Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 COGNIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA E DO RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO Parte II – Unidades V a VIII Profa. Juliane Feldmann Profa. Edna Barberato Genghini FELDMANN, Juliane GENGHINI, Edna Barberato Cognição e desenvolvimento da Linguagem Oral e Escrita e do Raciocínio Lógico-matemático (livro-texto – Parte II – Unidades V a VIII) / Juliane Feldmann; Edna Barberato Genghini. – São Paulo: Pós- Graduação Lato Sensu UNIP, 2019. 141 p. : il. 1. Fundamentos histórico-culturais para o ensino da matemática. 2. Metodologias para a educação matemática no Brasil. 3.Avaliação da Matemática. 4.material manipulativo, concreto para aprendizagem matemática. Pós-Graduação Lato Sensu UNIP. III. Cognição e desenvolvimento da Linguagem Oral e Escrita e do Raciocínio Lógico- matemático (livro-texto – Parte II – unidades V a VIII). COGNIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA E DO RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO II Parte – Unidades V a VIII Professora conteudista JULIANE FELDMANN Pedagoga pela Universidade Regional de Blumenau - SC; Psicopedagoga Institucional e Clínica pelo ICPG; Neuropsicopedagoga Clinica pelo CENSUPEG; Psicomotricista pela FMU; Coordenadora Pedagógica pela Prefeitura Municipal de SBC – SP – 13 anos de atuação como professora em sala de aula, com experiência em alfabetização; 12 anos atuando como psicopedagoga clinica clínica em consultório próprio; Coordenadora da Equipe Multidisciplinar do espaço Integrado; 12 anos ministrando cursos e palestras na área da educação; Docente em cursos de pós-graduação; Coordenadora do Curso de Pós Graduação em Neuropsicopedagogia Institucional e Clínica pela UNIP; Autora dos Livros: Aprender tem que ser Divertido. Ed. CEITEC – esgotado; Trio de Rimas. – Ed. Matrix; Pensamento e Emoções – Ed. Matrix; Sentimentos e Pensamentos – Ed. Matrix, Exercícios da Gratidão – Ed. Matrix. Autora de Jogos Neuropsicopedagógicos – www.neurototem.com.br – Te Conhecendo Melhor (Técnica Projetiva) – Jogo das Funções Executivas – Alinhando 3 – Bingo da Ortografia – De Olho nos Monstros – Labirinto Psicomotor – Tabuleiros de Percurso – As Pulgas do Gato – Enfeitando o bolo, Técnica dos Grampos de Roupa; Técnica das Esponja. Professora colaboradora/coordenadora: EDNA BARBERATO GENGHINI, Professora Universitária desde 2002. Atualmente no exercício da função de Coordenadora para todo o Brasil de três cursos ao nível de Pós-Graduação Lato Sensu: em PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL, DOCÊNCIA PARA O ENSINO SUPERIOR e em FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, pela UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP/EaD, onde também atua como Professora Adjunta, nas modalidades SEI e SEPI. É Diretora e Psicopedagoga da MENTOR ORIENTAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA LTDA. ME desde 1991. Possui graduação em Economia Doméstica – Faculdades Integradas Teresa D'Ávila de Santo André (1980), graduação em Pedagogia pela Universidade Guarulhos (1985), Pós-graduação em Psicopedagogia pela Universidade São Judas (1987), Mestrado em Ciências Humanas pela Universidade Guarulhos (2002) e pós- graduação Lato Sensu em Formação em Educação a Distância pela UNIP – Universidade Paulista (2011). É autora e coautora de livros Textos para os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior e Formação em Educação a Distância da UNIP – EaD. Áreas de Interesse: Neurociências – Educação Inclusiva – Psicopedagogia Clínica e Institucional – Formação e Gestão em Educação a Distância – Formação de Docentes para o Ensino Superior. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 6 V. FUNDAMENTOS HISTÓRICO-CULTURAIS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA: POR QUE O PSICOPEDAGOGO PRECISA CONHECER? ....................... 10 5.1 Uma história muito antiga .................................................................................. 10 5.2 A História da matemática e a educação matemática ......................................... 10 5.2.1 A origem dos números ....................................................................................... 11 5.2.2 A pré-história dos números, uma contagem primitiva ........................................ 11 5.2.3 As civilizações e seus sistemas de numeração ................................................. 12 5.2.4 Considerações sobre as visões absolutistas do conhecimento matemático na prática pedagógica e sua influência prática psicopedagógica .............................................. 16 5.2.5 O ensino da matemática – breve histórico ......................................................... 17 5.2.6 Movimento da Matemática Moderna no Brasil ................................................... 18 5.3 A História da matemática na formação do professor e do psicopedagogo ......... 20 VI. METODOLOGIAS PARA A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO BRASIL ............... 23 6.1 Pressupostos epistemológicos do pensamento lógico-matemático .................... 23 6.2 Raciocínio lógico-matemático, segundo Piaget .................................................. 23 6.3 A importância do conhecimento acerca do desenvolvimento cognitivo .............. 24 6.4 Planejamento, conteúdo, material didático e avaliação no ensino de matemática da educação infantil ............................................................................................................. 25 6.5 Números e sistema de numeração .................................................................... 27 6.5.1 A sequência numérica 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 .......................................................... 28 6.5.2 Números e operações ....................................................................................... 31 6.5.3 Operação com números naturais ....................................................................... 35 6.5.3.1 Adição ............................................................................................................... 37 6.5.3.2 Subtração .......................................................................................................... 37 6.5.3.3 Multiplicação e divisão ....................................................................................... 39 6.6 Metodologias para o ensino de matemática na educação de jovens e adultos .. 44 6.7 Números racionais ............................................................................................. 46 6.7.1 Fração ............................................................................................................... 47 6.8 Tratamento da informação ................................................................................. 50 6.9 Geometria, grandezas e medidas ...................................................................... 51 6.10 Espaço e forma ................................................................................................. 55 6.11 Metodologias para o ensino de matemática utilizando jogos ............................. 58 6.11.1 Torre de Hanói ................................................................................................... 58 6.11.2 Jogo de xadrez .................................................................................................. 60 VII. AVALIAÇÃO DA MATEMÁTICA E AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA .............. 65 7.1 A avaliação psicopedagógica ............................................................................ 66 7.2 Provas do diagnóstico operatório ....................................................................... 69 7.3 Aplicação das provas operatórias ...................................................................... 71 7.3.1 Prova de classificação .......................................................................................74 7.3.2 Prova de intersecção de classes ....................................................................... 76 7.3.3 Prova de inclusão de classes ............................................................................ 77 7.3.4 Prova de seriação de palitos .............................................................................. 78 7.3.5 Prova de conservação ....................................................................................... 80 7.3.6 Prova de conservação de superfície .................................................................. 81 7.3.7 Prova de conservação de líquido ....................................................................... 84 7.3.8 Prova de conservação de matéria ..................................................................... 86 VIII. MATERIAIS MANIPULATIVOS, CONCRETOS PARA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA ................................................................................................................... 115 8.1 O lúdico como motivação nas aulas de Matemática ........................................ 117 8.2 Materiais para intervenção psicopedagógica nas dificuldades de aprendizagem, raciocínio lógico e matemática ........................................................................................... 