Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CURSO DE PEDAGOGIA MÓDULO: METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS 2021-2024 DIRETORA GERAL Suzana Karling VICE-DIRETORA GERAL Prof.ª Me. Daniela Caldas Acosta DIRETOR PEDAGÓGICO Prof. Me. Argemiro Aluísio Karling COORDENADORA DO CURSO DE PEDAGOGIA Profª. Me. Tais Reis Leal Murta PRODUÇÃO DO MATERIAL Prof. Me. Argemiro Aluísio Karling Profª. Me. Nelci Gonçalves Dorigon Profª. Me. Rosângela Trabuco Malvestio da Silva Histórico de Revisão Professor Ano Esp. Valdete Sebastiana Durante 2020 Nenhuma parte deste fascículo pode ser reproduzida sem autorização expressa do IEC e dos autores. Direitos reservados para: INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO E DA CIDADANIA Av. Cerro Azul, 1411 – Jd. Novo Horizonte. CNPJ – 02.684.150/0001-97 CEP: 87010-055 - Maringá – PR – Fone: (44) 3225-1197 e-mail: fainsep@fainsep.edu.br SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 4 PLANO DE ENSINO 5 INTRODUÇÃO 6 UNIDADE 1 – OS PROCEDIMENTOS DE METODOLOGIA DE ENSINO 7 1 MÉTODOS 7 1.1 CONCEITO DE MÉTODO DE ENSINO 7 1.1.1 Classificação dos métodos pedagógicos 9 2 CONSTRUTIVISMO 13 UNIDADE 2 – INTERDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO 22 1 INTERDISCIPLINARIDADE 22 3 METODOLOGIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS 28 UNIDADE 3 - ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA E HISTÓRIA 48 1 METODOLOGIA DE GEOGRAFIA 48 2 METODOLOGIA DE HISTÓRIA 54 UNIDADE 4 - ORGANIZANDO E AVALIANDO OS CONHECIMENTOS 61 1 SISTEMATIZAÇÃO DE CONHECIMENTOS 61 2 AVALIAÇÃO 62 3 PROJETOS 66 QUESTÕES DE ESTUDO 70 REFERÊNCIAS 73 METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 4 APRESENTAÇÃO Prezados alunos: Mais um módulo inicia e gostaria de lembrá-los da missão da FAINSEP que é de formar profissionais educadores, bacharéis e tecnólogos; ampliar a formação humanística de pessoas para o pleno exercício da cidadania e preparo básico para funções técnicas e serviços gerais; oferecer educação continuada por meio de cursos de atualização, aperfeiçoamento e especialização, inclusive para o exercício de docência na educação superior; enfim, promover a educação e a cidadania por todos os meios, utilizando para tal o conhecimento, o desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias e educação a distância. Dessa forma, saiba que a formação e profissionalização do educador, com apropriação de competências e conhecimentos necessários ao exercício da ação docente, serão desenvolvidas durante a Graduação em Pedagogia. Com isso, espera-se o desenvolvimento de atitudes de reflexão e análise da atuação pedagógica e de valores para bem atuar na sociedade como agente de transformação, em busca de uma sociedade mais justa, a partir da identificação e análise das dimensões sócio-políticas e culturais de seu meio. A Pedagogia abrange o campo teórico e investigativo da educação, do ensino, de aprendizagens e do trabalho pedagógico propriamente dito, portanto saibam que, nesta Instituição, ao término da graduação, vocês não terão apenas um diploma, mas, sim, uma mudança e/ou transformação, tanto nos aspectos pessoais como profissionais, tornando- se um indivíduo crítico, criativo e participativo na busca de uma sociedade mais justa. Bons Estudos! A Direção METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 5 CURSO DE PEDAGOGIA PLANO DE ENSINO Módulo: METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Carga Horária: 80 horas Código: MAI 1. EMENTA Concepção de metodologia do ensino. O construtivismo em ação. Interdisciplinaridade. Projetos didáticos. Problematização. 2. OBJETIVO Conhecer e desenvolver competências em metodologia específica para os anos iniciais do Ensino Fundamental e a respectiva fundamentação Psiconeurológica. METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 6 INTRODUÇÃO Em todo setor da sociedade, supõem-se uma organização, um planejamento e métodos que conduzam a um resultado esperado. Na educação, não é diferente. O trabalho, em sala de aula, não pode ser desvinculado de uma organização, de um planejamento e de métodos que conduzam ao ensino e à aprendizagem. Essa metodologia deverá amparar-se em concepções de ensino e aprendizagem que contribuam para uma aprendizagem eficiente e significativa. Neste módulo, iremos conhecer algumas concepções de aprendizagem que favorecem um trabalho pedagógico que coloque o aluno, professor, conteúdo e metodologia em múltiplas relações, visando ao desenvolvimento e à construção dos conhecimentos. As concepções discutidas podem ser aplicadas em todas as disciplinas. Para isso, é necessário conhecer os fundamentos teóricos de cada uma delas, com o objetivo de estabelecer a metodologia adequada para que haja aprendizagem. Bons estudos! METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 7 UNIDADE 1 – OS PROCEDIMENTOS DE METODOLOGIA DE ENSINO 1 MÉTODOS 1.1 CONCEITO DE MÉTODO DE ENSINO A palavra metodologia significa caminho ou processo para atingir um determinado fim. Agir com método supõe uma prévia análise dos objetivos que se pretende atingir, as situações a enfrentar, assim como os recursos e o tempo disponíveis, e por último, as várias alternativas possíveis. Trata-se, portanto, de uma ação planejada, baseada em procedimentos sistematizados e previamente conhecidos. O método não diz respeito aos vários saberes que são transmitidos, mas, sim, ao modo como se realiza a transmissão. Podemos definir um método pedagógico como uma forma específica de organização dos conhecimentos, tendo em conta os objetivos, as características e os recursos disponíveis para alcançar os objetivos gerais e específicos do ensino. Temos, assim, “as características dos métodos de ensino que estão orientados para Sucesso é o acúmulo de pequenos esforços, repetidos dia e noite. Robert Collier 1 METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 8 objetivos: implicam uma sucessão planejada e sistematizada de ações, tanto do professor quanto dos alunos e requerem a utilização de meios” (LIBANEO, 1992, p. 149). O conhecimento de princípios, diretrizes, métodos, procedimentos e outras formas organizativas direcionarão o processo de ensino que se caracteriza pela combinação de atividades, envolvendo professor e alunos. Estes, pela assimilação das matérias, com a orientação do professor, atingem progressivamente o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas. A direção eficaz desse processo depende do trabalho sistematizado do professor, que tanto no planejamento como no desenvolvimento das aulas, reúne objetivos, conteúdos, métodos e formas organizadas de ensino. Por causa do vínculo dos métodos de ensino com os objetivos gerais e específicos, a decisão de selecioná-los e utilizá-los nas situações didáticas especificas depende de uma concepção metodológica mais ampla do processo educativo. Assim, conhecer o método é mais do que dominar procedimentos e técnicas de ensino, pois este deve expressar, também, uma compreensão global do processo educativo na sociedade que abrange os fins sociais e pedagógicos do ensino, as exigências e desafios que a realidade social envolve, as expectativas de formação dos alunos para que possam atuar na sociedade de forma crítica e criadora, as implicações da origem de classe dos alunos no processo de aprendizagem e a relevância social dos conteúdos de ensino (LIBANEO, 1992). O professor, ao utilizar o processo de ensino em função da aprendizagem dos alunos, utiliza intencionalmente um conjunto de ações, passos, condições externas e procedimentos, a que denominamos métodos de ensino. Por exemplo: [...] à atividade de explicar a matéria corresponde o método de exposição; à atividade de estabelecer uma conversação ou discussãocom a classe corresponde o método de elaboração conjunta. Os alunos, por sua vez, sujeitos da própria aprendizagem, utilizam-se de métodos de assimilação de conhecimentos. À atividade dos alunos de resolver tarefas corresponde o método de resolução de tarefas; à atividade que visa o domínio dos processos do conhecimento científico numa disciplina corresponde o método investigativo; à atividade de observação corresponde o método de observação e assim por diante (LIBANEO, 1992, p. 150-151). Os métodos de ensino, portanto, são as ações do professor pelas quais se organizam as atividades de ensino e dos alunos para atingir os objetivos do trabalho docente, em relação a um conteúdo específico. Eles estabelecem as formas de interação entre ensino e aprendizagem, entre professor e alunos, cujo resultado é a assimilação consciente dos conhecimentos e desenvolvimento das capacidades cognitivas e operativas dos alunos. A escolha dos métodos implica o conhecimento das características dos alunos, METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 9 conforme idade, nível de desenvolvimento mental e físico e quanto às suas características sócioculturais e individuais. Em Pedagogia, entende-se por metodologia os diferentes caminhos de proporcionar a aprendizagem e que foram sendo individualizados pelos pedagogos ou investigação científica. 1.1.1 Classificação dos métodos pedagógicos No trabalho docente, o professor seleciona e organiza os métodos de ensino e procedimentos didáticos em função das características de cada matéria. O critério de classificação dos métodos de ensino resulta da relação existente entre ensino e aprendizagem, concretizada pelas atividades do professor e dos alunos no processo de ensino. 