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13 
 
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA 
 
 
 
 A depressão é uma das doenças mais comentadas na atualidade, tanto pela sua 
forma de se manifestar no ser humano, quanto pelo número de pessoas diagnosticadas 
nos últimos anos. Nesse sentido, compreende-se que a pessoa acometida com a 
depressão vive isolada no seu mundo particular, pois não sente interesse em conviver e 
estar no mundo com as pessoas, seja familiares ou amigos. Para Lutz (1985), o 
paciente depressivo, traz consigo o fracasso como uma das principais características, 
apresentando o comportamento “desviante” para se engajar na “busca da felicidade” ou 
do amor por si mesmo que é princípio básico de todo o ser humano. Cada individuo 
experiencia a doença de forma distinta, porque deve-se levar em consideração a 
subjetividade de cada pessoa diagnosticada com a depressão para que o tratamento 
seja satisfatório. 
 Segundo os dados disponibilizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 
2006), mais de 350 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo, ocasionando 
perda da autonomia acometida pelo adoecimento psíquico podendo trazer 
consequências, tais como o afastamento do convívio com as demais pessoas, a 
dependência financeira, sendo que na maioria dos casos, o indivíduo precisa se 
ausentar do trabalho para tratamento ou não. 
Complementando, Almeida (2009) refere que a depressão está associada a uma 
incapacitação social importante, assim como a uma grande utilização dos serviços de 
saúde não especializados, o que retarda o diagnóstico, curso, prognóstico, tratamento, 
cura e/ou reabilitação do paciente. Nesse viés, a depressão deve merecer uma atenção 
maior da saúde pública atual, pois nem todos os profissionais de saúde estão 
preparados para lidarem com pacientes depressivos, ocasionando o abandono do 
tratamento mesmo no início por não sentirem-se acolhidos em sua totalidade. 
 De acordo com o Ministério da Saúde (2005), a depressão configura-se como um 
distúrbio afetivo muito evidente nas sociedades contemporâneas, mas que já vem 
sendo objeto de estudo há muito tempo, sendo que atualmente este órgão a catalogou 
como questão de saúde pública. 
14 
 
 Dessa forma, é possível entender que a depressão sempre esteve presente na 
vivência humana, porém, nunca houve tamanha divulgação na mídia como ocorre 
atualmente em todo o mundo, sendo criado, inclusive, o dia Mundial da Saúde Mental, 
que ocorre a cada dia 10 de outubro, ganhando espaço de destaque no Brasil, e 
principalmente no Estado do Paraná, o tema: “Depressão: Uma Crise Global”. 
 De modo geral foi encontrada uma quantidade abundante de estudos sobre a 
depressão no Brasil e no mundo, porém, ainda encontra-se pouca literatura focada na 
abordagem fenomenológica no tema proposto. Percebe-se um aumento considerável 
da adesão ao tratamento farmacológico, por seu imediato resultado, pela praticidade 
em resolver o problema da doença, através do consumo de remédios ao longo do dia e 
do desejo/vontade de poupar o tempo do paciente. 
 Diante deste problema atual de grande proporção na saúde pública, considera-
se importante realizar o estudo através de uma breve revisão teórico-bibliográfica que 
visa conhecer e compreender o fenômeno da depressão na contemporaneidade na 
perspectiva da psicopatologia compreensiva. Pautado nessas discussões, surgem 
questões norteadoras do estudo: Como ocorre o processo histórico saúde e doença? 
Como a literatura aborda a depressão, suas estratégias diagnósticas, tipos tratamento e 
as diferentes fases da depressão no desenvolvimento humano? Como ocorre a 
experiência de pessoas com depressão na contemporaneidade? 
 Os assuntos mais discutidos na literatura pelos pesquisadores citados no 
presente trabalho em relação às pessoas acometidas pela depressão têm sido a 
respeito das alterações de caráter afetivo, problemas de relacionamento e perdas 
(SCHUMAKER, 2001; MOREIRA, 2009; VELASCO, 2009). Esses estudos estão 
relacionados com o processo saúde e doença; diagnóstico da depressão e suas 
características, descrições e significados das percepções, dos valores e das vivências 
das pessoas depressivas (AUGRAS, 2009; MOREIRA, 2009; ROMERO, 2001; 
VELASCO, 2009). 
A literatura nos apresenta um aumento significativo de pessoas diagnosticadas 
com depressão, e um número maior de pessoas que estão convivendo com a doença e 
não buscam atendimento adequado, por compreenderem que não necessitam de ajuda, 
tornando ainda mais longo e penoso o tempo de espera para um diagnóstico preciso e, 
15 
 
logo, o seu prognóstico em que há possibilidade de paciente e médico/psicólogo juntos 
buscarem uma solução para o problema detectado. Isso acarreta consequências 
graves, como por exemplo, o suicídio. 
A relevância deste estudo consiste na importância que o fenômeno da depressão 
vem alcançando na contemporaneidade, sendo alvo de crescente inquietação por parte 
dos estudiosos sobre o assunto, devido a sua incidência e ao aumento dos índices 
epidemiológicos e foi chamada por vários autores como o grande “mal do século” 
(VELASCO, 2009; MOREIRA, 2009, ALMEIDA; 2009). Assim, o referido trabalho 
pretende contribuir no campo da Psicologia, buscando abordar de forma expressiva um 
assunto que, até o presente momento, tem recebido pouca ênfase na abordagem 
fenomenológica, e que é de muito interesse para profissionais da área da saúde e 
pesquisadores interessados pela temática nessa linha de pesquisa. 
Estruturalmente, no segundo capítulo do estudo é utilizada a pesquisa teórico-
bibliográfica por atender diretamente aos objetivos desta investigação. Já no terceiro 
capítulo é apresentado os resultados em seis sub-capítulos. No primeiro sub-capítulo 
menciona-se um histórico englobando o processo saúde/doença, a psicopatologia e a 
depressão; o segundo sub-capítulo traz as principais discussões sobre o diagnóstico da 
depressão; o terceiro sub-capítulo menciona o tratamento da depressão englobando o 
tratamento psicofarmacológico e psicoterápico; no quarto sub-capítulo são 
apresentadas as características nas diferentes fases do desenvolvimento humano 
(infância, adolescência, idade adulta e terceira idade); o quinto sub-capítulo traz as 
vivências de pacientes em tratamento da depressão através do recorte de seus 
depoimentos para melhor transmitir suas observações sobre a doença e, no último sub-
capítulo aborda a visão da depressão na contemporaneidade evidenciando as 
consequências da doença para o convívio social. 
 
 
 
 
 
 
16 
 
2. OBJETIVOS 
 
 
2.1 Objetivo Geral 
 
 
Compreender e discutir através da revisão teórico-bibliográfica, o significado do 
fenômeno da depressão sob a ótica da psiquiatria compreensiva na atualidade. 
 
 
2.2 Objetivos específicos 
 
 
- Conhecer o processo histórico de saúde e doença nas literaturas afins; 
- Conhecer o modo de ser no mundo das pessoas acometidas pela depressão nas 
diferentes fases do desenvolvimento humano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
3. METODOLOGIA 
 
 
 
O presente estudo tem como objetivo analisar e comparar a depressão na 
abordagem fenomenológica como princípio. Para tanto buscamos realizar uma 
pesquisa teórico-bibliográfica com abordagem qualitativa para responder as questões 
norteadoras da pesquisa: Como ocorre o processo histórico saúde e doença? Como a 
literatura aborda a depressão, suas estratégias diagnósticas, tipos tratamento e as 
diferentes fases da depressão no desenvolvimento humano? Como ocorre a 
experiência de pessoas com depressão na contemporaneidade? 
Preconizando nesta jornada, compreender e discutir através da pesquisa teórico-
bibliográfico o significado do fenômeno da depressão sob a ótica da psiquiatria na 
contemporaneidade apoiando-se na historicidade do processo saúde/doença difundida 
nas literaturas afins. 
A pesquisa envolveu uma investigação voltada para a discussão da temática em 
voga com a utilizaçãode ferramentas, a saber: fichamentos de documentos, artigos, 
monografias, livros, jornais e outras fontes de publicação acadêmica delimitando a 
combinação de duas grandes áreas para o tratamento da depressão: a 
psicofarmacologia combinada com a psicoterapia. 
 
 
3.1 ABORDAGEM DA PESQUISA – TEÓRICO-BIBLIOGRÁFICA 
 
Para conhecer e estudar a bibliografia referente a depressão enquanto problema 
de saúde pública, cujo tratamento tem sido predominantemente farmacológico, realizou-
se um levantamento bibliográfico, contemplando dois tipos de fonte de investigação da 
temática em questão: as publicações (livros e artigos científicos) e produções científicas 
publicadas sobre o tema (monografias, dissertações e teses). 
Para o cumprimento desta etapa selecionou-se também a historicidade dos 
conceitos saúde/doença canalizando para a depressão, cuja abordagem se deu de 
18 
 
forma global, buscando estatísticas que comprovassem a incidência da depressão na 
sociedade contemporânea. 
Nesse contexto, com base nas interrogativas lançadas no início da pesquisa, 
averigua-se a possibilidade do tratamento da Depressão numa ação conjunta da 
Farmacologia e da Psicoterapia com vistas para a recuperação do paciente. 
Quanto aos instrumentos foram utilizadas fichas com os seguintes dados para 
catalogar as publicações como: nome do autor, tipo de produção, universidade em que 
a obra foi encontrada, ano de publicação, editora ou revista que publicou a obra e título 
da obra. Para as produções científicas: nome do autor, título da produção, universidade 
em que a obra foi encontrada, ano de produção e palavra principal e para as obras 
literárias: autor, título da produção, edição, local, editora e ano e a página quando 
necessitar. 
O tratamento dado para a análise qualitativa foi a realização dos estudos de 
textos teóricos sobre o assunto, a fim de se apreender os benefícios e os contrastes em 
relação tanto ao tratamento farmacológico como psicoterapêutico. 
Corroborando com os critérios de Andrade (1997, p. 36) onde afirma que a 
pesquisa teórico-bibliográfica é um tipo de abordagem de pesquisa a qual é orientada 
no sentido de reconstruir teorias, quadros de referência, condições explicativas da 
realidade, polêmicas e discussões pertinentes. 
Ainda a mesma autora afirma que a pesquisa teórica não implica imediata 
intervenção na realidade, mas nem por isso deixa de ser importante, pois seu papel é 
decisivo na criação de condições para a intervenção, possibilitando apreender o 
conhecimento teórico adequado e consequentemente acarretando um rigor conceitual, 
análise acurada, desempenho lógico, argumentação diversificada, capacidade 
explicativa do objeto em estudo. 
 Foi realizada, também, uma análise quantitativa para organizar os materiais 
encontrados para a referida pesquisa. Para LAKATOS (2010, p.283) “a análise 
quantitativa se efetua com toda informação numérica resultante da investigação, que se 
apresentará como um conjunto de quadros, tabelas e medias”. 
Para análise de dados, foi utilizada a pesquisa qualitativa na abordagem 
fenomenológica, por ser mais adequada aos objetivos do estudo, já que privilegia 
19 
 
