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Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório • Todo animal necessita obter matéria orgânica e isso ocorre pelo processo da alimentação. • Desdobrar essa matéria orgânica nos seus elementos mais simples, através do processo de digestão e incorporar essa matéria orgânica através do processo de absorção, para que ela seja distribuída por todas as células e contribua para o perfeito funcionamento do organismo. Funções do sistema digestório • De uma forma geral, algumas das funções do sistema digestório são: - Ingestão; - Mastigação; - Digestão; - Absorção; - Eliminação de resíduos, daquilo que não foi absorvido. • Essas diferentes funções são executadas nas diferentes porções do trato gastrointestinal. Digestão x Nutrição • Existem dois processos relacionados ao sistema gastrointestinal que são fisiologicamente diferentes. Os processos de digestão e nutrição. - A digestão nada mais é que o conjunto de transformações físico-químicas que os alimentos sofrem para se tornarem moléculas menores, absorvíveis. - Nutrição é a incorporação desse material orgânico ao patrimônio celular e orgânico do indivíduo. Tipos de digestão • Quando se fala em digestão, deve estar claro que há dois tipos: - A mecânica: quebra física dos alimentos através da mastigação e dos movimentos peristálticos. Esses movimentos são executados pela musculatura do trato gastrointestinal. - Já a digestão química é a transformação de moléculas mais complexas em moléculas mais simples, através da ação dos sucos digestivos que contêm as enzimas que vão quebrar quimicamente esses alimentos. Organização do Trato Gastrointestinal • O sistema gastrointestinal é composto por órgãos que se comunicam nas suas duas extremidades com o meio ambiente, formando o trato gastrointestinal. • Esses órgãos são: - A cavidade oral, a faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso ou cólon e ânus. - Esses órgãos vão formar o TGI. • Além do TGI, o sistema gastrointestinal é composto também pelos órgãos ou glândulas anexas que vão lançar suas secreções à luz do TGI. Essas glândulas podem ser: - As glândulas salivares, que lançam suas secreções na cavidade oral; - Pâncreas, fígado e vesícula biliar, que lançam suas secreções no intestino delgado. Processos básicos do Sistema Gastrointestinal • Motilidade; • Secreção; • Digestão; • Absorção; • Excreção; Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório - Esses processos são altamente coordenados por sistemas neuroendócrinos intrínsecos do sistema gastrointestinal. Motilidade • É a movimentação da musculatura do TGI. • Uma das funções da motilidade é propulsionar esse alimento no sentido boca ânus. Digestão • O processo de digestão ocorre tanto na boca, quanto no estômago, quanto no intestino delgado. Absorção • Ocorre principalmente no intestino delgado. • Todo os nutrientes e matéria absorvida no intestino delgado é liberada na circulação para que seja distribuída por todas as células do corpo. Função imunológica do SGI • Além das funções relacionadas à digestão, o SGI tem uma função imunológica bastante importante, representada pelo GALT – Tecido linfático Associado ao Intestino. • O GALT é formado pelas placas de Pleyer, que são aglomerados de nódulos linfáticos e por uma população difusa de células imunológicas: macrófagos, linfócitos, eosinófilos, mastócitos, que são células que atuam no TGI protegendo esse compartimento inclusive da flora intestinal. • É bastante pertinente a existência de tecido linfático associado ao intestino pelo fato de que o TGI é uma longa extensão que está em contato direto com agentes infecciosos e substâncias tóxicas. • O GALT também tem uma influência nas doenças associadas ao SGI, como é o caso da doença celíaca. • Para ilustrar a importância do GALT na promoção da integridade do TGI há um artigo que faz uma análise da microbiota e correlaciona a disfunção do GALT ao aumento