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Maria Carolina B. de Castro FERIDAS CUTÂNEAS EM EQUINOS Solução de continuidade da pele, podendo ser superficial ou profunda (atingindo músculos, tendões, ligamentos, ossos e articulações). • A grande maioria é traumática ou acidental. - Classificação das feridas: Abrasiva, contusa, perfurante, incisa, lacerativa, queimadura, compostas e outras (microorganismos, neoplasia). Com relação ao grau de contaminação: Limpas (cirúrgicas, normalmente), contaminadas (mais comum, toda ferida tem um grau de contaminação a menos que haja assepsia como em cirurgias), ou infectadas (feridas sépticas iatrogênicas, feridas sujas que já existem há um tempo). • As feridas ainda podem ser altas (acontecem acima do carpo ou do tarso) ou baixas (abaixo do carpo ou tarso, pode ter tecido de granulação exacerbado). 60% dos casos, em cavalos, são de feridas baixas. Quanto mais baixa for a ferida, maior a chance de fazer tecido de granulação em excesso. - Pronto atendimento: Iniciar com contenção → interrupção da hemorragia → analgesia (com AINES/opioide) ou sedação → estabilização do paciente → identificação da causa → limpeza → exploração criteriosa da ferida → proteção/imobilização. TIPOS DE CICATRIZAÇÃO - Cicatrização por primeira intenção: É feita se a ferida for recente (até 6h), tiver tecido viável e condições de ser suturada. - Cicatrização por segunda intenção: Em equinos, ela é a mais comum, devido ao fato de as feridas serem normalmente traumáticas com margens irregulares e perda tecidual. - Cicatrização por terceira intenção: Dificilmente é feita, ocorre mais quando tem muito tecido de granulação e precisa ser feito o debridamento antes da sutura da ferida. • Enxertos dificilmente são feitos, pois há muita rejeição. FASES DA CICATRIZAÇÃO TECIDUAL - Fase inflamatória: Vasoconstrição adjacente, formação de coágulo e migração de leucócitos. - Fase de debridamento: Quimiotaxia, migração de neutrófilos e monócitos para fazer fagocitose e atração de fibroblastos. - Fase de reparação: Migração de fibroblastos, brotamento vascular, epitelização (formando a proliferação), além de contração da ferida. - Fase de remodelamento: diminuição da celularidade, diminuição da produção de colágeno, diminuição da vascularização, adaptação às forças de tensão. FASES DO TRATAMENTO/EVOLUÇÃO - Controle da hemorragia, dor e inflamação: Uso de AINES, analgésicos, pelo tempo que for necessário. - Controle de infecção, com limpeza e desinfecção: lavagem da ferida com água e sabão, debridamento para retirar tecido morto, coágulo, sujeitas, utilização de antissépticos (água oxigenada, iodo povidine, líquido de dákin, clorexidine, permanganato de potássio), antimicrobianos (tópico ou sistêmico, ou mesmo a perfusão regional), fitoterápicos, salina hipertônica e açúcar (hidroscópicos, diminuem o edema na lesão), ozonioterapia. Considerar sempre quando usar quais medicamentos, por exemplo alguns antissépticos estimulam a proliferação tecidual (como a água oxigenada e iodo acima de 1%) e pode não ser favorável em excesso. - Proliferação, maturação e epitelização: fitoterápicos (barbatimão, bem adstringente e epitelizante), açúcar (ajuda na proliferação tecidual), ozônio, terapias celulares (células tronco, plasma rico em plaquetas), membranas biológicas, fisioterapia • Sempre utilizar soro antitetânico, independente se o animal é vacinado para tétano ou não. • Proteção da ferida sempre que for necessário, principalmente feridas baixas para não sujar e evitar a postura de moscas. • Utilização de liga de descanso do membro contralateral: deixar os animais em piso macio e utilizar a liga, para evitar acometimento do outro membro. • Repouso do animal e fisioterapia - Fatores que afetam a cicatrização: déficit nutricional, hipóxia, isquemia, necrose, infecção, inflamação/edema intenso, movimentação excessiva, autotraumatismo, tecido de granulação exuberante, bandagens inadequadas. - O que não