qualidades, processos e significados. Holanda (2006) esclarece que os métodos 
qualitativos são descritos como modelos diferenciados de abordagem empírica, 
especificamente voltados para os chamados “fenômenos humanos”, ou seja, como 
métodos que fogem da tradicional conexão com aspectos empíricos tais como medição 
e controle. 
A abordagem fenomenológica é uma escola filosófica criada por Edmund Husserl 
que surgiu na Alemanha entre o final do século XIX, e meados do século XX. A 
fenomenologia pode ser conceituada como reflexão sobre um fenômeno ou sobre 
aquilo que se mostra. 
Vale ressaltar que a palavra Fenomenologia é formada por duas partes 
originadas do grego: “fenômeno”, que significa aquilo que se mostra, e “logia”, derivada 
da palavra logos, pensamento, capacidade de existir (ALES BELLO, 2006). 
Husserl explica que para compreendermos os fenômenos, deve-se fazer um 
caminho, mais tarde denominado de método fenomenológico. Esse caminho é 
composto por duas etapas: redução eidética (a busca do sentido dos fenômenos) e 
redução transcendental (como é o sujeito que busca o sentido). Compreender o ser 
humano em sua totalidade é de suma importância na Fenomenologia, pois, favorece a 
reflexão dos fenômenos que estão evidenciados no momento da análise, fazendo com 
que seja primordial não apenas buscar respostas, mas sim, entender o que se passa 
com o outro, na sua essência, sem querer explicar algo, apenas ser empático. 
 
 
3.2 PROCEDIMENTO PARA A ANÁLISE DOS DADOS 
 
O método utilizado para a coleta de dados foi o levantamento bibliográfico, 
pesquisa em sites científicos especializados (artigos, livros e publicações indexadas 
pelo acesso ao banco de dados de bibliotecas digitais, Biblioteca Digital de Teses e 
Dissertações de todas as Universidades do Brasil (BDTD Nacional), SCIELO (Scientific 
Electronic Library Online), CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de 
Nível Superior), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da 
20 
 
Saúde), BVS – Psi Brasil (Biblioteca Virtual em Saúde - Psicologia Brasil), Google 
Acadêmico), usando as seguintes palavras-chave: psicopatologia compreensiva, 
fenomenologia, transtornos mentais e depressão. 
A seleção dos materiais foi relacionada com o objetivo do estudo 
predominantemente na Língua Portuguesa e apenas dois acervos na Língua Inglesa, 
como ilustrado na tabela abaixo e os critérios de inclusão dessa materiais selecionados 
tiveram as seguintes condições: 
 
Tabela 1: Critérios utilizados para a construção da amostra 
TRABALHOS CIENTÍFICOS SELEÇÃO ELIMINAÇÃO 
Área da pesquisa 
Psicologia, Enfermagem, 
medicina, Serviço Social 
 
Direito, outras 
áreas 
Objetivos propostos 
 
Pessoas com depressão Outras doenças 
Perfil dos depressivos 
 
Crianças, adolescentes, 
adultos e idosos em 
tratamento 
--- 
Disponibilidade na internet Trabalho completo Resumo bloqueado 
Livros 
 
Temas de depressão e 
psicopatologia 
Temas de outras 
temáticas 
Idioma Português, Inglês 
Espanhol, outros 
idiomas 
Fonte: Dados da própria pesquisadora 
 
3.2.1 Descrição dos Procedimentos 
 
Foi realizada uma análise qualitativa fenomenológica, seguindo os passos 
propostos por GIORGI (1978), MARTINS & BICUDO (1989), FORGHIERI (1993), 
VALLE (1997): 
21 
 
 Leitura atenta de todos os textos selecionados para aquisição de uma 
configuração geral sobre a temática; 
 Releitura do material selecionado para alcançar o objetivo do trabalho e 
embasada em uma análise compreensiva dos dados; 
 As leituras foram feitas quantas vezes foram necessárias a fim de encontrar as 
convergências e divergências entre as temáticas dos estudos; 
 Síntese através de fichamentos entre as variadas temáticas, possibilitando, 
assim, uma abrangência dos diversos estudos encontrados. 
 
 
4. RESULTADOS 
 
 Foi realizada uma análise quantitativa reunindo aspectos considerados 
essenciais tais como, tipo de trabalho, idioma, período de publicação e natureza da 
pesquisa. Diante disso, na tabela abaixo é possível observar o total de trabalhos 
relacionados ao tema proposto. Foram encontrados 58 materiais divididos entre 
dissertações, teses, capítulos de livros, artigos indexados, em seguida foram feitas as 
leituras dos resumos destas produções científicas e extraído o contexto mais relevante 
para o objetivo proposto. 
 
Tabela 2: total de trabalhos selecionados para o estudo. 
 
TIPO DE TRABALHO QUANTIDADE 
Artigos 34 
Dissertações 5 
Teses 3 
Livros 16 
Total 58 
Fonte: Dados da própria pesquisadora 
22 
 
 Na análise qualitativa dos dados obtidos, foi possível obter as seguintes 
unidades de significado: 
 Breve história do pensamento da psicopatologia; 
 O diagnóstico do transtornoda depressão; 
 Tratamento da depressão; 
 A depressão nas diferentes etapas do desenvolvimento humano; 
 Vivências e percepções dos pacientes com depressão; 
 A depressão na contemporaneidade. 
 Através das referidas unidades, descritas logo abaixo para expor os resultados 
encontrados. 
 
4.1 História do pensamento da psicopatologia 
 
 
 Ao longo do tempo, o homem foi sendo estudado sob uma concepção 
naturalista, isto é, concebendo-o como um ser mensurável, explicado e estudado como 
um objeto, que pode ser classificado e encontrado em uma vasta quantidade de 
Manuais de Psiquiatria. Dessa forma, a sua subjetividade é desconsiderada, 
evidenciando apenas a sua patologia, e não o ser que está sofrendo com a doença. 
Jaspers (1979), psiquiatra e filósofo alemão contemporâneo, em sua obra 
Psicopatologia Geral, afirma que a experiência que o paciente tem sobre a doença é de 
suma importância. O autor ainda afirma que os psiquiatras deveriam interpretar as 
descrições dos pacientes em analogia com seus próprios meios de experienciar 
utilizando os procedimentos a seguir: imersão no comportamento e nos movimentos 
expressivos do paciente; exploração ou questionamento levado a cabo pelo psiquiatra, 
resultando em informação fornecida pelos pacientes acerca de si próprios e; relatos 
espontâneos dos pacientes por escrito. Assim, o mesmo descreve: 
 
“O objeto da psicopatologia é o fenômeno psíquico realmente consciente. 
Queremos saber o que os homens vivenciam e como o fazem. Pretendemos 
conhecer a envergadura das realidades psíquicas. E não queremos investigar 
apenas as vivências humanas em si, mas também as condições e as causas de 
23 
 
que dependem os nexos em que se estruturam, as relações em que se 
encontram, e os modos em que, de alguma maneira, se exteriorizam 
objetivamente” (p. 13). 
 
Desse modo, o autor mostrou grande interesse pela subjetividade humana, 
principalmente pela compreensão da pessoa acometida com o adoecimento psíquico, 
com a sua forma de agir e pensar no mundo individualmente e não apenas com a 
exposição destes sintomas aparentes que poderiam ser mensuráveis sob a ótica da 
psicopatologia. 
Conforme postula Pereira (2012) a psicopatologia fenomenológica é a 
compreensão do fenômeno da psicose que, para o psiquiatra alemão Binswanger 
(1881-1966), considerado o “pai da psicopatologia fenomenológica”, destacou-se como 
um dos precursores da Psiquiatria na nova configuração de contemplar a psicopatologia 
através de uma ótica inspirada na fenomenologia. 
Ainda de acordo com a autora, contribui com um novo olhar para o psicólogo 
conhecer e compreender as psicopatologias ao sobressair a necessidade de levar em 
consideração a história vivida de cada paciente, a sua singularidade, além de estar 
interessado na experiência do homem que relaciona-se com um mundo e com as outras 
pessoas, não priorizando as descrições sintomáticas. 
Assim, fica evidente o interesse da fenomenologia com a compreensão do ser 
humano que convive com algum tipo de psicopatologia. Dessa forma, a depressão 
vivenciada por um paciente pode ser descrita de acordo com a sua visão de mundo, de 
acordo com a sua própria experiência vivida. 
Para Pokladek & Santos (2002), o processo saúde-doença, na concepção 
naturalista, não vê o homem como uma pessoa e sim como um organismo que compõe 
um corpo físico destituído dos significados existenciais. Ainda de acordo com os 
autores, a ciência natural concebe alguns princípios para reconhecer o que caracteriza 
o fenômeno chamado “doença”, que pode ser considerada como um fato que se 
manifesta no organismo localizado no corpo; evidenciada como um fenômeno 
circunstancial no percurso de vida da pessoa apropriando-a das relações que ela 
estabelece no e com o mundo; veiculada por um agente patogênico interno (do ponto 
de vista genético) e/ou externo. 
24 
 
