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PRINCIPIOS DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS BmLIOGRAFIA (1) Catálogos comerciais de fumas fabricantes de evaporadores. (2) EarIe, R. - Unit operations in food processing. Permagon Press, 1966. (3) Potter, N. N. - Food Science. The AVI Publishing Co., Inc., 1968. 217 (4) Siozawa, Y. Y. &Quast, D. G. - Processos de evaporação na concentração de alimentos. Instrução Técnica n? 7 do ITAL, Campinas, S.P., 1975. (5) TressIer, D. K. &Joslyn, M. A. - Fruit and vegetabIe juice processing technQIogy. The AVI Publishing Co., Inc., 1971. 2 - CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS PEW USO 00 FRIO As temperaturas baixas são utilizadas para retardar as reações químicas e a atividade enzimática bem como para retardar ou inibir o crescimento e a ativi- dade dos microrganismos nos alimentos. Quanto mais baixa for a temperatura tanto mais reduzida será a ação química, enzimática e o crescimento micro- biano e uma temperatura suficientemente baixa inibirá o crescimento de todos os microrganismos. Sabemos que o alimento contém um número variável de bactérias, levedu- ras e mofos que poderão provocar alterações, dependendo de condições adequa- das de crescimento. Cada microrganismo presente possui uma temperatura ótima de crescimento e uma temperatura mínima, abaixo da qual não pode multipli- car-se. À medida que a temperatura vai decrescendo, o ritmo de crescimento também diminui, sendo mínimo na temperatura de crescimento mínimo. As tem- peraturas mais frias podem inibir o crescimento, porém a atividade metabólica continua, ainda que lentamente, até um certo limite. Portanto, o decréscimo da temperatura dos alimentos produz efeitos nos microrganismos presentes. Uma diminuição de lO°C pode deter o crescimento de alguns microrganismos e retar· dar o de outros. Sabemos que certos microrganismos conseguem crescer, se bem que em ritmo muito lento, em temperaturas. abaixo de O°C. A congelação além de impedir que a maior parte da água presente seja aproveitada devido à forma- ção de gelo, aumentará a concentração das substâncias dissolvidas na água não congelada. As enzimas presentes nos alimentos continuam atuando durante o arma- zenamento. Quanto menor a temperatura de armazenamento, menor será a atividade enzimática. Porém, esta atividade é encontrada ainda, se bem que muito lenta, em temperaturas abaixo do ponto de congelação da água pura. 218 ALTANIR JAIME GAVA Entre alguns microrganismos que conseguem crescem em baixas temperatu- ras, poderemos citar os gêneros Cladosporium e Sporotrichum que suportam _7°C, Penicillium e Monilia _4°C. Certas leveduras conseguem viver de _2° a _4°C, enquanto que certas bactérias o fazem de _4° a - ~C. Os gêneros Pseudomonas, Achromobacter e Micrococcus podem viver em baixas temperaturas (-4° a -7°C) e, por isso, também fazem parte das chamadas bactérias psicr6fJ.1as (6). Portanto, na utilização do frio estamos retardando ou inibindo a atividade microbiana e as reações químicas, incluindo os processos metab6licos normais da matéria-prima. Conforme. a temperatura desejada, poderemos lançar mão da refri- geração ou da congelação. a refrigeração, a temperatura da câmara onde se encontram os produtos a conservar não é tão baixa e quase nunca inferior a O°C, obtendo-se assim uma con- servação por dias ou semanas, dependendo do produto. a congelação ocorre a formação de gelo, necessitando-se assim de tempe- raturas mais baixas (-10° a -40°C), obtendo-se assim uma conservação do produto por períodos longos (meses ou anos). O uso do frio, associado a outras técnicas de conservação, é largamente utili- zado em· países desenvolvidos por causa da manutenção da qualidade do produto a ser conservado. É um processo bastante caro porque o produto deve ser mantido em baixas temperaturas desde sua produção até o seu consumo, obedecendo à chamada cadeia do frio. Entre alguns dados hist6ricos que contribuíram para o desenvolvimento da técnica do frio podem ser mencionados (5): 1595 Galileu utilizou um termômetro exato; 1622 Boyle anunciou as leis relacionadas com o volume e a pressão dos gases; 1823 Faraday estudou as mudanças de estado; 1824 Camot descreveu o chamado ciclo de Camot (expansão e compressão dos gases); 1834 Perkins usou a máquina de compressão; 1875 Linde usou o amoníaco como substância refrigerante; 1881 Forma-se na Nova Zelândia uma companhia que transporta came para a Inglaterra; 1920 Birdseye iniciou nos EUA o congelamento rápido dos alimentos. 