1.1.1.1 Métodos verbais METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 10 2 A transmissão oral dos saberes continua a ser a mais clássica, mas também a mais moderna forma de comunicação pedagógica. A sua diversidade decorre das múltiplas formas a que podemos recorrer para expor ou interrogar os alunos sobre um determinado tema. O método expositivo é um importante meio de obter conhecimentos, desde que o professor consiga mobilizar a atividade interna do aluno de concentrar-se e de pensar e a combine com outros procedimentos, como o trabalho independente, a conversação e o trabalho em grupo. Conforme Libaneo (1992, p. 162): “A exposição ou relato de conhecimentos adquiridos ou de experiências vividas é um exercício útil para desenvolver a relação entre o pensamento e a linguagem, a coordenação de ideias e a sistematização dos conhecimentos”. Para auxiliar na exposição verbal, temos: A demonstração de que é uma forma de representar fenômenos e processos que ocorrem na realidade. Ela ocorre por meio de uma explicação coletiva de um fenômeno, explicação em um estudo do meio (excursão), experimentos simples, projeção de slides. A ilustração como forma de apresentação gráfica de fatos e de fenômenos da realidade, por meio de gráficos, mapas, esquemas, gravuras etc. Aqui, como na demonstração, é importante que os alunos desenvolvam a capacidade de concentração e de observação. A exemplificação é um importante meio auxiliar da exposição verbal. Ela acontece quando o professor faz uma leitura em voz alta, para que os alunos observem uma passagem importante; quando ensina o modo correto de realizar uma tarefa; usar METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 11 o dicionário, consultar livro-texto, organizar cadernos; observar um fato de acordo com normas e tirar conclusões; fazer relacionamentos entre fatos e acontecimentos. Apesar de a aula expositiva ser um método muito utilizado em nossas escolas, torna- se necessário alertar para que não ocorra uma aprendizagem mecânica por meio da memorização de fatos, regras e definições, sem ter garantido a sólida compreensão do assunto. 1.1.1.2 Métodos ativos 3 Um dos primeiros teóricos desse método foi Pestalozzi (1746-1827). Foi influenciado pelas ideias de Rousseau, ao defender que a educação deveria "preparar os homens para certos desempenhos na sociedade". A educação se preocuparia com o desenvolvimento natural, espontâneo e harmônico das disposições humanas mais originais, nas dimensões: intelectual, moral, artística e técnica. No final do século XIX, foram delimitadas as bases filosóficas da pedagogia contemporânea. Dentre outros, citaremos John Dewey (1859-1952) que concebeu a educação baseada na ação. A sua pedagogia ativa consistia nos seguintes princípios: O aluno só aprende bem, quando o faz por observação, reflexão e experimentação (autoformação); METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 12 O ensino dever ser adaptado à natureza própria de cada aluno (ensino- diferenciado); Deve desenvolver não apenas a sua formação intelectual, mas também as suas aptidões manuais, assim como a sua energia criadora (educação integral); A matéria de ensino deve ser organizada de uma forma que produza um efeito global na formação do aluno (ensino global); O ensino deve contribuir para a socialização do aluno, por meio de trabalhos em grupo, respeitando e fortalecendo sempre a individualidade dos alunos. A educação é vida, e educar é preparar para a vida (ensino socializado). Piaget (1896-1980) contribuiu para a divulgação desse método, pois acreditava que o sujeito é aquele que aprende basicamente por meio de suas próprias ações sobre os objetos do mundo, e que constrói suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo em que organiza seu mundo. Assim, o método ativo é aquele por meio do qual o aluno deve reconstruir e reinventar, os conteúdos ensinados em sala de aula e não apenas decorar conceitos. Para o autor, o professor não deve se limitar ao conteúdo específico de sua disciplina, mas deve conhecer como ocorre o desenvolvimento psicológico da inteligência humana. Todo o processo de ensino deve estar alicerçado na experimentação por parte do aluno, que se torna um sujeito ativo. Quando se fala em sujeito ativo, não estamos falando de alguém que faz muitas coisas, nem ao menos de alguém que tem uma atividade observável. Segundo Piaget (1998), o sujeito ativo é aquele que compara, exclui, ordena, categoriza, classifica, reformula, comprova, formula hipóteses em uma ação interiorizada (pensamento) ou em ação efetiva (segundo seu grau de desenvolvimento). Alguém que esteja realizando algo materialmente, porém seguindo um modelo dado por outro, para ser copiado, não é habitualmente um sujeito intelectualmente ativo. Vamos conhecer algumas implicações do pensamento piagetiano para a aprendizagem: Os objetivos pedagógicos necessitam estar centrados no aluno; partir das atividades dos mesmos. Os conteúdos não são concebidos como fins em si mesmos, mas como instrumentos que servem ao desenvolvimento evolutivo natural. Primazia de um método que leve ao descobrimento por parte do aluno, ao invés de receber passivamente por meio do professor. METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 13 A aprendizagem é um processo construído internamente. A aprendizagem depende do nível de desenvolvimento do sujeito. A aprendizagem é um processo de reorganização cognitiva. Os conflitos cognitivos são importantes para o desenvolvimento da aprendizagem. A interação social favorece a aprendizagem. As experiências de aprendizagem necessitam estruturar-se de modo a privilegiar a colaboração, a cooperação e intercâmbio de pontos de vista na busca conjunta do conhecimento. Ao longo do século XX, a pedagogia ativa conheceu inúmeros avanços teóricos e práticos, influenciando todos os outros métodos de ensino. Estes métodos apresentam cinco objetivos essenciais: a importância dada às vivências individuais; o aumento da motivação ligada a atividadesque envolvem diretamente o aluno; a necessidade de incrementar os hábitos de trabalho em grupo, para o aperfeiçoamento das relações humanas; a mudança do papel do professor, que deixou de ser visto como o detentor do saber, para ser encarado como um facilitador; a evolução dos métodos de avaliação, que passaram de um sistema autoritário, para outros baseados na autoavaliação dos indivíduos e do grupo. 2 CONSTRUTIVISMO 4 METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 14 2.1 CONCEITO Construtivismo significa a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que, antes da ação, não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento (BECKER, 1994). O Construtivismo surgiu a partir das ideias do filósofo Jean Piaget (1896-1980) e chegou ao Brasil na década de 70, quando foram criadas algumas escolas conhecidas como experimentais. Elas procuravam dar prioridade à maneira pela qual o aluno compreende o mundo, e o desenvolvimento intelectual passou a ser tratado como a capacidade que a criança tem de se adaptar ao meio. O Construtivismo na Educação poderá ser a forma teórica que reúne as várias tendências atuais do pensamento educacional. Tendências que têm em comum a insatisfação com um sistema educacional que teima (ideologia) em continuar essa forma particular de transmissão que é a Escola; que consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir, a partir da realidade vivida por alunos e professores, isto é, pela sociedade – a próxima e, aos poucos, as distantes. Não podemos negar que, por meio da escola, da família e dos meios de comunicação, entramos em contato com a cultura produzida pela sociedade. Mas, a educação escolar, além de promover o desenvolvimento à medida que promove a atividade mental construtiva do aluno, é “responsável por transformá-lo em uma pessoa única, no contexto de um grupo determinado” (COLL, 1997, p. 18): A concepção construtivista da aprendizagem e do ensino parte do fato óbvio de que a escola torna acessíveis aos seus alunos aspectos da cultura que são fundamentais para seu desenvolvimento pessoal, e não só no âmbito cognitivo; a educação é motor para o desenvolvimento, considerado globalmente, e isso também supõe incluir as capacidades de equilíbrio pessoal, de inserção social, de relação interpessoal e motora (COLL, 1997, p. 19). Sendo assim, a aprendizagem contribui para o desenvolvimento à medida que aprender não é copiar ou reproduzir a realidade. Aprendemos quando somos capazes de METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 15 elaborar uma representação pessoal sobre um objeto ou realidade ou conteúdo que pretendemos aprender. Essa elaboração não se trata de uma aproximação vazia, a partir do nada, mas a partir das experiências, interesses e conhecimentos prévios que, presumivelmente possam dar conta da novidade. Poderíamos dizer que, com nossos significados, aproximamo-nos de um novo aspecto que, às vezes, só parecerá novo, mas que, na verdade, poderemos interpretar perfeitamente com os significados que já possuíamos. Nesse processo, não só modificamos o que já possuíamos, mas também interpretamos o novo de forma peculiar, para poder integrá-lo e torná-lo nosso (COOL, 1997). No Construtivismo, a criança é vista como um ser dinâmico, que, a todo momento, interage com o real, operando ativamente com objetos e pessoas. Essa interação faz com que se desenvolvam estruturas mentais e se adquiram maneiras de fazê-las funcionar. O eixo central é a interação organismo-meio, e essa interação acontece por meio de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções exercidas pelo organismo ao longo da vida. A adaptação, definida por Piaget, como o próprio desenvolvimento da inteligência, ocorre por meio da assimilação e da acomodação. Os esquemas de assimilação vão se modificando, configurando os estágios de desenvolvimento. Piaget considera, ainda, que o processo de desenvolvimento é influenciado por fatores como maturação (crescimento biológico dos órgãos); exercitação (funcionamento dos esquemas e órgãos que implicam na formação de hábitos); aprendizagem social (aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões culturais e sociais); e equilibração (processo de autorregulação interna do organismo, que se constitui na busca sucessiva de reequilíbrio após cada desequilíbrio sofrido). A partir desses pressupostos, a educação deve possibilitar à criança um desenvolvimento amplo e dinâmico, desde o período sensório-motor até o operatório abstrato. A escola deve levar em conta os esquemas de assimilação da criança, propondo atividades desafiadoras que provoquem desequilíbrios e reequilibrações sucessivas, promovendo a descoberta e a construção do conhecimento. Para construir esse conhecimento, as concepções infantis combinam-se às informações vindas do meio, à medida que o conhecimento não é concebido apenas como sendo descoberto espontaneamente pela criança, nem transmitido de forma mecânica pelo meio exterior ou pelos adultos, mas como resultado de uma interação, na qual o sujeito é sempre um elemento METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 16 ativo, que procura ativamente compreender o mundo que o cerca e que busca resolver as interrogações que esse mundo provoca. 