Na perspectiva dos autores acima, percebe-se que a doença é algo que interfere 
diretamente na vida de uma pessoa, logo, limitar o ser humano apenas à enfermidade 
não é algo que é levado em consideração na abordagem fenomenológica. 
Na fenomenologia, Pokladek & Klath (2008) afirmam que a doença é 
compreendida como uma manifestação do horizonte vivido e experienciado pelo 
homem na pluralidade das relações por ele estabelecidas. Os autores ainda comunicam 
que o corpo não é analisado apenas como um organismo, mas também como um 
doador de significados, pois, neste corpo, também se ilustra a história que o indivíduo 
edifica e propaga no decorrer de sua vida. Dessa forma, a psicopatologia tradicional 
não leva em consideração a subjetividade do indivíduo portador de alguma doença. 
A psicóloga francesa Monique Augras (2009) que atuou no Brasil na Pontifícia 
Universidade Católica do Rio de Janeiro, comenta em seu livro intitulado “O ser da 
compreensão: fenomenologia da situação de psicodiagnóstico” sobre o processo de 
diagnóstico utilizando a abordagem fenomenológica. 
 Afirma ainda que a “saúde não é um estado, mas um processo, no qual o 
organismo vai se atualizando conjuntamente com o mundo, transformando-o e 
atribuindo-lhe significado à medida que ele próprio se transforma” (p.11). Nisso, a 
saúde vai se modificando de acordo com o modo de vida que a pessoa tem e como é a 
maneira de experienciar suas atividades no mundo. Cada pessoa é única em suas 
experiências e, por isso, sua relação com o mundo está totalmente ligada ao seu 
processo de saúde-doença. 
Moreira (2009 apud ROVALETTI, 1997) apresenta que a Psiquiatria atual deu-
nos até o atual período, o histórico da doença, não, porém, a do homem. Dessa forma, 
sabe-se como descrever uma patologia, mas não procura entrar em contato com a 
experiência vivida pelo doente. Assim, o homem foi sendo estudado fora do seu 
contexto vivido e o tema da normalidade e da patologia em Psicologia vem sendo 
comumente tratado a partir do padrão médico preexistente e utilizado até os dias atuais, 
apresentado pela psiquiatria. 
 
Ainda em nossos dias se realiza uma categorização e despersonalização do 
paciente, que é tratado como um objeto, como se a sua existência estivesse 
restringida à referência negativa – a anormalidade – quando em realidade a 
existência patológica também é uma expressão positiva (MOREIRA, 2009 apud 
ROVALETTI,1997p.94) 
25 
 
 
 Diante de acontecimentos que marcaram o contexto saúde-doença ao longo do 
tempo, a análise fenomenológica buscou conhecer a experiência do homem em relação 
ao seu mundo, procurando fazer com que este conjecture sobre o significado dos seus 
comportamentos e vivências, sempre levando em consideração que cada pessoa traz 
consigo uma história de vida diferente dos demais, tornando-se única em suas 
experiências, sejam elas em virtude da saúde ou da doença e esta característica é que 
precisa de compreensão e aceitação por parte dos profissionais de saúde que lidam 
diretamente com esses pacientes que dão o primeiro passo em busca de ajuda. Para 
Gomes (2011): 
Depressão (do latim depressione) é uma palavra frequentemente utilizada para 
descrever uma gama imensa de sentimentos negativos e sombrios. Em primeiro 
lugar, depressão não é um estado de tristeza profunda, nem desânimo, preguiça, 
estresse ou mau humor. A depressão é diferente da tristeza, pois a tristeza 
geralmente tem uma causa conhecida e duração determinada no tempo e no 
espaço. Já a depressão envolve uma gama de sentimentos difusos de longa 
duração no tempo e no espaço, geralmente relacionados à angústia. A 
depressão, enquanto evento psiquiátrico é algo bastante diferente da tristeza. 
Mesmo assim, em alguns casos, podemos considerar a depressão como uma 
reação natural da pessoa humana em períodos de transição, especialmente em 
tempos de mudanças e crescimento, em épocas que antecedem novos 
horizontes de amadurecimento do ser em constante processo de 
desenvolvimento (p. 127) 
 
 Para este autor há uma grande diferença entre tristezae depressão, por esse 
motivo é que muitos depressivos não procuram tratamento por pensarem que é apenas 
uma fase ruim pela qual o mesmo esteja passando e logo tudo voltará à normalidade, 
fato que não ocorrerá, pois a tendência é apenas a piora do seu estado. 
 Dalgalarrondo (2011) discorre acerca da depressão numa perspectiva 
evolucionista e afirma que, do ponto de vista psicológico, os transtornos depressivos 
têm uma relação fundamental com as experiências de perda durante a vida. Deve 
pensar que o ser humano necessita estar a todo o momento, lidando com suas 
emoções para que sua adaptação ao mundo não seja prejudicada, acarretando em 
doenças, como a depressão. 
Ainda que a depressão leve possa ser uma resposta adaptativa normal a 
perdas e separação breve, as depressões graves, consequências de repetidas 
separações, perdas e traumas imensos, que causam muito sofrimento e 
disfunção, parece bem mais fenômenos patológicos do que adaptativos (p. 403) 
 
26 
 
 Fica bem evidente, para este autor, que a depressão pode ser uma doença que 
acomete o ser humano, de forma que não cause tantos malefícios, pois é uma resposta 
à adaptação, mas nem todas as pessoas conseguem lidar as mudanças que ocorrem 
durante toda nossa vida e adoecem de uma forma que se tornam incapazes de 
conviverem com os demais a sua volta, deprimindo-se. 
 Romero (2001), em seu livro “O inquilino do imaginário”, define a depressão 
como um modo de ser no mundo, isto é, é um estado de ânimo predominantemente 
que afeta todo universo do indivíduo, ou seja, todas as suas formas de relação com o 
mundo.Diante de todas as óticas, descritas pelo autor, que se estendem da corporal até 
a da extensão espaço-temporal, estão claramente caracterizadas na linha do 
acolhimento, do abatimento e do desvalor existencial.Ainda de acordo com autor, o 
indivíduo depressivo pode encontrar no suicídio a única solução para seu 
descontentamento existencial, aí se encontra a maior dificuldade da pessoa depressiva 
que é reconhecer que se encontra doente e necessita tomar a iniciativa de procurar 
atendimento: 
O sujeito entra num clima que lentamente vai impregnando todo seu ser; esse 
clima pode começar com uma leve baixa da vitalidade e da motivação, até 
chegar a vontade persistente e quase obsessiva da morte. Passado certo 
estágio, a ideia da morte começa a adquirir forma. Essa ideia amedronta o 
indivíduo; o amedronta e ao mesmo tempo o atrai. Com sua morte sabe que 
poria fim a seu sofrimento; isso por um lado; por outro, matando-se castigaria a 
si mesmo (e inclusive puniria os que não o souberam compreender), pois não 
esqueçamos de que em todo depressivo há uma forte dose de agressividade 
voltada contra ele próprio. Não será demais lembrar que muitos depressivos se 
suicidam (p. 277). 
 
 A morte é um dos temas que está relacionado diretamente com a depressão, 
visto que muitas pessoas se suicidam durante um episódio da doença por não 
encontrarem sentido no viver. Estes indivíduos depressivos veem na morte a única 
solução aceitável para o término do seu sofrimento, pois já chegaram ao limite de sua 
existência e não conseguem enxergar uma solução que os conforte e lhes salvem da 
situação em que se encontram no momento de desespero por não saberem lidar com 
os sintomas diversos da depressão. A pessoa depressiva não reconhece seu valor e, 
desta forma, acredita que sua existência não fará falta neste mundo. Romero (2001) 
apresenta em seu livro as etapas que o indivíduo transcorre, durante a depressão, até a 
última alternativa verdadeiramente aceitável, que pode vir a ser o suicídio: 
27 
 
Quando entramos numa fase depressiva, devagar, passo a passo, nos 
encaminhamos na direção de um círculo final em que parece residir apenas a 
morte. Primeiro o cansaço e a desmotivação; logo entramos na fase do 
desligamento, do isolamento e da tristeza; nem sempre paramos aí; podemos 
deslizar para o vazio, o autodesvalor, a culpa e a vontade de morrer (IBID, p. 
278). 
 
 Nota-se no depressivo a enorme incapacidade de viver significativamente com 
seus semelhantes, tornando-o um ser cada vez mais distante da realidade, 
ocasionando o distanciamento, retraimento, reclusão e falta de vontade de viver. Dessa 
forma, a morte aparece como um alívio para o depressivo, salvando-o deste mundo 
onde viver não faz sentido a esta pessoa e a cada novo dia há uma dura decisão de 
continuar vivendo, até enquanto não tomar coragem para cometer o suicídio ou, o mais 
positivo, procurar ajuda para a doença e contribuir para sua cura, participando do 
tratamento por livre e espontânea vontade. 
 Gomes (2011) relata que a depressão gera uma série de consequências no ser 
humano, acarretando dentre outras doenças, os seguintes sintomas: a insônia, a 
distimia, os distúrbios do sono e da alimentação, os quais repercutem negativamente 
conforme citação abaixo: 
A depressão gera insônia. (...) Quando a noite cai, principia a acordar, quando o 
dia amanhece, começa a dormir. O melhor lugar do mundo, o mais 
aconchegante, o mais macio, o mais confortável, o mais confiável é a cama. O 
deprimido tem a cama presa às suas costas. Ele e a cama são irmãos 
siameses. Quando consegue dormir, não quer mais acordar. O sono aparece 
como o último refúgio. (...) Não tem domínio sobre as próprias emoções. Não 
tem paciência. Perde a cabeça com facilidade. Explode à toa! Não sabe a 
origem da própria irritação e nem precisa. Está sempre irritado, e isso basta! (p. 
9) 
 
 A depressão traz consigo uma série de sintomas que desgastam o ser humano 
gradativamente, sem que a pessoa se dê conta que sua participação na sua melhora é 
importante. O paciente deprimido morre aos poucos a cada dia, tornando-se escravo do 
pessimismo, impossibilitando-o de viver plenamente, experienciando momentos de 
prazer com as pessoas que lhe fazem bem. 
 
