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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE QUÍMICA DEPARTAMENTO DE FÍSICO-QUÍMICA JULIANA PACHECO DA SILVA AGUIAR FENÔMENOS DE SUPERFÍCIE - DIFUSÃO RIO DE JANEIRO 2020 1) A partir de uma abordagem molecular, como ocorre a difusão? O processo de difusão consiste no transporte de massa presente em sistemas heterogêneos, por meio do fluxo de espécies, de forma espontânea, do meio mais concentrado para o menos concentrado, sendo a velocidade de migração proporcional à diferença de concentração. 2) Em que consiste a difusão livre? E a difusão na presença de convecção externa? Na difusão livre, o transporte de massa ocorre unicamente pela difusão, uma vez que não ocorre a atuação de forças externas, sendo a força motriz desse processo – à temperatura e pressão constantes – o potencial químico. Com a presença de convecção externa, o transporte de massa ocorre também devido à atuação de uma força externa. Assim, o fluxo de massa total pode ser calculado pela soma do fluxo de massa por difusão com o fluxo de massa por convecção, quando estes apresentam o mesmo sentido – ou pode ser calculado pela subtração entre esses dois fluxos, caso estejam em sentidos opostos. 3) Quais as leis de Fick para a difusão livre? A 1º Lei de Fick na Ausência de Forças Externas relaciona o fluxo de massa da difusão livre (J) proporcionalmente com o gradiente da concentração, por meio da constante de proporcionalidade (D), que é o coeficiente de difusão. O sinal de negativo é introduzido, pois à medida que o deslocamento no eixo x aumenta, a concentração diminui, sendo o gradiente negativo também. Esse sinal possibilita o uso do fluxo de massa como uma grandeza positiva. Abaixo a equação: J = −D ∂𝑐 𝜕𝑥 A 2º Lei de Fick na Ausência de Forças Externas relaciona o fluxo de massa, na qual a concentração varia com o tempo, tendo como modelo a difusão entre duas seções de áreas definidas separadas por uma determinada distância e com concentrações diferentes. Sua forma matemática: ∂c ∂x = D ( ∂2𝑐 ∂x² ) 4) Quais as leis de Fick para a difusão na presença de convecção externa? Na 1º lei, agora o cálculo do fluxo de massa apresenta um novo termo: o fluxo de convecção, que se relaciona diretamente com o produto da velocidade e concentração. O fluxo de massa total é calculado pela adição ou subtração do fluxo de difusão com o fluxo de convecção, de acordo com os sentidos que eles apresentam. Sentidos opostos representam a operação de subtração, enquanto o fluxo no mesmo sentido a operação é de adição. Abaixo sua expressão: J = −D ∂𝑐 𝜕𝑥 ± 𝑣𝑐 A 2º lei, baseada no mesmo modelo de duas seções com concentrações diferentes, separadas por uma distância no eixo x agora conta também com o fluxo de convecção, que apresentará velocidades diferentes para cada seção. Nesta lei, as operações de adição ou subtração também se relacionam com o sentido dos fluxos. Porém, em fluxos opostos de difusão e convecção, ocorrerá uma adição desses termos, enquanto que em fluxos de mesmo sentido terá uma operação de subtração. A expressão é: ∂c ∂x = D ( ∂2𝑐 ∂x² ) ± 𝜕(𝑣𝑐) 𝜕𝑥 5) É possível o estado não ser estacionário se o perfil de concentração é linear? Não. Em uma situação de estado