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Introdução: A farmacocinética consiste no caminho que a substância química, o medicamento faz no organismo desde a administração até a eliminação. O medicamento pode ser absorvido, distribuído, biotransformado e excretado. Para que esses processos ocorram e para que um medicamento exerça seu efeito em um determinado local é necessário que esse medicamento após a dissolução da forma farmacêutica, consiga atravessar as barreiras celulares e alcance seu local de ação- biofase. Biodisponibilidade: Mede a quantidade de um medicamento, contido em determinada forma farmacêutica, que ao ser administrado a um organismo vivo atinge a circulação sanguínea de forma inalterada. De forma mais abrangente considera a biodisponibilidade como a quantidade de um medicamento que atinge não só a circulação sanguínea como também o local de ação- biofase. Com os dados da biodisponibilidade, determina- se: • Quantidade absorvida de medicamentos. • Velocidade de absorção • Permanecia de um medicamento nos líquidos do organismo • Correlação com as respostas farmacológicas e/ou tóxicas. Essas informações são importantes para: • Posologia: como ele deve ser utilizado, frequência, dose. • Forma farmacêutica • Índice terapêutico: denomina a segurança do medicamento, quanto maior o índice terapêutico, menor a faixa de erro. OBS: Os estudos de biodisponibilidade também têm grande importância para a adequação da dose utilizada em pacientes portadores de insuficiência hepática ou renal. Bioequivalência: Consiste na utilização dos conhecimentos de biodisponibilidade para que possa realizar comparações de diferentes formulações, contendo o mesmo princípio ativo, a mesma dose, a mesma via de aplicação e na mesma espécie animal. OBS: Comparação com medicamentos genéricos tem que ter mais de 80% de similaridade com o medicamento não genérico. Entre as várias espécies animais, existem diferenças na biodisponibilidade de um medicamento e elas são marcantes quando são comparadas espécies monogástricas e poligástricas. A área sob a curva representa a real quantidade de substância disponível no organismo para exercer sua ação – Biodisponibilidade. Para fazer a conta da curva, basta dividir em trapézios e calcular a área. h- altura; B- base maior, b- base menor Figura 1Farmacologia aplicada a medicina veterinária A= h (B+b)/2 A ASC equivale a soma das áreas dos trapézios. Quanto maior a área do ASC maior é a exposição do animal ao medicamento Meia vida: É o tempo necessário para a concentração plasmática de um fármaco reduzir a metade. A via de administração é sempre feita em dose única intravenosa, pois tem 100% de biodisponibilidade, não há perda. Então para garantir a quantidade da metade da dose tem que garantir que não houve perda Exemplo: a concentração de um medicamento aplicado por via intravenosa de uma única dose, de 200 ng/ml de sangue; após 4 horas, a concentração reduz para 100 ng/ml de sangue. Portanto, para esse medicamento o tempo de meia-vida é de 4 horas, isto é, o tempo necessário para que a concentração sanguínea caia pela metade. As informações fornecidas pela meia vida são: • Duração de ação após dose única: após uma única dose de medicamento, quanto maior a meia vida, maior o tempo durante o qual a concentração plasmática do medicamento permanecerá no intervalo de efetividade farmacológica ou mesmo alcançará a dose tóxica. • Tempo para alcançar o equilíbrio • Tempo necessário para a eliminação • Frequência de dose: para que haja a manutenção da concentração terapêutica sempre que chegar no valor da meia vida tem que repetir a dose inicial para conseguir manter a concentração no organismo durante o tratamento. Índice terapêutico: também conhecida como margem de segurança, é a relação entre a dose tóxica e a dose efetiva. Janela terapêutica: faixa entre a concentração mínima eficaz e a concentração máxima eficaz. Absorção: Define-se como absorção uma série de processos pelos quais uma substância externa penetre no organismo sem lesão traumática. Para que um determinado medicamento seja absorvido é necessário que ele atravesse as diversas membranas biológicas, como o epitélio gastrointestinal, o endotélio vascular e as membranas plasmáticas. Nestes fenômenos são de vital importância a constituição da membrana plasmática, o pH, o pK do medicamento e o transporte de membrana. Influência do pH na polaridade dos medicamentos: Os medicamentos, na sua maioria são compostos orgânicos com propriedades de ácidos fracos e bases fracas e, portanto, em solução aquosa se apresentam parcialmente ionizados. A proporção entre a parte ionizada e a não ionizada de um medicamento será determinada pelo pH do meio onde ele se encontra dissolvido e da constante de dissociação do medicamento. Cálculo da proporção entre a forma ionizada e não ionizada. Se a substância tiver não ionizada é mais fácil de passar