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IDENTIFICAÇÃO HUMANA, A PAPILOSCOPIA COMO INSTRUMENTO DE CIDADANIA E JUSTIÇA Eudaldo Francisco dos Santos Filho Doutor em Construção do Conhecimento (UFBA), Professor da Universidade do Estado da Bahia e Perito Técnico de Polícia do Instituto de Identificação Pedro Mello. eudaldofilho@gmail.com Alexandro dos Santos Barreto Perito Técnico de Polícia do Instituto de Identificação Pedro Mello, Professor da rede pública do estado, caatinga1@yahoo.com.br Marcelo Eduardo Andrade Almeida Perito Técnico de Polícia do Instituto de Identificação Pedro Mello, almeidame@hotmail.com RESUMO Importância: Atualmente, as discussões em torno de parâmetros e métodos de aplicação e construção da Justiça e restauração da cidadania são preponderantes quando se trata de segurança pública. A busca do fortalecimento das garantias dos direitos fundamentais do cidadão pelo Estado é um desasfio constante. Em paralelo a esta obrigação do poder público, a responsabilização civil do cidadão e identificação de autoria de crime não devem ser ações de menor relevância dentro da sociedade, não podem ser excludentes porque estão processsualmente ligadas. A construção de um sistema de identificação humana é ferramenta imprescindivel neste sentido, responsabilizando com os rigores da lei o cidadão infrator e garantindo ao indivíduo idôneo a devida inocência. Diante do exposto, a papiloscopia é uma ferramenta poderosa na construção de tal sistema, garantindo técnicas de identificação individual gerando algumas atividades privativas de Estado e de peritos em Papiloscopia, como: identificação cadavérica, busca de desaparecidos, identificação de latentes em local de crime, identificação civil e criminal. Palavras-chave: Cidadania; Identificação humana; Justiça; Sistema papiloscópico. Identificação e história A identificação humana é e sempre foi uma busca dentro do processo civilizatório. O intento pela individualização de cada indivíduo sempre foi uma necessidade dos grupamentos sociais. A identificação humana é uma das ações mais primárias nas relações humanas em seu processo de socialização, podemos encontrar registros pré-históricos na Nova Escócia de desenhos de espirais em dedos da mão humana (Figura 1), o que demonstra que, desde cedo, a humanidade considera alguns fatores biométricos como possíveis elementos de identificação do indivíduo. Figura 1: Desenho Pré-histórico. Fonte: www.morpho.com,12/12/01 Placas cerâmicas, identificadas como fruto de escavações arqueológicas, também são valiosos registros da identificação humana e de sua história. Por exemplo, foram encontradas no Turquistão placas com textos de acordos firmados entre indivíduos, que eram identificados pelas impressões dos dáctilos na massa fresca. Na China do século VII foram verificados divórcios em que os acordos eram firmados por meio de documentos identificados com impressões digitais. Na Índia, também constatamos tal procedimento ainda no século IX. Todas essas ações de caráter identificatório se mostravam eficazes, entretanto, careciam de sistematização e formalização científica. Modernamente, podemos identificar Marcello Malphighi, em 1686, professor de anatomia na Universidade de Bolonha – Itália, como autor da primeira observação, em ambiente acadêmico, das cristas papilares, através de um rudimentar microscópio. Assim, identificamos tal procedimento como a primeira descrição biométrica formal. (SANTOS FILHO; PEREIRA, 2013) Métodos de identificação pela biometria foram incessantemente investigados pela humanidade, no sentido de se fazer a identificação humana, principalmente a de caráter criminal. Antes do século XVIII, a mutilação era uma tônica na identificação criminal no Velho Mundo. Esse processo, juntamente com a marcação com ferrete, o ferro em brasa, fazia parte da rotina da sociedade europeia. Depois do desenvolvimento dos códigos e sistemas de leis criminais, esses procedimentos foram perdendo a força, com a valorização do indivíduo dentro do tecido social, notadamente na França. Podemos identificar no Gráfico 1, com detalhes, a sequência histórica dos fatos na identificação humana. Figura 2: Cronologia da identificação humana http://www.google.com.br/imgres?q=historia+da+identifica%C3%A7%C3%A3o+e+seus+personagens&um=1&hl=pt-BR&sa=N&biw=1907&bih=892&tbm=isch&tbnid=Ph7l7IcX262GSM:&imgrefurl=http://www.papiloscopia.com.br/historia.html&docid=Stdos_8Kxt4asM&imgurl=http://www.papiloscopia.com.br/Historia_arquivos/Image1.jpg&w=209&h=234&ei=MpCyT72fAoSBgwebo_inCQ&zoom=1&iact=hc&vpx=200&vpy=156&dur=431&hovh=128&hovw=114&tx=88&ty=95&sig=103457765776484458503&page=1&tbnh=124&tbnw=111&start=0&ndsp=48&ved=1t:429,r:0,s:0,i:71 