da obesidade. - A diminuição da homeostase do GALT aumenta a obesidade. Ou seja, esse sistema imunológico intrínseco ao SGI é importantíssimo para evitar o desenvolvimento de doenças relacionadas a esse trato, principalmente as inflamatórias, tais como a obesidade. Histologia básica do TGI • O TGI é composto por 5 camadas: - Camada serosa, mais externa; - Musculatura lisa longitudinal; - Musculatura lisa circular; - Submucosa; - Mucosa; • Grande parte da musculatura do TGI é uma musculatura lisa, com exceção da cavidade oral, da faringe e o terço superior do esôfago, que é composto por uma musculatura estriada. • Além dessas camadas, existem também os plexos, que fazem parte do sistema nervoso entérico. - Plexo interno (ou submucoso); - Plexo externo (ou mioentérico): entre a camada lisa longitudinal e a camada muscular lisa circular. Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório Epitélio intestinal • Composto principalmente de células caliciformes produtoras de muco. • O número e a função dessas células vão variar de acordo com a sua localização ao longo do TGI. - Por exemplo, células absortivas superficiais são mais abundantes no intestino delgado, enquanto células das criptas são abundantes tanto na base das vilosidades do delgado quanto nas dobras intestinais do cólon. - As células que sintetizam as enzimas da borda em escova são as células presentes no intestino delgado. Essas enzimas são as que quebram dissacarídeos nos seus respectivos monossacarídeos. - Células endócrinas são as células produtoras de hormônio. - As células do sistema imunológico são os linfócitos, macrófagos, mastócitos. - As células que fazem parte do sistema nervoso entérico são as células neurais. Regulação Neuro-hormonal do SGI • O SGI sofre uma regulação neuro-hormonal e é inervado por uma rede neural localizada na parede do TGI, que é intrínseca ao sistema nervoso entérico. • Esse sistema nervoso entérico é bastante desenvolvido e tem um número de neurônios praticamente igual ao número de neurônios presentes no sistema nervoso central. • O sistema nervoso entérico é formado: - Plexos ganglionares maiores: mioentérico e submucoso; - Plexos secundários e terciários: vão se comunicar com os plexos ganglionares por meio de feixes de fibras nervosas. • O SNE é autônomo, ou seja, capaz de regular todas as funções motoras, secretoras e endócrinas do SGI, mesmo na ausência do sistema nervoso autônomo. • Embora, os neurônios do SNE podem fazer sinapses com as fibras nervosas aferentes e eferentes do SNA, que vai ter uma função modulatória sobre o SNE. • De uma forma resumida, o SNE pode se autorregular, porém, o SNA também tem uma função moduladora sobre o SNE. • Os interneurônios do SNE vão fazer sinapses entre as fibras sensoriais aferentes de receptores sensoriais da parede do TGI e com os neurônios eferentes motores ou secretores que conduzem a informação do SNC até o TGI. Estruturas envolvidas na sinapse e as funções do Sistema Nervoso • Sinapses são os locais de comunicação entre um neurônio e outro, onde ocorre a transferência do impulso nervoso. Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório • Normalmente essa transferência vai ocorrer do terminal axional de um neurônio para os dendritos do outro neurônio. • A sinapse é composta por um terminal pré- sináptico onde há várias vesículas cheias de NTS. Esses NTS são liberados na região da fenda sináptica e vão se ligar a proteínas receptorasdo neurônio adjacente. • O Sistema nervoso pode ter funções sensitivas, integradoras ou motoras. • Os neurônios sensitivos são os neurônios chamados de aferentes, que levam a informação do local onde houve o estímulo até o SNC. • Os neurônios motores fazem o caminho inverso. Trazem a informação do SNC até onde ocorreu o estímulo. • Os neurônios integradores vão integrar a informação sensitiva e a informação motora. Sinapses nos plexos do SNE • A inervação parassimpática do sistema gastrointestinal