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resenha - doze homens e uma sentença

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RESENHA
12 Angry men (doze homens e uma sentença). Direção de Sidney Lumet. Estados Unidos. Duração 90 min. 1957.
12 homens e uma sentença é uma obra estadunidense, do gênero dramático, dirigida pelo cineasta Sidney Lamet. Inicialmente, o roteiro, criado por Reginald Rose, foi escrito para a televisão, mas logo depois fora adaptado para o cinema, em 1957. O filme recebeu vários prêmios, incluindo indicações ao Oscar 1958 (EUA) como melhor filme e ao Globo de Ouro 1958 (EUA). O filme se passa em Nova Iorque e conta a história de um jovem acusado de matar seu próprio pai. Com isso, um júri composto por doze homens é responsável por, a partir dos argumentos e provas apresentados ao decorrer do caso, condenar ou absolver o réu. Dessa forma, a presente resenha visa fazer um paralelo com base nos conceitos da argumentação do livro ‘A Arte de Argumentar - Gerenciando Razão e Emoção’, escrito pelo autor brasileiro Antônio Suárez Abreu, que tem como propósito discorrer a respeito da importância dos processos argumentativos e persuasivos. Nesse sentido, será identificado o posicionamento dos jurados em relação à condenação do réu, além das emoções e valores que serão amparados pelos mesmos em sua argumentação e em como eles se contrastam com a aparente lógica dos fatos, tornando-se assim, essenciais para o desfecho da narrativa.
 No livro A arte de argumentar - gerenciando razão e emoção o autor Antônio Suárez Abreu fala que “quando entramos em contato com o outro, não gerenciamos apenas informações, mas também a nossa relação com ele” partindo disso, ao observar o comportamento e posicionamento de cada jurado é possível ver que o senso comum domina a maior parte das opiniões, pois as provas contra o réu, aliadas a características como sua classe social, o lugar de onde veio e seus antecedentes criminais, se mostram determinantes para que a maior parte vote a favor de sua condenação à morte. Somente um dos doze jurados acredita na inocência do réu, e assim por meio de uma tese de adesão inicial, o jurado número 8 argumenta que lhe parece injusto condenar alguém à morte sem ao menos conversarem sobre o caso, a partir desse ponto ele inicia uma incansável busca que tem como objetivo mostrar para todos que nem sempre a verdade é aquela que te apresentam. Ainda em seu livro, Abreu fala que “os mesmos valores não são impostos a todo mundo” o que fica bastante claro ao decorrer do filme, já que é bastante visível que a vivência e as experiências passadas irão influenciar grandemente o julgamento de cada um daqueles homens, um bom exemplo é o jurado número três, que demonstra acreditar cegamente nas provas apresentadas contra o réu e a todo o momento argumenta a favor de sua condenação. Contudo, logo notamos que devido à difícil relação com seu filho, ele acaba deixando transparecer que não está sendo totalmente imparcial naquela ocasião. Ruth Amossy, escritora do livro A argumentação no discurso. Cap. O pathos ou o papel das emoções na argumentação (2018) promove-se um debate sobre o uso do phatos na argumentação, segundo ela “É necessário, antes de tudo precisar que o que o orador sente tem pouca pertinência nesse contexto, porque o que é sentido só se transmite na comunicação pelos meios que está oferece e também porque o locutor animado por uma grande paixão não a transmite necessariamente a seu alocutário, que pode se manter frio diante do discurso do locutor”, com base nessa concepção é notável a coordenação do jurado número oito ao proferir seus argumentos visando alcançar emoções presentes no jurado número três, e com isso persuadi-lo sem ser tomado pela emoção presente em seu auditório. O jurado número oito tem êxito em sua missão, convencendo por meio de bons argumentos e estratégias até o mais incrédulo na inocência daquele garoto. Tudo na votação parece seguir o caminho esperado pelos jurados, o pensamento comum da sociedade daquela época rege as relações dos personagens, a “obviedade” do evento é tratada como certeza, sendo essa obviedade fruto de emoções como raiva, medo e tristeza, tornando-se um argumento consensual para pôr fim à sentença de forma mais rápida, já que para quase todos os jurados a culpa do jovem é certa. Até que o jurado oito quebra a expectativa de todos naquela sala e vota na inocência do rapaz. Expondo seu ponto de vista ele constrói um ethos questionador que também admite a contradição do seu ponto de vista; misturando emoção com lógica e criando uma contradição de teses, o jurado cria uma argumentação que não só cativa, no sentido aristotélico da retórica, como também facilita a persuasão e o convencimento daqueles que estão ao seu redor, dando assim início ao debate e ao conflito que magistralmente se passa e se resolve em uma única sala.
A problemática levantada pelo filme abrange a nossa realidade, na medida em que aponta o processo de julgamento alicerçado às emoções de cada jurado após a exposição gradual de argumentos levantados em defesa do réu. Nos remete a fatos do nosso dia a dia, quando muitas vezes presumimos algo de modo imediato e mudamos nosso ponto de vista quando somos persuadidos a enxergar versões diferentes do mesmo acontecimento. A obra é indicada a estudantes de direito, aulas direcionadas a disciplina de argumentação e psicologia, e causa um grande impacto na discussão sócio-cultural do grande público. Além disso, esta obra nos dá diversas questões para serem refletidas, sem sombra de dúvidas um enredo estimulante, fascinante e significativamente apropriado às análises e estudos das práticas argumentativas.

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