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O Sistema Preventivo de Dom Bosco

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1 
 
 
FACULDADE PRÓMINAS 
FACULDADE ÚNICA 
 
Ana Luiza Faria Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO E A 
CENTRALIDADE DO AMBIENTE EDUCATIVO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 
2021 
 
 
2 
 
 
Ana Luiza Faria Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO E A 
CENTRALIDADE DO AMBIENTE EDUCATIVO 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Faculdade Única como 
parte das exigências para a obtenção do título de 
Gestão Escolar: administração, supervisão e 
orientação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FACULDADE ÚNICA 
São José dos Campos - SP 
2021 
 
3 
 
 
 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho tem como foco de estudo o Sistema Preventivo de Dom Bosco, 
com destaque para a centralidade do ambiente educativo. Seu objetivo é tratar e 
compreender como João Bosco elaborou e aplicou o Sistema Preventivo. Trata-se de 
uma pesquisa de natureza bibliográfica que tem como motivação primeira as 
experiências das autoras em ambientes educacionais salesianos. Retrata como esse 
sistema foi elaborado e desenvolvido pelo educador João Bosco no século XIX, suas 
bases pedagógicas e as influências educacionais de grandes pedagogistas da época. 
Ressalta a importância da “assistência/presença” do educador junto aos educandos e 
a relevância do ambiente na educação. Neste sentido pode-se perceber, com a prática 
do Sistema Preventivo de João Bosco, que os jovens se sentem mais acolhidos e 
motivados neste ambiente educacional. 
 
 
 
Palavras-chave: Sistema Preventivo - Ambiente Educativo - João Bosco - 
Assistência\Presença - Educador. 
 
4 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 
1. JOÃO MELQUIOR BOSCO: UM PROJETO DE VIDA ......................................... 12 
1.2 Contexto educacional na Europa: dois sistemas e uma escolha .................. 17 
1.2.1 Sistema Repressivo .......................................................................................... 20 
1.2.2 Emergência do sistema preventivo ................................................................... 22 
2. SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO ......................................................... 24 
2.1 Fontes inspiradoras do Sistema Preventivo ................................................... 24 
2.2 Tripé do sistema preventivo ............................................................................. 28 
2.3 Oratório festivo: origem, princípios e fundamentos ...................................... 31 
3 O SISTEMA PREVENTIVO E A ESCOLA COMO AMBIENTE EDUCATIVO ....... 36 
3.1 O Ambiente Educativo ...................................................................................... 36 
3.2 O ambiente educativo para João Bosco .......................................................... 38 
3.2.1 A conquista dos jovens ..................................................................................... 41 
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 45 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47 
5 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Um trabalho em torno da proposta educacional de Dom Bosco decorre pelo fato 
de que vivenciamos essa proposta educativa em dois ambientes salesianos e tivemos 
contato com um plano educacional diferenciado, denominado “Sistema Preventivo de 
Dom Bosco”, o qual nos chamou à atenção em sua amplitude e resultados obtidos, 
pois busca desenvolver no educando uma formação integral. Este Sistema 
Educacional, capaz de formar sujeitos em todas as suas dimensões, pode se tornar 
conhecido por todos os educadores e alunos do curso de pedagogia, sendo ele uma 
metodologia educacional que tem como potencialidade ser desenvolvido em 
diferentes ambientes. 
 
A motivação da pesquisa foi compreender porque o ambiente educativo 
salesiano é diferenciado, além de todo processo histórico do Sistema Preventivo e de 
João Bosco, entender como este sistema funciona, atua e qual seu grande diferencial 
para estar presente em tantas escolas salesianas pelo mundo. 
 
Uma pesquisa bibliográfica, que visitou os escritos de João Bosco, pensadores 
e comentadores da educação, tendo em vista descrever o contexto histórico do século 
XIX na Itália e os métodos educacionais da época, quais as possíveis influências para 
João Bosco, a sua abordagem para o Sistema Preventivo e a centralidade do 
ambiente educativo. O procedimento utilizado na pesquisa apontou como toda uma 
realidade social, familiar, política e econômica pode influenciar em determinadas 
situações e decisões, e desta forma manifestar diversos pensamentos e posturas 
diante desta realidade. 
 
Temos como propósito de estudo, compreender como João Bosco elaborou e 
aplicou o Sistema Preventivo dando relevância para um cuidado especial para o 
ambiente educativo. Consideramos ainda que se trata de uma metodologia para um 
educador, uma criança ou um jovem, perceberem que são amados, compreendidos e 
acolhidos em um ambiente familiar. O sistema de João Bosco faz com que o professor 
deixe de ser apenas um educador e passe a ser um amigo dos discentes, prevenindo 
e sanando os possíveis impasses mesmo antes que aconteçam. Destacaremos o 
5 
 
 
 
 
 
ambiente educativo, que não é apenas físico, mas formado pelos docentes, 
funcionários e membros da gestão. 
No primeiro capítulo apresentamos como o Sistema Preventivo foi elaborado e 
desenvolvido pelo educador João Bosco no século XIX. Tendo em vista a necessidade 
de conhecer as referências desse sistema, apresentamos um pouco da sua história 
de vida e o contexto social em que viveu, em particular ressaltando as influências 
recebidas da sua mãe e dos modelos de educação predominantes da época. 
No segundo capítulo, buscaremos conhecer os fundamentos do Sistema 
Preventivo de Dom Bosco, suas bases pedagógicas, as influências educacionais de 
grandes pedagogistas da época e a originalidade do método de João Bosco e suas 
bases: razão, religião e amorevollezza. Veremos também o Oratório de Valdocco, 
como início da obra salesiana e suas atividades, procuraremos observar o Sistema 
preventivo como proposta e método educacional. 
Por fim, no terceiro e último capítulo buscaremos demonstrar a importância do 
ambiente educativo de João Bosco como um espaço acolhedor, sobretudo para os 
jovens, com destaque para a “assistência/presença” do educador junto dos discentes. 
5 
 
 
 
 
 
 
 
1. JOÃO MELQUIOR BOSCO: UM PROJETO DE VIDA 
 
 
Para compreendermos como o Sistema Preventivo foi elaborado e 
desenvolvido pelo educador João Bosco no século XIX e sua aplicabilidade no 
ambiente educativo, necessitamos conhecer um pouco de sua história de vida e o 
contexto social e educacional em que ele viveu. 
João Melquior Bosco viveu entre 16 de agosto de 1815 e 31 de janeiro de 
1888, no Colle dos Becchi, no Piemonte, Itália. Um pequeno vilarejo próximo de 
Castelnuovo de Asti. Perdeu seu pai com apenas dois anos de idade, por isso a 
educação e o cuidado de João Melquior Bosco e seus dois irmãos ficaram por conta 
de sua mãe, Margarida Occhiena. Podemos dizer que ela foi a responsável pela 
educação formal e religiosa de seus filhos. 
 
 
Seu maior cuidado foi instruir os filhos na religião, torná-los obedientes e 
ocupá-los em coisas compatíveis com a idade. “Quando eu era pequenino, 
ela mesma me ensinou as orações; quando pude juntar-me aos meus irmãos, 
fazia-me ajoelhar com eles de manhã e de noite, e juntos rezávamos as 
orações e o terço. Lembro-me de que ela mesma me preparou para a primeira 
confissão: acompanhou-me à igreja, confessou-se antes de mim, 
recomendou-me ao confessor e depois ajudou-me a fazer a ação de graças. 
Continuou a ajudar-me até julgar-me capaz de sozinhoconfessar-me 
dignamente.1 
 
 
João Bosco provinha de uma família pobre. Eram camponeses e muito 
trabalhadores. Esse ambiente proporcionou que João Bosco crescesse um homem 
educado e bondoso, mesmo com todas as adversidades. 
Aos oito anos de idade inicia seus estudos, com a ajuda de um aldeão que lhe 
ensina a leitura. Apesar das dificuldades e da implicância de seu irmão Antônio, com 
seus estudos, “João Bosco não desistiu de estudar para ser padre e instruir os 
outros.”2 
 
 
 
 
 
 
1 BOSCO, João M. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, p. 27 
2 CIMATTI, Vicenti. Dom Bosco educador, p.19 
5 
 
 
 
 
 
Aos nove anos de idade, o próprio João Bosco afirma que teve um sonho, no 
qual ele acreditou como seria seu futuro trabalho com a juventude.3 “Neste sonho, 
parecia que Joãozinho Bosco estava perto de sua casa, com muitos meninos que 
brincavam numa área espaçosa. No sonho de João Bosco, em sua descrição: alguns 
riam, não poucos blasfemavam. Ao ouvir aquelas blasfêmias, lancei-me 
imediatamente no meio deles, tentando, com socos e palavras, fazê-los calar.”4 No 
mesmo instante da briga, apareceu um homem e disse a Joãozinho Bosco: “Não com 
pancadas, mas com mansidão e caridade é que deverá ganhar esses seus amigos. 
Ponha-se logo a instruí-los sobre a feiura do pecado e a preciosidade da virtude.”5 
Foi através desse sonho que João Bosco dedicou-se a instrução dos jovens 
pobres e abandonados. Podemos dizer que com esse sonho recebe a investidura de 
educador. Com o tempo João Bosco começa a entender que precisava gostar daquilo 
que mais atraia os seus jovens, para que assim conseguisse interagir melhor com 
eles. Esse valor pedagógico João Bosco o coloca em prática desde sua juventude. 
Ele entendeu que com obediência e aquisição da ciência (dos estudos) ele 
conseguiria educar aqueles meninos. E aos poucos os lobos vão se transformando 
em cordeiros. 
Qualquer interpretação que se queira dar a este sonho, certo é que nele se 
vê claramente esboçada toda a vida futura de D. Bosco, a sua vocação, os 
meios de empregar, o método educativo a seguir, a classe de pessoas a que 
deverá dirigir os seus cuidados, o resultado final. O sonho repete-se com 
maior clareza de pormenores quando D. Bosco conta aos 16 anos: nele há a 
promessa dos meios materiais indispensáveis para educar inúmeros jovens. 
Repete-se aos 19 anos: nesse uma ordem imperiosa lhe impõe a educação 
da mocidade. Aos 21 anos é definida a classe de jovens de cujo bem espiritual 
deverá ter particular cuidado. Mais uma vez, aos 22 anos, lhe é indicada uma 
grande cidade, Turim, como seu primeiro campo de atividade.6 
 
 
João Bosco vê no sonho que teve aos nove anos um projeto de vida, no qual 
ele investirá toda sua energia para educar os jovens num caminho de vida honesta e 
humilde, fazendo com que os jovens se tornem bons cristãos e honestos cidadãos. 
Uma formação capaz de tirar os jovens da delinquência e os capacite para uma vida 
mais digna. 
 