é efetuada pelos nervos vago e pélvico. • Os nervos vagos inervam desde o esôfago até o colón, enquanto o nervo pélvico inerva do colo ao esfíncter anal interno. • Desses nervos partem fibras que fazem sinapse no sistema nervoso entérico, nos plexos mioentérico e submucoso. E, desses plexos, partem fibras pós- sinápticas que inervam o músculo, as células secretoras, células endócrinas e os vasos sanguíneos. • Já a inervação simpática vai partir da medula toracolombar através de fibras pré-ganglionares, que fazem sinapse nos gânglios e essas fibras pós- ganglionares fazem sinapse no sistema nervoso entérico. • Normalmente, a inervação parassimpática é colinérgica excitatória, que tem como característica o neurotransmissor acetilcolina. Por outro lado, a inervação simpática é noradrenérgica, tendo como característica a liberação de neurotransmissor noradrenalina. • A inervação parassimpática do SGI, é compreendida pelos nervos vagos e pélvicos. Esses nervos são constituídos de 75% de fibras aferentes e 25% de fibras eferentes. Reflexos longos (vagovagais) • É quando há um estímulo. Desse local do estímulo partem fibras aferentes para o SNC e do SNC, do mesmo nervo, partem as fibras eferentes. Então quando o corpo celular do neurônio aferente está localizado no SNC, é um reflexo longo. • Nesse caso há o estímulo de mecano, quimio e osmoreceptores na mucosa do trato gastrointestinal. O alimento vai estimular esses receptores, que vão enviar impulsos aferentes ao SNC via nervo vago. Desse mesmo nervo partem as fibras eferentes que vão fazer sinapse nos plexos mioentéricos e submucoso, para influenciar a secreção de células secretoras e células endócrinas. • Então os reflexos mediados desse modo são os longos. Pois os corpos celulares desses neurônios aferentes estão localizados no SNC. • Se as vias aferentes e eferentes forem o nervo vago, o reflexo denomina-se reflexo longo vagovagal. Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório Reflexos curtos • Os reflexos curtos ocorrem quando as vias aferentes dos receptores sensoriais que estão localizados na parede do SGI vão fazer sinapse com os corpos celulares dos interneurônios que estão nos plexos no próprio TGI. • Nesse caso, os mecano e quimiorreceptores estão sendo estimulados na mucosa do TGI. Fibras aferentes fazem sinapse nos plexos mucoso e mioentérico e desses plexos partem as fibras eferentes que vão influenciar o funcionamento modular de células secretoras e de células endócrinas. Reflexos curtos peristálticos • São fibras ascendentes dos mecanorreceptores sensoriais presentes na parede do TGI. • Essas fibras fazem sinapse com os interneurônios presentes nos plexos mioentérico e submucoso. • As fibras pós-sinápticas eferentes partem para a musculatura, provocando tanto contração oral, quando é neurônio motor excitatório. Os neurotransmissores nesse caso são excitatórios, como é o caso da acetilcolina. Ou pode ser neurônio motor inibitório, que tem o neurotransmissor óxido nítrico, que provocaria então o relaxamento. - Contração: acontece por meio de fibras colinérgicas ou substância P. - Relaxamento: fibras vipérgicas ou neurotransmissor com NO. • Dessa forma o conteúdo luminal é segmentado pela contração oral e propelido para o segmento vizinho, distalmente localizado e relaxado. Regulação endócrina, neurócrina e Parácrina • A regulação de todo o SGI pode ser endócrina, neurócrina e parácrina. • A regulação endócrina é quando a célula endócrina libera o hormônio na corrente sanguínea e esse hormônio vai agir sobre uma célula-alvo. • A regulação parácrina é quando a célula secretora libera seu produto direto na célula-alvo, que é bastante parecido com a regulação neurócrina, só que na neurócrina há a presença de neurotransmissores sendo liberados na fenda sináptica. Neurotransmissores do SGI • São sintetizados nos corpos celulares dos neurônios pré-sinápticos eferentes do SNA, sendo armazenados em vesículas. Quando existe um estímulo, as vesículas vão sofrer exocitose na membrana e vai liberar o neurotransmissor na fenda sináptica. • Esses neurotransmissores vão se difundir na fenda sináptica e se ligar a receptores específicos dos neurônios pós-sinápticos. Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório • Os principais neurotransmissores que tem função conhecida e importante do SGI são: - Acetilcolina (Ach): NT parassimpático – age estimulando a motilidade, secreções e vasodilatação. - Norepinefrina (NE): NT simpático – diminui a motilidade e as secreções, secundariamente à vasoconstrição - Oxido nítrico (NO) e Encefalinas: agem como NT que ativam as respostas inibitórias. - Peptídeo Vasoativo Intestinal (VIP): NT parassimpático - age como inibidor da motilidade e eleva a secreção do pâncreas exócrino. - Peptídeo Liberador de Gastrina (PLG): NT nervo vago – estimulam a secreção das células G antrais, secretoras de gastrina. - Substância P: NT parassimpático – estimula a secreção salivar, agindo em receptores das células acinares e inibe a motilidade do TGI. - Neuropeptídio Y (NPY): produz o relaxamento da musculatura lisa do TGI. • Nessa figura vemos um exemplo dos NTS sendo liberados nas células-alvo, as quais possuem os receptores específicos para esses neurotransmissores. Hormonios secretados por células endócrinas • Além dos nts, o SGI é modulado por hormônios secretados por células endócrinas, são esses: - Secretinas; - Colecistocinina; - Gastrina; - Peptídeo inibidor gástrico; - Motilina; - Somatostatina; • Cada um desses hormônios vai atuar em células específicas, com funções específicas. - Gastrina: Ela é liberada pelas células G do estomago. O estímulo para sua secreção é a chegada do quimo ao estomago. Sua função é estimular a secreção de HCL, que vai propiciar um ambiente adequado para o funcionamento das enzimas gástricas. - Colecistocinina: Ela é liberada pelas células I do duodeno e jejuno, regiões do intestino delgado. O estímulo para a liberação desse hormônio é a presença dos produtos de hidrólise lipídica e proteica. Ela estimula a secreção enzimática do pâncreas e a liberação da bile pela vesícula biliar. - Secretina: Ela é da família do glucagon e é secretada pelas células S do duodeno e jejuno. O estímulo para a secreção desse hormônio é a acidez do quimo, proveniente do estomago. Sua principal função é bastante conhecida, pois age como um antiácido fisiológico, já que todas as funções desse hormônio são no sentido de diminuir a acidez do quimo. - GIP (peptídeo inibidor gástrico): secretado pelas células endócrinas do intestino delgado. O estímulo para a secreção dele são produtos da hidrólise de todos os macronutrientes, carboidratos, proteínas e lipídeos. A função desse hormônio é reduzir a secreção e a motilidade gástrica, além de elevar a secreção de insulina das células beta das ilhotas pancreáticas. Pela função desse hormônio é que quando a glicose é administrada oralmente, a produção de insulina é mais rápida do que quando a glicose é administrada por via intravenosa.Ao administrar por via oral, há o estímulo pelo GIP. - Motilina: Secretada pelo intestino delgado. Ela também é secretada em fase com o complexo migratório mioelétrico. Sua principal função é aumentar a motilidade do TGI, a movimentação muscular. • Existem algumas substâncias que são candidatas a hormônios, como: - Polipeptídio pancreático (PP): secretado pelo pâncreas, estimulado pela glicose, tem a função de diminuir a Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório secreção de bicarbonato e de enzimas do pâncreas exócrino. - Enteroglucagon: secretado no íleo, estimulado por produtos da hidrólise lipídica e de carboidratos. A função ainda não é bem estabelecida na literatura. Interação dos sistemas nervoso e endócrino • Existe uma interação entre os sistemas nervoso e endócrino. • O receptor neural que está no TGI, quando recebe o estímulo, ele envia fibras aferentes