Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Clara F. metabolismo do ferro: • A quantidade corporal total de ferro está em torno de 50 mg/kg no homem e 35 mg/kg na mulher • Cerca de 70 a 75% do ferro é encontrado nas hemácias, ligada ao heme da hemoglobina • Cerca de 25% do ferro pode ser encontrado nas proteínas ferritina e hemossiderina, que formam os “compartimentos armazenadores de ferro”, especialmente nas células da mucosa intestinal, e nos macrófagos do baço e medula óssea • Cerca de 2% do ferro fica circulando no plasma, ligado à transferrina sérica • Todas as 3 (ferritina, hemossiderina e transferrina) são proteínas capazes de ligar o ferro, podendo ser encontradas no plasma e no meio intracelular • A apoferritina é uma proteína sintetizada pelo fígado (um “reagente de fase aguda”). Possui uma estrutura geométrica esférica, delimitando uma região central, capaz de armazenar os átomos de ferro. Quando ligada ao ferro, ganha o nome de ferritina, que é a principal responsável pelo armazenamento de ferro no organismo. A ferritina tem a capacidade de armazenar grandes quantidades de ferro e, ainda assim, de manter uma reserva para mais estoque – da mesma forma que armazena, é também capaz de mobilizar rapidamente grandes quantidades desse metal, quando necessário • A “ferritina” medida no plasma, na verdade, é a apoferritina (molécula sem ferro). Contudo, “ferritina sérica” é o termo mais utilizado. A concentração sérica de ferritina é diretamente proporcional às reservas de ferro no organismo, isto é, quanto maior o acúmulo de ferro, maior será o valor da ferritina sérica. Os níveis normais de ferritina são: Plasma: varia de 20 a 200 ng/ml Homem: média de 125 ng/ml Mulher: média de 55 ng/ml • De uma forma geral, cada ng/ml de ferritina sérica corresponde a 10 mg de ferro armazenado (uma ferritina de 100 ng/ml reflete 1.000 mg de ferro nas reservas corporais). A hemossiderina é um derivado da ferritina após proteólise por enzimas lisossomais. Funciona também como uma proteína “armazenadora de ferro”, porém de liberação muito mais lenta • A transferrina (ou siderofilina) é uma proteína sintetizada pelo fígado responsável pelo transporte do ferro no plasma, agindo como um link entre os principais depósitos teciduais do metal e o setor eritroide da medula óssea Clara F. NA MUCOSA INTESTINAL (ABSORÇÃO E ELIMINAÇÃO DO FERRO) • O duodeno e o jejuno proximal são as regiões intestinais responsáveis pela absorção de todo o ferro alimentar. Em pessoas normais e nas pessoas com anemia ferropriva, o percentual de ferro absorvido pela mucosa duodenojejunal não ultrapassa 50% do ferro ingerido (na prática, varia entre 10 a 30%). Esse percentual sofre grande influência: Do tipo de alimento que contém ferro De outros alimentos que podem inibir ou estimular a absorção de ferro Das necessidades do organismo (por exemplo: no estado ferropênico, o percentual de ferro absorvido aumenta, aproximando-se a 50%) • Uma dieta normal ocidental contém entre 5-15 mg de ferro por dia. Pessoas de baixa renda costumam consumir quantidades menores TIPOS DE FERRO ALIMENTAR: • Existem 2 formas de ferro proveniente da dieta: Forma heme: proveniente de alimentos de origem animal. É a própria molécula de heme que é absorvida pela mucosa intestinal. O heme é liberado das proteínas animais no estômago por ação da pepsina, sendo em seguida absorvido no duodeno. A forma heme é melhor absorvida do que a forma não heme, além de não sofrer nenhuma influência de outras substâncias alimentares. De uma forma geral, cerca de 30% do heme é absorvido, contra apenas 10% da forma não heme. Por isso, as fontes animais (carne vermelha, frango, frutos do mar, miúdos) são as mais importantes fontes de ferro Forma não heme: derivada de alimentos de origem vegetal. É absorvido diretamente o íon ferroso (Fe+2) EFEITO DOS ALIMENTOS: • A absorção do ferro não heme é altamente influenciável pelo pH gástrico e pela composição dos alimentos. O pH ácido do estômago promove a conversão do íon férrico (Fe+3) em íon ferroso (Fe+2), aumentando a sua absorção • O ácido ascórbico (vitamina C), por ser um ácido, é um importante agente estimulante da absorção dos sais de ferro. A proteína derivada da carne, por mecanismos desconhecidos, também aumenta a capacidade de absorção dos sais de ferro. Enquanto isso, uma série de substâncias alimentares (especialmente as derivadas de cereais) inibe a absorção devido às suas propriedades quelantes Clara F. REGULAÇÃO DA ABSORÇÃO DE FERRO (DE ACORDO COM AS NECESSIDADES DO ORGANISMO): • O ferro dietético, absorvido pelas células da mucosa intestinal, tem 2 destinos básicos: Ser incorporado pela ferritina presente nas próprias células da mucosa Ser transportado através da célula intestinal para um transportador na membrana basolateral (ferroportina), ligando- se, depois, à transferrina plasmática • O ferro absorvido pelas células da mucosa intestinal só será repassado para a transferrina (e daí para todo o organismo) se as necessidades corpóreas desse metal assim determinarem. Caso contrário, ele permanece no interior da célula intestinal, sem ser de fato absorvido, e o processo normal de descamação e renovação celular se encarrega de eliminá-lo. Uma das principais vias de eliminação corpórea de ferro é a via fecal • Mas como o enterócito “sabe” se deve repassar o ferro para a transferrina ou retê-lo para eliminação? A hepcidina (hormônio sintetizado no fígado), desempenha um papel central na regulação do metabolismo do ferro, pois tem a capacidade de se ligar à ferroportina, inibindo o transporte de ferro pela membrana basolateral do enterócito em direção ao plasma • Inibição da produção de hepcidina → hipóxia • Estimulação da produção de hepcidina → ferro, citocinas inflamatórias e pacientes com adenoma hepático fazem hipersecreção de hepcidina, que