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Mesquita azul - período islâmico



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Período Islâmico: Mesquita azul 
Ágata Bujes de Lima estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Fernando 
Pessoa 
 
RESUMO 
A história da arquitetura é fundamental para formação do arquiteto nos dias de hoje, 
tudo que temos hoje em dia carregam derivações e influências do passado. Nesse sentido, 
o presente trabalho tem como objetivo principal estudar e investigar aspectos 
relacionados a um período específico da história da arquitetura, o período islâmico. 
Busca-se com este artigo analisar como a Mesquita Sultão Ahmed, mais conhecida como 
Mesquita Azul, propõe características e circunstâncias do período em questão. 
 
Palavras chave: História da arquitetura, Mesquita Azul, Mesquita Sultão Ahmed, 
período islâmico. 
 
ABSTRACT 
The history of architecture is fundamental to the qualification of new architects, 
everything we have nowadays are a derivation of influences of the past. Therefore, this 
article’s main focus is to investigate and study an specific period of the history of 
architecture, the Islamic Period. With this article, we want to analyze how the Sultan 
Ahmed Mosque, better known as The Blue Mosque, presents characteristics and 
circumstances of the studied period. 
 
Keywords: History of Architecture, Blue Mosque, Sultan Ahmed Mosque, Islamic 
Period. 
 
1 INTRODUÇÃO 
A arquitetura é uma arte que envolve a criação e elaboração de construções que 
torneiam o homem, ela é composta pela combinação de todos os elementos que a 
constituem, ou seja, ela não é feita meramente para ser apenas apreciada (Rasmussen, 
2007). Logo, a arquitetura, sendo uma arte antiga e necessária, desde seus primórdios 
serve como um pilar fundamental para sociedade atual. A arquitetura é desdobrada em 
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uma vasta gama de períodos que a caracterizam e lhe promovem conceito e forma. Este 
artigo tem como base, portanto, o estudo do período islâmico. 
 
O início do período islâmico é dado no século XII na península Árabe. O período 
islâmico, portanto, se origina a partir da migração de Maomé e seus seguidores para 
Medina, deslocação conhecida por Hégira (Islamic Finder, 2021). 
 
 A arquitetura islâmica é a representação artística da religião do Islão. Ela teve seus 
primeiros registos após a conquista da cidade de Meca por Maomé em 630, que 
proclamou um deus único, Alá. Em decorrência disto, foi realizada a reconstrução do 
santuário Caaba, antes da morte de Maomé em 632, construção que foi concebida como 
um dos primeiros trabalhos reconhecidos da arquitetura islâmica. Com a conquista de 
novos territórios pelos exércitos muçulmanos, novos templos surgiam. Ritual que virou 
tradição religiosa, sempre que um novo território era dominando, um novo templo era 
levantado. Com o decorrer da morte de Maomé, no ano de 632, a partir das novas 
conquistas de território, novas características passaram a ser integradas na arquitetura 
islâmica. Características que são fortemente influenciadas pelas arquiteturas presentes nas 
regiões conquistadas pelo império islâmico (Demant, 2013). 
 
A Arábia situava-se próxima do Império Bizantino, uma superpotência cuja capital 
era Constantinopla. Com a queda de Constantinopla, que foi dominada pelo império 
Otomano em 1453, a cidade ganhou o nome de Istambul e tornou-se a capital do Império 
Otomano (Demant, 2013). Nesse contexto, a cidade ganhou duas grandes mesquitas 
principais: A Mesquita de Santa Sofia, antiga basílica cristã convertida em mesquita logo 
após a conquista da cidade e a Mesquita Sultão Ahmed. 
 
A Mesquita Azul - ou Mesquita Sultão Ahmed - foi construída com o objetivo de 
reafirmar o poder do império após a derrota na guerra contra a Pérsia de 1603 a 1618. A 
mesquita, portanto, leva esse nome por conta do Sultão que liderava na época, o Sultão 
Ahmed (Blue Mosque, 2012). Além disso, ela foi concebida com o intuito de superar a 
Mesquita de Santa Sofia. 
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O presente artigo utiliza como materiais e métodos de pesquisa os recursos 
bibliográficos. A seguir serão apresentados os principais objetivos deste artigo. 
 