ao sistema nervoso. O sistema nervoso regula a produção e secreção das células endócrinas, dos hormônios. • Esse hormônio vai ser liberado na corrente sanguínea e atuará sobre um célula-alvo. Da mesma forma, a própria fibra nervosa pode atuar diretamente sobre a célula-alvo. • Então todas as funções do sistema gastrointestinal podem ser moduladas tanto pelo sistema nervoso, quanto pelas células endócrinas produtoras de hormônio. Motilidade do trato gastrointestinal • A motilidade do TGI é efetuada pela musculatura da parede do TGI. Esse mecanismo de motilidade propicia: - Mistura dos alimentos com as secreções luminais; - Trituração; - Progressão do alimento no sentido boca - ânus; - Excreção; • A musculatura do TGI é majoritariamente musculatura lisa, com exceção da cavidade oral, faringe, terço superior do esôfago e o esfíncter anal externo. Todos os outros tem musculatura lisa. • Essa musculatura está disposta em feixes musculares, envoltos por tecido conjuntivo e inervados por um único neurônio. • Esses feixes musculares se comunicam uns com os outros por meio das junções GAP, o que vai promover a transferência do estímulo. Se uma fibra se contrai, todas as outras vão contrair também. • Além disso, o neurônio que vai inervar essas fibras musculares envoltas por tecido conjuntivo tem um axônio cheio de varicosidades. Essas varicosidades são dilatações cheias de neurotransmissores. Esses nts atuarão na motilidade do trato. Musculatura lisa visceral unitária • A musculatura do TGI é lisa, visceral e unitária. • Ela é disposta em feixes musculares, envoltos por tecido conjuntivo e inervadas por um neurônio. • O conjunto desse feixe muscular + neurônio forma a unidade motora. Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório • Os canais GAP acoplam eletricamente as células, permitindo a passagem de segundos mensageiros intracelulares. • Feixes são formadas de centenas de fibras musculares inervadas por um único feixe de neurônio. Contração muscular • A contração da fibra muscular lisa depende do influxo de cálcio na célula. • Quando há uma elevação do influxo de cálcio pela ativação de canais de cálcio, esse cálcio se liga à calmodulina. • Isso vai ativar a cadeia leve da miosina-quinase. • A miosina-quinase tem a função de fosforilar a miosina. Uma vez fosforilada essa miosina vai interagir com a actina, promovendo a contração muscular. • Os miofilamentos de actina e miosina da fibra muscular lisa são organizados numa rede disposta obliquamente nas células e ligado ao citoesqueleto. • Esses miofilamentos distribuem a tensão por toda a célula. • Existem dois tipos básicos de contração: - Contração fásica: ocorre em poucos segundos ou minutos. - Contração tônica: contração mantida ou sustentada, pois pode durar minutos ou horas. Ela se sustenta, também chamada de tônus. A região que sofre essa contração são os esfíncteres do TGI. Ondas lentas • Ondas lentas é quando o potencial de membrana das fibras lisas sofre oscilações ou despolarizações subliminares, chamadas de ondas lentas. • Essas ondas vão possuir uma frequência típica para cada região do TGI, essas regiões são chamadas de marca-passo e compostas pelas fibras intersticiais de Cajal. • Essas fibras intersticiais de cajal são células com características de miofibroblastos e de fibras musculares lisas. • São essas células que vão determinar a frequência de cada região do TGI. Essas fibras desenvolvem ondas lentas com as frequências determinadas pelos marca-passos característicos de cada região do TGI, o que é chamado de ritmo elétrico basal (REB). • Então cada região do TGI apresenta um ritmo elétrico basal: - Estômago: 3 ondas/min; - Duodeno: 12 ondas/min; - Íleo: 8 a 9 ondas/min; • Essas ondas lentas são responsáveis pela contração. • Quando há a formação de ondas lentas, que é a despolarização da membrana abaixo de um limiar, há a contração do músculo, mesmo quando não se atinge o potencial de ação. É