e depois da experiência de emprego como Enfermeiro? Antes da experiência como Enfermeiro, Procópio, narrador-personagem, trabalhava como copista de documentos latinos e fórmulas eclesiásticas em uma paróquia de sua região. Era um homem calmo e tranquilo. Depois do emprego tornou-se o cínico herdeiro da fortuna do Coronel. Distribuiu parte do dinheiro entre os pobres e mandou construir um mausoléu para o morto. Ex.: No ano anterior, ali pelo mês de agosto, tendo eu quarenta e dois anos, fiz- me teólogo — quero dizer, copiava os estudos de teologia de um padre de Niterói, antigo companheiro de colégio, que assim me dava, delicadamente, casa, cama e mesa. Ex.: Já por esse tempo tinha eu perdido a escassa dose de piedade que me fazia esquecer os excessos do doente; trazia dentro de mim um fermento de ódio e aversão. Ex. : “Entrando na posse da herança, converti-a em títulos e dinheiro. Eram então passados muitos meses, e a ideia de distribuí-la toda em esmolas e donativos pios não me dominou como da primeira vez; achei mesmo que era afetação.” Antes de se tornar enfermeiro Procópio José Gomes Valongo ajudava a copiar registros teológicos para um padre em troca de moradia e comida. Aos quarenta e dois anos aceitou ir trabalhar como enfermeiro de um Coronel que estava doente em troca de um bom pagamento. No inicio, Valongo mostrava-se antencioso, cuidadoso e calmo. Mas após algumas semanas como enfermeiro começou a ficar impaciente e insatifeito com o trabalho. Após a morte do Coronel Procópio, se tornou egoista, mentiroso e preocupado com a reação das pessoas em relação ao crime, como pode ser observado no trecho abaixo. Ex.:“As obrigações do inventário distraíram-me; e por outro lado a opinião da vila era tão contrária ao coronel, que a vista dos lugares foi perdendo para mim a feição tenebrosa que a princípio achei neles. Entrando na posse da herança, converti-a em títulos e dinheiro. Eram então passados muitos meses, e a ideia de distribuí-la toda em esmolas e donativos pios não me dominou como da primeira vez; achei mesmo que era afetação. Restringi o plano primitivo; distribuí alguma coisa aos pobres, dei à matriz da vila uns paramentos novos, fiz uma esmola à Santa Casa da Misericórdia, etc.: ao todo trinta e dois contos”. c) Como ele vai se percebendo, em suas mudanças internas, depois que conheceo Coronel? Deixa de ser um homem piedoso e passa a ser dominado pelo ódio e aversão. Ex.: “Eu, com o tempo, fui calejando, e não dava mais por nada; era burro, camelo, pedaço d’asno, idiota, moleirão, era tudo. Nem, ao menos, havia mais gente que recolhesse uma parte desses nomes.” Procópio relata que depois que o tratamento dado a ele pelo coronel ficou mais duro, passou a mudar o seu comportamento, tornando-se uma pessoa mais insensível e impiedosa, como observado nesse trecho: Ex.: “O trato era mais duro, os breves lapsos de sossego e brandura faziam-se raros. Já por esse tempo tinha eu perdido a escassa dose de piedade que me fazia esquecer os excessos do doente; trazia dentro de mim um fermento de ódio e aversão”. d) Na parte final do conto, depois de já estar no Rio de Janeiro e de ter recebido a herança, confessa o personagem-narrador: “E o prazer íntimo, calado, insidioso, crescia dentro de mim, espécie de tênia moral, que por mais que a arrancasse aos pedaços recompunha-se logo e ia ficando.” A que ele se refere? Explique com suas palavras. O sentimento de culpa vai dando lugar ao cinismo e à acomodação. Com o tempo convence-se de que a morte foi uma fatalidade e passa a gozar a herança inesperada. Com esse pensamento, Procópio buscava polir, mas ao mesmo tempo, travava uma batalha, pelo sentimento de vingança alcançada por der dado fim ao homem que tanto fazia mal às mentes das pessoas do povoado. Ex.: “Eu, a princípio, ia ouvindo cheio de curiosidade; depois, entrou-me no coração um singular prazer, que eu sinceramente buscava expelir.” O personagem está se referindo a uma metáfora que é uma figura de linguagem. A expressão “Tênia Moral” é como um verme que se desenvolve dentro do organismo humano: é o sentimento ruim que vai se desnvolvendo no interior do personagem do qual é difícil se libertar. e) Pode-se dizer que o elemento tempo, no sentido de duração, no conto, se comporta de duas maneiras: às vezes lento, arrastado, às vezes rápido. Busque no texto um exemplo de cada modo de se apresentar o tempo pelo narrador, nas descrições ou no diálogo, e diga por que ele usa esta variação. No conto O Enfermeiro, a narrativa é rápida quando o narrador protagonista omite todos os fatos ocorridos antes dos seus 42 anos, ao período anterior a agosto de 1859. Já no período de convívio com o patrão, desde a noite do assassinato até o amanhecer e o dia do enterro a narrativa é lenta e detalhada. Exemplos: de tempo rápido – “Olhe, eu podia mesmo contar-lhe a minha vida inteira,...eu só tenho papel; o ânimo é frouxo, e o tempo assemelha-se à lamparina de madrugada....” Exemplo de tempo lento – “...entrei na vida dos meus predecessores, uma vida de cão, não dormir,não pensar em mais nada, recolher injúrias...” Lentidão no tempo – Procópio relata todo o martírio íntimo que sentiu, quando deu fim ao Coronel, mesmo que tenha sido sem intenção; narra com exatidão todos os detalhes do crime e como isso o perturbou. O tempo cronológico é quase sentido, pelo leitor, de acordo com a riqueza detalhada pelo narrador. Ex.:“Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos: "Caim, que fizeste de teu irmão?" Vi no pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse- lhe que o coronel amanhecera morto; mandei recado ao vigário e ao médico.” Outro exemplo em que a narrativa é acelerada. No fim de três meses estava farto de o aturar; determinei vir embora; só esperei ocasião. 