118 6 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a): A disciplina Cognição e Desenvolvimento da Linguagem Oral e Escrita e do Raciocínio Lógico-Matemático (Parte II – unidades V a VIII) tem como foco o estudo das questões educacionais relacionadas à aquisição dos elementos matemáticos necessários para a formação do psicopedagogo institucional, esteja ele trabalhando nas escolas, empresas, ONGs, órgão governamentais, em clínicas e consultórios particulares ou em quaisquer outras instâncias onde o foco seja a aprendizagem de crianças, adolescentes e/ou adultos. As unidades estão organizadas de forma a permitir a revisão, complementação e atualização dos conhecimentos acerca das principais teorias de ensino- aprendizagem relacionados ao pensamento lógico-matemático dentro do contexto histórico, como se apresentam as metodologias usadas ao longo do tempo e, o que é mais significativo para nós: como avaliar a matemática de forma processual e não como apenas um resultado numérico. Veremos quais devem ser as posturas do psicopedagogo frente aos desafios e mitos que envolvem o conhecimento da matemática, o cumprimento de regras e conhecer os materiais que facilitam as interações bem como as intervenções psicopedagógicas para oportunizar melhores ferramentas para a aprendizagem matemática. O objetivo desse livro-texto dos cursos de pós-graduação em Psicopedagogia e Neurociências e Psicopedagogia Institucional da UNIP EaD é ajudá-lo(a) a compreender as etapas do desenvolvimento cognitivo no que se refere às questões lógico-matemáticas e das questões educacionais relacionadas à aquisição dos elementos matemáticos necessários para a formação do psicopedagogo institucional, esteja ele trabalhando nas escolas, empresas, ONGs, órgãos governamentais, em clínicas e consultórios particulares ou em quaisquer outras instâncias onde o foco seja a aprendizagem de crianças, adolescentes e/ou adultos. O material que agora você tem em seu poder está dividido em quatro unidades didáticas distintas, porém complementares. Cada uma delas apresenta uma particularidade do tema e foi organizada tendo em vista facilitar seu percurso dentro da temática cognição e desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático. 7 Veja como estão organizadas: Unidade V – FUNDAMENTOS HISTÓRICO-CULTURAIS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA: Por que o psicopedagogo precisa conhecer? Como os povos primitivos contavam? A concepção de números abstratos. As civilizações e seus sistemas de numeração. O que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) sobre o ensino de matemática. A presença da matemática no dia a dia (visão platonista, visão formalista e visão intuicionista). Movimento da Matemática Moderna no Brasil. Unidade VI – METODOLOGIAS PARA A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO BRASIL Planejamento, conteúdos, material didático e avaliação no ensino de matemática da educação infantil. Números e sistema de numeração. Números e operações. Operação com números naturais. Metodologias para o ensino de matemática na Educação de Jovens e Adultos. Metodologia utilizando jogos. Números racionais. Tratamento da informação. Geometria, grandezas e medidas. Espaço e forma. Unidade VII – AVALIAÇÃO DA MATEMÁTICA E AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA. O que alcançar na educação infantil. Provas do diagnóstico operatório. Prova de aritmética. Teste do desempenho escolar. Coruja Promat. Coruja Especialista. Protocolo de avaliação de habilidades cognitivo-linguísticas. Provinha Brasil. Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB). Teste simples de discalculia. Discalculia. Unidade VIII – MATERIAIS MANIPULATIVOS, CONCRETOS PARA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA. Como se aprende matemática? O lúdico como motivação nas aulas de matemática. Os materiais. Para estudar todos os temas indicados, os objetivos específicos da disciplina são: 1) Ampliar a competência do psicopedagogo acerca das questões relacionadas à cognição e desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático nas diferentes etapas da aprendizagem desde a primeira infância (conhecimentos informais), na fase pré-escolar e no ensino fundamental, propiciando ao psicopedagogo um contexto de discussão teórico-prática que o auxilie no trabalho preventivo e proativo sobre os conhecimentos relacionados ao entendimento de como se desenvolvem o senso numérico e as atividades de contagem, bem como os cálculos, ao desenvolvimento do raciocínio lógico e do raciocínio abstrato/espacial em ambiente escolar; 2) Construir conceitos sobre o desenvolvimento do raciocínio lógico em diferentes etapas do desenvolvimento, desde os conceitos concretos até os mais abstratos para que o psicopedagogo possa entender como intervir de forma mais eficiente em relação à matemática na abordagem sociointeracionista de ensino- aprendizagem; 3) Construir conceitos sobre a gênese e o desenvolvimento do raciocínio lógico em crianças, adolescentes e adultos, a partir do conhecimento da História e da evolução da matemática, compreendendo seus aspectos para inter-relacionar esses conhecimentos às neurociências e disciplinas afins; 8 4) Estudar a função do psicopedagogo enquanto educador matemático, como mediador entre o conhecimento adquirido socialmente pela criança e o conhecimento escolar, estimulando o avanço intelectual do aluno, na apropriação da linguagem matemática – do concreto ao abstrato, por meio da experiência com atividades significativas e com efetivas estimulações aos campos da contagem, cálculos e geometria que se fizerem necessárias; 5) Vivenciar situações lúdicas, por meio de materiais manipulativos conceituais, jogos de estratégia, geométricos e numéricos e brincadeiras que provoquem a reflexão sobre a prática psicopedagógica, com vistas à autonomia na elaboração de projetos de trabalho produtivos, que fertilizem o perfil cidadão do educando, no interior das práticas sociais. 6) Entender o caráter coletivo, dinâmico e processual da produção do conhecimento lógico-matemático, que ocorre de acordo com as necessidades e anseios dos sujeitos; 7) Perceber a matemática como uma forma de expressão, isto é, como uma linguagem que é produzida e utilizada socialmente como representação do real e da multiplicidade de fenômenos propostos pela realidade, partindo das experiências vividas pela criança para atingir níveis mais complexos de abstração. 8) Ampliar a competência do psicopedagogo institucional em relação às questões relacionadas ao conhecimento lógico-matemático e das neurociências, propiciando a ele um contexto de discussão teórico-prática que o auxilie no trabalho preventivo e proativo sobre os conhecimentos dos atendidos (aluno e/ou instituição);9) Alinhavar os conhecimentos acerca dos processos neuropsicológicos de aquisição do raciocínio lógico-matemático, com a práxis da sala de aula, de forma a capacitar o psicopedagogo institucional a atuar preventiva e proativamente nas dificuldades de aprendizagem. Reforçando o já dito, esses conteúdos serão abordados em quatro unidades de ensino, assim distribuídas: Unidade V: Fundamentos histórico-culturais para o ensino da matemática: Por que o psicopedagogo precisa conhecer? Unidade VI: Metodologias para a educação matemática no Brasil. Unidade VII: Avaliação da matemática e avaliação psicopedagógica. Unidade VIII: Materiais manipulativos, concretos para aprendizagem matemática. A Unidade V, Fundamentos Histórico-culturais para o ensino da matemática: por que o psicopedagogo precisa conhecer? Tem como objetivo geral apresentar a você, aluno(a), a corrente de pensamento histórico-cultural que entende a matemática como um conhecimento produzido e sistematizado pela humanidade, portanto histórico, com o propósito de interpretar, interagir e transformar a realidade. Na Unidade VI, Metodologias para a educação matemática no Brasil, veremos as principais metodologias para o ensino da matemática, capacitar o 9 psicopedagogo institucional a atuar preventiva e proativamente nas dificuldades de aprendizagem relacionadas ao processo de formação do pensamento e aquisição da linguagem lógico-matemática, oportunizando espaços de reflexão sobre o ensino e a aprendizagem da matemática e incentivando a formação contínua por meio da articulação dos conteúdos curriculares, sua organização, avaliação, bem como das metodologias adequadas ao processo ensino e aprendizagem na educação no Brasil, desde a Educação Infantil ao tratamento didático diferenciado no trabalho psicopedagógico na Educação de Jovens e Adultos. A Unidade VII, intitulada Avaliação da matemática tem como objetivo principal conhecer quais os principais instrumentos qualitativos e quantitativos utilizados para avaliação da matemática. Nessa unidade, iremos aprender como avaliar as competências necessárias para aprendizagem da matemática, entender as dificuldades, os fatores que dificultam a aprendizagem da matemática. Mediante aplicação desse conhecimento, busca-se, também, somar os conteúdos propostos na Unidade VIII – Material manipulativo, concreto para aprendizagem matemática. Lembramos a você, caro(a) aluno(a), que os conhecimentos não se esgotam com os assuntos aqui abordados e esperamos que você complemente seus estudos acessando as bibliografias recomendadas, bem como possa ampliar suas práxis por meio da vivência com os jogos e atividades lúdicas. Bons estudos! 10 V. FUNDAMENTOS HISTÓRICO-CULTURAIS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA: por que o psicopedagogo precisa conhecer? Como dissemos na introdução, vamos apresentar a você, aluno(a), a corrente de pensamento histórico-cultural que entende a matemática como um conhecimento produzido e sistematizado pela humanidade, portanto histórico, com o propósito de interpretar, interagir e transformar a realidade. Entender a origem desse conhecimento é fundamental para que possamos atuar como psicopedagogos frente às dificuldades de aprendizagem individuais e/ou coletivas de nossos clientes desde a educação infantil ao ensino superior em quaisquer instâncias onde sejam exigidos conhecimentos lógico-matemáticos, seja em ambientes institucionais ou ambientes restritos como clínicas e consultórios. 