preciso atingir um limiar contrátil, mas a contração ocorre mesmo na ausência de um potencial de ação. Relembrando potencial de ação • Toda célula tem um potencial de membrana. • O potencial de membrana é uma diferença de cargas no meio externo e interno. Essa diferença de cargas é mantida, por exemplo, pela bomba de sódio-potássio, que mantem as concentrações de Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório potássio maiores dentro da célula e de sódio maiores fora da célula. • Quando há algum estímulo, os canais permeáveis ao sódio se abrem. Esse sódio entra na célula e o potássio sai, o que é chamado de despolarização da membrana. • Essa despolarização provoca um impulso nervoso. • Quando ocorre uma despolarização acima de um limiar, há ativação de um potencial de ação. Então o estímulo no neurônio vai causar uma despolarização. • No caso do TGI a despolarização não precisa alcançar um limiar para atingir o potencial de ação para se contrair, basta alcançar um limiar contrátil. Por isso são ondas lentas, pois é uma despolarização subliminar. Mastigação • É um processo de quebra mecânica dos alimentos. • Há a trituração dos alimentos, efetuada pelos dentes. • Há 4 dentes incisivos, 2 caninos e 10 entre pré- molares e molares. • A função dos dentes anteriores é cortar e a dos dentes posteriores é triturar. • Na boca há a quebra do alimento em partículas menores e a formação do bolo para deglutição. • Os alimentos são misturados com a saliva, possibilitando o início da digestão química. • A presença do alimento na cavidade oral vai estimular os quimiorreceptores e mecanorreceptores, que vão desencadear reflexos que são conduzidos ao SNC e vão coordenar os músculos mastigatórios, tornando a mastigação um ato reflexo. Deglutição • É o processo de passagem do bolo alimentar da boca para o estômago, através do esôfago. • É um ato parcialmente voluntário e parcialmente reflexo, coordenado pelo SNC e pelo SNE. • O terço proximal do esôfago tem musculatura estriada. Por outro lado, o restante é composto de musculatura lisa. • Encima está o esfíncter esofágico superior e mais embaixo, conectando o esôfago ao estomago, há o esfíncter esofágico inferior. • No processo de deglutição o bolo alimentar atravessa todo o esôfago por meio das ondas peristálticas, com uma ação mecânica proporcionada por essas ondas, até chegar ao estomago. Fases da deglutição • Fase oral – voluntária: - Totalmente voluntária. - Quando a língua empurra o alimento contra o palato duro, propelindo o alimento para a parte posterior da cavidadeoral. • Fase faríngea: - Ocorrem estímulos mecânicos na orofaringe e a ativação do centro da deglutição. - Fase reflexa, involuntária. Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório - O palato mole se eleva, fechando a passagem do alimento para as narinas. • Fase esofágica: - Fase reflexa, involuntária. - Ocorre o fechamento da traqueia pela epiglote e a abertura do esfíncter esofágico superior, para que esse alimento entre no esôfago. - Ocorre então o início da onda peristáltica da faringe para o esôfago, chamada de peristalse primária. Ocasionada pelo centro da deglutição. - Se ficar algum alimento no esôfago, ocorre a peristalse secundária, ocasionada pela distensão do esôfago, por conta da presença de alimento nesse compartimento. Experimento • Nesse experimento eles analisaram a pressão nas diferentes regiões do esôfago. • No repouso, nas regiões do esfíncter esofágico superior e esfíncter esofágico inferior, a pressão é maior do que nas outras regiões do esôfago. • Essa pressão maior nos esfíncteres é importante porque impede o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago. • Na deglutição, percebe-se que ocorre uma modificação das pressões das diferentes regiões do esôfago. Regulação neural da deglutição • A deglutição é um processo que sofre regulação neural. • Os nervos responsáveis por essa regulação são principalmente os nervos vago e