 
3 BOSCO, Dom João. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, p.16. 
4 Ibid., p.16. 
5 BOSCO, Terésio. Dom Bosco: uma biografia nova, p. 16 
6 CIMATTI, Vicenti. Dom Bosco, educador, p.23. 
5 
 
 
 
 
 
Foi nesse período da juventude que João Bosco descobriu sua vocação como 
sacerdote e buscou realizar seus estudos e entrar para o seminário. “A partir de 
novembro de 1831, acha-se em Chieri a fim de aplicar-se seriamente aos estudos”.7 
Entre os anos de 1835-1841 estudou no seminário de Chieri e foi ordenado padre. 
Depois disso ele teve que discernir qual seria seu campo de atuação. “Desde os 
primeiros domingos, refere Miguel Rua, percorreu a cidade para fazer uma ideia da 
condição moral em que se encontrava a juventude”.8 Observando o grande número 
de jovens que vadiavam pelas ruas e praças João Bosco se decidiu por trabalhar com 
uma proposta de educação voltada em especial para os jovens. 
 
1.1 A Itália no século XIX: unificação e migração 
 
 
João Bosco nasce em um momento histórico no qual a Europa transita do 
Antigo Regime para o mundo moderno, um contexto marcado pelas chamadas 
revoluções liberais, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. 
É no calor desses movimentos que o processo de unificação da Itália ocorre em 
meados do século XIX. Os ideais nacionalistas estavam cada vez mais fortes, 
principalmente após as revoluções liberais que aconteceram em toda extensão da 
Europa. 
Até a primeira metade do século XIX a Itália estava organizada em pequenos 
reinos, no qual muitos estavam sob domínio dos austríacos. Alguns destes reinos 
eram governados de forma autoritária por famílias reais da Áustria e da França. A 
Igreja Católica também era detentora de grande poder político em algumas regiões. 
Neste contexto, não havia unificação de leis, moeda, língua e sistema político. 
Portanto, ainda não havia um país com nome de Itália com o poder centralizado. 
Como causas da unificação podemos citar que a região norte da Península 
Itálica, reino de Piemonte-Sardenha, era muito mais desenvolvida do que o centro e o 
sul. Interessava à nobreza e, principalmente, à burguesia industrial que ocorresse a 
unificação, pois assim aumentaria o mercado consumidor, além de facilitar o comércio 
 
 
 
 
 
7 WIRTH, Morand. Dom Bosco, e os Salesianos, p. 26. 
8 Ibid., p. 33. 
5 
 
 
 
 
 
com a unificação de padrões, impostos, moeda, etc. Podemos afirmar que, o 
movimento de unificação teve início e foi liderado pelo reino de Piemonte-Sardenha.9 
Sabemos que o processo de unificação italiana não foi pacífico. O Império 
Austro-Húngaro não queria ceder os reinos controlados pelas famílias reais 
austríacas. Em 1859, com apoio de movimentos populares, liderados por Giuseppe 
Garibaldi, e de tropas francesas, os piemonteses entraram em guerra contra o Império 
Austro-húngaro. Vencedores, os piemonteses conquistaram o reino da Lombardia. Foi 
o primeiro passo em direção à unificação.10 
Em 1861, os Estados Pontifícios (governados pela Igreja Católica) foram 
anexados à Alta Itália. Formou-se assim o Reino da Itália que teve como primeiro rei 
Vitor Emanuel II.11 No ano de 1866, os italianos, com apoio da Prússia, anexaram o 
reino de Veneza que até então era governado pelos austríacos. Faltava apenas 
anexar Roma que era a capital do Estado da Igreja Católica. Nesta época, Roma era 
muito bem protegida por militares da França. Porém, em 1870, a França entrou em 
guerra contra a Prússia, sendo que as tropas francesas, instalada em Roma, foram 
convocadas para a guerra. Sem a proteção militar francesa, os italianos conquistaram 
a cidade, transformando-a na capital da Itália, que teve sua unificação concluída.12 
Neste período a Itália viveu de forma gradual e diversificada uma transfiguração 
do modelo secular de sociedade das ordens (aristocracia, clero, estado) para uma 
sociedade burguesa, fundada na divisão de classes sociais.13 Sendo uma sociedade 
marcada por um proletariado industrial conhecedor de sua miséria e das injustiças. A 
Revolução Industrial dispõe de repercussões na vida humana: técnico-científico, 
econômico, social, cultural, político. Com marca capitalista a revolução industrial teve 
sua origem na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII. Na primeira metade do 
século XIX a revolução industrial manifestou-se de maneira significativa na Bélgica, 
França, Alemanha, Suíça e Estados Unidos, embora com graus diferentes.14 
 
 
 
 
 
9 LENTI, Arthur J. Dom Bosco: história e carisma 2 – expansão: de Valdocco a Roma (1850-1875), p. 
29. 
10 Cf. Ibid., p. 30. 
11 Cf. Ibid., p. 35. 
12 Cf. LENTI, Arthur J. Dom Bosco: história e carisma 2, p. 38. 
13 Cf. BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p. 17. 
14 Cf. Ibid., p. 17. 
5 
 
 
 
 
 
Com o crescente progresso industrial da Inglaterra, França, Alemanha, Áustria, 
Rússia, na segunda metade do século XIX, a Europa conquistao cume da 
industrialização e a consolidação do capitalismo. Isso gerou uma forte competição 
econômica cada vez mais veloz e uma corrida armamentista. Ao mesmo tempo cresce 
pelo mundo uma expansão comercial, política e cultural em nível mundial. Esta 
mudança de cenário foi mais visível no colonialismo, com mudanças drásticas na 
extensão extra europeu. Ingressando os Estados Unidos e Japão como grandes 
potências.15 
Por volta de 1840 a 1914 a imigração estava cada vez maior, assim cerca de 
35 milhões de europeus deixaram a Europa e se desmembraram por todo mundo. O 
crescimento populacional na Europa era provocador, a cada 50 anos, praticamente, 
dobrava o número de habitantes. Com a sucessiva dificuldade da vida econômica, 
social, política, conjuntamente aumenta o pluralismo. De acordo com Braido: 
 
 
Cresce um pluralismo mais evidente das concepções de mundo, das 
ideologias políticas, dos conceitos morais e religiosos. Emergem grandes 
orientações de ideias e de ação divergentes nas concepções e organizações 
tanto dos destinos individuais quanto das formas de vida associada. Apesar 
de persistentes forças conservadoras e às vezes reacionárias, avançam 
ideologias novas: liberais, continuando a natureza burguesa da revolução 
francesa; democráticas e radicais, semelhantes às suas expressões 
jacobinas; nacionais e nacionalistas, de cunho romântico; mais tarde, 
socialistas de um lado e cristãs-sociais de outro.16 
 
 
 
Com a industrialização houve o aumento das fábricas, porém a pobreza estava 
presente em toda a Itália, e mais intensa no campo e nas montanhas. Com este 
contexto houve uma elevação da migração para a cidade evidenciando a falta de 
estrutura e saneamento básico para atender cada vez mais pessoas nas cidades e 
assim, as doenças urbanas começam a aparecer. Em Turim a população cresce 
consideravelmente, em 1808 havia 65 mil habitantes, já no final do século, com a 
chegada da industrialização, em 1891 alcança-se o número de 320 mil habitantes.17 
 
[...] A revolução industrial significou algo mais do que a introdução da 
máquina a vapor e dos sucessivos aperfeiçoamentos dos métodos 
 
 
15 Ibid., p. 18 
16 Cf. BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p. 19. 
17 Cf. Ibid., p. 25. 
5 
 
 
 
 
 
produtivos. Ela representou o triunfo da indústria capitalista, capitaneada pelo 
empresário capitalista que foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as 
terras e as ferramentas sob a seu controle convertendo grandes massas 
humanas em simples trabalhadores despossuídos.18 
 
 
Paralelo ao progresso industrial, encontramos um povo sofredor. A nova época 
da humanidade foi marcada por um “buraco negro: a questão operária. Nas cidades 
industriais forma-se uma nova classe, a dos proletários, que outra riqueza não possui 
a não ser os próprios braços e dos próprios filhos”.19 As condições dos trabalhadores 
são assustadoras e desumanas. As “casas” dos operários são cantinas onde se 
amontoava toda a família, sem ar, sem luz, fétida pela umidade. A alimentação é 
insuficiente, muitos tomam apenas uma refeição por dia, “alimento usual são as 
urtigas ferventadas”, relata João Bosco em suas visitas aos lugares onde os jovens 
se encontravam. Nas fábricas se veem um grande número de crianças trabalhando 
como se fossem adultos, com jornadas de 12 horas no inverno e 16 horas no verão, 
muitos são dizimados pelas doenças e pela desnutrição. É neste cenário que João 
Bosco procurou trabalhar com seus jovens, a fim de promover uma educação integral, 
capaz de levar os jovens a uma vida mais digna. Observando esta realidade política 
e social da Itália, procuraremos agora analisar seu contexto educacional. 
1.2 Contexto educacional na Europa: dois sistemas e uma escolha 
 
 
Ao mesmo tempo em que, a Itália passava por um processo de unificação e de 
desenvolvimento industrial, ocorria também uma efervescência no campo 
educacional. Foi neste contexto que Dom Bosco fez suas experiências no trabalho 
com os jovens e observou a importância de se desenvolver um sistema preventivo. 
De acordo com Cabrino, o Sistema Preventivo de Dom Bosco não surgiu por 
inspiração própria, mas estava relacionado aos acontecimentos da época.20 Vivia-se 
um clima de preventividade no campo da política, da área social, nas questões penais 
e de modo particular na área educacional. “Junto com a educação preventiva emerge 
claramente na história a ideia de educação como prevenção, da forma que for 
realizada, com métodos “repressivos” ou “preventivos”“.21 O conceito chave da época 
 