2 OBJETIVOS 
Este artigo tem como principais tem como objetivo principal estudar e investigar 
aspectos relacionados ao período islâmico. Busca-se analisar como a Mesquita Sultão 
Ahmed, mais conhecida como Mesquita Azul, propõe características e circunstâncias do 
período em questão. 
 
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
3.1 Islão 
É de fundamental importância o esclarecimento do modo em que os mulçumanos 
enxergam o mundo, para uma melhor compreensão deste artigo. Nesse sentido, a palavra 
‘mulçumano’ referência a todos indivíduos que são devotos à Allah, deus da religião 
islâmica. Portanto, o islão ou islamismo fazem referência a uma religião monoteísta, ou 
seja, crença na existência de apenas um deus Allah. O mesmo, confia ao profeta, chamado 
Muhammad ou Maomé, a difusão de sua palavra através do Alcorão (Gonçalves, 2019). 
 
Alcorão é o livro sagrado da religião islâmica que unifica todos os seus devotos ao 
redor do mundo. O livro é baseado em cinco princípios básicos, os Cinco Pilares, os quais 
todos os membros da religião devem seguir. Ele tem sua organização formada por suras 
– nomenclatura associada aos capítulos do Alcorão – que no que lhe diz respeito, são 
compostas por versículos (Blanchard, 2006). 
 
Figura 1 – Alcorão 
 
Fonte: UNESCO. 
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A arquitetura está entre as mais grandiosas formas da arte islâmica e serve como 
um dos principais meios de comunicação da fé e da cultura islâmica. Conforme Gonçalves 
(2019, p. 24): 
A Cúpula do Rochedo em Jerusalém, a Mesquita dos Omíadas em Damasco, a Mesquita dos Aglábidas em 
Cairuão, na Tunísia, a Grande Mesquita do Califado em Córdova, em Espanha, cada um destes edifícios, 
hoje considerados monumentos, são a marca física na Térra do esplendor do Islão primitivo. 
 
3.2 Islão e arquitetura 
A arquitetura islâmica provém uma visão das crenças e práticas dos muçulmanos 
através da história, ela se adapta e corresponde a culturas e práticas tradicionais variadas 
que foi sustentada por diferentes gerações islâmicas sem interferir com a sua 
espiritualidade. Com frequência isso mostra para o mundo sua forma e exemplifica sua 
imagem (Ahmad, 2010). 
 
Entende-se que a arquitetura islâmica não assume apenas função religiosa, ou é 
relacionada às construções produzidas em terras mulçumanas. A arquitetura islâmica 
pode ser compreendida como uma arquitetura que reflete um tipo de civilização 
conduzida por virtudes relacionadas à fé Islâmica (Gonçalves, 2019). Nesse sentido, a 
arquitetura do mundo islâmico pode representar mais que, apenas, aspetos funcionais e 
arquitetônicos, poderá ser a ilustração do poder político e da soberania. 
 
A arquitetura islâmica tem seu início marcado pela reconstrução de Caaba, um 
santuário em forma de cubo situado no centro de Meca, concebida como o centro do 
mundo muçulmano. Caaba tem sua importância relacionada a peregrinação do hajj, 
considerada como um dos Cinco Pilares do Islamismo (Amstrong, 2002). 
 
Figura 2 - Caaba 
 
Fonte: Britannica. 
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A religião Islâmica, desde que se originou na Península Arábica, expandiu-se 
através de seus seguidores para outras regiões não se limitando apenas às localidades 
adjuntas da Arábia. A expansão para novos territórios foi agregando uma vasta quantidade 
de regiões como, por exemplo, a costa do mediterrâneo, as margens da Europa, até entrar 
nesse continente, primeiro pela península Ibérica e, posteriormente, por Constantinopla, 
na atual Turquia, entre outras (Santos e Teixeira, 2017). A conquista do território de 
Constantinopla é um dos enfoques principais deste artigo, pois é nesse território que é 
desenvolvida a Turquia e futuramente construída a Mesquita Azul. 
 