fazer nas feridas? Contaminar com café, gorduras e afins; usar produtos cáusticos, cortar ou retirar estruturas sem conhecimento, puncionar, não controlar miíase, técnica de bandagem ou tala incorretas. INFLAMAÇÃO GRANULOMATOSA – FERIDA GRANULOMATOSA • Há a proliferação tecidual, e durante esse processo ocorre uma reação inflamatória focal crônica e extensa, além do necessário. • Há acúmulo e proliferação de leucócitos (principalmente as células mononucleares, sendo elas macrófagos, linfócitos e monócitos). • A origem pode ser Traumática, Parasitária (habronemose), Infecciosa (pitiose) ou Neoplásica (carcinoma, melanoma...) TECIDO DE GRANULAÇÃO EXUBERANTE • Frequente em equinos, ocorre mais na região distal dos membros (feridas baixas). - Fatores extrínsecos: Ocorre por um manejo inadequado da ferida (como um debridamento constante que acaba agredindo o tecido), uso de substâncias irritantes como forma de tratamento, repelentes que podem agredir o tecido, entre outros fatores. • Impede a migração epitelial e a contração da ferida, aumenta a tensão da pele, e dificulta a maturação do tecido. • Possui coloração rósea e uniforme, pode ser verrucoso e com presença de secreção mais amarelada fibrinosa (em proliferação) ou liso (na fase de maturação), é vascularizado (sangra com facilidade) e não inervado. - Diagnóstico: Histórico, sinais clínicos (característica macro da ferida) e histopatológico. É interessante realizar um raio x para ver se não há comprometimento ósseo. • O ideal é controle e prevenção. - Controle e Tratamento: Realizar de forma cuidadosa a limpeza, com água e sabão neutro sem esfregar; utilizar antissépticos que não estimulem o tecido de granulação (clorexidine 0,2-0,5%, líquido de dákin, PVPI); cauterização química (sulfato de cobre em pó que leva a necrose do TGE, deixa 48h e quando retirar a bandagem sai um pedaço do tecido); corticoide tópico (auxilia no controle do TGE, pode ser utilizado antes da cauterização e após); bandagem compressiva (troca diária, protege a ferida e controla o tecido de granulação que está se formando, mantém até a hora de maturação tecidual); quando o tecido estiver maturado e liso, estimula-se o início da epitelização. • Nos casos onde o TGE já está formado e extenso, deve-se fazer o uso de ressecção cirúrgica ou criocirurgia. É importante sempre conter o sangramento (garrote por até 1h enquanto estiver mexendo na ferida, após isso bandagem compressiva). HABRONEMOSE – FERIDA DE VERÃO • H. muscae, H. microstoma, Draschia megastoma. • São parasitas do estômago, portanto o controle é com vermifugação. • As lesões aparecem com frequência no canto medial do olho, conjuntiva, face, comissura labial, nas narinas, no pênis e membros. • O equino parasitado elimina os ovos ou larvas as fezes → Mosca senta nas fezes do cavalo e carreia as larvas, depositando-as em feridas cutâneas já existentes ou em regiões de mucosa → as larvas morrem na região causando um processo inflamatório e proliferação tecidual. - Sinais clínicos: As lesões podem ser únicas ou múltiplas, com tecido de granulação, pouco exsudativa, podendo ter sangramento intermitente. Algumas feridas podem ter aspecto mais amarelado, com pontos mineralizados e material caseoso ou calcificado. - Diagnóstico: Anamnese e sinais clínicos. Pode-se fazer o histopatológico, aparecerão muitos eosinófilos em um infiltrado inflamatório grande. Pode haver foco de necrose e partes de larvas. - Tratamento: Reduzir a inflamação com corticoide (pode usar sistêmico, intralesional ou tópico); Ressecção química ou cirúrgica; Tratamento específico com antiparasitário (ivermectina 0,2mg/kg VO, triclorfon25-40mg/kg VO); Tratamento da ferida/evitar reinfestação; Reduzir a população de vetores. • Se for nos olhos, utilizar produtos oftálmicos. PITIOSE • Causada pelo fungo Pythium insidiosum. Prevalece em ambientes mais úmidos, aquáticos, como por exemplo o pantanal. Por isso, a lesão é mais comum nos membros, região do