2.2 Aprendizagem significativa 5 Segundo Moreira (1999), a aprendizagem significativa é o conceito central da teoria da aprendizagem de David Ausubel, onde uma nova informação se relaciona, de maneira substantiva (não literal) e não arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo. Em outras palavras, os novos conhecimentos que se adquirem se relacionam com o conhecimento prévio que o aluno possui. Moreira (1999) escreve que para Ausubel o conhecimento prévio é denominado de "conceito subsunçor”1 ou simplesmente "subsunçor". A aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação se ancora em conceitos relevantes (subsunçores), preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Moreira (1999) destaca que Ausubel define estruturas cognitivas, como os conceitos que são representações de experiências sensoriais do indivíduo. A ocorrência da aprendizagem significativa implica no crescimento e modificação do conceito já formado. A partir de um conceito geral (já incorporado pelo aluno), o conhecimento pode ser construído de modo a ligá-lo com novos conceitos, facilitando a compreensão das novas informações, o que dá significado real ao conhecimento adquirido. 1 O subsunçor é uma estrutura específica ao qual uma nova informação pode se integrar ao cérebro humano, que é altamente organizado e detentor de uma hierarquia conceitual que armazena experiências prévias do aprendiz. METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 17 A primeira coisa que acontece quando alguém recebe uma informação nova é a tentativa de incluí-la em um desses conglomerados já existentes e relacionar a informação nova com as informações já presentes na sua estrutura cognitiva. Se o receptor da informação consegue "ancorar" o conhecimento novo no conhecimento velho de forma interativa, ocorrerá uma "aprendizagem significativa". Por forma interativa entende-se, aqui, que novos e velhos conhecimentos se influenciam mutuamente, num processo no qual os conhecimentos antigos podem adquirir novos significados. Se as novasinformações não encontrarem conhecimentos prévios nos quais se ancorar, ocorrerá uma "aprendizagem por recepção" (UnB,1999). Importante enfatizar que a aprendizagem por recepção e a aprendizagem significativa formam um processo contínuo, já que o conhecimento adquirido na aprendizagem por recepção vai, gradualmente, permitindo a "ancoragem" de novos conhecimentos. Saiba mais sobre o que significa conhecimentos prévios! Leia a reportagem de Mario Carretero: “Um olhar sobre o Construtivismo”, publicada na revista Nova Escola. Acesse: http://zjaria.blogspot.com/2013/09/mario-carrtero-um-olhar-sobre-o.html Portanto, os conhecimentos prévios permitem realizar o contato inicial com o novo conteúdo e são fundamentais para a construção de novos significados. Uma aprendizagem é tanto mais significativa quanto mais relações com sentido o aluno for capaz de estabelecer entre o que já conhece, seus conhecimentos prévios e o novo conteúdo que lhe é apresentado como objeto de aprendizagem. Para os pesquisadores que trabalham com a construção do conhecimento, ou seja, com a forma como ocorre a aprendizagem em relação a diferentes objetos de conhecimento, saber como são os conhecimentos prévios de uma pessoa (criança, jovem ou adulto) significa fazer pesquisa científica. Isso implica cuidados metodológicos, fundamentação teórica e tempo de observação, no mínimo. METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 18 Muitas pesquisas têm sido feitas em torno dessa questão. Os educadores, sem dúvida, devem conhecê-las, pois elas podem nos orientar sobre decisões a tomar do ponto de vista didático. No entanto, um professor não precisa, e nem deve, a não ser que exista justificativa pedagógica para isso, desenvolver pesquisas em sala de aula para determinar quais são os conhecimentos prévios dos alunos, toda vez que inicia uma ação pedagógica em relação a determinado conteúdo. É preciso conhecer as condições iniciais dos alunos, para planejar e desenvolver, com eles, as atividades de ensino e aprendizagem. Sempre que há aprendizagem, os conhecimentos prévios do sujeito que aprende estão em jogo, e isso faz parte das condições iniciais dos alunos, mas isso não é tudo. É preciso levar em consideração, também, entre outros aspectos: a relação que os alunos têm com o esforço de aprender; como eles encaram novos desafios; que aprendizagens precisam ter vivido para dar conta das atividades na forma como elas estão planejadas. Os conhecimentos prévios do aluno devem ser considerados à medida que estes entram em ação durante a atividade. Ou seja, quando o professor percebe que um aluno não consegue responder a uma questão, ou escrever um texto, ou ainda, se a atividade não despertou interesse porque ele já sabia as respostas, o professor deve observar melhor o que esses alunos já sabem para ajustar as propostas de ensino às condições iniciais de aprendizagem. Durante a elaboração do Planejamento do Ensino, as condições iniciais dos alunos, em particular os conhecimentos prévios, precisam ser consideradas também para que esse planejamento fique o mais próximo possível de sua realização. No entanto, somente durante a ação pedagógica é possível se certificar se as hipóteses sobre as condições iniciais dos alunos foram adequadas ou não, para alterar o plano inicial e torná-lo melhor para aquele grupo de alunos, caso seja necessário. 2.3 Problematização METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 19 6 Contextualizar e problematizar – uma forma de abordar o conteúdo. Para a aprendizagem ser significativa, é importante que o conteúdo não seja apresentado apenas de forma expositiva e descritiva. Sempre que possível, o tema deve ser introduzido por alguma atividade em que se resgatem os conhecimentos prévios e as informações que o aluno traz, criando-se, assim, um contexto que dará "significado" ao tema em questão, justificando, ainda, o fato de que ele será estudado a seguir. Em alguns casos, é também possível (e desejável) problematizar2 o assunto que irá ser tratado, convidando os alunos à reflexão. Perguntas bem colocadas, sem dúvida, promovem o interesse do aluno, que se sente desafiado a mobilizar seus conhecimentos para resolvê-las e, mais importante, estimulado a aprender mais a respeito do que está sendo abordado, a fim de construir explicações satisfatórias. No processo todo, o estudante provavelmente abandonará, complementará ou reformulará suas hipóteses iniciais, substituindo-as por outras mais adequadas. Promover a discussão prévia sobre o tema pode ser extremamente valioso. Por um lado, o aluno sabe por que e para que está sendo estudado aquele assunto. Por outro lado, do ponto de vista dos professores, pode-se descobrir, logo no início, o que os educandos sabem em relação ao tema; isso permite planejar, mais adequadamente, as situações que podem levar os alunos a reformular e a ampliar seus conhecimentos prévios. No entanto, a problematização não se restringe apenas ao início das atividades. No decorrer do estudo, várias oportunidades são oferecidas ao aluno que é desafiado e 2 É colocar um desafio no qual o educando, por meio de sua ação, busque o conhecimento (problematização) (GASPARIN, 2002). METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 20 estimulado a pensar e a resolver problemas. Textos de jornal, experimentos, figuras a serem interpretados, trechos de obras literárias e até uma receita de bolo podem servir de ferramenta para formar o contexto e propor o problema. Está claro que o professor, sempre que julgar necessário, poderá criar novas questões e contextos diferentes o quais considere mais adequado à realidade de sua classe. A finalidade da problematização é selecionar as principais interrogações levantadas na prática social a respeito de determinado conteúdo. Essas questões, aliadas aos objetivos de ensino, orientam o trabalho desenvolvido pelo professor e pelos alunos e podem ser representadas por questões sociais inseridas no conteúdo: O processo ensino-aprendizagem, nesse caso, está em função das questões levantadas na prática social, em função dos problemas que precisam ser resolvidos no cotidiano das pessoas ou da sociedade. Ao