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TEXTO 1 - PESQUISA CIENTÍFICA

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METODOLOGIA 
DA PESQUISA 
EM HISTÓRIA 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Definir pesquisa científica.
 > Descrever conhecimento empírico, filosófico e científico.
 > Reconhecer os fundamentos do método científico.
Introdução
O que significa realizar uma pesquisa científica? Quais são os seus fundamentos 
e procedimentos? Em qual conjuntura histórica surgiu o chamado “método 
científico” e a quais outras formas de conhecimento ele se contrapõe? Recu-
perar a historicidade da pesquisa científica pode auxiliar a compreender os 
movimentos anticientificistas contemporâneos, baseados nas fake news e na 
pós-verdade?
Esses são alguns questionamentos a que procuraremos responder ao longo 
deste capítulo. Como a pesquisa científica surgiu em uma conjuntura específica 
da história, está diretamente relacionada ao próprio desenvolvimento da 
ciência como uma forma de conhecimento, derivado de procedimentos racio-
nais, repetíveis e baseados em um método. Na filosofia, essa área é chamada 
de “teoria do conhecimento”, e, no campo da história, trabalhamos algumas 
dessas ideias filosóficas em metodologia da pesquisa histórica, em teoria da 
história e na história da historiografia.
Neste capítulo, você aprenderá uma definição de “pesquisa científica” 
e acompanhará sua historicidade. Estudará as diferenças, na “teoria do co-
nhecimento”, entre o conhecimento empírico, o conhecimento filosófico e o 
conhecimento científico. E, por fim, compreenderá os fundamentos do método 
científico, observando sua contribuição para a pesquisa e a escrita da história.
Pesquisa científica
Caroline Silveira Bauer
O que é pesquisa científica?
Hoje, pode parecer banal para os acadêmicos aplicarem determinados métodos 
e seguirem certos preceitos para a realização de pesquisas científicas. Para 
muitos, inclusive, esse procedimento já foi interiorizado e naturalizado em 
seu ofício de pesquisador. 
Entretanto, se recuperarmos a historicidade das formas de conhecimento, 
chamada na filosofia de “teoria do conhecimento”, veremos que o “método 
científico”, que pauta as pesquisas científicas, consolidou-se em determinado 
momento em que a ciência se apresentava como outra possibilidade para 
a leitura da realidade, apresentando respostas diferentes das crenças, das 
opiniões e das religiões. De acordo com Aranha e Martins (1993, p. 129):
O conhecimento científico é uma conquista recente da humanidade: tem apenas 
trezentos anos e surgiu no século XVII com a revolução galileana. [...] A ciência 
moderna nasce ao determinar um objeto específico de investigação e ao criar um 
método pelo qual se fará o controle desse conhecimento. A utilização de métodos 
rigorosos permite que a ciência atinja um tipo de conhecimento sistemático [...].
Assim, diferentemente de outras formas de conhecimento, a pesquisa 
científica seria pautada pela objetividade, permitindo que qualquer outra 
pessoa, ao seguir os mesmos procedimentos metodológicos adotados pelo 
pesquisador, encontrasse os mesmos resultados. Abordaremos mais sobre 
as características da pesquisa científica no último tópico deste capítulo.
Podemos, dessa forma, definir a pesquisa científica como:
[…] um procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer um 
tratamento científico e se constitui como caminho para se conhecer a realidade 
ou para descobrir verdades parciais. Significa muito mais do que apenas procurar 
a verdade: é encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos 
científicos. Especificamente é um procedimento reflexivo sistemático, controlado e 
crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer 
campo de conhecimento (LAKATOS; MARCONI, 1992, p. 43).
Portanto, a pesquisa envolve procedimentos racionais e de sistematização, 
procurando apresentar respostas a problematizações propostas. Realiza-se 
a pesquisa como uma forma de investigação “[…] quando não se dispõe de 
informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a infor-
mação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser 
adequadamente relacionada ao problema [...]” (GIL, 2002, p. 17). Para realizar 
uma pesquisa, é necessário mobilizar conhecimento disponíveis, preexis-
tentes, e utilizar métodos, técnicas e teorias que orientem o procedimento 
Pesquisa científica2
científico. Uma pesquisa científica envolve várias fases, da escolha do tema 
à formulação do problema, passando pelo planejamento e execução da pes-
quisa propriamente dita, até a apresentação dos resultados da investigação.