pela membrana. Bases fracas: pH-pK= log (NI/I) Ácidos fracos: pH-pK= log (I/NI) I: ionizada NI: não ionizada Exemplo: Tendo um ácido fraco cujo pK= 4,4, dissolvido em pH 1,4 valor esse encontrado no estômago de animais monogástricos. Qual fórmula utilizar? Figura 2Farmacologia aplicada a medicina veterinária pH-pK= log (I/NI) 1,4-4,4= log (I/NI) -3,00= log (I/NI) 10^-3= (I/NI) 1/1000 (I/NI) Significa que para cada molécula ionizada existe 1000 não ionizada. Uma substância ácida em um meio ácido é mais fácil ser absorvido. -No plasma, pH= 7,4? pH-pK= log (I/NI) 7,4-4,4= log (I/NI) 3= log (I/NI) 10^3 = (I/NI) 1000/1= (I/NI) Significa que para cada molécula não ionizada existe 1000 ionizadas. Substância de caráter básico é absorvida melhor em meio de caráter básico. OBS: Animais herbívoros possuem a urina mais básica, enquanto animais carnívoros possuem a urina mais ácida. A parte não ionizada das moléculas de um medicamento tem característica menos polar e mais lipossolúvel que a parte ionizada. Como as membranas celulares são predominantemente lipídicas as moléculas não ionizadas são mais facilmente absorvidas. As cargas de elétrons existentes na molécula de um medicamento têm primordial importância na determinação da velocidade de sua absorção através das membranas celulares e das barreiras tissulares. É possível classificar quase todos os medicamentos em três categorias: • Apolar- não sofrem influência do pH do meio em que estão dissolvidos. Atravessam qualquer membrana biológica. • Ácidos orgânicos: o pH do meio é o fator que determina a velocidade de absorção • Aminos orgânicos: se permanecer na sua forma protonada (R–NH3+), isto é, como amina que apresenta carga, perde sua lipossolubilidade e não consegue atravessar as membranas biológicas e, assim, não é absorvida. OBS: De forma geral para monogástricos, bases fracas são mais bem absorvidas em pH alcalino, como o encontrado no intestino (pH de 7,5 a 8,0), do que em pH ácido encontrado no estômago (pH de 1,2 a 3,0). A dupla camada de lipídeos que constitui a membrana celular tem como principal característica a impermeabilidade para substâncias polares e íons. As moléculas apolares passam pela membrana pelo processo de difusão simples, por esse motivo os medicamentos lipossolúveis são mais facilmente absorvidos. Na maioria das vezes o processo de absorção do medicamento se dá de forma passiva. No entanto, em algumas substâncias, absorção se dá por processos ativos. Processos passivos: Não há gastos de energia, nesses casos a membrana funciona como uma estrutura porosa e inerte, que as moléculas de medicamentos transpõem por difusão. • Difusãosimples: as moléculas de medicamento se distribuem para o meio que tem menos concentração. Para que esse processo ocorra é importante que as moléculas sejam apolares e apresentem peso molecular compatível com com a camada lipídica da membrana a ser atravessada. • Difusão facilitada: é mediado por um carreador, a velocidade de difusão é consideravelmente maior que a difusão simples. Ex: Entrada de glicose na maioria das células do organismo. • Filtração: comum para a transferência de muitas substâncias de tamanho pequeno (hidrossolúvel, polar ou apolar). O medicamento atravessa a membrana através de canais, que dependendo da porção do corpo varia de tamanho, presente nas membranas. A permeabilidade de substâncias químicas através dos canais aquosos é importante na excreção renal, na remoção de 1. Membrana celular 1.1. Passagem de substâncias pela membrana substâncias químicas do líquido cerebroespinhal e na passagem de substâncias químicas através da membrana sinusoidal hepática. Processos ativos: a substância é movida através de carreadores contra o gradiente de concentração, necessitando do gasto de energia derivada da hidrólise de ATP ou de outras ligações ricas em energia. Este processo exige alto grau de especificidade estrutural e estereoquímica. Sendo assim, durante o transporte, se duas substâncias físico- quimicamente correlatas que precisam do mesmo transporte ao mesmo tempo, uma pode impedir o transporte da outra. • Mucosa Gastrointestinal: revestido por células epiteliais muito unidas uma as outras, com bloqueio completo dos espaços intercelulares, forçando as membranas se fundirem somente através de membranas celulares. Por esse motivo é importante que às substâncias sejam solúveis na membrana para passar pela barreira gastrointestinal. • Barreira epiteliais da pele, córnea e bexiga: as células apresenta muito unidas impedindo a passagem de substâncias entre os espaços intercelulares. A única forma de penetração é a difusão, exclusivamente para substâncias químicas apolares. • Barreira Hematoencefálica: formada basicamente por paredes contínuas dos capilares, com poucas vesículas de pinocitose, associadas a células endoteliais, unidas por extensas junções intimas e pequenas expansões pelas células da glia. Impedem