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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS DILEMAS DA AÇÃO SUPERVISORA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Autora: Fatima Suely Ribeiro Cunha 371.203 C972d Cunha, Fatima Suely Ribeiro Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas / Fatima Suely Ribeiro Cunha . Indaial : Uniasselvi, 2013. 181 p. : il ISBN 978-85-7830-697-7 1. Supervisão escolar. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Erika de Paula Alves Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Márcio Moisés Selhorst Revisão de Conteúdo: Profa. Graciela Juciane Minatti Revisão Gramatical: Prof. José Roberto Rodrigues Revisão Pedagógica: Profa. Patrícia Cesário Pereira Offial Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © Editora UNIASSELVI 2013 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Doutoranda em Educação Científica e Tecnológica, mestre em Sociologia Política e graduada em Pedagogia. Atua na função de Assistente técnico pedagógico na rede pública de ensino e como professora-orientadora de monografia nos cursos de pós-graduação em Coordenação Pedagógica da UFSC e Ensino de Ciências no IFSC. Tem experiência no magistério da educação básica, coordenação pedagógica, formação continuada de professores. Suas principais publicações são: “Condições de Produção dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: enfocando a área de ciência da natureza, matemática e suas tecnologias”, 2012; “Limites e possibilidades para a implementação do Programa Mais Educação na Escola de Educação Básica Professora Laura Lima”, 2011; “Condições de Produção da Leitura do ENEM e as Possibilidades Pedagógicas no Ensino Médio”, 2011; “Leituras do ENEM como subsídio para reflexão do professor sobre suas práticas pedagógicas: ações, limites e possibilidades em uma realidade de sala de aula”, 2010. Fatima Suely Ribeiro Cunha Sumário APRESENTAÇÃO ..................................................................... 7 CAPÍTULO 1 O Supervisor Escolar no seu Fazer Pedagógico ............. 9 CAPÍTULO 2 Conceitos e Processos de Avaliação Institucional no Brasil ........................................................ 49 CAPÍTULO 3 Práticas de Avaliação Institucional em Educação .......... 73 CAPÍTULO 4 Avaliação da Aprendizagem Participativa ........................ 109 CAPÍTULO 5 Inovações Educativas ......................................................... 135 CAPÍTULO 6 A Escola como Espaço Permanente de Formação......... 151 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): Nesta disciplina pretendemos problematizar o papel do supervisor escolar na expectativa de estimulá-lo a desenvolver suas habilidades para olhar de forma crítica e reflexiva a realidade da educação brasileira, bem como suas competências para propor ações capazes de promover as mudanças necessárias à melhoria da qualidade do processo educativo, no seu contexto escolar. Para tanto, este caderno está estruturado da seguinte forma: O primeiro capítulo apresenta o supervisor escolar no seu fazer pedagógico, abrangendo diversos aspectos, desde a origem até as tendências e desafios atuais; o segundo capítulo discute alguns conceitos e processos de avaliação institucional no Brasil, caracterizando os tipos de avaliação da instituição e de sistemas; no terceiro capítulo são apresentadas as práticas e instrumentos de avaliação institucional em educação; o quarto capítulo traz os conceitos de avaliação da aprendizagem participativa, os aspectos e as finalidades de alguns instrumentos para sua aplicação; o quinto capítulo assinala as inovações educativas e as contribuições da ação supervisora nesta perspectiva e, por fim, o sexto e último capítulo discute a escola como espaço permanente de formação e a participação do supervisor escolar no processo de formação continuada dos professores. Em cada capítulo são indicados alguns textos como leitura obrigatória ou complementar e a indicação de sites da web onde você poderá acessá-los. Os textos que não são de aceso livre acompanham este caderno. No decorrer dos nossos estudos são sugeridas várias atividades de aprendizagem, que serão mais significativas à medida que você direcionar suas reflexões para a realidade da sua escola e relacionar as discussões e atividades propostas com o seu cotidiano, de modo a identificar as reais dificuldades do seu contexto e propor ações para resolvê-las. Lembre-se de que a aprendizagem é um processo contínuo e que seu estudo não se esgota aqui. Durante o curso, muitos questionamentos irão surgir, por isso é importante que você realize todas as atividades propostas, acesse todas as indicações de sites, busque outros textos, além dos indicados sobre o tema e, principalmente, reserve um tempo para se dedicar às leituras, pois isso garantirá o bom aproveitamento do seu aprendizado. Bom estudo! A autora. CAPÍTULO 1 O Supervisor Escolar no seu Fazer Pedagógico A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Relacionar o surgimento da ação supervisora com o contexto histórico-social. 9 Identificar as concepções sobre o papel do supervisor na sua escola. 9 Apontar as possibilidades e limitações para uma ação supervisora participativa e transformadora no seu contexto. 9 Propor ações que contribuam com a melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem da sua escola. 10 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas 11 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 Contextualização Optamos por iniciar esse primeiro capítulo com a retomada de alguns elementos da história da educação, para que você possa relacionar o surgimento da ação supervisora e a evolução do conceito de supervisão escolar com o contexto histórico-social. Começaremos com um breve panorama a partir da sociedade primitiva até os dias atuais, na expectativa de ajudá-lo a compreender de que forma os acontecimentos passados configuram as concepções e o papel deste profissional, no âmbito da educação na atualidade. Traremos também alguns aspectos legais sobre a constituição da profissão do supervisor escolar após a implementação da Lei 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e as concepções de alguns autores que se dedicam a estudos nesta área, para que você possa refletir sobre as propostas para a atuação do supervisor na perspectiva da gestão participativa. Pretendemos que ao final deste capítulo você tenha subsídios para refletir sobre o papel do SE no processo de evolução histórico-social, identificar as concepções sobre o papel desse profissional na sua escola, apontar as reais possibilidades e limitações para uma ação supervisora participativa e transformadora no seu contexto e propor ações que contribuam com a melhoria do processo de ensino-aprendizagem da sua escola. Alguns Conceitos de Supervisão Escolar Em primeiro lugar, vamos considerar conceito como a ideia que fazemos de alguma coisa ou situação que, em geral, varia de acordo com a nossa visão de mundo, ou seja, é a representação mental de algo que expressa a nossa compreensão a qual definimos em palavras. Um conceito sobre uma mesma coisa ou situação pode se transformar com o passar do tempo ou conformea sociedade à qual se refere. A forma de pensar a supervisão escolar vem evoluindo com o passar dos anos, suscitando diferentes compreensões que variam conforme o contexto sócio-histórico e cultural no qual se insere. O quadro a seguir apresenta um panorama de como o conceito de supervisor escolar vem se modificando com o passar do tempo. Conceito é a ideia que fazemos de alguma coisa. 