relacionar o conteúdo com a prática social, definem-se as questões que podem ser encaminhadas e resolvidas através desse conteúdo específico (GASPARIN, 2002, p. 37). Em todo início de trabalho com um conteúdo, mesmo que este já tenha sido trabalhado anteriormente, é necessário que o professor se preocupe em mobilizar os alunos para as aprendizagens que deverão ocorrer. Essa mobilização, que depende das condições iniciais dos alunos, pode ser despertada pelo professor por meio de problematizações do conteúdo. As perguntas direcionadas devem envolver não somente o campo conceitual do conteúdo, mas o campo social, econômico, político, enfim, as relações globais do conteúdo abordado. Problematizar significa criar questões que possam ser entendidas pelos alunos, mas que não podem ser respondidas de imediato, provocando-lhes a vontade de saber. Em muitos casos, o Projeto de Escola já apresenta problematizações apropriadas para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem. Mas, em geral, os professores precisam, a partir do Projeto de Escola, selecionar conteúdos e, considerando as condições iniciais de seus alunos, realizar o Planejamento do Ensino e as problematizações necessárias ao desenvolvimento das atividades de ensino e aprendizagem. É importante ter como foco que, se os alunos não se interessarem pelas questões que o professor faz a eles, então, são as questões que precisam mudar, não os alunos. METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 21 PARA SABER MAIS BRASIL. Conceito de Métodode Ensino. Secretaria de Estado de Educação. Todos educando para o futuro. Disponível em: https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:cpyobZtR8qUJ:https://slideplay er.com.br/slide/2550861/+&cd=7&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br BRUINI, E. C. da. Aprendizagem Significativa. Canal do Educador. Disponível em: https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/aprendizagem-significativa.htm Ei Escola da Inteligência. Educação Socioemocional. Entendo o conceito de construtivismo na educação. Disponível em: https://escoladainteligencia.com.br/entenda-o-conceito-de-construtivismo-na-educacao/ https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:cpyobZtR8qUJ:https://slideplayer.com.br/slide/2550861/+&cd=7&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:cpyobZtR8qUJ:https://slideplayer.com.br/slide/2550861/+&cd=7&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/aprendizagem-significativa.htm METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 22 UNIDADE 2 – INTERDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO 1 INTERDISCIPLINARIDADE Para entendermos o que é interdisciplinaridade, faremos leitura e discussão de uma reportagem e de dois artigos que nos darão referências para trabalhar um projeto interdisciplinar. Aprenda com o ontem. Viva o hoje. Tenha esperança para o amanhã. Albert Einstein 7 METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 23 O texto a seguir foi retirado da Revista Nova Escola, Edição Maio de 1999. Observe como os professores se mobilizaram para conseguir uma melhor compreensão dos conteúdos abordados, num projeto interdisciplinar. TEXTO 1 - Um “trem bão” chamado interdisciplinaridade O colégio mineiro Nossa Senhora das Dores mostra como conseguiu unir várias disciplinas sob um mesmo tema. Os alunos adoraram e as aulas nunca mais foram as mesmas Nas mãos do professor Marco Aurélio Alves está uma prova sobre o ciclo da cana-de-açúcar feita por um aluno da 5a série. A primeira pergunta une interpretação de texto e religião. A seguinte refere-se à sua matéria, História. A terceira mistura elementos de Geografia e Ciências. Todas tendo como base o poema O Açúcar, de Ferreira Gullar. Por trás do formato ousado desta prova existe uma palavra que pode ser tanto mágica quanto geradora de muita confusão, se mal aplicada: interdisciplinaridade, a fórmula em que se misturam conteúdos de várias disciplinas abraçadas por um tema comum. Por onde passa, a interdisciplinaridade acaba com os pequenos quintais de cada matéria, abrindo a visão dos alunos ao mostrar que o que eles aprendem em uma disciplina pode ser usado em outra. Quando dá certo, a experiência é eletrizante. "Estamos vivendo uma espécie de ‘revolução’ aqui", comenta Marco Aurélio, Coordenador de Ciências Humanas do Colégio Nossa Senhora das Dores, em Belo Horizonte. Vamos ver, então, como se deu a experiência. Tudo começou quando a direção do "Das Dores" (como a escola é chamada pelos alunos), depois de uma palestra sobre Pedagogia de Projetos feita pela pedagoga Keyla Matsumura, estimulou os professores a criarem formas de unir várias disciplinas. Marco Pollo Ferreira Alves, que leciona Geografia, lançou a ideia de levar a turma da 5ª série ao Mosteiro do Caraça, que faz parte de um Parque Natural localizado a 120 quilômetros de Belo Horizonte. Como vem escrevendo uma tese sobre excursões interdisciplinares para o Instituto Jose Verona, de Cuba, percebeu que aquela era a oportunidade de unir seu projeto ao da escola. Mal sabia que ali estava a ponta de um iceberg. "Fizemos uma reunião e decidimos adotar o livro Ecologia, da Editora Lê para trabalharmos o tema do meio ambiente em sala de aula. Depois, partiríamos para o trabalho de campo, juntando alguns colegas que se interessassem", explicou Marco Aurélio. Realizando encontros no período da tarde, os professores acertaram o calendário e o que cada um ensinaria antes e depois da excursão. A saída aconteceu em março, de trem — o que, para muitos alunos, foi uma grande novidade. Duas horas depois, a turma chegava ao Mosteiro do Caraça. Anotando, observando detalhes, fotografando e relacionando tudo com o livro paradidático lido, os alunos da 5ª série tiveram um dia bem movimentado. METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 24 Baixada a agitação dos alunos com a ida ao Caraça, cada professor procurou sedimentar alguns conceitos. Marco Pollo, de Geografia, distribuiu mapas da região para que os grupos identificassem cada local, descrevendo o relevo e a vegetação. Marco Aurélio e Karina Menezes, professores de História, enfocaram o ciclo do ouro e a visita de D. Pedro II ao lugar. Giovana Dantas e Carlota Álvares, de Ciências, trabalharam a fauna e flora e as lições de ecologia observadas pelos alunos. Nas aulas de Ensino Religioso mostrou-se a relação entre homem e natureza, enquanto Wellington Ade, de Matemática, trabalhou as figuras geométricas do conjunto arquitetônico. Por fim, entraram Andréa Godinho e Letícia Pellegrino, de Português. Mais que corrigir os alunos, elas ensinaram a importância de se refazer o texto em busca do melhor estilo, da palavra ideal. "Por suas características de conteúdo, Ciências, História e Geografia costumam ser os ‘carros-chefes’ dos projetos interdisciplinares. E Português é o suporte, pois todo projeto implica em produção de textos. Já matérias como Matemática ou Educação Física são mais difíceis de serem integradas", admite a Supervisora de Ensino Maria Flor de Maio Duarte. Juntar vários professores em um único projeto pode tumultuar a rotina da escola. "O maior risco de se trabalhar com projeto interdisciplinar é ele ficar desatrelado do conteúdo programático. É preciso enriquecer o trabalho dos professores, e não desviá-los do programa", alerta a supervisora Flor. Por isso, ela aponta um atalho seguro para uma primeira experiência: começar com duas ou três matérias casadas. É o que estão fazendo os professores de Geografia e Matemática. Existe uma lei ambiental que proíbe desmatamento em terrenos com inclinação entre 25 e 45 graus, para evitar desabamento de encostas. Os alunos criaram os ângulos com o transferidor e, depois, produziram maquetes para as aulas de Geografia. "O interesse dos alunos foi tal que eles estão estudando ângulos, que é matéria da 6ª série", comentou Wellington, revelando a reação em cadeia que a Pedagogia de Projetos provoca nos alunos. A sala de Estudos Sociais tornou-se um dos lugares preferidos dos alunos Na época de provas, nova revolução. Os alunos nem acreditavam no que viam. Receberam uma única prova, para ser respondida em duplas, com questões de Ciências, História, Geografia, Língua Portuguesa e Matemática. Para a nova turma de 5ª série, a experiência do Caraça foi aprimorada. Fazendo uma autocrítica do ano passado, os professores perceberam que a ecologia havia ficado muito centrada na defesa do meio ambiente em um lugar distante da realidade urbana dos alunos. "Este ano, pretendemos mostrar que a defesa do meio ambiente passa pela busca da qualidade de vida", planeja Marco Aurélio, revelando o que talvez seja a faceta mais interessante da interdisciplinaridade: ela é viva, pulsa, se agita, sofre mudanças e, portanto, exige constantes correções de rumo. Agora, a 5ª série está trabalhando a "Carta de um Índio Americano", juntamente com uma análise do filme Dança com Lobos, de Kevin Costner, que fala da conquista do Oeste norte- METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 25 americano e dos conflitos entre brancos e índios. "Assim, trabalharemos a destruição do meio ambiente e a discriminação racial", comenta o professor de História. Alunos e professores estão sempre aprendendo 8 O que acontecerá na reedição do Projeto Caraça? Ninguém sabe.Os professores nem imaginam aonde uma aventura do conhecimento como esta vai dar. E este é o melhor dos mundos para quem quer cutucar a curiosidade de seus alunos. Piaget definia a inteligência como a capacidade de estabelecer relações. Quando um projeto interdisciplinar consegue ligar conceitos pescados numa aula aqui, noutra ali, encoraja