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História da EJA

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O contexto atual que a educação brasileira está vivenciando alarmante. O sucateamento do ensino público a partir da gestão do governo atual propõe cortes de verba que são fundamentais para o funcionamento das instituições de ensino, prejudicando assim diretamente várias instituições de ensino desde a educação básica até a Educação de Jovens e adultos (EJA). 
A história da educação brasileira em nosso país nunca foi das melhores, principalmente quando nos direcionamos para o ensino de cidadãos mais velhos que não tiveram a oportunidade de estudar em sua juventude. O ensino a adultos analfabetos em nosso país começou por um ato de solidariedade, pois o contexto da educação na época era extremamente elitista, tendo acesso somente indivíduos da família real.
A primeira política pública que de fato acolhia o grupo mais velho veio somente após a segunda guerra mundial, em 1947 e possuía como nome “Campanha de educação de Adolescentes e adultos” (CEAA). Como o índice de analfabetismo na época era altíssimo, o governo criou tal proposta afim de tentar minimizar este claro problema vivido contido em nossa sociedade.
A partir desse momento, a educação e jovens e adultos foi ganhando forma em nossa sociedade, ganhando diversos novos projetos afim de extinguir o analfabetismo. Mesmo com a intenção de melhorar, os projetos desenvolvidos pela nação eram criticados por não possuir uma educação de qualidade, categorizando o ensino para esse público como raso.
Partindo então de fracassos anteriores, Paulo Freire vem com uma proposta que muda não somente o contexto da educação de jovens e adultos, mas sim o da educação em seu modo totalitário. Paulo Freire dizia que para educar adultos, era necessário relacionar o conteúdo a ser ensinado com o contexto em que o estudante está inserido. Como o adulto é uma pessoa formada e vivida de conhecimentos práticos ganhos em sua infância ou em seu trabalho, conciliar esses fatos com a educação torna o aprendizado interessante e lúdico para quem está aprendendo.
Um exemplo que pode ser aplicado atualmente é na alfabetização são com operários que trabalham com obras. O individuo a partir de seu trabalho, sabe como fazer uma massa de cimento, levantar um muro e colocar azulejo. Uma forma de alfabetizar esses operários é através da escrita de objetos utilizados em seu afazer, a escrita da palavra cimento pode ensinada para esses trabalhadores a partir de suas vogais, consoantes, sílabas até formar a palavra por completo. Esta forma de ensinar faz com que esses operários possuam um maior interesse em aprender a escrita, pois são objetos que já estão familiarizados e usam diariamente em seu cotidiano.
Após os avanços metodológicos no ensino, veio em seguida o período da ditadura militar, onde ocorreu um grande regresso em nossa educação. Como o governo que ditava a economia do país na época, cortes severos na educação foram realizados visando investir em outras áreas. O ensino contextualizado na educação de adultos foi completamente descartado com o exílio de Paulo freire e com a criação do MOBRAL.
O Movimento Brasileiro de Alfabetização mais conhecido como MOBRAL, era um programa criado durante a ditadura militar que também tinha como objetivo alfabetizar adultos, porém excluindo toda a metodologia utilizada por Paulo Freire. O programa queria somente ensinar a seus estudantes o básico da leitura e escrita sem desenvolver o senso crítico e capacidade cognitiva, sendo baseado somente na memorização. A ideia do governo na época não era realmente alfabetizar as pessoas, mas sim fazer com que as mesmas fossem minimamente capacitadas para o trabalho tecnicista de larga escala realizado na época.
Com o término da ditadura militar, a educação de adultos voltou a ter um olhar mais metodológico com a volta de Paulo Freire ao Brasil. Sua metodologia de ensino foi aprofundada e assim novos pensadores contribuíram para o aperfeiçoamento do ensino. De acordo com Ana Maria Soek, foi compreendido que a para lecionar na de jovens e adultos é necessário entender a história de vida desse estudante, entender o porque do mesmo abandonar os estudos quando mais novo, para a partir dai planejar como todo o conteúdo será trabalhado.
Como cada estudante possui sua realidade e seus motivos para ter abandonado os estudos, a forma em que será abordada esse dialogo deve ser de muita cautela. Pode ocorrer de que o motivo para a saída da escola esteja envolvido com algo muito sentimental vivido no passado, como uma fatalidade na família ou um período de necessidade. 
Entender a história de vida do estudante faz com que ocorra a criação de um vínculo entre professor – aluno. Esse vinculo pode ser utilizado para motivar o estudante que esteja querendo desistir do estudo novamente devido a seus motivos, encorajando-o a terminar sua jornada de estudo e fazendo com que cresça intelectualmente em sua vida.
Um ponto importante que deve ser levado em consideração é que a base da educação de adultos é formar cidadãos que possuem seu senso crítico desenvolvido, sendo assim capazes de distinguir informações verídicas de informações falsas disponibilizada em nossa sociedade. Em seu início, o ensino a esse público nasceu para reparar pessoas marginalizadas em nossa sociedade, servindo assim para “reparar” e “incluir” esses indivíduos mal interpretados pelo sistema.
Esta política “reparatória” é extremamente preconceituosa e injusta com quem a sofre. Em toda história do nosso país sempre ouve um grupo que foi oprimido e um que foi o opressor. Mesmo com o fim da escravidão, não foi dada condições o suficiente para incluir esses indivíduos em nosso grupo social, sendo totalmente discriminados e excluídos.