http://www.google.com.br/imgres?q=historia+da+identifica%C3%A7%C3%A3o+e+seus+personagens&um=1&hl=pt-BR&sa=N&biw=1907&bih=892&tbm=isch&tbnid=Ph7l7IcX262GSM:&imgrefurl=http://www.papiloscopia.com.br/historia.html&docid=Stdos_8Kxt4asM&imgurl=http://www.papiloscopia.com.br/Historia_arquivos/Image1.jpg&w=209&h=234&ei=MpCyT72fAoSBgwebo_inCQ&zoom=1&iact=hc&vpx=200&vpy=156&dur=431&hovh=128&hovw=114&tx=88&ty=95&sig=103457765776484458503&page=1&tbnh=124&tbnw=111&start=0&ndsp=48&ved=1t:429,r:0,s:0,i:71 http://www.morpho.com,12/12/01 http://www.google.com.br/imgres?q=historia+da+identifica%C3%A7%C3%A3o+e+seus+personagens&um=1&hl=pt-BR&sa=N&biw=1907&bih=892&tbm=isch&tbnid=Ph7l7IcX262GSM:&imgrefurl=http://www.papiloscopia.com.br/historia.html&docid=Stdos_8Kxt4asM&imgurl=http://www.papiloscopia.com.br/Historia_arquivos/Image1.jpg&w=209&h=234&ei=MpCyT72fAoSBgwebo_inCQ&zoom=1&iact=hc&vpx=200&vpy=156&dur=431&hovh=128&hovw=114&tx=88&ty=95&sig=103457765776484458503&page=1&tbnh=124&tbnw=111&start=0&ndsp=48&ved=1t:429,r:0,s:0,i:71� Fonte: Santos Filho (2014, p. 10). Em 1823, o professor tcheco Johannes Evangelista Purkinji, também professor de anatomia, que lecionava na Universidade de Breslau, tentou dar um caráter classificatório às impressões digitais sem, no entanto, conseguir sistematizá-lo, a ponto de servir como instrumento de identificação humana. Certamente, as tentativas incipientes citadas anteriormente foram os primeiros passos do que hoje podemos chamar de sistema dactiloscópico de impressão digital, usado em todo o mundo como ferramenta de identificação humana. Mas, no sentido de sermos fiéis à História, a sociedade ainda demoraria um tempo antes de reconhecer a datiloscopia como sistema universal de identificação. Antes disso, Alphonse Bertillon foi o autor do primeiro sistema biométrico de identificação humana, em 1879, que se propunha ser universal denominado Bertillonage. Este método era uma coletânea complexa de parâmetros biométricos que identificavam os indivíduos. O sistema era composto de anotações antropométricas e de sinais particulares, com auxílio da fotografia. O autor fotografava o indivíduo de frente e de perfil; mais tarde, em 1894, é que a coleta das impressões digitais foi introduzida. Esse procedimento foi adotado pela polícia parisiense em 1882 e, logo após, em toda a Europa e em todo o mundo, inclusive no Brasil. O sistema de Bertillonage logo apresentaria ao mundo suas falhas. A coincidência de dados poderia ser a primeira, mas não a mais séria falência do sistema proposto por Bertillon. Mais adiante, o problema maior se revelaria no número de identificação, que exigia uma quantidade absurda de procedimentos e dados, constituindo aí a fragilidade do procedimento. As coincidências se apresentavam por inúmeros motivos, desde a forma de coleta até a imprecisão nos instrumentos, fazendo com que todo o sistema ruísse. Um exemplo emblemático para revelar a ineficiência do método foi o caso Will e William West. (ARAÚJO, 2006). Em 1903, na Penitenciária Federal de Leavenworth, nos EUA, o sentenciado Will West, ao chegar à instituição, negava que teria estado lá anteriormente, cumprindo outra sentença. Maso sistema de identificação do Instituto correcional apontava o contrário, com fichas e notas antropométricas, foto e nome semelhantes aos dele (Figura 2). Figura 3: O caso de Will e William West. Fonte: Araújo (2006) Após o confronto dactiloscópico foi concluído que ele não era quem se pensava, e o sistema de Bertillonage sofreu um sério golpe. Ficou claro que o sistema foi muito longe, em se tratando de uma época de procedimentos e ferramentas analógicas, mas, inegavelmente, apontou um caminho muito frutífero para trabalhos de identificação humana. Demonstrou o quanto seria necessário e útil para uma sociedade justa, um sistema de identificação competente e confiável. Mas a primeira tentativa de um sistema classificatório foi mesmo de Henry Faulds, físico, missionário e cientista, com a publicação do artigo intitulado “On the Skin-furrows of the hand”, no periódico Nature, em 1880, no qual propõe o método de coleta papiloscópica com tinta. Faulds ainda tentou recorrer a Darwin para ajudá-lo na intenção de estabelecer, definitivamente, um sistema de representação e classificação dos