Em que locais se realizam pesquisas no Brasil? Ainda que tenhamos 
diversos centros de investigação e pesquisa, são as universidades 
públicas as maiores desenvolvedoras de pesquisas científicas no Brasil. Leia, no 
artigo A pesquisa científica e as funções da Universidade, de Jankevicius (1995), 
de que modo as pesquisas científicas se relacionam com as universidades.
De momento, é importante destacarmos que nem todas as ciências com-
partilham dos mesmos métodos. Por exemplo, o método científico das ciências 
exatas é diferente daquele empregado pelas ciências da saúde, que, por sua 
vez, distingue-se de uma concepção científica das ciências humanas.
As pesquisas relacionadas ao ser humano e às suas ações de modificação da 
natureza, o que poderíamos chamar de ciências humanas, já foram exploradas 
por paradigmas científicos que as aproximavam mais ou menos das ciências 
biológicas e exatas. No entanto, desde meados do século XIX, as ciências 
humanas reivindicam para si uma metodologia de pesquisa científica própria. 
Na sua gênese, as Ciências Humanas procuraram praticar a metodologia experimen-
tal/matemática da ciência, assumindo os pressupostos ontológicos e epistemológi-
cos do positivismo. Mas as peculiaridades do modo de ser humano foram mostrando 
a complexidade do fenômeno humano e a insuficiência da metodologia positivista 
para sua compreensão e explicação. Por isso, mesmo sem abandonar a inspiração 
positivista, foram enriquecendo-a e aprimorando-a (SEVERINO, 2007, p. 112).
De acordo com Gil (1987), podemos citar as seguintes peculiaridades das 
ciências humanas e sociais em relação às demais ciências:
 � os fenômenos humanos não ocorrem de acordo com uma ordem se-
melhante à observada no universo físico, o que torna impossível a 
sua previsibilidade;
 � as ciências humanas lidam com entidades que não são passíveis de 
quantificação, o que dificulta a comunicação dos resultados obtidos 
em suas investigações;
Pesquisa científica 3
 � os pesquisadores sociais, por serem seres humanos, trazem para as 
suas investigações certas normas implícitas acerca do bem e do mal, 
prejudicando os resultados de suas pesquisas;
 � a ciência se vale fundamentalmente do método experimental, que exige, 
entre outras coisas, o controle das variáveis que poderão interferir 
no fenômeno estudado. Os fenômenos sociais, por sua vez, envolvem 
uma variedade tão grande de fatores que tornam inviável, na maioria 
dos casos, a realização de uma pesquisa rigidamente experimental.
Nas últimas décadas, algumas concepções sobre as ciências humanas e 
sociais se alteraram, e, diferentemente do que afirmava Gil (1987), já não se 
considera difícil comunicar o resultado das pesquisas nessas áreas, nem que 
a subjetividade dos pesquisadores prejudique as investigações. Sabemos que 
não existe neutralidade na ciência, o que não significa que o pesquisador 
precise descuidar de preceitos éticos.
Além disso, é importante fazer referência a debates ocorridos no âmbito 
da filosofia e da teoria da história, bem como da história da historiografia, 
que defendem que a história não é uma ciência. Para o historiador Reis (2003, 
p. 56–57):
[…] a história diz em nome do real o que é preciso dizer, crer e fazer. Pretendendo 
dizer o real, ela o fabrica. Ela torna crível o que ela diz. E faz agir. Essas narrati-
vas fabricadas produzem a história efetiva. Os poderes econômicos e políticos 
esforçam-se por pô-la do seu lado, de a adular,pagar, orientar, controlar ou manter. 
A história, portanto, lutando contra a ficção, o lendário e o falso, aproxima-se da 
ciência. Ela procura imitá-la em seu controle da linguagem e em seu controle da 
prova. Ela se inspira em seu espírito rigoroso e em sua busca da objetividade. Ela 
também aspira a apreensão e o domínio da realidade empírica.
