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SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO 1 Adriana Zóboli Silvério 2 Danilo Rayme 3 Sérgio Taquini4 INTRODUÇÃO Um dos princípios fundamentais do direito do trabalho, é o princípio da continuidade da relação de emprego, exatamente por isso apena em casos especiais, ocorre a paralização do serviço, que é o caso da suspenção e da interrupção do contrato de trabalho, em ambos os casos o empregado não presta serviço, mas continua valendo o vínculo de emprego. Conceituando o tema, afirmamos que, seja na interrupção quanto na suspenção do contrato de trabalho, o empregado deixa de prestar serviço, essa é a característica principal, que existe tanto na interrupção quanto na suspenção do contrato de trabalho, além dessa característica principal, existem outros pontos em comuns entre suspenção e interrupção do contrato de trabalho (MARTINEZ, Luciano, 2019, s.p.). Enumerando as características, têm-se que: 1º característica – o vínculo de emprego se mantém, independente das prestações de serviços do empregado. 2º característica – o empregado quando retorna ao trabalho, ele mantém todas as vantagens que fora concebida aos empregados da mesma categoria, no período em que o empregado ficou com seu contrato suspenso ou interrompido. 1 Paper apresentado à Disciplina de Direito do Trabalho I – Professora Stéphany Ulhôa Moratti - Para obtenção da nota N2B1 - 2021/1 - Faculdade Espírito Santense de Ciências Jurídicas - Faculdade PIO XII - Curso de Direito. 2 Acadêmico de Direito – Turma D3AN. 3 Acadêmico de Direito – Turma D3AN. 4 Acadêmico de Direito – Turma D3AN. 2 3º característica – tanto no caso de suspenção quanto no caso de interrupção, é vedado o empregador dispensar o funcionário. 1 – DEFINIÇÃO E RELEVANCIA A suspensão e a interrupção contratual são categorias do contrato de trabalho, originado em 13 de julho de 2017, com a lei nº 13.467, com objetivo de adequar as normas da Lei trabalhista. Com uma nova reforma, entre 15 de março e final de junho de 2020, foram aprovadas 32 leis, considerando alguns tipos de projetos legislativas, elaborando o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda, diante da calamidade que o Brasil e o mundo vivencia diante da pandemia do corona vírus, conforme Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020. Conforme Luciano de Martinez, na suspenção contratual, ainda que preservado a relação contratual, sucede a descontinuação do fornecimento de trabalho e ao condizente pagamento do trabalhador, melhor dizendo, o trabalhador fica sem exercer suas atividades laborais e não aufere seu salário no decorrer do decurso de afastamento, diante disso, o tempo de serviço do empregado não será contado, exceto no caso de serviço militar e acidente/doença de trabalho (MARTINEZ, Luciano, 2019). Reforça esse entendimento, nas palavras de Luciano Martinez, na suspensão do contrato de trabalho, que na hipótese de o empregado não estar prestando serviços, não receberá salário e o tempo em que ele estiver suspenso, não será contado como tempo de serviço para fins de aposentadoria. (MARTINEZ, Luciano, 2019, s.p.). Percebe-se que no caso da suspenção do contrato de trabalho, a principal obrigação tanto do empregado quanto do empregador fica dispensado, como no exemplo a seguir: - No caso de empregado com alguma estabilidade, exige-se um inquérito judicial para apuração de falta grave, no tempo estabelecido e enquanto estiver ocorrendo este inquérito, o empregado fica suspenso e sem a recompensa salarial. (Martinez, Luciano, 2019, s.p.) 3 A suspensão contratual nos casos de: afastamento por motivo de doença a partir do 16º dia; Período de suspensão disciplinar; Afastamento em decorrência de aposentadoria por invalidez; Participação pacífica em greve; Afastamento do empregado em casos de prisão; Eleição para cargo de direção sindical; Encargo público não obrigatório; Licença não remunerada concedida pelo empregador a pedido do empregado para tratar de interesses particulares; dentre outros, conforme artigos 472, 473, 475 e 476 da CLT. A definição da suspensão nada mais culto que as informações do relator e ministro do Tribunal Superior do Trabalho, Des. Joao Oreste Dalazen (RR 57392/2002-900-12- 00.7), no qual enfatizou testificando: A suspensão do contrato de trabalho e uma forma de intermitência, havida no liame trabalhista, que acarreta a sustação temporária dos principais efeitos do contrato em relação as partes, sem, contudo, afetar o vínculo de emprego (Des. João Oreste Dalazen – TST). Em contrapartida, afirma Luciano Martinez que na interrupção contratual, ainda que a relação empregatícia esteja mantida e as atividades laborais paradas, disponibilizando o seu ordenamento. Isto posto, o trabalhador não irá laborar, porém continuará recebendo seu ordenamento, conta o tempo efetivo de serviço, mantendo as obrigações neste período de interrupção, ocorrendo o desconto de recolhimento do FGTS e o encargo do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS (MARTINEZ, Luciano, 2019). O empregado fica dispensado de prestar serviço, mas a obrigação principal do empregador continua, ou seja, o empregador continua pagando o salário do empregado, então no caso da interrupção, o empregado não trabalha, mas recebe, se ele recebe não é categorizado como suspenção, na interrupção há do pagamento do salário, percebamos que a principal diferença entre a interrupção o a suspenção é esta. (MARTINEZ, Luciano, 2019, s.p.). Destaca-se que na interrupção contratual: afastamento por motivo de doença ou