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NECESSIDADE: PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO/ FORÇAS PRODUTIVAS E RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO Para viver é necessário beber, comer, ter um teto onde se abrigar, vestir-se, etc. O primeiro fato histórico é, pois, a produção dos meios que permitem satisfazer essas necessidades, a produção da própria vida material. Os homens, por meio da interação com a natureza e com outros indivíduos, buscam suprir suas carências e, nessa atividade, recriam a si próprios e reproduzem sua espécie num processo que é continuamente transformado pela ação de sucessivas gerações. Os animais interagem com a natureza de forma inconsciente, não cumulativa, visando atender suas privações imediatas, enquanto que o homem produz livre da necessidade física e reproduz a natureza inteira. Ao produzir os meios para prover-se do que precisam, os homens organizam-se socialmente, estabelecem relações sociais, através das quais intervêm conscientemente na natureza. Ademais, o ato mesmo de produzir gera novas necessidades, o que significa que estas não são simples exigências naturais ou físicas, mas históricos produtos da existência social A produção determina não só o objeto do consumo, mas também o modo de consumo, e não só de forma objetiva, mas também subjetiva. Os resultados da atividade e da experiência humanas que se objetivam são acumulados e transmitidos por meio da cultura. “A própria quantidade das supostas necessidades naturais, como o modo de satisfazê-las é um produto histórico que depende em grande parte do grau de civilização alcançado’’. Na busca de controlar as condições naturais, os homens criam novos objetos os quais se incorporam ao ambiente natural, modificando- o, e passam às mãos das próximas gerações. isto possibilita que o desenvolvimento social se dê a partir dos níveis anteriormente alcançados. É por meio dessa ação que o homem humaniza a natureza e também a si mesmo. O processo de produção e reprodução da vida através do trabalho é, para Marx, a principal atividade humana aquela que constitui sua história social; é o fundamento do materialismo histórico, enquanto método de análise da vida econômica, social, política, intelectual. Forças produtivas e relações sociais de produção Para Marx a sociedade era uma obra humana “o produto da ação recíproca dos homens”. Mas, os homens não a determinam de acordo com seus desejos particulares. A forma de uma sociedade depende do estado de desenvolvimento social de suas forças produtivas e das relações sociais de produção que lhes são correspondentes. As forças produtivas são o resultado da energia prática dos homens, mas essa mesma energia está determinada pelas condições em que os homens se encontram colocados, pelas forças produtivas já adquiridas, pela forma social anterior a eles, que eles não criaram e que é produto da geração anterior. Dessa forma, é criada na história dos homens uma conexão, uma história da humanidade. As noções de forças produtivas e de relações sociais de produção estão interligadas e a mudança em uma provoca a mudança em outra. Forças produtivas: conceito que remete a ação dos homens sobre a natureza, o qual busca apreender o modo como aqueles obtêm os bens de que necessitam por meio da tecnologia, da divisão técnica do trabalho, dos processos de produção, dos tipos de cooperação, da qualidade dos seus instrumentos, das matérias-primas que conhecem ou de que dispõem de suas habilidades e saberes. Esse conceito pretende, pois, exprimir o grau de domínio do homem sobre as condições naturais. No entanto, o trabalho não é uma atividade isolada, ao produzir, os homens entram em contato uns com os outros, e essa interação lhes confere, além da dimensão natural enunciada na relação homem/natureza, uma dimensão social. Segue-se que um determinado modo de produção ou estágio de desenvolvimento industrial se encontram permanentemente ligados a um modo de cooperação ou a um estado social determinado, e que esse modo de cooperação é ele mesmo uma “força produtiva”. Relações sociais de produção são compostas pelas formas estabelecidas de distribuição dos meios de produção e do produto, ou as leis que regulam tal apropriação e pelo tipo de divisão social do trabalho, expressam como os homens se organizam socialmente para produzir. Em resumo, o conceito de forças produtivas refere-se aos instrumentos e habilidades que possibilitam o controle das condições naturais, e seu desenvolvimento é cumulativo. O conceito de relações sociais de produção implica em diferentes formas de organização da produção e distribuição, de posse e propriedade dos meios de produção, bem como em suas garantias legais, constituindo-se, dessa forma, no substrato para a estruturação das classes sociais. Na teoria da produção do espaço, Lefebvre estabelece as relações analíticas entre o urbano e a vida cotidiana, sendo estes, ao mesmo tempo, produtos e produção do espaço. Nessa análise, podemos encontrar ao mesmo tempo, a conservação e a superação do marxismo. Conservação do marxismo enquanto método e sua superação enquanto produto datado. No centro da sua análise se encontra a idéia da reprodução das relações de sociais de produção. Um processo que ainda não foi objeto de um estudo global, talvez porque a reprodução das relações sociais de produção se realiza nas atividades mais indiferentes: na vida cotidiana, nos lazeres, no habitar, no habitat e na utilização do espaço. Há em Lefebvre uma idéia essencial que supera a velha contradição entre as relações de produção e o desenvolvimento das forças produtivas. Uma idéia difundida pelos marxistas de diversos matizes. E que durante muito tempo fez parte dos programas dos partidos de esquerda. Hoje não aparece mais, pelo menos de forma explícita. Precisamente