desenhos das cristas papilares. Darwin, em idade avançada, não se dispôs a ajudar, mas repassou as informações a seu primo Francis Galton. Francis Galton, antropólogo britânico, foi o primeiro a batizar os pontos característicos das impressões como laçada, arco e verticilo (Figura 4) e representá-los com letras do alfabeto, método que ainda é usado em todo o mundo, mesmo com avanços pontuais e variações. Figura 4: Desenho dos pontos característicos Fonte: http://www.papiloscopia.com.br/estudo_das_papilas.html O argentino Juan Vucetich Kovacevch pode ser considerado o primeiro a fazer um uso pragmático da identificação dactiloscópica, porque realizou a primeira identificação criminal da história, descobrindo a autoria de um crime de homicídio por meio da identificação papiloscópica. A identificação biométrica se dá por muitos meios. Entre os mais conhecidos e aplicados na atualidade ressaltamos a identificação dactiloscópica, conhecida como impressão digital, que é a mais acessível e mais utilizada no mundo. Alguns processos, como a identificação iridológica e o DNA, também estão ganhando espaço, mas ainda esbarram no alto custo de sua tecnologia e aplicação. Tomando sempre por base características físicas e imutáveis do corpo humano, a maioria dos meios de identificação humana disponível é de utilização quase total do Estado, na identificação civil e criminal. Os referidos métodos usam tecnologias que prescindem de padrões para realizar comparações que, se não coletados, impossibilitam a identificação. Ainda registramos que no mundo da identificação humana temos a identificação facial humana, que oferece resultados úteis e precisos na busca de pessoas apenas pelo registro mnemônico de depoentes que tiveram contato visual com o indivíduo em questão. A identificação facial humana, através da elaboração do retrato falado, é uma ferramenta de baixo nível de precisão; por outro lado, é uma ação de potencial possibilidade investigativa, pois a experiência visual individual é um caminho rico na identificação do indivíduo. (SANTOS FILHO; PEREIRA, 2013) Atualmente, o que se convencionou como retrato falado, está sendo objeto de nossa investigação cientifica no âmbito acadêmico, e parte destas atividades de pesquisas se dá dentro do LBI - Laboratório da Biometria e Imagem da Universidade do Estado da Bahia do Departamento de Ciências Exatas e da Terra. Os institutos de identificação e os peritos, especialistas em Identificação Facial Humana, reconhecem a prosopografia como o processo de descrição e comparação para fins de reconhecimento da face humana. As perícias que envolvem a comparação de imagens, na tentativa de reconhecimento e identificação humana, tomam o nome de prosopografia. http://www.papiloscopia.com.br/estudo_das_papilas.html Ocorre que existe uma ambiguidade no uso do termo para a Língua Portuguesa. O fato é uma constante, nos dicionários consultados, pois o conceito faz também menção à “biografia coletiva”. Um método de investigação cientifica da área da História. Em função desse panorama, tomamos uma posição propositiva e oferecemos em Santos Filho e Pereira (2013) uma nova configuração do termo, a prosoporrecognografia. Esta seria, então, o ramo da identificação humana, mais propriamente da representação facial humana, que se ocuparia da descrição, comparação e do confronto da face humana, para fins de reconhecimento e identificação. Sistema Papiloscópico de identificação Verificamos contemporaneamente que as discussões em relação itens como segurança, justiça e cidadania são prementes, impondo ao tecido social a assunção firme de posturas com relação de como o Estado vai se portar em relação e estes conceitos básicos de civilidade. Pouco se conhece e se discute a identificação humana como fator de desdobramentos qualitativos na segurança pública e na justiça brasileira, entretanto, é muito comum o noticiamento de casos em que envolve o tema e não há uma vinculação evidente entre, e disso nos ocuparemos neste artigo. Desenvolveremos uma narrativa que afirme que a identificação do indivíduo é um instrumento de justiça e cidadania, e ainda mais precisamente que a papiloscopia é o caminho para a consecução de tal afirmativa, como afirma Raws. Cada pessoa possui uma inviolabilidade fundada na justiça que nem mesmo o bem-estar da sociedade como um todo pode ignorar. Por essa razão, a justiça nega que a perda da liberdade de alguns se justifique por um em maior partilhado por todos. Não se permite que os