Diferentes formas de conhecimento
Para estudarmos as diferentes formas de conhecimento, tomemos empresta-
das algumas definições oriundas da filosofia. Para os profissionais dessa área:
[…] o conhecimento é o pensamento que resulta da relação que se estabelece entre 
o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido. [...] O conhecimento pode designar 
o ato de conhecer, enquanto relação que se estabelece entre a consciência que 
conhece e o mundo conhecido. Mas o conhecimento também se refere ao produto, 
ao resultado do conteúdo desse ato, ou seja, o saber adquirido e acumulado pelo 
homem (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 21).
Pesquisa científica4
Segundo Aranha e Martins (1993, p. 21):
[O conhecimento] é simultâneo à transmissão pela educação dos conhecimen-
tos acumulados em determinada cultura. No correr dos tempos, a razão humana 
adquire formas diferentes, dependendo da maneira pela qual o homem entra em 
contato com o mundo que o cerca. A razão é histórica e vai sendo tecida na trama 
da existência humana.
Serão nas diferentes formas que os seres humanos utilizam para buscar 
inteligibilidade para o mundo que encontraremos diversas formas de conhe-
cimento, como o empírico, o filosófico e o conhecimento científico, aos quais 
nos deteremos aqui.
Chamamos de “conhecimento empírico” as formas de conhecimento de-
rivadas da experiência sensível, realizadas pela observação da realidade e 
de seus fenômenos e por meio da experimentação. É considerado a primeira 
etapa do conhecimento, vinculada à percepção e à sensação.
De acordo com Abrantes e Martins (2007, p. 316):
[…] o conhecimento sobre a realidade objetiva origina-se de sensações/percepções. 
À base desses processos produz-se o conhecimento sensorial, ou a matéria prima 
do pensamento. Ao refletirem aspectos da realidade, possibilitam o aparecimento 
de uma imagem sensorial do mundo, com base na qual o homem começa a adquirir 
consciência, a conhecer os fenômenos da realidade, identificando, neles, proprie-
dades, relações, origens, efeitos etc.
Essas características não devem ser utilizadas para criar uma hierar-
quização entre os conhecimentos. Aliás, o conhecimento empírico é muito 
importante para a pesquisa científica, porque é por meio do contato com 
determinadas realidades e de sua observação que somos levados a elaborar 
problematizações e hipóteses para a formulação do conhecimento filosófico 
e científico. Em outras palavras, não existe hierarquização ou oposição, mas 
complementaridade entre níveis diferentes da construção do conhecimento, 
com valores próprios. 
Pautando-se em princípios da lógica formal, o conhecimento empírico é absolu-
tamente racional, revelando aspectos do objeto que se expressam pela categoria 
da existência presente, a exemplo de quantidade, qualidade, propriedade, medida, 
classe etc. (ABRANTES; MARTINS, 2007, p. 316).
Pesquisa científica 5
Ainda assim, podemos encontrar em algumas obras referências ao 
“conhecimento empírico” como “conhecimento comum” ou “senso comum”, 
ou, ainda, “conhecimento vulgar”, o que poderia aparentar uma inferiorização 
desse conhecimento. No entanto, devemos empregar esses termos quando 
nos referirmos aos conhecimentos que utilizamos cotidianamente, a partir 
de determinadas práticas, não necessariamente submetidas a um “método 
científico” para se obter um saber.
Como exemplifica Carvalho (2008, p. 5):
[…] sabemos que o maracujá tem um efeito calmante, ou que a erva-cidreira tem 
efeito na cólica intestinal dos bebês, ou mesmo, que é bem provável que, levando 
uma pessoa comum a um ponto extremo de frustração, arrisco-me a tomar um soco 
no nariz. Utilizamos cotidianamente esses conhecimentos empíricos e verificamos 
os seus resultados positivos. Esses conhecimentos podem ser transformados em 
conhecimento científico, entretanto não o são enquanto não aparecem os requisitos 
fundamentais, que são justamente o método, a sistematização e a generalização.