 
 
28 
 
4.2 O diagnóstico da depressão 
 
A depressão vem ocasionando, ao longo do tempo, o afastamento de milhares 
de pessoas em todo o mundo, seja dos seus familiares, suas atividades laborais ou até 
mesmo de atividades que lhe tragam prazer. Diagnosticar esta enfermidade a tempo é 
devolver a esta pessoa a oportunidade de recuperar sua qualidade de vida e sua 
autonomia. 
 De acordo com Costa & Maltez (2002) a depressão apresenta um conjunto de 
fatores de risco que podem ser identificados, são eles: “sexo feminino, mulheres 
casadas, homens vivendo sozinhos, idade variando entre 20 a 40 anos de idade, 
perdas parentais antes da adolescência, história familiar de depressão, puerpério, 
ausência de um confidente, acontecimentos vitais negativos, residência em área 
urbana” (p. 560-561). 
Assim, é indispensável que haja um diagnóstico preciso para que o tratamento 
da depressão seja iniciado da forma mais adequada e de acordo com a particularidade 
de cada paciente. Para que isso ocorra da melhor forma possível, é necessário que a 
pessoa acometida com a doença procure atendimento e perceba que a depressão é 
algo que pode incapacitar o ser humano. 
Como pode ser encontrado nos manuais de Psiquiatria o diagnóstico dos 
transtornos mentais (DSM-IV e CID 10) citados logo abaixo, a depressão também 
possui sua forma subjetiva de ser diagnosticada. AUGRAS (2009) discorre em seu livro 
a respeito da situação de diagnóstico em fenomenologia, trazendo subjetividade e 
evitando interpretação do cliente elaborado a priori, antes e fora do acontecimento 
presente. 
Da mesma maneira que cada indivíduo for a medida de sua normalidade, em 
cada situação, o significado será buscado dentro daquilo que for manifestado. 
Neste ponto de vista, a “objetividade” dessa apreensão, finalmente configurada 
em diagnóstico, apoiar-se-á em critérios de coerência, deduzidos daquilo que 
se ofereceu da história do indivíduo e das vivências presentes. (p. 13) 
 
Apesar de a depressão se apresentar e ser experienciada de formas distintas 
para cada pessoa, há critérios utilizadospara que se tenha um padrão no seu 
diagnóstico, trazendo características observáveis e comuns encontradas na doença. 
Vale ressaltar que a fenomenologia não descarta os critérios diagnósticos encontrados 
29 
 
nos manuais de psiquiatria, porém, o indivíduo é compreendido também na sua 
particularidade. Busca-se a sua visão de mundo sobre a doença, convidando-o a fazer 
parte do seu tratamento de forma ativa. Os critérios para o diagnóstico servirão como 
apoio para identificar os sintomas discorridos pelo paciente que procura atendimento. 
Nos dias atuais, os sistemas classificatórios utilizados para o diagnóstico da 
depressão são DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais são 
perturbações mentais (APA, 2002) e o CID-10 – Classificação Estatística Internacional 
de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (OMS, 1993). 
O DSM-IV (APA, 2002) fornece critérios de diagnóstico para as perturbações 
mentais e abrange elementos descritivos com o intuito de conduzir ao diagnóstico de 
tais inquietações. Neste modelo, a depressão pode se encontrarem diferentes 
transtornos mentais, apresentando algo em comum transtorno de humor: 
Os Transtornos de Humor estão divididos em Transtornos Depressivos 
(“depressão unipolar”), Transtornos Bipolares e dois transtornos baseados na 
etiologia – Transtorno do Humor Devido a uma Condição Médica Geral e 
Transtorno de Humor Induzido por Substância. Os transtornos depressivos (a 
saber, Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Distímico e Transtorno 
Depressivo Sem Outra Especificação) são diferenciados dos Transtornos 
Bipolares pelo fato de haver um histórico de jamais ter tido um Episódio 
Maníaco, Misto ou Hipomaníaco. Os transtornos Bipolares (a saber, Transtorno 
Bipolar I, Transtorno Bipolar II, Transtorno Ciclotímico e Transtorno Bipolar sem 
outra Especificação) envolvem a presença (ou histórico) de episódios 
maníacos, geralmente acompanhados pela presença (ou histórico) de Episódios 
Depressivos Maiores (p. 345). 
 
 Nem sempre é fácil encerrar um diagnóstico preciso devido a diferentes 
transtornos apresentarem alguns sintomas psicopatológicos semelhantes aos da 
depressão. Desta forma, se faz necessário ter o devido cuidado e conhecimento de 
psicopatologia para que o diagnóstico seja o mais preciso possível. 
Ainda, de acordo com o DSM-IV, existem critérios para que seja diagnosticado o 
episódio depressivo maior: Deve ser encontrado no paciente a ser diagnosticado um 
mínimo de cinco dos seguintes sintomas presentes durando o período de duas 
semanas: 
 
1.humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por 
relato subjetivo (p. ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por 
terceiros (p. ex., chora muito). 2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer 
em todas ou quase todas a atividades na maior parte do dia (indicado por relato 
subjetivo ou observação feita por terceiros). 3. Perda ou ganho significativo de 
30 
 
peso sem estar em dieta (p. ex., mais de 5% do peso corporal em 1 mês), ou 
diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias. 4. Insônia ou hipersonia 
quase todos os dias. 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias 
(observáveis por outros, não meramente sensações subjetivas de inquietação 
ou de estar mais lento). 6.Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. 7. 
Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser 
delirante), quase todos os dias (não meramente auto-recriminação ou culpa por 
estar doente). 8. Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou 
indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por 
outros). 9. pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer) 
ideação suicida recorrente sem um plano específico (p. 354-355). 
 
Diagnosticar a depressão, em alguns casos, pode ser bastante complexo, por ser 
confundida com outras enfermidades físicas ou até mesmo por ser desencadeada por 
uma doença já existente e sendo tratada por este paciente no momento, como a 
pressão alta, cardiopatia, diabetes. 
Já na CID-10(OMS, 1993), as seções de F00 a F99 são destinadas aos 
transtornos mentais e comportamentais, estando os transtornos de humor e/ ou afetivos 
incluídos nas seções de F30 a F39: 
transtornos nos quais a perturbação fundamental é uma alteração do humor ou 
do afeto, no sentido de uma depressão (com ou sem ansiedade associada) ou 
de uma elação. A alteração do humor em geral se acompanha de uma 
modificação do nível global de atividade, e a maioria dos outros sintomas são 
quer secundários a estas alterações do humor e da atividade, quer facilmente 
compreensíveis no contexto dessas alterações. A maioria desses transtornos 
tende a ser recorrente e a ocorrência dos episódios individuais pode 
frequentemente estar relacionada com situações e fatos estressantes (p 110). 
 
 Destacam-se os sintomas que podem ser encontrados na seção F32 no Episódio 
depressivo, seja este leve (F32.), moderado (F32.1) e grave (F32.2 e F32.3): “(a) 
concentração e atenção reduzidas; (b) autoestima e autoconfiança reduzidas; (c) ideias 
de culpa e inutilidade (mesmo em um tipo leve de episódio); (d) visões desoladas 
pessimistas do futuro; (e) ideias ou atos auto lesivos ou suicídio; (f) sono perturbado; (g) 
apetite diminuído” (p. 117) 
 A depressão foi caracterizada por estudiosos e de acordo com Monteiro &Lage 
(2007): 
Ao longo do século XX foram surgindo as dicotomias: depressão hereditária e 
psicogênica, depressão neurótica e psicótica, depressão primária e secundária, 
depressão endógena e reativa, etc. Estas nomenclaturas tinham em vista 
realizar ainda uma distinção básica entre a depressão chamada de melancólica, 
correspondente à psicose maníaco-depressiva e as outras formas de 
depressão; ditas reativas, psicogênicas ou neuróticas. Tais dicotomias 
proporcionaram uma discussão ampla no decorrer deste século, visto que, 
31 
 
existia uma tentativa de diferenciar a depressão neurótica da depressão 
psicótica, levando em conta, não somente a severidade do quadro clínico 
apresentado, mas a sua etiologia (p. 03). 
 
 Como foi evidenciada no estudo feito pelos autores acima citados, a depressão 
possuiu, ao longo dos anos, algumas nomenclaturas que visaram caracterizar as 
variadas formas em que a doença se apresenta no ser humano. Percebe-se que há um 
grande interesse por parte dos estudiosos em apenas descrever a depressão, houve 
pouco interesse em buscar compreender como o doente percebe a doença e como é 
experienciado por ele. 
Essas características podem ajudar o profissional de saúde a elaborar o melhor 
tratamento ao seu paciente. Infelizmente, não é levada em consideração a vivência 
que a pessoa, acometida com a doença, possui para que o prognóstico seja 
satisfatório. Isso faz com que o percurso da doença seja igual para cada um, o que vai 
de encontro com a fenomenologia, que evidencia a compreensão do ser humano, 
considerando a experiência que cada um possui sobre o fenômeno que se apresenta. 
Dalgalarrondo (2000) destaca em seu livro que as síndromes depressivas 
maníacas são reconhecidas como sendo um problema de ordem prioritária na saúde 
pública mundial. O autor relata que o elemento central das síndromes é o humor triste, 
sendo caracterizadas por: 
multiplicidade de sintomas afetivos (tristeza, melancolia, choro fácil, apatia 
desespero, desesperança), instintivos e neurovegetativos (diminuição da libido, 
anedonia, perda ou aumento do apetite, insônia), ideativos (ideação negativa, 
ideias de morte, ideação suicida) e cognitivos (déficit de atenção e 
concentração, dificuldade de tomar decisões, déficit secundário de memória), 
relativos à autovaloração (sentimento de baixa autoestima, insuficiência, 
vergonha e autodepreciação), à volição (tendência a permanecer na cama por 
todo o dia, aumento na latência entre pergunta e resposta, mutismo, 
negativismo) e à psicomotricidade (lentificação motoraaté o estupor, estupor 
hipertônico ou hipotônico) (p. 190-191). 
 