que substâncias com alto peso molecular ou polares penetrem no SNC. • Capilares com mácula: são encontradas em músculos, vísceras, ossos, entre outros. Apresentam zonas frouxas na junção entre as células que permitem que substâncias químicas não ligadas a proteínas plasmáticas possam sair do seu interior e alcançar o espaço extracelular. • Capilares fenestrados: característico de órgãos excretor e secretor. As fenetrações abertas entre as células tornam possível o pronto acesso das substâncias químicas livres, ou seja, aquelas não ligadas a proteínas plasmáticas para os espaços intercelulares. • Capilares com bloqueios completos: possuem o espaço intercelular ocluídos, a travessia pelo interior das células epiteliais destes capilares é a única passagem de uma substância química para o espaço extracelular. Distribuição: Após sua absorção o medicamento pode ficar sob a forma livre no sangue, ligar a proteínas plasmáticas, ou ser sequestrado para depósitos no organismo. Somente medicamentos na forma livre são distribuídos para os tecidos. A distribuição é o fenômeno em que um medicamento após ter chegado ao sangue (absorção) sai desse compartimento e vai para o seu local de ação. Os medicamentos abandonam a via circulatória para o espaço intercelular por processo de difusão através das membranas celulares dos capilares ou ainda por poros ou fenestrações existentes nas paredes dos capilares. As diferenças nas concentrações de alguns medicamentos encontradas nos tecidos distintos, após tempo suficiente para a difusão da mesma pelos diferentes compartimentos, podem ser explicadas por afinidades diversas dos medicamentos pelos vários tecidos ou ainda pela existência de transporte especializado. É importante levar em conta a água corporal que representa cerca de 50 a 70% do peso do organismo distribuída em quatro compartimentos: Líquido extracelular constituído de plasma sanguíneo, líquido intersticial e linfa, líquido intracelular e líquido transcelular. No interior desses compartimentos aquosos, as moléculas de medicamento existem em solução 2. Barreiras tissulares livre e na forma ligada, na forma molecular ou iônica, de acordo com o pH do compartimento. O equilíbrio da distribuição entre os vários compartimentos depende: da capacidade de um medicamento atravessar as barreiras teciduais de cada compartimento; da ligação do medicamento no interior desses compartimentos; da ionização e da lipo-ou hidrossolubilidade das moléculas dos medicamentos. Uma quantidade significativa de medicamento absorvido por um organismo tende a ligar-se de forma reversível às proteínas plasmáticas. Quando a fração livre abandona a circulação, uma nova porção do medicamento ligado se libera das proteínas, refazendo o equilíbrio. Pode-se considerar a ligação com proteínas plasmáticas como um reservatório circulante do medicamento potencialmente ativo. No entanto, com a mudança nos níveis destas proteínas plasmáticas, como nas hipoproteinemias, ocorre aumento da toxicidade de medicamentos que apresentam alta afinidade a essas proteínas. A administração concomitante de dois medicamentos com alta porcentagem de ligação plasmática pode ocasionar um aumento da atividade ou da toxicidade de um deles. Isto ocorre porque estes dois medicamentos competem com os mesmo sítios de ligação dessas proteínas, havendo, portanto, o deslocamento de um deles para a forma livre, responsável pelos efeitos farmacológicos ou tóxicos. A albumina plasmática é a mais importante proteína plasmática envolvida na ligação com medicamentos. Parece haver preferência de medicamentos ácidos pela albumina e de medicamentos básicos pela betaglobulina e as glicoproteínas ácidas. Biotransformação: Consiste na trasnformação química de substâncias, sejam elas medicamentos ou agentes tóxicos, dentro do organismo, visando favorecer a eliminação. A biotransformação permite a formação de metabólitos que são habitualmente mais polares e menos lipossolúveis do que a mólecula orignal, favorencendo a eliminação. Este processo também resulta na inativação farmacológica do medicamento. O fígado é o principal local em que ocorre a biotransformação, responsável por ações enzimáticas exercerem a ação de biotransformação ou metabolização. Toda substância química absorvida pelo sistema gastrointestinal vai obrigatoriamente até o fígado através da veia porta, no qual é biotransformada- mecanismo conhecido como efeito de primeira passagem- posteriormente alcança o restante do corpo. O fígado não é o único local em que se dá a biotransformação de medicamentos e agentes tóxicos. Nos processos de biotransformação há duas etapas: As reações de fase 1 normalmente acontecem no sistema microssomal hepático no interior do REL. Convertem o medicamento original em metabólitos mais polares por oxidação, redução ou hidrólise. Os metabólitos podem tornar-se ativos e vão para o sangue ou torna-se inativos onde ocorre o objetivo do processo de transformação. Adiciona radicais OH, COOH, NH2, o que faz perder a atividade farmacológica. Este processo envolve o acoplamento entre o medicamento ou seu metabólito a um substrato endógeno, como ácido glicurônico, radicais sulfatos, acetatos ou ainda aminoácidos. 