resulta em uma anemia refratária à ferroterapia NO PLASMA • A partir das células da mucosa intestinal, o ferro ganha a corrente sanguínea e se distribui para diversos tecidos do corpo, principalmente a medula óssea e o fígado. Mas ele não circula entre esses compartimentos em sua forma livre (que é tóxica) • Praticamente todo ferro plasmático circula ligado a uma glicoproteína especial: a transferrina (ou siderofilina), que é sintetizada no fígado e tem a capacidade de capturar e transportar duas moléculas de ferro Clara F. • Apesar de apenas 2% do ferro corporal total estar ligado à transferrina, ela é um elemento crucial no chamado “ciclo do ferro”. É através da transferrina que o ferro chega aos precursores eritroides da medula óssea, que possuem grande quantidade de receptores de transferrina em sua membrana NA MEDULA ÓSSEA • A transferrina plasmática, que incorporou o ferro da mucosa intestinal e o está transportando pelo sangue, atinge receptores nas membranas dos eritroblastos. Nesse processo, ocorre internalização do complexo transferrina-ferro-receptor. O ferro se dissocia do complexo e a transferrina é exocitada da célula para ser novamente aproveitada, retornando ao sangue. O ferro incorporado pelas células da medula óssea tem 2 destinos básicos: Ser armazenado pela ferritina dentro das próprias células da medula Ser captado pelas mitocôndrias dessas células e introduzido numa protoporfirina, para formar o heme e fazer parte de uma molécula de hemoglobina. Dessa maneira, a medula óssea, assim como a mucosa intestinal, um importante compartimento “armazenador” de ferro. O ferro, então, passa a fazer parte da estrutura da hemoglobina, circulando junto com as hemácias por cerca de 120 dias NO BAÇO • Quando as hemácias se tornam envelhecidas, são fagocitadas por macrófagos nos sinusoides do baço. Esses fagócitos rompem a membrana das hemácias e as moléculas de hemoglobina são dissociadas em globina e heme. O heme recebe a ação da heme-oxigenase, liberando ferro e biliverdina. O ferro recicladodentro dos macrófagos esplênicos tem 2 destinos básicos: Ser estocado pela ferritina e hemossiderina dos próprios macrófagos Ser liberado no plasma, se ligando à transferrina e sendo novamente captado pelos eritroblastos da medula óssea. Aqui, mais uma vez, a hepcidina pode inibir a liberação de ferro dos macrófagos para a transferrina plasmática, como ocorre nos enterócitos. Dessa forma, o baço também é (à semelhança da mucosa intestinal e da medula óssea) um importante compartimento “armazenador” de ferro PERDA E GANHO CORPORAL DE FERRO • O organismo humano não é capaz de eliminar ativamente o ferro já estocado em seu interior. Toda vez que este metal é introduzido em nosso sistema, não consegue ser fisiologicamente eliminado. Com isso, podemos chegar a duas conclusões: Conclusão 1: é por essa razão que o paciente que se submete cronicamente a diversas hemotransfusões, se intoxica pelo ferro, desenvolvendo hemocromatose secundária. O organismo não consegue eliminar nem mesmo a pequena fração de ferro presente em cada bolsa transfundida. A soma dessas pequenas frações, após anos ou décadas de hemotransfusão, acaba sendo significativa Conclusão 2: quem protege contra uma intoxicação pelo ferro é o próprio local responsável pela sua absorção: a mucosa intestinal. Na verdade, um excesso de ferro alimentar não costuma causar nenhum dano, já que as células da mucosa captam o ferro e só o repassam para a circulação sistêmica se o organismo assim determinar. Caso contrário, o ferro fica ali, “estagnado” na mucosa, até que a descamação do epitélio intestinal o elimine Clara F. • Entretanto, existem 3 doenças que aumentam patologicamente a absorção intestinal de ferro: as talassemias, a anemia sideroblástica e a hemocromatose primária (hereditária). Nessas desordens, a reposição inadvertida de sulfato ferroso pode levar à intoxicação pelo ferro • Outro conceito importante sobre o metabolismo do ferro é o seguinte: como não existe nenhuma via para eliminação “ativa” desse metal, um quadro de ferropenia é atingido quase sempre através de perda sanguínea • Em geral, os pacientes que desenvolvem carência de ferro são “aqueles que menstruam” (mulheres) ou que apresentam perda sanguínea crônica, suficiente para esgotar completamente os estoques de ferro dos macrófagos (geralmente após 3 meses de perda de ferro). O sangramento CRÔNICO é a principal causa de anemia ferropriva • Qualquer que seja a origem da perda sanguínea crônica, a medula óssea desses pacientes necessita constantemente de mais ferro para a síntese de hemoglobina e, dependendo da quantidade perdida, os estoques de ferro podem se esgotar. Neste momento, pode surgir uma dúvida: mas a dieta “normal” não contém quantidades significativas de ferro? Não seria suficiente para repor as perdas? Já foi dito que em pessoas hígidas, a capacidade da mucosa intestinal em absorver o ferro dietético não ultrapassa 50% do total ingerido. Mas então é só o paciente aumentar a ingesta de ferro, através de um complemento alimentar. Claro, mas lembre-se que, em geral, o paciente não sabe que está perdendo sangue insidiosamente. Como a dieta “normal” do brasileiro contém de 5 a 10 mg de ferro, no máximo 5 mg/dia desse metal conseguiriam ser incorporados às reservas. Se as perdas ultrapassarem esse limite, a ferropenia irá se instalar. Detalhe: 10 ml de sangue contêm cerca de 5 mg de ferro. Se um tumor de cólon “oculto” sangra entre 15-30 ml/dia, a ferropenia será inevitável • No caso de uma hemorragia aguda, mesmo quando volumosa, se o paciente sobrevive e o sangramento é estancado, a perda de hemácias será compensada por um aumento na produção medular de reticulócitos. Obviamente, esse processo envolve síntese de mais hemoglobina e requer mobilização de ferro. Nesta situação, o ferro pode ser tranquilamente “requisitado” dos compartimentos armazenadores (como a mucosa intestinal e os macrófagos do baço e medula óssea), e o paciente não costuma evoluir com ferropenia. Exceção a essa regra seria o paciente que já possuía baixas reservas de ferro, não tendo “estoque” suficiente para aumentar a produção de reticulócitos em face da maior requisição. O sangramento AGUDO nem sempre causa anemia ferropriva Clara F. anemia: visão geral • Anemia é um termo que se aplica, ao mesmo tempo, a uma síndrome clínica e a um quadro laboratorial caracterizado por diminuição do hematócrito, da concentração de hemoglobina no sangue, ou da concentração de hemácias por unidade de volume. Em indivíduos normais, os níveis de hemoglobina variam com a fase do desenvolvimento individual, a estimulação hormonal, a tensão de oxigênio no ambiente, a idade e o sexo • Considera-se portador de anemia o indivíduo cuja concentração de hemoglobina é inferior a: 13 g/dL no homem adulto 12 g/dL na mulher adulta 11 g/dL na mulher grávida 11 g/dL em crianças entre 6 meses e 6 anos de idade 12 g/dL em crianças entre 6 e 14 anos de idade • Esses valores aplicam-se para o nível do mar, alterando-se significativamente em grandes altitudes, mas não sofrem variações com a raça, a região geográfica ou a idade avançada. Em particular, não ocorrem níveis de hemoglobina “fisiologicamente” mais baixos em idosos. De fato, a presença de anemia está associada a risco aumentado de mortalidade em pacientes idosos, de modo que um baixo nível de hemoglobina nesses pacientes deve ser visto como sinal de doença ETIOPATOGENIA: • Devemos distinguir: Anemia verdadeira: caracterizada pela redução da massa eritrocitária, ou seja, do volume total de hemácias no organismo Anemia relativa ou por diluição: quando há aumento do volume plasmático, sem correspondente aumento das hemácias. O exemplo mais comum é a hemodiluição, que ocorre durante a gravidez. No entanto, como a hemodiluição não provoca quedas acentuadas da hemoglobina nem sintomatologia, níveis de hemoglobina inferiores a 11-10,5 g/dL devem ser causados por uma das formas de anemia desencadeadas ou agravadas pela gravidez, como carências de ferro ou folato, ou β-talassemia heterozigótica • Excluídas as raras situações de hemodiluição, a queda da concentração de hemoglobina reflete uma verdadeira redução da massa de eritrócitos. Os diferentes mecanismos conducentes à anemia podem ser agrupados em 3 causas básicas: Perdas sanguíneas agudas (hemorragia aguda) Menor produção de eritrócitos Diminuição da sobrevida dos eritrócitos Clara F. ANEMIAS POR HEMORRAGIA AGUDA: • As causas mais frequentes são: acidentes, cirurgias, hemorragias no TGI (especialmente por úlcera péptica ou ruptura de varizes esofagianas) e hemorragia genital. A hemorragia aguda é uma emergência que exige intervenção imediata para cessá-la e repor (por meio de transfusões) o plasma e as hemácias perdidos, para evitar o choque hipovolêmico. Quando o volume de sangue perdido não é muito grande, o organismo dispõe de mecanismos fisiológicos que permitem a recuperação espontânea. Podem-se reconhecer vários períodos evolutivos da perda sanguínea aguda: Nas primeiras horas após a hemorragia: a dosagem de hemoglobina ou o hematócrito não refletem o volume de sangue perdido, pois há perda proporcional de plasma e de hemácias. A avaliação da gravidade da anemia deve ser feita com base em sinais clínicos, como FC, PA, palidez cutaneomucosa, sudorese e temperatura das extremidades, estado de consciência e fluxo urinário Após a hemorragia: mecanismos hormonais (renina-aldosterona, hormônio antidiurético) provocam retenção de água e de eletrólitos, recompondo o volume circulante. Só então ocorre diluição das hemácias, e a dosagem de hemoglobina (ou o hematócrito) diminui progressivamente para estabilizar-se em novo nível 48 a 72 horas depois do episódio de hemorragia Como consequência da hipóxia renal: há aumento da eritropoetina (estimula a medula óssea a aumentar sua produção nos dias subsequentes), até que a hemoglobinaretorne aos níveis Clara F. anteriores. No período de produção acelerada (a partir do 3º ao 5º dia) ocorre elevação do número de reticulócitos A síntese da hemoglobina para repor o sangue perdido é feita à custa de mobilização do ferro dos depósitos. Para 100 mL de hemácias produzidas o organismo utiliza cerca de 100 mg de ferro dos depósitos • Se a hemorragia não for tão intensa que cause choque hipovolêmico, o organismo recompõe o sangue perdido em 2 a 3 semanas após a hemorragia. No entanto, em pacientes previamente anêmicos, em portadores de doenças crônicas ou de deficiências subclínicas de ferro ou folato, a perda hemorrágica pode não ser pronta ou completamente reposta, marcando o ponto inicial de instalação ou de exteriorização clínica de um processo de anemia crônica ANEMIAS POR MENOR PRODUÇÃO DE ERITRÓCITOS: • A maioria dos casos de anemia resulta da produção insuficiente de eritrócitos pela medula óssea. Nesses casos, a porcentagem de reticulócitos está diminuída ou normal e mesmo quando a porcentagem de reticulócitos está ligeiramente elevada (2 a 5%), o aumento é pequeno em relação à anemia (ou seja, não há aumento do índice de reticulócitos corrigido), e o número absoluto de reticulócitos está baixo. A menor produção de eritrócitos pode ser resultante dos distúrbios a seguir: Distúrbios da diferenciação celular: a infiltração ou substituição da medula óssea por um tecido anormal também pode comprometer a produção de outras células mieloides. Assim, nas leucemias agudas ocorre acúmulo de células neoplásicas do tecido hematopoético na medula óssea, com redução das células mieloides normais. De maneira similar aos casos de aplasia da medula óssea, as principais manifestações clínicas decorrem do comprometimento das 3 séries mieloides: anemia (eritrócitos), infecções (leucócitos) e manifestações hemorrágicas (plaquetas). Principais causas desse tipo de anemia: ➢ Infiltração de outros órgãos como baço, fígado, linfonodos, meninges, pele e testículos ➢ Leucemias crônicas ➢ Mieloma múltiplo ➢ Mielofibrose ➢ Metástases carcinomatosas ➢ Síndromes mielodisplásicas também se caracterizam por um defeito da eritropoese, com menor produção de hemácias, além da anemia, podem ocorrer outras citopenias, como leucopenia e trombocitopenia ➢ Infecções (principalmente viroses), são causas frequentes de anemia. Anemia é uma manifestação comum na infecção por HIV, e as hepatites estão associadas à ocorrência de anemia aplástica O defeito pode afetar de maneira isolada ou predominantemente a série vermelha: a manifestação clínica principal será a anemia (aplasia pura da série vermelha), as insuficiências endócrinas (hipotireoidismo e o hipopituitarismo) e a insuficiência renal, na qual ocorre menor produção de eritropoetina consequente à lesão do parênquima renal Distúrbios da multiplicação celular: a diferenciação de células hematopoéticas primitivas em proeritroblastos é seguida de intensa proliferação celular, que proporciona a formação final de 8 a 32 eritrócitos a partir de cada proeritroblasto, que exige intensa atividade sintética por parte dos precursores. Os folatos e a vitamina B12 são essenciais para a síntese do DNA e as deficiências desses nutrientes resultam em retardo ou bloqueio da síntese de DNA, levando a um defeito da multiplicação celular e da maturação nuclear, enquanto a síntese de RNA e das proteínas não está comprometida. As anemias resultantes da carência de vitamina B12 ou de folatos são coletivamente conhecidas por anemias megaloblásticas e caracterizam-se por Clara F. acentuada hiperplasia eritroide da medula óssea, baixa liberação de reticulócitos e hemácias de volume aumentado (macrocitose e hipercromia Distúrbios da maturação ou da hemoglobinização: cada eritrócito contém cerca de 30 pg de hemoglobina, que atinge uma concentração de 34 g/dL dentro da hemácia, representando mais de 95% do peso seco da célula. Por isso, quando a quantidade de hemoglobina sintetizada por célula é menor, formam-se hemácias com volume menor do que o normal. São, portanto, anemias microcíticas e hipocrômicas. Os principais defeitos que podem levar a uma hemoglobinização deficiente são: ➢ Carência de ferro ➢ Talassemias ➢ Anemias sideroblásticas A maior parte do ferro corporal encontra-se nas hemácias como parte da hemoglobina. Na carência de ferro os depósitos esgotam-se e o ritmo de síntese de hemoglobina é comprometido. Nos adultos normais, cerca de 97% da hemoglobina é do tipo HbA, uma proteína composta de 2 pares de cadeias polipeptídicas denominadas α e β. A síntese dos 2 tipos de globinas é codificada por genes independentes, e em condições normais é equilibrada, ou seja, são produzidas quantidades equivalentes de cadeias α e β. As talassemias são doenças hereditárias em que a síntese de globinas é desequilibrada, a redução do ritmo de síntese acarreta uma diminuição da quantidade total de moléculas completas de hemoglobina por hemácia (o que provoca hipocromia), e também um acúmulo da cadeia cuja síntese não está afetada, que causa a lesão e destruição das hemácias e eritroblastos. Por isso, as talassemias são anemias microcíticas hipocrômicas e, ao mesmo tempo, exibem um componente de eritropoese ineficaz e um componente hemolítico ANEMIAS POR DESTRUIÇÃO DAS HEMÁCIAS: • As hemácias humanas têm vida média de 120 dias a partir da saída do reticulócito da medula óssea para o sangue circulante. A redução da vida das hemácias em circulação produz uma síndrome hemolítica que pode levar à anemia. Em condições normais, as hemácias são destruídas no interior de macrófagos, em órgãos como o fígado, o baço e a medula óssea. Nas anemias hemolíticas, a hemólise exacerbada pode ser: Hemólise intravascular: é devida a traumas diretos sobre as hemácias, fixação de complemento à membrana eritrocitária ou toxinas exógenas, ocorrendo liberação de hemoglobina no plasma. A hemoglobina pode ser excretada na urina, dando origem à hemoglobinúria, que é um sinal específico de hemólise intravascular Hemólise extravascular (mais frequente): as células são captadas pelos macrófagos no baço, no fígado e na medula óssea (sistema mononuclear-fagocitário), destruídas intracelularmente e digeridas. Nas anemias hemolíticas a produção de hemácias pela medula óssea está aumentada, mas o aumento não é suficiente para compensar a acentuada redução de sua sobrevida. As principais manifestações clínicas e laboratoriais compreendem: Consequências do aumento do catabolismo da hemoglobina: elevação de bilirrubina indireta (não conjugada), icterícia, hepatomegalia e esplenomegalia, litíase biliar Consequências da hiperplasia mieloide e da produção aumentada de eritrócitos: número elevado de reticulócitos, presença de células imaturas (eritroblastos) em circulação, alterações esqueléticas. As anemias hemolíticas podem ser hereditárias ou adquiridas, crônicas ou de aparecimento abrupto. Têm expressão clínica muito variada, que depende da intensidade da hemólise, a rapidez com que se instalou o quadro, eficiência da compensação pela medula óssea e causa da doença. Por exemplo, a queda brusca de hemoglobina associada a uma Clara F. hemólise aguda pode resultar em sintomatologia muito intensa, com fraqueza, tontura e taquicardia, insuficiência renal aguda, enquanto uma anemia hemolítica crônica pode ser oligossintomática. • As manifestações clínicas da anemia são variadas e dependem da anemia propriamente dita e do mecanismo determinante. Variável também é a intensidade dos sintomas, dependendo do grau da anemia (concentração de hemoglobina), idade do paciente, atividade física e velocidade com que se estabeleceu a anemia • Todas