Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 FACULDADE PRÓMINAS FACULDADE ÚNICA Ana Luiza Faria Santos O SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO E A CENTRALIDADE DO AMBIENTE EDUCATIVO SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 2021 2 Ana Luiza Faria Santos O SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO E A CENTRALIDADE DO AMBIENTE EDUCATIVO Monografia apresentada à Faculdade Única como parte das exigências para a obtenção do título de Gestão Escolar: administração, supervisão e orientação. FACULDADE ÚNICA São José dos Campos - SP 2021 3 RESUMO O presente trabalho tem como foco de estudo o Sistema Preventivo de Dom Bosco, com destaque para a centralidade do ambiente educativo. Seu objetivo é tratar e compreender como João Bosco elaborou e aplicou o Sistema Preventivo. Trata-se de uma pesquisa de natureza bibliográfica que tem como motivação primeira as experiências das autoras em ambientes educacionais salesianos. Retrata como esse sistema foi elaborado e desenvolvido pelo educador João Bosco no século XIX, suas bases pedagógicas e as influências educacionais de grandes pedagogistas da época. Ressalta a importância da “assistência/presença” do educador junto aos educandos e a relevância do ambiente na educação. Neste sentido pode-se perceber, com a prática do Sistema Preventivo de João Bosco, que os jovens se sentem mais acolhidos e motivados neste ambiente educacional. Palavras-chave: Sistema Preventivo - Ambiente Educativo - João Bosco - Assistência\Presença - Educador. 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 1. JOÃO MELQUIOR BOSCO: UM PROJETO DE VIDA ......................................... 12 1.2 Contexto educacional na Europa: dois sistemas e uma escolha .................. 17 1.2.1 Sistema Repressivo .......................................................................................... 20 1.2.2 Emergência do sistema preventivo ................................................................... 22 2. SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO ......................................................... 24 2.1 Fontes inspiradoras do Sistema Preventivo ................................................... 24 2.2 Tripé do sistema preventivo ............................................................................. 28 2.3 Oratório festivo: origem, princípios e fundamentos ...................................... 31 3 O SISTEMA PREVENTIVO E A ESCOLA COMO AMBIENTE EDUCATIVO ....... 36 3.1 O Ambiente Educativo ...................................................................................... 36 3.2 O ambiente educativo para João Bosco .......................................................... 38 3.2.1 A conquista dos jovens ..................................................................................... 41 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 45 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47 5 INTRODUÇÃO Um trabalho em torno da proposta educacional de Dom Bosco decorre pelo fato de que vivenciamos essa proposta educativa em dois ambientes salesianos e tivemos contato com um plano educacional diferenciado, denominado “Sistema Preventivo de Dom Bosco”, o qual nos chamou à atenção em sua amplitude e resultados obtidos, pois busca desenvolver no educando uma formação integral. Este Sistema Educacional, capaz de formar sujeitos em todas as suas dimensões, pode se tornar conhecido por todos os educadores e alunos do curso de pedagogia, sendo ele uma metodologia educacional que tem como potencialidade ser desenvolvido em diferentes ambientes. A motivação da pesquisa foi compreender porque o ambiente educativo salesiano é diferenciado, além de todo processo histórico do Sistema Preventivo e de João Bosco, entender como este sistema funciona, atua e qual seu grande diferencial para estar presente em tantas escolas salesianas pelo mundo. Uma pesquisa bibliográfica, que visitou os escritos de João Bosco, pensadores e comentadores da educação, tendo em vista descrever o contexto histórico do século XIX na Itália e os métodos educacionais da época, quais as possíveis influências para João Bosco, a sua abordagem para o Sistema Preventivo e a centralidade do ambiente educativo. O procedimento utilizado na pesquisa apontou como toda uma realidade social, familiar, política e econômica pode influenciar em determinadas situações e decisões, e desta forma manifestar diversos pensamentos e posturas diante desta realidade. Temos como propósito de estudo, compreender como João Bosco elaborou e aplicou o Sistema Preventivo dando relevância para um cuidado especial para o ambiente educativo. Consideramos ainda que se trata de uma metodologia para um educador, uma criança ou um jovem, perceberem que são amados, compreendidos e acolhidos em um ambiente familiar. O sistema de João Bosco faz com que o professor deixe de ser apenas um educador e passe a ser um amigo dos discentes, prevenindo e sanando os possíveis impasses mesmo antes que aconteçam. Destacaremos o 5 ambiente educativo, que não é apenas físico, mas formado pelos docentes, funcionários e membros da gestão. No primeiro capítulo apresentamos como o Sistema Preventivo foi elaborado e desenvolvido pelo educador João Bosco no século XIX. Tendo em vista a necessidade de conhecer as referências desse sistema, apresentamos um pouco da sua história de vida e o contexto social em que viveu, em particular ressaltando as influências recebidas da sua mãe e dos modelos de educação predominantes da época. No segundo capítulo, buscaremos conhecer os fundamentos do Sistema Preventivo de Dom Bosco, suas bases pedagógicas, as influências educacionais de grandes pedagogistas da época e a originalidade do método de João Bosco e suas bases: razão, religião e amorevollezza. Veremos também o Oratório de Valdocco, como início da obra salesiana e suas atividades, procuraremos observar o Sistema preventivo como proposta e método educacional. Por fim, no terceiro e último capítulo buscaremos demonstrar a importância do ambiente educativo de João Bosco como um espaço acolhedor, sobretudo para os jovens, com destaque para a “assistência/presença” do educador junto dos discentes. 5 1. JOÃO MELQUIOR BOSCO: UM PROJETO DE VIDA Para compreendermos como o Sistema Preventivo foi elaborado e desenvolvido pelo educador João Bosco no século XIX e sua aplicabilidade no ambiente educativo, necessitamos conhecer um pouco de sua história de vida e o contexto social e educacional em que ele viveu. João Melquior Bosco viveu entre 16 de agosto de 1815 e 31 de janeiro de 1888, no Colle dos Becchi, no Piemonte, Itália. Um pequeno vilarejo próximo de Castelnuovo de Asti. Perdeu seu pai com apenas dois anos de idade, por isso a educação e o cuidado de João Melquior Bosco e seus dois irmãos ficaram por conta de sua mãe, Margarida Occhiena. Podemos dizer que ela foi a responsável pela educação formal e religiosa de seus filhos. Seu maior cuidado foi instruir os filhos na religião, torná-los obedientes e ocupá-los em coisas compatíveis com a idade. “Quando eu era pequenino, ela mesma me ensinou as orações; quando pude juntar-me aos meus irmãos, fazia-me ajoelhar com eles de manhã e de noite, e juntos rezávamos as orações e o terço. Lembro-me de que ela mesma me preparou para a primeira confissão: acompanhou-me à igreja, confessou-se antes de mim, recomendou-me ao confessor e depois ajudou-me a fazer a ação de graças. Continuou a ajudar-me até julgar-me capaz de sozinhoconfessar-me dignamente.1 João Bosco provinha de uma família pobre. Eram camponeses e muito trabalhadores. Esse ambiente proporcionou que João Bosco crescesse um homem educado e bondoso, mesmo com todas as adversidades. Aos oito anos de idade inicia seus estudos, com a ajuda de um aldeão que lhe ensina a leitura. Apesar das dificuldades e da implicância de seu irmão Antônio, com seus estudos, “João Bosco não desistiu de estudar para ser padre e instruir os outros.”2 1 BOSCO, João M. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, p. 27 2 CIMATTI, Vicenti. Dom Bosco educador, p.19 5 Aos nove anos de idade, o próprio João Bosco afirma que teve um sonho, no qual ele acreditou como seria seu futuro trabalho com a juventude.3 “Neste sonho, parecia que Joãozinho Bosco estava perto de sua casa, com muitos meninos que brincavam numa área espaçosa. No sonho de João Bosco, em sua descrição: alguns riam, não poucos blasfemavam. Ao ouvir aquelas blasfêmias, lancei-me imediatamente no meio deles, tentando, com socos e palavras, fazê-los calar.”4 No mesmo instante da briga, apareceu um homem e disse a Joãozinho Bosco: “Não com pancadas, mas com mansidão e caridade é que deverá ganhar esses seus amigos. Ponha-se logo a instruí-los sobre a feiura do pecado e a preciosidade da virtude.”5 Foi através desse sonho que João Bosco dedicou-se a instrução dos jovens pobres e abandonados. Podemos dizer que com esse sonho recebe a investidura de educador. Com o tempo João Bosco começa a entender que precisava gostar daquilo que mais atraia os seus jovens, para que assim conseguisse interagir melhor com eles. Esse valor pedagógico João Bosco o coloca em prática desde sua juventude. Ele entendeu que com obediência e aquisição da ciência (dos estudos) ele conseguiria educar aqueles meninos. E aos poucos os lobos vão se transformando em cordeiros. Qualquer interpretação que se queira dar a este sonho, certo é que nele se vê claramente esboçada toda a vida futura de D. Bosco, a sua vocação, os meios de empregar, o método educativo a seguir, a classe de pessoas a que deverá dirigir os seus cuidados, o resultado final. O sonho repete-se com maior clareza de pormenores quando D. Bosco conta aos 16 anos: nele há a promessa dos meios materiais indispensáveis para educar inúmeros jovens. Repete-se aos 19 anos: nesse uma ordem imperiosa lhe impõe a educação da mocidade. Aos 21 anos é definida a classe de jovens de cujo bem espiritual deverá ter particular cuidado. Mais uma vez, aos 22 anos, lhe é indicada uma grande cidade, Turim, como seu primeiro campo de atividade.6 João Bosco vê no sonho que teve aos nove anos um projeto de vida, no qual ele investirá toda sua energia para educar os jovens num caminho de vida honesta e humilde, fazendo com que os jovens se tornem bons cristãos e honestos cidadãos. Uma formação capaz de tirar os jovens da delinquência e os capacite para uma vida mais digna. 