 
18 MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia? p. 12 e 13 
19 BOSCO, Teresio. Dom Bosco: uma biografia nova, 2002, p. 136. 
20 CABRINO, Janaína Paulon. O Sistema preventivo de Dom Bosco: formação e influências. p. 274 
21 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p. 39 
5 
 
 
 
 
 
era prevenir para diminuir os casos de violência urbana, buscando manter tranquila a 
sociedade. 
Ainda no século XIX observamos que o Estado procurava disponibilizar escola 
gratuita para os pobres, assim a escola primária encontra-se gratuita, universal e 
obrigatória. Todavia a educação qualificada fica reservada apenas aos filhos da 
burguesia. Podemos dizer que neste período cresceu a rede escolar, surgiu a pré- 
escola, o aumento da escola elementar, a rede secundária e superior. Para os 
burgueses era oferecida uma educação propedêutica e clássica na rede secundária, 
já os trabalhadores obtinham somente conhecimento técnico. A educação tinha como 
objetivo formação cívica, consciência nacional e patriótica do cidadão. 
A educação era um importante instrumento de comando social e político em 
uma sociedade que passava por variadas transformações, com ideologias e 
manifestações culturais diversas. Nesse contexto, a educação tem como função: 
 
[...] para as burguesias, trate-se de perpetuar o próprio domínio técnico e 
sociopolítico mediante a formação de figuras profissionais capazes e 
impregnadas de “espírito burguês”, de desejo de ordem e de espírito 
produtivo; para o povo, de operar uma emancipação de classes inferiores 
mediante a difusão da educação, isto é, mediante a libertação da mente e da 
consciência para chegar à libertação política. A burguesia tem 
frequentemente uma visão paternalista da educação: o povo deve ser 
educado para evitar desordens sociais, formando-se pelos valores burgueses 
[..].22 
 
Na presença do crescimento industrial aparecia a necessidade de alfabetizar 
um maior número de pessoas. O método Lancasteriano foi uma alternativa, no qual o 
aluno que se destacava aprendia anteriormente com o professor e posteriormente 
seria monitor de um grupo de alunos. Um sistema rígido, a entrada dos estudantes 
acontecia por meio de fila, não era permitido falar alto, os avisos eram indicados por 
meio de cartazes, havia um professor por sala que monitorava do alto de um palanque 
e quando necessário interferia. 
Após 1830 há uma grande procura pela cultura e pela escola popular, as 
catequeses tem grande responsabilidade na propagação pedagógica na Europa. Uma 
novidade na cultura é manifestada, como romântica, enaltecendo a religiosidade e os 
 
 
 
22 CAMBI, Franco. História da pedagogia, p.408. 
5 
 
 
 
 
 
sentimentos. Essa transformação cultural provocou modificações na pedagogia, 
acarretando novos princípios teóricos, representado por Frobel, Pestalozzi, Girard. 
Conforme Braido: 
 
Na primeira metade do século floresce o romantismo com Fröbel, Pestalozzi, 
Girard, e outros; aparece a escola realista de Herbart; cresce o espiritualismo; 
um pouco mais tarde, a pedagogia e a didática positivista. No Piemonte é 
sensível, a partir dos anos 30, a contestada simpatia pelos asilos infantis de 
Ferrante Aporti, iniciados em Cremona em novembro de 1828.23 
 
 
Os asilos infantis eram aceitos por muitas pessoas por se tratar de um lugar 
onde as criançasestariam longe dos vícios, prevenindo antes que os males instalem- 
se em seus corações. Os pensamentos e ideais românticos contrastavam ao 
racionalismo iluminista. “Enquanto na Ilustração a razão é tudo, para os românticos 
ela é apenas um dos aspectos da força espiritual humana, que se compõe também 
da imaginação, da incerteza, do contraditório”.24 Acreditava-se que a escola deveria 
ser para todos, buscando formar um homem integral e cidadão, e a família tem que 
assumir seu papel educativo. 
Conforme Braido, dois sistemas educativos estavam em debate no século XIX: 
o Sistema repressivo e o Sistema preventivo. Ambos surgiram na França, com 
distintos significados e assim despertou diversas discussões sobre a liberdade da 
escola. Enquanto alguns colégios buscavam implantar o sistema preventivo, outros 
abandonavam a sua tradição liberal e assumiam a tradição pedagógica dos colégios 
militares do “antigo regime”, que tinham um “estilo de quartel”. Na Bélgica vemos mais 
forte o acolhimento do sistema repressivo, em sua constituição de 1831 pode se ver 
no art. 17 que “o ensino é livre, qualquer medida preventiva está proibida; a repressão 
dos delitos não é regulamentada senão pela lei”.25 Podemos observar que as 
discussões são várias no campo educacional, seja devido a escolha dos métodos ou 
pelas linhas de pensamento. 
Diante desse contexto educacional na Europa, de modo particular na Itália, 
João Bosco foi educado, e fez a escolha para atuar com os jovens. Sua escolha não 
aconteceu por acaso, João Bosco embora não tenha realizado um contato direto com 
 
 
23 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p. 26. 
24 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e do Brasil, p. 204. 
25 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p, 69. 
5 
 
 
 
 
 
a pedagogia científica oficial e acadêmica, podemos afirmar que ele teve contato com 
diversos teóricos contemporâneos da pedagogia, como Antônio Rosmini, Gian 
Rayneri e outros, que pensavam uma educação integral, responsável e livre. João 
Bosco recordou também da sua educação familiar, que era de proximidade e afeto; 
recordou ainda o distanciamento que existia entre ele e seus educadores no período 
de sua formação, ele afirmava que não queria ser assim com seus meninos. Por isso 
sua escolha pelo Sistema Preventivo.26 
Na sequência desse estudo, apresentamos o sistema repressivo e depois a 
emergência do sistema preventivo. 
 
 
1.2.1 Sistema Repressivo 
 
 
Na época de João Bosco, havia dois sistemas educacionais, nas escolas 
públicas predominava o método repressivo, enquanto nas escolas privadas começava 
a ser colocado em prática o método preventivo. Podemos dizer que o sistema 
repressivo deriva de modo particular do antigo regime, dos colégios militares, no qual 
ressalta o método do vigiar e punir, ou seja, as regras e normas são apresentadas aos 
estudantes, mas não internalizadas como valores, depois se organiza uma equipe que 
os vigie e, quando um aluno comete o erro é imediatamente punido perante os colegas 
como exemplo, para que os outros não façam o mesmo no futuro. 
O sistema repressivo pode ter como base também o pensamento do filósofo 
Thomas Hobbes (1588-1679), com sua visão mecanicista acerca do ser humano, ele 
afirmava sobre as necessidades que os homens têm de se submeter às autoridades 
de forma irrevogável para atingir um objetivo, pois o ser humano precisa de leis e de 
alguém que o conduza, para que não seja guiado apenas por suas paixões e 
vontades. 
A importância do rigor da disciplina na formação do indivíduo será explicitada 
no pensamento de Durkheim. Para ele “a educação é a ação exercida pelas gerações 
adultas sobre as gerações que não se encontrem ainda preparadas para a vida 
 
 
 
26 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p, 141. 
5 
 
 
 
 
 
social.”27 Expressa também, que precisa instigar na criança a obediência que o 
dispositivo pedagógico transformará em espírito de disciplina. “Suas tendências serão 
vigiadas, medidas, avaliadas, instigadas e fortalecidas aos moldes de um adulto 
civilizado.”28 
A principal função da disciplina é atuar como um instrumento de formação 
moral. Como se a moralidade da classe dependesse da firmeza do mestre, e uma 
classe indisciplinada é um perigo moral, porque a efervescência é coletiva. Portanto, 
Durkheim afirma que “em uma classe bem disciplinada não há confusão, nem o 
sofrimento, mas a saúde e o bom humor. Cada aluno está em seu lugar e sente-se 
bem onde está.” 29 
Michel Foucault (1926-1984), por outro lado, fará uma leitura crítica desses 
sistemas, justamente em função de serem capazes de domesticar os seres humanos. 
Ele relata que no passado os homens foram educados por uma disciplina rígida, e 
ainda hoje as instituições (família, escola, religião) moldam o ser humano para a vida 
social. Nesse contexto, ele reflete o uso de açoites e palmadas para a correção de 
meninos e meninas que representavam mau comportamento. É o que também 
afirmam Aragão e Freitas: “Praticamente os castigos físicos eram praticados de forma 
natural para educar as crianças, seja na relação professor/aluno, seja na relação pais/ 
filhos – a exemplo daquelas adotadas pelas congregações lassalistas no século 
XVII”.30 
Conforme Veiga, os lassalistas enxergavam a correção como ato: 
 
 
Como um meio pedagógico importante para manter a ordem em sala de aula, 
sendo possível punições através de palavras e de penitência e pelo uso de 
instrumentos como a férula, o chicote ou a disciplina (um bastão de 8 a 9 
polegadas, na ponta do qual estão fixadas 4 ou 5 cordas e cada uma delas 
terá na ponta três nós) e finalmente a expulsão.31 
 
 
 
 
 
 
27 LUCENA, Carlos. O pensamento educacional de Émile Durkheim, 302 
28 Ibid., 302 
29 Ibid., 302 
30 ARAGÃO, Milena; FREITAS, Anamaria Gonçalves Bueno. Práticas de castigos escolares: enlaces 
históricos entre normas e cotidiano, p. 19 
31 VEIGA, Cynthia Greive. Sentimentos de vergonha e embaraço: novos procedimentos disciplinares 
no processo de escolarização da infância em Minas Gerais no século XIX, p. 501-502. 
5 
 
 
 
 
 
Mas, havia uma limitação para o uso dos castigos físicos em crianças, afirma 
Veiga, deveria ser usada apenas pelo mestre e servir para bater somente na palma 
da mão esquerda do aluno, com apenas duas ou três palmadas. Portanto, essa 
violência era um ato comum, não apenas no universo escolar, mas nos processos que 
envolvesse relações humanas. 
 
