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AF Anemia Falciforme Marcelo Diniz Dias, Discente Medicina UFMA AGENDA INTRODUÇÃO HISTÓRIA EPIDEMIOLOGIA FISIOPATOLOGIA GENÉTICA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DIAGNÓSTICO TRATAMENTO MANUSEIO DA CRISE DE DOR CASO CLÍNICO QUESTÕES REFERÊNCIAS INTRODUÇÃO Paciente do sexo masculino, 05 anos de idade, nascido e domiciliado na cidade de Paço do Lumiar, foi admitido na UPA do Parque Vitória em 06 de maio de 2021, com o quadro de tosse e febre. A mãe relata que o filho sente fortes dores por todo o corpo há pelo menos uma semana, mas que nessa noite resolveu trazê-lo à Unidade devido à febre de 38°C. INTRODUÇÃO Ao ser questionada, afirma que não é a primeira vez que seu filho sente essas dores, já tendo ido à UPA anteriormente. Disse, ainda, que ele “gripa” com frequência, mas que dá um lambedor e sempre resolve o caso. Após avaliação clínica, solicitou-se Hemograma Completo, que apresentou o seguinte valor de Hemoglobina: 8,5 g/dL. INTRODUÇÃO Nervoso diante da impaciência da mãe e do choro da criança, o residente, desesperado, puxou uma prescrição solicitando transfusão sanguínea... Até que o jovem acadêmico, encucado, perguntou à mãe sobre o Teste do Pezinho e Anemia Falciforme. “Doutor, parece que ele tem mesmo essa tal dessa anemia aí, mas faz muito tempo já.” INTRODUÇÃO Estaria o residente certo em solicitar a transfusão? O que levou o jovem acadêmico a pensar em Anemia Falciforme? HISTÓRIA Gene HBS surgiu em mais de uma região da África e em localidades da Arábia Saudita e Índia. Portadores do traço falciforme em regiões do continente africano endêmicas de malária. Maior resistência desses portadores à infecção pelo Plasmodium falciparum. HISTÓRIA 1910 1933 1957 Hoje 1949 Herrick Primeira descrição oficial na literatura Castro Primeira referência de AF no Brasil Neel Condição hereditária / autossômica recessiva Ingram Substituição do Ác. Glutâmico pela Valina Pesquisas Complexa fisiopatologia EPIDEMIOLOGIA Negros norte-americanos possuem pelo menos uma cópia do gene 𝛃ᔆ. Negros norte-americanos têm pelo menos uma cópia do gene 𝛃ᶜ. Heterozigotos para alguma forma de 𝛃-talassemia. 09% 03% 1,5% EPIDEMIOLOGIA - BRASIL Anemia Falciforme Traço Falciforme Heterozigose Simples Estado Homozigótico ou Heterozigose composta/dupla Casos Atuais *Estimativa 4% 25 mil a 50 mil 60 mil a 100 mil* Fonte: Ministério da Saúde EPIDEMIOLOGIA - BRASIL FISIOPATOLOGIA Alteração molecular primária se dá pela substituição de uma única base no códon 6 do gene da globina 𝛃. FISIOPATOLOGIA Hemoglobina S e Hemoglobina A na conformação oxi são isomorfas, têm estruturas similares e solubilidades semelhantes. Desoxihemoglobina S e desoxihemoglobina A diferem grandemente. Desoxihemoglobina S Insolúvel e se agrega em longos polímeros. Polimerização: alinhamento de moléculas de hemoglobina S, unidas por ligações não covalentes. Polimerização depende de: concentração de O₂ e de HbS, pH etc. Somente a forma desoxigenada da HbS sofre polimerização. Desoxihemoglobina Cinética da Falcização Forma falciforme clássica Decorre da polimerização intracelular da desoxi-HbS após a desoxigenação. Processo normalmente reversível com a reoxigenação. No entanto, repetição frequente → células permanentemente falcizadas. Tais células têm meia-vida reduzida e contribuem para a AH. E o resultado? O Processo Vaso-Oclusivo Vaso-oclusão e endotélio Vaso-oclusão e inflamação Vaso-oclusão e adesão celular Vaso-oclusão e NO Vaso-oclusão, plaquetas e coagulação Vaso-oclusão e estresse oxidativo Vaso-oclusão e Hidroxiureia (HU) O Processo Vaso-Oclusivo GENÉTICA Síndrome Falciforme X Doença Falciforme X Anemia Falciforme Nível de HbF Haplótipos Benin e Bantu no Brasil. Associados a um ↓ dos níveis de HbF GENÉTICA GENÉTICA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS São variáveis. Derivadas primariamente da oclusão vascular e, em menor grau, da anemia. Primeiros sinais e sintomas com o declínio dos níveis de HbF, geralmente após 6 meses de idade. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Quadro de hemólise crônica associado a múltipla disfunções orgânicas progressivas. Dispneia, palidez, icterícia. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Fase estável - períodos sem manifestações clínicas Crises de Falcização - manifestações agudas Crises Vaso-oclusivas Crises aplásticas Crises hemolíticas Crises de sequestro Crises Vaso-Oclusivas Complicações mais frequentes da DF. É comumente a sua primeira manifestação. Causadas pelo dano tissular isquêmico secundário à obstrução do fluxo sanguíneo pelas hemácias falcizadas. Duram de 4 a 6 dias, mas podem persistir por semanas. Desencadeantes: infecção, desidratação e tensão emocional. Principalmente ossos longos, articulações e região lombar. Dactilite: crianças entre 6 meses e 2 anos. Crises Vaso-Oclusivas Crises Aplásticas Queda acentuada nos níveis de hemoglobina + níveis de reticulócitos reduzidos → insuficiência transitória da eritropoiese. Infecção pelo Parvovírus B19. Clinicamente: anemia aguda sem aumento esplênico. Situações mais severas podem cursar com sinais de choque hipovolêmico. Crises Hemolíticas Incremento brusco nas taxas de hemólise. São raras. Clínica: agravamento da anemia e da icterícia. Afastar outras causas de elevação da bilirrubina. Crise de Sequestro Esplênico Acúmulo rápido de sangue no baço. Queda dos níveis basais de Hb de pelo menos 2g/dL; hiperplasia compensatória de medula óssea; aumento rápido do baço. Mais comum entre os 6 meses e 2 anos de idade. Responsável por elevado percentual de morte nos primeiros dez anos de vida. Outras complicações Infecções Complicações cardíacas, neurológicas, pulmonares, hepatobiliares, cutâneas e genitourinárias. Síndrome Torácica Aguda Provocada por fenômenos vaso-oclusivos e infecções. Infarto de costela ou esterno, embolia pulmonar após necrose. Clínica: dor torácica, febre e dispneia. Exames Complementares: queda do nível de Hb e opacidade nova no Rx de tórax. Síndrome Torácica Aguda Causa mais comum de morte em pacientes com DF. Rx de tórax, cultura de sereção pulmonar, hemocultura, gasometria. Tratamento: medidas de suporte (analgesia, supl. de O₂) + ATB empírica contra germes típicos e atípicos). DIAGNÓSTICO Bilirrubina Hiperbilirrubinemia Indireta LDH Aumentado Haptoglobina Diminuída Hemoglobina Queda leve a moderada Hematócrito Queda leve a moderada Reticulócitos Reticulocitose (13-15%) DIAGNÓSTICO VCM Normal alto ou alto PCR Elevado Esfregaço de sangue Hemácias em foice (ISC); policromasia; corpúsculos Howell-Jolly; hemácias em alvo Plaquetas Aumentadas DIAGNÓSTICO - Confirmação Eletroforese de Hemoglobina Cromatografia Líquida de Alta Performance (HPLC) e Análise Genética. Triagem neonatal: Teste do pezinho (entre 2-30 dias de vida) Padrões de Hb nas Síndromes Falciformes Hb A1 Hb S Hb A2 Hb F Traço Falciforme (Predomínio de HbA) 55-70 30-45 3 1 Anemia Falciforme (Predomínio de HbS) 0 90 3 7 Hemoglobinopatia SC 0 50-65 2-3 1 Hemoglobinopatia SD 0 50 1-5 AF/𝛃 tal (𝛃⁺ ou 𝛃⁰) (Predomínio de HbS) 5-30 60-90 4-8 5-30 Fonte: Oxford Handbook of Clinical Haematology (2015) Padrões de Hb nas Síndromes Falciformes TRATAMENTO Prevenção de Crises e Complicações - Hidroxiureia (HU): aumenta produção de HbF. Dose inicial: 15 mg/kg/dia, VO, em dose única. Aumentar em 5 mg/kg/dia a cada 4 semanas até atingir a dose máxima de 35 mg/kg/dia. - Hemotransfusão Prevenção de Infecções - Fenoximetilpenicilina potássica (Penicilina V): crianças até 3 anos: 125 mg a cada 12 horas; crianças de 3 a 5 anos: 250 mg a cada 12 horas. - Vacina 13-valente TRATAMENTO Tratamento Adjuvante - Ácido Fólico, Analgésicos, Anti-inflamatórios e Quelantes de Ferro. Tratamento Não Medicamentoso - Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH) TRATAMENTOMANUSEIO DA CRISE DE DOR Atentar para presença de um ou mais fatores de risco. MANUSEIO DA CRISE DE DOR Dor leve: instruir a tomada de analgésicos, aumentar ingesta hídrica e reavaliação no dia seguinte. Queixa de dor abdominal aguda: internação para avaliação pela equipe de cirurgia. MANUSEIO DA CRISE DE DOR MANUSEIO DA CRISE DE DOR MANUSEIO DA CRISE DE DOR CASO CLÍNICO Paciente do sexo masculino, 05 anos de idade, nascido e domiciliado na cidade de Paço do Lumiar, foi admitido na UPA do Parque Vitória em 06 de maio de 2021, com o quadro de tosse e febre. A mãe relata que o filho sente fortes dores por todo o corpo há pelo