3 BOSCO, Dom João. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, p.16. 4 Ibid., p.16. 5 BOSCO, Terésio. Dom Bosco: uma biografia nova, p. 16 6 CIMATTI, Vicenti. Dom Bosco, educador, p.23. 5 Foi nesse período da juventude que João Bosco descobriu sua vocação como sacerdote e buscou realizar seus estudos e entrar para o seminário. “A partir de novembro de 1831, acha-se em Chieri a fim de aplicar-se seriamente aos estudos”.7 Entre os anos de 1835-1841 estudou no seminário de Chieri e foi ordenado padre. Depois disso ele teve que discernir qual seria seu campo de atuação. “Desde os primeiros domingos, refere Miguel Rua, percorreu a cidade para fazer uma ideia da condição moral em que se encontrava a juventude”.8 Observando o grande número de jovens que vadiavam pelas ruas e praças João Bosco se decidiu por trabalhar com uma proposta de educação voltada em especial para os jovens. 1.1 A Itália no século XIX: unificação e migração João Bosco nasce em um momento histórico no qual a Europa transita do Antigo Regime para o mundo moderno, um contexto marcado pelas chamadas revoluções liberais, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. É no calor desses movimentos que o processo de unificação da Itália ocorre em meados do século XIX. Os ideais nacionalistas estavam cada vez mais fortes, principalmente após as revoluções liberais que aconteceram em toda extensão da Europa. Até a primeira metade do século XIX a Itália estava organizada em pequenos reinos, no qual muitos estavam sob domínio dos austríacos. Alguns destes reinos eram governados de forma autoritária por famílias reais da Áustria e da França. A Igreja Católica também era detentora de grande poder político em algumas regiões. Neste contexto, não havia unificação de leis, moeda, língua e sistema político. Portanto, ainda não havia um país com nome de Itália com o poder centralizado. Como causas da unificação podemos citar que a região norte da Península Itálica, reino de Piemonte-Sardenha, era muito mais desenvolvida do que o centro e o sul. Interessava à nobreza e, principalmente, à burguesia industrial que ocorresse a unificação, pois assim aumentaria o mercado consumidor, além de facilitar o comércio 7 WIRTH, Morand. Dom Bosco, e os Salesianos, p. 26. 8 Ibid., p. 33. 5 com a unificação de padrões, impostos, moeda, etc. Podemos afirmar que, o movimento de unificação teve início e foi liderado pelo reino de Piemonte-Sardenha.9 Sabemos que o processo de unificação italiana não foi pacífico. O Império Austro-Húngaro não queria ceder os reinos controlados pelas famílias reais austríacas. Em 1859, com apoio de movimentos populares, liderados por Giuseppe Garibaldi, e de tropas francesas, os piemonteses entraram em guerra contra o Império Austro-húngaro. Vencedores, os piemonteses conquistaram o reino da Lombardia. Foi o primeiro passo em direção à unificação.10 Em 1861, os Estados Pontifícios (governados pela Igreja Católica) foram anexados à Alta Itália. Formou-se assim o Reino da Itália que teve como primeiro rei Vitor Emanuel II.11 No ano de 1866, os italianos, com apoio da Prússia, anexaram o reino de Veneza que até então era governado pelos austríacos. Faltava apenas anexar Roma que era a capital do Estado da Igreja Católica. Nesta época, Roma era muito bem protegida por militares da França. Porém, em 1870, a França entrou em guerra contra a Prússia, sendo que as tropas francesas, instalada em Roma, foram convocadas para a guerra. Sem a proteção militar francesa, os italianos conquistaram a cidade, transformando-a na capital da Itália, que teve sua unificação concluída.12 Neste período a Itália viveu de forma gradual e diversificada uma transfiguração do modelo secular de sociedade das ordens (aristocracia, clero, estado) para uma sociedade burguesa, fundada na divisão de classes sociais.13 Sendo uma sociedade marcada por um proletariado industrial conhecedor de sua miséria e das injustiças. A Revolução Industrial dispõe de repercussões na vida humana: técnico-científico, econômico, social, cultural, político. Com marca capitalista a revolução industrial teve sua origem na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII. Na primeira metade do século XIX a revolução industrial manifestou-se de maneira significativa na Bélgica, França, Alemanha, Suíça e Estados Unidos, embora com graus diferentes.14 9 LENTI, Arthur J. Dom Bosco: história e carisma 2 – expansão: de Valdocco a Roma (1850-1875), p. 29. 10 Cf. Ibid., p. 30. 11 Cf. Ibid., p. 35. 12 Cf. LENTI, Arthur J. Dom Bosco: história e carisma 2, p. 38. 13 Cf. BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p. 17. 14 Cf. Ibid., p. 17. 5 Com o crescente progresso industrial da Inglaterra, França, Alemanha, Áustria, Rússia, na segunda metade do século XIX, a Europa conquistao cume da industrialização e a consolidação do capitalismo. Isso gerou uma forte competição econômica cada vez mais veloz e uma corrida armamentista. Ao mesmo tempo cresce pelo mundo uma expansão comercial, política e cultural em nível mundial. Esta mudança de cenário foi mais visível no colonialismo, com mudanças drásticas na extensão extra europeu. Ingressando os Estados Unidos e Japão como grandes potências.15 Por volta de 1840 a 1914 a imigração estava cada vez maior, assim cerca de 35 milhões de europeus deixaram a Europa e se desmembraram por todo mundo. O crescimento populacional na Europa era provocador, a cada 50 anos, praticamente, dobrava o número de habitantes. Com a sucessiva dificuldade da vida econômica, social, política, conjuntamente aumenta o pluralismo. De acordo com Braido: Cresce um pluralismo mais evidente das concepções de mundo, das ideologias políticas, dos conceitos morais e religiosos. Emergem grandes orientações de ideias e de ação divergentes nas concepções e organizações tanto dos destinos individuais quanto das formas de vida associada. Apesar de persistentes forças conservadoras e às vezes reacionárias, avançam ideologias novas: liberais, continuando a natureza burguesa da revolução francesa; democráticas e radicais, semelhantes às suas expressões jacobinas; nacionais e nacionalistas, de cunho romântico; mais tarde, socialistas de um lado e cristãs-sociais de outro.16 Com a industrialização houve o aumento das fábricas, porém a pobreza estava presente em toda a Itália, e mais intensa no campo e nas montanhas. Com este contexto houve uma elevação da migração para a cidade evidenciando a falta de estrutura e saneamento básico para atender cada vez mais pessoas nas cidades e assim, as doenças urbanas começam a aparecer. Em Turim a população cresce consideravelmente, em 1808 havia 65 mil habitantes, já no final do século, com a chegada da industrialização, em 1891 alcança-se o número de 320 mil habitantes.17 [...] A revolução industrial significou algo mais do que a introdução da máquina a vapor e dos sucessivos aperfeiçoamentos dos métodos 15 Ibid., p. 18 16 Cf. BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p. 19. 17 Cf. Ibid., p. 25. 5 produtivos. Ela representou o triunfo da indústria capitalista, capitaneada pelo empresário capitalista que foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob a seu controle convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos.18 Paralelo ao progresso industrial, encontramos um povo sofredor. A nova época da humanidade foi marcada por um “buraco negro: a questão operária. Nas cidades industriais forma-se uma nova classe, a dos proletários, que outra riqueza não possui a não ser os próprios braços e dos próprios filhos”.19 As condições dos trabalhadores são assustadoras e desumanas. As “casas” dos operários são cantinas onde se amontoava toda a família, sem ar, sem luz, fétida pela umidade. A alimentação é insuficiente, muitos tomam apenas uma refeição por dia, “alimento usual são as urtigas ferventadas”, relata João Bosco em suas visitas aos lugares onde os jovens se encontravam. Nas fábricas se veem um grande número de crianças trabalhando como se fossem adultos, com jornadas de 12 horas no inverno e 16 horas no verão, muitos são dizimados pelas doenças e pela desnutrição. É neste cenário que João Bosco procurou trabalhar com seus jovens, a fim de promover uma educação integral, capaz de levar os jovens a uma vida mais digna. Observando esta realidade política e social da Itália, procuraremos agora analisar seu contexto educacional. 