os alunos a encontrar respostas a partir de suas próprias perguntas. "O grande diferencial de um projeto desta natureza é a mudança de postura do professor", explica a pedagoga Rosamaria Calaes de Andrade, acrescentando que "toda dúvida, desejo ou problema vindo dos alunos pode ser assunto, desde que se faça o recorte adequado à faixa etária e ao programa exigido". Ela exemplifica. "Uma professora de Português da 2ª série de outro colégio de Belo Horizonte aproveitou a falta de um aluno, e o fato de ninguém saber seu telefone nem onde morava, para propor uma Agenda da Classe. Como as crianças precisaram ordenar os nomes em ordem alfabética, foi um jeito criativo de ensinar o abecedário", comenta Rosamaria. O professor de Estudos Sociais fez a classe estudar o bairro a partir do endereço de cada um. O de Matemática mostrou como é feita a numeração das casas nas ruas. Exemplos como este acontecem a todo momento. O que faz a diferença é o professor estar atento às oportunidades. O próprio Marco Aurélio se dá conta da mudança de atitude toda vez que entra em uma livraria. "Antigamente, eu ia para a estante dos livros de História e ficava por lá. Agora, comecei a me interessar por livros de Pedagogia e até de outras matérias", conta o professor, revelando o principal efeito da interdisciplinaridade na vida de quem dá ou recebe aulas: surge uma vontade danada de aprender mais, e mais, e mais (NOVA ESCOLA, 1999). TEXTO 2 - Um Projeto Interdisciplinar METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 26 Planejamento, troca de informações, incentivo ao trabalho de grupo e capacidade de improvisar a partir das necessidades de cada classe determinam o sucesso da Pedagogia de Projetos. A seguir, destacam-se os passos para a realização de um projeto Interdisciplinar: 1) DEFINIÇÃO DO TEMA Qual tema será o fio condutor do projeto: folclore, ecologia, trabalho, higiene pessoal, algum artista plástico ou escritor etc. 2) NECESSIDADE Definição do porquê se quer trabalhar este ou aquele tema. 3) OBJETIVOS O que se pretende alcançar e como o tema se liga ao programa curricular. 4) ABRANGÊNCIA Aqui se definem quais matérias estarão envolvidas no projeto interdisciplinar. 5) CRONOGRAMA Definição de datas de leitura do livro paradidático, trabalho de campo, provas ou outros métodos de avaliação. 6) METODOLOGIA Os professores discutem como cada um trabalhará o tema em sua disciplina. 7) RECURSOS Qual será o custo do projeto para a escola? Aqui se inserem palestrantes, guias para trabalhos de campo, transporte etc. 8) CRIA-SE O GANCHO Depois de tudo planejado, o professor pode aproveitar uma dúvida, desejo, problema ou curiosidade dos alunos para introduzir a ideia do projeto. 9) DESENVOLVIMENTO METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 27 Os grupos de alunos se formam, realizam trabalhos de campo, reuniões e discutem o formato das apresentações. 10) AVALIAÇÃO São feitas provas, peças de teatro ou produções audiovisuais e trabalhos que devem ser apresentados por grupos de alunos. 11) AUTOAVALIAÇÃO Alunos, professores e supervisores de ensino analisam os pontos positivos e negativos da experiência, sugerindo mudanças e repensando temas, metodologia, provas etc. 2 TODOS GANHAM COM A INTERDISCIPLINARIDADE 2.1 OS ALUNOS, PORQUE... aprenderam a trabalhar em grupo, do início ao fim do projeto; encontraram no Caraça lições práticas de relevo; viveram a experiência de fazer uma prova interdisciplinar em dupla; melhoraram o relacionamento com os colegas. 2.2 OS PROFESSORES, PORQUE... se viram forçados, pelos próprios alunos, a ampliar conhecimentos de outras áreas, o que melhora a própria formação; tiveram menos problemas de disciplina do que imaginavam nas aulas fora da sala; espantaram o tédio do planejamento e de sua execução durante o ano letivo; também melhoraram o relacionamento entre colegas. 2.3 A ESCOLA, PORQUE... cumpriu o programa de maneira ágil e eficiente; viu seus alunos comentar a experiência junto à comunidade; teve menos problemas com disciplina, pois muitos trabalhos em grupo eram feitos durante os intervalos. METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 28 3 METODOLOGIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS 9 3.1 BREVE HISTÓRICO DO ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS: FASES E TENDÊNCIAS DOMINANTES Para os PCNs (2000), o ensino de Ciências Naturais, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, tem se orientado por diferentes tendências que ainda hoje permanecem em sala de aula. Até a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases n. 4.024/61, o conhecimento científico era considerado neutro e não se punha em questão a verdade científica. A qualidade do ensino era definida pela quantidade de conteúdos, e as ideias eram apresentadas pelos professores e o aluno acompanhava pelo livro-texto. Com a influência das ideias da Escola Nova, o eixo da questão pedagógica deslocou- se para os aspectos psicológicos, valorizando a participação ativa do aluno no processo de aprendizagem. “As atividades práticas passaram a representar importante elemento para a compreensão ativa dos conceitos” (BRASIL, 2000, p. 20) e passaram a ser proclamadas como a grande solução para o ensino de Ciências: O objetivo fundamental do ensino de Ciências passou a ser o de dar condições para o aluno identificar problemas a partir de observações sobre um fato, levantar hipóteses, testá-las, refutá-las e abandoná-las quando fosse o caso, trabalhando de forma a tirar conclusões sozinho. O aluno deveria ser capaz de “redescobrir” o já conhecido pela ciência, apropriando- se de sua forma de trabalho compreendida então como “o método científico”: uma sequência rígida de etapas preestabelecidas. É com essa perspectiva que se buscava, naquela ocasião, a democratização do conhecimento científico, reconhecendo-se a importância da vivencia científica não apenas para eventuais cientistas, mas também para o cidadão comum (BRASIL, 2000, p. 20). METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 29 Durante muito tempo, a ênfase no “método científico” acompanhou os objetivos do ensino de Ciências Naturais. As concepções de produção do conhecimento científico e da aprendizagem das Ciências eram de cunho empirista/indutivista (a partir da experiência direta com os fenômenos naturais, seria possível descobrir as leis da natureza). No entanto, durante a década de 80, os pesquisadores do ensino de Ciências Naturais puderam demonstrar que o simples experimentar não garantia a aquisição do conhecimento científico. Desde então, as discussões travadas em torno do ensino de ciências se configuraram em uma tendência de ensino, conhecida como “Ciência, Tecnologia e Sociedade” (CTS), e é importante até os dias de hoje. Ainda nos anos 80, a análise do processo educacional passou a ter como tônica o processo de construção do conhecimento científico pelo aluno. Correntes da psicologia demonstraram a existência de conceitos intuitivos espontâneos, alternativos ou pré- concepções acerca dos fenômenos naturais. Essas noções não eram consideradas no processo de ensino e aprendizagem, mas eram centrais nas tendências construtivistas. Desde os anos 80 até hoje, é grande a produção acadêmica envolvendo pesquisas que investigam as pré-concepções de crianças e adolescentes sobre os fenômenos naturais e suas relações com os conceitos científicos. Essas pesquisas trouxeram informações relativasà mudança conceitual, núcleo de diferentes correntes construtivistas: São dois seus pressupostos básicos; a aprendizagem provém do envolvimento ativo do aluno com a construção do conhecimento e as ideias prévias dos alunos têm papel fundamental no processo de aprendizagem, que só é possível embasada naquilo que ele já sabe (BRASIL, 2000, p.23). Em uma sociedade em que há a supervalorização do conhecimento científico e com a crescente intervenção da tecnologia no dia-a-dia, não é possível pensar na formação de um sujeito à margem do saber científico. Mostrar a ciência como conhecimento que colabora para a compreensão do mundo e suas transformações, para reconhecer o homem como parte o universo e como indivíduo é a meta que se propõe para o ensino de ciências no Ensino Fundamental. 