2.1 - Instalações Mecânicas Os mecanismos de produção de frio têm evoluido bastante nos últimos tem- pos, mas nos limitaremos a descrever uma instalação, cujo esquema bastante simpli- ficado pode ser visto na figura 57. É um sistema baseado na compressão, liquefação e expansão de um gás. A substância refrigerante sofre mudanças de estado ao per- correr o interior das 3 partes distintas do sistema: o compressor, o condensador e o evaporador. PRINC(PIOS DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS 219 2.1.1 - Compressor Possui a fmalidade de fornecer calor à substância refrigerante, que foi perdido no evaporador. Geralmente é composta de uma bomba vertical ou horizontal, com uma transmissão apropriada. Nas máquinas pequenas, o cilindro é geralmente de bronze, sendo de aço nas máquinas maiores. O compressor é provido de um tubo de aspiração e compressão, com válvulas aspirante e premente, possuindo um dispositivo importante e delicado denominado "stuffmg box", que impede fugas de gás e entrada de ar atmosférico. O gás, ao sair do evaporador, recebe uma forte compressão, sendo então levado ao condensador. Figura 57 - Esquema de uma unidade de refrigeração (5). 2.1.2 - Condensador [>(( ( ---Evaporador ( condensa\ ) ( ) ) ( L ( ) ( Compressor c--- Depósito Válvula de expansão /' É formado geralmente por uma série de tubos de diâmetros diversos, unidos em curvas e, às vezes, dotados exteriormente de hélices que garantem um mais perfeito aproveitamente das superfícies de contato. O condensador é resfriado graças a uma corrente de água que se distribui em forma de chuva de cima para baixo e pela sua parte externa. O condensador pode estar também imerso na água que, segundo muitos, é preferível por permitir o resfriamento de modo mais metó· dico e uniforme, exigindo, porém, uma quantidade maior de água. Nas pequenas instalações, o resfriamento é normalmente feito pelo próprio ar atmosférico. 220 ALTANIR JAIME GAVA o gás que veio do compressor liquefaz-se ao entrar em contato com a tem- peratura fria do condensador, sendo em seguida orientado para um depósito onde aguardará oportunidade para ir ao evaporador. 2.1.3 - Evaporador Geralmente é formado por uma série de tubos (serpentinas) que se encontram no interior da câmara que recebe o alimento. A substância refrigerante, sob forma líquida, necessita de calor (calor latente de vaporização) para passar ao estado gasoso. Assim a evaporação da substância refrigerante dentro do evaporador irá roubar calor do ambiente e, conseqüentemente, o produto se resfriará. Sob a fOrma gasosa, o refrigerante volta ao compressor, fechando assim o ciclo. 2.2 - Substâncias Refrigerantes As substâncias refrigerantes devem possuir características, como: possuir baixo ponto de ebulição, não ser inflamável nem explosiva, deve ter alto calor latente de vaporização não deve ser corrosiva (atacar metais) nem alterar os óleos lubrificantes, não deve ser tóxica ao homem, não deve exigir pressões elevadas para condensar, deve ser de baixo custo. Entre as substâncias refrigerantes, podem ser mencionadas: dióxido de enxofre, dióxido de carbono, cloreto de metila, amônia hidrocarbonetos fluorados: Freon 11 Freon 12 Freon 21 Freon 22 Freon 113, etc., - nitrogênio líquido. O ponto de ebulição e o calor latente de vaporização de algumas substâncias refrigerantes podem ser vistos na tabela 19. O dióxido de enxofre e o cloreto de metila já foram usados no passado. O cloreto de metila é tóxico, explosivo e pode dissolver os lubrificantes. O dióxido de enxofre é muito corrosivo e tóxico, porém facilmente identificado. Por causadesta sua última característica, ele é algumas vezes adicionado ao Freon, nome comercial de alguns hidrocarbonetos fluorados. PRINCfplOS DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS Tabela 19 - Características de algumas substâncias refrigerantes 221 Substância Ponto de ebulição Calor latente de vaporização refrigerante tc) Btu/Qb Cal/g (aprox.) Água 100 970,3 540 Amônia -33,3 589,3 326 Freon 12 -29,9 70,8 39 Dióxido de carbono -87 Dióxido de enxofre -10 168 94 Cloreto de metila -24 184,1 102 A amônia, apesar de ter sido introduzida em 1875, é bastante utilizada hoje em dia. É relativamente