1.2 Contexto educacional na Europa: dois sistemas e uma escolha Ao mesmo tempo em que, a Itália passava por um processo de unificação e de desenvolvimento industrial, ocorria também uma efervescência no campo educacional. Foi neste contexto que Dom Bosco fez suas experiências no trabalho com os jovens e observou a importância de se desenvolver um sistema preventivo. De acordo com Cabrino, o Sistema Preventivo de Dom Bosco não surgiu por inspiração própria, mas estava relacionado aos acontecimentos da época.20 Vivia-se um clima de preventividade no campo da política, da área social, nas questões penais e de modo particular na área educacional. “Junto com a educação preventiva emerge claramente na história a ideia de educação como prevenção, da forma que for realizada, com métodos “repressivos” ou “preventivos”“.21 O conceito chave da época 18 MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia? p. 12 e 13 19 BOSCO, Teresio. Dom Bosco: uma biografia nova, 2002, p. 136. 20 CABRINO, Janaína Paulon. O Sistema preventivo de Dom Bosco: formação e influências. p. 274 21 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p. 39 5 era prevenir para diminuir os casos de violência urbana, buscando manter tranquila a sociedade. Ainda no século XIX observamos que o Estado procurava disponibilizar escola gratuita para os pobres, assim a escola primária encontra-se gratuita, universal e obrigatória. Todavia a educação qualificada fica reservada apenas aos filhos da burguesia. Podemos dizer que neste período cresceu a rede escolar, surgiu a pré- escola, o aumento da escola elementar, a rede secundária e superior. Para os burgueses era oferecida uma educação propedêutica e clássica na rede secundária, já os trabalhadores obtinham somente conhecimento técnico. A educação tinha como objetivo formação cívica, consciência nacional e patriótica do cidadão. A educação era um importante instrumento de comando social e político em uma sociedade que passava por variadas transformações, com ideologias e manifestações culturais diversas. Nesse contexto, a educação tem como função: [...] para as burguesias, trate-se de perpetuar o próprio domínio técnico e sociopolítico mediante a formação de figuras profissionais capazes e impregnadas de “espírito burguês”, de desejo de ordem e de espírito produtivo; para o povo, de operar uma emancipação de classes inferiores mediante a difusão da educação, isto é, mediante a libertação da mente e da consciência para chegar à libertação política. A burguesia tem frequentemente uma visão paternalista da educação: o povo deve ser educado para evitar desordens sociais, formando-se pelos valores burgueses [..].22 Na presença do crescimento industrial aparecia a necessidade de alfabetizar um maior número de pessoas. O método Lancasteriano foi uma alternativa, no qual o aluno que se destacava aprendia anteriormente com o professor e posteriormente seria monitor de um grupo de alunos. Um sistema rígido, a entrada dos estudantes acontecia por meio de fila, não era permitido falar alto, os avisos eram indicados por meio de cartazes, havia um professor por sala que monitorava do alto de um palanque e quando necessário interferia. Após 1830 há uma grande procura pela cultura e pela escola popular, as catequeses tem grande responsabilidade na propagação pedagógica na Europa. Uma novidade na cultura é manifestada, como romântica, enaltecendo a religiosidade e os 22 CAMBI, Franco. História da pedagogia, p.408. 5 sentimentos. Essa transformação cultural provocou modificações na pedagogia, acarretando novos princípios teóricos, representado por Frobel, Pestalozzi, Girard. Conforme Braido: Na primeira metade do século floresce o romantismo com Fröbel, Pestalozzi, Girard, e outros; aparece a escola realista de Herbart; cresce o espiritualismo; um pouco mais tarde, a pedagogia e a didática positivista. No Piemonte é sensível, a partir dos anos 30, a contestada simpatia pelos asilos infantis de Ferrante Aporti, iniciados em Cremona em novembro de 1828.23 Os asilos infantis eram aceitos por muitas pessoas por se tratar de um lugar onde as criançasestariam longe dos vícios, prevenindo antes que os males instalem- se em seus corações. Os pensamentos e ideais românticos contrastavam ao racionalismo iluminista. “Enquanto na Ilustração a razão é tudo, para os românticos ela é apenas um dos aspectos da força espiritual humana, que se compõe também da imaginação, da incerteza, do contraditório”.24 Acreditava-se que a escola deveria ser para todos, buscando formar um homem integral e cidadão, e a família tem que assumir seu papel educativo. Conforme Braido, dois sistemas educativos estavam em debate no século XIX: o Sistema repressivo e o Sistema preventivo. Ambos surgiram na França, com distintos significados e assim despertou diversas discussões sobre a liberdade da escola. Enquanto alguns colégios buscavam implantar o sistema preventivo, outros abandonavam a sua tradição liberal e assumiam a tradição pedagógica dos colégios militares do “antigo regime”, que tinham um “estilo de quartel”. Na Bélgica vemos mais forte o acolhimento do sistema repressivo, em sua constituição de 1831 pode se ver no art. 17 que “o ensino é livre, qualquer medida preventiva está proibida; a repressão dos delitos não é regulamentada senão pela lei”.25 Podemos observar que as discussões são várias no campo educacional, seja devido a escolha dos métodos ou pelas linhas de pensamento. Diante desse contexto educacional na Europa, de modo particular na Itália, João Bosco foi educado, e fez a escolha para atuar com os jovens. Sua escolha não aconteceu por acaso, João Bosco embora não tenha realizado um contato direto com 23 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p. 26. 24 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e do Brasil, p. 204. 25 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p, 69. 5 a pedagogia científica oficial e acadêmica, podemos afirmar que ele teve contato com diversos teóricos contemporâneos da pedagogia, como Antônio Rosmini, Gian Rayneri e outros, que pensavam uma educação integral, responsável e livre. João Bosco recordou também da sua educação familiar, que era de proximidade e afeto; recordou ainda o distanciamento que existia entre ele e seus educadores no período de sua formação, ele afirmava que não queria ser assim com seus meninos. Por isso sua escolha pelo Sistema Preventivo.26 Na sequência desse estudo, apresentamos o sistema repressivo e depois a emergência do sistema preventivo. 1.2.1 Sistema Repressivo Na época de João Bosco, havia dois sistemas educacionais, nas escolas públicas predominava o método repressivo, enquanto nas escolas privadas começava a ser colocado em prática o método preventivo. Podemos dizer que o sistema repressivo deriva de modo particular do antigo regime, dos colégios militares, no qual ressalta o método do vigiar e punir, ou seja, as regras e normas são apresentadas aos estudantes, mas não internalizadas como valores, depois se organiza uma equipe que os vigie e, quando um aluno comete o erro é imediatamente punido perante os colegas como exemplo, para que os outros não façam o mesmo no futuro. O sistema repressivo pode ter como base também o pensamento do filósofo Thomas Hobbes (1588-1679), com sua visão mecanicista acerca do ser humano, ele afirmava sobre as necessidades que os homens têm de se submeter às autoridades de forma irrevogável para atingir um objetivo, pois o ser humano precisa de leis e de alguém que o conduza, para que não seja guiado apenas por suas paixões e vontades. A importância do rigor da disciplina na formação do indivíduo será explicitada no pensamento de Durkheim. Para ele “a educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontrem ainda preparadas para a vida 26 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p, 141. 5 social.”27 Expressa também, que precisa instigar na criança a obediência que o dispositivo pedagógico transformará em espírito de disciplina. “Suas tendências serão vigiadas, medidas, avaliadas, instigadas e fortalecidas aos moldes de um adulto civilizado.”28 A principal função da disciplina é atuar como um instrumento de formação moral. Como se a moralidade da classe dependesse da firmeza do mestre, e uma classe indisciplinada é um perigo moral, porque a efervescência é coletiva. Portanto, Durkheim afirma que “em uma classe bem disciplinada não há confusão, nem o sofrimento, mas a saúde e o bom humor. Cada aluno está em seu lugar e sente-se bem onde está.” 29 Michel Foucault (1926-1984), por outro lado, fará uma leitura crítica desses sistemas, justamente em função de serem capazes de domesticar os seres humanos. Ele relata que no passado os homens foram educados por uma disciplina rígida, e ainda hoje as instituições (família, escola, religião) moldam o ser humano para a vida social. Nesse contexto, ele reflete o uso de açoites e palmadas para a correção de meninos e meninas que representavam mau comportamento. É o que também afirmam Aragão e Freitas: “Praticamente os castigos físicos eram praticados de forma natural para educar as crianças, seja na relação professor/aluno, seja na relação pais/ filhos – a exemplo daquelas adotadas pelas congregações lassalistas no século XVII”.30 Conforme Veiga, os lassalistas enxergavam a correção como ato: Como um meio pedagógico importante para manter a ordem em sala de aula, sendo possível punições através de palavras e de penitência e pelo uso de instrumentos como a férula, o chicote ou a disciplina (um bastão de 8 a 9 polegadas, na ponta do qual estão fixadas 4 ou 5 cordas e cada uma delas terá na ponta três nós) e finalmente a expulsão.31 27 LUCENA, Carlos. O pensamento educacional de Émile Durkheim, 302 28 Ibid., 302 29 Ibid., 302 30 ARAGÃO, Milena; FREITAS, Anamaria Gonçalves Bueno. Práticas de castigos escolares: enlaces históricos entre normas e cotidiano, p. 19 31 VEIGA, Cynthia Greive. Sentimentos de vergonha e embaraço: novos procedimentos disciplinares no processo de escolarização da infância em Minas Gerais no século XIX, p. 501-502. 