acidente de trabalho até o 15º dia; Férias; Licença maternidade (Art. 392 da CLT); 4 Descanso semanal remunerado e feriados civis e religiosos; Licença remunerada; Período que não houver serviço na empresa, por culpa ou responsabilidade desta, caso em que há a obrigação de pagamento de remuneração; Afastamentos previstos no artigo 473 da CLT; Período em que o representante dos empregados se afasta de suas atividades para realizar suas atribuições como tal; Tempo necessário para a empregada gestante realizar consultas médicas e demais exames complementares (artigo 392 II da CLT); Aborto não criminoso (artigo 395 da CLT), dentre outros. O Acórdão de Recurso Ordinário Trabalhista n° TST-ROT-16-57.2020.5.17.0000, trata-se de mandado de segurança impetrado por Suzano S.A, em que é Recorrente, e Recorrido FABIO BATISTA PINTO, julgado em 11/05/2021 e publicado em 14/05/2021, com pedido liminar, em face de decisão proferida pelo Juízo da Vara do Trabalho de São Mateus, Autoridade Coatora JUÍZA ANA MARIA MENDES DO NASCIMENTO nos autos Reclamação Trabalhista nº 0000830-15.2019.5.17.0191, a qual acolheu a tutela de urgência requerida para determinar a reintegração do reclamante ao emprego, com restabelecimento de salários e benefícios, sob pena de multa diária de R$5.000,00 (cinco mil reais). “De fato, a suspensão do contrato de trabalho impede a concretização dos efeitos da demissão do empregado, que durante aquele interregno pode fazer jus a determinados benefícios decorrentes da relação de emprego, como é o caso, por exemplo, da manutenção do plano de saúde, conforme se depreende da Súmula nº 440 desta Corte, segundo a qual “Assegura-se o direito à manutenção de plano de saúde ou de assistência médica oferecido pela empresa ao empregado, não obstante suspenso o contrato de trabalho em virtude de auxílio- doença acidentário ou de aposentadoria por invalidez”. (Relator Ministro Renato de Lacerda Paiva) Conforme acórdão, o recorrente Suzano S.A., recorreu ao agravo de instrumento, onde solicita rever a decisão judicial, onde determina a reintegração do empregado Fabio Batista Pinto a empresa. Neste caso, deu-se a liminar como indeferida, visto que a recorrente não apresentou provas contundentes para que nãoreadmitisse o empregado, onde alegou que o mesmo apresentava laudos “falsos”, o Ministro Renato de Lacerda Paiva, dito que, na data em que o empregado foi demitido, encontrava-se enfermo, e com o contrato de trabalho suspenso, isto posto, o documento ASO (atestado de saúde ocupacional), 5 não pode estar inapto ao admitir ou demitir algum empregado, o mesmo encontrava- se enfermo. Neste caso, na data ocorrida da demissão, além do empregado estar enfermo, estava com suspensão contratual, de acordo com o artigo 476 CLT, em caso de seguro- doença ou auxílio-enfermidade do empregado, o contrato de trabalho do mesmo será suspenso pelo prazo do benefício, e a Súmula nº440, onde beneficia o empregado de “usufruir” do direito ao plano de saúde, tendo em vista que, o empregado estava com o contrato suspenso, diante disso, tinha vínculo empregatício com a empresa Suzano S.A. É salutar, no entanto, afirmar que doutrina não é unânime quanto à identificação dos institutos da interrupção e da suspensão do contrato de trabalho. Oportunamente, trazemos a inteligência das palavras de Carlos Henrique Bezerra Leite: Em rigor científico, contudo, não há suspensão ou interrupção do contrato, mas sim, dos seus efeitos, isto é, das obrigações atribuídas a cada uma das partes figurantes da relação de emprego. É por esta razão que melhor seria falar em suspensão ou interrupção do trabalho, e não do contrato, uma vez que este, em ambos os casos, continua vigendo e até produzindo efeitos (LEITE, 2019, pgs.821 e 822). De certo é que tanto a interrupção quanto a suspensão do trabalho provocam efeitos no contrato, ainda que a vigência continue trazendo efeitos na relação jurídica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante das análises realizadas até aqui, é possível inferir que os institutos da suspensão e da interrupção do contrato de trabalho compartilham semelhanças quanto a situação empregatícia do trabalhador, mas trazem diferenças significativas, também, o que exige precisão no diagnóstico da situação. Ao empregado, espera-se clareza da apresentação dos fatos e veracidade nessas informações. Ao advogado da parte, precisão metodológica para que encontre o melhor caminho para a orientação jurídica necessária. Em suma, a suspenção é a paralisação dos trabalhos exercido pelo empregado ao empregador, ainda que temporariamente, e a interrupção de contrato de trabalho uma 6 pausa no contrato de trabalho do empregado. As relações jurídicas de ambas situações se mantém, mas os resultados são distintos. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº. 13.467/17. Altera a Consolidação as Leis do Trabalho (CLT). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm. Acesso em: 26 mai. 2021. BRASIL. Lei nº. 14.020/20. Institui o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm. Acesso em: 26 mai. 2021. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 11ª ed. - São Paulo: Saraiva Educação, 2019.1. MARTINEZ, Luciano. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019.1. TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Acórdão nº 16-57.2020.5.17.0000 (ROT). Relator Min. RENATO DE LACERDA PAIVA. Acórdão em 11 de mai de 2021. Disponível em: https://file:///C:/Users/Taquini/Downloads/A%20C%20%C3%93%20 R%20D%20%C3 %83%20O%20suspensao%20contratual.pdf. Acesso em 27 de Maio de 2021.