barata, facilmente identificada, facllmente condensável, não é inflamável, possui baixo ponto de ebulição (-33fC) e alto calor latente de vapo- rização (326 kcal/kg). No seu estado seco não é corrosiva mas poderá, quando ume- decida, formar complexos com cobre e bronze. É um gás irritante, podendo causar asftxia em pequenas quantidades. O Freon 12 (nome comercial da Dupont para difluordicloro-metano) é basfante utilizado nas geladeiras de uso doméstico. Possui boas propriedades mas tem o inconveniente de ser bastante caro. O dióxido de carbono sob a forma sólida (gelo seco), com temperatura de sublimação em tomo de -8üoC, tem recebido bastante atenção ultimamente. 2.3 - Refrigeração O armazenamento por refrigeração utiliza temperaturas um pouco acima do ponto de congelação. A refrigeração pode ser usada como meio de conservação básica ou como conservação temporária até que se aplique outro método de con- servação. A maior parte dos alimentos alteráveis pode ser conservada por refri- geração durante um tempo limitado, onde não se evitam, porém se retardam as atividades microbianas e enzimáticas. Cada alimento reage ao armazenamento refrigerado de sua própria maneira, havendo certos alimentos adversamente afetados, como a banana e tomates verdes. Nestes, os padrões metabólicos são modificados de maneira a impedir o amadure- cimento normal ou a estimular a atividade imprópria de enzimas específtcas. O abaixamento da temperatura da matéria-prima deve ser feito imediatamente após a colheita do vegetal ou a morte do animal. Algumas horas de atraso na colheita ou no matadouro poderão ocasionar perdas na conservação do produto. Isto é particularmente importante em vegetais que estejam num metabolismo ativo, podendo haver liberação de energia por causa da respiração e, assim, transformação de um produto metabólico em outro. 222 ALTANIR JAIME GAVA Para evitar certas perdas, é aconselhável fazer o resfriamento da matéria· prima imediatamente após a colheita. Entre os métodos utilizados, podemos men- cionar o resfriamento a ar, resfriamento a vácuo (ao evaporar, a água provoca o resfriamento do produto) e resfriamento a água (hidro-resfriamento). Ultimamente, o nitrogênio líquido tem sido usado também para esse objetivo, em certos países. A temperatura utilizada na refrigeração tem importância na conservação do produto. Assim, a 5°C, temperatura comum de refrigeração, um produto poderá ser conservado por 5 dias, ao passo que, a 15°C, poderá ser deteriorado em 1 dia. A tabela 20 nos dá uma idéia do que acabamos de dizer. Tabela 20 - Armazenamento útil de tecidos vegetais e animais a várias temperaturas Período médio de armazenamento em dias a Alimento Carne Peixe Carne de galinha Frutas Verduras Sementes secas 6 - 10 2-7 5 - 18 2 - 180 3 - 20 1.000 ou mais 1 1 1 1 - 20 1 - 7 350 ou mais <1 <1 <1 1 - 7 1 - 3 100 ou mais Alguns fatores que devem ser considerados no armazenamento por refrigera- ção são: a temperatura de armazenamento, a circulação do ar, a umidade e a com- posição da atmosfera de armazenamento. 2.3.1 - Temperatura A temperatura de refrigeração a ser escolhida depende do tipo de produto e do tempo e condições do armazenamento. Algumas vezes, mesmo variedades dife· rentes terão temperaturas de armazenamento diferentes. Assim, para a maçã Mc Intosh, a melhor temperatura oscila entre 2,5 e 4,5°C, ao passo que a maçã Delicious é melhor conservada a O°C. Certos produtos, como a banana e tomate, não podem ser armazenados em temperatura inferiores a 13°C porque prejudicam o processo de maturação através da influência sobre certas enzimas (11). As câmaras de refrigeração devem ser projetadas de tal maneira que não permitam oscilações maiores que 1°C. Para isto torna-se necessário fazer um bom isolamento e conhecer os fatores que poderão fornecer calor ao ambiente. Entre os 2.3.2 - Umidade relativa A umidade do ar dentro da câmara varia com o alimento conservado e está diretamente relacionada com a qualidade do produto. Uma umidade relativamente baixa determinará perda de umidade do alimento, podendo ocorrer uma desidra· tação, ao passo que uma umidade relativamente alta facilitará o crescimento micro· biano. A umidade relativa ótima de cada alimento já é perfeitamente conhecida e alguns exemplos podem ser vistos na tabela 21. Para períodos de armazenamento longo, recomenda·se o uso de embalagens