 
 
1.2.2 Emergência do sistema preventivo 
 
 
 
A emergência do Sistema Preventivo pode ser visualizada nos estudos de 
vários pedagogistas e das práticas realizadas em diversos colégios de seu tempo. O 
educador João Bosco não está sozinho na história e no século XIX, o sistema 
preventivo que pratica e do qual fala e depois escreve se origina num contexto em que 
semelhantes orientações são seguidas, codificadas e propostas também por outros.32 
Educadores e educadoras influenciaram, por seus textos ou relações de proximidade, 
o sistema educativo abraçado por João Bosco em suas obras. 
O processo inicial do Sistema Preventivo na área da educação relaciona-se ao 
contexto social decorrente das revoluções francesa e industrial. Após a imprevista e 
traumática experiência da Revolução Francesa, seguida pela não menos radical 
subversão da antiga ordem, causada por Napoleão Bonaparte (1769-1821) a Europa 
parecia quase obcecada, mais do que em qualquer outro tempo, pela ideia 
“preventiva”.33 O pensamento preventivo se instalou nas diversas áreas, seja no 
campo político, social, jurídico-penal, assistencial, escolar-educativo e religioso. 
Cynthia afirma que “no processo de institucionalização da escola elementar 
ocorre uma governamentalidade”34 que envolveu, entre outras coisas, a produção e 
manipulação de cargos, a produção dedados sobre a população escolar, a 
interferência no âmbito das famílias, a reordenação do tempo e espaços sociais, a 
reordenação e hierarquização de saberes, a exclusão por lei dos escravos a 
 
 
 
32 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, 141.p. 89. 
33 Ibid., p. 27. 
34VEIGA, Cynthia Greive. A instrução pública como regra de governamentalidade: o caso da 
escolarização em Minas Gerais no século XIX. 
5 
 
 
 
 
 
frequência escolar. Ao mesmo tempo houve também um forte apelo para o 
estabelecimento de novas relações entre alunos e professores, a começar pela 
instalação das Escolas Normais e profissionalização dos docentes na perspectiva de 
que um mestre civilizado não se improvisa.35 Foram sendo elaboradas novas práticas 
pedagógicas, mas isso só tornou-se possível quando o Estado passou a elaborar 
políticas públicas de educação, diminuindo as tensões e a homogeneização do 
comportamento social. Podemos afirmar que, o Sistema de prevenção, já estava 
sendo pensado em conformidade com Greive, no século XIX, a qual ressalta “difusão 
dos saberes elementares para todas as camadas da população como indicador do 
pensamento das elites de que era necessário estender as civilidades a todos”.36 A 
autora afirmou também que “desenvolveram-se nesse século as experiências de 
escolas mútuas, sistematizadas pelos ingleses Bell (1753-1832) e Lancaster (1778- 
1838) que entre outras coisas, propuseram o fim dos castigos físicos”.37 
Desse modo, observa-se que a singularidade pedagógica de João Bosco na 
proposição de um sistema preventivo está intimamente relacionada com a sua busca 
de construir uma proposta de trabalho com os jovens, sobretudo os que se 
encontravam em situações de maior vulnerabilidade, mas também está “antenada” 
com as demandas sociais e pedagógicas do seu tempo no sentido de se desenvolver 
um sistema educacional que pudesse se antecipar às situações de violência que 
afligiam em especial a juventude. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 GREIVE, Cynthia Greive. A civilização dos professores: emoções e poder no processo de 
institucionalização da profissão docente, p. 12. 
36 Ibid., p. 88. 
37 GREIVE, Cynthia Greive. Civilizar: tensões violência e pacificação nas relações de alunos e 
professores na institucionalização da escola pública elementar, Brasil, no século XIX, p. 88 e 89. 
5 
 
 
 
 
 
 
 
2. SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO 
 
Neste capítulo buscaremos conhecer os fundamentos do Sistema Preventivo 
de Dom Bosco, sua originalidade e suas bases: razão, religião e amorevollezza. 
Apresentamos ainda os espaços denominados oratórios, como lugares de acolhida e 
convivência. 
 
 
2.1 Fontes inspiradoras do Sistema Preventivo 
 
 
Conforme enunciado anteriormente, o educador João Bosco não estava 
sozinho no campo da educação, outros autores pedagógicos procuravam 
fundamentar propostas, teorias e metodologias. Podemos dizer que o sistema 
preventivo de Dom Bosco teve influências educativas, pois “ele se origina num 
contexto em que semelhantes orientações são seguidas, codificadas e propostas 
também por outros”. 38 Observaremos também que outros educadores abraçaram o 
sistema preventivo, como: Aporti, Dupanloup, Poullet, Rosmini, Lacordaire e 
Champagnat, mas cada um num estilo próprio. Veremos que a grande diferença de 
João Bosco foi em pensar o sistema preventivo como formação integral do ser 
humano. 
Uma das influências de João Bosco foi Pestalozzi, com o qual não teve um 
contato direto, embora fosse de uma região próxima. Traz consigo muitos elementos 
presentes em suas obras, o valor da religiosidade, o respeito pelos estágios de 
desenvolvimento das crianças, o ambiente familiar e a abertura através do amor. 
Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) desenvolveu seu método pedagógico com 
sustentação em Jean Jacques Rousseau (1712-1768), em que a educação deve 
envolver a liberdade, bondade e personalidade do aluno. Defendia a educação 
preventiva, no qual a educação desenvolvia as capacidades humanas e os 
sentimentos, a mente e o caráter da criança. Segundo Cambi, “O pensamento 
pedagógico juvenil de Pestalozzi é orientado pelos princípios rousseaunianos da 
 
 
 
38 BRAIDO, P. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p.89 
5 
 
 
 
 
 
educação segundo a natureza, da educação familiar e da finalidade ética da 
educação”. 39 
Pestalozzi desejava criar uma instituição para educar crianças pobres e sem 
oportunidades. Podemos dizer que esta motivação pode ter surgido devido a sua 
formação religiosa, pois chegou a estudar para se tornar sacerdote, mas abandonou 
para colocar em prática os princípios educacionais em que ele acreditava. Lopes 
afirma, “[...] ensinando o homem a viver em contato íntimo com a natureza, como 
pregava Rousseau”.40 Para ele as crianças devem desenvolver suas habilidades em 
contato com a natureza, através de uma experimentação prática e o educador deve 
apenas ajudar a criança a trazer para fora aquilo que já está presente em seu ser. 
Segundo Château, Pestalozzi não caracteriza a aprendizagem somente na 
escola, mas basicamente também na família: 
 
[...], mas quando diz educação, não pensa, antes de tudo, na escola! 
Certamente, a escola lhe parece constituir momento essencial da educação 
para a humanidade, ajudando a criança a enriquecer sua experiência da vida 
pessoal e comunitária, num quadro mais largo que o da família, e mais 
homogêneo que o da cidade. Entretanto, aquela das potências informativas 
da qual nada lhe parecia poder substituir a “benção”, é a família, esse “senso 
paternal” e esse “amor maternal”, que lhe inspiram as páginas mais líricas. 41 
 
 
 
Para Pestalozzi, além da moral, a religião também deve ser inserida no 
processo educacional, colocando a família dentro do modelo cristão, no qual tem 
papel essencial na educação da criança, educar a partir do exemplo. Tendo duas 
características importantes: amor e firmeza. De acordo com Lopes, “Pestalozzi queria 
que cada lar se transformasse numa escola, onde a mãe fosse a professora”.42 Na 
obra “Como Gertrudes ensina a seus filhos”, Arce ressalta que Pestalozzi evidencia o 
papel materno, “a criança só aprende a amar a partir do amor que foi oferecido pela 
mãe.”43 
 
 
 
 
 
39 CAMBI, Fraco. História da pedagogia, p.417 
40 LOPES, Luciano. Pestalozzi: o grande educador, p.34 
41 CHÂTEAU, Jean. Os grandes pedagogistas, p.211 
42 LOPES, Luciano. Pestalozzi: o grande educador, p.176 
43 ARCE, Alessandra. A pedagogia na “era das revoluções”: uma análise do pensamento de Pestalozzi 
e Froebel, p.117 
5 
 
 
 
 
 
Há semelhanças entre João Bosco e Pestalozzi, ambos perderam o pai muito 
cedo e tiveram a educação por responsabilidade de suas mães. Ambos os educadores 
não desistiram de educar os jovens e crianças pobres e por inúmeras vezes mudaram- 
se de local para não se abdicar de seus objetivos. Ambos pensaram também em uma 
formação integral. 
 
A quem se admire em ver esse homem que resiste impassível às terríveis 
provas de abandono, poderíamos lembrar outros grandes educadores da 
juventude pobre e abandonada. Entre muitos outros, baste-nos citar o velho 
S. José Calazans e o bom Henrique Pestalozzi. Também eles foram 
martirizados até ao sangue em suas instituições; também eles, 
incompreendidos, foram abandonados, escarnecidos e desprezados! 44 
 
 
Outro educador semelhante a João Bosco que lhe forneceu diretrizes foi 
Ferrante Aporti, no qual suas instituições eram reservadas a prevenir a insolência das 
crianças e jovens pobres. Ferrante Aporti (1791-1858) foi fundador das escolas 
infantis e primárias, contribuiu muito com a educação italiana, seja na fundação de 
escolas, nas aulas ministradas nas faculdades e em suas obras literárias. 
Contemporâneo a João Bosco, procurou ajudar também as crianças mais pobres e, 
possivelmente tiveram contato, pois ele tinha uma de suas obras em Turime outra no 
Piemont. Seus métodos preventivos são muito próximos. Fato que nos comprova esta 
proximidade de contato entre ambos é que os Salesianos dão assistência religiosa até 
hoje a suas obras sociais. 
Angiolo Gambaro salienta sobre o Sistema Preventivo de Aporti: 
 
Em poucas palavras, Aporti destaca a grande superioridade do método 
preventivo sobre o repressivo, admitida por todos os educadores e 
pedagogistas que, solícitos em pôr o amor como fundamento da educação, 
preocupam-se em criar ao redor do garoto um ambiente de serenidade, de 
bondade, de persuasão, que o oriente naturalmente ao bem, evitando tudo o 
que afaste ou ofenda as almas, ou as torne rebeldes ou as avilte. O 
desenvolvimento prático do método preventivo revelou uma eficácia 
maravilhosa na prática educativa de São João Bosco.45 
 
 
João Bosco apropria-se do mesmo Sistema Preventivo. De acordo com Braido: 
 