5 Mas, havia uma limitação para o uso dos castigos físicos em crianças, afirma Veiga, deveria ser usada apenas pelo mestre e servir para bater somente na palma da mão esquerda do aluno, com apenas duas ou três palmadas. Portanto, essa violência era um ato comum, não apenas no universo escolar, mas nos processos que envolvesse relações humanas. 1.2.2 Emergência do sistema preventivo A emergência do Sistema Preventivo pode ser visualizada nos estudos de vários pedagogistas e das práticas realizadas em diversos colégios de seu tempo. O educador João Bosco não está sozinho na história e no século XIX, o sistema preventivo que pratica e do qual fala e depois escreve se origina num contexto em que semelhantes orientações são seguidas, codificadas e propostas também por outros.32 Educadores e educadoras influenciaram, por seus textos ou relações de proximidade, o sistema educativo abraçado por João Bosco em suas obras. O processo inicial do Sistema Preventivo na área da educação relaciona-se ao contexto social decorrente das revoluções francesa e industrial. Após a imprevista e traumática experiência da Revolução Francesa, seguida pela não menos radical subversão da antiga ordem, causada por Napoleão Bonaparte (1769-1821) a Europa parecia quase obcecada, mais do que em qualquer outro tempo, pela ideia “preventiva”.33 O pensamento preventivo se instalou nas diversas áreas, seja no campo político, social, jurídico-penal, assistencial, escolar-educativo e religioso. Cynthia afirma que “no processo de institucionalização da escola elementar ocorre uma governamentalidade”34 que envolveu, entre outras coisas, a produção e manipulação de cargos, a produção dedados sobre a população escolar, a interferência no âmbito das famílias, a reordenação do tempo e espaços sociais, a reordenação e hierarquização de saberes, a exclusão por lei dos escravos a 32 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, 141.p. 89. 33 Ibid., p. 27. 34VEIGA, Cynthia Greive. A instrução pública como regra de governamentalidade: o caso da escolarização em Minas Gerais no século XIX. 5 frequência escolar. Ao mesmo tempo houve também um forte apelo para o estabelecimento de novas relações entre alunos e professores, a começar pela instalação das Escolas Normais e profissionalização dos docentes na perspectiva de que um mestre civilizado não se improvisa.35 Foram sendo elaboradas novas práticas pedagógicas, mas isso só tornou-se possível quando o Estado passou a elaborar políticas públicas de educação, diminuindo as tensões e a homogeneização do comportamento social. Podemos afirmar que, o Sistema de prevenção, já estava sendo pensado em conformidade com Greive, no século XIX, a qual ressalta “difusão dos saberes elementares para todas as camadas da população como indicador do pensamento das elites de que era necessário estender as civilidades a todos”.36 A autora afirmou também que “desenvolveram-se nesse século as experiências de escolas mútuas, sistematizadas pelos ingleses Bell (1753-1832) e Lancaster (1778- 1838) que entre outras coisas, propuseram o fim dos castigos físicos”.37 Desse modo, observa-se que a singularidade pedagógica de João Bosco na proposição de um sistema preventivo está intimamente relacionada com a sua busca de construir uma proposta de trabalho com os jovens, sobretudo os que se encontravam em situações de maior vulnerabilidade, mas também está “antenada” com as demandas sociais e pedagógicas do seu tempo no sentido de se desenvolver um sistema educacional que pudesse se antecipar às situações de violência que afligiam em especial a juventude. 35 GREIVE, Cynthia Greive. A civilização dos professores: emoções e poder no processo de institucionalização da profissão docente, p. 12. 36 Ibid., p. 88. 37 GREIVE, Cynthia Greive. Civilizar: tensões violência e pacificação nas relações de alunos e professores na institucionalização da escola pública elementar, Brasil, no século XIX, p. 88 e 89. 5 2. SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO Neste capítulo buscaremos conhecer os fundamentos do Sistema Preventivo de Dom Bosco, sua originalidade e suas bases: razão, religião e amorevollezza. Apresentamos ainda os espaços denominados oratórios, como lugares de acolhida e convivência. 2.1 Fontes inspiradoras do Sistema Preventivo Conforme enunciado anteriormente, o educador João Bosco não estava sozinho no campo da educação, outros autores pedagógicos procuravam fundamentar propostas, teorias e metodologias. Podemos dizer que o sistema preventivo de Dom Bosco teve influências educativas, pois “ele se origina num contexto em que semelhantes orientações são seguidas, codificadas e propostas também por outros”. 38 Observaremos também que outros educadores abraçaram o sistema preventivo, como: Aporti, Dupanloup, Poullet, Rosmini, Lacordaire e Champagnat, mas cada um num estilo próprio. Veremos que a grande diferença de João Bosco foi em pensar o sistema preventivo como formação integral do ser humano. Uma das influências de João Bosco foi Pestalozzi, com o qual não teve um contato direto, embora fosse de uma região próxima. Traz consigo muitos elementos presentes em suas obras, o valor da religiosidade, o respeito pelos estágios de desenvolvimento das crianças, o ambiente familiar e a abertura através do amor. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) desenvolveu seu método pedagógico com sustentação em Jean Jacques Rousseau (1712-1768), em que a educação deve envolver a liberdade, bondade e personalidade do aluno. Defendia a educação preventiva, no qual a educação desenvolvia as capacidades humanas e os sentimentos, a mente e o caráter da criança. Segundo Cambi, “O pensamento pedagógico juvenil de Pestalozzi é orientado pelos princípios rousseaunianos da 38 BRAIDO, P. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p.89 5 educação segundo a natureza, da educação familiar e da finalidade ética da educação”. 39 Pestalozzi desejava criar uma instituição para educar crianças pobres e sem oportunidades. Podemos dizer que esta motivação pode ter surgido devido a sua formação religiosa, pois chegou a estudar para se tornar sacerdote, mas abandonou para colocar em prática os princípios educacionais em que ele acreditava. Lopes afirma, “[...] ensinando o homem a viver em contato íntimo com a natureza, como pregava Rousseau”.40 Para ele as crianças devem desenvolver suas habilidades em contato com a natureza, através de uma experimentação prática e o educador deve apenas ajudar a criança a trazer para fora aquilo que já está presente em seu ser. Segundo Château, Pestalozzi não caracteriza a aprendizagem somente na escola, mas basicamente também na família: [...], mas quando diz educação, não pensa, antes de tudo, na escola! Certamente, a escola lhe parece constituir momento essencial da educação para a humanidade, ajudando a criança a enriquecer sua experiência da vida pessoal e comunitária, num quadro mais largo que o da família, e mais homogêneo que o da cidade. Entretanto, aquela das potências informativas da qual nada lhe parecia poder substituir a “benção”, é a família, esse “senso paternal” e esse “amor maternal”, que lhe inspiram as páginas mais líricas. 41 Para Pestalozzi, além da moral, a religião também deve ser inserida no processo educacional, colocando a família dentro do modelo cristão, no qual tem papel essencial na educação da criança, educar a partir do exemplo. Tendo duas características importantes: amor e firmeza. De acordo com Lopes, “Pestalozzi queria que cada lar se transformasse numa escola, onde a mãe fosse a professora”.42 Na obra “Como Gertrudes ensina a seus filhos”, Arce ressalta que Pestalozzi evidencia o papel materno, “a criança só aprende a amar a partir do amor que foi oferecido pela mãe.”43 39 CAMBI, Fraco. História da pedagogia, p.417 40 LOPES, Luciano. Pestalozzi: o grande educador, p.34 41 CHÂTEAU, Jean. Os grandes pedagogistas, p.211 42 LOPES, Luciano. Pestalozzi: o grande educador, p.176 43 ARCE, Alessandra. A pedagogia na “era das revoluções”: uma análise do pensamento de Pestalozzi e Froebel, p.117 5 Há semelhanças entre João Bosco e Pestalozzi, ambos perderam o pai muito cedo e tiveram a educação por responsabilidade de suas mães. Ambos os educadores não desistiram de educar os jovens e crianças pobres e por inúmeras vezes mudaram- se de local para não se abdicar de seus objetivos. Ambos pensaram também em uma formação integral. A quem se admire em ver esse homem que resiste impassível às terríveis provas de abandono, poderíamos lembrar outros grandes educadores da juventude pobre e abandonada. Entre muitos outros, baste-nos citar o velho S. José Calazans e o bom Henrique Pestalozzi. Também eles foram martirizados até ao sangue em suas instituições; também eles, incompreendidos, foram abandonados, escarnecidos e desprezados! 