apropriadas. materiais isolantes temos a cortiça, madeira sintética, o poliestireno e a poliure- tana. Entre os fatores que podem influenciar a temperatura interna, podemos citar as lâmpadas e motores elétricos, número de pessoas trabalhando no interior da câmara, quantas vezes será aberta a porta de entrada e tipo e quantidade de produtos que serão armazenados na área de refrigeração. Esse último fator é importante porque cada produto possui o seu calor específico e uma certa taxa de respiração, com consequente produção de calor. Todos esses fatores são necessários para o cálculo da refrigeração total, que corresponde à quantidade de calor que deverá ser removido do produto e da câmara para ir da temperatura inicial até a temperatu- ra fmal e que de~e ser mantida Po! um determinado te~po. _ Para a manutenção de uma temperatura uniforme, a circulação de ar deve estar bem regulada. 223PRINCIPIOS DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS Tabela 21 - Refrigeração de alguns produtos alimentícios (5) Alimento Temp. armazena- U. R. em Pto. de congela· Tempo aprox. de mento (OC) % ção médio (OC) armazenamento Aspargo O 90-95 -1 3 a 4 semanas Couve-flor O 85-90 -1 2 a 3 semanas Alface O 90-95 -0,5 3 a 4 semanas Carne bovina Oa 1,5 88-92 -2 1 a 6 semanas Presunto fresco Oa 1,5 85-90 -2 7 a 12 dias Manga 10 85-90 -1,5 2 a 3 semanas Abacaxi 4a 7 85-90 -1,5 2 a 4 semanas Laranja Oa 1,5 85-90 -1 8 a 12 semanas Mamão 7 85-90 -1 2 a 3 semanas Pêra -0,5 a -1,5 85-90 -2,5 Maçã -1 a O 85-90 -1,5 Morango -0,5 a -1 85-90 -1 7 a 10 dias 224 2.3.3 - Circulação do ar ALTANIR JAIME GAVA A circulação do ar ajudará na distribuição de calor dentro da câmara, permi- tindo assim manter uma temperatura uniforme. A umidade relativa desse ar deve ser adequadamente controlada. O ar da câmara deve ser renovado diariamente, principalmente por causa dos maus odores formados quando diferentes produtos são armazenados no mesmo local. 2.3.4 - Atmosfera de armazenamento a respiração de um produto, que continua após a colheita, oxigênio é consu- mido, havendo produção de gás carbônico. A diminuição na temperatura e no oxigênio disponível e um aumento do gás carbônico irão afetar o ritmo da respira- ção e outros processos fisiológicos. A temperatura ótima, umidade relativa e compo- sição da atmosfera variam para as diferentes frutas e mesmo entre variedades da mesma fruta (11). Uma composição ideal, de caráter geral, é constituída de 3% de oxigênio,'S% de gás carbônico e 92% de nitrogênio. 2.4 - Congelação a congelação utilizamos temperaturas mais baixas do que na refrigeração, e, por isso, inibimos o crescimento microbiano e retardamos praticamente todo o processo metabólico. Quanto menor a temperatura de armazenamento, mais lenta será a atividade enzimática, até um determinado ponto, onde ocorre uma paralisação total. Este fato é alcançado através de temperaturas extremas e é um pouco difícil de ser avaliado porque, quando um tecido animal ou vegetal é con- gelado lentamente, mesmo a -20°C ou temperaturas inferiores, existirão zonascom alta concentração de solutos não congelados (14). Mas, em termos práticos, a congelação é bastante usada porque as carac- terísticas naturais dos produtos são relativamente mantidas. É um método caro porque existe necessidade da chamada "cadeia do frio", isto é, o produto deve ser conservado à baixa temperatura desde a produção até o seu consumo. A escolha da temperatura de armazenamento vai depender do aspecto eco- nômico e do tipo de produto. Na prática, usam-se em média, temperaturas de -1,0° a -40°C. Entre os produtos que se prestam para a congelação podemos incluir as carnes, ervilha, morango, milho e hortaliças de modo geral. É através da congelação que se consegue obter alimentos mais convenientes, isto é, prontos ou semiprontos para consumo. Aqui no Brasil os supergelados, como são chamados, já foram lançados e são utilizados principalmente no mercado insti· tucional (fábricas, hospitais, restaurantes, etc.). PRINCfplOS DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS 2.4.1 - Métodos de congelação 225 Já sabemos que o ponto de congelação de um líquido é a temperatura na qual o líquido está em equilíbrio com o sólido. O ponto de congelação de uma solução é mais baixo do que o do solvente puro e, portanto, o ponto de congelação dos ali- mentos é mais baixo do que o da água