 
 
 
 
 
44 CIMATTI, Vicente. Dom Bosco Educador, p. 34-35 
45 ANGIOLO GAMBARO, [apud BRAIDO, 1999, p.101] 
5 
 
 
 
 
 
É possível, de fato, encontrar na metodologia educativa e didática de Aporti 
os caracteres essenciais de um completo sistema preventivo [...] aparecem 
os conhecidos elementos constituídos: a assistência, a afeição, a caridade, a 
amorevolezza, o bom senso, a alegria, o canto, a recreação, o movimento.46 
 
 
Em conformidade com Modesti, João Bosco pode ter sido influenciado pelo fato 
de “[...] a mandado de seu arcebispo, vai assistir às aulas da Aporti, na Universid’ade 
Turinense”. 47 Este fato nos revela mais ainda a proximidade de ambos no campo da 
educação. 
De acordo com Braido, assim como João Bosco, “a didática de Aporti tinha 
como finalidade a formação dos princípios do indivíduo, instruindo para virtudes 
cristãs: amor ao próximo, senso de justiça e gratidão.”48 
Outro pensador contemporâneo de João Bosco é o filósofo alemão Johann 
Friedrich Herbart (1776-1841), o qual desenvolveu a concepção pedagógica, trazendo 
assim mais ciência a educação. Como João Bosco estava fundando suas obras e 
colégios, e como lia muitas revistas sobre educação, acredita-se que tenha tido 
contato com os textos de Herbart. Segundo Carvalho: 
 
Herbart acreditava ser necessário, naquele momento, explicar 
cientificamente o processo de aquisição de conhecimento, já que as práticas 
pedagógicas não deveriam mais pautar-se pelo bom senso ou pela arte de 
ensinar. Seu pensamento pedagógico alicerçava-se em duas bases: na Ética, 
entendida como filosofia prática, que tinha como tarefa estabelecer os fins da 
educação; e na Psicologia, ciência que definiria os meios racionais para se 
chegar à educação.49 
 
 
Herbart tem como objetivo formar um homem integral, sendo tarefa do 
educador uma relação de amor e autoridade. Visava a formação do caráter moral e 
instrutivo, uma pedagogia como ciência filosófica, iluminado pelo humanismo. 
 
A instrução faz com que o aluno se interesse pelos objetos de aprendizagem. 
Para tanto, a instrução educativa deve proporcionar ao aluno a multiplicidade 
de interesses por meio da experiência com as coisas e por meio das relações 
humanas. Causar o interesse do aluno é colocar em sua consciência o gosto 
pelas virtudes, pelo bem, pela beleza, pela verdade, de modo que para ele a 
 
 
46 BRAIDO, P. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p.102 
47 MODESTI, João. Uma pedagogia perene, p.23 
48 BRAIDO, P. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p.104 
49 CARVALHO, A psicologia frente a educação e o trabalho docente, p.52 
5 
 
 
 
 
 
aprendizagem seja prazerosa. Desse modo, a instrução educativa consiste 
em educar a inteligência e a vontade do aluno, produzir nele verdadeiros 
interesses. Pelo interesse é que o sujeito dirige sua atenção às coisas, ideias, 
experiências. O interesse, por sua vez, está ligado à força das ideias, 
representações já existentes na mente do aluno, às quais vão se ligar novas 
ideias e representações. 50 
 
 
Por fim, no século XIX a educação preventiva encontrava-se cada vez mais 
ampliada e estudada por muitos, tais como, Aporti, Dupanloup, Poullet, Rosmini, 
Lacordaire e Champagnat. Na confluência dessas experiências/reflexões se deu a 
constituição do Sistema Preventivo de Dom Bosco, com alguns sabemos claramente 
que ele teve contato pessoal e com suas obras, com outros sabemos que ele conhecia 
suas obras literárias, pois chegava a citá-las em diversas circunstâncias, seja na Itália 
ou quando viajava para a França. João Bosco não estava sozinho nesse processo de 
implantação do Sistema Preventivo. 
Portanto, João Bosco não foi o único a pensar e utilizar a preventividade na 
educação. Seu Sistema Preventivo se originou em um contexto em que “havia 
aproximação das orientações seguidas, codificadas e propostas também por outros 
que compartilhavam com ele as ansiedades em relação à juventude em tempos novos 
e difíceis e que empreendiam iniciativas em favor dessa juventude.”51 
Observamos até o presente momento o contexto sócio histórico e as fontes 
inspiradoras do Sistema Preventivo de Dom Bosco. Veremos agora as bases da sua 
proposta pedagógica educacional. 
 
 
 
2.2 Tripé do sistema preventivo 
 
 
João Bosco define o sistema preventivo em um tripé educativo: razão, religião 
e amorevolezza. São princípios que possuem relação e asseguram um 
desenvolvimento integral do jovem. 
O Sistema Preventivo contido pela razão, religião e amorevolezza contém 
princípios que indicam uma visão harmônica da pessoa dotada de razão, afetividade 
 
 
50 ZANATTA, Beatriz Aparecida. O legado de Pestalozzi, Herbart e Dewey para as práticas 
pedagógicas escolares, p.108 
51 CABRINO, Janaína Paulon. O sistema preventivo de Dom Bosco: formação e influências, p.278 
5 
 
 
 
 
 
e vontade. Nesse sentido, o Sistema Preventivo é um exemplo de humanismo 
pedagógico cristão, onde a centralidade da fé está indissoluvelmente unida à 
apreciação dos valores presentes na história. 
Para João Bosco, amorevolezza seria “[...] afeto, benevolência, benignidade, 
solicitude de pais e mães, também espirituais, para com os filhos”. 52 
Segundo Scaramussa e Silva, “amorevolezza é a marca salesiana, João 
Bosco usava esta palavra para indicar amor, carinho, afeição demonstrada, 
familiaridade, presença. Ela é uma energia espiritual, que nasce da mística do amor 
de Deus para os jovens. João Bosco, afirma categoricamente que educar é obra do 
coração. Não há como desenvolver uma prática educativa sem amor, sem cuidado, 
sem carinho.”53 
Na Carta de Roma, dizia que não basta amar, é preciso que os jovens sintam 
que são amados. 
 
Quem sente que é amado, ama, e quem é amado consegue tudo, 
especialmente dos jovens. Esta confiança estabelece uma espécie de 
corrente elétrica entre os jovens e os superiores. Os corações se abrem e 
eles dão a conhecer as suas necessidades, mostram todos os seus 
defeitos.54 
 
 
Cabrino acrescenta que, “amorevolezza refere-se amor, bondade, carinho. 
Este princípio da pedagogia de João Bosco, fundamenta-se um amor educativo entre 
educando e educador.”55 
A razão no método de João Bosco era o início da formação do aluno, propendia 
a entender o mundo e a si próprio, com o jovem tendo a competência de tomar suas 
decisões sempre com o auxílio de um diretor espiritual. E assim perceba por meio da 
razão seus limites e atributos. 
Segundo Ferreira, a razão na perspectiva proposta pelo Sistema Preventivo é 
um elemento fundamental para a educação de um jovem salesiano. 
 
 
 
52 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco. São Paulo: Editora 
Salesiana, 2004, p. 269. 
53 SCARAMUSSA, P. Tarcísio e SILVA, P. Genésio Zeferino Filho. Pedagogia do amor: Sistema 
Preventivo de Dom Bosco, p. 9. 
54 BOSCO, João M. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, p. 41. 
55 CABRINO, Janaína Paulon. O sistema preventivo de Dom Bosco: formação e influências. p.295 
5 
 
 
 
 
 
 
 
É significativorelevar que, há mais de cem anos, Dom Bosco atribuía grande 
importância aos aspectos humanos e à condição histórica da pessoa, à sua 
liberdade, à sua preparação para a vida e para uma profissão, ao 
compromisso com as liberdades civis, num clima de alegria e de generosa 
doação ao próximo. [...] Em síntese, a razão, na qual Dom Bosco crê como 
um dom de Deus e como tarefa indispensável do educador, indica os valores 
do bem, enquanto aponta para os objetivos a alcançar, os meios e a maneira 
de usá-los. A razão convida os jovens a uma relação de participação com os 
valores compreendidos e compartilhados. Ele a define também como 
racionalidade, referindo-se ao necessário espaço de compreensão, de 
diálogo e de paciência inalterável que o não fácil exercício da racionalidade 
exige. 56 
 
 
A religião para João Bosco entende-se como apoiador do sistema, a partir da 
palavra de Deus era praticável falar ao coração do jovem. De acordo com Cabrino, 
“Conquistar seus corações era o melhor caminho para educá-los nos princípios da 
religião e encaminhá-los para o bem”. 57 E priorizava nos sacramentos da comunhão 
e confissão para a salvação das almas: 
 
[...] insistia muito sobre o sacramento da confissão, auxilio para os jovens 
conhecerem suas fraquezas e suas forças; a comunhão, que na sua doutrina 
religiosa seria a fonte de toda a resistência do mal, que tão facilmente envolve 
o adolescente. De maneira especial, inculcava a devoção à Santa Mãe de 
Deus, a sua Mestra por excelência. 58 
 
 
Nesses três princípios norteadores, pode-se conceituar religião como a alma 
do sistema e amorevolezza a alma do “método preventivo”. Quando se trata de 
religião, deve-se observar que essa dimensão religiosa se insere no Sistema 
Preventivo. Ferreira, relata que “não é impor a religião, mas apresentar sob uma luz 
reforçadora, diz que o sistema preventivo propõe, na verdade, é que os valores do 
Evangelho sejam inseridos na prática educativa. Porque, sem esses valores, a razão 
e a bondade educativa tornam-se vazias e inócuas.”59 
 
A “religião salesiana” é uma religião popular, simples, que vai ao essencial 
(“amor a Deus e amor ao próximo”), sem muitas complicações [...] a fé não é 
só a dos teólogos, é também a da tradição, da gente comum que faz caridade, 
serviço, voluntariado. E a razão não é só a dos filósofos, é também a da 
 
 
56 NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p. 31 
57 CABRINO, Janaína Paulon. O sistema preventivo de Dom Bosco: formação e influências. p.298. 
58 MODESTI, João. Uma pedagogia perene, p.77 
59 FERREIRA, Antônio da Silva. Não Basta amar: a pedagogia de Dom Bosco em seus escritos, p.23 
5 
 
 
 
 
 
literatura, da matemática, da técnica, do computador. Ver essas formas de 
“ratio”, à luz da fé e não contra ela, é importantíssimo para o sistema 
preventivo. 60 
 
 
Religião, Amorevolezza e Razão formam um tripé fundamental para essa 
proposta salesiana de educação. A seguir apresentamos a aplicabilidade do Sistema 
Preventivo nos espaços do Oratório festivo. Veremos as ações práticas, que irão 
propiciar a familiarização e a sensibilidade do educador para com o educando. 
 