3.3 Mesquita azul 
Logo após a conquista de Constantinopla, a basílica de Santa Sofia foi convertida 
em mesquita, e seu esplendor serviu como inspiração para Mimar Sinan,o arquiteto real 
de Suleiman II, a desenvolver uma nova expressão arquitetônica. Esta nova expressão, 
tem sua importância relacionada a nova essência de caráter islâmico, que serviu como 
elemento caracterizador da arquitetura Otomana (Gonçalves, 2019). 
 
A arquitetura islâmica tem como um de seus elementos principais as mesquitas, e, 
portanto, as mesquitas Otomanas podem ser definidas da seguinte forma de acordo com 
Gonçalves (2019): 
Define-se por uma planta retangular, que possui um espaço centralizado coroado por uma grande cúpula 
cercada por semicúpulas. O espaço central abre-se para um pátio, onde por norma se encontra a fonte de 
ablusões, cercado por arcadas cobertas por pequenas cúpulas. A sala de oração é enfatizada através da 
sucessão de semicúpulas em contraste, o interior com o exterior, com os minaretes em forma de agulha. 
 
A Mesquita Azul ou Mesquita Sultão Ahmed é uma das mais consagradas 
mesquitas da sua época. Ela fica localizada em frente a Mesquita de Santa Sofia, em 
Istambul na Turquia, região onde antigamente pertencia ao império bizantino. Fato que 
resultou na presença de certa influência arquitetônica pelo antigo império daquela região 
(Gonçalves, 2019). 
 
 
 
 
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Figura 3 – Mesquita Azul 
 
Fonte: Sultanahmet camii (Blue Mosque) Istanbul 
 
3.4 Mesquita Azul e sua relação com o período islâmico 
Com a instituição do império otomano e a conquista de Constantinopla em 1453, 
que marca o fim da idade média, a arquitetura Turca anuncia novas expressões 
arquitetônicas, sendo que a cúpula adquire uma maior importância. 
 
Apesar de receber forte influência arquitetônica do império bizantino, a Mesquita 
azul possui inúmeras características marcantes e tradicionais do islão, fazendo assim, com 
que seja possível classificar diversos pontos de seu projeto em alguma das duas vertentes 
de inspiração. 
 
As cúpulas e semicúpulas, por exemplo, são características proveniente do contato 
com a arquitetura do império bizantino, posteriormente adaptada e realocada em efeito 
cascata, característica que diz respeito à arquitetura islâmica. Nesse sentido, a cúpula 
principal repousa sobre quatro grandes semicúpulas e cada qual repousa sobre três 
semicúpulas menores, diferenciando-se da Mesquita de Santa Sofia cuja cúpula é 
sustentada por apenas duas semicúpulas. Por fim, a existência de quatro semicúpulas 
acentua um sentido vertical e salienta a centralização do espaço. 
 
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Figura 4 – Mesquita Sultão Ahmed (cúpulas e semicúpulas) 
 
Fonte: Sultanahmet camii (Blue Mosque) Istanbul 
 
Os Minaretes, elemento proveniente da influência das torres romanas e bizantinas, 
são torres onde são anunciadas as cinco orações diárias. Apesar do minarete ser uma torre, 
é possível identificá-lo como uma característica da arquitetura islâmica otomana devido 
a sua forma fina, com um alto teto cónico. Podendo ser conhecido também como minarete 
de agulha. 
 
Figura 5 – Mesquita Sultão Ahmed (minaretes) 
 
Fonte: Sultanahmet camii (Blue Mosque) Istanbul 
 
O Mihrab é um nicho presente na Quibla, que indica a direção de Meca, para o qual 
os muçulmanos devem voltar-se para orar. O Minbar é um Local elevado, presente no 
interior da mesquita, localizado à direita do mihrab, é uma espécie de escada que serve 
como púlpito. Este último, também faz referência aos altares das igrejas católicas. 
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Figura 6 – Mesquita Sultão Ahmed (Mihrab/Minbar e Quibla) 
 
Fonte: Sultanahmet camii (Blue Mosque) Istanbul 
 
A Madrassa é uma escola religiosa, que visa principalmente o ensino do Alcorão e 
está anexada a Mesquita Azul. 
 