pura. De modo geral, os alimentos congelam- se entre oOe e -4°e. A congelação pode ser feita de modo lento ou rápido. Na congelação lenta, um processo demorado (3 a 12 horas), a temperatura vai decrescendo gradati- vamente até chegar ao valor desejado. Haverá formação de cristais grandes de gelo no interior da célula, mas principalmente nos espaços intercelulares. Esses cristais irão afetar fisicamente a célula e, assim, podem causar reações indesejáveis. Na congelação rápida temos um abaixamento brusco da temperatura, havendo assim formação de pequenos cristais de gelo, principalmente no interior da célula (4). A velocidade de congelação vai depender do quociente entre a diferença de temperatura do produto e do líquido refrigerante e fatores de resistência, tais como velocidade do ar, tamanho do produto, geometria do sistema e composição do produto. Rasmussen (13) dá uma idéia do tempo de congelação para vegetais e frutas, como pode ser visto na tabela 22. Tabela 22 - Tempo de congelação para frotas e vegetais pequenos (13) Método Congelação com embalagem (300 g) - AI forçado - Placa Congelação a granel (ar forçado) - Esteira - Esteira fluidizada Congelação criogênica Tempo (aprox.) de congelação 3 a 5 horas 1/2 a 2 horas 20 a 30 minutos 5 a lO minutos 1/2 a I minuto Entre os métodos de congelação podemos incluir: congeladores por ar, congeladores por contato indireto, congeladores por imersão. 226 2.4.1.1 - Congeladores por ar ALTANIR JAIME GAVA Podemos utilizar o ar sem movimento ou o ar insuflado (forçado). No método sem movimentação do ar, os produtos ficam na câmara até a congelação. O tempo necessário para a congelação depende da temperatura da câmara, da qualidade do alimento, da temperatura inicial do alimento (ao entrar na câmara) e do tipo, tamanho e forma do produto a congelar. É um método barato, porém muito lento. É o tipo encontrado nas geladeiras domésticas, onde a temperatura fmal varia de -10° a -20°C. O tempo de congelação, que pode levar várias horas, pode ser reduzido drasticamente pelo uso de ventiladores na câmara de congelação. O ar bastante frio movimenta-se à alta velocidade, produzindo assim uma congelação relativa- mente rápida. Este sistema de ar insuflado poderá ocorrer dentro de uma câmara, em um túnel, adaptado em esteira ou não, etc. A movimentação do ar poderá ser paralela ou oposta ao movimento do produto. A desidratação é um problema sério nesses tipos de congeladores. Quando a velocidade do ar é tal que excede a velocidade de caída das par- tículas, tem-se a impressão de uma "fluidização" e o processo é dito congelação em leito fluidizado. Aqui as partículas são congeladas individualmente e, por isso, são chamadas na forma IQF (em inglês quer dizer "individually quick frozen"). O tempo de congelação é na ordem de minutos (11). 2.4.1.2 - Congeladores por contato indireto Aparece quando o alimento a ser congelado é colocado em contato com uma placa resfriada por uma substância refrigerante; quando é colocado dentro de uma lata que será submersa no refrigerante ou ainda quando é colocado dentro de caixas de papelão ou cartolina colocadas em placas de metal resfriado. Essas placas podem ser fixas ou móveis e a salmoura refrigerante imóvel ou com movi· mento turbulento. O congelador Birdseye contém uma série de placas metálicas, ocas, superpostas e acionadas por um elevador de pressão hidráulica, de tal manei- ra que podem ser separadas para receber o alimento embalado entre elas e depois recolocadas em íntimo contato. O conjunto de placas permanece em cabines isoladas. Dependendo da temperatma do líquido refrigerante, tamanho da emba· lagem, grau de contato e tipo de alimento, o tempo de congelação é de 1 a 2 horas, para embalagens de 1,5 a 2,0 cm de espessura. A figura 58 mostra um destes congeladores de trabalho descontínuo. Há sistemas de congelação por contato indireto como o trocador de calor de superfície raspada ("scraped surface heater") que congela substâncias líquidas ou purês muito rapidamente. PRINC(PIOS DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS Figura 58 - Congelador de placas (Cortesia da Dole). 