estacionário, a concentração não varia com o tempo, sendo então, a derivada da concentração com relação ao tempo igual ao zero, de acordo com a 2º lei de Fick. Isso implica que, a segunda derivada da concentração em relação ao deslocamento no eixo horizontal é igual a zero também, uma vez que a constante de proporcionalidade assume valores não nulos. Ter o valor da segunda derivada igual à zero implica que a primeira derivada assume um valor constante, então: ∂c ∂x = 𝑎. Integrando essa expressão, é possível observar o comportamento linear da concentração: 𝑐 = 𝑎𝑥 + 𝑏, obtido, apenas, assumindo-se o estado estacionário. 6) Qual a relação entre o coeficiente de difusão e o fator de atrito? O coeficiente de difusão (D) se relaciona de forma inversamente proporcional com o fator de atrito (f) por meio de manipulações matemáticas, considerando a força motriz de difusão igual ao potencial químico e também à força viscosa, além da solução ser diluída ou ideal. Assim: 𝐷 = 𝑘𝑇 𝑓 7) Qual a relação entre o coeficiente de difusão e a viscosidade (Eq. Stokes-Einstein)? Pela lei de Stokes, o coeficiente de atrito (f) se relaciona com a viscosidade () por meio da expressão: 𝑓 = 6𝜋𝑟. Substituindo na relação matemática descrita na questão 6, observamos a relação inversamente proporcional do coeficiente de difusão (D) com a viscosidade: = 𝑘𝑇 6𝜋𝑟 𝐷 8) Qual a força motriz do fenômeno da difusão? A força motriz do fenômeno de difusão, à pressão e temperatura constantes, é o potencial químico. Esse potencial, em um processo reversível, se relaciona com o trabalho extra utilizado no fluxo de massa durante esse processo, e também com a espontaneidade da reação. 9) Descreva de modo geral como ocorre a ultracentrifugação. De suma importância nas áreas de Bioquímica, Química e Ciências Biológicas no geral, a ultracentrifugação é uma variação da centrifugação e se diferencia pelo uso de equipamentos que atingem velocidades superiores à 150.000 rpm. Essa técnica de separação de soluções heterogêneas – sejam suspensões ou de líquidos imiscíveis – consiste na aplicação de uma força centrífuga que será responsável pela separação mecânica através da sedimentação dos solutos em solução, tendo como variáveis: a densidade das substâncias, a velocidade de rotação da centrífuga e a distância da solução ao eixo central de rotação. 10) Como é definida a constante de sedimentação e qual a sua unidade? O coeficiente de sedimentação (s) é a taxa de movimento de uma partícula durante o processo de centrifugação e é função do tamanho, formato e densidade dessa partícula. Quanto maior sua massa e densidade, com mais rapidez a partícula sedimenta. Matematicamente: 𝑠 = 𝑣 𝜔2𝑟 = 𝑀(1 − �̅�𝜌) 𝑁𝑎𝑣𝑓 𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒: 𝑆 (𝑆𝑣𝑒𝑑𝑏𝑒𝑟𝑔) = 10−13𝑠 Onde: M = massa molecular, �̅� = volume específico do soluto, 𝜌 = massa específica da solução, 𝑁𝑎𝑣 = número de Avogadro e 𝑓 = fator de atrito 12) Como se determina a massa molar a partir da ultracentrifugação? A massa molar de uma partícula pode ser calculada por meio da combinação entre sedimentação, difusão e viscosidade, através da equação de Svedberg-Einstein: 𝑀 = 𝑅𝑇𝑠 𝐷(1 − �̅�𝜌) Onde: M = massa molecular, R = constante dos gases 8,314x107 erg mol-1 K-1, T = temperatura