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Conceito de Tráfico Internacional de pessoas

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Conceito de Tráfico Internacional de pessoas. (Aspectos Históricos)
O tráfico de mulheres e crianças teve origem no início do século XIV e, até meados do século XVII já era uma das maiores redes de arrecadação de lucros do mundo. Podemos dizer que as principais vítimas do tráfico são mulheres e crianças com idade entre 12 a 30 anos, chegando a somar cerca de 71% do tráfico humano em todo o mundo. Isto porque, os traficantes se aproveitam da vulnerabilidade destas vítimas para influencia-las, utilizando-se das mais variadas formas possíveis.
As mulheres são facilmente ludibriadas, dada a sua fragilidade feminina, inerente a todas as mulheres. As crianças, por sua vez, são enviadas pelos próprios pais aos aliciadores, que por vezes tem consciência da intenção do tráfico e, até chegam a receber quantias em dinheiro, como uma compra e venda. No entanto, existem pais que também são enganados pelos aliciadores, acreditando que suas meninas terão melhores oportunidades, seja de estudo ou emprego, recebendo também em alguns casos quantias em dinheiro.
O tráfico para exploração sexual teve início na época das grandes conquistas de territórios, quando aqueles que conquistavam, ao se apropriarem de novos territórios, levavam consigo todas as suas riquezas materiais, inclusive mulheres e crianças para, entre outros fins, o da exploração sexual.
Francisco Bismarck Borges Filho, explica que:
“Segundo sabe-se, o Tráfico de Pessoas tem sua origem na Antiguidade, onde, devido as frequentes guerras e disputas territoriais, era comum, após as batalhas, a apropriação dos povos vencidos pelo exército vencedor, fazendo daqueles verdadeiros escravos destes. Em assim sendo, muitas vezes os vencedores não tinham interesse imediato em mão-de-obra, o que aumentaria significativamente sua densidade populacional, aumentando também a demanda de recursos, o que os levava a comercializar, em forma de escravidão, a mão-de-obra excedente”.
O conceito de tráfico internacional de pessoas amplamente aceito por nosso ordenamento jurídico, atualmente, é aquele que se encontra no Artigo 3 do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças.
O tráfico de pessoas é definido na legislação internacional como o recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou outras formas de coação, ao rapto, fraude, engano, abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. 
O tráfico humano é o comércio de seres humanos, mais comumente para fins de escravidão sexual, trabalho forçado ou exploração sexual comercial, tráfico de drogas ou outros produtos; para a extração de órgãos ou tecidos, incluindo para uso de barriga de aluguel e remoção de óvulos; ou ainda para cônjuge no contexto de um casamento forçado.
É um conceito jurídico inventado no século XIX e que reapareceu entre nós no final do século XX. Para problematizar o conceito de tráfico de pessoas, utiliza-se o arsenal teórico foucaultiano, o qual sugere a investigação dos discursos que deram visibilidade a certa prática e a tornaram dizível. Nessa metodologia aplicada à pesquisa histórica, discurso tem um sentido técnico particular. Não significa o que é dito. Discurso, aqui, é entendido como prática, pois é a prática que determina os objetos, e não o contrário; e só existe o que é determinado, afinal, as coisas não existem fora das práticas. Por esse ângulo, tráfico de pessoas, prostituição e exploração são práticas datadas e dimensionadas por relações de poder, e não um dado em essência. 
Tráfico de pessoas não é uma categoria sociológica. É uma categoria jurídica que nasceu dentro da discursividade da necessidade de policiamento das fronteiras transnacionais. Em meados do século XIX, rejeições ao tráfico de pessoas negras africanas para práticas escravistas tomaram fôlego. Junto a essa urgência, não mais humanitária que econômica, agregou-se a preocupação com o tráfico de mulheres brancas para prostituição. Apesar de podermos estabelecer relações entre tais fenômenos, é preciso ficar claro que são acontecimentos distintos, pois são movidos por preocupações diversas. 
No direito brasileiro, o tráfico de pessoas se manifesta em relação necessária com a prostituição, diferentemente do Protocolo, que coloca a prostituição ao lado de outras práticas na configuração de um caso de tráfico. Portanto, o que move o debate geral sobre o tráfico internacional de pessoas no Brasil, além das exigências internacionais de combate ao crime organizado transnacional, é fundamentalmente o sentimento generalizado de que se deve evitar a prostituição. A discussão sobre o tráfico de pessoas se pretende técnica e se esquiva da questão sobre a qual inventa sua substância, que é a questão da prostituição. É a prostituição, afinal, o ponto crucial a respeito do tráfico no Brasil, é sobre essa atividade e com base nela que se dirige o combate ao tráfico de pessoas.
É possível afirmar que o tráfico de pessoas teve início com a prática do tráfico negreiro, que em 1808, foi considerado um crime contra a humanidade. Com o fim do tráfico negreiro e da escravidão, teve início um novo século, sendo marcado pelo enorme fluxo de diversas nacionalidades em busca de novas perspectivas em todo o mundo. O tráfico de seres humanos faz parte da história de formação do país, incialmente em decorrência do tráfico de negros e posteriormente em razão da chegada de imigrantes vindos da Europa na época da primeira guerra mundial, buscando refúgio e melhores condições de vida. Há muitos anos, o Brasil deixou de ser um país destino e passou a ser um fornecedor para o tráfico, pois a prática de tal atividade acompanha os motivos que deram ensejo à sua origem.
O Brasil está entre os dez países com mais vítimas do tráfico internacional de pessoas. Atualmente, o tráfico de pessoas, considerado como forma moderna de escravidão, é uma das atividades mais rentáveis do crime organizado no mundo, perdendo em lucratividade apenas para o tráfico de drogas e de armas. 
Referências:
JESUS, Damásio Evangelista de. Tráfico internacional de mulheres e crianças - Brasil: aspectos regionais e nacionais. São Paulo: Saraiva, 2003. Acesso em 07 de novembro de 2019
Tráfico de pessoas para fins de exploração sexual, Brasília: OIT, 2ª edição 2006, p.52. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/info/downloadfile.php?fileId=253>. Acesso em 09 de novembro de 2019.
Tráfico de pessoas para fins de exploração sexual, Brasília: OIT, 2ª edição, 2006, p. 12. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/info/downloadfile.php?fileId=253>. Acesso em 12 de novembro de 2019.
Faria, Rafael. Capa. Tráfico Humano. Visão Jurídica, São Paulo, edição 126, p.32, ano 10.
Tráfico de pessoas - Uma abordagem para os direitos humanos - Secretaria Nacional de Justiça. Ficha catalográfica produzida pela Biblioteca do Ministério da Justiça do Brasil. Brasília/DF: edição do autor, 2013, p. 24. Disponível em: <http://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-pessoas/publicacoes/anexos/cartilha_traficodepessoas_uma_abordadem_direitos_humanos.pdf> Acesso em 14 de novembro de 2019.

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