as manifestações clínicas da anemia decorrem da redução da capacidade de transporte de oxigênio do sangue e consequente menor oxigenação dos tecidos. Numerosos mecanismos fisiológicos atuam no sentido de compensar a reduzida capacidadede transporte de oxigênio e, desta forma, minimizar a hipóxia tissular. Esses mecanismos contribuem para a gênese das manifestações clínicas nas anemias. Os sinais e sintomas das anemias refletem, portanto: A hipóxia não corrigida dos tecidos A participação dos mecanismos compensatórios • Sintomas ocasionados pela hipóxia: os sintomas principais são: Cefaleia Lipotimia Câimbras Vertigens Zumbidos Claudicação intermitente Tonturas, fraqueza muscular Angina Além disso, anemias que se manifestam nos primeiros anos de vida e que cursam com níveis baixos de hemoglobina (anemias hereditárias) podem comprometer ou retardar o desenvolvimento somático, neuromotor e sexual • Sintomas ocasionados pelos mecanismos compensatórios: as principais manifestações envolvem os aparelhos cardiovascular e respiratório, que são os responsáveis por tentar compensar a reduzida capacidade de transporte de oxigênio e, dessa forma, corrigir a hipóxia tissular. Os principais mecanismos compensatórios nas anemias envolvem: Aumento do débito cardíaco Redução da resistência vascular sistêmica global Redistribuição do fluxo sanguíneo para os diferentes tecidos Diminuição da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio Clara F. Como resultado do aumento do débito cardíaco, da redistribuição do fluxo sanguíneo (privilegiando tecidos e órgãos mais sensíveis à hipóxia) e a redução da resistência periférica, ocorrem manifestações clínicas como palidez cutaneomucosa (vasoconstrição periférica), taquicardia, aumento da diferencial de pressão, sopros no precórdio, sopro arterial ou venoso no pescoço, choque da ponta impulsivo e dispneia de esforço. O aparelho cardiovascular (principalmente coração) podem sustentar por tempo prolongado os mecanismos compensatórios. No entanto, quando a capacidade de compensação é excedida, seja porque a anemia é acentuada ou estabelece-se rapidamente ou por consequência de uma lesão cardíaca prévia, instala-se um quadro de: Insuficiência cardíaca com cardiomegalia. A IC neste caso ocorre com o volume minuto cardíaco aumentado (acima do normal), embora ainda insuficiente para atender à demanda metabólica do organismo Estase jugular Edema periférico Hepatomegalia Congestão pulmonar Dispneia de decúbito A redução da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio é um importante mecanismo compensatório nas anemias, e deve-se ao aumento da concentração intraeritrocitária de 2,3-difosfoglicerato (2,3-DPG). Esse composto, formado durante metabolismo da glicose, fixa-se à molécula de hemoglobina desoxigenada, dificultando sua ligação com o oxigênio. A diminuição da afinidade (desvio da curva para a direita) não altera a saturação da hemoglobina nos pulmões (onde a PO2 é elevada), mas leva a maior liberação de oxigênio nos tecidos. A P50 média de sangue anêmico com hemoglobina de 8 g/dL é da ordem de 30 mmHg (comparada com 26 mmHg em normais), o que é suficiente para aumentar em 25% a quantidade de oxigênio liberada nos tecidos • Outras manifestações: algumas manifestações clínicas observadas em pacientes anêmicos são sinais e sintomas de uma doença subjacente que conduziu à anemia. Por exemplo, as principais queixas de um paciente que desenvolve anemia ferropriva em consequência da hemorragia crônica de uma úlcera péptica podem estar relacionados com a úlcera: dispepsia, pirose e dor epigástrica. Clara F. Além disso, há manifestações que podem acompanhar alguns tipos particulares de anemias, estando ausentes em outras, tais como: Manifestações hemorrágicas e infecções na anemia aplástica ou leucemias agudas Esplenomegalia e linfonodomegalia em leucemias e linfomas Icterícia e esplenomegalia nas anemias hemolíticas Parestesias e outras manifestações neurológicas na anemia perniciosa Dores ósseas, fraturas sob trauma mínimo e síndrome de compressão de medula espinhal em mieloma múltiplo ou metástases carcinomatosas Esses sintomas adicionais, quando analisados cuidadosamente, permitem, na maioria dos casos, um diagnóstico muito aproximado da causa e do mecanismo da anemia, que podem, então, ser confirmados com base nos exames laboratoriais • Intoxicação e hipóxia tecidual: as manifestações clínicas da anemia representam as consequências da redução da capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue, resultante da diminuição da concentração de hemoglobina. A capacidade do sangue de transportar oxigênio pode ocasionalmente estar reduzida em outras situações, além da anemia. Isso ocorre principalmente quando a função da hemoglobina está alterada Na intoxicação pelo CO, que tem uma afinidade pela hemoglobina cerca de 210 vezes maior do que o CO2, a hemoglobina é convertida em carboxi-hemoglobina, que não transporta oxigênio Nas intoxicações pelas sulfonas e nitritos ocorre a oxidação da hemoglobina (Hb-Fe++), com formação de metemoglobina (Hb-Fe+++), também incapaz de transportar oxigênio. Essas alterações podem levar a manifestações de anoxia tissular semelhantes à anemia, embora os níveis de hemoglobina estejam normais • Ao avaliar um paciente com anemia, vários aspectos devem ser rigorosamente questionados e observados, incluindo: Sinais ou sintomas que permitem identificar a presença de anemia (consequentes à hipóxia dos tecidos ou aos mecanismos compensatórios) Sinais ou sintomas adicionais, que permitem identificar o tipo e a etiologia da anemia Antecedentes pessoais e familiares Hábitos (incluindo alimentação, uso de medicamentos e contato com substâncias químicas) Identificação de condições que provocam ou facilitam o aparecimento de anemia (Tabela 8.3) Clara F. anemia ferropriva • De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), anemia é um problema de saúde pública global, que afeta o estado de saúde, a capacidade laborativa e a qualidade de vida • A Deficiência de Ferro (DF) é responsável por 75% de todos os casos de anemia • Estima-se a prevalência de DF em até 45% das crianças até 5 anos de idade e de até 50% nas mulheres em idade reprodutiva • Em países subdesenvolvidos e em países desenvolvidos, a DF advém principalmente de desigualdades sociais. É muito mais prevalente em estratos sociais mais baixos, nos grupos de menor renda, e na população com menor acesso à educação • O corpo de um indivíduo adulto bem nutrido e saudável contém de 3 a 4 g de ferro. O éritron (órgão descontínuo, porém único, formado pelo somatório de eritroblastos, reticulócitos e hemácias) é o maior compartimento funcional de ferro do organismo humano, contendo de 60 a 70% do ferro total. Desta forma, a necessidade de ferro do éritron tem influência dominante na sua deficiência • O restante do ferro corporal está distribuído nos hepatócitos e nos macrófagos do Sistema Reticuloendotelial (SRE), que atuam como órgão de depósito. O SRE é responsável por fagocitar células senescentes (envelhecidas), catabolizar Hemoglobina (Hb) para restaurar o ferro e devolvê- lo à transferrina para nova utilização. Apesar da baixa capacidade absortiva do duodeno, o balanço de ferro no organismo é regulado a partir da absorção intestinal. Como não existe uma via fisiológica de excreção de ferro, essa regulação é crítica • A deficiência de ferro surge a partir do desequilíbrio entre ingesta, absorção e situações de demanda aumentada ou perda crônica (anemia ferropriva), sendo multifatorial Clara F. • Anemia ferropriva é bastante frequente em recém-nascidos, crianças, adolescentes e mulheres em idade fértil, gestantes e lactantes. Além de esses grupos apresentarem necessidade de ferro, sua ingestão média diária de ferro está abaixo da recomendada, mesmo em países desenvolvidos • O ferro dietético consiste em ferro heme e ferro não heme: Ferro heme: está presente em alimentos de origem animal e tem excelente biodisponibilidade para absorção intestinal Ferro não heme: é encontrado em produtos de origem vegetale tem baixa biodisponibilidade • Assim, indivíduos que consomem produtos animais têm menor risco de desenvolvimento de anemia ferropriva que vegetarianos. Anemia ferropriva é o distúrbio do ferro mais frequente em adultos e está associada à perda crônica de sangue, tanto por hipermenorreia ou menorragia (sítio mais frequente em mulheres em idade fértil), quanto pelo TGI (sítio mais frequente em homens e mulheres pós-menopausa). Cada mL de sangue perdido resulta em redução de cerca de 0,5 mg de ferro • Deficiência de ferro pode gerar redução da capacidade funcional de vários sistemas orgânicos, estando associada a: Crianças: alteração do desenvolvimento motor e cognitivo Adultos: problemas comportamentais, cognitivos e de aprendizado e redução da produtividade no trabalho Gestantes: aumenta o risco de prematuridade, baixo peso, sendo responsável por 18% das complicações no parto e morbidade materna Clara F. • As queixas costumam ser leves, pois a anemia se instala de maneira insidiosa, gerando adaptação, e há pacientes completamente assintomáticos. Pode-se observar: Palidez cutaneomucosa Fadiga Baixa tolerância ao exercício Redução do desempenho muscular Perversão alimentar ou pica (desejo e consumo de substâncias não nutritivas como gelo, terra, sabão, argila) Baqueteamento digital e coiloníquia (unhas em forma de colher) Atrofia das papilas linguais Estomatite angular e disfagia (formação de membranas esofágicas ou síndrome de Plummer- Vinson) HEMOGRAMA • O hemograma é um teste rápido, barato e amplamente disponível no rastreio de anemia ferropriva, mas incapaz de detectar DF sem anemia. Frequentemente se observa: Microcitose Hipocromia Aumento do índice de Anisocitose Eritrocítica (RDW) Plaquetose Anisocitose Poiquilocitose Hemácias em charuto Eliptócitos Reticulocitopenia COLORAÇÃO DO TECIDO MEDULAR PELO CORANTE PERLS • A avaliação dos estoques de ferro na medula óssea a partir da coloração do tecido medular pelo corante de Perls é considerada padrão-ouro no diagnóstico de DF. É exame invasivo, de reprodutibilidade e acurácia questionáveis, não tendo papel na prática clínica diária MIELOGRAMA • No mielograma observa-se: Hiperplasia eritroblástica com displasias morfológicas na DF moderada Hipoplasia das 3 linhagens da DF grave prolongada FERRITINA SÉRICA • A dosagem da ferritina sérica está diretamente relacionada com a concentração de ferritina intracelular e, portanto, com o estoque corporal total. Deficiência de ferro é a única condição que gera ferritina sérica muito reduzida, o que torna a hipoferritinemia bastante específica deste diagnóstico. No entanto, valores normais ou elevados de ferritina não excluem a presença de DF, pois a ferritina é uma proteína de fase aguda • Elevação: inflamação, infecção, doença hepática e malignidade, mesmo na presença de DF grave FERRO SÉRICO • Ferro sérico é a fração do ferro corporal que circula ligado à transferrina e encontra-se reduzido na DF. Varia com o ritmo circadiano e a alimentação e, por isso, a coleta de sangue para sua dosagem deve ter horário e jejum padronizados Clara F. • Redução: inflamação, não devendo ser utilizado isoladamente para avaliação de DF TRANSFERRINA • Transferrina (proteína transportadora específica de ferro) tem capacidade de ligar simultaneamente 2 moléculas de ferro. Sua produção é regulada pelo ferro corporal, aumentando quando os estoques estão baixos. Pode ser dosada diretamente ou por meio da avaliação da Capacidade Total de Ligação de Ferro (Total Iron Binding Capacity – TIBC), ensaio que permite a estimativa dos sítios de ligação de ferro disponíveis • Elevação: gestação e uso de contraceptivos orais • Redução: inflamação, infecção, malignidade, doença hepática, síndrome nefrótica e desnutrição • Transferrina ou TIBC, juntamente com o ferro sérico, permitem o cálculo do Índice de Saturação de Transferrina (IST). O IST é calculado a partir da razão [Ferro sérico/TIBC] ou [Ferro sérico/Transferrina × 0,71], variando de 20 a 45% ZINCOPROTOPORFIRINA • O último passo na síntese de Hb é a inserção de um átomo de ferro na protoporfirina para formação do heme. Na DF, zinco é incorporado no lugar do ferro, formando a Zincoprotoporfirina (ZPP). A taxa de elevação de ZPP é proporcional ao déficit de ferro na medula em relação à eritropoese e a elevação de ZPP é o primeiro marcador de eritropoese deficiente em ferro, embora não seja específico FRAGMENTO SOLÚVEL DO RECEPTOR DE TRANSFERRINA (STFR) • O fragmento solúvel do receptor de transferrina (sTfR) é derivado do receptor de transferrina de todas as células, porém os principais geradores desse fragmento são os eritroblastos e reticulócitos. Assim, a concentração de sTfR reflete a atividade eritropoética e se encontra elevada na DF • A razão do sTfR pelo logaritmo da ferritina sérica (sTfR/log da ferritina) mostrou-se útil na determinação de DF em pacientes com anemia de doença crônica. O principal problema da dosagem de sTfR é a falta de padronização internacional que permita comparação entre os diferentes ensaios, o que impede sua ampla utilização DOSAGEM PLASMÁTICA OU URINÁRIA DA HEPCIDINA • A dosagem plasmática ou urinária de hepcidina ainda não está comercialmente disponível, mas parece promissora em estudos preliminares na distinção entre anemia ferropriva e anemia de doença crônica • Elevação: inflamação e nos estoques de ferro elevados • Redução: presença de DF Clara F. ORAL • A dose ideal para tratamento é de: Adultos: 180 a 200 mg de ferro elementar/dia Crianças: 1,5 a 2 mg de ferro elementar/dia dividida em 3 a 4 tomadas. Preferencialmente administradas com o estômago vazio ou 30 minutos antes das principais refeições. A forma ferrosa é mais bem absorvida que a férrica. Para pacientes em uso de antiácidos e inibidores da bomba de prótons recomenda-se a reposição com doses maiores e por mais tempo • A prevalência de efeitos colaterais é de até 30%, notadamente do TGI: Pirose Dor epigástrica Náuseas Vômitos Empachamento Dor abdominal em cólica Diarreia Obstipação • O paciente deve ser informado de que é esperada mudança da cor das fezes e que os efeitos colaterais melhoram com o tempo. Redução das doses diárias e ingestão do medicamento junto com alimentos diminuem a eficácia, porém diminuem os efeitos colaterais. Pode-se tentar ainda administrar doses mais altas à noite e modificar o sal prescrito, já que algumas formulações estão menos associadas a efeitos colaterais. Recomenda-se manter doses terapêuticas por cerca de 4 meses após a resolução da anemia Clara F. PARENTERAL: • A reposição parenteral de ferro é efetiva, cara, trabalhosa, não isenta de efeitos colaterais e deve ser indicada em situações especiais. Existem formulações para administração intramuscular (praticamente proscrita) e intravenosa: Via intramuscular: está associada à dor local, pigmentação irreversível da pele e linfonodomegalia Via intravenosa: pode estar associada a irritação, dor e queimação do sítio de punção, náuseas, gosto metálico na boca, hipotensão e reação anafilactoide, sendo que o principal fator no aparecimento dessas reações é a velocidade de infusão Clara F. RESISTÊNCIA • Com doses adequadas de ferro suplementar observa-se recuperação rápida da anemia por deficiência de ferro na maioria dos pacientes. O sinal mais precoce de resposta é o aumento na contagem de reticulócitos, que atinge seu pico entre o 5º e o 10º dias de tratamento. Observa-se, também, aumento médio de 1g/dL por semana na Hb • Considerável proporção dos pacientes tratados apresenta má resposta, recaída precoce ou resistência. Nesses casos, deve-se investigar: Presença de fatores que interfiram na absorção intestinal Persistência do sangramento Perda maior que a capacidade de absorção Máadesão Se constatada a impossibilidade de uso da via oral, partir para a reposição parenteral • A erradicação do H. pylori associada à ferroterapia oral é mais efetiva que a ferroterapia oral isolada, e há evidência de que a presença dessa bactéria é causa de resistência à ferroterapia. Assim, há recomendação de que se investigue a presença e se trate a infecção pelo H. pylori após exclusão de sangramento pelo TGI • Em alguns países já foi implantada a suplementação universal de ferro na farinha de trigo, visando a reduzir as estatísticas de DF. Além disso, recomenda-se reposição profilática com ferroterapia oral durante a gestação, nas lactantes, e nas crianças até 5 anos de idade. Especificamente na gestação, as estratégias recomendadas pela OMS para prevenção de ADF mostraram redução na prematuridade em até 50%, mortalidade neonatal em até 55%, nascituros de baixo peso em 16% e mortalidade infantil em até 31%. Recomenda-se para: Gestantes e lactantes: 100 mg de ferro elementar/dia Pré-escolares: 30 mg de ferro elementar/dia Escolares: 30 a 60 mg de ferro elementar/dia por 2 a 3 semanas várias vezes ao ano anemias microcíticas hipocrômicas • É a causa mais comum de anemia microcítica. Caracteriza-se por: Redução do volume corpuscular médio (VCM) Redução da hemoglobina corpuscular média (HCM) Redução da concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) • A talassemia é definida como resultado da produção reduzida ou inexistente de uma ou mais cadeias globínicas. Na talassemia β menor, observa-se: Microcitose Alteração do padrão eletroforético da hemoglobina Contagem normal ou aumentada de glóbulos vermelhos RDW menor que 18% Desequilíbrio na produção de hemoglobina: Clara F. ➢ Redução