O mesmo autor ainda descreve oito subtipos das síndromes depressivas que 
são: 1 – Episódio ou fase depressiva e transtorno depressivo recorrente (evidentes 
sintomas depressivos devem estar presentes por pelo menos duas semanas, e não 
mais do que por dois anos de forma ininterrupta, duram entre três a 12 meses); 2 – 
Distimia (caracterizada como uma depressão crônica, geralmente de intensidade leve, 
muito duradoura, começa no início da vida adulta e dura pelo menos vários anos); 3 – 
Depressão atípica (pode ocorrer em episódios depressivos de intensidade leve a grave, 
32 
 
em transtorno uni ou bipolar); 4 – Depressão tipo melancólica ou endógena 
9predominam os sintomas classicamente endógenos, ou seja, de natureza 
neurobiológica); 5 – Depressão psicótica (depressão grave, na qual ocorrem, 
associados aos sintomas depressivos, um ou mais sintomas psicóticos, como o delírio 
de ruína ou culpa, alucinações com conteúdos depressivos); 6 – Estupor depressivo (o 
paciente permanece dias em uma cama ou cadeira em estado de catalepsia, o paciente 
pode vir a falecer por complicações clínicas); 7 – Depressão agitada ou ansiosa 
(depressão com forte componente de ansiedade e inquietação psicomotora); 8 – 
Depressão secundária (síndrome depressiva causada ou fortemente associada a uma 
doença ou quadro clínico somático, sela ele primariamente cerebral ou sistêmico). 
Tendo em vista que a depressão foi classificada por alguns estudiosos, porém neste 
estudo se dá ênfase no diagnostico de depressão primária. 
Romero (2001) apresenta as características encontradas em pessoas 
depressivas de acordo com as dimensões existenciais na vida do sujeito, tais como 
auxiliar na melhor maneira de compreender um paciente sob uma abordagem que 
abrange a sua totalidade, ou seja, a dimensão corporal, dimensão interpessoal, 
dimensão afetiva, dimensão motivacional onde a intenção não é a descrição ou 
simplesmente enquadrá-lo em doenças passíveis de serem diagnosticadas a todo custo 
e sim respeitar cada pessoa na sua singularidade e peculiaridade. 
Pode ser observado nos estudos de Romero (2001) que a depressão afeta todas 
as dimensões da existência do ser humano, como a dimensão corporal, onde o corpo 
perde ou diminui seu caráter instrumental, sendo vivida como carga e como fonte de 
preocupações.A imagem corporal define-se como negativa, o andar torna-se curvado, 
encolhido, frouxo e surge uma expressão geral de apagamento e de fadiga. Há uma 
considerável diminuição do apetite sexual e das necessidades de ingestão. Na pessoa 
doente fica evidente o descuido com a sua aparência. 
Na dimensão interpessoal, a comunicação torna-se problemática e o sujeito 
tende a isolar-se, fechando-se em si mesmo. Surge uma tendência a desligar-se dos 
apelos e das solicitações sociais ou as considera sem solução. Essa se percebe sem 
amigos ou questiona o valor da amizade. 
33 
 
Na dimensão da práxis, o indivíduo tente á passividade, deixando de lado ou 
descuidando de suas obrigações e compromissos. Esse sujeito fica dominado por um 
forte sentimento de incapacidade, prostração, impotência e tende a perder o sentido de 
sua práxis, assim como perde o sentido de sua vida. 
Na dimensão motivacional, é notória a perturbação das necessidades básicas, 
como sono, comida e sexo. Ocorre uma desmotivação generalizada no indivíduo 
diagnosticado como depressivo e a perda do sentido da vida de forma geral. 
Na dimensão afetiva ocorre o predomínio dos sentimentos negativos em todas as 
esferas e fortes sentimentos de impotência e de indigência, de solidão e de abandono, 
de tédio e de vazio. Há uma presença significativa de sentimentos de autocomiseração 
e culpa neste indivíduo, tendo como consequência o desprezo de si, uma evidente 
vontade de morrer e a auto-agressividade. Acontece o predomínio de um clima 
emocional agitado, mas por vezes aparece o vazio existencial. 
A dimensão valorativa é caracterizada pela quebra e descrédito de todos os 
valores, salvo aqueles que traduzem a negatividade. Na alternativa melhor, o bem se 
coloca no outro e o sujeito depressivo tende a certo grau de niilismo e, nos casos 
menos autodestrutivos, para um ceticismo irônico. 
Na dimensão espaço-temporal, o sujeito tende a se refugiar no passado, se 
desliga do presente e se desinteressa pelo futuro. O espaço esvazia-se, as coisas se 
tornam estranhas e consequentemente o mundo perde seu brilho e seu cromatismo. 
Na dimensão psicológica ocorre a quebra do eu, que renuncia sua função de 
agente coordenador das diversas dimensões e planos da existência. O sujeito 
empareda-se num cotidiano frustrante, perdendo seu acesso ao plano imaginário. O 
autoconceito torna-se negativo e ocorre um esvaziamento da própria identidade por 
negação da maioria dos referenciais. 
 
 
 
 
 
 
34 
 
4.3 Tratamento da depressão 
 
 
Velasco (2009) discorre que nenhuma pessoa consegue curar-se da depressão 
apenas ouvindo orientações ou sugestões de pessoas leigas no assunto. A pessoa 
depressiva necessita de atendimento, tanto medicamentoso (utilizando 
antidepressivos), quanto psicoterápico. Além do apoio familiar e poder contar com uma 
equipe multidisciplinar adequada para que o andamento do tratamento seja satisfatório. 
A avaliação do paciente é realizada pelo médico psiquiatra, através de uma 
exame psicopatológico com o paciente que procura tratamento. Dalgalarrondo (2000) 
afirma que a entrevista permite a realização dos dois principais aspectos da avaliação: 
a anamnese (história dos sintomas e sinais apresentados pelo paciente ao longo de sua 
vida, seus precedentes pessoais e familiares, assim como de sua família e meio social) 
e o exame psíquico (também chamado de exame do estado mental atual). 
Na avaliação física, o autor, ainda pontua que esses pacientes necessitam ser 
examinados do ponto de vista somático, pela semiologia somática apropriada 
(anamnese somática, exame físico, exames laboratoriais e de imagem). Enquanto que 
na avaliação neurológica é considerada parte imprescindível da avaliação em 
psiquiatria, mas irá depender de uma anamnese bem colhida e com informações 
suficientes. 
O tratamento da doença requer uma rede de apoio acolhedora e acessível, pois 
a recaída da doença é uma possibilidade que pode ocorrer em muitos casos e o 
controle, tanto médico quanto psicoterápico da doença vai auxiliar a pessoa a seguir 
com o tratamento se sentindo disposto e confiante. De acordo com Costa & Maltez 
(2002): 
A abordagem do doente deprimido não se restringe à objetivação dos sintomas 
psicopatológicos de uma forma descritiva, antes é necessária a adoção de uma 
posição fenomenológica em que, a partir da intersubjetividade da relação 
terapêutica, ganha sentido o acontecer interior que constitui as experiências 
mórbidas do doente (p. 560). 
 
É interessante a citação dos psiquiatras portugueses acima, os quais destacam 
que não basta o diagnóstico da depressão, mas algo maior que considera a relação 
intersubjetiva com seu paciente de compreender os seus sintomas, ajudando-o e 
35 
 
auxiliando-o no seu desenvolvimento e crescimento como ser humano em busca do seu 
melhor. 
Velasco (2009) aponta que o equilíbrio químico do cérebro de uma pessoa 
depressiva só poderá ser controlado com a assistência médica necessária, 
concomitantemente com a colaboração do paciente na reação da medicação. Portanto, 
será um trabalho de parceira em busca da melhora da pessoa acometida com a 
doença. Ainda de acordo com o autor: 
Os medicamentos antidepressivos têm a função de regular os componentes 
substanciais do cérebro, trazendo, assim, um alívio temporário para o paciente, 
que se anima com o resultado parcial e se empenha ao máximo na solução do 
problema (VELASCO, p. 24-25). 
 
O tratamento farmacológico é importante para a cura de depressão, no entanto, 
uma das desvantagensé quando o paciente percebe uma melhora aparente da doença, 
este o abandona por acreditar que não precisa mais, por esse motivo, a psicoterapia é 
indicada para que seja feita conjuntamente, fazendo com o paciente perceba que a 
depressão não é apenas algo que se manifesta no corpo, mas também na sua 
subjetividade. 
Por outro lado, a doença, em diversos prognósticos é confundida com tristeza ou 
até mesmo com outro tipo de enfermidade, por apresentar uma série de sintomas 
físicos, dificultando e prolongando o acesso ao tratamento adequado. Neste viés, o 
tratamento farmacológico concomitante com o tratamento psicoterapêutico assegurará 
ao paciente uma qualidade de vida e, consequentemente criará um espaço de co- 
responsabilidade, principalmente por parte do individuo em terapia (farmacológico e 
terapêutico), possibilitando assim a sua melhora no início do tratamento. 
De acordo com Botega, Furlanetto & Júnior(2012), Gomes (2011) preconizam 
que os principais antidepressivos utilizados no tratamento da depressão, são eles: 
Antidepressivos tricíclicos – ADTs (Amitriptilina, Clomipramina, Imipraina, Nortriptilina), 
Inibidores da monoaminoxidase - IMAOs (Tranilcipromina), Inibidores seletivos de 
recaptação de serotonina – ISRSs (Citalopram, Escitalopram, Fluoxetina, Fluvoxamina, 
Paroxetina, Sertralina), Inibidores de receptação de serotonina e noradrenalina – IRNSs 
(Desvenlafaxina, Duloxetina, Venlafaxina), Bupropiona, Mirtapazina e Trazodona. Na 
literatura consultada, estes foram o tratamento padrão para tratar a pessoa acometida 
36 
 