5.1 Uma história muito antiga Há muito, o pastor soltava suas ovelhas no pasto. Para saber quantas ovelhas tinha, ele fazia o seguinte: a cada ovelha do seu rebanho ele associava uma pedrinha e a guardava num saquinho. Quando ia recolher o rebanho, retirava uma pedrinha do saco para cada ovelha que encontrava. Assim, cada pedrinha retirada correspondia a uma ovelha. No final da contagem, se sobrasse pedrinha no saquinho, era porque alguma ovelha havia se extraviado. Foi assim que o homem aprendeu a contar: comparando quantidades. De um lado, a quantidade de pedrinhas, do outro, a quantidade de ovelhas. Contudo, para comparar, o homem usava principalmente o dedo das mãos. Surgiu daí a ideia comum aos dois conjuntos que ele comparava: o número. E ainda fazia marcas em pedaços de pau ou ossos. O registro mais antigo de que o homem primitivo já usava objetos para registrar quantidades é um osso com 29 entalhes feitos em uma fíbula (ou perônio) de um babuíno. É o osso de Lebombo, descoberto nos montes Libombos, na Suazilândia, e datado de aproximadamente 35.000 anos a.C. Poucos desses registros existem até hoje. Na antiga Tchecoslováquia foi encontrado um osso com 55 incisões profundas. Estavam dispostas em duas séries, uma com 25 incisões e outra com 30, e, em cada série, os riscos estavam dispostos em grupos de cinco. Isso há mais de 30 mil anos! Mas os homens não usavam apenas pedrinhas em contagens: eles também registravam números fazendo nós em cordas e por meio de outros objetos. Vamos conhecê-los? 5.2 A História da matemática e a educação matemática Vamos conhecer um pouco da História da matemática para que possamos passar, com naturalidade, que a mesma está presente em nossas vidas desde os tempos remotos e, com isso, termos a tranquilidade de atuarmos junto aos nossos clientes, professores e 11 coordenadores escolares, desmistificando o “bicho papão” dessa disciplina tão importante para o desenvolvimento da humanidade. 5.2.1 A origem dos números Para descobrirmos a origem dos números, é necessário conhecermos um pouco da História da humanidade. O uso dos algarismos (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 0) nos parece tão comum que quase consideramos seu aprendizado como sendo uma condição inata do ser humano, assim como são o ato de falar e de andar. Alguns historiadores, como Georges Ifrah (1998), são auxiliados por diversas descobertas, como o estudo das ruínas de antigas civilizações, estudos de fósseis, o estudo da linguagem escrita e a avaliação do comportamento de diversos grupos étnicos desde o princípio dos tempos. Olhando ao redor, observamos a grande presença dos números. Entretanto, o que se pretende discutir é a importância dos números, qual é sua função, sua necessidade na nossa vida. Não se pode datar o exato aparecimento da matemática, mas sabe-se que suas noções básicas são a escrita, pois a linguagem de sinais é bem mais fácil de ser compreendida do que a construção de frases bem moduladas que expressem ideias e que são comuns no dia de hoje. A base cognitiva para a construção da ideia de número, historicamente, é definida pela necessidade de registrar quantidades de objetos concretos e não pela necessidade/finalidade de facilitar o desenvolvimento abstrato da aritmética. 5.2.2 A pré-história dos números, uma contagem primitiva Onde e quando essa aventura começou? Na Ásia, na Europa ou na África? Na época do homem Cro-Magnon, há 30 mil anos? Ou na época do homem de Neandertal? Não sabemos. O que temos como certeza é que houve um tempo em que o ser humano não sabia contar. Atualmente, ainda existem homens incapazes de conceber qualquer número abstrato e que não sabem nem que dois e dois agrupam-se em quatro. Um exemplo disso são as inúmeras hordas primitivas, tais como: o caso dos zulus e dos pigmeus na África, dos arandae e dos kamilarai, da Austrália, segundo Eves (2004). Fontes (1969, p. 2) afirma ainda que “como o incremento cultural não é dotado de aceleração uniforme, nem tampouco é sistematicamente orientado em um único sentido, os povos se apresentam em várias fases ou ciclos culturais”. O molde cognitivo implícito nessas representações caracteriza a marca humana presente na estratégia de criação do sentido numérico, relacionando os aspectos reais e imaginários que se entrelaçam na mente humana para manifestar o pensamento numérico. As investigações (arqueológicas, antropológicase históricas) realizadas em diversas regiões do planeta têm mostrado que a sociedade humana se vale dos algarismos há 6000 anos. Sua história constitui-se em uma história universal a qual, mesmo descontínua e não linear, possui inúmeros fragmentos socioculturais que evidenciam o 12 movimento cognitivo para o qual convergiram os sistemas de numeração, construídos e utilizados pela humanidade em todo o planeta. 5.2.3 As civilizações e seus sistemas de numeração Os sumérios, suposto povo que habitava uma região que hoje corresponde ao Iraque, registravam suas informações contábeis sobre placas de argila. Essa escrita foi de forma cuneiforme, ou seja, com uma grafia angulosa, feita com instrumento pontiagudo. De acordo com os estudos realizados, alguns historiadores chegaram à conclusão de que o sistema de numeração deles era aditivo e sexagesimal, ou seja, realizado na base 60, o que contribui até os dias de hoje na contagem do nosso tempo cronológico. Fonte: MENDES, Iran Abreu. Números – O Simbólico e o Racional Na História. O sistema de numeração hieroglífico, adotado pelos egípcios, era baseado no número 10, ou seja, depois da nona unidade, organizava-se a classe decimal superior (depois de nove 1, vem o 10; depois de nove números 10, vem o 100 e assim por diante, seu sistema era aditivo, admitindo sinais diferentes para unidade, dezena e centena. 13 Fonte: MENDES, Iran Abreu. Números – O Simbólico e o Racional Na História De acordo com as informações encontradas em Furon et al (1959, p. 144), o sistema hebraico de numeração tem sua explicação histórica na Bíblia, visto que esta parece ser a única fonte desse povo. Esse sistema era decimal e sexagesimal, vindo do hábito de processar a contagem com os dedos das mãos. Em hebraico, o nome das dezenas, de trinta a noventa, é o plural de três a nove. Os chineses na antiguidade definiam sua matemática como a “arte do cálculo” (suanshu), que consistia num vasto conjunto de práticas e correntes que se desenvolveram na China até 1911. Após essa data, ela se ocidentalizou e o saber matemático chinês tradicional tornou-se quase impenetrável para os que não tinham uma formação clássica. A língua chinesa possui termos silábicos para designar os dez primeiros números e as primeiras potências de 10, 100, 1000 e 10000. 14 Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/matematica/numeracao-chinesa.htm Os antigos povos peruanos se utilizavam do sistema de contagem código quipu, um sistema de base decimal, organizado através de nós, distribuído sistematicamente, em casas decimais em linhas verticais, sendo que a ordem das casas decimais decrescia de cima para baixo de acordo com o número representado. Os nossos atuais números indo-arábicos se constituem com este nome devido a sua origem na Índia e sua popularização através da expansão realizada pelos árabes. Os números foram criados do 1 ao 9 e somente após foi aceito o número zero, para representar a ausência de quantidades no sistema decimal. Acredita-se que foi criado pelos babilônios. 15 Fonte: MENDES, Iran Abreu. Números – O Simbólico e o Racional Na História O fato é que a matemática está presente em nosso dia a dia de tal forma que não podemos, não devemos e, certamente, não queremos nos distanciar dela. As funções mais rotineiras de nossa vida têm sido realizadas por computadores: desde uma conta, até o controle de nosso dinheiro no banco, nosso pagamento de salário, e muitas outras atividades são controladas por máquinas que são, por sua vez, apoiadas na matemática. Nossa vida depende da matemática! Veja os exemplos das máquinas das UTIs hospitalares, dos equipamentos de tomografia e ressonância magnética, dos gráficos e curvas em exames de análise clínica, eletrocardio ou eletroencefalogramas, entre outros. Existe uma tendência cada vez mais crescente da “matematização” do mundo. Parece mesmo ser de senso comum que todo e qualquer problema cotidiano possa ser equacionado. Ou seja, será que tudo na nossa vida pode ser expresso como ax + by = c ou outra equação ou inequação qualquer? E, voltando ao assunto, de onde vêm os a, b, c, x e y? Quem os inventou e por quê? Os documentos históricos encontrados pela arqueologia que fornecem um pouco de informação a respeito das origens da matemática começam com os egípcios. Costumava-se definir a matemática como a ciência do número e grandeza. Isso já não é válido, pois certamente a matemática é muito mais do que números e grandezas. Hoje, a matemática que conhecemos é intelectualmente sofisticada. Entretanto, desde os primeiros tempos da raça humana, os conceitos de número, grandeza e forma ocupam a mente e formam a base do raciocínio matemático. 16 Originalmente, a matemática preocupava-se com o mundo que nos é perceptível aos olhos, como parte da vida cotidiana do homem. Pode-se, inclusive, tentar relacionar a persistência da raça humana no mundo com o desenvolvimento matemático, se assumirmos válido o princípio da “sobrevivência do mais apto”. No princípio, as relações de grandeza estavam relacionadas mais com contrastes do que com semelhanças: a diferença entre um animal e outro, os diferentes tamanhos de um peixe, a forma redonda da lua e a retilínea de um pinheiro. Acredita-se que o conjunto dessas informações imprecisas deve ter dado origem a pensamentos de analogias e aí começou a nascer a matemática. Da percepção das duas mãos, das duas orelhas, das duas narinas, à propriedade abstrata que chamamos número, foi um grande passo no caminho para a matemática moderna. 