12 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas Quadro 1 – Evolução dos conceitos sobre o supervisor escolar Tendência pedagógica Conceito/concepção Pedagogia Tradicional A ação supervisora emerge na figura do mestre que tem a fun- ção de orientar e supervisionar seus aprendizes. Se expressa, portanto, pela autoridade, controle, inspeção e coação (SAVIA- NI, 2009). Pedagogia Nova ou Renovada Caracteriza-se no técnico em escolarização, visto como elemen- to mediador entre o sistema e a unidade escolar, ocupando-se basicamente do controle do processo de produção do ensino (SAVIANI, 2009). Pedagogia Tecnicista “Predominantemente tecnicista e controladora e, de certa forma, correspondia à militarização escolar”, determinada pela supressão das liberdades democráticas, decorrente do período conhecido como ditadura (URBAN, 1985, p. 5). Pedagogia Histórico-Crítica O supervisor escolar deixa de ser a figura autoritária e con- troladora e passa a ser vista como o articulador e mediador do processo educativo, assumindo um papel politicamente maior, contextualizado, crítico e transformador, envolvido com o coletivo, coordenando e estimulando as ações (RANGEL, 2008; SAVIANI, 2009). Fonte: SAVIANI, 2009; URBAN, 1985, RANGEL, 2008. Quadro elaborado pela autora. O panorama dos conceitos apresentados no quadro acima e a retomada histórica a seguir nos ajudarão a estabelecer as relações acerca das ideias e das práticas da supervisão escolar nos dias atuais. Ao refletir sobre a origem e a evolução histórica dos conceitos de supervisão, notaremos que há uma articulação destes com os modelos de sociedade vigentes, em seus diferentes momentos históricos. 13 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 Origem e Evolução dos Conceitos de Supervisão Toda a tentativa de descrever a história tende a nos deixar um pouco frustrados, pois sabemos que todos nós temos diferentes maneiras de interpretar, tanto os discursos como os fenômenos decorridos do passado, que variam conforme a nossa visão de mundo. Ainda assim, tentaremos sintetizar alguns acontecimentos que determinaram o papel do supervisor escolar que conhecemos hoje. Vale lembrar que há inúmeros estudos que se dedicam a detalhar o assunto, com diferentes enfoques, que contribuem para o aprofundamento dos conhecimentos sobre as questões que cercam a profissão do supervisor escolar. Ação supervisora na educação na Idade Primitiva Fonte: Disponível em: <http://www.blogpaedia. com.br/2010/01/ja-saimos-do-periodo- paleolitico.html>. Acesso em: 25 ago. 2012. O ato de supervisionar surgiu em um contex- to de produção, ou seja, de trabalho. Nesta época não existiam escolas, a educação era generalista e as crianças eram orientadas e supervisionadas pelos adultos, que as ensi- navam através de seus exemplos (SAVIANI, 2008). 14 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas Ação supervisora na Idade Média “Mestre Escola”, de Jan Havicksz Steen Fonte: Disponível em: <http://www.worldgallery. co.uk>. Acesso em: 25 ago. 2012. Na Idade Média, com o advento da pro- priedade privada e a divisão de classes em proprietários e não proprietários de terras, surge a escola (em grego significa “lazer, espaço do ócio”), que é criada para ocupar o tempo livre dos filhos proprietários de terras. Nesta escola também não havia um supervisor, mas o poder emergia na figura do mestre, que tinha a função de ensinar, orientar e supervisionar seus aprendizes por toda a vida (SAVIANI, 2008). A educação dos filhos dos trabalhadores se dava informalmente pelos adultos, que educavam as crianças “no” traba- lho e “para” o trabalho. Este modelo de educação perdurou durante toda a Idade Média (SAVIANI, 2008). Fonte: Disponível em: <http://idademedia. wordpress.com/2011/09/http://fabiopestanaramos. blogspot.com.br/2010_11_01_archive. html>. Acesso em: 26 ago. 2012. 15 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 Na Idade Moderna – do Chefe de fábrica ao Inspetor de ensino Fonte: Disponível em: <http://www.brunogarcia. com.br/?p=243>. Acesso em: 26 ago. 2012. Na Idade Moderna, com o advento da indústria e o processo de modernização da produção, surge a noção de supervi- são na figura do chefe de fábrica que se encarregava da inspeção do trabalho, fiscalizando as tarefas realizadas pelos trabalhadores a fim de manter o desem- penho desejado no processo de produ- ção (SAVIANI, 2008). Nesse contexto, surge a escola formal, na qual a ação supervisora acontecia por meio do inspetor de ensino, que era responsável por manter a ordem, fiscalizar o cumprimen- to das regras, vigiar e avaliar o trabalho do professor visando à melhoria do desempe- nho dos estudantes (SAVIANI, 2008). 1908 - Aula com torno, Escola Caetano de Campos-SP Fonte: Disponível em: <www.icc.com. br>. Acesso em: 26 ago. 2012. Antes do século XX, a ação supervisora era sinônimo de controle e orientação, com autoridade para coagir e repreender. 16 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas Institucionalização da educação no Brasil Fonte: Disponível em: <http://acropolemg. blogspot.com.br/2012/04 /resumo-jesuitas- no-brasil.html>. Acesso em: 26 ago. 2012. No Brasil, a educação institucionalizada tem início em 1549, no governo de Tomé de Souza, que delega a um grupo de je- suítas a missão de educar e catequizar os índios para facilitar o processo de co- lonização pela Coroa Portuguesa. Com a intensificação dos trabalhos dos jesuítas emerge a necessidade de organizar as ati- vidades educativas, e para isso foi criado o primeiro plano de educação, elaborado pelo Padre Manoel da Nóbrega, conhecido como Ratio studiorum (SAVIANI, 2008). Ação supervisora na figura do Prefeito de ensino No plano Ratio studiorum, a noção de supervisão escolar, apesar de não existir, se destaca na figura do “Prefeito de estudos”. Visando o bom desempenho da escola, sua função era orientar e dirigir as aulas, vigiar os professores, fiscalizar os cadernos dos alunos e, se necessário, re- portar as atitudes indevidas ao reitor (SA- VIANI, 2008). Primeiro Plano de Educação Fonte: Disponível em: <pt.wikipedia. org/>. Acesso em: 26 ago. 2012. 17 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 Reforma Pombalina – ação supervisora na figura do Diretor geral de estudos Marquês de Pombal Fonte: Disponível em: <http:// www.mundoeducacao.com.br/>. Acesso em: 26 ago. 2012. Com a Reforma Pombalina e a expulsão dos jesuítas, em 1759, o sistema de ensino foi al- terado e com isso foi extinta a função do Pre- feito de estudos e criadas as Aulas Régias, o cargo de Diretor geral de estudos e designa- dos comissários para apurar a situação das escolas existentes (SAVIANI, 2008). Ação supervisora exercida pelo professor Após a proclamação da Independência do Brasil instituiu-se o sistema nacional de educação pública e, através do Decreto de 15 de outubro de 1827, foi criada a escola de primeiras letras e o método de Ensino Mútuo, no qual o professor exercia a função de docência e de supervisão das atividades dos monitores e dos alunos (SAVIANI, 2008). Fonte: Disponível em: <http://www. educacaoemdestaque.com/>. Acesso em: 26 ago. 2012. 18 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas Reforma Couto Ferraz - Surge o Inspetor escolar Em 1854, a Reforma Couto Ferraz estabele- ceu a obrigatoriedade do ensino elementar e criou a Inspetoria Geral de InstruçãoPrimária e Secundária da Corte e, com ela, a figura do Inspetor escolar, que tinha como atribuições inspecionar as escolas primárias e secundá- rias, públicas ou particulares, além de realizar exames dos professores e conferir-lhes títulos de aprovação, autorizar abertura de novas instituições, normatizar a rotina das escolas, entre outras. Eusébio de Queirós. 1º Inspetor Geral de Instrução Pública do município da Corte – 1855. Fonte: Disponível em: <http://www.histedbr. fae.unicamp.br/revista/edicoes/32/art02_32. pdf>. Acesso em: 26 ago. 2012. Ação Supervisora no Século XX A necessidade de organizar os serviços do sistema nacional de educação e de um supervisor atuando no âmbito das escolas começa a dar sinais em 1886, quando se inicia a elaboração do esboço das diretrizes e normas pedagógicas. Nas palavras de Saviani (2008, p. 24), “[...] a ideia de supervisão vai ganhando contornos mais nítidos, ao mesmo tempo em que as condições objetivas começavam a abrir perspectivas para se conferir a essa ideia o estatuto de verdade prática”. No entanto, somente na década de 1920 houve a constituição da categoria profissional dos técnicos em escolarização. Em 1932, o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, conhecido como “Movimento Escola Nova”, é considerado o marco inaugural do projeto de renovação da educação brasileira. O documento propõe que o Estado organize um plano geral de educação garantindo uma escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita. 19 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 No Movimento Escola Nova a categoria de técnico em escolarização ganha relevância e passa a ser vista como elemento mediador entre o sistema e a unidade escolar, ocupando-se