2.4.1.3 - Congeladores por imersão 227 Aqui ocorre imersão direta dentro do meio refrigerante ou a pulverização do líquido sobre o produto, havendo assim uma congelação quase que instantânea (ultra-rápida). O líquido refrigerante deve ter certos requisitos, como não tóxico, puro, ausência de odores e sabores, limpo, etc. (11). Líquidos com baixo ponto de congelação têm sido usados para contato com alimentos não embalados, como soluções de cloreto de sódio, açúcar e glicerol. Uma mistura de 23,3% de NaCI e 76,7% de água irá congelar a -21°C (mistura eutética). Hoje em dia, seu uso está restrito à congelação de peixes. Solução de açúcar tem sido usada para congelar frutas, mas a dificuldade está baseada no fato de que, para alcançar uma temperatura de -20°C, precisa- mos de uma solução com 62% de sacarose, muito viscosa a baixas temperaturas. Com uma solução a 67% de glicerol em água se consegue chegar a -45°C, mas existem problemas na sua aplicação em produtos que não devem ser adocicados. Tanques especiais são utilizados para a congelação, que pode ser alcançada em 30 minutos (11). Ultimamente, a congelação por líquidos criogênicos (gases liquefeitos, com ponto de ebulição muito baixo) tem se desenvolvido bastante. Entre os líquidos temos o nitrogênio (-195°C), o dióxido de carbono líquido (-80°C), etc. O nitrogênio líquido, apesar do seu preço elevado, é bastante utilizado porque possui um baixo ponto de ebulição, não é tóxico e é inerte para os constituintes do ali· mento, e é o método que fornece um produto de melhor qualidade por causa do seu tempo de congelação ultra-rápido (1 a 3 minutos). Ele é também bastante utilizado no transporte de alimento congelado. A figura 59 mostra um túnel de congelação que trabalha com nitrogênio líquido. 228 ALTANIR JAIME GAVA o gelo seco, que sublima a -80v e, tem recebido considerável atenção ulti- mamente. As instalações para produção de gelo seco são ainda bastante caras e daí a restrição do seu uso entre nós. Figura 59 - Congelação ultra-rápida com nitrogênio líquido (Cortesia da Air Products and Chemicals Inc.). 2.5 - Necessidades de Energia para Congelação A quantidade de energia necessária à congelação dos alimentos pode ser expressa em unidades de calorias ou em B.T.U. (unidades ténnicas britânicas). Além de congelar o alimento, há o problema de manter o material conge- lado num estado sólido adequado. Iremos nos preocupar apenas com o primeiro problema, para dar uma idéia geral. O primeiro passo é calcular a energia neces- sária para baixar a temperatura da massa até o seu ponto de congelação. Para isso, precisamosconhecer o calor específico, o peso e a temperatura inicial e de congelação do alimento. Depois, precisamos conhecer a energia necessária para a congelação. Para isso, precisamos do calor de fusão e da massa do alimento. PRINC(PIOS DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS 229 Finalmente, precisamos conhecer a energia necessária para baixar a temperatura do alimento congelado até a tempentura da câmara desejada. Para isso, precisamos do calor específico, da massa e das temperaturas de congelação e da câmara. 2.6 - Embalagem dos Alimentos Congelados Todos os alimentos congelados devem ser embalados principalmente para evitar a desidratação, durante a congelação por meio do ar ou outro sistema qualquer. Em caso contrário, poderá haver uma queimadura de congelação que altera irreversive1mente a cor, textura, sabor e o valor nutritivo dos alimentos con· gelados. Por outro lado, uma cobertura qualquer (embalagem) no alimento evita- rá que sofra uma oxidação e contaminação da atmosfera no interior da câmara. Uma alteração substancial na qualidade poderá ocorrer em produtos não prote- gidos no armazenamento congelado. A madeira, o metal, o vidro, o papel e matçriais plásticos são usados com bastante êxito como embalagens para alimentos corlgelados. 2.7 - Associação de Outras Técnicas de Conservação à Congelação Sabemos que os alimentos congelados não são esterilizados e, por isso, podem conter enzimas ativas que, embora retardadas na atividade, não são completamente inativas. As principais categorias de alimentos apresentam problemas diferentes e só podemos discuti·los ligeiramente. Algumas frutas e carnes podem ser congeladas e armazenadas por longos períodos de tempo, sem tratamento especial para deter a atividade da enzima. A maioria das hortaliças e muitos produtos derivados do leite devem ser aque- cidos para destruir as enzimas que, caso contrário, tomariam os produtos conge· lados inaceitáveis. Ervilha, feijão, etc., contém oxidases que podem ocasionar