44 Outro educador semelhante a João Bosco que lhe forneceu diretrizes foi Ferrante Aporti, no qual suas instituições eram reservadas a prevenir a insolência das crianças e jovens pobres. Ferrante Aporti (1791-1858) foi fundador das escolas infantis e primárias, contribuiu muito com a educação italiana, seja na fundação de escolas, nas aulas ministradas nas faculdades e em suas obras literárias. Contemporâneo a João Bosco, procurou ajudar também as crianças mais pobres e, possivelmente tiveram contato, pois ele tinha uma de suas obras em Turime outra no Piemont. Seus métodos preventivos são muito próximos. Fato que nos comprova esta proximidade de contato entre ambos é que os Salesianos dão assistência religiosa até hoje a suas obras sociais. Angiolo Gambaro salienta sobre o Sistema Preventivo de Aporti: Em poucas palavras, Aporti destaca a grande superioridade do método preventivo sobre o repressivo, admitida por todos os educadores e pedagogistas que, solícitos em pôr o amor como fundamento da educação, preocupam-se em criar ao redor do garoto um ambiente de serenidade, de bondade, de persuasão, que o oriente naturalmente ao bem, evitando tudo o que afaste ou ofenda as almas, ou as torne rebeldes ou as avilte. O desenvolvimento prático do método preventivo revelou uma eficácia maravilhosa na prática educativa de São João Bosco.45 João Bosco apropria-se do mesmo Sistema Preventivo. De acordo com Braido: 44 CIMATTI, Vicente. Dom Bosco Educador, p. 34-35 45 ANGIOLO GAMBARO, [apud BRAIDO, 1999, p.101] 5 É possível, de fato, encontrar na metodologia educativa e didática de Aporti os caracteres essenciais de um completo sistema preventivo [...] aparecem os conhecidos elementos constituídos: a assistência, a afeição, a caridade, a amorevolezza, o bom senso, a alegria, o canto, a recreação, o movimento.46 Em conformidade com Modesti, João Bosco pode ter sido influenciado pelo fato de “[...] a mandado de seu arcebispo, vai assistir às aulas da Aporti, na Universid’ade Turinense”. 47 Este fato nos revela mais ainda a proximidade de ambos no campo da educação. De acordo com Braido, assim como João Bosco, “a didática de Aporti tinha como finalidade a formação dos princípios do indivíduo, instruindo para virtudes cristãs: amor ao próximo, senso de justiça e gratidão.”48 Outro pensador contemporâneo de João Bosco é o filósofo alemão Johann Friedrich Herbart (1776-1841), o qual desenvolveu a concepção pedagógica, trazendo assim mais ciência a educação. Como João Bosco estava fundando suas obras e colégios, e como lia muitas revistas sobre educação, acredita-se que tenha tido contato com os textos de Herbart. Segundo Carvalho: Herbart acreditava ser necessário, naquele momento, explicar cientificamente o processo de aquisição de conhecimento, já que as práticas pedagógicas não deveriam mais pautar-se pelo bom senso ou pela arte de ensinar. Seu pensamento pedagógico alicerçava-se em duas bases: na Ética, entendida como filosofia prática, que tinha como tarefa estabelecer os fins da educação; e na Psicologia, ciência que definiria os meios racionais para se chegar à educação.49 Herbart tem como objetivo formar um homem integral, sendo tarefa do educador uma relação de amor e autoridade. Visava a formação do caráter moral e instrutivo, uma pedagogia como ciência filosófica, iluminado pelo humanismo. A instrução faz com que o aluno se interesse pelos objetos de aprendizagem. Para tanto, a instrução educativa deve proporcionar ao aluno a multiplicidade de interesses por meio da experiência com as coisas e por meio das relações humanas. Causar o interesse do aluno é colocar em sua consciência o gosto pelas virtudes, pelo bem, pela beleza, pela verdade, de modo que para ele a 46 BRAIDO, P. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p.102 47 MODESTI, João. Uma pedagogia perene, p.23 48 BRAIDO, P. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p.104 49 CARVALHO, A psicologia frente a educação e o trabalho docente, p.52 5 aprendizagem seja prazerosa. Desse modo, a instrução educativa consiste em educar a inteligência e a vontade do aluno, produzir nele verdadeiros interesses. Pelo interesse é que o sujeito dirige sua atenção às coisas, ideias, experiências. O interesse, por sua vez, está ligado à força das ideias, representações já existentes na mente do aluno, às quais vão se ligar novas ideias e representações. 50 Por fim, no século XIX a educação preventiva encontrava-se cada vez mais ampliada e estudada por muitos, tais como, Aporti, Dupanloup, Poullet, Rosmini, Lacordaire e Champagnat. Na confluência dessas experiências/reflexões se deu a constituição do Sistema Preventivo de Dom Bosco, com alguns sabemos claramente que ele teve contato pessoal e com suas obras, com outros sabemos que ele conhecia suas obras literárias, pois chegava a citá-las em diversas circunstâncias, seja na Itália ou quando viajava para a França. João Bosco não estava sozinho nesse processo de implantação do Sistema Preventivo. Portanto, João Bosco não foi o único a pensar e utilizar a preventividade na educação. Seu Sistema Preventivo se originou em um contexto em que “havia aproximação das orientações seguidas, codificadas e propostas também por outros que compartilhavam com ele as ansiedades em relação à juventude em tempos novos e difíceis e que empreendiam iniciativas em favor dessa juventude.”51 Observamos até o presente momento o contexto sócio histórico e as fontes inspiradoras do Sistema Preventivo de Dom Bosco. Veremos agora as bases da sua proposta pedagógica educacional. 2.2 Tripé do sistema preventivo João Bosco define o sistema preventivo em um tripé educativo: razão, religião e amorevolezza. São princípios que possuem relação e asseguram um desenvolvimento integral do jovem. O Sistema Preventivo contido pela razão, religião e amorevolezza contém princípios que indicam uma visão harmônica da pessoa dotada de razão, afetividade 50 ZANATTA, Beatriz Aparecida. O legado de Pestalozzi, Herbart e Dewey para as práticas pedagógicas escolares, p.108 51 CABRINO, Janaína Paulon. O sistema preventivo de Dom Bosco: formação e influências, p.278 5 e vontade. Nesse sentido, o Sistema Preventivo é um exemplo de humanismo pedagógico cristão, onde a centralidade da fé está indissoluvelmente unida à apreciação dos valores presentes na história. Para João Bosco, amorevolezza seria “[...] afeto, benevolência, benignidade, solicitude de pais e mães, também espirituais, para com os filhos”. 52 Segundo Scaramussa e Silva, “amorevolezza é a marca salesiana, João Bosco usava esta palavra para indicar amor, carinho, afeição demonstrada, familiaridade, presença. Ela é uma energia espiritual, que nasce da mística do amor de Deus para os jovens. João Bosco, afirma categoricamente que educar é obra do coração. Não há como desenvolver uma prática educativa sem amor, sem cuidado, sem carinho.”53 Na Carta de Roma, dizia que não basta amar, é preciso que os jovens sintam que são amados. Quem sente que é amado, ama, e quem é amado consegue tudo, especialmente dos jovens. Esta confiança estabelece uma espécie de corrente elétrica entre os jovens e os superiores. Os corações se abrem e eles dão a conhecer as suas necessidades, mostram todos os seus defeitos.54 Cabrino acrescenta que, “amorevolezza refere-se amor, bondade, carinho. Este princípio da pedagogia de João Bosco, fundamenta-se um amor educativo entre educando e educador.”55 A razão no método de João Bosco era o início da formação do aluno, propendia a entender o mundo e a si próprio, com o jovem tendo a competência de tomar suas decisões sempre com o auxílio de um diretor espiritual. E assim perceba por meio da razão seus limites e atributos. Segundo Ferreira, a razão na perspectiva proposta pelo Sistema Preventivo é um elemento fundamental para a educação de um jovem salesiano. 52 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco. São Paulo: Editora Salesiana, 2004, p. 269. 53 SCARAMUSSA, P. Tarcísio e SILVA, P. Genésio Zeferino Filho. Pedagogia do amor: Sistema Preventivo de Dom Bosco, p. 9. 54 BOSCO, João M. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, p. 41. 55 CABRINO, Janaína Paulon. O sistema preventivo de Dom Bosco: formação e influências. p.295 5 É significativorelevar que, há mais de cem anos, Dom Bosco atribuía grande importância aos aspectos humanos e à condição histórica da pessoa, à sua liberdade, à sua preparação para a vida e para uma profissão, ao compromisso com as liberdades civis, num clima de alegria e de generosa doação ao próximo. [...] Em síntese, a razão, na qual Dom Bosco crê como um dom de Deus e como tarefa indispensável do educador, indica os valores do bem, enquanto aponta para os objetivos a alcançar, os meios e a maneira de usá-los. A razão convida os jovens a uma relação de participação com os valores compreendidos e compartilhados. Ele a define também como racionalidade, referindo-se ao necessário espaço de compreensão, de diálogo e de paciência inalterável que o não fácil exercício da racionalidade exige. 56 A religião para João Bosco entende-se como apoiador do sistema, a partir da palavra de Deus era praticável falar ao coração do jovem. De acordo com Cabrino, “Conquistar seus corações era o melhor caminho para educá-los nos princípios da religião e encaminhá-los para o bem”. 57 E priorizava nos sacramentos da comunhão e confissão para a salvação das almas: [...] insistia muito sobre o sacramento da confissão, auxilio para os jovens conhecerem suas fraquezas e suas forças; a comunhão, que na sua doutrina religiosa seria a fonte de toda a resistência do mal, que tão facilmente envolve o adolescente. De maneira especial, inculcava a devoção à Santa Mãe de Deus, a sua Mestra por excelência. 58 Nesses três princípios norteadores, pode-se conceituar religião como a alma do sistema e amorevolezza a alma do “método preventivo”. Quando se trata de religião, deve-se observar que essa dimensão religiosa se insere no Sistema Preventivo. Ferreira, relata que “não é impor a religião, mas apresentar sob uma luz reforçadora, diz que o sistema preventivo propõe, na verdade, é que os valores do Evangelho sejam inseridos na prática educativa. Porque, sem esses valores, a razão e a bondade educativa tornam-se vazias e inócuas.”59 A “religião salesiana” é uma religião popular, simples, que vai ao essencial (“amor a Deus e amor ao próximo”), sem muitas complicações [...] a fé não é só a dos teólogos, é também a da tradição, da gente comum que faz caridade, serviço, voluntariado. E a razão não é só a dos filósofos, é também a da 56 NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p. 31 57 CABRINO, Janaína Paulon. O sistema preventivo de Dom Bosco: formação e influências. p.298. 