basicamente do controle do processo de produção do ensino. Contudo, a função específica de supervisor escolar só foi considerada como profissão na década de 1950. Neste período, o governo brasileiro estabeleceu convênio com o Programa Americano- Brasileiro de Assistência ao Ensino Elementar – PABAEE, formando, no modelo norte-americano, os primeiros supervisores escolares. Para saber mais sobre a formação dos sistemas de educação e plano de ensino, de Demerval Saviani, consulte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 24782010000200013&lng=pt&nrm=iso Para saber mais sobre o PABAEE, consulte o site: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1413-24782003000300015 Surgimento da Supervisão Escolar como Categoria Profissional Os movimentos de transformação da sociedade brasileira e o fortalecimento da industrialização exigiram da educação uma reestruturação no sentido de atender às necessidades sociais, políticas e econômicas em curso. Em 1961 foi promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB 4.024/61 e, com ela, a criação do Ministério da Educação e das Secretarias Estaduais de Educação. Com a reorganização do sistema de ensino imposta pela lei, passou a ser atribuição do curso de Pedagogia a formação de pedagogos técnicos ou especialistas em educação, capazes de exercer as novas e variadas funções. Neste contexto, a função do supervisor já se fazia presente nas escolas, mas somente com o Parecer do Conselho Federal de Educação nº 252/69, que define A função específica de supervisor escolar foi considerada como profissão na década de 1950. 20 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas a reformulação dos cursos de Pedagogia, é que a supervisão escolar é instituída como habilitação profissional. Em relação ao referido parecer, Saviani (2008, p. 29) esclarece que: Por intermédio desse parecer, em lugar de se formar o ‘técnico em educação’ com várias funções, sendo que nenhuma delas era claramente definida, como vinha ocorrendo, pretendeu- se especializar o educador numa função particular, sem se preocupar com sua inserção no quadro mais amplo do processo educativo. Tais funções foram denominadas ‘habilitações’. (grifos do autor). Após o golpe militar de 1964, em que a sociedade brasileira vive a supressão das liberdades democráticas, conhecido como período de ditadura militar, a nova reforma da educação, expressa na LDB 5.692/71, institui a função de supervisão escolar como “serviço específico da escola de 1º e 2º graus (embora já existisse anteriormente). Sua função era, então, predominantemente tecnicista e controladora e, de certa forma, correspondia à militarização escolar” (URBAN, 1985, apud VASCONCELLOS, 2009, p. 86). Conforme o artigo 33 da Lei 5.692/71: “A formação de administradores, planejadores, orientadores, inspetores, supervisores e demais especialistas de educação será feita em curso superior de graduação, com duração plena ou curta, ou de pós-graduação” (BRASIL, 1971). Neste modelo de educação a função do supervisor é voltada para ações de cunho tecnoburocrático. O supervisor assume uma postura autoritária, ditando regras, controlando o trabalho dos professores e inspecionando os alunos. Esta forma de ser e de agir se assemelha ao gerente de fábrica, preocupado apenas com o desempenho dos professores e estudantes. Segundo Saviani (2008, p. 30), [...] o anseio da pedagogia tecnicista era garantir a eficiência e a produtividade do processo educativo. E isso seria obtido por meio da racionalização, que envolvia o planejamento do processo sob o controle de técnicos supostamente habilitados, passando os professores a plano secundário, isto é, subordinando-os à organização racional dos meios. Na década de 1980, a crise econômica e o fim da ditadura militar marcam um período de críticas à lógica capitalista de produção e de educação baseada no modelo tecnicista. “Na complexão da análise do capitalismo e seus desdobramentos, a especialidade isola, desarticula, setoriza e sectariza os serviços e as atividades escolares, desconectando-as entre si e com a problemática social” (RANGEL, 2008, p.72). Em 1969 a supervisão escolar é instituída como habilitação profissional no curso de Pedagogia. 21 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 No contexto educacional, o supervisor escolar era visto como funcionalista, uma vez que, nesta lógica, sua atuação era na concepção das tarefas voltadas à manutenção da ordem no ambiente escolar, diferentemente do professor que atuava na execução do ensino, não havendo articulação pedagógica entre as funções. A partir da década de 1980, os movimentos de transformações sociais refletem em mudanças no cenário econômico, social, político e cultural, conformando uma realidade histórica marcada por múltiplos desafios. A emergência de um novo padrão de acumulação produtiva marca as transformações de uma sociedade de base industrial para uma sociedade de base científico-tecnológica, redefinindo as formas e as relações sociais e de produção. Este modelo de sociedade demanda um novo tipo de indivíduo, que deve ser criativo, autônomo, ter múltiplas habilidades, ser capaz de aprender e compreender os processos decorrentes das novas tecnologias, ter boa capacidade de comunicação, ser capaz de se adaptar às constantes mudanças e inovações, ser participativo e estar apto à tomada de decisões na vida e nas questões inerentes ao seu contexto social. Este modelo de sociedade vem determinando mudanças em todas as esferas, e o campo educacional não está isento de participar deste processo, sendo chamado a buscar respostas às novas demandas impostas por essa realidade. Assim, a educação é vista como meio e instrumento viabilizador para a formação de indivíduos capazes de atender às necessidades teóricas e empíricas exigidas numa sociedade cada vez mais dinâmica e globalizada. Aeducação passa por desafios que exigem dos profissionais envolvidos muito mais que competência técnica para o desenvolvimento de tarefas inerentes às suas funções, e não pode mais considerar o supervisor escolar como um intermediário na implantação de novas políticas educativas e propostas curriculares (RANGEL, 2008). Em consequência, na década de 1990 a educação também passa por um processo de reformulação, consolidada com a implantação da Lei 9.394/96 – LDB. A nova LDB rompe com a visão fragmentada do processo de trabalho na educação, inaugurando uma gestão participativa. O artigo terceiro, inciso VIII da LDB, sobre os princípios do ensino no Brasil, determina a “gestão democrática do ensino público”. No artigo 14, inciso II – “participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”. O artigo 15 traz que: “Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira”. A LDB/1996 inaugura a gestão democrática no ensino público. 22 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas Isso pressupõe autonomia das instituições e descentralidade na tomada de decisões envolvendo não o gestor e a equipe pedagógica, mas em consonância com os conselhos ou colegiados. As estruturas de gestão colegiada são mecanismos coletivos escolares constituídos, em geral, por professores, alunos, funcionários, pais e por representantes da sociedade, escolhidos pela comunidade escolar, com o objetivo de apoiar a gestão da escola e tornar a organização escolar um ambiente dinâmico de aprendizagem social. Através delas, portanto, todas as pessoas ligadas à escola podem se fazer representar e decidir sobre aspectos administrativos, financeiros e pedagógicos (CONSED, 1997, p. 14), de modo que as mesmas se constituem um instrumento de participação e de gestão democrática (PARENTE; LÜCK, 2000, p.156). Na maioria das escolas estaduais e municipais brasileiras participam desses grupos a Associação de Pais e Professores, o Conselho Deliberativo, o Conselho Escolar, o Grêmio Estudantil e, em alguns casos, tem-se o Conselho Fiscal, que é responsável em fiscalizar as ações de cunho financeiro. No âmbito pedagógico, a gestão participativa suscita o envolvimento e a participação do coletivo, não só no processo decisório, mas também nas ações de todos, de modo a “superar o exercício do poder individual e de referência e promover a construção do poder da competência, centrado na unidade social escolar como um todo”, visando à melhoria da qualidade da aprendizagem (LÜCK, 2005, p. 23). Leitura obrigatória: Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Caderno 1. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_cad1.pdf Para saber mais, leia o artigo de Marta Maria de A. Parente e Heloísa Lück sobre o “Mapeamento da Estrutura de Gestão Colegiada em Escolas dos Sistemas Estaduais de Ensino”. Disponível em: Na gestão participativa todas as decisões que envolvem o funcionamento da escola são tomadas no coletivo. 23 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 http://emaberto.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/ 1102/1002 Daqui em diante vamos apresentar diferentes relatos que correspondem ao cotidiano de D. Ana. As histórias de D. Ana representam situações enfrentadas por cinco supervisoras escolares e se constituem em partes dos dados coletados em uma pesquisa realizada pela autora com o objetivo de elaborar um material de estudos condizente com a realidade das escolas públicas brasileiras. Foram observadas três escolas de educação básica do Estado de Santa Catarina, sendo duas no âmbito estadual e uma municipal, onde acompanhamos o cotidiano. Por questões éticas, os nomes utilizados são fictícios. Esta semana visitamos D. Ana, supervisora escolar que atua na função de Assistente Técnico Pedagógica. Ao chegarmos à escola, deparamos com um problema difícil de resolver. Vamos ver se conseguimos ajudar. Vejam que dilema! A escola se constitui por três alas com seis salas de aula cada uma, que são ocupadas integralmente pelos estudantes de Ensino Fundamental e Médio, nos turnos matutino e vespertino. No período noturno a escola atende a três turmas do Ensino Médio. O prédio encontra-se em péssimas condições e, por isso, alguns pais fizeram uma denúncia junto ao Ministério Público, alegando que rachaduras nas paredes do prédio põem em risco a segurança das crianças. Na mesma semana da denúncia a escola recebeu a visita dos técnicos da Defesa Civil, que, por questão de segurança, interditaram duas alas do prédio, sobrando apenas uma ala com seis salas de aula para uso de todos os estudantes do período diurno. 24 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas A escola não tem recursos financeiros para locar um espaço alternativo, e a determinação da Secretaria de Educação foi para a escola adotar provisoriamente um turno intermediário, para que todos os estudantes tivessem aulas de 30 minutos. O turno intermediário deveria funcionar das 11:40 às 14:20 horas. A equipe gestora reúne a comunidade escolar e informa a decisão determinada. Imediatamente, professores e estudantes começam uma grande discussão: Alguns estudantes alegam que trabalham e com o novo horário seriam prejudicados; outros frequentam cursos profissionalizantes no contraturno ou projetos no bairro. Alguns pais alegam que esse horário é incompatível com o horário de trabalho e não poderiam conduzir os filhos à escola; a maioria das crianças frequenta aulas de reforço pedagógico nos projetos da associação de bairro e sai ao meio-dia ou entra às 13 horas; a merenda que a escola oferece não corresponde ao almoço e teriam sua alimentação prejudicada. Alguns professores alegam que alguns trabalham em outras escolas e não seria possível a troca de horário; outros, vão em casa preparar almoço para os filhos e os conduzir às suas respectivas escolas; outros ficariam sem almoço, pois os 20 minutos reservados à troca de turno não são suficientes para almoçar, já que a escola não oferece. Fonte: Texto elaborado pela autora a partir de observações realizadas em escolas. Atividades de Estudos: Vamos refletir: 1) Como o diretor deve proceder num caso como esse? Justifique. 2) Quem teria autonomia para decidir sobre a implantação do turno intermediário? Explique. Encaminhamentos: 25 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 A partir de agora você deverá anotar todas as atividades propostas no caderno. Chamaremos de diário de bordo. As informações e reflexões acumuladas neste diário servirão de subsídio para que você realize seu trabalho final deste capítulo. Portanto, não se esqueça de anotar tudo! DIÁRIO DE BORDO Parte 1 ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Dica: Verifique se sua escola recebeu, em formato impresso, os cadernos do Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Se não recebeu, baixe em seu computador e sugira um 26 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas debate com seus colegas nas reuniões pedagógicas. Peça que os professores discutam o tema com os estudantes. Os cadernos encontram-se disponíveis no site: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ content&view=article&id=12619&Itemid=661 Sempre que você consultar uma página da web, recorte e cole o endereço eletrônico, bem como os dados do material pesquisado, como o nome do artigo ou lei, autor, revista, ano, página, e também o dia em que você acessou. Isso vale também para os materiais impressos. Esses dados deverão constar na relação das referências bibliográficas do seu trabalho. Na perspectiva da gestão democrática e participativa, a nova LDB/96 também regulamenta a profissão do supervisor educacional, reestruturando sua função e reconhecendo como categoria profissional. O seu artigo 64 estabelece que: A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica será feita em cursos de graduação em Pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. Até aqui, podemos notar que a figura do supervisor escolar é reconhecida como relevante ao processo educativo, uma vez que a base da sua formação passa a ser a docência. Entretanto, a LDB/96 não esclarece, até então, quais as atribuições deste profissional, tampouco determina onde e como o supervisor deve atuar no contexto escolar. 27 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 A partir da LDB/96 a nomenclatura utilizada, inclusive em nível de formação profissional, passa a ser supervisor educacional, entretanto, alguns sistemas de educação pública mantêm em seu quadro a nomenclatura de supervisor escolar. Agora que você já conheceu um pouco da história, vamos ver como se efetivou a condição do supervisor no âmbito da escola hoje. As Condições de Trabalho do se Após a LDB/1996 É muito comum chegarmos hoje numa escola e encontrarmos o supervisor educacional, o orientador e o inspetor escolar exercendo diversos tipos de tarefas que nem sempre correspondem à ação supervisora que tradicionalmente conhecemos. Por que será que isso acontece? Isso ocorre porque, na perspectiva da gestão democrática, a proposta de desenvolver ações coletivas e participativas no âmbito da escola determina mudanças, tanto na configuração das relações de trabalho como do processo pedagógico, que passa a ser compromisso de todos os profissionais envolvidos. Neste contexto, o supervisor escolar deixa de ser a figura autoritária e controladora e passa a ser visto como o articulador e mediador do processo educativo, assumindo um papel politicamente maior, contextualizado, crítico e transformador, envolvido com o coletivo, coordenando e estimulando as ações (RANGEL, 2008; SAVIANI, 2009). Por outro lado, com a implementação da gestão democrática e participativa na escola, muitos profissionais da educação têm interpretações equivocadas, entendendo que o compromisso de todos A LDB/96 regulamentou a profissão do supervisor educacional, reestruturou sua função e reconheceu como categoria profissional. 