De acordo com conceitos da autora Gayatri Chakravorty Spivak, todo e qualquer indivíduo pertencente as camadas mais baixas da sociedade que acabou sofrendo algum tipo de repressão social é considerado um subalterno. Como a EJA era majoritariamente para indivíduos marginalizados em sociedade, eram os subalternos o seu maior grupo de estudantes. Esse grupo sempre foi silenciado pela sociedade opressora, sendo negado assim o direito de fala e conhecimento.
O subalterno ter conhecimento para a classe dominante é algo ruim, pois somente assim eles saberão de seus direitos em sociedade, que estão sendo reprimidos e que foi assim á centenas de anos. A classe operária brigar pelos seus direitos trabalhistas é abominável para o patrão, uma vez que as pessoas saibam o quanto de lucro é obtido em cima de seu trabalho, o patrão terá que proporcionar um maior salário para esses indivíduos.
Para o ensino não só do EJA, mas para a educação de forma totalitária é necessário um certo cuidado em sua autoridade como docente na hora de lecionar o conteúdo. Paulo freire discutia que o docente não pode manter uma relação de superioridade com o estudante, obrigando o estudante a fazer certas ações em sala de aula.
O autoritarismo do docente está enraizado em sua profissão sem mesmo que o próprio professor perceba. Um fato que pode ser notado nas escolas em todo o país é quando o professor “manda” o estudante fazer uma atividade específica. O aluno pode escolher se quer fazer a atividade ou não, pois consequências de ambas as partes vão ocorrer e as pessoas devem aprender com seus erros também dizia Paulo Freire.
A escola segue um certo padrão, onde os estudantes possuem o horário certo para entrar e sair, a hora para ir ao banheiro e merendar. Esse padrão é importante para que os alunos aprendam que é necessário seguir regras em nossa sociedade, mas o uso da autoridade excessiva faz com que o ensino se torne algo entediante e doloroso para quem está aprendendo.
Um ponto importante que a autora Ana Maria Soek comenta em seus textos é sobre como deve ocorrer a avaliação no EJA. Para que o processo de avaliação seja realizado de maneira correta e coerente com o público alvo é necessário que o educador entenda como funciona o processo de aprendizagem desses estudantes. Não adianta nada o professor elaborar uma prova escrita sendo que este modo de avaliaçãonão indica verdadeiramente se o conteúdo foi aprendido ou não.
Uma maneira de avaliar esse grupo de estudante é a partir de debates em sala de aula com os próprios estudantes. O docente neste momento deve ser apenas o mediador do debate, propondo possíveis problemas reais do cotidiano do estudante para a resolução. A maneira em que os estudantes propõem soluções para a resolução do problema é uma boa forma de identificar que o conteúdo realmente foi aprendido.
Para a proposta de intervenção deste trabalho, foi realizada a visita ao museu Afro brasil afim de entender um pouco mais sobre a cultura étnico racial em nosso país. No museu, foi visto a grandeza da cultura africana, pela utilização de roupas, acessórios, reinos e religiões mostradas durante a visita ao museu. O império antes da vinda desse povo para o Brasil possuía conceitos diferentes do que os vistos no resto do mundo, onde o rei possuía total poder social e político, podendo até enterrar quem ele quisesse vivo.
Como a maior parte da nossa população é parda ou preta e a grande parte dos subalternos fazem parte desse grupo, entender a sua cultura é de fundamental importância para o ensino de EJA. A cultura antiga desses povos deve ser restaurada pela sociedade, pois a cultura predominante atual é a do branco europeu.
O monopólio de uma cultura traz prejuízos enormes em nossa sociedade, como a discriminação e o preconceito com religiões e formas de se vestir, sendo taxados como maléficos para a sociedade pois sua cultura é amaldiçoada e abominável.
A proposta de intervenção deste trabalho será realizada na disciplina de química, com o conteúdo de separação de misturas. O contexto que será utilizado é no garimpo do ouro, algo realizado até os dias atuais e com um contexto histórico bem forte definido pelo ciclo da mineração no século XVIII. Segue abaixo um quadro definindo como serão as aulas durante a intervenção.
	Etapas que serão seguidas na intervenção:
	Aula em que será realizada (em ondem crescente)
	 Rápida apresentação do conteúdo, abordando o contexto histórico por trás do ciclo do ouro e os fatores étnicos raciais envolvidos
	Aula 1
	Apresentação do documentário, mina de Santa Rita
	Aula 1
	Debate rápido sobre o documentário sobre a vida e a cultura dos escravos
	Aula 2
	Aula expositiva e dialogada sobre o conteúdo de separação de misturas
	Aula 2
	Estudo dirigido sobre o conteúdo de separação de misturas
	Aula 3
Na aula 1, será realizado uma rápida apresentação do conteúdo que será abordado, buscando saber o conhecimento prévio dos estudantes sobre garimpo e como ocorre a mineração. Também será apresentado o documentário “Mina de Santa Rita”, que envolve aspectos étnicos raciais envolvidos no ciclo da mineração, relatando um pouco como era a vida dos escravizados durante sua jornada de trabalho.
Na aula 2 ocorrerá um debate rápido sobre o documentário visto, visando buscar os pontos principais da mineração e relacionando com o conteúdo que será abordado. Alguns aspectos sobre a cultura africana serão debatidos nesse momento. Nesta mesma aula também ocorrerá a aula sobre o conteúdo de separação de misturas, dizendo quais são os principais métodos se separação sendo sólido-líquido, líquido-líquido e sólido-sólido, sempre relacionando com o cotidiano do estudante.
Na aula 3 será realizado uma atividade, onde os estudantes deverão identificar os principais métodos de separação de mistura de acordo com o contexto de seu dia a dia. Um exemplo de separação de mistura que deverão responder é na hora de passar seu café em casa, quais métodos podem ser utilizados para essa ação.

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