58 MODESTI, João. Uma pedagogia perene, p.77 59 FERREIRA, Antônio da Silva. Não Basta amar: a pedagogia de Dom Bosco em seus escritos, p.23 5 literatura, da matemática, da técnica, do computador. Ver essas formas de “ratio”, à luz da fé e não contra ela, é importantíssimo para o sistema preventivo. 60 Religião, Amorevolezza e Razão formam um tripé fundamental para essa proposta salesiana de educação. A seguir apresentamos a aplicabilidade do Sistema Preventivo nos espaços do Oratório festivo. Veremos as ações práticas, que irão propiciar a familiarização e a sensibilidade do educador para com o educando. 2.3 Oratório festivo: origem, princípios e fundamentos Os princípios do sistema preventivo encontraram um lugar especial para serem aplicados, denominados como oratórios. Na época de João Bosco os oratórios já existiam, eram atividades realizadas com os adolescentes e jovens de uma comunidade religiosa no terreno das igrejas, com finalidade de instruí-los na religião, afastando dos perigos sociais (brigas, álcool, jogos de azar) através de jogos e brincadeiras. Todavia o oratório de João Bosco realizava estas atividades e muitas outras, como: educação formal, oficinas profissionais, alimentação, lugar para morar. Nestas atividades podemos observar a aplicabilidade do Sistema preventivo como proposta e método educacional. O primeiro oratório em que João Bosco atuou foi fundado em 1840 pelo Padre João Cocchi. O padre começou com a catequese para os jovens, na igreja São Francisco de Assis. Por razões de afazeres sacerdotais teve que interromper essa ocupação. Porém, viu em João Bosco alguém que pudesse continuar esse trabalho com os jovens: Foram predominantes em Dom Bosco as solicitudes pela juventude da cidade. O encontro de Dom Bosco com a situação dos jovens das periferias e com a completa desorientação em que estes se encontravam foi o grande estímulo ou ponto referencial concreto para que, dentro de pouco tempo, Dom Bosco realizasse um discernimento sobre o seu futuro apostolado ou campo de trabalho. De fato, a pessoa histórica em atividade supera o Dom Bosco construído pelo gosto do extraordinário, do sobrenatural. Sobressaiu sempre o Dom Bosco trabalhador e lutador pelo bem dos jovens. 61 60 NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p.36 61 CASTRO, P. Afonso de. A espiritualidade de São João Bosco, p. 121 5 João Bosco acolhia no oratório meninos pobres, que perambulavam pelas ruas e praças, acolhia também aqueles que haviam deixado a cadeia – meninos em maior grau de vulnerabilidade – para lhes dispor a catequese e uma educação especial, pois muitas vezes o jovem ao sair da prisão podia se tornar mais perigoso de quando entrou, por não ter uma boa instrução e alguém que os oriente no processo de sociabilização. Logo, João Bosco percebeu que quando os jovens estão envoltos de um amparo educacional e espiritual eles se tornam “bons cristãos e honestos cidadãos”.62 Mais tarde, em 1842, jovens ricos e de boa conduta também puderam participar dos oratórios, com o propósito de transcorrer disciplina e princípio moral. João Bosco se deparou com diversos desafios na continuidade do oratório, com o número cada vez maior de jovens, a igreja São Francisco de Assis já estava pequena e o barulho perturbava os vizinhos e precisou ir em busca de novos lugares. A primeira fase da vida do Oratório caracterizou-se por uma série de dificuldades que cresciam à medida que aumentava o número de oratorianos. Como e onde arrumar um lugar adequado e que pudesse reunir os jovens e proporcionar-lhe o ensino e diversão. Não conseguindo estabelecer-se em nenhum lugar, foi forçado a mudar constantemente.63 O oratório passa por imensuráveis lugares, desde cemitérios e moinhos, até se instalar na casa Pinardi, um terreno grande, com uma pequena área coberta, que João Bosco alugou nos primeiros anos e depois comprou com ajuda de colaboradores. Então surgia o Oratório de São Francisco de Sales. Começou a denominar-se de Oratório de São Francisco de Sales por duas razões: primeira, porque a marquesa Barolo tinha a intenção de fundar uma congregação de sacerdotes com este título, tanto assim que mandou pintar a imagem do santo; segundo, porque nosso ministério exige grande calma e mansidão, pusemo-nos sob a proteção de São Francisco de Sales.64 Em conformidade com Souza: O êxito no seu trabalho com os jovens era congregar forças da sociedade. Diversas pessoas, colaboradores e ex- oratorianos, imbuídos pelo apreço que tinham por Bosco, ajudavam-no nas mais variadas tarefas de cunho 62 BOSCO, João M. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales, p.125 63 SCARAMUSSA, Tarcísio. O sistema preventivo de Dom Bosco: Um estilo de educação, p.48 64 SANDRINI, M. Dom Bosco e os jovens: um binômio inseparável, p.16 5 educativo e administrativo. Seus Oratórios passaram, em grande parte, a ser animados e conduzidos pelos próprios jovens que em tempos e idades variadas receberam acolhimento, moradia, aprendizado acadêmico e profissional.65 De acordo com as necessidades do oratório festivo, João Bosco ajusta as atividades, passam de semanal para diária, tendo assim formações profissionais e escola diurna e noturna, iniciando também uma espécie de internato para acolher aqueles que não têm onde morar. “Anexoao oratório, obra principal, surge o internato- pensionato, que se transforma logo em verdadeiro colégio interno para estudantes”.66 João Bosco estabelece um conceito e sentido para o oratório: “casa que acolhe, Igreja que evangeliza, escola que educa e pátio para se encontrar com os amigos”.67 “O Oratório de João Bosco não é só escola da doutrina cristã nem só lugar de oração (“Oratório”), mas também não é só “jardim de recreação” ou “recriador” ou “escola dominical”. É tudo isso ao mesmo tempo”. 68 João Bosco descreve o cotidiano do oratório: [...] Nos dias festivos começava a confessar bem cedo e celebrava às 9 horas; em seguida pregava, para dar aula de canto e de literatura até o meio-dia. À 1 da tarde, recreio, depois catecismo, vésperas, instruções, benção, e depois recreio, canto e aula até à noite. Nos dias de semana cuidava dos meus aprendizes, dava aulas do curso ginasial a uns 10 meninos; à tarde, aula de francês, aritmética, canto gregoriano, música vocal, piano e órgão; tudo por minha conta [...] 69 Todos esses elementos do oratório são inseparáveis, e agindo de forma simultânea, sem se apor sobre o outro, no entanto para João Bosco o aspecto religioso é sustentação da sua ação pedagógica. “Os conceitos casa, Igreja, escola e pátio, congregam valores e princípios característicos duma educação entendida como de qualidade.” 70 Percebemos acima que a obra inicial vai tomando nova configuração, surgem às escolas primárias, 65 SOUZA, Rodrigo Tarcha Amaral. O Oratório festivo como princípio e fundamento da Educação Salesiana, p. 148 66 BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p. 329. 67 SOUZA, Rodrigo Tarcha Amaral. O Oratório festivo como princípio e fundamento da Educação Salesiana, p. 148 68 BRAIDO, P. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco, p. 305 69 BOSCO, João M. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales de 1815 a 1855, p. 218 70 SOUZA, Rodrigo Tarcha Amaral. O Oratório festivo como princípio e fundamento da Educação Salesiana, p. 148 5 secundárias e posteriormente o curso superior, mas o conceito de ambiente educativo permanece, seja no oratório ou nos colégios. Em todos eles o Sistema Preventivo é aplicado e desenvolvido como método pedagógico. Oratório enquanto Igreja, cristã católica, é lugar que evangeliza, mas também acessível à diversidade religiosa. Não propõe viver aprisionado somente dentro da Igreja, mas em todos os momentos estar guiado pelo divino. Muitos são os jovens que frequentam os oratórios e são de religiões diferentes. O oratório como casa, não apenas no momento em que João Bosco abrigou jovens no oratório para residência, mas sim a familiaridade, sentir-se acolhido e feliz no local. Oratório enquanto escola, local de aprendizado, com estudos sistemáticos e científicos. “[...] podendo encaminhá-los para a vida, imbuídos dos elementos necessários para corresponder aos parâmetros de cidadania, ética e moral, apresentados como aceitáveis tanto na sociedade contemporânea de Bosco como na de hoje”. 