2.3 Oratório festivo: origem, princípios e fundamentos 
 
 
Os princípios do sistema preventivo encontraram um lugar especial para serem 
aplicados, denominados como oratórios. Na época de João Bosco os oratórios já 
existiam, eram atividades realizadas com os adolescentes e jovens de uma 
comunidade religiosa no terreno das igrejas, com finalidade de instruí-los na religião, 
afastando dos perigos sociais (brigas, álcool, jogos de azar) através de jogos e 
brincadeiras. Todavia o oratório de João Bosco realizava estas atividades e muitas 
outras, como: educação formal, oficinas profissionais, alimentação, lugar para morar. 
Nestas atividades podemos observar a aplicabilidade do Sistema preventivo como 
proposta e método educacional. 
O primeiro oratório em que João Bosco atuou foi fundado em 1840 pelo Padre 
João Cocchi. O padre começou com a catequese para os jovens, na igreja São 
Francisco de Assis. Por razões de afazeres sacerdotais teve que interromper essa 
ocupação. Porém, viu em João Bosco alguém que pudesse continuar esse trabalho 
com os jovens: 
Foram predominantes em Dom Bosco as solicitudes pela juventude da 
cidade. O encontro de Dom Bosco com a situação dos jovens das periferias 
e com a completa desorientação em que estes se encontravam foi o grande 
estímulo ou ponto referencial concreto para que, dentro de pouco tempo, Dom 
Bosco realizasse um discernimento sobre o seu futuro apostolado ou campo 
de trabalho. De fato, a pessoa histórica em atividade supera o Dom Bosco 
construído pelo gosto do extraordinário, do sobrenatural. Sobressaiu sempre 
o Dom Bosco trabalhador e lutador pelo bem dos jovens. 61 
 
 
 
 
 
 
 
60 NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p.36 
61 CASTRO, P. Afonso de. A espiritualidade de São João Bosco, p. 121 
5 
 
 
 
 
 
João Bosco acolhia no oratório meninos pobres, que perambulavam pelas ruas 
e praças, acolhia também aqueles que haviam deixado a cadeia – meninos em maior 
grau de vulnerabilidade – para lhes dispor a catequese e uma educação especial, pois 
muitas vezes o jovem ao sair da prisão podia se tornar mais perigoso de quando 
entrou, por não ter uma boa instrução e alguém que os oriente no processo de 
sociabilização. Logo, João Bosco percebeu que quando os jovens estão envoltos de 
um amparo educacional e espiritual eles se tornam “bons cristãos e honestos 
cidadãos”.62 Mais tarde, em 1842, jovens ricos e de boa conduta também puderam 
participar dos oratórios, com o propósito de transcorrer disciplina e princípio moral. 
João Bosco se deparou com diversos desafios na continuidade do oratório, com 
o número cada vez maior de jovens, a igreja São Francisco de Assis já estava 
pequena e o barulho perturbava os vizinhos e precisou ir em busca de novos lugares. 
A primeira fase da vida do Oratório caracterizou-se por uma série de 
dificuldades que cresciam à medida que aumentava o número de oratorianos. 
Como e onde arrumar um lugar adequado e que pudesse reunir os jovens e 
proporcionar-lhe o ensino e diversão. Não conseguindo estabelecer-se em 
nenhum lugar, foi forçado a mudar constantemente.63 
 
 
O oratório passa por imensuráveis lugares, desde cemitérios e moinhos, até se 
instalar na casa Pinardi, um terreno grande, com uma pequena área coberta, que João 
Bosco alugou nos primeiros anos e depois comprou com ajuda de colaboradores. 
Então surgia o Oratório de São Francisco de Sales. 
 
 
Começou a denominar-se de Oratório de São Francisco de Sales por duas 
razões: primeira, porque a marquesa Barolo tinha a intenção de fundar uma 
congregação de sacerdotes com este título, tanto assim que mandou pintar a 
imagem do santo; segundo, porque nosso ministério exige grande calma e 
mansidão, pusemo-nos sob a proteção de São Francisco de Sales.64 
 
 
Em conformidade com Souza: 
 
 
O êxito no seu trabalho com os jovens era congregar forças da sociedade. 
Diversas pessoas, colaboradores e ex- oratorianos, imbuídos pelo apreço que 
tinham por Bosco, ajudavam-no nas mais variadas tarefas de cunho 
 
 
62 BOSCO, João M. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, p.125 
63 SCARAMUSSA, Tarcísio. O sistema preventivo de Dom Bosco: Um estilo de educação, p.48 
64 SANDRINI, M. Dom Bosco e os jovens: um binômio inseparável, p.16 
5 
 
 
 
 
 
educativo e administrativo. Seus Oratórios passaram, em grande parte, a ser 
animados e conduzidos pelos próprios jovens que em tempos e idades 
variadas receberam acolhimento, moradia, aprendizado acadêmico e 
profissional.65 
 
 
De acordo com as necessidades do oratório festivo, João Bosco ajusta as 
atividades, passam de semanal para diária, tendo assim formações profissionais e 
escola diurna e noturna, iniciando também uma espécie de internato para acolher 
aqueles que não têm onde morar. “Anexoao oratório, obra principal, surge o internato- 
pensionato, que se transforma logo em verdadeiro colégio interno para estudantes”.66 
João Bosco estabelece um conceito e sentido para o oratório: “casa que acolhe, Igreja 
que evangeliza, escola que educa e pátio para se encontrar com os amigos”.67 “O 
Oratório de João Bosco não é só escola da doutrina cristã nem só lugar de oração 
(“Oratório”), mas também não é só “jardim de recreação” ou “recriador” ou “escola 
dominical”. É tudo isso ao mesmo tempo”. 68 
João Bosco descreve o cotidiano do oratório: 
 
[...] Nos dias festivos começava a confessar bem cedo e celebrava às 9 horas; 
em seguida pregava, para dar aula de canto e de literatura até o meio-dia. À 
1 da tarde, recreio, depois catecismo, vésperas, instruções, benção, e depois 
recreio, canto e aula até à noite. Nos dias de semana cuidava dos meus 
aprendizes, dava aulas do curso ginasial a uns 10 meninos; à tarde, aula de 
francês, aritmética, canto gregoriano, música vocal, piano e órgão; tudo por 
minha conta [...] 69 
 
 
Todos esses elementos do oratório são inseparáveis, e agindo de forma 
simultânea, sem se apor sobre o outro, no entanto para João Bosco o aspecto religioso 
é sustentação da sua ação pedagógica. 
“Os conceitos casa, Igreja, escola e pátio, congregam valores e princípios 
característicos duma educação entendida como de qualidade.” 70 Percebemos acima 
que a obra inicial vai tomando nova configuração, surgem às escolas primárias, 
 
 
 
65 SOUZA, Rodrigo Tarcha Amaral. O Oratório festivo como princípio e fundamento da Educação 
Salesiana, p. 148 
66 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p. 329. 
67 SOUZA, Rodrigo Tarcha Amaral. O Oratório festivo como princípio e fundamento da Educação 
Salesiana, p. 148 
68 BRAIDO, P. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p. 305 
69 BOSCO, João M. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales de 1815 a 1855, p. 218 
70 SOUZA, Rodrigo Tarcha Amaral. O Oratório festivo como princípio e fundamento da Educação 
Salesiana, p. 148 
5 
 
 
 
 
 
secundárias e posteriormente o curso superior, mas o conceito de ambiente educativo 
permanece, seja no oratório ou nos colégios. Em todos eles o Sistema Preventivo é 
aplicado e desenvolvido como método pedagógico. 
Oratório enquanto Igreja, cristã católica, é lugar que evangeliza, mas também 
acessível à diversidade religiosa. Não propõe viver aprisionado somente dentro da 
Igreja, mas em todos os momentos estar guiado pelo divino. Muitos são os jovens que 
frequentam os oratórios e são de religiões diferentes. 
O oratório como casa, não apenas no momento em que João Bosco abrigou 
jovens no oratório para residência, mas sim a familiaridade, sentir-se acolhido e feliz 
no local. 
Oratório enquanto escola, local de aprendizado, com estudos sistemáticos e 
científicos. “[...] podendo encaminhá-los para a vida, imbuídos dos elementos 
necessários para corresponder aos parâmetros de cidadania, ética e moral, 
apresentados como aceitáveis tanto na sociedade contemporânea de Bosco como na 
de hoje”. 71 
Oratório como pátio, local onde o educador pode observar o educando como 
ele é. Muitas vezes dentro da sala de aula – local formal, o aluno não manifesta 
integralmente a sua essência. Fora da sala de aula estabelece-se uma vivência social, 
despertando amizades e confiança entre educadores e educandos e entre os próprios 
discentes. No pátio, o aluno conversa sobre os fatos de sua vida e procura respostas 
para um amadurecimento integral. 
“O Oratório é por assim dizer, o lugar e mentalidade por excelência da ação 
educativa salesiana”.72 De modo mais acentuado, nas constituições salesianas, 
número §40, aparece: “O Oratório de João Bosco em Valdocco é o paradigma, o 
critério permanente de toda a nossa atividade”. 
A experiência educativa de João Bosco teve início e origem dentro do oratório 
de Valdocco. Com o passar dos anos criou-se a Sociedade de São Francisco de 
Sales, com isso os Salesianos, assim reconhecidos pelo mundo inteiro, foram sendo 
 
 
 
71 SOUZA, Rodrigo Tarcha Amaral. O Oratório festivo como princípio e fundamento da Educação 
Salesiana, p. 148 
72 FERREIRA, A. da Silva. De olho na cidade. O Sistema Preventivo de Dom Bosco e o novo contexto 
urbano, p. 20 
5 
 