porque a revolução deixou de estar na agenda imediata. E porque a própria recuperação formidável do capitalismo, superando suas crises, afasta de vez (ou por enquanto) qualquer esperança na transformação radical da sociedade contemporânea ao menos nos moldes dos velhos lutadores de esquerda. No seu famoso prólogo, Marx mostra que em um momento determinado, o desenvolvimento das forças produtivas conflitaria com as relações sociais de produção. Mais do que isso, as relações sociais capitalistas, baseadas na propriedade privada dos meios de produção, se tornariam um obstáculo para o desenvolvimento das forças produtivas. Assim, Marx anunciava o momento da revolução social. Lefebvre aponta para uma nova contradição. Entre por um lado, a fragmentação do espaço (para a venda e a troca) e a capacidade técnica e científica da produção do espaço social a escala planetária. A essa fragmentação do espaço, Lefebvre contrapõe o direito à cidade. Ele se apóia neste conceito para a construção de uma análise global, superando a falsa análise ou fragmentada. Lefebvre aponta para uma nova problemática do capitalismo: a reprodução das relações de produção, que não coincide com a reprodução dos meios de produção, mas que se realiza no cotidiano, através dos lazeres e da cultura, da escola e a universidade. Esta é uma das principais contribuições de Lefebvre ao pensamento social contemporâneo. É o fio condutor dos seus estudos acerca da vida cotidiana e a modernidade. O espaço não é o lugar da produção de coisas, mas da reprodução das relações sociais. E essa reprodução inclui a do espaço urbano, dos espaços dos lazeres, dos espaços educativos, os espaços da cotidianidade. Para Lefebvre esse processo de reprodução das relações sociais ocorre “sob um esquema relativo à sociedade existente” cuja essência ele descreve como “conjunta-disjunta”, “dissociada”, mas mantendo uma unidade, a do poder, na fragmentação. Então, para Lefebvre, o espaço tem um caráter paradoxal, ao mesmo homogêneo e desarticulado. Os espaços de lazeres são dissociados dos espaços do trabalho e a produção de coisas. Dessa forma, os espaçosde lazeres aparecem independentes dos espaços de trabalho, mas vinculados através do consumo organizado e do poder que os unifica e reúne. O processo de humanização do ser social é construído a partir do trabalho que emerge da relação do homem com a natureza devido a sua capacidade de raciocínio. Segundo Marx (1983) o trabalho é condição natural universal do metabolismo entre homem e a natureza, condição natural eterna de vida humana. Nesse sentido a vida humana é constituída de necessidades para reprodução da vida social e o trabalho concretiza o pensamento/ideia do homem. Através da transformação do mundo objetivo, consequentemente se transforma ao adquirir novos conhecimentos e habilidades. O capitalismo rompe com a função primordial do trabalho que é a realização do ser social, convertendo-o em meio de subsistência, contrariando o princípio de realização do indivíduo (ANTUNES, 2003). O trabalhador que se constitui agora como mercadoria passa a exercer suas funções de forma alienada e não mais reconhece o produto final do seu trabalho, sendo estranho a ele. O trabalho passa a ser visto como algo desvalorizado, forçado e como um meio necessário para a obtenção de uma “liberdade” e “satisfação” encontradas fora dele, já que no exercício de suas atividades laborais o trabalhador decai de tal forma que quanto mais produz menos valor é atribuído a ele e mais insignificante se torna (ANTUNES, 2003). Diante desse sistema supracitado, o estranhamento cria barreiras sociais que dificultam o que Antunes chama de “desenvolvimento da personalidade humana”, já que o homem passa a se satisfazer e se sentir livre com o que lhe é animal, como o ato de comer e beber, e o que lhe é humano acaba se tornando algo da animalidade, já que o trabalho passa a ser meio de subsistência e não mais de auto- realização. Por fim, pode-se afirmar que o trabalho é indispensável para a realização do ser social, contudo, com o advento do sistema capitalista cujo objetivo primordial é a incessante extração da mais-valia, impondo da classe trabalhadora condições que a converte em alienada, tornando-a alheia a própria dinâmica do trabalho que a mesma realiza. É através do trabalho que o homem se auto-realiza, utilizando-se de atribuições características como o raciocínio e a liberdade, nesse sentido, o ser humano ao intervir na natureza atende suas necessidades na produção de valores de uso, transformando a realidade e a si mesmo, e a cada situação criada pela objetivação apresenta-se uma dimensão social e coletiva. Com o sistema capitalista essas características tornam-se degradadas, uma vez que ele não se sente mais livre ao objetivar suas atividades laborais, sendo importante apenas para reproduzir o capital cujo objetivo é a extração da mais valia. Dessa forma conclui-se que o capital ao explorar o trabalho do homem cria obstáculos para a concretização das características sociais e econômicas e se torna estranhado, na medida em que ao produzir valores de troca, a própria relação social é tratada como relação entre coisas, ou seja, o trabalhador que produz mercadorias, também é transformado em mercadoria, tornando-se, portanto alienado e desvalorizado na sua condição de humano. REFERÊNCIAS ANTUNES, R. Trabalho e Estranhamento. In: Adeus ao trabalho: ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 9 ed. São Paulo: Cortez, 2003, 123 a 133. LEFEBVRE, Henri. Espaço e política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. QUINTANEIRO, Tânia. BARBOSA, Maria Lígia de O., OLIVEIRA, Márcia Gardênia de. Um toque de clássicos: Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1995. Introdução, p. 63-103.
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