28 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas pela educação indica que todos podem e devem fazer tudo. Nesse contexto, o supervisor escolar é visto como “pau-pra-toda-obra”. Vejamos como essas mudanças vêm ocorrendo e delineando um novo perfil para a atuação do supervisor escolar. Com o objetivo de regulamentar o campo de ação do supervisor, o Senado aprovou, em 2007, o projeto de lei da Câmara n° 132/05, que regulamenta o exercício da profissão de supervisor educacional. O projeto propunha que: Art. 4º Compete ao supervisor educacional coordenar, planejar, pesquisar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, controlar, acompanhar, orientar, executar e avaliar trabalhos, programas, planos e projetos, bem como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes e pareceres técnicos, científicos e pedagógicos, na área educacional. O supervisor educacional terá a competência de, na área educacional, coordenar, planejar, pesquisar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, controlar, acompanhar, orientar, executar e avaliar trabalhos, programas, planos e projetos, assim como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes e pareceres técnicos, científicos e pedagógicos. Vale ressaltar que, apesar da lei integrar à função supervisora as atribuições de supervisionar, dirigir e controlar, agrega também outras atribuições, como orientar, participar de equipes multidisciplinares, entre outras, que supõem uma atuação coletiva e participativa. Contudo, no ano de 2010 esta lei foi vetada pela Presidência da República sob a alegação de que a proposição fere a Lei 9.394/96 no que diz respeito à formação do profissional da educação. Assim, em termos de legislação federal, o supervisor permanece sendo regulamentado pela Lei n° 7.132, de 13 de janeiro de 1978, a qual prevê as seguintes atribuições: Assessorar os sujeitos hierárquicos em assuntos da área da supervisão escolar; participar do planejamento global da escola; coordenar o planejamento do ensino e o planejamento do currículo; orientar a utilização de mecanismos e instrumentos tecnológicos em função do estágio de desenvolvimento do aluno, dos graus de ensino e das exigências do Sistema Estadual de Ensino do qual atua; avaliar o grau de produtividade atingido em nível de Escola e em nível de atividades pedagógicas; assessorar os outros serviços técnicos da escola, visando manter coesões na forma de se permitir os objetos propostos pelo sistema escolar; manter-se constantemente atualizado com vistas a garantir padrões mais 29 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 elevados de eficiência e de eficácia no desenvolvimento do processo de melhoria curricular, em função das atividades que desempenha. Para saber mais sobre o veto, consulte o parecer do setor jurídico da Associação dos Supervisores de Educação do Estado do Rio Grande do Sul – ASSERS. Disponível em: http://www.assers. org.br/ Atualmente, no Brasil, o cargo de supervisor escolar vem desaparecendo da legislação dos sistemas de ensino público, estaduais e municipais, sendo substituído por cargos denominados “assistente técnico pedagógico” e/ou “coordenador pedagógico”, “técnico em assuntos educacionais”, entre outros.Em alguns estados, como Santa Catarina, por exemplo, sem a exigência de formação em Pedagogia para realizar concurso de ingresso, bastando para isso qualquer licenciatura, impondo-lhes tarefas que acumulam atribuições do supervisor, do orientador e, até, do administrador escolar. Atividades de Estudos: Propomos que você consulte a legislação da educação em seu estado ou município e o Projeto Político-Pedagógico (PPP) da sua escola e procure responder às seguintes questões: 1) A profissão de supervisor escolar no ensino público do seu estado ou município é reconhecida? 2) Como consta na legislação a sua denominação? 3) Quais são as atribuições previstas para este profissional? 30 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas 4) Como estas atribuições são previstas no PPP da sua escola? Encaminhamentos: Antes de responder às questões, apresente a sua escola. Fale da estrutura física, da forma como se organiza, do modelo de gestão, dos conselhos escolares, da comunidade etc. Quanto mais detalhes você explorar, melhor será sua apresentação. Anote tudo no seu diário de bordo. DIÁRIO DE BORDO Parte 2 ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Até aqui vimos que as condições legais do exercício da supervisão escolar após a implementação da LDB/96 são pouco esclarecedoras. Embora em alguns estados brasileiros esta função seja reconhecida, percebemos que ainda há dificuldades na definição da atuação do supervisor escolar. 31 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 O papel do Supervisor na Organização do Trabalho Escolar De acordo com os conhecimentos produzidos nos itens anteriores, tudo indica que um pouco da ideia que se tem sobre o papel do supervisor escolar deve-se ao contexto histórico-social no qual foi instituída a sua função. Vimos também que as modificações na legislação pertinente sinalizam para o delineamento de uma ação supervisora com características inovadoras, que vá além dos modelos estabelecidos nos contextos de educação tradicional e tecnicista. Vamos iniciar essa parte do estudo apresentando alguns acontecimentos do dia a dia de D. Ana em sua escola. A super-supervisora Ana em ação Quarta feira, 8 de agosto de 2012. São sete e meia da manhã, D. Ana chega à escola, cumprimenta os colegas e recebe logo um aviso do vigia: - D. Ana, a fechadura da porta da sala do 8º ano está quebrada. Os alunos estão dizendo que foi o Maicon do 6º ano que quebrou, e estou encaminhando ele para sua sala para a senhora resolver. D. Ana agradece a informação e logo chega o Maicon, praticamente arrastado pelo vigia, defendendo-se das acusações e atribuindo a culpa a três colegas de classe. Em poucos minutos, na sala de D. Ana encontram-se quatro alunos que discutem entre si em busca do culpado pelo estrago na fechadura. D. Ana ainda não conseguiu chegar à sua sala. Enquanto isso, recebe um alerta da secretária: - D. Ana, a professora do segundo ano faltou, as crianças estão em fila no pátio, os pais já foram embora. O que eu faço com eles? São 7:45 da manhã, o sinal de início das aulas acaba de tocar e D. Ana ainda não conseguiu chegar em sua sala e já precisa resolver duas situações urgentes. O diretor acaba de chegar e pede a D. 32 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas Ana que vá à sua sala imediatamente, pois precisa lhe repassar informações sobre a última normativa recebida da Secretaria da Educação na reunião do dia anterior: - D. Ana, preciso que a senhora faça um planejamento para o encontro de estudos deste mês, com urgência. Recebi ontem uma normativa alterando as datas das paradas para formação continuada. A da nossa escola está prevista para a próxima segunda, e eu tenho que levar esse planejamento pronto para a Secretaria até sexta- feira. Aproveite e passe nas salas solicitando aos professores que elaborem bilhetes para os pais dos alunos, avisando que não haverá aula neste dia. Neste mesmo momento a professora de Português entra na sala à procura de D. Ana e lhe dá outro aviso: - D. Ana, o sexto ano tem prova na minha disciplina agora e tem quatro alunos na sua sala lhe aguardando. Eles vão ser suspensos? Vão perder a prova? As horas vão passando e as pendências vão se acumulando: - D. Ana, a segunda professora do aluno autista está reclamando que o menino é agressivo demais e desse jeito ela não vai mais poder atendê-lo. Quero avisar que eu, sozinha, não dou conta dele com mais 30 alunos na sala. A senhora vá lá e resolva, porque ela está com o menino no pátio e ele está perdendo as explicações. - D. Ana, a mãe do Maicon está aqui na escola e quer conversar com a senhora. Ela não pode esperar, pois está em horário de trabalho. A senhora vai atendê-la? - D. Ana, eu estou com seis alunos na disciplina de Química que ficam conversando o tempo todo e não prestam atenção nas minhas explicações. Depois a senhora quer que eu dê recuperação paralela. Quero saber se a senhora pode ir até a minha sala agora para ajudar a resolver isso. É muita bagunça e não consigo trabalhar. Esta escola precisa de regras. - D. Ana, me ajude aqui! Ela caiu na aula de Educação Física e ralou o joelho. Atenda ela, não posso deixar os alunos sozinhos na quadra. 33 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 A manhã segue e muitas outras situações vão surgindo: bullyng, drogas, sexualidade, violência, entre outros, e D. Ana precisa encontrar formas de resolver tudo. Será que ela dará conta? Fonte: Texto produzido pela autora a partir de observações realizadas em escolas. Atividades de Estudos: Agora, com base no texto apresentado, vamos refletir sobre as seguintes questões: 1) Será que todas as situações que D. Ana precisa resolver correspondem às atribuições do supervisor escolar que tradicionalmente conhecemos? O que mudou? 2) Por que será que D. Ana é requisitada para resolver problemas tão pontuais? 