Assim, podemos caracterizar o “conhecimento empírico” como acrítico, 
sem reflexão sobre si próprio, marcado pela subjetividade e pela valoração 
dos indivíduos. É também falível, inexato e assistemático, “[...] pois não tem 
a preocupação de uma sistematização e organização de ideias num conjunto 
coerente, consistindo antes em uma série de conhecimentos dispersos e 
desconexos [...]” (ARAÚJO, 2006, p. 128). Ainda, poderíamos afirmar que o 
“conhecimento empírico” é imediatista, voltado para as necessidades ime-
diatas, e costuma ser transmitido geracionalmente pela educação informal 
e pelas experiências pessoais (ARAÚJO, 2006).
De acordo com Araújo (2006, p. 129):
Embora sem métodos críticos e sem sistematização, mas sendo colado às necessi-
dades imediatas e fruto da intuição e da experiência, o conhecimento derivado do 
senso comum existe numa constante tensão entre os pré-conceitos, os modelos 
consagrado que se transmitem ao longo das gerações sem o devido questionamento 
de sua validade ou de suas reais relações de causa e efeito, e o dinamismo e a 
espontaneidade que formulam a todo momento novas teorias e novos modelos 
explicativos. Enfim, apresenta as duas dinâmicas de conhecimento: a abertura e 
a cristalização.
Pesquisa científica6
Lembre-se de que a diferenciação entre as formas de conhecimento 
que estamos estabelecendo, na maioria das vezes, é mais formal, 
porque a relação dos seres humanos, como sujeitos do conhecimento, com o 
mundo a ser conhecido vincula saberes oriundos da experiência, da reflexão e 
da ciência. Segundo Kopnin (1978, p. 150):
[...] todo o nosso conhecimento provém, em suma, das sensações e percepções; 
pois o homem não possui outras fontes, outros canais com o mundo exterior e 
ressalta que em nível empírico obtém-se da experiência imediata o conteúdo 
fundamental do pensamento; são racionais antes de tudo a forma de conhecimento 
e os conceitos implícitos na linguagem, em que são expressos os resultados do 
conhecimento empírico.
Isso não significa que possamos confundir uma forma de conhecimento com 
outra, nem as equivaler, mas compreender sua indissociabilidade e inter-relação, 
bem como suas especificidades.
Em relação ao conhecimento filosófico, podemos afirmar que se trata de 
uma forma de saber que procura respostas para algumas problematizações e 
alguns conhecimentos acerca da realidade. Caracteriza-se pela capacidade de 
refletir dos seres humanos, utilizando o raciocínio e empregando a linguagem. 
Conforme Araújo (2006, p. 130):
[...] é mais comum encontrar a filosofia não exatamente como uma forma de co-
nhecimento da realidade, como as outras, mas como uma forma de conhecimento 
que avalia as demais formas de conhecimento, que estuda a natureza e os limites 
das diferentes manifestações do conhecimento humano.
A filosofia se encontra diretamente relacionada ao “espírito científico”. De 
acordo com Marcondes (2002 apud BORGHI, 2016, p. 245), “[…] os diferentes 
povos da Antiguidade — assírios e babilônios, chineses e indianos, egípcios, 
persas e hebreus —, todos tiveram visões próprias da natureza e maneiras 
diversas de explicar os fenômenos e processos naturais [...]” e “[...] é na cul-
tura grega que podemos identificar o princípio deste tipo de pensamento 
que podemos denominar, nesta sua fase inicial, de filosófico-científico [...]”.
Já o “conhecimento científico”, também chamado por alguns autores de 
“teórico”, tem sua origem em elaborações racionais a partir dos dados apre-
sentados pelo conhecimento empírico. 
Pesquisa científica 7
Sua forma lógica é constituída pelo sistema de abstrações que explica o objeto, 
isto é, pelos conceitos, visando reproduzir o seu processo de transformação.Ultra-
passando os limites do que é dado pela experiência, a racionalidade teórica não é 
simplesmente a forma ordenada (definidora, caracterizadora, classificatória etc.) 
de expressão da experiência, mas sim o recurso, a ferramenta por meio da qual 
se apreende um novo conteúdo, não passível de observação imediata do aparente 
(ABRANTES, MARTINS, 2007 p. 316-317).