A decoração interna da mesquita é composta por tradicionais azulejos, onde são 
representados ciprestes, tulipas, rosas e frutas – através da geometria e da caligrafia - nas 
cores azul e verde. Estas representações trazem à tona a percepção de leveza e fazem 
referência a um paraíso abundante de recursos naturais. 
 
Figura 5 – Mesquita Sultão Ahmed (decoração interna) 
 
Fonte: Sultanahmet camii (Blue Mosque) Istanbul 
 
4 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADAS 
A presente análise tem como base principal o estudo da arquitetura da Mesquita 
Sultão Ahmed e sua relação com o período islâmico. A escolha desta análise surge a partir 
de uma curiosidade pessoal acerca do período em questão. Pois, por vezes somos forçados 
a aceitar um conceito concebido pela visão ocidental, que muitas vezes, pode ser 
comunicado de forma errônea e a difusão desse tipo de ideia, por vezes auxilia na 
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atenuação da visão que temos acerca da importância das contribuições da arquitetura 
islâmica. 
 
A pesquisa é desdobrada, portanto, em dois grandes pilares. O primeiro diz respeito 
ao período islâmico e suas características arquitetônicas. Já o segundo, apresenta um 
enfoque nas características da Mesquita Sultão Ahmed e sua referência ao período 
islâmico. A metodologia deste trabalho baseia-se, portando, majoritariamente em uma 
pesquisa bibliográfica, a fundamentação teórica. Com essa fundamentação, pretende-se 
entender o início e a trajetória histórica da arquitetura islâmica, para estabelecer as 
variáveis que contribuíram juntamente com as influências bizantinas para a construção da 
famosa Mesquita Sultão Ahmed. 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Por fim, a arquitetura, uma das mais importantes formas de expressão da arte e da 
cultura dos muçulmanos, foi difundida em diversos lugares do mundo durante a história 
da expansão do império islâmico. E nesse processo absorveu para si particularidades de 
inúmeras civilizações, um exemplo é a influência cristã, que foi incorporada após a queda 
de Constantinopla, a capital do milenar Império Bizantino (Império Romano do Oriente), 
cidade essa que se tornou Istambul, a capital do Império Turco-Otomano. Local que hoje 
abriga dois importantíssimos locais sagrados para a fé do Islão, a Mesquita de Santa Sofia, 
antiga basílica cristã, que serviu como fonte de inspiração para a construção da Mesquita 
Sultão Ahmed, conhecida também como Mesquita Azul, que nasceu com dois objetivos, 
historicamente, com intenção de reafirmar o poder do império e de seu sultão, após uma 
derrota contra o exército persa e religiosamente, tinha em vista, superar sua contrapartida 
de origem romana. 
 
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REFERÊNCIAS 
 
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Ahmad, H. (2010). Hassan Fathy and Continuity in Islamic Architecture: The Birth of a 
New Modern. The American University in Cairo Press. 
 
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<http://www.sultanahmetcamii.org/>. [Consultado em 26/02/2021]. 
 
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<https://www.islamicfinder.org/>. [Consultado em 05/06/2021]. 
 
Demant, P. (2013). O mundo muçulmano. 3ed. Editora Contexto. São Paulo. 
 
Blanchard, C. (2006). Islam: Sunnis and Shiites. In: Malbouisson, C. Focus on Islamic 
Issues. New York, pp. 11~20. 
 
Gonçalves, I. (2019). Arquitetura. Poder. Religião.: no contexto islâmico. [Em linha]. 
Disponível em < https://repositorio.iscte-iul.pt/handle/10071/20228 >. [Consultado em 
30/05/2021]. 
 
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Culture Organization. [Em linha]. 
Disponível em <https://pt.unesco.org/courier/abril-junho-2017/o-alcorao-texto-e-
contexto>. [Consultado em: 06/06/2021]. 
 
Amstrong, K. (2002). Maomé: Uma biografia do profeta. 1 ed, São Paulo, Companhia 
das Letras. 
 
Santos, R. e Teixeira, V. (2017). A expansão do mundo islâmico para Europa. [Em linha]. 
Disponível em < 
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/Geographia/article/view/31898>. [Consultado 
em 01/06/2021].