sacrifícios impostos a uns poucos tenham menos valor que o total maior das vantagens desfrutadas por muitos. (RAWLS, 1997, p 4) A justiça como elemento constitutivo da plena cidadania não é uma construção nova ou moderna, é um pressuposto que remonta aos primórdios da ideia de civilização. A construção de sistemas que contemplem sociedades mais justas e equânimes no tratamento do indivíduo, sem considerar procedência, credo, raça ou outro fator individualizador é um avanço social considerável e paradigma de uma sociedade justa. A afirmação pode ser considerada um paradoxo, quando consideramos que um sistema de identificação competente é mais uma ferramenta da justiça social, partindo da premissa de que a identificação individual é garantia de minimização de erros pela devida qualificação de cada indivíduo. A identificação humana dispõe de várias técnicas e formatos. Com o desenvolvimento tecnológico, surgem mais sistemas que prometem sempre melhor eficiência e efetividade, entretanto podemos afirmar que o sistema papiloscopico ainda oferece garantias de confiabilidade e eficiência com baixíssimo custo, fatores que a deixam em posição de destaque em relação aos outros sistemas. É importante destacar que dentre as técnicas que possuímos hoje, com conhecimento aprofundado, como DNA, iridologia, entre outras, a papiloscopia ainda é a mais viável, como já tratado. Atualmente temos a identificação civil – Carteira de Identidade emitida pelos Institutos de Identificação – e a identificação criminal. Não menos importante, porém, menos conhecida, existe também a identificação de cadáveres, neonatal e a identificação realizada em locais de atos criminosos. Esta última feita através de fragmentos de impressões papiloscópicos deixados pelo indivíduo ao tocar nos objetos presentes no local do fato, esclarece a autoria de crimes e facilita a investigação criminal, poupando tempo e gastos para a administração pública. A identificação civil, mais conhecida entre todos, é realizada nos institutos de identificação do país e tem como consequência principal a emissão da Carteira de Identidade – Registro Geral – documento que identifica as pessoas para quaisquer atos da vida civil. Na maioria dos estados brasileirosé emitida pelas secretarias estaduais de segurança pública, não sendo unificada nacionalmente. No Brasil existem outros documentos de identificação civil, entretanto, poucos destes levam consigo uma das principais características individualizadoras utilizadas atualmente, a impressão digital. A Carteira de Identidade traz também um conjunto de características que identificam facilmente um indivíduo e faz referência a informações importantes como o registro público de nascimento ou casamento, foto da face, uma assinatura e uma impressão digital. Com o ato primordial do registro de nascimento e posterior documento de identificação, surgem as primeiras consequências da vida civil do indivíduo. A partir de então, o mesmo se torna apto legalmente a gozar de todos os seus direitos e garantias e a responder pelos seus atos, sendo identificado por um nome, uma filiação e com um registro de todos os seus dados de nascimento em um respectivo livro público. A identificação civil vem passando por diversos problemas. Hoje existem alguns documentos com poder legal de identificação, mas que comprometem o sistema e expõem fragilidades. Temos como exemplo as carteiras de trabalho, documentos de habilitação, carteiras de conselhos de classes e outros que surgiram como o RIC e logo desapareceram, e agora o DNI – Documento Nacional de Identificação, que será emitido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Urge a sistematização de uma identificação civil única no país, com base ainda nos Institutos de Identificação estaduais. Dentro das fragilidades do atual sistema de identificação pública, a Identificação Civil não é o maior problema. A identificação criminal, a identificação necropapiloscópica e as identificações em locais de crimes, estas sim não vêm sendo tratadas com a devida importância e cuidados que merecem para contemplar o sistema judiciário e policial com efetividade. A identificação criminal, fundamental na fase de persecução criminal, inquérito e processo penal, poderia ter sua utilização incrementada por possuir uma importância grande para a garantia de toda a ação que se desenvolverá no poder Judiciário, posto que não há processo penal sem autoria e materialidade. É fundamental saber quem cometeu o ato criminoso