Diferentemente do conhecimento empírico, em que se buscam respostas 
para questões práticas do cotidiano, sem necessariamente propor uma re-
flexão, o conhecimento científico se caracteriza por uma investigação, com 
objetivos mais universais de explicação, empregando-se conceitos e teorias 
e organizando-se sistematicamente o conteúdo.
De acordo com Abrantes e Martins (2007, p. 321-322):
[...] para entender a essência do conhecimento [científico], é necessário vê-lo 
como investigação, porquanto nesta se manifesta justamente a particularidade 
característica do conhecimento humano: o movimento do pensamento no senti-
do de resultados efetivamente novos. A investigação científica enquanto ato do 
conhecimento se realiza à base da interação prática do sujeito com o objeto. Ela 
constitui uma forma teórica de apreensão do objeto pelo sujeito, nela se manifesta 
especialmente a natureza social do sujeito.
Por isso, também podemos afirmar que o conhecimento científico parte 
de um questionamento, de uma problematização da realidade, que pressupõe 
conhecer o que já foi estudado ou realizado sobre o tema e o que será possível 
compreender a partir da atividade investigativa. Trata-se de etapas de um 
conhecimento que é sistemático e que se evidenciam nos procedimentos ou 
nas fases do “método científico”, apresentado no projeto de pesquisa. Para 
Abrantes e Martins (2007, p. 322-323):
[…] para a colocação de um problema, além de ser necessário conhecimento do 
que lhe é antecedente, é fundamental que se conheçam, também, as vias de sua 
solução. O problema posto em uma investigação científica se caracteriza como um 
sistema teórico cujo princípio unificador, ao invés de se constituir exclusivamente 
de teses autênticas de uma dada teoria, é uma questão que nelas se sustenta. 
Implicada naquilo que o autor denomina de juízo questão (problema de pesquisa), 
está a resposta provável (hipótese) a ele, ideia diretriz que pode conduzir a um 
conhecimento novo. No processo de investigação científica, as teses prováveis 
estão em conexão com as autênticas.
Pesquisa científica8
Poderíamos, ainda, fazer referência ao conhecimento artístico, ide-
ológico e teológico ou religioso. Quanto ao último, sua fonte são 
as práticas e os textos religiosos, e seu critério de verdade é a crença e a fé 
(CARVALHO, 2008). De acordo com Araújo (2006), para o conhecimento teológico 
ou religioso, o princípio da autoridade é fundamental, pois ele se apoia em 
verdades indiscutíveis, exigindo uma atitude de fé perante um conhecimento 
revelado, ou seja, compreender uma verdade que já está pronta. Ainda:
[…] o homem é menos sujeito do conhecimento, na medida em que não pratica 
experimentações ou busca novas formulações, mas apenas busca compreender 
cada vez mais um corpo de conhecimentos que se lhe apresenta já organizado, 
sistematizado, com regras, hierarquias e leis. Ao mesmo tempo, trata-se de um 
tipo de conhecimento não falseável, isto é, que não permite a verificação porque 
vem da transcendência. E, exatamente por essa característica, representa uma 
forma de conhecimento que evolui muito lentamente, tende a ser estacionário 
(ARAÚJO, 2006, p. 129).
Fundamentos do método científico
Neste tópico, aprofundaremos a respeito dos fundamentos do método cien-
tífico. O que confere cientificidade à determinada metodologia de pesquisa?
Como dito anteriormente, é praticamente impossível dissociar o “espírito 
científico” da filosofia, por sua preocupação com uma argumentação lógica 
fundamentada na razão. No entanto, a fundamentação da prática da ciência, 
como conhecemos atualmente, remete ao século XVI. De acordo com Gressler 
(2003 apud ARAÚJO, 2006, p. 133):
[…] a necessidade de se ter fundamentos sobre o processo de investigação e sobre 
a certeza dos resultados despertou o interesse de pensadores já no início do século 
XVI, em três povos distintos do Ocidente. Na França, René Descartes pautou sua 
defesa no método dedutivo; na Inglaterra, o grande teorizador da experimenta-
ção, Francis Bacon, deu uma configuração doutrinária à indução experimental, 
procurando ensinar alguns métodos rudimentares de observação e apontamentos 
e na Itália, Galileu Galilei, preocupado em instituir um pensamento baseado na 
experimentação, resolveu por à prova alguns ensinamentos de Aristóteles.