5.2.4 Considerações sobre as visões absolutistas do conhecimento matemático na prática pedagógica e sua influência prática psicopedagógica Embora as correntes filosóficas absolutistas (racionalismo, logicismo, intuicionismo) tivessem bases filosóficas diferentes, é possível destacar em comum entre elas a consideração do conhecimento matemático como absoluto, verdadeiro, e como objeto puro da razão (logicismo e racionalismo) ou da intuição (intuicionismo). Na prática pedagógica, a visão platonista se manifesta por meio da apresentação dos objetos ideais e as relações verdadeiras que existem entre eles. Nesse caso, aos alunos cabe compreender tais objetos e proposições, ou seja: essa perspectiva supõe uma sala de aula na qual os alunos assumem uma postura passiva, diante de aulas expositivas durante as quais os conhecimentos matemáticos são expostos como verdades incontestáveis. Por outro lado, a visão formalista pode ser observada quando o professor parte de um exemplo familiar para os alunos e procura abstrair dali os conteúdos matemáticos para sistematizá-los. A organização do currículo de forma linear, cada conteúdo precedido de seus pré-requisitos, também mostra essa influência, assim como o trabalho com ênfase em aplicações de fórmulas e repetição de procedimentos. Essa visão reforça a ideia de que a matemática é um corpo separado da realidade (física), mas que pode ser a ela aplicada. O distanciamento pode dificultar a apreensão dos conceitos matemáticos pelos alunos, pois estes, geralmente, não sentem a necessidade de grande parte dos conhecimentos apresentados (excessivamente formais) em sua vida. A visão intuicionista da matemática está presente na sala de aula quando o professor apresenta o conhecimento como fruto de inspirações de alguns poucos gênios das ciências, fato este que pode contribuir para reforçar uma crença de que a matemática é um conhecimento inatingível para as pessoas comuns por apresentar demasiada complexidade. Essa crença tem, ao longo dos anos, afastado muitos alunos da escola e, portanto, da possibilidade de ter um contato com o conhecimento matemático produzido pela humanidade. Uma dasatitudes que fazem com que alguns pensem que não conseguem pensar matematicamente vem também da questão cultural, pois antigamente o ensino da área de 17 exatas, além de não ser permitido a todos, inclusive às mulheres, limitava-se a uma pequena parte da burguesia. 5.2.5 O ensino da matemática – breve histórico O ensino da matemática foi influenciado, em diversos momentos, por movimentos educacionais com o intuito de adequar a prática pedagógica às concepções predominantes em cada época. Nas décadas de 1960 e 1970, o ensino sofreu forte influência do Movimento da Matemática Moderna, sendo que no Brasil essa influência também predominou. Esse movimento tinha como foco a formação do pensamento científico e tecnológico, com o propósito de modernizar o ensino da matemática. As principais características do Movimento da Matemática Moderna foram: o pensamento axiomático, maior grau de generalização, alto grau de abstração, maior rigor lógico, uso de vocábulos contemporâneos, precisão da linguagem, método dedutivo e a forte influência do estruturalismo (NOVAES et al., 2008). Nessa perspectiva, a matemática é compreendida a partir das estruturas lógicas e formais, em que a linguagem matemática tem papel fundamental, aproximando a “matemática escolar” da “matemática pura”. Essa visão se manifestava na organização escolar, nos materiais didáticos e nas ações pedagógicas. Desse modo, a matemática a ser ensinada era aquela concebida como lógica, compreendida a partir das estruturas e que conferia um papel fundamental à linguagem matemática (BRASIL, 1998). Contudo, o excesso de abstração inerente à própria matemática, bem como o uso da linguagem simbólica comprometeram o ensino, o que desencadeou preocupações com a didática da matemática e, consequentemente, intensificaram as pesquisas nessa área, na busca de resolver as deficiências do processo de ensino da disciplina. Já na década de 1980, alguns grupos discutiam as questões de ensino e aprendizagem da matemática e sugeriam alternativas para as deficiências observadas na prática pedagógica, na perspectiva da matemática moderna. Nessa época, um grupo de professores americanos, o National Council of Teachers of Mathematics (NTCM), apresentou um documento chamado Agenda para ação, o qual chamava a atenção para os aspectos sociais, antropológicos e linguísticos na aprendizagem da matemática e destacava a resolução de problemas como forma de implementação dos conceitos dessa ciência. O documento americano influenciou propostas de ensino em todo o mundo. No Brasil, na década de 1990, foi elaborado um documento com a intenção de subsidiar a prática pedagógica, os Parâmetros Curriculares Nacionais, ou PCNs. 18 5.2.6 Movimento da Matemática Moderna no Brasil O surgimento do Movimento da Escola Nova veio juntamente com novas correntes educacionais surgidas no final do século XIX, na Europa e nos Estados Unidos, que começou a produzir reflexos no ensino primário brasileiro a partir da década de 1920. No Brasil, ficou conhecido como Reforma Francisco Campos versus Reforma Gustavo Capanema. As reformas que começaram a ocorrer em vários Estados, tentando colocar em prática as novas ideias, trouxeram a criação de publicações de livros com as novas correntes educacionais, com uma ampla discussão sobre as questões pedagógicas, fazendo surgir a Associação Brasileira de Educação, em 1924. Esse fato desencadeou o Movimento da Renovação da Educação Brasileira. Tais princípios geraram uma mudança radical no ensino das séries iniciais, em particular no de matemática. De uma “Matemática do Quadro-Negro”, emprestando uma expressão usada por Irene de Albuquerque, passaríamos a uma “Matemática de Atividade” (MIGUEL; VILELLA, 2008). As ideias modernizadoras começaram a penetrar no ensino de matemática na escola brasileira em nível secundário, a partir de 1928, com a proposta do Internato Colégio Pedro II. Essa ideia fora introduzida por Euclides Roxo, professor catedrático de matemática do Internato Colégio Pedro II e o maior responsável pela elaboração da proposta modernizadora brasileira. Apesar de Euclides Roxo afirmar que sua intenção era apenas apresentar outras ideias e opiniões sobre as questões mais relevantes acerca do ensino de matemática e que o livro que publicara (Matemática na escola secundária, 1937) não continha nenhuma ideia original, nenhum ponto de vista pessoal, a sua posição em defesa da modernização era transparente, claramente vista nas páginas de seu livro e percebida por sua atuação como professor e diretor no Internato Colégio Pedro II, naquela época (1930/1945). O fato, no entanto, só se deu com a reforma que Francisco Campos apresentaria posteriormente para a escola secundária (inicialmente), através do decreto n.º 19.890 de 18 de abril de 1931 e depois consolidada pelo decreto n.º 21.241 de 4 de abril de 1932. Francisco Campos era o Primeiro Ministro do recém-criado Ministério da Educação e Saúde Pública (1930-1936) no início da era Vargas (1930-1945), que havia remodelado o ensino primário e normal de Minas Gerais, de acordo com as ideias do Movimento Renovador da Educação, acatando em sua reforma todas as ideias consagradas na proposta da Congregação do Colégio Pedro II, em relação ao ensino de matemática. A princípio, as ideias iniciais da reforma foram implantadas oficialmente em todas as escolas secundárias brasileiras. Francisco Campos havia dividido o curso secundário em dois ciclos (de cinco e dois anos): o primeiro fundamental e o segundo complementar, o último com orientação para as diversas opções de carreira universitária. Com essa lei de 1931, as universidades passaram a ter uma grande influência, com uma nova orientação de trabalho voltada para a pesquisa, a difusão cultural e com maior autonomia administrativa e pedagógica. Durante essa implantação, havia no cenário político um nome forte e de interesse do governo de Getúlio Vargas (1937-1945): Gustavo Capanema que, como Ministro da Educação, em 1939, retoma os trabalhos sobre o ensino secundário e começa a organizar as informações para uma futura reforma no ensino do curso secundário. 19 Esse estudo foi elaborado por uma comissão que tinha um relator: Euclides Roxo. Novamente, Euclides Roxo se faz presente no âmbito das discussões sobre a educação brasileira. Em 4 de abril de 1942, Gustavo Capanema promulga a Lei Orgânica do Ensino Secundário. Inicia-se, então, a implantação do programa para a reforma. Não podemos deixar de afirmar que Euclides Roxo foi o “pai” dessa reforma, pois lutou bravamente desde a década de 1920 até o início dos anos 1940, do século XX, tentando levar em frente todas as ideias e suas propostas. A nova escola secundária se tornaria aquela em que o Ministro Gustavo Capanema deixaria sua marca mais profunda e com mudanças duradouras. Segundo a proposta do ministro, a escola secundária passaria a ser dividida econômica e socialmente para o trabalho. Com essa mudança, que para a época foi bem marcante, a escola foi dividida em educação superior, educação secundária, educação primária, educação profissional e educação feminina, ou seja: uma educação destinada à elite da elite; outra educação para a elite urbana; outra para jovens da população que seriam a grande massa necessária de trabalhadores para a utilização da riqueza potencial da nação, e outra ainda, somente para mulheres. A educação teria como grande dever estar a serviço da nação, com grande ênfase na educação moral e cívica, já que por ela se forma o caráter de uma nação, cidadãos que teriam ressaltadas as grandes virtudes que interessariam ao governo, ou seja: a disciplina, o sentimento de dever, a resignação nas adversidades nacionais, a presteza na nação e a exaltação patriótica. Esse momento da História do nosso país foi