71 Oratório como pátio, local onde o educador pode observar o educando como ele é. Muitas vezes dentro da sala de aula – local formal, o aluno não manifesta integralmente a sua essência. Fora da sala de aula estabelece-se uma vivência social, despertando amizades e confiança entre educadores e educandos e entre os próprios discentes. No pátio, o aluno conversa sobre os fatos de sua vida e procura respostas para um amadurecimento integral. “O Oratório é por assim dizer, o lugar e mentalidade por excelência da ação educativa salesiana”.72 De modo mais acentuado, nas constituições salesianas, número §40, aparece: “O Oratório de João Bosco em Valdocco é o paradigma, o critério permanente de toda a nossa atividade”. A experiência educativa de João Bosco teve início e origem dentro do oratório de Valdocco. Com o passar dos anos criou-se a Sociedade de São Francisco de Sales, com isso os Salesianos, assim reconhecidos pelo mundo inteiro, foram sendo 71 SOUZA, Rodrigo Tarcha Amaral. O Oratório festivo como princípio e fundamento da Educação Salesiana, p. 148 72 FERREIRA, A. da Silva. De olho na cidade. O Sistema Preventivo de Dom Bosco e o novo contexto urbano, p. 20 5 chamados a abrir novas casas, principalmente colégios. Primeiro na Europa, depois na região da Patagônia, Uruguai e Brasil, chegando a Niterói-RJ em 1883. Mais tarde avançou por toda a América e Ásia, chegando por fim a África e Oceania no século XX. Quando chegaram a Lima/Peru a “primeira preocupação foi a de fundar um oratório, em seguida montar uma escola profissional para rapazes pobres”.73 Hoje os salesianos estão presentes em 133 nações, com colégios, obras sociais, Faculdades, paróquias e oratórios. O campo de atuação mudou, os desafios educacionais aumentaram, mas a metodologia de ensino continua a mesma, o Sistema Preventivo é aplicado em todas as casas salesianas pelo mundo inteiro. O Oratório de Valdocco, a experiência primeira continua viva em todas as obras educacionais, seja aqui no Brasil ou na Síria. João Bosco se ocupou prevalentemente das relações humanas que existem nas instituições de educação ou em outras instâncias sociais, e que condicionam o processo de aprendizagem. O encontro pessoa a pessoa é tudo para João Bosco. Só assim se consegue aquele clima educativo de confiança mútua, imprescindível para a aplicação de seu Sistema. Procuramos desenvolver, até o presente capítulo, o desenvolvimento do Sistema Preventivo de Dom Bosco. Apresentamos seu perfil e contexto sócio-político em que viveu na Itália; apresentamos também as influencias no campo da educação que contribuíram com o pensamento de João Bosco; os princípios metodológicos, os elementos constitutivos e sua aplicação no ambiente educativo. Buscamos demonstrar quem foram os educadores no século XIX a utilizarem o sistema preventivo e a desenvolvê-lo de acordo com suas realidades. Acreditamos que o grande diferencial de João Bosco foi em pensar o sistema preventivo como proposta educativa para todas suas obras, e numa metodologia que abrange a formação integral do ser humano, visando todas as dimensões da pessoa. Sua proposta não leva em conta somente a formação do educando, mas, sobretudo, a formação do educador. Por fim, no último capítulo buscaremos compreender a importância da assistência/presença do educador junto dos educandos e a relevância do ambiente educativo na educação. 73 WIRTH, Morand. Dom Bosco, e os Salesianos, p. 272. 5 3 O SISTEMA PREVENTIVO E A ESCOLA COMO AMBIENTE EDUCATIVO Neste capítulo mostramos o sistema educativo de João Bosco, compreendendo a importância da assistência/presença do educador junto aos educandos e a relevância do ambiente educativo na educação como um lugar acolhedor. 3.1 O Ambiente Educativo Quando falamos em um ambiente onde ele seja educativo, muitos podem pensar em um bom prédio escolar, bonito, o bem construído, sólido, cujas paredes não racham, telhado que não tenha goteiras, piso tem uma cobertura, bem conservado, ter renovada a pintura, ambientes arejados ou com ar climatizado. Isso tudo pode valer para um prédio, se tratando de uma estrutura física no geral. De acordo com Rosa, “no âmbito da organização do ambiente educativo pode se organizar o espaço e também os materiais, disponibilizando e utilizando materiais estimulantes e diversificados, criar e manter as necessárias condições de segurança, de acompanhamento e de bem-estar das crianças.”74 De acordo com Zabala, “o ambiente é um educador à disposição tanto da criança como do adulto. Mas só será isso se estiver organizado de um certo modo. Só será isso se estiver equipado de uma determinada maneira.”75 Rosa destaca que o ambiente é um todo indissociável que pode ser entendidocomo uma estrutura com quatro dimensões: temporal, relacional, funcional e física. A dimensão temporal refere-se à organização do tempo, e portanto, aos momentos em que são utilizados os diferentes espaços. A dimensão relacional refere-se às relações que se estabelecem, sendo que estas dizem respeito aos modos de acesso aos espaços, ou seja, as regras de utilização (pequenos grupos, individual, a pares) e a forma de participação do educador (observa, impõe, encoraja) as atividades que as 74 ROSA, Manuela et al. A organização do ambiente educativo como mediador das experiências de aprendizagem das crianças, p. 75 ZABALA, M. Qualidade em Educação Infantil, p. 239 5 crianças realizam. Um espaço pode assumir diferentes funções dependendo do tipo de atividades, o tapete pode ser o local das construções, mas também o das comunicações - dimensão funcional. Por último a dimensão física, refere-se ao aspecto material do ambiente compreendendo a suas condições estruturais e a organização dos objetos, sejam eles mobiliário, materiais ou elementos decorativos. Para Almeida, para aprender precisamos de uma motivação, porque cada estudante tem um estilo de aprendizado preferido, sendo alguns mais eficazes do que outros. Contudo, o autor relata que o bem-estar físico depende também da prevenção da autoestima que está interligada com a parte afetiva de cada aluno. Um aluno só consegue aprender se estiver com situações favoráveis, como por exemplo uma sala de aula arejada, com locais confortáveis e assim esses alunos conseguem se concentrar e animar para fazer as atividades. Ele aponta também sobre a parte afetiva entre alunos e professores, pois quando não temos relações tão boas dificilmente os discentes se sentirão dispostos a se engajarem nas atividades propostas de modo à efetivamente aprender. O ambiente educacional, entendido como um conjunto de elementos materiais e afetivos que circunda o educando, constitui um dos principais determinantes do aprendizado. O ambiente educacional é determinado por fatores ligados à instituição, ao professor e ao próprio educando, que devem contribuir para a sua manutenção e aprimoramento. Existem diversos instrumentos construídos e validados para a avaliação do ambiente educacional, nos seus vários aspectos. A avaliação do ambiente educacional é importante para fornecer dados e informações, que podem ser utilizadas para a tomada de medidas visando o seu aperfeiçoamento, o que implicará em aumento da qualidade do processo educativo.76 Mesmo conhecendo algumas dimensões de ambiente, podemos perceber que alguns lugares se apoiam apenas no ambiente físico, se tratando de uma grande preocupação do mercado educacional atual, algumas escolas investem em material e espaço físico, mas esquecem77 que o grande protagonista é o educador, ele pode ter o melhor material didático, o qual também é importante, mas se ele não tem uma postura como um docente, que conhece as crianças e é próximo delas, nada adianta. 76 DE ALMEIDA TRONCON, Luiz Ernesto. Ambiente educacional. Medicina, 270 77 Ibid., p. 268. 5 Assim, João Bosco já pensava e aplicava em seu sistema de educação esse tipo de ensino. Então apresentaremos, conforme João Bosco, o melhor ambiente educativo. 3.2 O ambiente educativo para João Bosco Para João Bosco, o sistema preventivo compõe-se de uma série de ações, de fatores, de pessoas, de ideias conjugadas e entrelaçadas. E um ponto fundamental do sistema preventivo de Dom Bosco é o ambiente educativo. Por ambiente educativo entende-se pessoas, estruturas físicas, normas, leis, modos de fazer que incidem sobre a vida de todos os que participam dessa comunidade educativa. Conforme Ferreira, “o sistema preventivo de Dom Bosco não é apenas um método”, para João Bosco existe um tipo de ambiente para se educar, “a escola deve ser a casa que educa, o pátio que acolhe, capela que eleva o pensamento ao Pai criador.”78 Não bastava apenas um ambiente físico acolhedor, mas João Bosco desejava que houvesse um ambiente de harmonia e confiança entre os educandos e os educadores. Conforme João Bosco, os avisos e advertências deveriam ser dadas no mesmo instante que surgiam as necessidades, sendo assim, o educador deve falar com o educando no mesmo instante que ocorreu uma falta ou na entrada do novo aluno na “casa salesiana”. Quando se deixa para dar algum aviso no dia seguinte pode ocorrer que o educando não entenda a correção feita ou o descumprimento de alguma norma ou regra do ambiente. Quando um aviso tem como objetivo a conscientização de todos, ele deve ser dado abertamente, mas quando visa a correção ou orientação de apenas um educando deve ser feita em particular, para não causar constrangimento a esse discente. Viver essa confiança, essa lealdade e a clareza de relacionamento acima descrito, é o caminho para evitar descontentamentos. Os jovens, porém, só terão confiança em seus educadores se virem que estes realmente buscam o bem deles. É impossível haver esse ambiente de confiança se ao relacionamento “pessoa a pessoa” que tem por base o amor se substitui um relacionamento baseado na frieza de um regulamento, um relacionamento entre papéis: diretor-professor, professor-professor, professor-aluno, diretor- funcionário, etc. 79 78 DOM BOSCO, [apud FERREIRA, 1952] p. 113 79 FERREIRA, Antônio da Silva. Não basta ama-a pedagogia de Dom Bosco em seus escritos, p. 09 5 Para João Bosco, o ambiente precisa ser um lugar onde haja confiança mútua entre os educadores e os alunos. Sem a confiança mútua, ele diz que é impossível educar. Outra característica é um ambiente de familiaridade e respeito. Ferreira escreve que o segredo da educação salesiana é essa familiaridade, que se convive com respeito. Na Carta de Roma João Bosco adverte: “veja, a familiaridade gera o afeto e o afeto produz confiança”. Essa tríade se torna um caminho fundamental em seu sistema, pois sem a familiaridade não se chega ao afeto e ao coração dos jovens. Outra característica de um ambiente salesiano, é a alegria. “A alegria se exprime na vivacidade do pátio, dos momentos de recreação. É então um termômetro que indica como procede o trabalho educativo nas escolas”. Essa tríade se torna um caminho fundamental em seu sistema, pois sem a familiaridade não se chega ao afeto e ao coração dos jovens. O empenho sério no cumprimento do dever é outra característica colocada por Dom Bosco para que haja um ambiente salesiano. Este ambiente educativo deve proporcionar aos jovens uma liberdade sadia, ou seja, trata-se de deixar que os jovens sejam jovens, podendo se expressar com liberdade. Dom Bosco desejava que o educando progredisse na formação de sua consciência e na consolidação de suas convicções, a tal ponto que adquirisse plena autonomia no querer e praticar o bem. Para isso concorria ao cultivar dimensão transcendente, num relacionamento pleno. 