2.2 Perguntas relacionadas ao filme O enfermeiro. f) Fale como leitor e como espectador: descreva suas impressões ao ver o filme e compare-as com as que teve ao ler o conto. Leve em consideração o que agradou e o que desagradou, quando e por quê. Resposta: ao ler o conto Em relação aos personagens, nota-se que no conto O Enfermeiro, Procópio e Felisberto são personagens que se estabelecem por um evidente antagonismo psicológico e social. O personagem principal Procópio é um homem livre, e, ao mesmo tempo dependente, pois recebia casa e comida em troca de uma função de copista, sem criatividade. As características que resumiriam Procópio seriam discrição, paciência, resignação, servilismo, pois sempre estivera em posição subalterna, quase à margem social. Essas condições são adequadas para submeter-se aos desmandos e às humilhações do antagonista da história, o coronel Felisberto, homem mimado e caprichoso, oriundo de família aristocrática. Eu preferi a leitura do texto ao filme; acho que o texto foi mais bem detalhado e no filme houve alguns cortes que foram notados por eu ter feito primeiro a leitura do texto. Ao ler o conto percebe-se que é bastante expressivo e traz uma reflexão que ninguém é tão bom ou ruim quanto parece. Essa percepção faz do texto algo confessional, estabelecendo um pacto com o leitor, enquanto o filme fantasia mais, pois precisa de imagem para prender o espectador. O filme me remete a um caso de fatalidade em que os personagens vivem em conformidade à enfermidade de um homem que contrata um enfermeiro e o trata como um capacho; que busca alívio de suas dores e transtornos ao explorá-lo e o injuriar de todas as maneiras. Esse enfermeiro, por compaixão e conformismo acaba acatando tantas humilhações, até que o fim chega em forma de desabafo e ímpeto por liberdade. Os conteúdos das narrativas são iguais, mas o que as diferencia é a linguagem. Os atores dão um realismo visual, com sua encenação, figurino, cenário, proporcionando um vislumbre completo do que o autor nos tem a dizer. Já o drama escrito, requer maior entendimento e imaginação do leitor para interpretar de acordo com suas concepções e entendimento do que está sendo lido. A interpretação dos atores me agrada, principalmente nas cenas em que a cólera os absorve, e até chegar ao ponto de fazer o enfermeiro perder o juízo e atentar contra a vida do coronel. No filme, essa passagem foi completamente inesperada e a surpresa foi mais intensa do que no conto. O conto O enfermeiro, de Machado de Assis, aborda sentimentos comuns a todos os seres humanos: crueldade (por parte do coronel que se deleitava com a dor e a humilhação dos outros), prestividade e ao mesmo tempo angústia do enfermeiro. O conto de Machado de Assis apresenta uma linguagem mais simples. Durante o filme percebem-se outros personagens falando sobre o Coronel, enquanto no conto somente o narrador fala, os espaços são poucos detalhados ficando por conta do leitor imaginá-los. No filme os elementos tempo e espaço aparecem com mais detalhes e a presença de objetos e cenários antigos caracterizam o tempo em que ocorreu a história. No filme o narrador fica em segundo plano o que dá sentido à história são as falas e ações dos personagens, algumas cenas que aparecem no filme não são retratadas no conto com detalhes, como a cena que fala da relação de Procópio com o Coronel Feliberto, a cena em que o Coronel aponta a arma para Procópio também é mais detalhada no filme. No conto, o momento em que Procópio esgana o Coronel fica por conta da imaginação do leitor, enquanto no filme a intensidade , os gestos e expressões transmitem o sentimento de terror passado por Procópio, dando mais emoção a história. g) Que diferenças são mais perceptíveis no narrador, quando este passa do texto escrito para o filme? O filme é baseado no conto, mas sabemos que nenhuma adaptação será totalmente fiel à obra original. Uma diferença perceptível é que no conto o enredo quase perde a importância paraa forma de descrever de Machado de Assis, ocorrendo uma ênfase na forma e na análise psicológica das personagens. Como exemplo podemos destacar a personagem de Procópio, o enfermeiro, que desde o começo da narrativa literária mantém-se como narrador-personagem, mantendo-se como organizador das ações, ao passo que no filme não há como deixar à vista somente a perspectiva de Procópio, pois outros personagens são inseridos na trama para dar vida ao enredo, como o vigário, o médico, o tabelião, que no conto apenas são citados. E como sabemos, enquanto o escritor ao descrever e narrar, trabalha com signos verbais, suscitando no leitor a criação de imagens, ao diretor cabe trabalhar com elementos concretos de mundo, criando e recriando signos verbais e construindo imagens, destacando outros personagens, imagens, trilha sonora, enfim precisa utilizando outros recursos audiovisuais para prender a atenção do espectador. O filme, apesar do ótimo cenário, apresentou cortes que ficaram muito visíveis, como, por exemplo, no momento em que Procópio conversa com o Padre e o Médico no princípio de agosto e convence-os a deixá-lo partir e tendo o consentimento deles após concordar ficar por mais um mês para que pudesse providenciar substituto. A diferença está em não precisar descrever as sensações do narrador- protagonista, pois sua expressão facial, seu olhar e seus gestos explicam o que as palavras não conseguem refletir.