conhecido por Reforma Capanema, Tempos de Capanema e Estado Novo. Números – O simbólico e o racionalna História. Nesse livro, o autor reorganiza a história de como os humanos, por necessidade, inventaram e desenvolveram métodos para contar, ordenar e quantificar. MENDES, Iran Abreu. Números – O simbólico e o racional na História. São Paulo, Ed. Livraria da Física, 2006. Como vimos até o presente momento, a História da matemática tem sido apontada como um recurso didático importante para a melhoria do ensino da disciplina. Documentos oficiais, como os PCNs e as Orientações Curriculares partilham dessa visão, destacando a importância da abordagem no processo de ensino e aprendizagem, para explicitar a dinâmica da produção histórica e social do conhecimento matemático, além de considerar que essa forma de trabalho pedagógico pode ser um aliado importante para a atribuição de significados aos conceitos matemáticos. Ao se conhecer a História da matemática, pode-se aprender que essa disciplina veio para resolver situações-problema e não criá-las, que todo conhecimento ou conceitos descobertos nesta área são resultados de investigação, observação das regularidades 20 existentes e que servem para chegar de fato a uma resolução e que a matemática e suas regras não foram criadas meramente para cálculos de difícil resolução. Essa forma de implementação dos conceitos matemáticos tem suporte no Positivismo de Comte (1798-1857), o qual: […] via a abordagem história da Matemática como uma forma de proporcionar uma visão conjunta do progresso desta ciência e de apresentar os conceitos em um grau crescente de complexidade, da mesma forma como esta se desenvolveu na evolução da humanidade” (MOTTA, 2006). A matemática, nessa perspectiva, é considerada a primeira ciência a atingir o estado “positivo” em função de suas leis terem aplicação universal, o que a torna o ponto de partida para a educação científica. Motta (2006) verifica essa visão também na perspectiva de Piaget (1983), que defende: Para aprender Matemática, o sujeito teria que reconstruir as mesmas operações cognitivas que marcaram a construção histórica dos objetos matemáticos. O recurso à História da Matemática se apresentaria como uma opção para a busca de conflitos cognitivos que possibilitassem a passagem de uma etapa da construção do conhecimento para outra (MOTTA, 2006). Assim, aos sujeitos só restaria a oportunidade de se apropriar do conhecimento matemático já estruturado, refazendo os mesmos caminhos de seus criadores, ultrapassando as mesmas dificuldades que eles encontraram, o que levaria a criança a passar de um estágio cognitivo para outro. Conforme Motta (2006), essa perspectiva é partilhada por Bachelard (1884-1962) em seu livro A formação do espírito científico, de 1938, no qual apresenta a noção de obstáculo epistemológico, conceito posteriormente ampliado e introduzido na didática da matemática por Brousseau (MOTTA, 2006), para quem a História da matemática permitiria identificar os obstáculos epistemológicos superados na construção histórica de um conceito e os transformar em situações-problema que permitissem a reconstrução do conhecimento matemático. 5.3 A História da matemática na formação do professor e do psicopedagogo A História da matemática tem sido considerada um meio importante para a formação do professor, já que pode contribuir de diversas formas para esse fim. Soares (2004) entende que o conhecimento do processo de desenvolvimento dessa ciência pode fazer com que o professor alcance uma visão ampla da matemática, proporcionando-lhe a abertura de muitas perspectivas no que se refere ao “fazer pedagógico”. Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam algumas considerações acerca das contribuições da História da matemática na formação do professor: 21 Para que tenham elementos que lhes permitam mostrar aos alunos a matemática como ciência que não trata de verdades eternas, infalíveis e imutáveis, mas como ciência dinâmica, aberta à incorporação de novos conhecimentos; Ressalta utilidade da História da matemática no sentido de que o conhecimento dos obstáculos envolvidos no processo de construção dos conceitos pode ajudar o professor a desenvolver estratégias para que os alunos superem suas dificuldades; Para explicitar a dinâmica da produção histórica e social do conhecimento matemático, de modo que se caminhe para a superação da crença de que a matemática é um conhecimento produzido exclusivamente por alguns grupos sociais ou sociedades mais desenvolvidas; Contribui para a contextualização da matemática, já que muitos de seus conceitos surgiram por necessidade de outras ciências; Mostrar a importância da notação simbólica (linguagem) na constituição das formas e estruturas matemáticas, no processo histórico de construção dos objetos matemáticos por diferentes culturas; Situar a matemática cronologicamente, em relação aos produtores e à sua própria constituição, para compreender as condições de sua produção. As considerações apontadas pelos PCNs estão de acordo com algumas iniciativas recentes que indicam um processo contínuo de formação, no qual o professor vê a sua prática como objeto de sua investigação e reflexão e busca aprofundamento dos conceitos com os quais lida na sua prática. A história da formação de um conceito é uma forma enriquecedora para a prática do professor polivalente, ou seja: o professor pode recorrer ao método de desenvolvimento do conceito como uma forma de aprendê-lo. Para organizar situações ricas capazes de contribuir para as crianças construírem o conceito de número, o professor precisa saber que as ideias que compõem o número não foram todas elaboradas num único momento de sua história: elas vieram se desenvolvendo à medida que o uso foi ficando mais complexo no decorrer da história da humanidade e que esse processo não foi simples, nem linear. Alguns entraves ocorreram nesses percursos. Por exemplo, os números negativos que demoraram para serem aceitos como números, obstáculo que também se observa na dificuldade dos alunos ao lidarem com eles na resolução de problemas. O conhecimento de como se deu esse processo pode dar ao professor mais segurança para construir estratégias de ensino do conceito para seus alunos. Para ao professor é muito importante ele saber a diferença de número, numeral e algarismo, pois quando o aluno chega para o atendimento psicopedagógico geralmente a família diz que a criança sabe os numerais de 1 até 10, escreve apenas mas não associa a quantidade e isso acontece pois cada termo é diferente entre si, numeral é a escrita da ideia de quantidade que é o número, enquanto que algarismo e a forma da escrita que os numerais podem ser representados, por exemplo com os algarismos romanos. No que se refere ao uso da História da matemática na sala de aula, há de se considerar o desenvolvimento cognitivo dos alunos, para não propor situações acima de suas capacidades. No caso do conceito de números, por exemplo, a história do surgimento dos números como resultado de contagens de ovelhas é muito usada para introduzir o assunto nas séries iniciais. 22 Encerramos aqui a unidade 5 do livro-texto Cognição e Desenvolvimento do Raciocínio Lógico-matemático. Esperamos que você tenha aprendido bastante com a História, a evolução dos números e a importância do conhecimento lógico-matemático para o desenvolvimento da humanidade. Pronto(a) para conhecer a próxima unidade? Então vamos lá! 23 VI. METODOLOGIAS PARA A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO BRASIL Agora que você já conheceu um pouco da História da matemática, vamos apresentar, nesta Unidade VI de seu livro-texto Cognição e Desenvolvimento da Linguagem Oral e Escrita e do Raciocínio Lógico-Matemático, as metodologias para a educação matemática no Brasil. Antes de mais nada, para que possamos fundamentar em bases sólidas nosso aprendizado, vamos apresentar como ocorre o desenvolvimento neurológico e cognitivo na criança, fundamentadosnos pressupostos epistemológicos do pensamento lógico- matemático de Jean Piaget. Pronto(a)? 6.1 Pressupostos epistemológicos do pensamento lógico-matemático Os estudos sobre o desenvolvimento da criança realizados por Jean Piaget (1896- 1980), denominados Epistemologia Genética, mostram como o ser humano, do nascimento à idade adulta, é um ser que constrói o próprio conhecimento a partir de sua ação sobre os objetos do mundo. Para Piaget (1983), o desenvolvimento intelectual ocorre por meio de dois atributos inatos, os quais chama organização (construção de processos simples) e adaptação (mudança contínua), que ocorrem no indivíduo na interação com o meio. Nessa perspectiva, a construção do conhecimento se dá à medida que o novo objeto de conhecimento é assimilado pelo sujeito por meio das estruturas já constituídas, sendo que inicialmente o novo conhecimento produz conflitos internos, superados pela acomodação das estruturas cognitivas, e o objeto passa a ser percebido de outra forma. Assim, o meio em que o sujeito vive tem papel fundamental na aceleração ou retardamento do desenvolvimento. Daí a importância de promover situações diversas nas quais as crianças estejam expostas a novos desafios. 