3) Será que em meio a tanta confusão há alguma questão que pode ser caracterizada como objeto de ação de D. Ana? Explique. Encaminhamentos • Registre suas reflexões no diário de bordo. DIÁRIO DE BORDO Parte 3 ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 34 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Agora que você já refletiu e debateu com seus colegas a situação de D. Ana, deve ter percebido que a profissão do supervisor pode ser mal compreendida pelo coletivo da escola, visto que a inexistência de uma legislação federal que norteie a atuação desse profissional no âmbito dos sistemas de ensino está gerando uma crise na identidade do supervisor, que vem assumindo outras atribuições. Quais os aspectos positivos desta medida? Por um lado, pode contribuir para superar a imagem autoritária e controladora construída historicamente sobre o supervisor, ampliando seu campo de atuação e possibilitando ações mais democráticas e significativas, coerentes com as demandas e singularidades que constituem as diversidades de cada comunidade escolar. O que pode ser considerado como aspectos negativos? A inexistência de uma legislação efetiva agrega ao supervisor atribuições que não são inerentes à sua função, descaracterizando assim o seu importante papel no processo pedagógico. Tomemos a fala de Vasconcellos (2009, p. 87) como representativa das tarefas que devem ser superadas na ação do supervisor frente à realidade de uma educação que se pretende democrática, comprometida com a formação de 35 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 cidadãos ativos, críticos, reflexivos, éticos e participativos nas tomadas de decisão, visando uma sociedade mais justa e equânime. Para o autor, o supervisor: “não é fiscal de professor, não é dedo-duro (que entrega os professores para a direção ou mantenedora), não é pombo-correio (que leva recado da direção para os professores e dos professores para a direção), não é coringa/tarefeiro/quebra galho/salva-vidas (ajudante de direção, auxiliar de secretaria, enfermeiro, assistente social, etc.), não é tapa-buraco (que fica “toureando” os alunos em sala de aula no caso de falta de professor)... não é de gabinete (que está longe da prática e dos desafios efetivos dos educadores), não é dicário (que tem dicas e soluções para todos os problemas, uma espécie de fonte inesgotável de técnicas, receitas)...” Vasconcellos (2009, p. 85-108) nos diz ainda que a atuação do supervisor escolar é muito mais ampla, vai além das ações pontuais, mas que se articula com as relações que se estabelecem com “questões de currículo, construção do conhecimento, aprendizagem, relações interpessoais, éticas, disciplina, avaliação da aprendizagem, relacionamento com a comunidade, recursos didáticos etc”. Sugere ainda que, para que o supervisor escolar desenvolva ações em direção a mudanças, são necessárias condições objetivas (material e política) e subjetivas. Para isso, deve ser capacitado para trabalhar nas três dimensões básicas da formação humana: • Na dimensão conceitual, que envolve clareza conceitual, conhecer, discernir e elaborar síntese; • Na dimensão atitudinal, que corresponde aos valores, interesses, sentimentos, disposição interior e convicções; • Na dimensão procedimental, que se refere ao saber-fazer, envolvendo métodos, técnicas, procedimentos e habilidades. Com base nos estudos de Rangel (2008) e Vasconcellos (2009), as ações do supervisor escolar, ainda que lhe atribuam outras nomenclaturas, devem ser voltadas para a garantia da qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, sua atuação abrange a coordenação e a articulação, tanto das ações como das relações que envolvem esse processo. No que concerne às ações, Rangel (2008) propõe a elaboração do projeto político- A atuação do supervisor escolar abrange coordenação e articulação das ações e das relações que envolvem o processo educativo. 36 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas pedagógico da escola, a integração do currículo com o planejamento de ensino, com o processo de avaliação, recuperação e com as pesquisas. Considerando que o objeto último da ação do supervisor escolar é o processo de ensino-aprendizagem, apresentaremos uma síntese, baseada nos estudos de Rangel (2008), dos principais elementos que envolvem esse processo e como a participação do supervisor pode contribuir para garantir o desenvolvimento e a qualidade que se pretende alcançar. Acreditamos que você irá identificar que algumas se aproximam e outras ainda se distanciam das práticas de supervisão no seu contexto escolar. Nossa intenção não é fornecer um manual, tampouco ditar regras, mas provocar uma reflexão crítica a partir de algumas ações que se inserem num perfil “ideal” de supervisão, na perspectiva da gestão participativa. Quadro 2 - Propostas para ação supervisora Elementos que abrangem o processo de ensino-aprendizagem Como o supervisor pode contribuir Currículo Coordenar atividades de estudo e de integração do currícu- lo visando à integração dos conhecimentos e das práticas. Programas Promover oportunidades de encontros que reúnam profes- sores de uma mesma série e de uma mesma disciplina de diversas séries para a construção coletiva do programa das disciplinas na perspectiva da interdisciplinaridade. Escolha dos livros didáticos Promover encontros dos professores com as editoras que oferecem livros; incentivar e subsidiar estudos que ampliem os conhecimentos dos professores sobre disciplinas para que coletivamente escolham a melhor opção para o aluno. Métodos de ensino Os métodos e técnicas são os meios utilizados para se alcançar os objetivos da aprendizagem. O supervisor deve ter a compreensão de que a base para a escolha dos méto- dos deve considerar as possibilidades de contextualização entre conteúdo, o sujeito e o contexto. Planejamento de ensino Orientar conceitos e critérios procurando garantir opor- tunidades para o planejamento de ações conjuntamente refletidas. A referência para o processo de supervisão é a reflexão-ação-reflexão. 37 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 Avaliação Acompanhar as discussões sobre os avanços teóricos que lhe deem subsídios para estar constantemente avaliando as avaliações e orientando possíveis reformulações dos conceitos e práticas avaliativas visando à melhoria do processo de ensino-aprendizagem. Recuperação Orientar e coordenar os critérios da prática e seu respaldo teórico, garantindo que as explicações e atividades sejam diversificadas, contextualizadas e significativas para o aluno. Projeto Político e Pedagógico (PPP) da escola Participar da elaboração e garantir a sua utilização como referência para o trabalho educativo, estando atento às necessidades de reformulação e/ou atualização. O projeto deve servir de material de estudos para o coletivo da escola. Pesquisa Coordenar e subsidiar pesquisas fundamentadas em teorias e práticas instituídas a partir dos problemas do cotidiano escolar, fomentando uma análise crítica, visando avanços no conhecimento e na prática coletiva. Fonte: Rangel (2008, p. 78-96) quadro resumo elaborado pela autora. Você se lembra da história da D. Ana? Você deve ter encontrado algumas situações que são comuns ao seu cotidiano ou ao cotidiano do supervisor da sua escola, certo? Então vamos refletir sobre isso? Atividades de Estudos: Tomando como referênciaas propostas de Vasconcellos e Rangel, sistematizadas no quadro anterior, o desafio agora é comparar o seu contexto escolar e o de D. Ana. a) Destaque as ações do supervisor que lhe pareçam comuns à sua escola e à escola de D. Ana e relacione em duas colunas paralelas; b) Agora relacione em uma terceira coluna paralela as ações propostas no Quadro 2 que correspondem às duas colunas anteriores; 38 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas a) a) b) c) Feito isso, compare as colunas e responda: 1) As propostas apresentadas no quadro aproximam ou se distanciam à minha realidade com a realidade de D. Ana? Explique. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) Que situações vivenciadas, por mim ou por D. Ana, não foram contempladas no quadro de propostas? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 39 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Encaminhamentos: • Descreva no seu diário de bordo os desafios que você encontrou a partir das reflexões das perguntas 1 e 2. DIÁRIO DE BORDO Parte 4 __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Nesta parte do nosso estudo você teve a oportunidade de conhecer e compartilhar um pouco sobre situações reais que envolvem o cotidiano do supervisor escolar e também algumas propostas de autores dedicados a essa discussão. Na próxima parte do texto vamos aprofundar um pouco mais o debate. 