80 Esse ambiente deve proporcionar a formação integral dos alunos, que vai além do intelectual, deve favorecer que o educando tenha consciência de seus atos e realize o bem, sem a necessidade de um vigia para punir ou não suas ações. O educando necessita de um processo educativo que o ajude a amadurecer sua consciência a ponto de assumir suas falhas e redimir-se. Falamos que o ambiente educativo não precisa de “guardas ou vigias”, mas precisa de educadores atentos e que estejam próximos dos educandos, ou seja, o ambiente educativo se constrói com uma assistência e uma presença significativa do educador no meio dos jovens. Por isso aprofundaremos também este tema. É de suma importância para o espírito educativo de João Bosco a assistência e a presença do educador. A tradição salesiana regulamentada fala do assistente, que 80 FERREIRA, Antônio da Silva. Não basta ama-a pedagogia de Dom Bosco em seusescritos, p. 11 5 supomos sempre alguém que se faz presente. Obviamente, trata-se de uma presença não somente física, mas educativa, em sentido pleno. Não se trata de um vigilante ou guardião. Segundo a tradição educativa salesiana, trata-se de uma presença capaz de aproveitar, com sabedoria e tato educativo, todas as oportunidades que se apresentam para que o educador realize intervenções intencionalmente educativas. Ferreira afirma que, “a presença do educador, pode ser o início de uma amizade. A intenção é obter a continuidade do crescimento.”81 Jaime Rodrigues acrescenta que, “a assistência salesiana é Dom Bosco no meio e na mais autêntica presidência da caridade, em nome de Deus e com seu amor, para a promoção humano-divina dos jovens”.82 Scaramussa e Zeferino, colocam três tipos de assistências aos educandos: Assistência como presença gratuita: o êxito da comunicação educativa não depende tanto de habilidades técnicas de abordagem, mas principalmente das motivações e intenções que transparecem na relação que se estabelece. Assistência como presença ativa: a presença do educador não deve ser centralizadora, impositiva e controladora. Também não pode ser de mero espectador da atividade do jovem. Presença ativa significa atuar junto com o educando, intervindo de forma discreta, envolvente, amorosa, estimulando e facilitando seu protagonismo. Assistência individualizada: centrada nas situações particulares dos jovens, especialmente em suas necessidades. É diferenciada de acordo com a idade e as características pessoais de cada um. É personalizada. 83 João Bosco, acreditava na disciplina sem castigo. Segundo CESAP, “só entendia a correção dentro de uma concepção de educador que conseguia conquistar a confiança e o coração do educando e que pudesse expressar-lhe assim, sinceramente, todos os seus sentimentos. Por isso, afirmava que nunca precisou fazer uso de castigo. A correção deve acontecer constantemente, especialmente com os jovens.”84 Nunca se deve adotar os meios coercitivos, mas somente aqueles da persuasão e da caridade. Se o castigo se tomar necessário, ou seja, se depois de esgotados todos os outros meios, perceber-se esperança de obter 81 Ibid., p. 27 82 RODRIGUES, p. 61 83 SCARAMUSSA, Tarcísio Pe; ZEFERINO, Genésio. Pedagogia do amor: o sistema preventivo de Dom Bosco. p. 11 84 SCARAMUSSA, Tarcísio Pe; ZEFERINO, Genésio. Pedagogia do amor: o sistema preventivo de Dom Bosco, p. 11 5 assim algum proveito por parte do interessado, que seja aplicado com prudência, no momento adequado; jamais em público; e que não dê a impressão de se estar agindo sob paixão.85 O sistema preventivo de Dom Bosco, é um estilo de educação, segundo Ferreira, é uma experiência vivida pelo João Bosco com os jovens do seu tempo que depois se espalhou por toda terra, por 133 nações. Sempre preservando o mesmo estilo “salesiano” de ser.86 A preventividade, no entender de João Bosco, não pode ser concebida como simples proteção. O Sistema preventivo, revela-se no sentido de “chegar com antecedência” 87A educação é uma forma de prevenção da marginalização e de melhoria da sociedade. No entanto, a concepção meramente disciplinar de prevenção como ação externa à pessoa, no sentido de vigiar, defender, impedir, isolar, preservar, porque “prevenir é melhor que remediar”, não alcança o verdadeiro significado contido no Sistema Preventivo. A proatividade do Sistema Preventivo direciona-se para a consciência e as energias interiores da pessoa, e compreende todos os elementos educativos de razão, religião e amorevolezza, assistência-presença que a ajudem a construir-se positivamente como sujeito, capacitando-se para um posicionamento crítico e para atuar com liberdade em nossa sociedade. 3.2.1 A conquista dos jovens Ferreira aponta que “o sistema preventivo não se constitui em um sistema no sentido próprio da palavra, mas sim um estilo de educação.” 88 Constitui-se também em convicções, atitudes, estruturas, metodologia e uma forma própria. Trata-se de uma experiência vivida pelo próprio João Bosco, o sacerdote que educava os jovens de seu tempo que depois foi se adaptando nas mais diversas etnias e culturas, mas sempre conservando o mesmo estilo salesiano de ser. Não se trata de fazer como João Bosco fazia em seu tempo, no entanto trata-se de analisar como 85 Carta sobre Castigos, MB 16,439-47 86 FERREIRA, Antônio da Silva. Não basta ama-a pedagogia de Dom Bosco em seus escritos, p. 31 87 RODRÍGUEZ F. Sabedoria do Coração: A assistência salesiana p.27 88 FERREIRA, Antônio da Silva. Não basta amar: a pedagogia de Dom Bosco em seus escritos p. 31 5 ele iria agir nas situações existentes hoje. Para João Bosco, “preventividade consiste em chegar com antecedência”. 89 Ferreira nos mostra que o centro de tudo para João Bosco, era o Jovem, que através deles poderemos mudar tudo a nossa volta. Aquele encontro real de face a face com o educando é o que favorece um clima de educação de confiança, indispensável para a aplicação do sistema preventivo. De acordo com Cabrino, o método preventivo de Dom Bosco é apoiado na reciprocidade, por meio do diálogo busca-se conquistar os jovens e assim fazendo-os pensar sobres seus atos, e levando-os também a refletir sobre as consequências desses atos.90 Segundo Perazzo: O educador deve estar entre os jovens em todas as circunstâncias, estabelecendo uma relação de afeto e confiança, através do amor e do respeito, valorizando a reciprocidade, no qual educadores e educando devem-se colocar um no lugar do outro, a fim de entender a necessidade de cada um. Assim a aprendizagem ocorre de ambos os lados.91 Os jovens precisam ser ativos e participativos em sua educação e para isso acontecer seus educadores precisam buscar essa proximidade com os alunos. Sendo o afeto o primordial na obra de João Bosco, muito mais do que amar os educandos, os jovens têm que se sentir amados pelos seus educadores. Logo o docente deve manter um ambiente familiar entre os alunos: [...] apresentando-se como pai e declaradamente como amigo dos alunos, participando com interesse de suas diversões, em comunhão de vida com eles, mas com a função e a efetiva capacidade de guiá-los e ajudá-los a adquirir os valores religiosos, éticos, culturais ou profissionais, ele consegue ao mesmo tempo, a confiança e o respeito, fundamentos da interação educativa. O amadurecimento dos jovens acontece, assim, num ambiente de familiaridade, de espontaneidade e de liberdade, na convivência com o educador, sempre presente entre os alunos.92 89 RODRÍGUEZ F. sabedoria do coração, p. 72 90 CABRINO, p. 290 91 PERAZZO, Tatiane. Pedagogia de Pestalozzi e Sistema Preventivo de Dom Bosco: Influências e aproximações p.289 92 SCARAMUSSA, Tarcísio. O sistema preventivo de Dom Bosco: Um estilo de educação p. 65-66. 5 Precisa manter esse ambiente de familiaridade entre todos, mas João Bosco realça a relevância de educar na religião, sendo para ele o ponto central da sua estrutura educativa. No qual todos os educadores carecem de ter os atributos da caridade e da religião. Consoante a Braido, “no ensino de João Bosco, entre as devoções, ocupa lugar privilegiado a devoção à Virgem Mãe.” 93 Os jovens de seu tempo eram, em sua maioria no oratório, órfãos, por isso a necessidade de apresentar a eles uma “mãe” que caminha com eles e os auxilia no amadurecimento da vida. A presença da família na escola para João Bosco era essencial, pois devem promover orientação e educação. A educação familiar e escolar se complementa. Para tanto, o autor João Bosco, aponta alguns pontos fundamentais para o acontecimento do Sistema Educativo. “Primeiro, ganhar o coração do jovem no qual voltamos ao sonho de nove anos, não é com pancadas, mas com a mansidão e a caridade
Compartilhar