6.2 Raciocínio lógico-matemático, segundo Piaget O raciocínio lógico-matemático, conforme Piaget (1983), consiste em uma construção mental que se deve a diversos estados de abstração. Ele é uma operação mental e consiste de relações que não podem ser observadas. Contudo, da mesma forma que o conhecimento físico, ele também é construído a partir das ações sobre os objetos, mas é preciso ficar claro que “o conhecimento lógico-matemático não é inerente ao objeto; ele é construído a partir das relações que a criança elabora na sua atividade de pensar o mundo” (SILVA, 2010). Piaget considera que a evolução do raciocínio lógico dos sujeitos pode ser resumida em quatro estágios de desenvolvimento mental, são eles: Sensório-motor (do nascimento aos dois anos): o desenvolvimento predominante nessa etapa é o das percepções e movimentos. Na verdade, nem é possível 24 ainda dizer que a criança pensa; a evolução se dá na medida em que ela aprende a coordenar suas sensações e movimentos. Pré-operacional (dos dois aos sete anos): nessa etapa, a lógica infantil sofre um salto, derivado da descoberta do símbolo, o que possibilita representar objetos e acontecimentos ausentes por meio de símbolo e signos diferentes (imitação retardada). A criança está centrada em si mesma, tanto no aspecto da afetividade quanto no conhecimento em função do egocentrismo, manifestação comum nessa fase, que a impede de transpor em pensamento, a experiência vivida, ou seja, há o predomínio do processo de assimilação sem esforço de acomodação. Operatório concreto (dos sete aos doze anos): nesse estágio, a criança torna- se capaz de realizar algumas operações concretas, que são resultado de ações mentais interiorizadas e reversíveis. No início dessa fase, o pensamento lógico ainda é muito dependente da manipulação concreta de objetos, mas no decorrer da fase, será capaz de operar com proposições verbais ou simbólicas. As operações lógicas, chamadas de infralógicas, referem-se às conservações físicas (conservação de quantidade, de peso e de volume) e constituição de espaço (conservação de comprimento, de superfície, de perímetro etc.) e as operações lógico-matemáticas partem de objetos já constituídos e operam relações entre eles. Operatório formal (a partir dos 12 anos): neste estágio, pensamento lógico atinge o nível das operações abstratas. A criança é capaz de distanciar-se da experiência, de tal forma que pode pensar por hipótese. Aqui, o raciocínio hipotético-dedutivo torna-se possível e, com ele, a constituição de uma lógica formal, possibilitando a compreensão de relações lógicas entre diversas classes, ultrapassando aquelas relações efetivamente existentes. Assim, o bom senso do psicopedagogo deve levar em conta o contexto em que atua. Contudo, possuindo ele o conhecimento dos obstáculos epistemológicos inerentes aos conceitos matemáticos, pode compreender as dificuldades dos alunos e ajudá-los a superá-las. 6.3 A importância do conhecimento acerca do desenvolvimento cognitivo Como vimos pelo conteúdo até então trabalhado, ao se deparar com problemas cuja estrutura lógica não está de acordo com o estágio de desenvolvimento em que se encontra, a criança, certamente, terá dificuldade para resolvê-los. Isso deve sinalizar para o professor a necessidade de retomar a construção do conhecimento em questão, de preferência utilizando situações provocadoras que levem a criança a buscar o novo conhecimento. O trabalho em duplas ou trios pode ser um caminho interessante para essa construção, principalmente se são alguns alunos que não construíram ainda o raciocínio necessário, pois os parceiros poderão ajudá-los a evoluir nesse sentido. Enfim, o professor precisa proporcionar uma grande diversidade de atividades para dar a oportunidade de todas as crianças se desenvolverem. Deve ainda estar atento para perceber qual a origem das dificuldades de cada criança. É importante a diversidade de ferramentas para oportunizar a aprendizagem matemática. O uso de materiais manipulativos com um bom planejamento de intervenção 25 é de extrema importância, pois colocará o aluno como protagonista de sua aprendizagem, além de que toda atividade executada na prática facilita para o professor identificar exatamente em qual momento se dá a dificuldade do aluno. Vigotsky elaborou um conceito nomeado como zona de desenvolvimento proximal, que define a distância entre o nível de desenvolvimento atual que o indivíduo tem para resolver com autonomia até o momento em que para resolver ele depende da colaboração de alguém, quer dizer é a série de informações que a pessoa tem a potencialidade de aprender, mas ainda não completou o processo. Sugerimos que, ao entrar em sala de aula, tenhamos a visão de Nenhum a menos em relação aos alunos. Nenhum a menos é um filme de produção chinesa de 1999, dirigido por Zhang Yimou. Ele conta a história de uma jovem de 13 anos, Wei Minzhi, que aceita a oferta de trabalhar como professora substituta na escola primária (paupérrima); seus alunos (do 1º ao 4º ano, na mesma classe) são um pouco mais jovens que ela, que pouco pode fazer a não ser escrever texto no quadro (giz controlado) e ensinar uma ou outra canção. Minzhi foi advertida pelo professor Gao para não permitir o abandono de mais alunos, garantindo o pagamento de 50 yuans e mais 10 yuans se for bem-sucedida. Logo após sua estreia como professora, um aluno, Zhang Huike, é obrigado a ir trabalhar, pois vive só com a mãe doente e imersa em dívidas. Wei recusa-se a perder o aluno e parte em busca do menino, na esperança de retornar antes do professor titular. A partir daí, nasce uma honesta amizade entre a professora e seus estudantes por conta de um objetivo específico: trazer Huike de volta. Durante a busca são criadas ótimas situações em que a menina Wei põe em prática uma didática de ensino fundamentada na troca e no diálogo, convocando a garotada para resolver aquele problema real. A preocupação é transmitir os conteúdos básicos da matemática em situações– problema e, se possível, envolver o cotidiano do aluno de uma maneira eficiente e atualizada, fazendo com que desenvolva o pensamento lógico, já que a matemática é a ciência base de várias áreas do conhecimento, sendo, portanto fundamental seu domínio. Por isso, procuraremos formas (métodos) para ensiná-la, buscando maior eficiência no processo de ensino e aprendizagem no âmbito escolar, evitando a evasão. Assim, as ações de formação docente em serviço devem se consolidar em termos de uma discussão dos princípios norteadores, utilizando o currículo em vigor, situando-as no âmbito das recentes conquistas da pesquisa em educação matemática, de seleçãoe elaboração de materiais didáticos, no auxílio ao preparo das aulas e no seu acompanhamento e avaliação. 6.4 Planejamento, conteúdo, material didático e avaliação no ensino de matemática da educação infantil Quando chegam à escola, as crianças já vivenciaram inúmeras situações envolvendo ideias matemáticas, como brincadeiras, histórias e jogos, convivendo naturalmente com elementos numéricos. Assim, as atividades pedagógicas deverão proporcionar a construção do conhecimento matemático, buscando conhecer sua clientela por meio de seus interesses e habilidades, considerando o seu nível cognitivo. 26 O conteúdo matemático precisa ser apresentado da forma natural, em meio a atividades lúdicas, durante as quais várias habilidades poderão ser desenvolvidas, como comunicação, movimentação corporal, associação, manipulação de objetos, socialização etc., ou seja, as atividades devem ter caráter múltiplo e levar em conta as capacidades cognitivas do grupo de alunos, o que está de acordo com a visão de Huete et al. (2003): Aparece na criança certa capacidade crítica e um sentimento de impossibilidade frente a certas coisas. O pensamento chega à lógica e adquire uma coerência antes inexistente, da qual são testemunho as numerosas aquisições intelectuais que fará a partir deste momento. No entanto, é preciso fazer uma ressalva importante em relação a esta lógica: a criança somente raciocina de uma maneira lógica quando pode manipular os objetos a que seu raciocínio se refere, mostrando-se incapaz de fazê-lo quando se trata de simples proposições verbais, inclusive quando se transfere esse raciocínio para outros objetos, razão pela qual a referida etapa é denominada pensamento “lógico-concreto” (HUETE et al., 2003, p. 23). O autor se refere ao estágio pré-operatório de desenvolvimento proposto na teoria de Piaget, que coincide com a fase pré-escolar e vai dos dois até os sete anos em média e que propõe estimular o desenvolvimento de conceitos aritméticos e espaciais. Esses conceitos devem ser apresentados com a mesma complexidade em que aparecem no cotidiano. Para isso, entende-se que o professor deve promover situações nas quais a criança reconheça a necessidade de cada um dos conceitos, por exemplo: Utilização da contagem oral, de noções de quantidade, de tempo e de espaço em jogos, brincadeiras e músicas junto com o professor e nos diversos contextos nos quais as crianças reconheçam essa utilização como necessária; Manipulação e exploração de objetos e brinquedos em situações organizadas de forma a existirem quantidades individuais suficientes para que cada criança possa descobrir as características e propriedades principais e suas possibilidades associativas: empilhar, rolar, transvasar, encaixar etc. (BRASIL, 1998, p. 218). Assim como a criança aprende a falar falando, a andar, andando, ela deverá aprender a contar, contando. Nesse caso, ela deve ser exposta a situações diversas em que tenha que efetuar contagem. A própria sala de aula é cheia de oportunidades dessa natureza: contar quantos colegas estão presentes, os lápis de cor, os brinquedos, os personagens das histórias etc., ou seja, sempre que seja significante para as crianças. As brincadeiras são ótimas oportunidades para as crianças fazerem contagens, por exemplo, a popular brincadeira “esconde-esconde”, na qual uma criança conta, enquanto as outras se escondem. No que se refere às noções espaciais, as brincadeiras devem envolver obstáculos para as crianças passarem por cima, por baixo ou no meio, seja andando ou engatinhando, pois são propícias para a construção dos conceitos espaciais em um contexto significativo. Também são significativas as situações em que as crianças manipulam objetos com formas, tamanhos e materiais diferentes. O Referencial Curricular Nacional para educação infantil, buscando “oferecer visibilidade às especificidades dos conhecimentos matemáticos” (BRASIL, 1998, p. 219), organiza os conteúdos matemáticos em três blocos: numeração e sistema de numeração, grandezas e medidas, espaço e formas, destacando as habilidades a serem desenvolvidas. 