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Por Larissa Marques UFES- DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Resumo: Formação dos Contratos 1- Sentido e limites da disciplina legal Os contratos são precedidos por um processo de acordo de interesse, que pode variar quanto ao tempo de seu estabelecimento. Não surgem, portanto, por geração espontânea. Nesse sentido, entende-se que para que um contrato se estabeleça as partes devem concordar quanto o conteúdo do negócio. Os caminhos para se chegar ao consenso são inúmeros, podendo o negócio se estabelecer de modo instantâneo, como no caso de compra e venda de um refrigerante em um bar e/ou pode se dar com uma fase preliminar razoavelmente extensa, como a compra e venda de uma grande empresa. Independente do tempo ou do conteúdo do processo, eles possuem em comum o fato de que em seu término há a obtenção de consenso a respeito do objeto contratual. Nesse sentido, se entende que não pode haver contrato sem consenso e, é isso que disciplina o título do Código Civil relativo à “formação dos contratos”. De acordo com o Código Civil, a conclusão do contrato depende sempre da existência de declarações convergentes de proposta e aceitação. 2- Proposta O que o Código Civil propõe e disciplina é que a proposta é uma declaração unilateral de vontade destinada a propor a celebração de contrato a outrem. Assim, não é coincidência a proposta também ser chamada de oferta e seu prolador como proponente ou ofertante. De acordo com o art. 427 do CC, toda a vez que a proposta tiver elementos suficientes à formação do contrato, sua divulgação vincula o proponente a concluí-la. Isto posto, a aceitação dos termos propostos leva à conclusão do negócio, sem que seja necessário qualquer outro ato do proponente. Quem recebe a proposta possui o direito de aceitá-la, rejeitá-la ou ignorá-la, em caso de aceite o contrato é formado, sem a exigência de qualquer outro ato do proponente. Contudo, nem sempre a proposta vinculará o proponente. Pode ocorrer, por exemplo, que os termos da declaração excluam esse efeito. É o caso de pessoas que colocam à venda determinado objeto, mas reserva para si a prerrogativa de pensar melhor antes de se vincular. Nesse sentido, a regra é de que a oferta vincula o proponente sempre que contiver todos os elementos essenciais à conclusão do contrato, como se depreende do art. 427 do CC mas, há exceções, fundadas nos termos da declaração de vontade, na natureza do negócio e nas circunstâncias. A proposta vincula, mas, não é para sempre. O proponente é quem decide o prazo de conclusão do contrato e a oferta permanece eficaz durante o prazo estipulado. Sua eficácia cessa se não acontecer aceitação antes do término do referido prazo. Exteriorizada a aceitação tempestivamente, resta a conclusão do contrato, sem que seja necessária imediata manifestação do proponente. Por consequência, admite-se como regra o fato de a aceitação ser considerada tempestiva se for expedida no prazo assinado pelo proponente. Nesse sentido, o direito brasileiro, considera o momento da expedição da aceitação como quesito para conclusão do contrato. Nos termos do art. 428, III, conta o momento da expedição da aceitação. Ou seja, basta que a aceitação tenha sido expedida dentro do prazo estipulado pelo proponente para que conduza à conclusão do contrato, salvo se houver regra na proposta em sentido distinto. Não interessa ao direito brasileiro o momento da recepção ou do efetivo conhecimento da aceitação. Caso a resposta positiva seja externada pessoalmente, o problema sequer se apresenta. Todavia, não é sempre que o proponente estipula prazo para o qual pretende vincular-se. De acordo com CC as propostas realizadas sem prazo entre pessoas presentes deixam de ser vinculantes se não forem imediatamente aceitas, conforme dispõe o art. 428, I, do CC. Já as propostas sem prazo feita a pessoa ausente, o Código dispõe que será vinculante pelo prazo necessário para que a resposta chegue ao conhecimento do proponente. Ademais, pode ocorrer que o proponente se arrependa. Nesta situação, caso se retrate antes ou no mesmo momento em que a oferta chega ao conhecimento do destinatário, não surge o efeito vinculante. A retratação prévia coíbe o ofertante de qualquer responsabilidade pela falta de conclusão do negócio. O arrependimento, todavia, pode do mesmo modo manifestar-se depois de a proposta ter se tornado vinculativa. Nessa suposição, o efeito vinculante pode ser cancelado pelo proponente por meio da revogação desde que a oferta não tenha sido aceita. Porém, é exigido que se proporcione ao destinatário a concreta possibilidade de tomar conhecimento da revogação. Destaca-se, nesse contexto, as