problemas e esses alimentos devem ser aquecidos a 80°C ou 90°C em água quente ou vapor antes d'a congelação. Se não o forem, os alimentos perderão seu sabor normal e adquirirão um sabor forte, semelhante ao "feno velho". Frutas, como morango e cereja, podem ser congeladas, embora algumas variedades sejam melhores do que outras. Nos alimentos altamente protéicos, como a carne e o peixe, a congelação é feita sem prévio aquecimento porque as proteínas desnatu- radas pelo calor não congelam bem. Certas frutas, como pêssego e maçã, contêm oxidases (polifenoloxidases) que podem ocasionar escurecimento na presença do oxigênio. Isto pode ser impedido pelo aquecimento, mas, nesse caso, perdemos as vantagens do sabor de fruta fresca. O escurecimento pode ser impedido tratando-se a fruta cortada em fatias, antes da congelaçã'o, com gás sulfuroso, ácido ascórbico, com ou sem açúcar. O emprego de radiação ultravioleta, ultra-som e secagem tem sido moderna- mente associado à congelação. 230 ALTANIR JAIME GAVA A desidratação-congelação ("dehydro-freezing") e a congelação-desidratação ("freeze-drying") ou liofilização são duas técnicas bastante empregadas recente- mente em países desenvolvidos. A liofilização já foi por nós estudada. Na "dehydro- freezing" o produto é parcialmente desidratado até 50% de umidade e depois congelado. Cenoura, ervilha, damasco, maçã, pimenta, etc. são assim conservados em alguns países. 2.8 - Influência da Congelação sobre os Microrganismos e Enzimas No início deste capítulo tivemos a oportunidade de comentar bastante essa influência. Sabemos que a maioria dos microrganismos pode ser classificada por suas temperaturas ótimas de crescimento. Alguns microrganismos conseguem viver em temperatuas abaixo do ponto de congelação da água. Em geral, os mofos e leve- duras adaptam-se melhor do que as bactérias em baixas temperaturas. A congelação prejudica a população microbiana, principalmente as formas vegetativas, enquanto que os esporos são pouco afetados. A temperatura de descongelação do alimento apresenta uma importância enorme sobre o crescimento dos microrganismos. A atividade de urna enzima ou sistema de enzimas depende da temperatura. Essa atividade poderá ser destruída a 95°C, enquanto que a baixa temperatura a retarda apenas. As melhores velocidades de reações das enzimas estão em torno de 35°C. Portanto, a congelação retarda a velocidade enzimática, devendo-se lançar mão de um outro tratamento (térmico, por exemplo) para inativar as enzimas antes da congelação e armazenamento. 2.9 -Influência da Congelação sobre o Valor Nutritivo dos Alimentos o processo de congelação em si não altera o valor nutritivo do ali- mento. Quanto menor for a temperatura, melhor será a retenção das substâncias nutritivas. Porém, sempre é dado ao alimento um certo tratamento a fIm de prepa· rá-Io para a operação de congelação. Assim a lavagem, corte, branqueamento, etc., são operações necessárias ao produto a congelar. Nesse processamento poderão ocorrer perdas de certos nutrientes, principalmente das vitaminas. A exposição dos tecidos à atmosfera traz como resultado perdas de vitami- nas devido à oxidação. Em geral, as perdas de vitamina C ocorrem no corte da matéria-prima e sua conseqüente exposição ao ar. Das vitaminas, a C é a que maiores perdas sofre nos produtos congelados. A vitamina B1 é sensível ao calor e é parcialmente destruída no branqueamento. Perdas pequenas ocorrem também, no armazenamento congelado de frutas, hortaliças, carnes e aves. A vitamina B2 sofre muito pouco com a congelação. Das vitaminas liposso- lúveis, o caroteno (precursor da vitamina A) é alterado ligeiramente com a conge- lação do alimento. BffiLIOGRAFIA 2.10 - Alterações Durante a Congelação·Descongelação (1) Anônimo - Desenvolvimentos técnicos recentes na conservação de alimentos pelo frio. Revista Tecnologia de Alimentos e Bebidas, nO~ 1 e 2, 1966. 