glossofaríngeo, que levam as fibras aferentes ao centro da deglutição, que vai controlar todo o processo. Disfunção na contração do EEI • Existem algumas anomalias que são correlacionadas à disfunção da contração e do relaxamento dos esfíncteres esofágicos. Acalásia • A acalasia, por exemplo, é uma anomalia que decorre do aumento do tônus do esfíncter esofágico inferior ou de falha no seu relaxamento. • As ondas peristálticas primárias são fracamente propulsivas e vai promover o acúmulo de material na porção inferior do esôfago, sendo necessária a aspiração. Azia • Distúrbio mais frequentemente associado à disfunção do esôfago. • Consiste numa diminuição da pressão do esfíncter esofágico inferior, causando um refluxo gástrico ácido com lesão da parede do esôfago. Motilidade gástrica • O estomago também é caracterizado por sua motilidade. • Ele tem a função de armazenar, misturar e triturar o alimento, propelindo esse alimento lentamente para o intestino delgado, através do esfíncter pilórico. Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório • A função de armazenamento vai ocorrer na região do fundo e proximal do corpo. • A função de mistura ocorre principalmente na região média e distal do corpo. • A função de trituração ocorre na região antral. Regiões funcionais do estômago • Na região do esfíncter esofágico inferior e cárdia, região do esôfago e do estomago, ocorre a prevenção do refluxo, entrada do alimento e a regulação da eructação. • O fundo e o corpo do estomago são reservatórios, é ali que o alimento pode ficar por algumas horas. Eles possuem uma força tônica durante o esvaziamento. • A região antro pilórica tem a função de misturar, triturar, peneirar e regular o esvaziamento gástrico. Padrões motores do estômago • Existem alguns padrões motores associados ao estômago, como por exemplo: - Relaxamento receptivo: Durante o processo de deglutição, o esfíncter esofágico inferior relaxa, para que o alimento saia do esôfago e vá para o estômago. Quando o EEI relaxa, a musculatura do fundo e da porção proximal do corpo também se relaxa. Por isso o alimento se acomoda nesse compartimento. - Peristalses gástricas: vão se iniciar na região proximal do corpo, onde se localizam as células de marca-passos, responsáveis pela frequência das ondas lentas. Essas ondas vão aumentar de intensidade e velocidade em direção à região antro-pilórica, propiciando a mistura do alimento com as secreções gástricas. - Retropropulsão: É quando o alimento parcialmente digerido forma o quimo. O piloro vai se relaxar, permitindo o escape de pequenas quantidades de quimo para o intestino delgado. A seguir o piloro se contrai rápida e abruptamente. Essa contração rápida e abrupta vai promover a trituração do quimo. • Existem alguns eventos que são característicos da peristalse gástrica: 1. O estômago está se enchendo. Uma fraca onda peristáltica começa no antro, propagando-se na direção do piloro. O conteúdo gástrico é misturado e fragmentado, porque é levado em grande parte de volta para o corpo do estômago. Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório 2. Quando a onda fraca está se dissipando e o piloro deixa de se abrir, uma onda mais forte começa e movimenta o conteúdo em ambas as direções, fazendo uma mistura mais efetiva. 3. Quando o piloro se abre, a onda chamada de B se aproxima (a segunda). O bulbo duodenal é preenchido e parte do conteúdo passa para a segunda porção do duodeno, que é quando começa uma onda C. 4. O piloro está novamente fechado. A onda C não consegue esvaziar o conteúdo. Surge uma nova onda. Essas ondas peristálticas começam num seguimento cada vez mais alto do estomago e o conteúdo gástrico vai sendo esvaziado. 5. 