27 Deve-se garantir na educação infantil o contato com o vocabulário matemático para que as crianças possam relacionar e compreender as ações futuras em relação às situações-problema com os quais que elas irão conviver. Segue o vocabulário matemático que deve ser explorado ao máximo pelas crianças, para que elas, ao lerem futuramente os textos, possam compreender o que é pedido: 1. Noções de grandeza: grande, pequeno, maior, menor, mesmo tamanho, alto, baixo, largo, estreito, grosso, fino, comprido, curto. 2. Noções de posição: dentro, fora, na frente de, atrás de, ao lado de, mais perto de, mais longe do primeiro, o último, no meio, de frente, de costas, à direita, à esquerda, acima, abaixo. 3. Noções de direção e sentido: para frente, para trás, para cima, para baixo, para o lado, para a direita, para a esquerda, mesmo sentido, sentido contrário, setas, meia volta, uma volta. 4. Noções de tempo: antes, depois, agora, mais tarde, ontem, hoje amanhã, dia, noite, iniciação as horas inteiras, velho, novo, moderno, antigo, mais velho de todos, começo, meio e fim, dia, semana, mês. 5. Noções de capacidade: vazio, cheio, pouco cheio, muito cheio, quase cheio, quase vazio. 6. Noções de massa: pesado leve, mais pesado, mais leve. 7. Noções de quantidade: muito, pouco, o que tem mais, o que tem menos, mesma quantidade. 6.5 Números e sistema de numeração Neste bloco são trabalhadas: a contagem, notação, escrita numérica e operações. As habilidades desenvolvidas são: Utilizar contagem oral e de noções simples de cálculo mental; Comunicar quantidade – Linguagem oral, notação numérica e/ou registros não convencionais; Identificar o número nos diferentes contextos em que ele pode aparecer e a posição do número, com a explicitação de antecessor e sucessor; Comparar as escritas numéricas com a identificação de regularidades. No cotidiano da sala de aula, as crianças vivem situações nas quais têm que fazer contagens em diferentes contextos e finalidades, onde o número pode ser usado para contar, medir, ordenar e codificar. Por exemplo: contar a quantidade de pessoas, incluindo ela, que estão na sala de aula, para isso terá que contar uma a uma cada pessoa presente, contando cada pessoa uma única vez, para perceber a sequência numérica, já que o último número corresponde à quantidade de pessoas na sala. Nesse caso, a finalidade do número é a contagem e o número é chamado de cardinal. Pode-se determinar a posição de um determinado aluno na fila, de acordo com a regra definida, por exemplo, crescente ou decrescente. Nesse caso, o número que representa essa posição é ordinal, pois tem a finalidade de ordenar. Há situações em que 28 é necessário determinar o tamanho de uma distância, e o número é o resultado de uma medição e expressa quantas vezes a unidade de medida usada se repete naquela distância. Além disso, o número pode assumir a finalidade de codificar, ou seja, identificar pessoas ou objetos. Na camisa dos jogadores de futebol, por exemplo, tem um número que os identifica, assim como a placa do carro, o telefone, entre outras situações. É importante que as crianças tenham contato com as diversas finalidades do número em situações distintas para que se familiarizem com elas, pois assim perceberão que o número está de acordo com o contexto e terão mais subsídios para construir o conceito de número, ou seja, abstrair a ideia de número como uma construção da mente humana. No processo de contagem podemos utilizar vários materiais como tampinhas, botões e outros mais específicos, como o material dourado, que apresenta uma codificação diferente para unidade, dezena e centena, ajudando na identificação do processo aditivo, e o ábaco de pinos aberto, que auxilia no processo de compreensão da questão posicionaldo nosso sistema de numeração decimal. 6.5.1 A sequência numérica 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 O conhecimento da sequência numérica é o principal instrumento que a criança precisa para conhecer o significado de números e com ele fazer relações (BRASIL, 1998). Dominar a sequência implica conhecer: o nome de cada símbolo, seu antecessor e sucessor e a regra de sua formação. Isso permite fazer comparação entre os números e determinar qual é o maior e/ou o menor. Sugerimos que se inicie com a sequência numérica de um em um, para que a criança memorize, de forma significativa, os nomes de cada símbolo. Contudo, saber falar uma sequência numérica não significa compreensão do número, então utilizemos formas prazerosas para ajudar os alunos a memorizar os nomes dos símbolos, tais como: música, brincadeiras e jogos, sendo que a memorização deve ser acompanhada de significado. SUGESTÃO PARA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA COM O LIVRO PARADIDÁTICO VICENTE, Ana. Pra Que Serve O Zero? [sl]: Mercuryo, [sd]. 29 Observemos, por exemplo, a parlenda que segue: Um, dois, feijão com arroz Três, quatro, feijão no prato Cinco, seis, falar inglês Sete, oito, comer biscoito Nove, dez, comer pastéis A parlenda está presente em muitos livros didáticos e muitos professores a utilizam em sua prática pedagógica para auxiliar a criança a memorizar a sequência numérica. Contudo, os nomes dos símbolos não estão relacionados a nenhuma das finalidades que o número pode ter (contar, ordenar, codificar, ou medir), são apenas palavras em uma rima. Por isso, sugerimos a utilização de algumas atividades significativas, que podem ser confeccionadas, como as feitas com caixas de leite. O Ensino Fundamental é dividido em dois ciclos, sendo o primeiro ciclo de 1º a 5º ano e o segundo do 6º ao 9º ano. A criança deve iniciar o Ensino Fundamental com 6 anos, e nessa fase já tem muitos conhecimentos matemáticos obtidos na etapa anterior de ensino e/ou de suas vivências, mesmo aquelas que não passaram pelo ensino formal. Analisemos a seguir os conteúdos, planejamentos e ações propostas para o desenvolvimento do trabalho pedagógico nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Para isso, serão tomados como base os PCNs e as pesquisas e práticas nesse nível de ensino, para o qual os PCNs destacam os seguintes objetivos: Construir o significado do número natural a partir de seus diferentes usos no contexto social, explorando situações-problema que envolvam contagens, medidas e códigos numéricos; Interpretar e produzir escritas numéricas, levantando hipóteses sobre elas, com base na observação de regularidades, utilizando-se de linguagem oral, de registros informais e da linguagem matemática; Resolver situações-problema e construir a partir delas os significados das operações fundamentais, buscando reconhecer que uma mesma operação relacionada a problemas diferentes e a um mesmo problema pode ser resolvida pelo uso de diferentes operações; Desenvolver procedimentos de cálculo mental, escrito, exato, aproximado pela observação de regularidades e de propriedades das operações e pela antecipação e verificação de resultados; Refletir sobre a grandeza numérica, utilizando a calculadora como instrumento para produzir e analisar escritas; 30 Estabelecer pontos de referência para situar-se, posicionar-se e deslocar-se no espaço, bem como para identificar relações de posição entre objetos no espaço; interpretar e fornecer instrução, usando terminologia adequada; Perceber semelhanças e diferenças entre objetos no espaço, identificando formas tridimensionais ou bidimensionais, em situações que envolvem descrições orais, construções e representações; Reconhecer grandezas mensuráveis, como comprimento, massa, capacidade, e elaborar estratégias pessoais de medida. Utilizar informações sobre tempo e temperatura; Utilizar instrumentos de medida, usuais ou não, estimar resultados e expressá- los por meio de representações não necessariamente convencionais; Identificar o uso de tabelas e gráficos para facilitar a leitura e interpretação de informações e construir formas pessoais de registro para comunicar informações coletadas (BRASIL, 1997, p. 37). Para atingir os objetivos propostos na lista anterior, alguns conteúdos matemáticos deverão ser contemplados com maior ênfase e amplitude em relação à etapa anterior. Essa seleção tem gerado muitas discussões. Contudo, há certo consenso em torno dos seguintes: números e operações (aritmética e álgebra), espaço e forma (geometria), grandezas e medidas (faz a interligação entre aritmética e geometria) e o tratamento da informação (estatística e probabilidade), sendo que este último não foi contemplado pelos PCNs na etapa anterior. A intervenção do professor deve levar em conta o papel da matemática na formação geral dos estudantes, contemplando, sempre que possível, os diversos aspectos nos quais estamos inseridos: social, ético, cultural, orientação sexual, saúde e ambiental, em função da demanda pelo domínio desses aspectos para a participação na sociedade. Assim, a formação geral do aluno pressupõe uma boa estrutura de raciocínio, o que também é evidenciado pelos PCNs, quando entendem que “[…] a sobrevivência numa sociedade que, a cada dia, torna-se mais complexa exigindo novos padrões de produtividade, depende cada vez mais de conhecimento” (BRASIL, 1997, p. 25). Tais considerações têm suporte na perspectiva de essencialidade da matemática, tanto no que se refere ao seu caráter formativo, que diz respeito à estruturação do pensamento e desenvolvimento do raciocínio lógico, quanto ao caráter instrumental, em função de a matemática ser uma linguagem ou ferramenta para diversas ciências. Ao iniciar o trabalho com uma turma, o professor, necessariamente, precisa saber quais conhecimentos os alunos trazem para, a partir daí, elaborar seu planejamento, buscando ampliar os domínios dos alunos e tendo como referência os conteúdos propostos para cada série. 