231PRINC(PIOS DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS o armazenamento de alimentos sem uma proteção externa (embalagem) conduz à oxidação e à destruição de muitos nutrientes, inclusive das vitaminas. As gorduras podem ser decompostas por oxidação, principalmente nos alimentos de origem animal. É comum encontrar·se o ranço em peixes congela· dos não protegidos por embalagens. Algumas proteínas podem ser desnaturadas, principalmente quando ocorre· rem operações sucessivas de congelação e descongelação. Tappel (14) mostra que a organização celular, incluindo o núcleo, mito· côndria, ribossomas, lisossomas e outras organelas, é afetada em vários graus pela operação congelação·descongelação repetida. Destes, o lisossoma parece ser a estru· celular mais afetada. Com o rompimento da membrana, as enzimas hidrolíticas (nucleases, catepsinas, fosfatases, sulfatases, etc.) que estavam então compartimen- tadas, passam a atacar o próprio material celular, havendo assim uma autodigestão. No armazenamento dos produtos congelados, as reações químicas e enzi· máticas continuam lentamente. A deterioração oxidativa (ranço) poderá alterar os alimentos, fornecendo um sabor desagradável. Poderá aparecer, em produtos congelados não embalados, um líquido viscoso chamado de líquido metacriótico, que favorecerá o desenvolvimento dos micror· ganismos. As variações de temperatura do armazenamento podem determinar um aumento do tamanho dos cristais de gelo, que alterará fisicamente o alimento. Variações de temperatura do congelador poderão originar queimaduras do alimento, devidas à secagem lenta do alimento congelado por sublimação. Produz um sabor inaceitável, além da mudança de tl,:xtura, sendo evitada pelo uso de em· balagem adequada. Os produtos animais, destacando-se a carne, não são afetados pela congelação. No caso da carne parece ser benéfico, pois a carne congelada é mais macia que a natural, em certos casos. Os tecidos vegetais, destacando-se as frutas, são mais sensíveis. O suco de laranja, congelado e descongelado várias vezes, pouco se parece ao suco natural em odor e sabor. Portanto, a congelação·descongelação repetida é prejudicialà maioria dos alimentos. Assim, a descongelação deve ser cuidadosa, devendo-se fazer uso imedia· to do produto congelado. CCI00002 CCI00003 CCI00004 CCI00005 CCI00006 CCI00007 CCI00008 CCI00009 CCI00010 CCI00011 CCI00012 CCI00013 CCI00014 CCI00015 CCI00016 CCI00017 CCI00018 CCI00019 CCI00020 CCI00021 CCI00022 CCI00023 CCI00024 CCI00025 CCI00026 CCI00027 CCI00028 CCI00029 CCI00030 CCI00031 CCI00032 CCI00033 CCI00034 CCI00035 CCI00036 CCI00037 CCI00038 CCI00039 CCI00040 CCI00041 CCI00042 CCI00043 CCI00044 CCI00045 CCI00046 CCI00047 CCI00048 CCI00049 CCI00050 CCI00051 CCI00052 CCI00053 CCI00054 CCI00055 CCI00056 CCI00057 CCI00058 CCI00059 CCI00060 CCI00061 CCI00062 CCI00063 CCI00064 CCI00065 CCI00066 CCI00067 CCI00068 CCI00069 CCI00070 CCI00071 CCI00072 CCI00073 CCI00074 CCI00075 CCI00076 CCI00077 CCI00078 CCI00079 CCI00080 CCI00081 CCI00082 CCI00083 CCI00084 CCI00085 CCI00086 CCI00087 CCI00088 CCI00089 CCI00090 CCI00091 CCI00092 CCI00093 CCI00094 CCI00095 CCI00096 CCI00097 CCI00098 CCI00099 CCI00100 CCI00101 CCI00102 CCI00103 CCI00104 CCI00105 CCI00106 CCI00107 CCI00108 CCI00109 CCI00110 CCI00111 CCI00112 CCI00113 CCI00114 CCI00115 CCI00116 CCI00117 CCI00118 CCI00119 CCI00120 CCI00121 CCI00122 CCI00123 CCI00124 CCI00125 CCI00126 CCI00127 CCI00128 CCI00129 CCI00130 CCI00131 CCI00132 CCI00133 CCI00134 CCI00135 CCI00136 CCI00137 CCI00138 CCI00139 CCI00140 CCI00141 CCI00142 CCI00143 CCI00144 CCI00145 CCI00146 CCI00147 CCI00148 CCI00149 CCI00150 CCI00151 CCI00152 CCI00153 CCI00154 CCI00155 CCI00156 CCI00157 CCI00158 CCI00159 CCI00160 CCI00161 CCI00162 CCI00163 CCI00164 CCI00165 CCI00166 CCI00167 CCI00168 CCI00169 CCI00170 CCI00171 CCI00172 CCI00173 CCI00174 CCI00175 CCI00176 CCI00177 CCI00178 CCI00179 CCI00180 CCI00181 CCI00182 CCI00183 CCI00184 CCI00185 CCI00186 CCI00187 CCI00188 CCI00189 CCI00190 CCI00191 CCI00192 CCI00193 CCI00194 CCI00195 CCI00196 CCI00197 CCI00198 CCI00199 CCI00200 CCI00201 CCI00202 CCI00203 CCI00204 CCI00205 CCI00206 CCI00207 CCI00208 CCI00209 CCI00210 CCI00211 CCI00212 CCI00213 CCI00214 CCI00215 CCI00216 CCI00217 CCI00218 CCI00219 CCI00220 CCI00221 CCI00222 CCI00223 CCI00224 CCI00225 CCI00226 CCI00227 CCI00228 CCI00229 CCI00230 CCI00231 CCI00232 CCI00233 CCI00234 CCI00235 CCI00236 CCI00237 CCI00238 CCI00239 CCI00240 CCI00241 CCI00242 CCI00243 CCI00244 CCI00245 CCI00246 CCI00247 CCI00248 CCI00249 CCI00250 CCI00251 CCI00252 CCI00253 CCI00254 CCI00255 CCI00256 CCI00257 CCI00258 CCI00259 CCI00260 CCI00261 CCI00262 CCI00263 CCI00264 CCI00265 CCI00266 CCI00267 CCI00268 CCI00269 CCI00270 CCI00271 CCI00272 CCI00273 CCI00274 CCI00275 CCI00276 CCI00277 CCI00278 CCI00279 CCI00280 CCI00281 CCI00282 CCI00283 CCI00284 CCI00285