com a depressão. Os autores pontuam que, pelo menos 10% dos pacientes 
abandonarão o tratamento em decorrência dos efeitos colaterais causados pelo uso dos 
medicamentos. 
No tratamento da pessoa depressiva, para os autores existem múltiplos estudos 
que têm confirmado a importância que se pode ter com o tratamento concomitante 
(medicação e abordagens psicoterapêuticas) e as abordagens psicológicas podem ser 
a escolha excepcional em casos mais leves de depressão. Pode ser dividido em fase: 
inicial (período de latência) que dura de 1 a 2 semanas; aguda (período de resposta), 
podendo ter a duração de 2 semanas a 3 meses; continuação (prevenção de recaída), 
mínimo 6 meses após a melhora e manutenção (prevenção de recorrência), período 
indeterminado, podendo levar anos. A aliança terapêutica é um elemento primordial no 
início do tratamento, pois os medicamentos podem durar de 1 a 3 semanas para que 
seus efeitos sejam sentidos pelo paciente, isto vai depender do organismo de cada 
pessoa. 
 Ainda de acordo com os autores, no tratamento farmacológico, a escolha do 
antidepressivo é analisada por diversos fatores: quadro clínico (segundo o predomínio 
de alguns sintomas, como ansiedade, insônia, apatia); condições do paciente que 
contra-indiquem determinada droga, como efeitos colaterais (sedação, hipotensão e 
ganho de peso); presença de determinadas doenças físicas, certas características do 
fármaco (interações medicamentosas) e custo do tratamento. O mais indicado pelos 
médicos é que se inicie o tratamento com doses mais baixas do medicamento e ir 
aumentando gradativamente até que se obtenha o efeito desejado. 
Muitas pessoas em tratamento, vendo-se livres dos sintomas de depressão, 
“resolvem” interromper precocemente a medicação. Umas, para “fazer um 
teste”, outras, com receio de “ficarem dependentes” ou por estarem enfrentando 
efeitos adversos (aumento de peso, disfunção sexual). A interrupção do 
medicamento antes do tempo aconselhável implica risco aumentado de recaída 
(cerca de 50 a 80%, o dobro do observado entre os que mantém a medicação). 
Por fim, destaca-se que, para pessoas que já tiveram vários episódios 
depressivos, a medicação deve ser mantida em dose plena ao longo da vida 
(VELASCO, 2009, p. 304). 
 
Um erro bastante grave que se encontra no tratamento da depressão é a 
suspensão do medicamento antes do tempo previsto, para que isso não ocorra, é 
necessário que o paciente sinta-se a vontade para poder dar sua opinião a respeito de 
sua trajetória diante da luta contra a doença, por esse motivo, é necessária a adesão 
37 
 
deste paciente a uma psicoterapia para que este possa se sentir apto para lidar com 
seus conflitos e incertezas diante do tratamento. Infelizmente, como toda doença que 
necessite de tratamento farmacológico, existem os efeitos colaterais que podem curar 
este paciente a interromper o tratamento. 
Os principais efeitos colaterais apresentados pelos antidepressivos estão 
divididos de acordo com a neurotransmissão envolvida, são eles: efeitos anti-
histamínicos (sonolência, ganho de peso, fadiga, tontura, hipotensão), efeitos 
anticolinérgicos (boca seca, retenção urinária, taquicardia, visão turva, aumento da 
pressão ocular, disfunção sexual, alucinações, confusão mental), efeitos 
antiadrenérgicos (hipotensão arterial, tonturas, tremores, congestão nasal, retardo da 
ejaculação, disfunção erétil) e efeitos serotoninérgicos (irritabilidade, agitação, insônia, 
cefaleia, fadiga, náusea, diarréia). Todos estes efeitos colaterais são responsáveis pelo 
abandono do paciente ao tratamento, dificultando e protelando sua melhora e, 
consequentemente sua qualidade de vida. 
 Botega,Furlanetto & Júnior(2012), em seu livro: “Prática psiquiátrica no hospital 
geral: interconsulta e emergência”, aborda diversos temas relacionados a prática 
médica em psiquiatria, trazendo discussões atuais sobre o tratamento psiquiátrico nas 
diversas formas de psicopatologia. Fica claro na depressão que: 
De um a dois terços dos pacientes deprimidos não são detectados e 
devidamente tratados. A equipe assistencial pode focar seu trabalho no 
tratamento das condições físicas agudas. Pode, também, considerar que os 
sintomas depressivos são “apropriados” e “compreensíveis” diante da situação 
do paciente, falhando, assim, no diagnóstico. É provável que os profissionais 
estejam, ainda, movidos por preconceitos em relação à depressão e a 
transtornos mentais em geral (p. 299) 
 
Os autores afirmam que “a depressão tem um caráter de doença sistêmica, com 
consequências em vários sistemas de regulação corporal, incluindo seus impactos na 
evolução de outras doenças clínicas, aumentando a morbidade e os custos do 
tratamento” (IBID, p. 230). Desta forma, a depressão traz consequências severas aos 
seus portadores, principalmente em um grau mais elevado da doença, complicando 
mais ainda quando a pessoa não busca tratamento. 
Assim, a depressão pode comprometer seriamente a qualidade de vida da 
pessoa acometida com esta doença tanto ou mais que outras categorias médicas. 
Ainda de acordo com Botega, Furlanetto & Júnior (2012), os principais sintomas físicos 
38 
 
que podem desenvolver a depressão são: dor, doença nas artérias coronária, diabetes, 
acidente vascular cerebral (AVC) e HIV/AIDS. 
Como já foi comentada anteriormente, a depressão traz consequências que 
interferem no modo de ser da pessoa acometida com a doença e um trabalho de 
psicoterapia pode auxiliar esta pessoa a ter uma maior qualidade de vida e vencer a 
doença, considerando-se, também, responsável por sua cura. Para VELASCO (2009): 
 
A psicoterapia, assim como os medicamentos, necessita de algum tempo para 
se obter a melhora esperada. Os dois tipos de tratamento (psicoterapia e 
medicação) são fundamentais no tratamento do paciente, e só assim o 
indivíduo poderá ter o alívio tão esperado para seus sofrimentos e aflições (p. 
25) 
 
A psicoterapia auxilia este paciente depressivo a ter um encontro consigo 
mesmo, a buscar um significado para a manifestação da depressão em sua vida, 
deixando-o livre para que se questione e busque uma resposta interior sobre sua 
enfermidade, ao seu modo de ser no mundo em que vivemos. 
Costa & Maltez (2002) apontam que as principais vantagens de se fazer 
psicoterapia quando a pessoa é acometida com a depressão diz respeito a suaimportância, pois proporcionam à pessoa depressiva o apoio social e estabelece uma 
relação de confidência nos momentos em que são experienciados como de extremo 
isolamento. 
De acordo com Teng et al. (2005): 
Os efeitos da psicoterapia sobre o humor são muitas vezes evidentes, 
promovendo melhora direta do ânimo e da vontade de viver. É preciso salientar 
que, caso seja confirmado o diagnóstico de depressão, está indicado o 
tratamento farmacológico, mesmo que haja possibilidade de abordagem 
psicoterápica concomitante. 
 
Nota-se que a psicoterapia auxilia consideravelmente o paciente que recebe o 
diagnóstico da depressão, pois dá a esta pessoa a oportunidade de poder entender 
sobre as circunstancias que podem ter desencadeado a doença e se ajudar, 
contribuindo para que o seu tratamento seja satisfatório. 
Dessa forma, o profissional psicólogo trabalhará com o paciente deprimido 
auxiliando-o, no decorrer do tratamento, a enfrentar a doença em si e os efeitos 
adversos do tratamento medicamentoso, que ocorre a desistência de muitos pacientes, 
pois estes passam a experienciar sintomas que, muitos já haviam sentido antes de 
39 
 
receberem o diagnóstico da doença, trazendo incômodos por repetir sensações 
desagradáveis aos pacientes. 
Schestatsky (1998) expõe que a associação de medicações e psicoterapias, 
existem uma importante redução de custos mesmo no tratamento dos transtornos 
psiquiátricos mais graves, como as psicoses. Portanto, os benefícios de oferecer tal 
tratamento ao paciente são inúmeros, principalmente quando a pessoa acometida com 
a depressão não possui um poder aquisitivo que possa arcar com o tratamento 
medicamentoso. 
 
 
4.4 Depressão acomete as diferentes etapas do desenvolvimento humano 
 
 
Em todas as fases do desenvolvimento humano, pode ser observado que a 
depressão ocorre uma série de problemas que impossibilitam a pessoa de ter uma vida 
produtiva e conviver com todos em sua volta de forma plena. Diante disso, nesse 
momento se faz presente o suporte psicológico, e caso seja necessário o 
acompanhamento de um profissional psiquiatra são fundamentais para que a doença 
possa ter um tratamento adequado. 
 
 
4.4.1 A depressão na infância 
 
O psicanalista brasileiro Velasco (2009) em seu livro, intitulado “Depressão e 
transtornos mentais – tudo o que você deve e precisa saber”, descreve sobre a 
depressão nas diferentes fases do desenvolvimento humano e as características dos 
principais transtornos mentais. O autor afirma que a depressão é uma das principais 
enfermidades do século e todas as pessoas estão propensas a desenvolverem a 
doença em nossa sociedade. Para ele, a depressão é comum na infância quando a vida 
afetiva dessa criança passa por algumas situações que possam ter como consequência 
40 
 
fatores que possam desencadear a depressão, como por exemplo, a separação dos 
pais, morte de membros fundamentais na família, abandono pelos pais. 
Ainda de acordo com o mesmo autor, a criança depressiva apresenta os 
seguintes sintomas clássicos: tristeza, choro frequente, perda de apetite, mudanças no 
hábito alimentar, distúrbios do sono, agitação, ansiedade, mal-estar estomacal, cansaço 
matinal, dores abdominais. Também pode ser notada na criança a falta de interesse 
pelas atividades preferenciais, manifestação de descontentamento diante de regras 
impostas pelos pais, desleixo perante as obrigações de higiene, desânimo constante, 
desinteresse pelas atividades escolares, insatisfação até mesmo com brinquedos de 
sua preferência, falta de atenção, desconcentração, complexo de inferioridade, 
sentimentos de culpa e baixa autoestima. 
O psicanalista Marcelli (1998) discorre em seu livro “Manual de Psicopatologia da 
Infância de Ajuriaguerra” sobre o psicodiagnóstico dos transtornos mentais em crianças. 
O autor descreve que a principal complicação da depressão duradoura está relacionada 
à repercussão escolar, pois pode causar na criança um sentimento de fracasso que 
pode ser observado pelos professores e demais alunos. Por ser uma idade de 
descobertas e formação do caráter, a depressão na infância pode parecer algo 
inofensivo, pois perpassa pela mente dos adultos que uma criança tão pequena esteja 
depressiva. 
Augras (1986, p. 31), psicóloga francesa, em seu clássico livro na Língua 
Portuguesa "O Ser da Compreensão: Fenomenologia da Situação de Psicodiagnóstico", 
afirma que “a medida que a criança vai adquirindo maior distanciamento em relação à 
experiência imediata, bem como às tradições do seu grupo social, passa ela então a 
interiorizar o tempo como parâmetro de ação, com as suas três categorias (passado, 
presente e futuro)”. Desta forma, é primordial que esta etapa ocorra em um ambiente 
favorável para que seu desenvolvimento ocorra de forma plena e satisfatória. 
É importante lembrar que a depressão em crianças precisa ser levada a sério, 
pois muitos pais acreditam que é apenas uma "frescura" da idade ou que a mesma 
esteja querendo chamar atenção com tais atitudes, isso pode dificultar o diagnóstico e 
consequentemente o tratamento. 
 