Pesquisa científica 9
Assim, podemos afirmar que a ciência se origina historicamente no século 
XVI, diretamente relacionada ao processo da modernidade e das modificações 
econômicas, filosóficas, políticas, religiosas e sociais pelas quais a Europa 
passava naquele período. Desde então, com transformações oriundas de 
questionamentos epistemológicos e mudanças conjunturais, a ciência se 
desenvolve em uma dinâmica de renovação e, ao mesmo tempo, de consoli-
dação dos conhecimentos constituídos (ARAÚJO, 2006).
Vejamos, então, alguns dos fundamentos do “método científico”. Conforme 
Richardson (1999), essas regras são arbitrárias, havendo muitos pressupostos 
para trabalhar cientificamente, os quais se alteram de acordo com os campos 
das ciências (biológicas, exatas, humanas, da saúde, etc.). 
Assim, um primeiro fundamento seria o pensamento indutivo como fonte 
de informação: “[...] é possível ter conhecimento de muitas coisas, observando 
apenas algumas. O conhecimento indutivo é incompleto, mas é básico para a 
maioria das ciências [...]” (RICHARDSON, 1999, p. 18), o que não significa invalidar 
o pensamento dedutivo, e sim enfatizar a lógica e o raciocínio matemático.
Outro aspecto do método científico reside na confiança na capacidade 
de observação dos cientistas, “[o que] implica confiança na percepção do 
pesquisador, em sua sensibilidade e memória [...]” (RICHARDSON, 1999, p. 18). 
Esse fundamento nos remete à discussão realizada anteriormente acerca 
da importância do conhecimento empírico no processo do conhecimento 
filosófico e científico, além de chamar a atenção para os debates quanto à 
neutralidade e à objetividade na ciência.
Quanto a esse aspecto, Sousa (2006, p. 153) combate a tese de que o 
conhecimento científico é desvinculado da política:
Todo conhecimento científico é uma ação política. A produção do conhecimento 
científico dialoga com as necessidades da sociedade e com as próprias necessidades 
da comunidade acadêmica. Isso é política. Ciência que não faz isto dificilmente 
é reconhecida como ciência. [...] O conhecimento científico para sê-lo precisa do 
reconhecimento da comunidade científica (como, por exemplo, publicar suas pes-
quisas numa renomada revista científica). Além disso, precisa do reconhecimento 
da sociedade, dos veículos de comunicação que autorizam esse conhecimento, 
reproduzindo os resultados das pesquisas. E todo esse movimento da busca ne-
cessária do reconhecimento é uma ação política.
Por fim, o método científico supõe que, para seu desenvolvimento, 
o fenômeno ou a realidade a serem investigados devem ser observáveis ou 
perceptíveis, por mais que se trate de temas abstratos (RICHARDSON, 1999).
Pesquisa científica10
De acordo com Richardson (1999, p. 19):
O método científico pode ser considerado algo como um telescópio — diferentes 
lentes, aberturas e distâncias produzirão formas diversas de ver a natureza, e o uso 
de apenas uma vista não oferecerá uma representação adequada do espaço total 
que desejamos compreender. Talvez diversas vistas parciais permitam elaborar um 
“mapa” tosco da totalidade procurada. Apesar de sua falta de precisão, o “mapa” 
ajudará a compreender o território em estudo. 
A partir do que foi dito até o momento, podemos afirmar que os funda-
mentos do “método científico” podem serempregados tanto para operações 
cotidianas quanto para a formulação de um projeto de pesquisa e seu de-
senvolvimento. Por exemplo:
[…] o preparo de um prato, a partir de uma receita, o planejamento do orçamento 
familiar, as compras em um supermercado incluem elementos do método científico 
tradicional. Compreender a aplicação do método científico a esses problemas 
aparentemente não científicos é fundamental para poder conhecer e transformar 
a realidade. Se queremos melhorar algo, devemos utilizar o método científico 
(RICHARDSON, 1999, p. 23).