menos uma semana, mas que nessa noite resolveu trazê-lo à Unidade devido à febre de 38°C. CASO CLÍNICO Ao ser questionada, afirma que não é a primeira vez que seu filho sente essas dores, já tendo ido à UPA anteriormente. Disse, ainda, que ele “gripa” com frequência, mas que dá um lambedor e sempre resolve o caso. Após avaliação clínica, solicitou-se Hemograma Completo, que apresentou o seguinte valor de Hemoglobina: 8,5 g/dL. CASO CLÍNICO Nervoso diante da impaciência da mãe e do choro da criança, o residente, desesperado, puxou uma prescrição solicitando transfusão sanguínea... Até que o jovem acadêmico, encucado, perguntou à mãe sobre o Teste do Pezinho e Anemia Falciforme. “Doutor, parece que ele tem mesmo essa tal dessa anemia aí, mas faz muito tempo já.” CASO CLÍNICO Após algumas outras perguntas, verificou-se que a criança foi submetida ao teste do pezinho, tendo sido, à época, diagnosticada com Anemia Falciforme. A mãe relatou ter outros dois filhos, ambos apresentando o traço falciforme. No mais, a criança é ativa, comunicativa e leva uma vida praticamente normal, mas que interna com relativa frequência devido aos quadros de pneumonia. CASO CLÍNICO Hemoglobina: 8,5 mg/dL; Hematócrito: 20,5%; VCM: 101 fl; Leucócitos: 14.000/mm³. Conduta: foi prescrito HU, 500mg/dia; Ác. Fólico 0,4mg/mL com 2,5m/L ao dia; analgésico, antitérmico e hidratação. CASO CLÍNICO Estaria o residente certo em solicitar a transfusão? O que levou o jovem acadêmico a pensar em Anemia Falciforme? QUESTÕES Lactente de 18 meses portador de anemia falciforme é levado a atendimento médico devido a quadro de palidez, irritabilidade e dor abdominal. Exame físico: t.ax: 38ºC, hipocorado 3+/4, baço palpável a 5 cm do RCE. Hemograma: Hb: 5g/dl, VCM: 83fl, leucócitos: 18.000/mm³. A principal hipótese diagnóstica é: (A) crise álgica (B) parvovirose (C) crise hiper hemolítica (D) sequestro esplênico (E) crise de leucemização QUESTÕES Lactente de 18 meses portador de anemia falciforme é levado a atendimento médico devido a quadro de palidez, irritabilidade e dor abdominal. Exame físico: t.ax: 38ºC, hipocorado 3+/4, baço palpável a 5 cm do RCE. Hemograma: Hb: 5g/dl, VCM: 83fl, leucócitos: 18.000/mm³. A principal hipótese diagnóstica é: (A) crise álgica (B) parvovirose (C) crise hiper hemolítica (D) sequestro esplênico (E) crise de leucemização QUESTÕES A eletroforese de hemoglobinas é uma ferramenta importante no diagnóstico diferencial de anemias, além de permitir análises familiares em parentes de portadores de hemoglobinas anormais. Três pacientes realizaram eletroforese, e o resultado está representado abaixo. QUESTÕES Qual é o diagnóstico, respectivamente, dos pacientes 1, 2 e 3? A) Talassemia menor; Talassemia maior; Traço falciforme. B) Talassemia maior; Talassemia menor; Anemia falciforme. C) Traço falciforme; Talassemia maior; Anemia falciforme. D) Traço falciforme; Talassemia menor; Anemia falciforme. E) Talassemia maior; Talassemia menor; Traço falciforme. QUESTÕES Qual é o diagnóstico, respectivamente, dos pacientes 1, 2 e 3? A) Talassemia menor; Talassemia maior; Traço falciforme. B) Talassemia maior; Talassemia menor; Anemia falciforme. C) Traço falciforme; Talassemia maior; Anemia falciforme. D) Traço falciforme; Talassemia menor; Anemia falciforme. E) Talassemia maior; Talassemia menor; Traço falciforme. CONCLUSÃO A Anemia Falciforme é uma doença genética, incurável e com alta morbimortalidade. Nem sempre níveis baixos de Hb são patognomônicos de transfusão. Melhorar a qualidade e a sobrevida desses pacientes é de fundamental importância. Ter sempre em mente: em um plantão na UPA, posso me deparar com um paciente em crise de falcização mais frequentemente do que imagino! REFERÊNCIAS Tratado de Hematologia - Zago PCDT - Anemia Falciforme 2018-2021 Manual de Diagnóstico e Tratamento de Doenças Falciformes Doença Falciforme - Condutas Básicas para Tratamento TeleCondutas - Anemia Falciforme Medcurso - 2019 Medcel - Extensivo 2020 OBRIGADO! Questões? marcelo.diniz@discente.ufma.br +55 98 98557 3267 CREDITS: This presentation template was created by Slidesgo, including icons by Flaticon, infographics & images by Freepik
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