 
 
 
 
chamados a abrir novas casas, principalmente colégios. Primeiro na Europa, depois 
na região da Patagônia, Uruguai e Brasil, chegando a Niterói-RJ em 1883. Mais tarde 
avançou por toda a América e Ásia, chegando por fim a África e Oceania no século 
XX. Quando chegaram a Lima/Peru a “primeira preocupação foi a de fundar um 
oratório, em seguida montar uma escola profissional para rapazes pobres”.73 Hoje os 
salesianos estão presentes em 133 nações, com colégios, obras sociais, Faculdades, 
paróquias e oratórios. O campo de atuação mudou, os desafios educacionais 
aumentaram, mas a metodologia de ensino continua a mesma, o Sistema Preventivo 
é aplicado em todas as casas salesianas pelo mundo inteiro. O Oratório de Valdocco, 
a experiência primeira continua viva em todas as obras educacionais, seja aqui no 
Brasil ou na Síria. 
João Bosco se ocupou prevalentemente das relações humanas que existem 
nas instituições de educação ou em outras instâncias sociais, e que condicionam o 
processo de aprendizagem. O encontro pessoa a pessoa é tudo para João Bosco. Só 
assim se consegue aquele clima educativo de confiança mútua, imprescindível para a 
aplicação de seu Sistema. 
Procuramos desenvolver, até o presente capítulo, o desenvolvimento do 
Sistema Preventivo de Dom Bosco. Apresentamos seu perfil e contexto sócio-político 
em que viveu na Itália; apresentamos também as influencias no campo da educação 
que contribuíram com o pensamento de João Bosco; os princípios metodológicos, os 
elementos constitutivos e sua aplicação no ambiente educativo. Buscamos 
demonstrar quem foram os educadores no século XIX a utilizarem o sistema 
preventivo e a desenvolvê-lo de acordo com suas realidades. 
Acreditamos que o grande diferencial de João Bosco foi em pensar o sistema 
preventivo como proposta educativa para todas suas obras, e numa metodologia que 
abrange a formação integral do ser humano, visando todas as dimensões da pessoa. 
Sua proposta não leva em conta somente a formação do educando, mas, sobretudo, 
a formação do educador. Por fim, no último capítulo buscaremos compreender a 
importância da assistência/presença do educador junto dos educandos e a relevância 
do ambiente educativo na educação. 
 
 
 
 
73 WIRTH, Morand. Dom Bosco, e os Salesianos, p. 272. 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 O SISTEMA PREVENTIVO E A ESCOLA COMO AMBIENTE EDUCATIVO 
 
 
Neste capítulo mostramos o sistema educativo de João Bosco, compreendendo a 
importância da assistência/presença do educador junto aos educandos e a relevância 
do ambiente educativo na educação como um lugar acolhedor. 
 
 
3.1 O Ambiente Educativo 
 
 
Quando falamos em um ambiente onde ele seja educativo, muitos podem 
pensar em um bom prédio escolar, bonito, o bem construído, sólido, cujas paredes 
não racham, telhado que não tenha goteiras, piso tem uma cobertura, bem 
conservado, ter renovada a pintura, ambientes arejados ou com ar climatizado. Isso 
tudo pode valer para um prédio, se tratando de uma estrutura física no geral. 
De acordo com Rosa, “no âmbito da organização do ambiente educativo pode 
se organizar o espaço e também os materiais, disponibilizando e utilizando materiais 
estimulantes e diversificados, criar e manter as necessárias condições de segurança, 
de acompanhamento e de bem-estar das crianças.”74 De acordo com Zabala, “o 
ambiente é um educador à disposição tanto da criança como do adulto. Mas só será 
isso se estiver organizado de um certo modo. Só será isso se estiver equipado de uma 
determinada maneira.”75 
Rosa destaca que o ambiente é um todo indissociável que pode ser entendidocomo uma estrutura com quatro dimensões: temporal, relacional, funcional e física. A 
dimensão temporal refere-se à organização do tempo, e portanto, aos momentos em 
que são utilizados os diferentes espaços. A dimensão relacional refere-se às relações 
que se estabelecem, sendo que estas dizem respeito aos modos de acesso aos 
espaços, ou seja, as regras de utilização (pequenos grupos, individual, a pares) e a 
forma de participação do educador (observa, impõe, encoraja) as atividades que as 
 
 
 
74 ROSA, Manuela et al. A organização do ambiente educativo como mediador das experiências de 
aprendizagem das crianças, p. 
75 ZABALA, M. Qualidade em Educação Infantil, p. 239 
5 
 
 
 
 
 
crianças realizam. Um espaço pode assumir diferentes funções dependendo do tipo 
de atividades, o tapete pode ser o local das construções, mas também o das 
comunicações - dimensão funcional. Por último a dimensão física, refere-se ao 
aspecto material do ambiente compreendendo a suas condições estruturais e a 
organização dos objetos, sejam eles mobiliário, materiais ou elementos decorativos. 
Para Almeida, para aprender precisamos de uma motivação, porque cada 
estudante tem um estilo de aprendizado preferido, sendo alguns mais eficazes do que 
outros. Contudo, o autor relata que o bem-estar físico depende também da prevenção 
da autoestima que está interligada com a parte afetiva de cada aluno. Um aluno só 
consegue aprender se estiver com situações favoráveis, como por exemplo uma sala 
de aula arejada, com locais confortáveis e assim esses alunos conseguem se 
concentrar e animar para fazer as atividades. Ele aponta também sobre a parte afetiva 
entre alunos e professores, pois quando não temos relações tão boas dificilmente os 
discentes se sentirão dispostos a se engajarem nas atividades propostas de modo à 
efetivamente aprender. 
 
O ambiente educacional, entendido como um conjunto de elementos materiais e 
afetivos que circunda o educando, constitui um dos principais determinantes do 
aprendizado. O ambiente educacional é determinado por fatores ligados à 
instituição, ao professor e ao próprio educando, que devem contribuir para a sua 
manutenção e aprimoramento. Existem diversos instrumentos construídos e 
validados para a avaliação do ambiente educacional, nos seus vários aspectos. 
A avaliação do ambiente educacional é importante para fornecer dados e 
informações, que podem ser utilizadas para a tomada de medidas visando o seu 
aperfeiçoamento, o que implicará em aumento da qualidade do processo 
educativo.76 
 
 
Mesmo conhecendo algumas dimensões de ambiente, podemos perceber que 
alguns lugares se apoiam apenas no ambiente físico, se tratando de uma grande 
preocupação do mercado educacional atual, algumas escolas investem em material e 
espaço físico, mas esquecem77 que o grande protagonista é o educador, ele pode ter 
o melhor material didático, o qual também é importante, mas se ele não tem uma 
postura como um docente, que conhece as crianças e é próximo delas, nada adianta. 
 
 
 
 
 
76 DE ALMEIDA TRONCON, Luiz Ernesto. Ambiente educacional. Medicina, 270 
77 Ibid., p. 268. 
5 
 
 
 
 
 
Assim, João Bosco já pensava e aplicava em seu sistema de educação esse tipo de 
ensino. Então apresentaremos, conforme João Bosco, o melhor ambiente educativo. 
3.2 O ambiente educativo para João Bosco 
 
 
Para João Bosco, o sistema preventivo compõe-se de uma série de ações, de 
fatores, de pessoas, de ideias conjugadas e entrelaçadas. E um ponto fundamental 
do sistema preventivo de Dom Bosco é o ambiente educativo. Por ambiente educativo 
entende-se pessoas, estruturas físicas, normas, leis, modos de fazer que incidem 
sobre a vida de todos os que participam dessa comunidade educativa. Conforme 
Ferreira, “o sistema preventivo de Dom Bosco não é apenas um método”, para João 
Bosco existe um tipo de ambiente para se educar, “a escola deve ser a casa que 
educa, o pátio que acolhe, capela que eleva o pensamento ao Pai criador.”78 
Não bastava apenas um ambiente físico acolhedor, mas João Bosco desejava 
que houvesse um ambiente de harmonia e confiança entre os educandos e os 
educadores. 
 
Conforme João Bosco, os avisos e advertências deveriam ser dadas no mesmo 
instante que surgiam as necessidades, sendo assim, o educador deve falar com o 
educando no mesmo instante que ocorreu uma falta ou na entrada do novo aluno na 
“casa salesiana”. Quando se deixa para dar algum aviso no dia seguinte pode ocorrer 
que o educando não entenda a correção feita ou o descumprimento de alguma norma 
ou regra do ambiente. Quando um aviso tem como objetivo a conscientização de 
todos, ele deve ser dado abertamente, mas quando visa a correção ou orientação de 
apenas um educando deve ser feita em particular, para não causar constrangimento 
a esse discente. 
 
Viver essa confiança, essa lealdade e a clareza de relacionamento acima 
descrito, é o caminho para evitar descontentamentos. Os jovens, porém, só 
terão confiança em seus educadores se virem que estes realmente buscam 
o bem deles. É impossível haver esse ambiente de confiança se ao 
relacionamento “pessoa a pessoa” que tem por base o amor se substitui um 
relacionamento baseado na frieza de um regulamento, um relacionamento 
entre papéis: diretor-professor, professor-professor, professor-aluno, diretor- 
funcionário, etc. 79 
 
 
 
78 DOM BOSCO, [apud FERREIRA, 1952] p. 113 
79 FERREIRA, Antônio da Silva. Não basta ama-a pedagogia de Dom Bosco em seus escritos, p. 09 
5 
 
 
 
 
 
 
Para João Bosco, o ambiente precisa ser um lugar onde haja confiança mútua 
entre os educadores e os alunos. Sem a confiança mútua, ele diz que é impossível 
educar. Outra característica é um ambiente de familiaridade e respeito. Ferreira 
escreve que o segredo da educação salesiana é essa familiaridade, que se convive 
com respeito. Na Carta de Roma João Bosco adverte: “veja, a familiaridade gera o 
afeto e o afeto produz confiança”. Essa tríade se torna um caminho fundamental em 
seu sistema, pois sem a familiaridade não se chega ao afeto e ao coração dos jovens. 
Outra característica de um ambiente salesiano, é a alegria. “A alegria se exprime na 
vivacidade do pátio, dos momentos de recreação. É então um termômetro que indica 
como procede o trabalho educativo nas escolas”. Essa tríade se torna um caminho 
fundamental em seu sistema, pois sem a familiaridade não se chega ao afeto 
e ao coração dos jovens. 
O empenho sério no cumprimento do dever é outra característica colocada por 
Dom Bosco para que haja um ambiente salesiano. Este ambiente educativo deve 
proporcionar aos jovens uma liberdade sadia, ou seja, trata-se de deixar que os jovens 
sejam jovens, podendo se expressar com liberdade. 
 