3.2 Aprender e ensinar Ciências Naturais no Ensino Fundamental METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 30 10 Para o ensino de Ciências Naturais, é necessária a construção de uma estrutura geral da área que favoreça a aprendizagem significativa do conhecimento historicamente acumulado e a formação de uma concepção de Ciências, suas relações com a Tecnologia e a Sociedade. De um lado, os estudantes possuem um repertório de representações, conhecimentos intuitivos, adquiridos pela vivência, pela cultura e senso comum, acerca dos conceitos que serão ensinados na escola. Campos (1999, p.83) pontua que “Essas concepções formuladas pelos alunos antes ou depois do ensino formal, que diferem da concepção cientifica para dado conceito, damos o nome de concepções alternativas ou conhecimentos prévios”. Entendemos que os alunos criam significados para as informações a que têm acesso, adaptando-as às próprias concepções. Desse modo, criam uma realidade própria que dá sentido à informação que receberam, sem, no entanto, alterar sua concepção inicial, mesmo recebendo informações científicas no ensino formal. SAIBA MAIS! METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 31 Para saber um pouco mais sobre as concepções dos alunos, leia o capítulo quatro: “Aquilo que os alunos já sabem“, do livro Didática de ciências: o ensino-aprendizagem como investigação, de Maria Cristina da Cunha Campo e Rogério Gonçalves Nigro. O professor é o principal articulador entre o conhecimento do aluno e o saber científico. Desta forma cabe a ele chamar a atenção para determinados detalhes, cores, formas dos objetos de estudo. No contexto da aprendizagem significativa, os alunos são convidados a praticar os procedimentos, no início a partir de modelos oferecidos pelo professor e, aos poucos, tornando-se autônomos. Por exemplo, ao trabalhar o desenho de observação, o professor inicia a atividade desenhando no quadro, conversando com a classe sobre os detalhes de cores e formas que permitem que o desenho científico, seja uma representação do objeto original. Em seguida, os alunos podem fazer seu próprio desenho de observação, esperando-se que esse primeiro desenho se assemelhe ao do professor. Em outras oportunidades, poderão começar o desenho de observação sem o modelo do professor, que ainda assim conversa com os alunos sobre detalhes necessários ao desenho (Brasil, 2000, p. 29). Além das concepções iniciais, têm-se o amadurecimento intelectual e emocional do aluno e as ideias de senso comum que o professor carrega. Por outro lado, têm-se a estrutura do conhecimento científico e seu processo histórico de produção, que envolve relações com várias atividades humanas, especialmente a tecnologia, com valores humanos e concepções de ciências. Os campos do conhecimento científico e suas teorias vigentes, com conjuntos de proposições e metodologias altamente estruturadas e formalizadas, apresentam-se muito longe do aluno em formação, portanto não podem ser as mesmas que organizam o ensino e a aprendizagem de Ciências Naturais no Ensino Fundamental, mas são um caminho para onde orientar as investigações em sala de aula e projetos de ciências. A história das ciências também é fonte de conhecimentos na área: A história das ideias científicas e a história das relações do ser humano com seu corpo, com os ambientes e com os recursos naturais devem ter lugar no ensino, para que se possa construir com os alunos uma concepção interativa de Ciência e Tecnologia não-neutras, contextualizada nas relações entre as sociedades humanas e a natureza (BRASIL, 2000, p.32). Pela abrangência e pela natureza dos objetos de estudo dessa área, é possível desenvolvê-la de forma dinâmica, orientando o trabalho escolar para o conhecimento sobre METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 32 fenômenos da natureza, incluindo o ser humano e as tecnologias mais próximas e mais distantes no espaço e no tempo: Estabelecer relações entre o que é conhecido e as novas ideias, entre o comum e o diferente, entre o particular e o geral, definir contrapontos entre os muitos elementos no universo de conhecimentos são processos essenciais à estruturação do pensamento, particularmente do pensamento cientifico (BRASIL, 2000, p. 32). No ensino e aprendizagem de ciências, é importante que o professor tenha claro que os conhecimentos não são reelaborados somente com apresentação de definições científicas, em geral, fora do alcance dos alunos. As definições devem ser construídas ao longo de suas observações, da mesma forma que conceitos, procedimentos e atitudes também são aprendidos. 3.3 Os conteúdos de Ciências Naturais no Ensino Fundamental Os conteúdos serão apresentados pela BNCC em em 3 unidades temáticas. São elas: Matéria e Energia, Vida e Evolução e Terra e Universo. De acordo com o Movimento pela Base Nacional Comum, grupo não governamental de profissionais da educação: “Ao longo do Ensino Fundamental, a área de Ciências da Natureza tem um compromisso com o desenvolvimento do letramento científico, ou seja, a capacidade de compreender e interpretar o mundo (natural, social e tecnológico), mas também de transformá-lo”. Para entender melhor, podemos começar olhando para nortes de ensino por trás dos conteúdos trazidos pelas unidades temáticas. Isso porque além das 10 Competências Gerais da BNCC, cada área também conta com suas próprias competências. Aliás, este é um grande foco de ensino trazido pela Base. Vale lembrar que as competências são a integração de um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA). Enquanto o conhecimento é aquilo que se sabe, as habilidades representam a capacidade de saber fazer. Já as atitudes dizem respeito ao querer fazer e estão diretamente ligadas à ação. Conheça então quais são elas para a área de ciências da natureza e a importância destes novos direcionamentos! http://movimentopelabase.org.br/acontece/area-de-ciencias-humanas-na-bncc/ https://educador360.com/gestao/gestao-escolar/bncc-o-que-muda-na-sua-escola/ https://educador360.com/gestao/gestao-escolar/bncc-o-que-muda-na-sua-escola/ METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 33 3.4 As 8 competências de Ciências da Natureza para o Ensino Fundamenta De acordo com a BNCC, são 8 as competências esperadas para esta área: 1. Compreender as Ciências da Natureza como empreendimento humano, e o conhecimento científico como provisório, cultural e histórico. 2. Compreender conceitos fundamentais e estruturas explicativas das Ciências da Natureza, bem como dominar processos, práticas e procedimentos da investigação científica, de modo a sentir segurança no debate de questões científicas, tecnológicas, socioambientais e do mundo do trabalho, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 3. Analisar, compreender e explicar características, fenômenos e processos relativos ao mundo natural, social e tecnológico (incluindo o digital), como também as relações que se estabelecementre eles, exercitando a curiosidade para fazer perguntas, buscar respostas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das Ciências da Natureza. 4. Avaliar aplicações e implicações políticas, socioambientais e culturais da ciência e de suas tecnologias para propor alternativas aos desafios do mundo contemporâneo, incluindo aqueles relativos ao mundo do trabalho. 5. Construir argumentos com base em dados, evidências e informações confiáveis e negociar e defender ideias e pontos de vista que promovam a consciência socioambiental e o respeito a si próprio e ao outro, acolhendo e valorizando a diversidade de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de qualquer natureza. 6. Utilizar diferentes linguagens e tecnologias digitais de informação e comunicação para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver problemas das Ciências da Natureza de forma crítica, significativa, reflexiva e ética. 7. Conhecer, apreciar e cuidar de si, do seu corpo e bem-estar, compreendendo- se na diversidade humana, fazendo-se respeitar e respeitando o outro, recorrendo aos conhecimentos das Ciências da Natureza e às suas tecnologias. 8. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, recorrendo aos conhecimentos das Ciências da Natureza para tomar decisões frente a questões científico-tecnológicas e http://base-nacional-comum-curricular.blogspot.com/2018/03/43-area-de-ciencias-da-natureza.html METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 34 socioambientais e a respeito da saúde individual e coletiva, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários. 3.5 Quais os principais reflexos desta aprendizagem? Como as competências dizem respeito ao conhecimento colocado em prática, o esperado é estes estudos permitam uma mudança de comportamento. No final, todos é necessário que este aprendizado se reverta em atitudes com base em princípios éticos e sustentáveis. A partir do entendimento da vida e seus diversos aspectos, eles poderão refletir sobre a existência em diferentes níveis. Começando pela compreensão de si próprios e de sua saúde física, mental e emocional. Depois também levando em conta todos os seres humanos e o meio ambiente. Por fim chegando ao estudo de outros planetas e o espaço. Percebe-se a grande importância do sentido de pertencimento em uma visão de todo. Afinal, é a partir desta compreensão que somos capazes de desenvolver o respeito por todo ser vivo e ambiente. É importante considerar os diversos problemas socioambientais em que vivemos como poluição, fome, doenças, desmatamento, entre outros. Dessa forma as competências aplicadas através de ciências da natureza, são urgentes para a qualidade de vida no planeta hoje. O estímulo do interesse e a curiosidade científica deverão ser responsáveis pela cooperação e pelo trabalho coletivo. A intenção é um estilo de vida mais saudável de forma individual e coletiva. http://info.geekie.com.br/bncc-ciencias/ METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 35 4 OS BLOCOS TEMÁTICOS Os conteúdos de Ciências são organizados em três blocos temáticos, propostos para o Ensino Fundamental: Materia e Energia; Vida e Evolução e Terra e Universo. 