1. Ligação de medicamentos às proteínas plasmáticas Reações de fase 1 Reações de fase 2 Os produtos das oxidações da fase 1, podemna fase 2, sofrer reações mais profundas, onde há o acréscimo de substância endógenas o que torna mais fácil de ser eliminada. Algumas destas reações são catalisadas por enzimas citoplasmáticas. Nesta fase ocorre os processos de conjugação de aminoácidos, glucuronidação, metilação e sulfatação. Excreção: Um medicamento pode ser excretado após a biotrasnformação ou na forma inalterada. Os principais órgãos responsáveis pela excreção de medicamentos são: rins (medicamentos hidrossolúveis são excretados); fígado (após a biotransformação os medicamentos são excretados pela bile; pulmões (excreção de medicamentos voláteis). Em animais de produção ganha importância a excreção pelo leite e ovo. Constitui o principal processo de eliminação de medicamentos, principalmente os polares ou pouco lipossolúveis em pH fisiológico. Há fatores que podem interferir na excreção renal, como, alta ligação com proteínas plasmáticas (acima de 80%), que impossibilita ao medicamento ligado atravessar os poros das membranas do glomérulo. Alguns medicamentos com capacidade de penetrar no líquido tubular, via filtração glomerular e excreção tubular proximal, podem apresentar também uma baixa taxa de excreção, pois sofrem uma reabsorção na porção distal do néfron. Medicamentos com características de ácidos orgânicos fracos com pK por volta de 3, como é o caso dos saliciatos, quando dissolvidos em pH ácido, como os encontrados na urina de cães e gatos, encontram-se em maior proporção na forma molecular, portanto são facilmente reabsorvidos por difusão passiva pelas membranas celulares, de volta para o interior do organismo. Este fato fornece a base para tratamentos da intoxicações de animais que sofreram ingestão excessiva de determinados medicamentos, pois é pela alcalinização da urina que ocorre o aumento da excreção de ácidos orgânicos fracos e é por meio da acidificação da urina que favorece a excreção de medicamentos com caráter básico. A eliminação de um medicamento pode ser expressa pela depuração renal ou clearance renal, que é definida como o volume de plasma que contém a quantidade de substância que é removida pelo rim por unidade de tempo. A depuração renal varia acentuadamente para diferentes medicamentos e é fundamental para determinação da dosagem (dose por unidade de tempo). A depuração total descreve a eficiência com que ocorre a eliminação de um medicamento em um organismo. Esta eliminação se refere à excreção do medicamento não modificado, isto é, na sua forma original, pelas diversas vias de excreção. A depuração renal de um medicamento é o resultado de três processos: (a) filtração glomerular; (b) secreção ativa nos túbulos proximais; e (c) reabsorção passiva da urina para o sangue ao longo de todo o túbulo renal. Alguns medicamentos e seus respectivos metabólitos são eliminados por via hepática por intermédio da bile. Vários fatores determinam a excreção biliar, como o peso molecular e a polaridade da molécula do medicamento a ser eliminado, sendo o principal tamanho da molécula. Algumas substâncias eliminadas na bile, ao alcançarem o intestino, podem ser reabsorvidas. Este fato dependerá da lipossolubilidade, ou ainda da conjugação destes medicamentos com glicuronídeos; neste último caso, estes compostos podem sofrer hidrólise causada pela βglicuronidase, sintetizada pela microbiota intestinal, e tornar a ser reabsorvidos pelo organismo. Esta excreção hepática, seguida de reabsorção intestinal, é denominada ciclo êntero- hepático de um medicamento. Este processo, quando ocorre de forma significativa, é responsável muitas vezes pelo retardo na Excreção Renal Cl total= Cl renal + Cl extrarrenal Excreção Biliar excreção total de determinados medicamentos, que muitas vezes serão encontrados na urina vários dias após a administração da última dose. Sofre influência do pH que tem que está levemente superior no sangue que no leite, o que favorece a excreção de drogas. Excreção de medicamentos no leite é prejudicial ao filhote, pois tem déficit na biotransformação. O efeito da droga no leite pode gerar prejuízos no consumo humano como intoxicação, hipersensibilidade, resistência a antimicrobianos. Fatores que modificam os efeitos das drogas • Ph do local • Forma farmacêutica líquida, suspensão e sólida • Área da superfície de absorção e circulação • Diferenças na biotransformação • Ligamentos com proteínas plasmáticas • Interação com alimento Excreção pelo leite
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