40 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas Tendências, Desafios Contemporâneos da Ação Supervisora no Cotidiano da Escola No item anterior você conheceu algumas propostas para uma ação supervisora voltada para a melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem e foi provocado a refletir sobre as possibilidades de efetivar essas ações em sua prática. Certamente você deve ter destacado várias situações do seu cotidiano escolar que não foram contempladas e, provavelmente, você deve estar se questionando: como agir diante de outros desafios que emergem no contexto escolar? Ao pensarmos no papel do supervisor escolar hoje, é necessário que tenhamos a compreensão de que vivenciamos uma mudança de percepção de mundo, onde figuram novas concepções sobre as relações dos sujeitos com o ambiente natural e social que impõem à educação novos desafios. Diante disso, a escola deve “avançar no sentido de criar condições para uma educação integral que reconheça e valorize o indivíduo em sua totalidade, uma educação capaz de suprir as dimensões de ordem cognitiva, social, ética, estética, política e afetiva dos sujeitos” (CUNHA, 2011, p. 302). Esse contexto traz novos dilemas ao supervisor escolar, que precisa estar bem informado, atualizado, apto a propor ações coletivas que estimulem a comunidade escolar a caminhar no sentido de melhorar a qualidade do processo educativo. Um dos muitos desafios da escola hoje é promover a inclusão do aluno com deficiência. É a primeira vez na história da educação brasileira que a LDB reconhece o direito à diferença, ao pluralismo e à tolerância, assegurando o acesso da pessoa com deficiência no ensino regular, com garantia de atendimento especializado e oportunidades educacionais apropriadas, levando em conta as características do estudante, seus interesses, condições de vida e de trabalho. Porém, a mesma lei não prevê a formação adequada dos profissionais da educação, impondo-lhes a necessidade e o compromisso de ampliar seus conhecimentos. 41 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 A maioria das escolas assume a inclusão no seu PPP, mas na prática não está preparada para receber um estudante com deficiência. Essa falta de preparo evidencia-se na estrutura física, na falta de apoio efetivo de profissionais especializados, na resistência dos professores em aceitar esses alunos, muitas vezes por receio do novo, de algo que pode lhes tirar da zona de conforto e provocar mudanças na sua prática. Além disso, existe uma dificuldade natural do ser humano em compreender e aceitar o diferente, o desconhecido. Afinal de contas, somos frutos de uma cultura que nos ensinou a contemplar o belo, o perfeito, o puro, o “normal”. É claro que não podemos generalizar. Ainda que as ações inclusivas na educação pareçam estar longe de alcançar a eficácia esperada, no contexto do ensino público, o Governo Federal, os estados e municípios vêm investindo em projetos de acessibilidade das escolas e na formação continuada de professores. Apesar disso, não é incomum ouvirmos dos nossos colegas que não adianta ensinar, não vale a pena insistir, o deficiente é limitado, ele não vai aprender mesmo, ou ele é doentinho, coitadinho! Ou então, ao contrário disso, há os que erguem a bandeira da igualdade alegando que todos são iguais perante a lei e a pessoa com deficiência deve ser tratada como todos os outros estudantes, o contrário é discriminação, é crime. Pensando e agindo dessa forma, a escola jamais será inclusiva. É preciso ir mais além na sua compreensão e não ignorar que a pessoa deficiente tem suas peculiaridades. A escola precisa reconhecer as diferenças sem discriminação, aceitá-las e respeitá-las, proporcionando a esses estudantes as oportunidades e os recursos necessários ao desenvolvimento da sua aprendizagem. Nesse sentido, o supervisor escolar tem o importante papel de zelar para que o estudante com deficiência tenha assegurados os recursos e as oportunidades de aprendizagem, que os professores sejam estimulados à pesquisa, tenham acesso à formação continuada e que a escola seja um espaço de aprendizagem ede socialização para o professor. Nesse sentido, o desafio para o supervisor é proporcionar espaços que facilitem as relações sociais no próprio ambiente escolar, estimulando a formação de grupos envolvendo profissionais da educação, pais e estudantes, para que haja troca de saberes. Isso lhe permitirá conhecer as diferentes concepções de mundo que permeiam essas relações que podem ajudar o coletivo a lidar com as diversidades que constituem a escola. A escola inclusiva reconhece as diferenças, aceita e respeita sem discriminação. 42 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas Conheça a legislação sobre educação especial. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=artic le&id=13020:legislacao-de-educacao-especial&catid=323:orgaos- vinculados Outro desafio que muitas escolas estão vivenciando é a implementação de projetos de educação em tempo integral. A LDB/96, em seu Artigo 34, determina que “a jornada escolar no Ensino Fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola. [...]”, e estabelece, no segundo parágrafo, que “o ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino”. Em 2007, a Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, que instituiu o FUNDEB, determina e regulamenta a educação básica em tempo integral, preconizando que a legislação decorrente deverá normatizar essa modalidade de educação. O Decreto nº 6.253/07, artigo 4º, define “educação básica em tempo integral a jornada escolar com duração igual ou superior a sete horas diárias, durante todo o período letivo, compreendendo o tempo total que um mesmo estudante permanece na escola ou em atividades escolares” (BRASIL, 2007). Em consonância às determinações da lei, em 2007 é instituído o projeto “Mais Educação”, que tem como objetivo fomentar a oferta e a prática da educação integral de crianças e adolescentes do Ensino Fundamental, por meio de atividades socioeducativas no contraturno escolar. Este programa vem sendo implementado desde 2008 nas escolas da rede pública de ensino que apresentaram baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), cabendo ao supervisor escolar a articulação das ações do programa dentro e fora da escola. O “Mais Educação” é um programa do Governo Federal, instituído por meio da Portaria Interministerial nº 17, de 24 de abril de 2007, coordenado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC), em parceria com a Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC) e com as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. É operacionalizado por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Este programa foi regulamentado pelo Decreto federal nº 7.083. Disponível em: 43 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=86&id= 12372&option=com_content&view=article/ A implementação desse programa certamente atende às necessidades educacionais atuais, entretanto as escolas que o adotaram, em geral, vêm passando por diversos desafios, desde a estrutura física inadequada até a falta de formação dos professores e demais profissionais da educação, pois atender o aluno em tempo integral nem sempre significa compreender a educação do indivíduo na sua integralidade. Muitas outras questões decorrentes do processo de reestruturação e modernização da educação vêm redefinindo o papel social da escola, que é desafiada a repensar o processo de ensino-aprendizagem, as inovações curriculares, a reorganização dos saberes, as relações pedagógicas, entre outras. Bullyng é um termo em inglês utilizado para qualificar comportamentos agressivos na escola. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2010, lançou uma cartilha sobre o tema que você poderá imprimir para ser analisada coletivamente na sua escola. Encontra-se disponível em: http://www.apeoc.org.br/publicacoes/cartilha.bullying/ Burnout se caracteriza em um tipo de estresse ocupacional constituído de três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho. Considerado um distúrbio emocional da modernidade, vem acometendo muitos profissionais da educação, em especial, professores da educação básica. Como ainda não é devidamente reconhecido, os professores que sofrem desse distúrbio, em geral, são vistos como mal-humorados e desinteressados. Para saber mais, sugerimos a leitura do artigo “Síndrome de Burnout em professores da rede pública”, publicado em 2007, disponível em: http://www.scielo. br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65132009000300004&ln g=pt&nrm=iso 44 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas Atividade de Estudos: Você agora será desafiado a realizar uma observação na sua escola visando identificar na sua ação supervisora (ou do supervisor da sua escola) as reais possibilidades e limitações presentes no seu contexto de trabalho. Você se lembra das anotações feitas no seu diário de bordo? Nelas você encontrará elementos que vão ajudá-lo a desenvolver essa atividade. Encaminhamentos • Retome as anotações feitas no seu diário de bordo e desenvolva um texto procurando respeitar os seguintes passos: 1) Apresente sua escola; 2) Fale sobre as condições legais de trabalho do supervisor escolar e da prática cotidiana deste profissional no seu contexto, incluindo as situações que não foram contempladas no nosso texto; 3) Com base nas informações coletadas, você deverá identificar na sua escola as condições objetivas e subjetivas que possibilitam e que limitam a atuação do supervisor escolar; 4) Com base nas condições reais da sua escola, proponha alternativas viáveis para mudanças. Não se esqueça de socializar seu trabalho com seus colegas! Encaminhamentos: Para desenvolver este texto você poderá utilizar como base, além desse material, os textos de Vasconcellos (2009) e de Rangel (2008) que estão postados na biblioteca do curso. Fique à vontade para utilizar outras bibliografias. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 45 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 46 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Algumas Considerações Neste capítulo você conheceu alguns conceitos sobre supervisão escolar e a influência do contexto histórico para a evolução desses conceitos. Com isso você teve elementos para estabelecer relações e compreender como se construíram as ideias e as práticas da supervisão escolar nos dias atuais. Identificou os aspectos legais acerca da constituição da profissão do supervisor escolar após a implementação da Lei 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as concepções de alguns autores da área, e refletiu sobre as propostas para a atuação participativa e transformadora do supervisor escolar nas políticas de educação na atualidade. Discutimos sobre os desafios enfrentados pelas escolas com o processo de inclusão de alunos deficientes e com a implementação da educação integral como exemplos das inúmeras situações enfrentadas pela escola e pelo supervisor escolar na atualidade. Estamos certos de que você foi capaz de identificar as concepções sobre o papel do supervisor na sua comunidade escolar e, com base nos conhecimentos adquiridos até aqui, pôde reconhecer e apontar as reais possibilidades e limitações para uma ação supervisora no seu contexto de trabalho, e propôs ações para a melhoria do processo ensino-aprendizagem da sua escola. Chegamos ao final do primeiro capítulo do nosso material, mas não chegamos nem perto do fim das discussões e nem seremos pretensiosos de pensar que chegaremos. Esperamos que até aqui tenhamos conseguido provocar- lhe o desejo e a coragem de alçar voos mais altos na busca de possibilidades para transformar a lógica tradicional e conservadora da sua ação supervisora. 47 O Supervisor Escolar no seu Fazer PedagógicoCapítulo 1 Este é um momento histórico de grandes transformações na sociedade. É de fundamental importância que o supervisor escolar tenha uma visão crítica que o permita compreender como essas transformações impactam na educação. Além disso, o momento é de ressignificação de papéis, e o supervisor escolar vem conquistando novos espaços que antes não lhe eram confiados. Isso lhe coloca em uma posição privilegiada, permitindo a ampliação dos seus conhecimentos, bem como sua atuação, por meio de ações qualitativas, participando efetivamente da melhoria da qualidade do processo educativo. Nos próximos dois capítulos vamos estudar os conceitos e processos de avaliação institucional no Brasil e conhecer as experiências exitosas de alguns supervisores que, por meio de uma atuação participativa, estão conseguindo transformar as práticas pedagógicas em suas escolas a partir dos resultados das avaliações institucionais, contribuindo com a melhoria da qualidade da aprendizagem. Referências Bibliográficas BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index. php?option=com_content&view=article&id=12907:legislacoes&>. Acesso em: 05 ago. 2012. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Gestão da educação escolar. Brasília: UnB, CEAD, 2004 vol. 1. p. 33-42). BRASIL. Projeto de Lei da Câmara PLC n°. 132/2005. Disponível em: <http:// www.senado.gov.br/publicacoes/diarios/pdf/sf/2005/12/13122005/44246.pdf>. Acesso em: 05 ago. 2012. BRASIL. Lei n. 11.494/07. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2007-2010/2007/Lei/L11494.htm#anexo>. Acesso em: 30 jul. 2012. BRASIL. Decreto 6.253/2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2007-2010/2007/Decreto/D6253.htm>. Acesso em: 30 jul. 2012. CUNHA, Fátima Suely Ribeiro. Limites e possibilidades para a implementação do Programa Mais Educação na Escola de Educação Básica Professora Laura Lima. In: SOUZA, Ana Cláudia de; Claricia Otto; FARIAS, Andressa da Costa. 48 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas (Org.). A ESCOLA CONTEMPORÂNEA: uma necessária reinvenção. 1 ed. Florianópolis: NUPE/CED/UFSC, 2011, v. 1, p. 301-312. LÜCK, Heloísa; FREITAS, Kátia Siqueira; GIRLING, Robert & KEITH, Sherry. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. Petrópolis: Vozes, 2005. PARENTE, Marta Maria de A; LÜCK, Heloísa. Mapeamento da Estrutura de Gestão Colegiada em Escolas dos Sistemas Estaduais de Ensino. Revista Em Aberto, v. 17, n. 72, Brasília, 2000, p. 156-162. Disponível em: <http://emaberto. inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/1102/1002>. Acesso em: 20 jul. 2012. RANGEL, Mary. Supervisão: do sonho à ação - uma prática em transformação. In: FERREIRA, Naura Syria Carapeto (orgs). Supervisão educacional para uma escola de qualidade: da formação à ação. Tradução de Sandra Valenzuela. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2008. SAVIANI, Demerval. A supervisão educacional em perspectiva histórica: da função à profissão pela mediação da ideia. In: Naura Syria Carapeto (orgs). Supervisão educacional para uma escola de qualidade: da formação à ação. Tradução de Sandra Valenzuela. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2008. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico: Do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2009. CAPÍTULO 2 Conceitos e Processos de Avaliação Institucional no Brasil A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Definir um conceito básico de avaliação. 9 Compreender os fundamentos e objetivos da avaliação institucional na educação. 9 Identificar e entender os indicadores de desempenho da sua escola junto ao IDEB. 9 Distinguir as avaliações da instituição e as avaliações de sistemas de educação. 9 Identificar e analisar a concepção e as práticas das avaliações institucionais na sua escola. 50 Dilemas da ação supervisora: desafios e perspectivas 51 Conceitos e Processos de Avaliação Institucional no BrasilCapítulo 2 Contextualização Em nossas discussões no capítulo anterior, vimos que as mudanças ocorridas na sociedade requerem um modelo de educação comprometido com a formação de sujeitos capazes de responder às necessidades de uma sociedade cada vez mais dinâmica e globalizada. Em vista disso, não há como desconsiderar a avaliação institucional como parte do processo educativo, uma vez que nos permite conhecer as vulnerabilidades do nosso contexto escolar e planejar mudanças necessárias à melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Nesse capítulo vamos conhecer alguns conceitos
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