Contudo, nos interessa sobremaneira a aplicação do método científico para 
o desenvolvimento de pesquisas orientadas para a história, compreendida 
como uma ciência com suas especificidades. Portanto, devemos empregar 
um conjunto de fundamentos que estruturam o método das ciências, a saber 
(RICHARDSON, 1999):
 � Meta: o objetivo do estudo.
 � Modelo: qualquer abstração do que está sendo trabalhado ou estudado.
 � Dados: as observações realizadas para representar a natureza do 
fenômeno.
 � Avaliação: processo de decisão sobre a validade do modelo.
 � Revisão: mudanças necessárias no modelo.
Pesquisa científica 11
Richardson (1999, p. 23) aponta que:
O ponto de partida de qualquer pesquisa é a meta ou o objetivo. Em um segundo 
momento, desenvolve-se um modelo do processo que será estudado ou do fenômeno 
que será manipulado. Posteriormente, vem a coleta de informações (ou utilização 
de dados já coletados). Comparam-se os dados e o modelo em um processo de 
avaliação, que consiste simplesmente em estabelecer se os dados e o modelo 
têm sentido. Se o modelo não dá conta dos dados, procede-se à sua revisão — 
modificação ou substituição. Assim, o método científico é um processo dinâmico 
de avaliação e revisão.
Esses cinco elementos, portanto, constituem os fundamentos do método 
científico, e, embora existam algumas variações de terminologia conforme as 
diferentes ciências, seu sentido é o mesmo. Assim, articulam-se diferentes 
saberes e procura-se, a partir do desenvolvimento de uma pesquisa orientada 
pelo método científico, buscar algumas respostas para problematizações e 
questões sobre determinados fenômenos e a realidade.
Ainda, alguns autores criticam isso que chamam de uma interpretação 
do “método científico”, “[…] como um conjunto algorítmico, objetivo e fixo 
de regras para fazer ciência”, oriundo de uma “herança empirista-positivista 
[...]” (MASSONI; MOREIRA; SILVA, 2018, p. 905). Para eles:
[...] atualmente o campo global da ciência é tão complexo e heterogêneo, que 
já não é mais possível argumentar em defesa de um método que seja comum a 
todas as ciências. Já não se pode afirmar que todos os fenômenos naturais sejam 
redutíveis a expressões matemáticas, ou que todos os objetos e fatos da realidade 
sejam analisáveis experimentalmente, ou que todas as hipóteses válidas ou acei-
tas possam ser confrontadas diretamente com a realidade. Temos hoje inúmeros 
processos (estatísticos, de modelagem computacional, de matemática avançada 
e seu papel construtivo), de pluralidade de causas e emergência de propriedades 
não antecipáveis, especialmente as favorecidas pela sofisticada instrumentação 
(MASSONI; MOREIRA; SILVA, 2018, p. 921).
Referências
ABRANTES, A. A.; MARTINS, L. M. A produção do conhecimento científico: relação 
sujeito-objeto e desenvolvimento do pensamento. Interface, Botucatu, v. 11, n. 22, 
p. 313–325, 2007.
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: 
Moderna, 1993.
ARAÚJO, C. A. Á. A ciência como forma de conhecimento. Ciências & Cognição, Rio de 
Janeiro, v. 8, p. 127–142, 2006.
Pesquisa científica12
BORGHI, G. Revisitando o início da racionalidade filosófico-científica. Griot: Revista 
de Filosofia, Amargosa, v. 14, n. 2, p. 244–259, 2016.
CARVALHO, J. W. S. Da teoria do conhecimento à metodologia científica: dilemas con-
temporâneos da pesquisa social. PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso 
de Ciências Sociais da UNIFAP, Macapá, v. 1, n. 1, p. 1–13, 2008.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1987.
JANKEVICIUS, J. V. A pesquisa científica e as funções da Universidade. Semina: Ciências 
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Pesquisa científica 13

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