4.1 MATERIA E ENERGIA 11 O ponto central da unidade temática Matéria e Energia é desenvolver a capacidade de entender a natureza da matéria e os diferentes usos da energia. Isso envolve compreender a origem, a utilização e o processamento de recursos naturais e energéticos. Nas últimas décadas, têm-se presenciado, nos meios de comunicação, debates sobre problemas ambientais, o que tem contribuído para que as populações estejam alerta. Entretanto, a simples divulgação não assegura a aquisição de informações e conceitos referendados pelas Ciências. É comum a banalização do conhecimento científico – o emprego de ecologia como sinônimo de meio ambiente é um exemplo – e a difusão de visões distorcidas sobre a questão ambiental. METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 36 A partir do senso comum, desenvolvem-se representações sobre o meio ambiente e problemas ambientais, geralmente pouco rigorosas do ponto de vista científico. É papel da escola provocar a revisão desses conhecimentos, enriquecendo-os com informações científicas: Como conteúdo escolar, a temática ambiental permite apontar para as relações recíprocas entre sociedade e ambiente, marcadas pelas necessidades humanas, seus conhecimentos e valores. As questões específicas dos recursos tecnológicos, intimamente relacionados às transformações ambientais, também são importantes conhecimentos a serem desenvolvidos (BRASIL, 2000, p. 45). O tema transversal Meio Ambiente envolve a discussão a respeito da relação entre os problemas ambientais e os fatores econômicos, políticos, sociais e históricos. São problemas que tratam de discussões sobre responsabilidades humanas, voltadas ao bem- estar comum e ao desenvolvimento sustentado, na perspectiva da reversão da crise socioambiental planetária. Sua discussão completa demanda fundamentação em diferentes campos de conhecimento. Assim, tanto as ciências humanas quanto as Ciências Naturais contribuem para a construção de seus conteúdos. A Ecologia é o referencial teórico para os estudos ambientais. Em uma definição ampla, a Ecologia estuda as relações de interdependência entre os organismos vivos e destes com os componentes sem vida do espaço em que habitam, resultando em um sistema aberto, denominado ecossistema: Tais relações são enfocadas nos estudos das cadeias e teias alimentares, dos níveis tróficos (produção, consumo e decomposição), do ciclo dos materiais e fluxo de energia, da dinâmica das populações, do desenvolvimento e evolução dos ecossistemas (BRASIL,2000, p. 46). Em cada um desses capítulos, lança-se mão de conhecimentos da Química, da Física, da Geologia, da Paleontologia, da Biologia e de outras ciências, o que faz da Ecologia uma ciência interdisciplinar. Outro ponto a ser discutido, nesse bloco, é que os fundamentos científicos devem subsidiar a formação de atitudes dos alunos: Não basta ensinar, por exemplo, que não se deve jogar lixo nas ruas ou que é necessário não desperdiçar materiais, como água, papel ou plástico. Para que essas atitudes e valores se justifiquem, para não serem dogmas vazios de significados, é necessário informar sobre as implicações ambientais dessas ações. Nas cidades, lixo nas ruas pode significar bueiros entupidos e água de chuva sem escoamento, favorecendo as enchentes e a propagação de moscas, ratos ou outros veículos de doenças. Por sua vez, o desperdício de materiais, considerado no enfoque das relações entre os componentes do ambiente, pode significar a intensificação de extração de recursos naturais, como petróleo e vegetais que são matéria-prima para a produção de plásticos e papel (BRASIL, 2000, p. 48). METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 37 Ao realizar procedimentos de observação e experimentação, os alunos buscam informações e estabelecem relações entre elementos dos ambientes, subsidiados por informações complementares, oferecidas por outras fontes ou pelo professor. 4.2 SER HUMANO E SAÚDE 12 Este texto foi retirado integralmente dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) de Ciências Naturais, por abordar uma visão globalizada do estudo do corpo humano, importante para a compreensão do aluno: A concepção de corpo humano como um sistema integrado, que interage com o ambiente e reflete a história de vida do sujeito, orienta esta temática. Assim como a natureza, o corpo humano deve ser visto como um todo dinamicamente articulado; os diferentes aparelhos e sistemas que o compõem devem ser percebidos em suas funções específicaspara a manutenção do todo. Importa, portanto, compreender as relações fisiológicas e anatômicas. Para que o aluno compreenda a maneira pela qual o corpo se transforma, transporta e elimina água, oxigênio, alimentos, obtém energia, se defende da invasão de elementos danosos, coordena e integra as diferentes funções, é importante conhecer os METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 38 vários processos e estruturas e compreender a relação de cada aparelho e sistema com os demais. É essa relação que assegura a integridade do corpo e faz dele uma totalidade. Tanto quanto as relações entre aparelhos e sistemas, as interações com o meio respondem pela manutenção da integridade do corpo. A maneira como tais interações se estabelecem, permitindo ou não a realização das necessidades biológicas, afetivas, sociais e culturais, fica registrada no corpo. Por isso se diz que o corpo reflete a história de vida do sujeito. A carência nutricional, afetiva e social, por exemplo, desenham o corpo humano, interferem na sua arquitetura e no seu funcionamento. Portanto, o conhecimento sobre o corpo humano para o aluno deve estar associado a um melhor conhecimento do seu próprio corpo, por ser seu e por ser único, e com o qual ele tem uma intimidade e uma percepção subjetiva que ninguém mais pode ter. Essa visão favorece o desenvolvimento de atitudes de respeito e de apreço pelo próprio corpo e pelas diferenças individuais. O equilíbrio dinâmico, característico do corpo humano, é chamado de estado de saúde. Pode-se então compreender que o estado de saúde é condicionado por fatores de várias ordens: físicos, psíquicos e sociais. A falta de um ou mais desses condicionantes da saúde pode ferir o equilíbrio e, como consequência, o corpo adoece. Trabalhando com a perspectiva do corpo como um todo integrado, a doença passa a ser compreendida como um estado de desequilíbrio do corpo e não de alguma de suas partes. Uma disfunção de qualquer aparelho ou sistema representa um problema do corpo todo e não apenas daquele aparelho ou sistema. Como ser vivo que é, o ser humano tem seu ciclo vital: nasce, cresce, se desenvolve, se reproduz e morre. Cada uma dessas fases é fortemente marcada por aspectos socioculturais que se traduzem em hábitos, comportamentos, rituais próprios de cada cultura. A alimentação, por exemplo, é uma necessidade biológica comum a todos os seres humanos. Todos têm necessidade de consumir diariamente uma série de substâncias alimentares, fundamentais à construção e ao desenvolvimento do corpo – proteínas, vitaminas, carboidratos, lipídios, sais minerais e água. Os tipos de alimentos e a forma de prepará-los são determinados pela cultura e pelo gosto pessoal. Atualmente, a mídia tem se incumbido de ditar a alimentação mediante a veiculação de propaganda. É muito importante estar atento às ciladas que a propaganda prega. O consumo é o objetivo principal da propaganda – de alimentos ou de medicamentos -, não importando o comprometimento da saúde. Pesquisas têm mostrado que o índice elevado de colesterol no sangue deixou de ser um problema apenas de adultos, para ser também de crianças. E METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 39 não se trata de casos esporádicos; vem crescendo o número de crianças com índice elevado de colesterol. Motivo: consumo de sanduíches e doces no lugar de refeições com verduras, cereais e legumes. É importante que o trabalho sobre o crescimento e o desenvolvimento humanos leve em conta as transformações do corpo e do comportamento nas diferentes fases da vida – nascimento, infância, juventude, idade adulta e velhice -, evidenciando-se e intercruzando-se os fatores biológicos, culturais e sociais que marcam tais fases. Importa, ainda, que se enfatize a possibilidade de realizar escolhas na herança cultural recebida e de mudar hábitos e comportamentos que favoreçam a saúde pessoal e coletiva e o desenvolvimento individual. É papel da escola subsidiar os alunos com conhecimentos e capacidades que os tornem aptos a discriminar informações, identificar valores agregados a essas informações e realizar escolhas. Por exemplo, o hábito da automedicação, que se constitui fator de risco à vida, não é um hábito a ser preservado, pois fere um valor importante a ser desenvolvido: o respeito à vida com qualidade. Da mesma forma, outros hábitos e comportamentos como jogar lixo em terrenos baldios, descuido com a higiene pessoal, discriminação de pessoas de padrões culturalmente distintos etc., podem e devem ser trabalhados. A sexualidade humana deve ser considerada nas diferentes fases da vida, compreendendo que é um comportamento condicionado por fatores biológicos, culturais e sociais, que tem um significado muito mais amplo e variado que a reprodução, para pessoas de todas as idades. É elemento de realização humana em suas dimensões afetivas e sociais, que incluem, mas não se restringem à dimensão biológica. Tão importante quanto o estudo da anatomia e da fisiologia dos aparelhos reprodutores, masculino e feminino, a gravidez, o parto, a contracepção, as formas de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis, é a compreensão de que o corpo humano é sexuado, que a manifestação da sexualidade assume formas diversas ao longo do desenvolvimento humano e, como qualquer comportamento, é modelado pela cultura e pela sociedade. Esse conhecimento abre possibilidades para o aluno conhecer-se melhor, perceber e respeitar suas necessidades e as dos outros, realizar escolhas, perceber e respeitar suas necessidades e as dos outros, realizar escolhas dentro daquilo que lhe é oferecido. O aspecto rítmico das funções do corpo humano pode ser abordado em conexão com o mesmo aspecto observado para os demais seres vivos, evidenciando-se o aspecto da natureza biológica do ser humano. Algumas funções rítmicas interessantes e facilmente observáveis são a floração e a frutificação de plantas ao longo do ano, o estado de sono e METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 40 vigília no ser humano e nos demais animais, a menstruação nas mulheres, o cio entre os animais etc. Pode-se ainda estabelecer relações entre os ritmos fisiológicos e os geofísicos, como o dia e a noite e as estações do ano. Os ritmos fisiológicos estão ajustados aos geofísicos, embora sejam independentes. Por exemplo: o ciclo sono-vigília está ajustado ao ciclo dia-noite (movimento da Terra em torno de seu eixo). Se isolarmos uma pessoa dentro de uma caverna onde o ciclo dia-noite inexista, ela continuará tendo períodos de sono e períodos de vigília, mas o tamanho de cada um desses períodos se modificará. 