abdome ventral. • Penetra através de feridas pré- existentes, não possui capacidade de penetrar a pele íntegra. • Infecção fúngica de progressão rápida e invasiva. • Causa muito prurido, levando a automutilação. Pode acontecer de o animal ingerir ou inalar o fungo, levando a uma “metástase” no pulmão, linfonodos, e até intestino. • Alguns estudos dizem que é zoonose, outros não. - Sinais clínicos: Ferida granulomatosa, ulcerada, muito exsudativa (diferencial), secreção mucopurulenta por infecção bacteriana secundária, intenso prurido e de evolução rápida, presença de cankers (que são caseos amarelados, parecem grãos). Animal pode ter anemia e leucocitose. - Diagnóstico: Anamnese, sinais clínicos (características macroscópicas das lesões), pode ser feito o histopatológico (infiltrado inflamatório, área de necrose, as vezes podem ser vistas hifas na coloração ouro e prata). - Diagnóstico diferencial: TGE, Habronemose, Neoplasias. - Tratamento: Anfotericina B (em antibiose), Iodeto de potássio VO, Imunoterapia (Pytium vac, é vacina, porém terapêutica e não preventina, SC ou intradérmico), AINEs ou corticoide (com o intuito de reduzir o tecido de granulação), manejo geral da ferida, suporte E/OU ressecção cirúrgica + terapia conservativa. • Não existe um tratamento 100% efetivo. • Pode-se tentar o tratamento com Protocolo teste. SARCÓIDE • Tumor cutâneo bem delimitado e invasivo, causado por um papilomavirus. • Maior prevalência em equinos com menos de 4 anos. • Acomete mais membros (como todas as anteriores), mas pode acometer cabeça (região periorbital e base de orelha), além de pescoço e abdome. • Pode ser oculto (quando não aparece, a pele fica íntegra), verrucoso ou nodular (semelhante a papiloma, não necessariamente ulcerado) e fibroblástico (proliferativo, lesões mais amplas e ulceradas). - Diagnóstico: Histórico, sinais clínicos e o histopatológico que fecha o diagnóstico e faz o diferencial das outras feridas granulomatosas. • Pode haver complicação, sendo ulceração e contaminação secundária - Tratamento: remoção cirúrgica ou criocirurgia, autovacina ou BCG (para estimular a resposta de linfócitos T e B), quimioterápicos (como a cisplatina, principalmente intralesional). CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS • Maior incidência em equinos de pele clara e em regiões sem pelo, porém não é regra. Ligado à alta incidência de raios ultravioleta. • Áreas de predileção são região do olho, pênis, prepúcio, anus, vulva, região perineal, cavidade oral. • Estágio pré-maligno (pequeno, esbranquiçado, elevado, com placas hiperplásicas). Estágio maligno (irregular, nódulos, róseo, erosivo, necrótico, odor desagradável, altamente invasivo, metástase para linfonodos regionais. - Diagnóstico: Histórico, sinais clínicos, histopatológico. - Tratamento: Ressecção cirúrgica (é indicada em praticamente todos os casos) ou criocirurgia, quimioterapia (5fluorouracil, inclusive para lesões oculares). MELANOMA • Neoplasia referente aos melanócitos ou melanoblastos, e por conta disso são massas de coloração mais escura, com secreção enegrecida dentro das massas (praticamente patognomônico). • Pode ser benigno ou maligno, com uma única lesão ou múltiplas lesões. • Incidência maior em cavalos tordilhos ou brancos, com mais de 6 anos. • Acomete mais membros, cabeça, prepúcio, períneo, cauda e úbere. • Caracterizado por nódulos firmes, sem pelos, ulcerados ou não, de coloração escura. - Diagnóstico: Sinais clínicos, citologia aspirativa e histopatológico. - Tratamento: Deve avaliar o caso (vale a pena tratar? Quando é maligno a taxa de recidiva é alta, considerar idade do animal, estado geral, tempo de evolução, etc..); Se for tratar, deve-se realizar a ressecção cirúrgica ou criocirurgia em alguns casos, associar com a quimioterapia (cisplatina intralesional, cimetidina em doses altas pode ser usada como modulador do sistema imune e quimioterápico).
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