41 
 
 
4.4.2 A depressão na adolescência 
 
A depressão na adolescência, para Velasco (2009) é mais frequente. O 
adolescente tende a comunicar-se através de suas ações, muitas vezes por ser 
inexperiente, recorre às drogas, a promiscuidade, ao álcool,tudo isso para tentar aliviar 
seus sentimentos e emoções. O adolescente angustiado para lidar com seus conflitos 
pode desenvolver alguns comportamentos agressivos e violentos, atos antisociais, 
distúrbios de conduta, procedimentos invasivos e agressivos. 
Ainda de acordo com o autor, o adolescente tem como motivos principais de 
episódios depressivos a inquietação e irritabilidade, dificuldade de concentração, 
isolamento, perda do interesse ou prazer nas atividades em exercício, desesperança, 
sentimento de culpa, pensamentos de morte, insônia, sonolência durante o dia e 
alterações do apetite. 
Para Augras (1986), os desajustes podem ocorrer na fase da adolescência, pois 
o outro ainda é um modelo imposto a ser seguido e, muitas fezes causa uma série de 
consequências ao adolescente: 
Muitas vezes, distúrbios encontrados em adolescentes não possuem outra 
origem: as expectativas do grupo esperam do adolescente a aquiescência da 
criança, exigem dele as atitudes do adulto que ainda virá a ser e, para resolver 
essa contradição, fornecem-lhe modelos pautados por uma tradição que, 
embora instilada desde o nascimento, é-lhe fundamentalmente estranha. É 
preciso dispor de privilegiado equipamento de adaptação à realidade, para 
conseguir superar tantas tensões, adequar-se às exigências externas sem 
mutilar-se, afirmar a individualidade sem lesar o ambiente (p 31). 
 
 Este paradoxo vivenciado pelo adolescente, muitas vezes é identificado de forma 
negativa, podendo ser diagnosticado como uma depressão ou outro tipo de transtorno 
mental, ocasionando sofrimento para este ser em pleno desenvolvimento. 
A adolescência é uma fase bastante complicada para que seja diagnosticada a 
depressão, pois é uma fase cercada de descobertas, rebeldia, estigmas e geralmente a 
família não sabe lidar com este sofrimento, por esse motivo, a depressão no 
adolescente pode não ser percebida e ser confundida com algo menos grave e não 
receber a devida atenção e tratamento. 
 
42 
 
 
4.4.3 A depressão no adulto 
 
De acordo com Velasco (2009) a depressão no adulto apresenta características 
comuns para as fases do desenvolvimento anteriormente citadas, o adulto apresenta 
apatia, mau humor, distúrbios do sono, distúrbios alimentares, desinteresses por 
atividades laborais, sentimentos de pesar, lentidão nas atividades físicas, lentidão nas 
atividades mentais, isolamento, irritação, perda do apetite, perda ou ganho de peso, 
choro frequente, vontade de morrer, inquietação, pensamentos negativos, pessimismo, 
desesperança, dificuldade ao chorar, "bocaseca", diminuição do desejo sexual, 
autopiedade, sentimentos de culpa e falta de estímulo. 
A doença também pode acarretar em consequências severas, como o aumento 
do risco de infarto em algumas pessoas adultas, desde que estejam praticando certos 
vícios e hábitos, como comer em excesso (obesidade) e fumando em demasia 
(tabagismo). 
Nesta etapa do desenvolvimento, pode vir a ser que o adulto possua o maior 
número de responsabilidades. Encontra-se em sua idade produtiva, no momento de 
constituição de sua própria família, criando seus filhos, e possui algum tipo de atividade 
laboral. A perda por um destes fatores pode desencadear a depressão. 
Com a vida cercada de atividades, sejam de lazer, de trabalho, doméstico, a 
pessoa adulta segue protelando a sua busca para o tratamento da depressão, se 
convencendo de que é apenas uma fase e os sintomas irão desaparecer a qualquer 
momento, como consequência, pode ocasionar numa incapacitação total e até mesmo 
o suicídio. 
 
 
4.4.4 A depressão no idoso 
 
A depressão em idosos, para Velasco (2009) tem como principal característica a 
hipocondria e o declínio do humor. Esses fatores se devem ao fato de os idosos 
sentirem a perda exacerbada da concepção existencial, tais como: maior frequência de 
43 
 
problemas físicos, baixa resistência imunológica, enfraquecimento do suporte 
sociofamiliar, incapacidade relativa de locomoção, dependência financeira, perda do 
status ocupacional etc. Nos quadros depressivos, o idoso pode apresentar retraimento, 
desesperança, perturbações do sono e retardo psicomotor. A depressão no idoso, 
quando não tratada de maneira satisfatória, pode colaborar para a morte súbita do 
paciente. 
A possibilidade do suicídio está muito presente quando há um idoso com 
depressão. De acordo com a cartilha: "prevenção do suicídio – um recurso para 
conselheiros, produzida e disponibilizada pela Organização Mundial de Saúde - OMS 
(2006): 
A depressão é amplamente reconhecida como sendo o principal factor 
associado com o comportamento suicida na idade avançada. Entre os idosos, 
surge frequentemente a questão do uso indevido de medicamentos como um 
meio para o suicídio. No entanto, o benefício que se obtém com o tratamento da 
depressão contrabalança largamente qualquer impacto negativo da medicação 
anti-depressiva (p. 08-09) 
 
O suicídio surge como uma das últimas alternativas para solucionar o problema 
de depressão dos idosos, fazendo com que esta faixa etária recebe uma atenção ainda 
maior dos serviços de saúde, pois muitos destes concluem que já viveram o bastante e 
que sua existência não faz mais nenhum tipo de sentido deste modo. 
 Augras (2009, p. 47) admite que “na velhice, na doença e na morte, o que 
domina é a decadência do corpo e do seu sofrimento”, desta forma, é necessário que 
este idoso perceba que há, ainda, que se ter vontade de continuar sentindo prazer na 
vida, procurando destacar o que é mais importante nesta fase e buscar realizar seus 
desejos, não apenas se deixando levar pela idade avançada e ser dependente das 
demais pessoas. 
 
 
4.5 Vivências e percepções de pacientes com depressão 
 
 
 
Na concepção de Leite (2009) em sua dissertação de mestrado intitulada “Corpo 
deprimido: Um estudo sobre corpo vivido e depressão sob a lente da fenomenologia de 
44 
 
Merleau-Ponty” traz a experiência de pessoas diagnosticadas com depressão. Revelou 
que o fenômeno da depressão é de difícil descrição pelos pacientes, e que eles a 
reconhecem a partir de sinais do seu corpo. Os depoimentos dos entrevistados 
revelaram: que a depressão é considerada um fenômeno exterior ao sujeito; que a 
postura e o ritmo corporais de tais sujeitos é marcado pelo isolamento, pela lentidão e 
pela estagnação; que eles vivem uma relação paradoxal com a morte; que a sua 
autoestima e o seu valor pessoal encontram-se profundamente comprometidos; que 
eles carregam um sentimento de despotencialização e de culpa e que estabelecem 
uma barreira na sua relação com o outro. 
A experiência da depressão é considerada pela maioria dos entrevistados como 
um fenômeno de difícil descrição, associado a um alto grau de sofrimento físico, 
psicológico e social, cuja manifestação inicial ocorre, principalmente, por meio 
de sinais do corpo (LEITE, 2009) 
 
 Através desses resultados- nota-se que a depressão acarreta uma série de 
sensações encaradas como pessimistas, porém, cada pessoa encara de uma forma 
singular, apesar de suas características encontradas nos principais manuais de 
psicodiagnóstico (DSM-IV e CID 10). 
Ainda em sua pesquisa, Leite (2009) trouxe a fala de um colaborador que 
discorre a respeito dos sintomas físicos que sente, impossibilitando sua qualidade de 
vida: 
Bom, depressão pra mim no meu caso... eu nunca mais tive saúde depois que 
tive depressão. Eu me considero assim. Era uma pessoa saudável... era obeso, 
gordo, fumava muito, sedentário, mas com a depressão tirou toda a minha 
vontade de viver, de trabalhar. Tive período de altos e baixos, mas saúde 
mesmo nunca recuperei, porque... por mais que eu diga que estou bem, de 
repente me sinto mal (Francisco). 
 
 Passar por uma depressão é algo desesperador, principalmente por 
impossibilitar a pessoa de suas atividades prazerosas, deixando-a isolada do seu 
convívio social. Velasco (2009) afirma que ninguém sabe, ao certo o que sente um 
depressivo, somente a pessoa que já passou pela mesma experiência. 
 
 O suicídio também é uma consequência aterradora para o depressivo, pois a 
desesperança é uma grande aliada, deixando a pessoa sem possibilidades e sem 
perspectivas perante a vida, tornando-o um refém da doença. 
45 
 
 Velasco (2009) aponta algumas características encontradas em pessoas 
depressivas: 
O depressivo despreza-se como ser humano, considera- se um “zero a 
esquerda” no convívio social e familiar, sente-se culpado injustificavelmente. A 
desesperança toma conta dele, deixando-o incapaz e sem vontade de viver. 
Isso pode levar a pessoa ao suicídio. 
 
