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AS DROGAS DE ABUSO Aspectos Históricos Relacionados às Drogas de Abuso Ao longo da história do homem as drogas revelaram-se de múltiplas formas. Representa uma presença constante associada à medicina, ciência, religião, magia, cultura, festa e deleite. Antigamente, utilizavam de plantas alucinógenas. Um exemplo é a utilização da papoula do ópio, considerada planta da felicidade, ou “que faz esquecer o sofrimento”. O ópio é um depressor do sistema nervoso central que apresenta características sedativas e analgésicas. Hoje são utilizadas várias substâncias derivadas do ópio, como a morfina, a heroína e a codeína. O consumo de álcool também remonta à antiguidade. O vinho era considerado a bebida dos deuses. A Cannabis foi utilizada pela Medicina Chinesa como anestésico em cirurgias e na Medicina Indiana como hipnótico, analgésico e espasmolítico. Os nativos da América do Sul tinham por hábito mascar as folhas de Erythroxylon coca para suportar o trabalho em altitudes e a dieta inadequada. No século XIX, foi extraída das folhas de Erythroxyloncocaa, sendo utilizada como antídoto dos depressores do sistema nervoso, no tratamento do alcoolismo e da morfinomania e como anestésico local em cirurgias oftalmológicas. Em 1863, na Europa, foi lançado o vinho Mariani, feito das folhas da coca. Até 1903, o refrigerante Coca-Cola apresentava em sua composição esse princípio ativo. Relatos na literatura apontam também a utilização da cocaína em medicamentos para alívio de problemas respiratórios. Muitas substâncias como o café, a cafeína, a estriquinina, o arsênico, o tabaco e a nicotina eram utilizadas como estimulantes. Os barbitúricos, derivados da ureia e do ácido malônico, foram amplamente consumidos para induzir o sono. Outra substância muito utilizada foram as anfetaminas, pelos seus efeitos estimulantes, antidepressivos e antiemagrecimento. O movimento hippie marcou o uso de drogas como o haxixe, maconha e derivados e marijuana. O LSD e cogumelos também foram utilizados. A partir do final dos anos 80, a cocaína ressurge de forma epidêmica. Porém, na forma intranasal e endovenosa. A partir de 1990, houve a expansão do consumo de crack (uma mistura de cocaína e bicarbonato de sódio, aquecida e fumada na forma de pedra) pelo seu baixo custo e potencial de dependência. Os agentes inalantes foram utilizados em todas as épocas por seus efeitos euforizantes. Atualmente, os mais utilizados são: as colas (que contêm acetona, hexano e benzeno), os solventes, removedores e diluentes de tintas (contendo acetona), os anestésicos voláteis (o éter, protóxico de nitrogênio) e os gases (a gasolina e os gases do escapamento de automóveis). No final dos anos 80, surge na Europa, a chamada “droga de amor”, o êxtase ou ecstasy. Atualmente é a mais usada entre os jovens. Na Tabela abaixo está um resumo do histórico do uso de drogas de abuso no mundo. TABELA - TRAJETÓRIA DAS SUBSTÂNCIAS PSICOTRÓPICAS 5400 - 5000 a.C. Um jarro de cerâmica descoberto no norte do Irã, com resíduos de vinho resinado, é considerado a mais antiga evidência da produção de bebida alcoólica. 4000 a.C. Os chineses são, provavelmente, um dos primeiros povos a usar a maconha. Fibras de cânhamo descobertas no país datam dessa época. 3500 a.C. Os sumérios, na Mesopotâmia, são considerados o primeiro povo a usar ópio. O nome dado por eles à papoula pode ser traduzido como “flor do prazer”. 3000 a.C. A folha de coca é costumeiramente mastigada na América do Sul. A coca é tida como um presente dos deuses. 2100 a.C. Médicos sumérios receitam a cerveja para a cura de diversos males, segundo inscrições em tabuletas de argila. 