ofertas destinadas ao público, pois, no art. 429, parágrafo único, é claro ao dispor que a revogação deve dar-se pela mesma via de divulgação da oferta e desde que, note-se bem, seja advertida essa possibilidade na proposta inicialmente veiculada. Segue-se daí que é inoperante a revogação de proposta ao público sem que essa possibilidade seja prevista desde o início. Em caso de revogação da oferta o proponente responde pelos prejuízos causados a quem confiou na manutenção da declaração da vontade. Mas, essa possibilidade não existe no Código de Defesa do Consumidor. Logo, o CDC não prevê possibilidade de retratação. Todas as ofertas feitas por fornecedores a consumidores devem ter prazo e sua eficácia vinculativa não pode ser afastada por declaração do proponente prévia ou posterior. Além disso, a publicidade suficientemente precisa é equiparada à oferta, e, como consequência, vincula o proponente ao seu cumprimento. 3- Aceitação A aceitação consiste na declaração de vontade de adesão aos termos da proposta. Seu resultado é o de formar o contrato. Nem sempre, contudo, a aceitação corresponde inteiramente aos termos da proposta. Pode ser que algumas partes sejam aceitas, parcialmente aceitas ou negadas. Fala-se assim em aceitações parciais e, de acordo com CC, a aceitação parcial equivale a nova proposta. A regra é igualmente aplicável às aceitações fora do prazo, também regidas como proposta, ex art. 431 do CC. A aceitação de uma proposta pode ocorrer por três formas: de modo expresso, tácito ou pelo silêncio. A aceitação expressa é a mais comum. E a tácita é aquela que ocorre sem a vontade seja declarada, se dá quando o comportamento concludente é bastante ao surgimento do vínculo contratual. E a conclusão pelo silêncio é a forma mais rara, uma vez que consiste na ausência de manifestação, a implicação natural do silêncio é a conservação das coisas assim como estão. E nem todos os negócios são passíveis de conclusão pelo silêncio, exceto aqueles regidos por leis, costumes ou prévia declaração do proponente que exija aceitação expressa, assim como disposto nos arts. 111 e 432 do CC. A expedição da aceitação leva a sua conclusão do contrato, contudo, pode ser que o aceitante mude de ideia e opte por revogá-la e, nesse caso, a revogação só será eficaz se chegar ao conhecimento do proponente antes ou no mesmo momento que a aceitação mesma, nos termos do art. 433 do CC. Caso contrário, restará concluído o contrato. 4- Tempo e lugar na conclusão do contrato É fundamental determinar de forma precisa o momento a partir do qual as partes passam a estar obrigadas a cumprir suas respectivas prestações, isto é, quando nasce o contrato. Ressalta-se, que o modelo do Código Civil diz respeito apenas à formação dos contratos consensuais. Nos outros casos, considera-se concluído o contrato com o cumprimento da formalidade que qualifica a categoria a que pertencem. Nos contratos consensuais, a conclusão do contrato ocorre no momento em que se atinge o acordo. E, nos contratos concluídos entre presentes a conclusão tem lugar quando a aceitante externa sua aceitação. Por sua vez, os contratos entre ausentes, odireito brasileiro aceita como regra o momento em que a aceitação é expedida nos termos do art. 434, caput, do CC. Todavia, é válido ressaltar que são inúmeras as formas de interpretar o momento de conclusão do contrato e a forma adotada pelo Código Civil brasileiro não é a única possível. Mas, o fundamental é que o critério adotado seja preciso. Nesse sentido, o direito brasileiro considera que se a proposta e a aceitação provierem de diferentes lugares, deve-se considerar concluído o contrato no lugar da primeira, a menos que haja determinação consensual em sentido contrário. 5- Ruptura das negociações São inúmeros caminhos possíveis para o processo negocial, dentre essas a única não mencionada pelos diplomas legais é a hipótese de rompimento das negociações que não deve ser confundida com a revogação da oferta. Embora ninguém seja obrigado a contratar, o caso de rompimento negocial pode gerar danos. Nesse caso, os candidatos alienantes devem responder pelos prejuízos sofridos pelo pretendido adquirente visto que os danos foram causados pela quebra confiança. O princípio da boa-fé impõe a responsabilidade de quem agiu de maneira desleal e sem respeitar a confiança gerada pelo próprio comportamento pelos prejuízos causados em virtude da ruptura das negociações. Referências: VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: - Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Vol 3: contratos e atos unilaterais. 15. Ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
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