4.3 RECURSOS TECNOLÓGICOS 13 A transformação da natureza para a utilização de recursos naturais – alimentos, materiais e energia – é inseparável da civilização. Este bloco temático enfoca as transformações dos recursos materiais e energéticos em produtos necessários à vida humana como aparelhos, máquinas, instrumentos e processos que possibilitam essas transformações e as implicações sociais do desenvolvimento e do uso de tecnologia. O conhecimento da história da humanidade, da Pré-História aos dias atuais, nas diferentes culturas, tem a tecnologia como referência importante. Assim, o período Paleolítico foi caracterizado pelo domínio do fogo e pelo uso da pedra lascada como instrumento de caça e pesca, substituído pela pedra polida no período Neolítico, quando os instrumentos sofriam polimento por meio de atrito. Durante este período, desenvolveram- se também a agricultura, a criação de animais e a utilização do ouro e do cobre, metais que dispensam fundição e refinação, cuja tecnologia foi elaborada no período seguinte. METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 41 Podemos acreditar, então, que o desenvolvimento e a especialização das populações humanas, ao longo dos tempos, ocorreram juntamentecom o desenvolvimento tecnológico, que foi sendo aperfeiçoado: Este bloco temático comporta discussões acerca das relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade, no presente e no passado, no Brasil e no mundo, em vários contextos culturais. As questões éticas, valores e atitudes compreendidos nessas relações são aspectos fundamentais a investigar nos temas que se desenvolvem em sala de aula. A origem e o destino social dos recursos tecnológicos, as consequências para a saúde pessoal e ambiental e as vantagens sociais do emprego de determinadas tecnologias são exemplos de aspectos a serem investigados (BRASIL, 2000, p.55). O conhecimento acerca dos processos de extração e cultivo de plantas em hortas, pomares e lavouras, de criação de animais em granjas, viveiros e pastagens, de extração e transformação industrial de metais, de extração de areia e outros materiais utilizados na construção civil podem ser abordados, considerando os conteúdos de Recursos Tecnológicos e Ambiente, possibilitando, ainda, conexão com o tema transversal Meio Ambiente. As funções de nutrição podem ser trabalhadas em conexão com o bloco “Recursos tecnológicos”. Ao lado do conhecimento sobre as substâncias alimentares e suas funções para o organismo; as necessidades alimentares de acordo com idade, sexo, atividade que o sujeito desenvolve e clima da região onde vive, pode-se estudar o problema da deterioração dos alimentos e as técnicas desenvolvidas para conservação dos mesmos, considerando-se o alcance social de tal desenvolvimento. A indústria alimentícia pode ser discutida, investigando-se alguns processos de transformação dos alimentos, adição de substâncias corantes, conservantes, etc. Pode-se discutir as relações com aspectos político-econômicos envolvidos na disponibilidade de tais alimentos. 4.4 TERRA E UNIVERSO METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 42 14 Este texto foi retirado integralmente dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) de Ciências Naturais, por abordar uma visão globalizada do estudo da Terra e do Universo, importante para a compreensão do aluno: A busca em entender o Universo não é nova. Ao longo da História construíram-se modelos para explicar a Terra e o Universo, sendo de grande importância a transição para o modelo heliocêntrico, desenvolvido por Copérnico, pois levou-se séculos para desenvolver uma alternativa ao ponto de vista geocêntrico, de Ptolomeu. A ruptura só foi possível por mudanças de perspectiva no olhar. O Sistema Solar só foi concebido quando se imaginou sair da Terra e poder olhar de longe o conjunto de planetas movendo-se em torno do Sol. Isto significa um esforço gigantesco para se imaginar um centro de observação que não coincide com o lugar onde se está concretamente. Para os estudantes, é difícil a superação de concepções intuitivas acerca da forma da Terra, sua espessura, seu diâmetro, sua localização e descrição de seus movimentos. São concepções que permitem às crianças pequenas desenharem-se dentro da Terra. Por isso, é importante que o professor abra o diálogo para as distintas concepções de seus estudantes sobre o Universo antes de ensinar a perspectiva científica consagrada. Por isso, iniciar o estudo de corpos celestes a partir de um ponto de vista heliocêntrico, explicando os movimentos de rotação e translação, é ignorar o que os alunos sempre observaram. Uma forma efetiva de desenvolver as ideias dos estudantes é proporcionar observações sistemáticas, fomentando a explicitação das METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 43 ideias intuitivas, solicitando explicações a partir da observação direta do Sol, da Lua, das outras estrelas e dos planetas. A mediação do professor será benéfica quando ajudar o próprio estudante a imaginar e a explicar aquilo que observa, ao mesmo tempo em que torne acessíveis informações sobre outros modelos de Universo e trabalhe com eles, quando for o caso, os conflitos entre as diferentes representações. Neste trajeto, os estudantes devem incorporar novos enfoques, novas informações, mudar suas concepções de tempo e espaço. Os estudantes devem ser orientados para articular informações com dados de observação direta do céu, utilizando as mesmas regularidades que nossos antepassados observaram para orientação no espaço e para medida do tempo, o que foi possível muito antes da bússola, dos relógios e do calendário atual, mas que junto a eles ainda hoje organizam a vida em sociedade em diversas culturas, o que pode ser trabalhado em conexão com o tema transversal Pluralidade Cultural. Dessa forma, os estudantes constroem o conceito de tempo cíclico de dia, mês e ano, enquanto aprendem a se situar na Terra, no Sistema Solar e no Universo. É necessário, contudo, ampliar esse conceito de tempo cíclico, promovendo também a ideia de tempo não-cíclico: o tempo histórico, que comporta as ideias de evolução, de passado, de registro, de memória e de presente, de mudanças essenciais e irreversíveis. O conhecimento sobre os corpos celestes foi sendo acumulado historicamente também pela necessidade de se aprender a registrar o tempo cíclico e de se orientar no espaço. Já, na fase nômade, a espécie humana associava mudanças na vegetação, hábitos de animais, épocas de chuvas com a configuração das estrelas ou com o trajeto do Sol. Com a elaboração do mapa dos céus, começou-se a desenvolver a Geometria, situando o ser humano com maior precisão na Terra e no espaço cósmico. Mas, apesar da conexão observada entre os ritmos biológicos dos seres vivos, como hábitos alimentares e épocas de reprodução, e os ritmos cósmicos, como dia, mês e estações do ano, muitas variações e transformações do ambiente terrestre não dependem exclusivamente de fatores relacionados aos corpos celestes. Entre outros fatores, muitas dessas transformações são provocadas pela ação humana, como a degradação ambiental e a promoção das alterações do relevo. Outras transformações ocorrem em razão da própria estrutura, da orientação do eixo de rotação e dos movimentos do nosso planeta. Por ser uma esfera com eixo de rotação inclinado em relação ao plano de translação, diferentes regiões da Terra METODOLOGIA DOS ANOS INICIAIS Pedagogia 44 captam a luz e o calor do Sol com intensidades muito diferentes ao longo de todo o ano, constituindo variados climas e biomas, característicos das latitudes em que se encontram. São conhecimentos que tiveram um longo percurso até sua sistematização atual. A estrutura interna da Terra é também dinâmica, originando vulcões, terremotos e distanciamento entre os continentes, o que altera constantemente o relevo e a composição das rochas e da atmosfera, seja pela deposição de gases das erupções, seja por mudanças climáticas drásticas, como glaciações e degelos. Portanto, as paisagens, tal como são percebidas, representam apenas um momento dentro do longo e contínuo processo de transformação pelo qual passa a Terra, em uma escala de tempo de muitos milhares, milhões e bilhões de anos: é a escala de tempo geológico, como é hoje conhecida. O conhecimento de algumas dessas transformações geológicas que ocorreram em tempos distantes foi sendo constituído conforme foram sendo decifradas a composição e a formação da litosfera. Fósseis de seres vivos extintos sugerem ambientes terrestres organizados de formas muito diferentes daquelas conhecidas atualmente, mas que propiciaram o surgimento da vida, fato exclusivo em todo o Universo conhecido até o momento. A interpretação de registros concretos do passado pode facilitar a compreensão do significado do tempo geológico, não-cíclico, se forem retomados em vários conteúdos trabalhados. A água, representando atualmente ¾ da superfície terrestre, foi fundamental para a origem da vida, diferenciando nosso planeta. Os fenômenos dos quais a água participa, como intemperismo,
Compartilhar