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ATIVIDADE 5 DIREITO TRIBUTÁRIO II

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ATIVIDADE 5 DIREITO TRIBUTÁRIO II
Felisbina de Windsor, socialite residente em Arujá-SP e com domicílio e escritório
na cidade de São Paulo-SP, recebeu notificação para pagar IRPF em sua residência,
apesar de ter fornecido o endereço de seu escritório ao Fisco. As correspondências
que chegam em sua residência são encaminhadas para o escritório por malote,
uma vez por semana, e quem atende o correio sempre é o zelador da propriedade.
Tomou conhecimento de que era ré em uma execução fiscal apenas com a ação em
andamento, quando seu automóvel foi penhorado em um evento de caridade na
cidade em que reside, e quando foi nomeada depositária fiel do bem (recebendo
contrafé do auto de penhora). Contratou serviços de advogado tão logo viu-se
constrangida em seu ambiente social. Ainda dentro do prazo para apresentar
defesa, você, como advogado contratado, qual meio processual utilizaria para
defender sua cliente? Ainda, seria possível requerer provas e juntar rol de
testemunhas pelo meio escolhido? Fundamente com base na lei, doutrina e à luz da
jurisprudência.
O imposto sobre a renda e sua competência encontram-se previstos no art. 153 da
Constituição Federal, leia-se:
“Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
(...)
III – renda e proventos de qualquer natureza;
(...)
§ 2º O imposto previsto no inciso III:
I – será informado pelos critérios da generalidade, da universalidade e da
progressividade, na forma da lei;
(...)”
Importante salientar que o domicílio tributário é o local onde o contribuinte deve
responder por suas obrigações tributárias. A regra é que o contribuinte eleja o seu
domicílio tributário, ou seja, o próprio contribuinte escolhe onde deseja pagar seus
tributos. A autoridade administrativa, porém, poderá recusá-lo de forma motivada,
devendo comprovar que o domicílio eleito impossibilita ou dificulta a arrecadação ou
a fiscalização. Nesse caso, o domicílio será o lugar da situação dos bens ou o lugar
onde ocorreu o fato gerador.
Caso o contribuinte não eleja seu domicílio tributário, serão aplicadas as regras do
art. 127 do CTN, a saber:
Art. 127. Na falta de eleição, pelo contribuinte ou responsável, de domicílio
tributário, na forma da legislação aplicável, considera-se como tal:
I - quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou
desconhecida, o centro habitual de sua atividade;
II - quanto às pessoas jurídicas de direito privado ou às firmas individuais, o lugar da
sua sede, ou, em relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de
cada estabelecimento;
III - quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de suas repartições no
território da entidade tributante.
§ 1º Quando não couber a aplicação das regras fixadas em qualquer dos incisos
deste artigo, considerar-se-á como domicílio tributário do contribuinte ou
responsável o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que
deram origem à obrigação.
§ 2º A autoridade administrativa pode recusar o domicílio eleito, quando
impossibilite ou dificulte a arrecadação ou a fiscalização do tributo, aplicando-se
então a regra do parágrafo anterior.
Ao declarar o imposto de renda o contribuinte deve fazer a escolha do local onde
deverá responder pela obrigação tributária, ou seja, deve escolher seu domicílio
tributário. Entretanto, poderá a lei criar limitações e até mesmo impor um domicílio
tributário obrigatório para a arrecadação de determinados tributos.
O art. 43 do CTN é que dispõe sobre a tributação da renda, vejamos:
Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de
qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica
ou jurídica:
I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de
ambos;
II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos
patrimoniais não compreendidos no inciso anterior.
§ 1o A incidência do imposto independe da denominação da receita ou do
rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e
da forma de percepção.
§ 2o Na hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá
as condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de
incidência do imposto referido neste artigo.
No âmbito administrativo, Bartine (2020, p. 249) destaca que:
“Uma vez que tanto a notificação de lançamento quanto o auto de infração são atos
administrativos vinculados, qualquer vício levará à anulação dos respectivos atos,
pela própria Administração Pública, em decorrência do princípio da autotutela,
quanto pelo Poder Judiciário, mediante provocação”. Bartine (2020, p. 249)
O que observamos no caso apresentado é que não o Fisco não se ateve ao
domicílio tributário eleito pela contribuinte, que foi considerada notificada, para
efeitos legais, e tendo sido proposta ação de execução fiscal contra ela sem que, na
verdade, ela tenha sido regularmente notificada.