discreta da hemoglobina A ➢ Aumento da hemoglobina A2 • A eletroforese de hemoglobina é o exame de escolha para iniciar a investigação de talassemia. A presença de resistência globular aumentada é exame diagnóstico auxiliar. Entretanto, em alguns casos, apenas a análise molecular do DNA pode fornecer o diagnóstico definitivo • A associação entre talassemia-β menor e anemia ferropriva pode ocorrer, reduzindo a concentração de hemoglobina A2. Logo, para evitar falsos diagnósticos, na suspeita desta associação deve-se corrigir o estoque de ferro corpóreo para avaliação posterior da eletroforese de hemoglobina • A anemia de doença crônica é a anemia mais comum em pacientes hospitalizados e, em geral, incide em indivíduos com patologias inflamatórias crônicas devido aos elevados níveis de citocinas inflamatórias, que interferem na utilização da eritropoetina e no metabolismo do ferro. Caracteriza- se por: Hemoglobina entre 9 e 11 g/dL, sendo assintomática ou oligossintomática Anemia normocrômica e normocítica, podendo ser microcítica e hipocrômica • Esta patologia altera os testes de triagem na avaliação do perfil do ferro, sendo que a adequada diferenciação entre a anemia de doença crônica e anemia ferropriva requer a mensuração tecidual do ferro, que pode ser inferida pela medida do receptor solúvel da transferrina • Embora a coloração do mielograma para ferro permaneça como o exame padrão para determinação do depósito de ferro, utilizamos a avaliação da concentração da ferritina sérica, mesmo reconhecendo sua elevação na doença crônica: Ferritina sérica ˂ 15 ng/mL é atribuída à anemia por deficiência de ferro Ferritina sérica ˃ 100 ng/mL exclui a anemia por deficiência de ferro, mesmo na presença de doença inflamatória ou doença hepática • A anemia sideroblástica é um grupo heterogêneo de desordens com 2 características em comum: Presença de sideroblastos em anel na medula óssea Biossíntese do heme prejudicada Eritropoese ineficaz com acúmulo de ferro medular Anemia microcítica e hipocrômica Hemoglobina entre 4 a 10g/dL Hiperferremia Saturação quase total da transferrina • A anemia sideroblástica geralmente é transmitida hereditariamente, ligada ao cromossomo X, levando a um defeito no metabolismo mitocondrial ainda não muito claro. Estes pacientes têm os sintomas usuais de anemia, incluindo fadiga, diminuição da tolerância à atividade física e tonturas. Investigação de história familiar detalhada procurando anemia, especialmente em parentes do sexo masculino, é importante. A maioria das anemias sideroblásticas hereditárias manifesta-se na infância. No entanto, pode haver casos mais leves de anemia sideroblástica hereditária cujos sintomas não chamam a atenção até a idade adulta Clara F. síndrome de fadiga crônica (SFC) • A fadiga é um sintoma comum e cerca de 50% dos indivíduos relatam "se sentir fatigados" em levantamentos populacionais • A fadiga é um dos problemas mais comuns relatados a médicos da rede primária de saúde • Em muitos casos, a fadiga é autolimitada ou as causas são evidentes (p. ex., repouso insuficiente, doença clínica, depressão ou insônia) • A SFC é diagnosticada predominantemente em mulheres com idade de 30 a 45 anos • A causa da SFC ainda não foi bem definida. É geralmente aceito que a angústia psicossocial e estratégias de adaptação dificultosa contribuam para a atribuição e a perpetuação dos sintomas • A queixa principal de pacientes com SFC é o início agudo de uma fadiga debilitante, que causa uma alteração significativa nas atividades diárias, na capacidade de trabalho e nos relacionamentos sociais. Esses pacientes relatam um estado de saúde excelente imediatamente antes do início da fadiga, que é precedida por pródromos gripais • Os sintomas sugestivos de uma etiologia infecciosa incluem febre baixa, sudorese noturna que encharcam a pessoa, linfonodos cervicais hipersensíveis, garganta inflamada, mialgias e cefaleias. Assim como na fibromialgia, muitos pacientes portadores da SFC se queixam de dores musculoesqueléticas difusas, disfunção cognitiva, síndrome do colo irritável, transtornos dolorosos da articulação temporomandibular, sono não restaurador e sensibilidade a múltiplos compostos químicos • Diferentemente da definição de fibromialgia, não há achados de exame físico nos critérios da SFC. Além disso, a definição de fibromialgia não contém critérios de exclusão, enquanto a definição da SFC exclui os pacientes com transtornos clínicos passíveis de fadiga, depressão melancólica, transtornos psicóticos, abuso de drogas e obesidade grave (IMC > 40) • Como a SFC não é um diagnóstico de exclusão, é importante avaliar sistematicamente o paciente em busca de causas tratáveis de fadiga • Em geral o tratamento da SFC segue as orientações gerais para o tratamento da fibromialgia: Os pacientes devem ser submetidos a uma investigação clínica geral para se afastar causas tratáveis de fadiga (p. ex., hipotireoidismo ou anemia) e, em casos selecionados, deve-se considerar a realização de estudos mais especializados (polissonografla e o teste da mesa inclinada) Não há, atualmente, nenhuma intervenção farmacológica universalmente aceita para pacientes portadores da SFC. Os antidepressivos (AHC e ISRS) trazem benefícios mínimos, embora 2 estudos tenham relatado benefícios modestos com o uso de inibidores da monoamino oxidase (IMAO) em pacientes apresentando sintomas vegetativos significativos Clara F. O pilar do tratamento da SFC é fazer o engajamento do paciente a um programa suave, mas progressivo de exercido aeróbico Muitos pacientes se beneficiam de um curto programa de terapia cognitivo-comportamental para a correção de padrões de pensamento disfuncionais e atribuições incorretas O tratamento da dor e do estresse psicológico na SFC é o mesmo que na fibromialgia (gabapentina, pregabalina e topiramato)
Compartilhar