e quem dele foi vítima, do contrário todo processo perde o sentido. Fazer isto com segurança e efetividade não é uma tarefa fácil, porém, é uma busca do cotidiano dos Institutos de Identificação do país. A identificação criminal deveria ser uma forma cada vez mais utilizada, pois muito comumente vê-se que pessoas que não cometeram atos criminosos tenham em seus nomes processos criminais em andamento, dificultando toda a ação penal e retirando da Justiça a sua credibilidade. Atos de investigação e ações criminais não podem jamais possuírem um mínimo de fragilidade, visto que condenar inocentes ou absolver culpados não é justiça, e sim arbitrariedade, o que não pode ser aceito em nosso sistema de segurança e no poder Judiciário. Esta forma de identificação é responsável hoje por garantir que o indivíduo que está sendo recolhido pelo poder do Estado é a pessoa envolvida no ato criminoso. Não é a foto, a assinatura ou qualquer outra característica que definirá quem é este indivíduo, e sim a sua impressão digital, imutável, perene e única, que assegurará a individualização e vinculará este ao fato que lhe está sendo imputado. A identificação criminal realizada nos institutos de identificação possui um procedimento próprio e é regulado em lei em sua forma. A legislação atual fala em quando e como deverá ser feita esta identificação, evitando assim que seja uma forma de constrangimento e arbitrariedade desnecessária. Em regra geral, faz-se necessária quando não houver documentos que atestem a identificação do indiciado ou quando estes não forem suficientes para identificá- lo com segurança. Por último e não menos importante, existe a identificação necropapiloscópica realizada nos Institutos Médicos Legais, porém feitas por profissionais dos Institutos de Identificação, os papiloscopistas. A identificação de cadáver existe com o objetivo de dar segurança ao processo de conclusão da morte do indivíduo, posto que após o falecimento surgem diversos direitos e diferentes interesses. Como a identificação comum por reconhecimento por meio de foto não é mais suficiente para identificação de cadáveres com segurança, cada vez mais cresce a necessidade de identificar todos os cadáveres que estejam envolvidos com uma morte sob suspeita pelas suas impressões digitais. Hoje é possível e frequente a identificação de corpos em diferentes estados de preservação como corpos carbonizados, putrefeitos e até mesmo mumificados. Técnicas estudadas e procedimentos realizados permitem recuperar os tecidos das papilas dérmicas e identificar corpos em diferentes estados de conservação. É comum que os Institutos de Identificação identifiquem um grande número de corpos diariamente, assegurando, assim, a fidelidade das informações que estarão nos documentos de óbitos dos “de cujus”. È importante ressaltar que um grande empecilho que se encontra atualmente nos processos de identificação é a inexistência de um sistema nacional unificado de identificação por impressão digital. Foi-se tentado há alguns anos com a criação do RIC – Registro de Identidade Civil – um sistema integrado entre os estados com o objetivo de criar só uma identificação civil no país, e ele se comunicaria com todos os entes da federação. Este sistema, entretanto, não foi implementado em sua completude, ficando este espaço que se faz extremamente necessário para a eficiência total das identificações em todo o país. Uma ligação entre os sistemas de identificação seria importante, pois evitaria que pessoas possam ser identificadas em qualquer estado do Brasil sem a necessidade de bancos de dados individualizados. O sistema AFIS – “Automated Fingerprint Identification System” – sistema de identificação automatizado de busca por impressões digitais é a grande ferramenta utilizada pelos profissionais de papiloscopia. Este consegue fazer uma busca em seu banco de dados e trazer candidatos apenas com a impressão digital, sem serem necessários quaisquer dados alfanuméricos como nome ou filiação. Isto é fundamental para a identificação, pois a busca por qualquer outro critério nos arquivos físicos dos Institutos de Identificação se torna difícil, trabalhosa e pouco eficiente. Apenas com uma impressão digital questionada você consegue encontrar seu indivíduo portador e identificá-lo rapidamente, facilitando, assim, a identificação de criminosos que não fornecem seus dados reais, cadáveres de identidade ignorada e não reclamados nos Institutos de Medicina Legal, ajudando no encontro