Dom Bosco desejava que o educando progredisse na formação de sua 
consciência e na consolidação de suas convicções, a tal ponto que adquirisse 
plena autonomia no querer e praticar o bem. Para isso concorria ao cultivar 
dimensão transcendente, num relacionamento pleno. 80 
 
Esse ambiente deve proporcionar a formação integral dos alunos, que vai além 
do intelectual, deve favorecer que o educando tenha consciência de seus atos e 
realize o bem, sem a necessidade de um vigia para punir ou não suas ações. O 
educando necessita de um processo educativo que o ajude a amadurecer sua 
consciência a ponto de assumir suas falhas e redimir-se. Falamos que o ambiente 
educativo não precisa de “guardas ou vigias”, mas precisa de educadores atentos e 
que estejam próximos dos educandos, ou seja, o ambiente educativo se constrói com 
uma assistência e uma presença significativa do educador no meio dos jovens. Por 
isso aprofundaremos também este tema. 
É de suma importância para o espírito educativo de João Bosco a assistência 
e a presença do educador. A tradição salesiana regulamentada fala do assistente, que 
 
 
80 FERREIRA, Antônio da Silva. Não basta ama-a pedagogia de Dom Bosco em seusescritos, p. 11 
5 
 
 
 
 
 
supomos sempre alguém que se faz presente. Obviamente, trata-se de uma presença 
não somente física, mas educativa, em sentido pleno. Não se trata de um vigilante ou 
guardião. Segundo a tradição educativa salesiana, trata-se de uma presença capaz 
de aproveitar, com sabedoria e tato educativo, todas as oportunidades que se 
apresentam para que o educador realize intervenções intencionalmente educativas. 
Ferreira afirma que, “a presença do educador, pode ser o início de uma 
amizade. A intenção é obter a continuidade do crescimento.”81 Jaime Rodrigues 
acrescenta que, “a assistência salesiana é Dom Bosco no meio e na mais autêntica 
presidência da caridade, em nome de Deus e com seu amor, para a promoção 
humano-divina dos jovens”.82 
Scaramussa e Zeferino, colocam três tipos de assistências aos educandos: 
 
 
Assistência como presença gratuita: o êxito da comunicação educativa não 
depende tanto de habilidades técnicas de abordagem, mas principalmente 
das motivações e intenções que transparecem na relação que se estabelece. 
Assistência como presença ativa: a presença do educador não deve ser 
centralizadora, impositiva e controladora. Também não pode ser de mero 
espectador da atividade do jovem. Presença ativa significa atuar junto com o 
educando, intervindo de forma discreta, envolvente, amorosa, estimulando e 
facilitando seu protagonismo. 
Assistência individualizada: centrada nas situações particulares dos jovens, 
especialmente em suas necessidades. É diferenciada de acordo com a idade 
e as características pessoais de cada um. É personalizada. 83 
 
 
João Bosco, acreditava na disciplina sem castigo. Segundo CESAP, “só 
entendia a correção dentro de uma concepção de educador que conseguia conquistar 
a confiança e o coração do educando e que pudesse expressar-lhe assim, 
sinceramente, todos os seus sentimentos. Por isso, afirmava que nunca precisou fazer 
uso de castigo. A correção deve acontecer constantemente, especialmente com os 
jovens.”84 
 
Nunca se deve adotar os meios coercitivos, mas somente aqueles da 
persuasão e da caridade. Se o castigo se tomar necessário, ou seja, se 
depois de esgotados todos os outros meios, perceber-se esperança de obter 
 
 
81 Ibid., p. 27 
82 RODRIGUES, p. 61 
83 SCARAMUSSA, Tarcísio Pe; ZEFERINO, Genésio. Pedagogia do amor: o sistema preventivo de 
Dom Bosco. p. 11 
84 SCARAMUSSA, Tarcísio Pe; ZEFERINO, Genésio. Pedagogia do amor: o sistema preventivo de 
Dom Bosco, p. 11 
5 
 
 
 
 
 
assim algum proveito por parte do interessado, que seja aplicado com 
prudência, no momento adequado; jamais em público; e que não dê a 
impressão de se estar agindo sob paixão.85 
 
 
O sistema preventivo de Dom Bosco, é um estilo de educação, segundo 
Ferreira, é uma experiência vivida pelo João Bosco com os jovens do seu tempo que 
depois se espalhou por toda terra, por 133 nações. Sempre preservando o mesmo 
estilo “salesiano” de ser.86 
A preventividade, no entender de João Bosco, não pode ser concebida como 
simples proteção. O Sistema preventivo, revela-se no sentido de “chegar com 
antecedência” 87A educação é uma forma de prevenção da marginalização e de 
melhoria da sociedade. No entanto, a concepção meramente disciplinar de prevenção 
como ação externa à pessoa, no sentido de vigiar, defender, impedir, isolar, preservar, 
porque “prevenir é melhor que remediar”, não alcança o verdadeiro significado contido 
no Sistema Preventivo. A proatividade do Sistema Preventivo direciona-se para a 
consciência e as energias interiores da pessoa, e compreende todos os elementos 
educativos de razão, religião e amorevolezza, assistência-presença que a ajudem a 
construir-se positivamente como sujeito, capacitando-se para um posicionamento 
crítico e para atuar com liberdade em nossa sociedade. 
 
 
3.2.1 A conquista dos jovens 
 
 
Ferreira aponta que “o sistema preventivo não se constitui em um sistema no 
sentido próprio da palavra, mas sim um estilo de educação.” 88 Constitui-se também 
em convicções, atitudes, estruturas, metodologia e uma forma própria. 
Trata-se de uma experiência vivida pelo próprio João Bosco, o sacerdote que 
educava os jovens de seu tempo que depois foi se adaptando nas mais diversas etnias 
e culturas, mas sempre conservando o mesmo estilo salesiano de ser. Não se trata 
de fazer como João Bosco fazia em seu tempo, no entanto trata-se de analisar como 
 
 
 
 
85 Carta sobre Castigos, MB 16,439-47 
86 FERREIRA, Antônio da Silva. Não basta ama-a pedagogia de Dom Bosco em seus escritos, p. 31 
87 RODRÍGUEZ F. Sabedoria do Coração: A assistência salesiana p.27 
88 FERREIRA, Antônio da Silva. Não basta amar: a pedagogia de Dom Bosco em seus escritos p. 31 
5 
 
 
 
 
 
ele iria agir nas situações existentes hoje. Para João Bosco, “preventividade consiste 
em chegar com antecedência”. 89 
Ferreira nos mostra que o centro de tudo para João Bosco, era o Jovem, que 
através deles poderemos mudar tudo a nossa volta. Aquele encontro real de face a 
face com o educando é o que favorece um clima de educação de confiança, 
indispensável para a aplicação do sistema preventivo. 
De acordo com Cabrino, o método preventivo de Dom Bosco é apoiado na 
reciprocidade, por meio do diálogo busca-se conquistar os jovens e assim fazendo-os 
pensar sobres seus atos, e levando-os também a refletir sobre as consequências 
desses atos.90 
Segundo Perazzo: 
 
 
O educador deve estar entre os jovens em todas as circunstâncias, 
estabelecendo uma relação de afeto e confiança, através do amor e do 
respeito, valorizando a reciprocidade, no qual educadores e educando 
devem-se colocar um no lugar do outro, a fim de entender a necessidade de 
cada um. Assim a aprendizagem ocorre de ambos os lados.91 
 
 
Os jovens precisam ser ativos e participativos em sua educação e para isso 
acontecer seus educadores precisam buscar essa proximidade com os alunos. Sendo 
o afeto o primordial na obra de João Bosco, muito mais do que amar os educandos, 
os jovens têm que se sentir amados pelos seus educadores. Logo o docente deve 
manter um ambiente familiar entre os alunos: 
 
[...] apresentando-se como pai e declaradamente como amigo dos alunos, 
participando com interesse de suas diversões, em comunhão de vida com 
eles, mas com a função e a efetiva capacidade de guiá-los e ajudá-los a 
adquirir os valores religiosos, éticos, culturais ou profissionais, ele consegue 
ao mesmo tempo, a confiança e o respeito, fundamentos da interação 
educativa. O amadurecimento dos jovens acontece, assim, num ambiente de 
familiaridade, de espontaneidade e de liberdade, na convivência com o 
educador, sempre presente entre os alunos.92 
 
 
 
 
 
89 RODRÍGUEZ F. sabedoria do coração, p. 72 
90 CABRINO, p. 290 
91 PERAZZO, Tatiane. Pedagogia de Pestalozzi e Sistema Preventivo de Dom Bosco: Influências e 
aproximações p.289 
92 SCARAMUSSA, Tarcísio. O sistema preventivo de Dom Bosco: Um estilo de educação p. 65-66. 
5 
 
 
 
 
 
Precisa manter esse ambiente de familiaridade entre todos, mas João Bosco 
realça a relevância de educar na religião, sendo para ele o ponto central da sua 
estrutura educativa. No qual todos os educadores carecem de ter os atributos da 
caridade e da religião. Consoante a Braido, “no ensino de João Bosco, entre as 
devoções, ocupa lugar privilegiado a devoção à Virgem Mãe.” 93 Os jovens de seu 
tempo eram, em sua maioria no oratório, órfãos, por isso a necessidade de apresentar 
a eles uma “mãe” que caminha com eles e os auxilia no amadurecimento da vida. 
A presença da família na escola para João Bosco era essencial, pois devem 
promover orientação e educação. A educação familiar e escolar se complementa. 
Para tanto, o autor João Bosco, aponta alguns pontos fundamentais para o 
acontecimento do Sistema Educativo. “Primeiro, ganhar o coração do jovem no qual 
voltamos ao sonho de nove anos, não é com pancadas, mas com a mansidão e a 
caridade

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