3 a 5 horas depois, o estômago vai estar quase vazio. Essas pequenas ondas peristálticas vão esvaziar o bulbo duodenal, com algum refluxo para o estômago. • Essa movimentação da parede do estômago é o que caracteriza a peristalse gástrica. Velocidade de Esvaziamento Gástrico • Essa velocidade depende de mecanismos neuroendócrinos, mas também do conteúdo da ingesta. • Normalmente a glicose é expelida do estômago primeiro, seguida de gorduras e proteínas. • Substâncias que não forem digeridas no estômago vão deixar o compartimento apenas nos períodos interdigestivos através do complexo migratório mioelétrico. Inervação pelo SNA e SNE • Esse compartimento é ricamente inervado pelo SNA e SNE. • As fibras vagais eferentes colinérgicas aumentam a motilidade e secreção gástrica. • Por outro lado, as fibras vagais eferentes vipérgicas, liberadoras de NO e noradrenérgicas tendem a diminuir a motilidade e a secreção gástrica. Contração gástrica • A contração da parede do estômago vai ocorrer durante a despolarização da fibra muscular, após atingir um limiar contrátil, sem necessariamente atingir um potencial de ação. • Na figura podemos observar que a despolarização atinge um limiar contrátil, por tanto, ocorre a contração. Registros elétricos em fibras musculares lisas • Diferentes partes do estômago possuem registros elétricos diferentes. - A musculatura do fundo é quiescente eletricamente. Por esse motivo, o fundo e a porção proximal do antro são os locais onde o alimento consegue ficar armazenado. - As ondas lentas começam a aparecer na região proximal do corpo gástrico e vão aumentar de intensidade em direção ao antro, que é a porção gástrica onde há a trituração dos alimentos, por conta das forças de contração. - Apenas a partir do antro distal começam a aparecer os potenciais de ação na fase de despolarização das ondas lentas. Ondas peristálticas do CMM • Nos períodos interdigestivos, durante 1 a 2 h, a musculatura gástrica é quiescente. Por esse motivo é possível armazenar o alimento no estômago. Universidade Federal do Rio de janeiro Campus UFRJ – Macaé Enfermagem e Obstetrícia Angie Martinez Bloco digestório • Após esse tempo começa uma intensa atividade elétrica e contrátil bastante intensa, que se propaga da região média do corpo do estômago até o duodeno. • O complexomigratório mioelétrico dura cerca de 10 min e ocorre periodicamente a cada 90 min. Ele vai empurrar qualquer material que tenha deixado o estômago durante o processo digestivo normal. • É como se esse CMM fizesse a ¨faxina¨ no estômago, para retirar o alimento que restou mesmo depois das ondas intensas e contráteis. • O quimo permanece no estômago entre 2 e 3h, dependendo da natureza química da ingesta. Gorduras são os últimos nutrientes a serem esvaziados, seguidos de proteínas. Carboidratos esvaziam-se mais rapidamente e soluções salinas isotônicas o fazem mais rapidamente do que as hipo e hipertônicas. Continuação da velocidade do esvaziamento gástrico • A velocidade do esvaziamento é regulada por mecanismos neuro-hormonais, que vão propiciar condições para o processamento do quimo pelo intestino delgado. • A regulação do esvaziamento gástrico é exercida pela região antro-pilórica e pelo duodeno. • O esfíncter pilórico tem duas funções fundamentais: - Funciona como barreira entre o estômago e duodeno durante os períodos interdigestivos; - Regula a velocidade de esvaziamento gástrico. • De uma forma mais resumida, a velocidade de esvaziamento gástrico depende de processos neurais e endócrinos. - A chegada do alimento ácido, de gorduras, AA no duodeno vai estimular os quimiorreceptores duodenais que estimulam as células secretórias de hormônios, as quais vão modular o esvaziamento gástrico. - Da mesma forma, a ativação desses quimiorreceptores fazem com que fibras aferentes sejam levadas ao SNC e fibras eferentes com atividade simpática ou parassimpática colinérgica chegue no TGI e ativem uma resposta de excitação ou inibição. - A atividade motora do piloro é controlada por hormônios como Gastrina, CCK, GIP, Acetilcolina, Norepinefrina... tanto por mecanismos neurais como mecanismos endócrinos.
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