 A falta de sentido na vida para o depressivo torna-se algo aparentemente 
normal, a ponto de não procurarem ajuda para solucionarem a doença. Moreira (2009), 
afirma que a depressão é, atualmente, a forma mais comum de doença mental, 
aumentando a cada ano o número de pessoas com esta enfermidade. 
 Ainda sobre a depressão, Virgínia Moreira (2007) preconiza que o objetivo maior 
é compreender o significado da experiência vivida da depressão no Brasil, Chile e 
Estados Unidos, focalizando prováveis variações culturais que possam contribuir para o 
seu entendimento transcultural entre 2000 a 2004. Estatisticamente foram 
contabilizados 72 adultos com depressão ou com registros clínicos de depressão foram 
submetidos a entrevistas fenomenológicas que buscaram a descrição da experiência 
vivida da doença. Os resultados demonstraram que, ainda que não haja alteração na 
sintomatologia entre os três países, a experiência vivida associada a estes sintomas 
varia de acordo com os distintos processos culturais subjetivos que são característicos 
de cada cultura. 
 Abaixo, são apresentados alguns trechos de entrevistas com pessoas que 
receberam o diagnóstico de depressão e foram entrevistadas por Moreira (2009) No 
Brasil, Chile e Estados Unidos da América: 
“...chorava assim por qualquer coisa, ficava sem comer, passava semanas 
sem comer. Ficava o tempo todo pensando em me matar e em morrer” (Brasil) 
“Eu acho que depressão... é quando alguém... (titubeia) não quer viver, não 
quer fazer nada, tudo parece o mesmo...” (Chile) 
“Eu não queria me levantar de manhã. A vida não valia a pena, eu queria me 
suicidar. Eu me levanto e penso: isso é inútil, eu não quero fazer isto...” (EUA) 
 
 
 O indivíduo com depressão não percebe seu mundo como ele realmente está 
disponibilizado, possui uma séria desvalorização e reconhecimento de si mesmo. Como 
pode ser observado pelas entrevistas dos colaboradoresdas pesquisas mencionadas 
acima, a depressão é um problema que afeta todas as dimensões do indivíduo, não 
podendo ser apenas descrita ou curada sem levar em consideração aspectos próprios 
46 
 
de cada pessoa na sua singularidade. A depressão é vivenciada não de forma coletiva, 
como nos oferece os manuais diagnósticos, mas sim, observando e compreendendo 
como é o mundo vivido pelo próprio sujeito. 
 MOREIRA & CALLOU (2006) apresentam um artigo intitulado “Fenomenologia 
da solidão na depressão”. Nesse trabalho há a descrição de um desdobramento da 
pesquisa que estuda, especificamente, a solidão relacionada à depressão. Serviram de 
análise, entrevistas com 72 adultos (n = 30, em Fortaleza; n = 22, em Santiago; e n = 
20, em Boston), com o foco na questão emergente: solidão. Objetivando aprofundar 
essa temática e apresentar a relação entre solidão e a depressão na experiência de 
vida, buscando compreender até que ponto a solidão é causa (etiologia) ou 
consequência (sintoma) da depressão. 
 Todos os entrevistados possuíam o diagnóstico de depressão e a pergunta que 
norteou a pesquisa foi: “Que relação você encontra entre o seu jeito de viver e a sua 
depressão?” Assim, 21 entrevistas foram analisadas e os resultados foram: 1) Solidão 
da mulher pela ausência do marido; 2) Solidão das mulheres viúvas; 3) Solidão pela 
ausência de pessoas; 4) Solidão ontológica; 5) Solidão nos homens separados; 6) 
Solidão e os animais; 7) Solidão e o vazio interior; 8) Solidão e os amigos. 
“Era semelhante, mas era melhor. Porque eu morava com a minha mãe, com 
esse meu filho; era mais gente em casa. E eu não me sentia tão só. Agora a 
minha mãe não tá mais morando comigo, meu filho casou-se, eu tô só como os 
dois filhos pequenos, aí eu me sinto assim, muito sozinha” (Brasil) 
 
“Doutora, é aquela vontade grande de chorar, de morrer, que na hora da 
depressão muito forte a gente se acha no mundo sem uma mão amiga, sem um 
amparo, sem uma palavra de conforto, sem nada! A gente se acha assim 
sozinha, olha pro lado e não vê ninguém” (Brasil). 
 
“Vontade, uma vontade de chorar sem ter nenhum motivo... aquela solidão, né? 
Não tem nenhum (motivo) e tem aquela solidão, aquela tristeza, aquela 
angústia... tudo aquilo ali, né? Até que quando eu choro, até que eu melhoro um 
pouco, alivia mais.” 
 
 
 No artigo comentado acima, ficou comprovado que a solidão é vivenciada pelos 
entrevistados como sendo um sintoma e não como uma causa da depressão, indo de 
acordo com os estudos selecionados para o presente trabalho. 
Um caso de bastante repercussão relacionado à depressão é o de Ellen West, 
utilizando a teoria de Ludwig Binswanger aplicada à psicopatologia. Descrito por 
47 
 
MOREIRA, CRUZ & VASCONCELOS (2005) o artigo intitulado "O caso Ellen West de 
Binswanger: fenomenologia clínica de uma existência inautêntica”, neste trabalho, as 
autoras analisaram os conceitos de Umwelt, Mitwelt e Eigenwelt, bem como de 
corporeidade e temporalidade enquanto constitutivos de uma existência inautêntica. 
Ainda, buscaram compreender tais conceitos no contexto do estudo de caso de Ellen 
West. 
Ellen não se abre ao mundo; em vez de dominar a situação, ela é dominada e 
sua existência perde autonomia: os outros exercem uma supremacia negativa 
com respeito à suas decisões, e Ellen fecha-se num eu dependente, inautêntico 
e escravo, embora procure demonstrar auto-suficiência (p. 10) 
 
 Percebe-se, em Ellen West, a falta de sentido na vida, apesar de tentar de todas 
as formas, demonstrar ser uma pessoa independente perante as demais pessoas. Foi 
possível analisar como foi difícil viver de uma forma totalmente inaltêntica. 
 
 
4.6 A depressão na contemporaneidade 
 
 
A depressão vem ganhando espaço no cenário atual, por incapacitar milhares de 
pessoas em todo o mundo, causando sofrimento e, como consequência mais 
agravante, a morte dessas pessoas que são diagnosticadas com a doença. Pessoas 
que estão deixando de lado seu bem maior, a vida, para simplesmente, deixa-la passar 
sem que nada seja feito por eles. 
Vieira (2005) discorre em sua dissertação de mestrado sobre a depressão. Com 
o tema “Depressão: experiência de pessoas que a vivenciam na pós-modernidade”, a 
autora afirma que a conquista das ciências e das tecnologias fez aumentar o número de 
pessoas com doença mental a cada ano: 
Em uma época, em que o capitalismo e o dinheiro permeia todas as relações na 
sociedade ocidental, onde a velocidade da informação é imensa, e a 
competição é estimulada, as pessoas estão encontrado dificuldades para parar 
e olhar-se, refletir sobre a sua existência, individualidade e subjetividade (p. 33). 
 
 Atualmente, há uma disponibilidade enorme de relacionamentos virtuais e, com 
muita frequência, as pessoas estão deixando de lado a experiência de estar com os 
outros concretamente e, principalmente, distanciam-se da realidade e de si mesmos. 
48 
 
Consequentemente, ocorre uma quebra de contato com as pessoas a sua volta e com 
eles próprios. 
 Cada pessoa possui a capacidade de lidar com as adversidades que ocorrem em 
suas vidas, porém para algumas destas pessoas, tal capacidade encontra-se encoberta 
por diversos motivos relacionados ao seu modo de ser no mundo. A depressão surge 
como uma dessas adversidades, dificultando a relação deste ser humano com o 
mundo, seja ele circundante (relação do ser humano com o meio ambiente), humano 
(sua relação com os seus semelhantes) ou próprio (sua relação com ele mesmo, 
através da reflexão). 
O individualismo pode ser considerado um sintoma social, encontrando-se no 
cerne das várias manifestações psicopatológicas que aumentam a cada dia, 
tais como as desordens de alimentação, desordens de personalidade e, 
obviamente, a depressão. O individualismo levará à produção cultural da 
psicopatologia via problemas de autoestima, de instabilidade em lidar com a 
intimidade e com o novo, da vivência cotidiana em uma sociedade 
caracterizada por comportamentos condicionados por uma ideologia que 
perpetua as desigualdades e as exclusões sociais (VIEIRA, 2005, p. 70). 
 
 Há de se concordar que o individualismo está cada vez mais evidente, 
distanciando as pessoas e fazendo com que a depressão ganhe seu lugar de destaque 
na vida dos mesmos. Cabe a cada um reconhecer que a doença necessita de 
tratamento e colaboração do paciente para que haja êxito na sua melhora. 
Moreira & Freire (2009) apontam a indiferença frente ao outro, em uma 
sociedade de desigualdade e exclusão social, como um fator marcante na etiologia da 
depressão. Assim, torna-se primordial o estudo da depressão sob uma ótica que vá 
além de uma mera descrição de cunho fisiológico, limitando o homem à apenas um ser 
que pode ser apenas descritivo, mas não compreendido. 
A depressão atinge, então, seu auge pelo esvaziamento de significados afetivos 
da vida humana, pela transformação do sistema de valores morais agora 
subjugados ao modelo (hiper) individualista de sociedade. Contraditoriamente, o 
sofrimento psíquico ligado ao vazio leva à busca incansável de intimidade, 
aliada a sentimentos de solidão, e muita gente acaba caindo na armadilha dos 
antidepressivos, já que, quanto mais se busca, menos se consegue sentir-se 
acompanhado, dado que se busca está no plano do idealizado, não no plano da 
realidade (Idem, 2009, p. 150). 
 
O mundo individualista, cercado de consumismo, da busca de prazer imediato, 
torna o indivíduo incapaz de suprir suas necessidades emocionais básicas e viver de 
forma significante consigo próprio e com o outro. Para eles, a depressão se constitui no 
49 
 
encarceramento do ser humano em si mesmo e isso se deu pela sua incapacidade de 
viver plenamente. 
Ainda que a depressão seja uma doença dos afetos, no seu sentido mais amplo 
se dá pela ordem dos desafetos, em um sistema cultural que não permite uma 
ética na alteridade. A sociedade contemporânea está doente dos afetos, 
contaminada pelas

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