31 6.5.2 Números e operações Disponível em: https://alunosonline.uol.com.br/matematica/conjuntos-numericos-suas-operacoes.html O principal objetivo das primeiras séries do ciclo I, no que se refere à matemática, é a consolidação do conceito de número, iniciada na educação infantil. Nesse caso, só após a construção da ideia de número pela criança é que o professor deverá promover o conhecimento da escrita dos algarismos e do sistema de numeração decimal, o que deve ser iniciado, de forma geral, no primeiro ano do primeiro ciclo. Essa compreensão não é simples porque o conceito de número e o sistema de numeração decimal também não o são; por isso, exigem muita dedicação dos professores para auxiliar os alunos nessa construção. Logo, os professores precisam de um conhecimento sólido e abrangente sobre esses conceitos. No entanto, algumas pesquisas apontam para o despreparo de professores da Educação Básica para trabalhar esse e outros conceitos matemáticos. No que se refere ao conceito de número, um equívoco comum é o entendimento de que o aluno que sabe contar tem construído esse conceito, outro é a confusão entre termos como número, numeral e algarismo. Esses equívocos, muitas vezes, ocorrem em função de o próprio professor não dominar o conceito e acabar transmitindo sua deficiência aos alunos. Nesse sentido, é preciso reiterar a necessidade de reflexão sobre a prática e formação contínua para amenizar as falhas da formação, mais especificamente no que se refere à matemática. Estando o conceito de número apropriado pelas crianças, o próximo passo é a escrita no número, o que implica ter claro que o número é a ideia que vem à mente quando contamos, ordenamos e medimos, ou seja, é uma abstração; o numeral é toda representação de um número, seja ela escrita, falada ou digitada, por isso é chamado de “nome do número” (um, dois, três…), mas que também pode ser escrito comos algarismos, ou seja, 1, 2, 3, (…). Nesse caso, algarismo é todo símbolo numérico que usamos para representar quantidades, o sistema hindu-arábico tem 10 algarismos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 0. Com eles, são construídos todos os números do sistema decimal, enquanto os algarismos romanos mais conhecidos são: I, V, X, L, C, D. As crianças têm dificuldades em compreender o(s) significado(s) do zero (0) quando se deparam com as quatro operações. Algumas pesquisas consideram que o zero deve se apresentado aos alunos depois do domínio dos números de 1 a 9, já que o primeiro contato da criança com o número é como resultado de contagens e não se conta o que 32 não existe. Neste caso, ele é apresentado como um símbolo que serve para se juntar aos outros nove algarismos para formar a dezena, centena e para indicar o conjunto que não tem elementos. Essa apresentação ocorre já na educação infantil na prática pedagógica (PADRÃO, 2008). Diversos estudos apresentam alguns significados atribuídos ao zero (0) na História da humanidade. São eles: Elemento de uma contagem: zero (0) é o número que se atribui ao conjunto vazio, isto é, 0 = nada; Valor posicional: zero (0) designa o número da ordem, em uma classe, que não tem elementos; Valor de dado operatório: zero (0) é o elemento neutro da adição e anula o resultado de uma multiplicação; na potenciação convenciona-se: a0 = 1 e 00 é indeterminado. Função de origem: zero (0) tem natureza contínua, assume o sentido de medida – unificação da reta numérica. O significado do zero (0) nesse nível de ensino precisa ser mais abrangente que aquele apresentado na educação infantil, nível em que só são apresentados os significados (1) e (4). Na prática pedagógica das séries do primeiro ciclo do Ensino Fundamental, observa-se ênfase no significado (2), ao se iniciar o trabalho com as operações (ausência de classe). No entanto, todos os significados devem ser apresentados gradativamente para que as crianças evoluam. O quadro valor de lugar (QVL) é um mecanismo muito usado para apresentar o sistema de numeração decimal. No caso da figura abaixo, ele foi trabalhado em conjunto com o material dourado, o que é interessante no início do processo. Partindo de uma concepção construtivista, ou seja, entendendo que o conhecimento é construído dando-lhe significado, o trabalho sobre a escrita dos algarismos é imperativo, para que a criança reconheça a necessidade de uma “convenção social” para o registro de contagens, o que pode ser possível com a promoção de situações-problema nas quais perceba que a memória não dá conta de guardar um grande número de informações e a necessidade de comunicação. Isso pode ser efetivado em situações como um jogo, uma pesquisa ou uma atividade em que um número seja escrito com os vários sistemas numéricos. Essa pode ser uma forma eficiente para o aluno perceber dificuldades em realizar alguns deles. É preciso considerar que o sistema posicional não é uma ideia simples. Para compreendê-lo é preciso capacidade de abstração, pois o mesmo símbolo pode representar quantidades diferentes, de acordo com sua posição. A História da matemática pode contribuir para dar sentido ao sistema de numeração decimal. Assim, estudar os diferentes sistemas de numeração usados no passado permite compreender melhor nosso atual sistema, pois conceitos como: base 10, valor posicional ou a importância do zero, tornam-se mais compreensíveis quando comparados a outros sistemas nos quais não valem as mesmas propriedades. 33 Disponível em: http://www.sintra-se.pt/calcumaticar/sistema-de-numeracao-binario-e-decimal O cálculo mental é importante para o conhecimento dos números; seu uso precisa ser estimulado na escola, pois essa capacidade ajuda no desenvolvimento da atenção, da concentração e da memória e permite que as crianças desenvolvam seus próprios procedimentos, tornando-os mais autônomos, ou seja, sem se limitar ao uso de algoritmos. Além disso, o cálculo mental estimula o raciocínio, já que no processo de calcular mentalmente a criança é desafiada a procurar o melhor procedimento de cálculo; ao dominar essa forma de raciocínio, elas adquirem mais segurança para resolver situações- problema, na escola e na vida, o que contribui para que adotem atitudes positivas em relação à matemática (FREITAS et al., 2010). O desenvolvimento do cálculo mental deve acontecer durante todo o ciclo, sendo que o nível de complexidade deve aumentar gradativamente. 34 Disponível em: http://seculomatematica.blogspot.com/2014/11/a-importancia-do-calculo-mental.html Uma estratégia para a estimulação do cálculo mental é incentivar algumas atividades em que os alunos possam fazer estimativas, pois ela está presente em nosso cotidiano e na sala de aula acaba sendo feita muito tecnicamente. Um exemplo é quando fazemos compra no mercado: não somamos exatamente os centavos, arredondamos para obter um número inteiro e assim estimar e verificar se teremos o dinheiro suficiente para comprar. Freitas et al. (2010) apresentam uma sugestão de uma atividade com jogo, chamado boliche. Nas séries iniciais, do Ensino Fundamental, os autores sugerem o uso desse jogo para o desenvolvimento de habilidades de cálculo mental e registros. O jogo consiste em dispor dez garrafas (pet) em forma de V e cada jogador deve jogar uma bola a partir de uma linha traçada visando derrubar as garrafas. O objetivo é verificar qual equipe consegue derrubar mais garrafas, após um número fixo de jogadas. Esse jogo possibilita o desenvolvimento da coordenação motora e da abstração por meio de cálculos mentais. Além disso, favorece o desenvolvimento da escrita, em função do registro de pontos e da autonomia dos estudantes, já que exige pouca intervenção do professor. É possível fazer adaptações no jogo para contemplar outros temas e aplicar em outros ciclos do Ensino Fundamental. Por exemplo, se as garrafas forem numeradas, podem-se trabalhar as operações de adição e subtração, de acordo com o nível dos alunos (FREITAS, et al. 2010). 35 Disponível em: http://brincandocomosjogosmatematicos.blogspot.com/2015/12/boliche-matematico.html Para que a criança esteja bem preparada para trabalhar com as operações de adição e subtração, depois com a multiplicação e divisão, é fundamental que ela esteja segura para desenvolver estratégias mentais inicialmente pelos fatos básicos (são cálculos que devem ser realizados mentalmente, utilizando números de um só algarismo Ex.: 8 + 7). Fazer decomposições de várias formas é uma habilidade que precisa ser desenvolvida desde a educação infantil. Por exemplo, o número 8 pode ser decomposto como: 1+7 ; 2+6 ; 3+5 ; 4+4 ; 5+3 ; 6+2 ; 7+1. Essa habilidade é útil para realização de cálculo mental e de operações com algoritmos. Vale lembrar que é importante dar liberdade para a criança expressar do seu jeito as formas de registro do que pensa, pois essas representações favorecem as intervenções posteriores, ressaltando que cada indivíduo tem a sua forma de organizar a forma como pensa. 6.5.3 Operação com números naturais Para iniciar a apresentação de operações usando algoritmos, o professor precisa estar certo de que seus alunos tiveram contato com todos os elementos envolvidos no conceito de número (classificação, seriação/ordenação, sequência lógica, contagens em diferentes bases, inclusão, igualdade, desigualdade, intersecção, união de classes e conservação de quantidades contínuas e discretas). 36 Disponível em: https://sites.google.com/site/aprendendomathematica2012/introducao/home O algoritmo é uma forma prática de executar uma tarefa. Existem muitos tipos de algoritmos, uns exigem menos, outros exigem mais treino para utilizá-los, contudo todos requerem alguma prática para usá-lo com segurança.
Compartilhar