Desta forma, não houve o respeito aos princípios da ampla defesa e do
contraditório, pois foi-lhe cerceado o direito à apresentação de defesa administrativa
para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, seguindo os autos, sem
seu efetivo conhecimento, para a execução fiscal sem a regular notificação da
contribuinte, em clara ofensa ao art. 2º, caput, da Lei n. 9784/1999, que regula o
processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal e assim
dispõe:
Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Neste sentido, dispõe a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Mato
Grosso do Sul, vejamos:
APELAÇÃO CÍVEL – EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL – SENTENÇA QUE
JULGOU IMPROCEDENTES OS EMBARGOS – PRELIMINAR DE INVALIDADE DA
CITAÇÃO E NULIDADE DA CDA – PODER DISCRICIONÁRIO DA
ADMINISTRAÇÃO EM COBRAR O DÉBITO DE UM, ALGUNS OU TODOS OS
DEVEDORES SOLIDÁRIOS – OBRIGATORIEDADE DE PROMOVER A CITAÇÃO
NA FORMA CORRETA NOS AUTOS – AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO E
CONSTITUIÇÃO REGULAR DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO NO PROCESSO
ADMINISTRATIVO – NECESSIDADE DE OPORTUNIZAR À PARTE A DEFESA
ADMINISTRATIVA – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. I - Cabe ao Fisco,
observados os requisitos legais, proceder a cobrança de um, alguns, ou todos os
devedores solidários do IPTU, não havendo irregularidade no lançamento e
posterior execução fiscal movida exclusivamente em relação ao proprietário do
imóvel, já que a discricionariedade administrativa lhe permite a escolha da atuação
que mais facilita o procedimento arrecadatório. Contudo, ao iniciar o processo,
deve-se promover a citação à parte correta e dar continuidade aos autos em
observância aos princípios do contraditório e ampla defesa. II - Não havendo regular
constituição do crédito tributário em relação ao possuidor do imóvel, vez que não
houve notificação para defesa ou pagamento da dívida durante o processo
administrativo, decreta-se a nulidade da CDA. III – recurso conhecido e provido para
reconhecer a invalidade da citação e nulidade da CDA.
(TJMS. Apelação Cível n. 0840755-30.2017.8.12.0001, Campo Grande, 1ª Câmara
Cível, Relator (a): Des. João Maria Lós, j: 14/10/2019, p: 15/10/2019)
Assim também decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - EMBARGOS À EXECUÇÃO - PRECLUSÃO
LÓGIGA - INOCORRÊNCIA - CONTRATO DE FOMENTO MERCANTIL - CHEQUE
- ENDOSSO - CESSÃO DE CRÉDITO CIVIL - POSSIBILIDADE DE ARGUIÇÃO DE
EXCEÇÕES PESSOAIS. Inexiste preclusão lógica se a matéria não foi decidida em
outra ação, extinta sem resolução do mérito. No contrato de fomento mercantil o
faturizador torna-se novo credor do título, assumindo o risco do negócio, o que
caracteriza, na realidade, cessão de crédito civil. Na cessão de crédito as exceções
pessoais ao credor originário podem ser opostas ao faturizador, conforme se extrai o
artigo 294 do Código Civil. O art. 290 do CódigoCivil estabelece que "a cessão do
crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada".
Sendo incontroverso que o negócio jurídico subjacente não foi concluído, ou seja,
inexistente a causa debendi, bem como diante da ausência de notificação do
devedor acerca da alegada cessão, impõe-se reconhecer a nulidade do título.
(TJMG - Apelação Cível 1.0024.13.201656-9/001, Relator(a): Des.(a) Rogério
Medeiros , 13ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 17/04/2020, publicação da súmula
em 24/04/2020)
O STJ entende que se faz necessária a garantia do juízo para o oferecimento de
embargos à execução fiscal. Considerando que já houve a penhora do automóvel
da executada, esse requisito foi atendido.
Caberá, então, a contribuinte provar que seu cadastro encontra-se devidamente
atualizado e sua opção pelo domicílio tributário.
Paulsen (2020, p. 766) esclarece que “a atribuição de efeito suspensivo aos
embargos depende não apenas da garantia da execução, mas também da
verificação da relevância dos seus fundamentos e de que o prosseguimento da
execução possa causar risco de dano de difícil ou incerta reparação”.
Nesse sentido, conforme o autor, todas as provas devem ser anexadas aos
embargos, visando demonstrar a nulidade da notificação e os prejuízos advindos
com a penhora do automóvel, vejamos:
“Nos embargos, pode ser deduzida toda matéria de defesa, viabilizando-se
discussões sobre o lançamento, sobre o processo administrativo, sobre a inscrição
em dívida ativa e a respectiva certidão, sobre o procedimento da execução e sobre
o próprio mérito do tributo exequendo.” Paulsen (2020, p. 766)

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