de pessoas desaparecidas. A integração de todos os “AFIS” em uma comunicação entre eles facilitaria demais o trabalho de identificação e conectaria toda a segurança pública em um só sistema, fazendo com que uma pessoa que cometesse um crime ou falecesse no estado do Acre fosse facilmente encontrado no estado do Rio Grande do Sul, por exemplo. Falar em integrar estes sistemas é falar em trazer uma nova perspectiva para a segurança pública e para a cidadania do brasileiro. Não se trata apenas de facilitar o trabalho da perícia papiloscópica, mas, sim, dar mais celeridade e eficiência a um trabalho fundamental para a segurança de todo o processo judicial e policial no país. Fazer com que os sistemas se comuniquem entre si é facilitar a vida do cidadão e dificultar o cotidiano do criminoso. Assim será mais fácil encontrar autores e vítimas de crimes que ficam impunes diuturnamente nesse processo já enfraquecido de persecução criminal. Não só de crime e criminosos se alimentam os sistemas de identificação. A área social e cível que este trabalho apresenta é também muito grande. Para exemplificar, pode-se citar o casode alguém que viajou e não retornou porque sofreu um acidente em outro estado, ficou sem identificação e foi sepultado como cadáver de identidade ignorada, posto que os sistemas não conseguem trocar informações de outros bancos de dados. É possível também dar respostas a familiares de um parente que desapareceu há tempos e que com isso gerou diversas privações afetivas, sociais ou econômicas. Enfim, dar dignidade para que as pessoas possam desfrutar dos seus direitos é também um dever do Estado de bem-estar social. O serviço público tem a obrigação de prestar um atendimento eficiente e com fundamento na dignidade e nas garantias fundamentais das pessoas. A identificação humana pela papiloscopia é um grande instrumento de cidadania e justiça do povo brasileiro e deve ser observado com mais importância na realidade da segurança pública e do poder Judiciário. Considerações finais O sistema papiloscópico de identificação humana consolida um processo que, por meio de uma observação científica, estabeleça um arcabouço teórico que possibilite a sistematização e classificação da identificação, para fins de reconhecimento e identificação. Este sistema é um avanço considerável para a sociedade em função de aplicações possíveis (como reflexos na seguridade social, segurança pública e privada, justiça e cidadania). Diante do exposto encontramos alguns entraves para a viabilização de um sistema público, único e eficiente de identificação papiloscópica que promova a cidadania e justiça. Podemos constatar que existem fatores de ordem política e de gestão pública que impedem significativamente a construção deste sistema. Há uma guerra silenciosa, mas intensa dentro dos estados, onde categorias hegemônicas da segurança pública tentam a todo custo a invisibilização e a inviabilização dos peritos especializados em identificação dactiloscópica em exercer o seu papel autonomamente, dirigindo os destinos da papiloscopia nos seus estados. Neste contexto, o prejuízo para a sociedade é crescente na busca de desaparecidos, na coleta de material papiloscópico em local de crime, no auxílio autônomo ao poder Judiciário, fiel quesitador e solicitante dos serviços de identificação humana. Acreditamos que um sistema único confiável e robusto no auxílio as autoridades requisitantes, identificando competentemente o cidadão seja um avanço determinante para uma sociedade que preza pela justiça social e cidadania. Neste sentido, a participação autônoma e integral do perito em papiloscopia é peça fundamental. REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. Dactiloscopia: a determinação dos dedos. Brasília: L. Pasquali, 2006, 450p. DESCARTE, R. Discurso Sobre o Método. Lieden, Holanda, 1637. FADUL, H. On the Skin-furrows of the hand. Nature, 22, 1880, 605p. RAWLS, J. Uma teoria da justiça. Martins Fontes, São Paulo, 1997. SANTOS FILHO, E. Prosoporrecognografia do reconhecimento e identificação da face humana: uma aproximação para o envelhecimento crânio facial. Tese de Doutorado – Universidade Federal da Bahia. DMMDC – Doutorado Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento, 2014. Eudaldo Francisco dos Santos Filho Alexandro dos Santos Barreto Marcelo Eduardo Andrade Almeida Perito Técnico de Polícia do Instituto de Identificação Pedro Mello, almeidame@hotmail.com
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