absoluta (K), s = constante de sedimentação, D = coeficiente de difusão, �̅� = volume específico do soluto e 𝜌 = massa específica da solução 13) Como se calcula o fator de Perrin? O que ele indica? O fator de Perrin indica a proximidade da molécula com a forma esférica, por meio da proporção entre o fator de atrito (f) e o fator de atrito de uma molécula esférica (f0). Para molécula esférica, o volume é calcula por meio do volume da esfera (4/3𝜋r3) e relacionado com sua massa molar e massa específica. 14) Num meio homogêneo ocorre a difusão linear de um soluto em água, em estado permanente. (a) Sabendo que o gradiente de concentração no ponto x = 0 é de – 0,002M/cm e que a concentração nesse ponto é de 0,1 M, calcule a concentração no ponto x = 1,0 cm. (b) Qual o ponto em que a concentração é nula? O coeficiente de difusão do soluto em água, na temperatura de 25C, é de 210-5 cm2 s-1. A concentração no estado estacionário assume o comportamento linear, expresso por meio da equação de reta: 𝑐 = ( ∂c ∂x ) 𝑥 + 𝑐0. No ponto x = 1,0 cm, a concentração é: 𝑐 = −0,002 + 0,1 𝑐 = 0,098 𝑀 Quando a concentração ézero: 0 = −0,002𝑥 + 0,1 𝑥 = 50,0 𝑐𝑚 15) No problema anterior, quantos mols do soluto passam pelo ponto x = 2,0 cm, por segundo e por unidade de área normal à direção de difusão? O fluxo de massa no estado estacionário é calculado pela 1º lei de Fick: J = −D ∂𝑐 𝜕𝑥 . Substituindo os valores fornecidos: 𝐽 = −2𝑥10−5. −0,002 𝐽 = 4,0𝑥10−8 𝑚𝑜𝑙 𝑐𝑚2 𝑠 16) O coeficiente de difusão da sacarose na água, a 25C, é 5,610-6 cm2 s-1 . Qual será o coeficiente de difusão da sacarose em água, a 20C? A viscosidade da água a 25C é 0,8904 cP e a 20C vale 1,002 cP. O coeficiente de difusão se relaciona com a viscosidade por meio da expressão 𝐷 = 𝑘𝑇 6𝜋𝑟 . Substituindo os dados fornecidos para temperatura de 25ºC (298 K): 5,6𝑥10−6 = 𝑘. 298 6𝜋𝑟. 0,8904 𝑘 6𝜋𝑟 = 1,7𝑥10−8 Para 20ºC (293K): 𝐷 = 1,7𝑥10−8 . 293 1,002 𝐷 = 4,9𝑥10−6 𝑐𝑚2 𝑠−1 17) A massa molecular da hemoglobina é 64.500 g/mol e o seu volume específico é 0,75 cm3 /g. O coeficiente de difusão da hemoglobina em água, a 20C, é 6,910-7 cm2 s-1 . Verifique se é razoável admitir que a hemoglobina é uma proteína esférica. A viscosidade da água, a 20C, é 1,002 cP. O fator de Perrin (f/f0) quando mais próximo de 1 indica que a molécula apresenta forma esférica. O fator de atrito (f) pode ser calculado por: 𝑓 = 𝑘𝑇 𝐷 e o fator de atrito da molécula (f0) pode ser calculo por: 𝑓 = 6𝜋𝑟, onde r é o raio da molécula esférica: 𝑟 = √ 3𝑀 4𝜋𝜌𝑁𝑎𝑣 3 . Calculando, primeiramente a constante de Boltzmann: 𝑘 = 𝑅 𝑁𝑎𝑣 𝑘 = 8,314𝑥106 6,02𝑥1023 𝑘 = 1,38𝑥10−17 𝑐𝑚3 𝑃𝑎 𝐾 Substituindo os valores e calculando o fator de atrito: 𝑓 = 1,38𝑥10−17. 293 6,9𝑥10−7 𝑓 = 5,9𝑥10−9 𝑐𝑚 𝑃𝑎 𝑠 Com relação ao fator de atrito da molécula esférica, substituindo os dados fornecidos e tendo a massa específica como o inverso do volume específico, o raio pode ser calculado por: 𝑟 = √ 3 . 64500 4𝜋. 1,33.6,02𝑥1023 3 𝑟 = 2,67𝑥10−7 𝑐𝑚 A força de atrito da molécula esférica (f0) então: 𝑓0 = 6𝜋. 2,67𝑥10 −7. 1,002𝑥10−3 𝑓0 = 5,04𝑥10 −9 Calculando o fator de Perrin: 5,9𝑥10−9 5,04𝑥10−9 = 1,17 Com isso, podemos concluir que a aproximação para a forma esférica é razoável.
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