2000 a.C. Hindus, mesopotâmios e gregos usam o cânhamo como planta medicinal. Na Índia, a maconha é considerada um presente dos deuses, uma fonte de prazer e coragem. 100 a.C. Depois de séculos, o cânhamo cai em desuso na China e é empregado apenas como matéria-prima para a produção de papel. Século 11 Hassan Bin Sabah funda a Ordem dos Haximxim, uma ordem de guerreiros que recebia, em sua iniciação, uma grande quantidade de haxixe, a resina da Cannabis. 1492 O navegador Cristóvão Colombo descobre os índios usando tabaco durante suas viagens ao Caribe. Século 16 Américo Vespúcio faz na Europa os primeiros relatos sobre o uso da coca. Com a conquista das Américas, os espanhóis passam a taxar as plantações. Durante a expansão marítima para o Oriente, os portugueses adotam a prática de fumar ópio. 1550 Jean Nicot, embaixador francês em Portugal, envia sementes de tabaco para Paris. Século 17 O gim é inventado na Holanda e sua popularização na Inglaterra no século 18 cria um grave problema social de alcoolismo. Século 18 O cânhamo volta a ser usado no Ocidente, como planta medicinal. Alguns médicos passam a usá-lo no tratamento da asma, tosse e doenças nervosas. Século 19 Surgem os charutos e cigarros. Até então, o tabaco era Fumado principalmente em cachimbos e aspirado na forma de rapé. 1845 O pesquisador francês Moreau de Tours publica o primeiro estudo sobre drogas alucinógenas, descrevendo seus efeitos sobre a percepção humana. 1850-1855 A coca passa a ser usada como uma forma de anestesia em operações de garganta. A cocaína é extraída da planta pela primeira vez. 1852 O botânico Richard Spruce identifica o cipó Banisteriopsiscaapicomo a matéria-prima de onde é extraída a ayahuasca. 1874 Com a mistura de morfina e um ácido fraco semelhante ao vinagre, a heroína é inventada na Inglaterra por C.R.A. Wright. 1874 A prática de fumar ópio é proibida em San Francisco (EUA). A Sociedade para a Supressão do Comércio do Ópio é fundada na Inglaterra, e só quatro anos depois as primeiras leis contra o uso de ópio são adotadas. 1884 O uso anestésico da cocaína é popularizado na Europa. Dois anos depois, John Pemberton lança nos EUA uma beberagem contendo xarope de cocaína e cafeína: a Coca- Cola. A cocaína só seria retirada da fórmula anos depois. 1896 A mescalina, princípio ativo do peyote, é isolada em laboratório. 1898 A empresa farmacêutica Bayer começa a produção comercial de heroína, usada contra a tosse. 1905 Cheirar cocaína torna-se popular. Os primeiros casos médicos de danos nasais por uso de cocaína são relatados em 1910. Em 1942, o governo dos EUA estima em 5.000 as mortes relacionadas ao uso abusivo da droga. 1912 A indústria farmacêutica alemã Merck registra o MDMA (princípio ativo do ecstasy) como redutor de apetite. A substância, porém, não chega a ser comercializada. 1914 A cocaína é banida dos EUA. 1930 Num movimento que começa nos Estados Unidos, a proibição da maconha alcança praticamente todos os países do Ocidente. 1943 O químico suíço Albert Hofmann ingere, por acidente, uma dose de LSD-25, substância que havia descoberto em 1938. Com isso, descobre os efeitos da mais potente droga alucinógena. 1950- 1960 Cientistas fazem as primeiras descobertas da relação do fumo como câncer do pulmão. 1953 O exército norte-americano realiza testes com ecstasy em animais. O objetivo era investigar a utilidade do agente em uma guerra química. 1956 Os EUA banem todo e qualquer uso de heroína. 1965 O LSD é proibido nos EUA. Seus maiores defensores, como os americanos Timothy Leary e Ken Kesey, começam a ser perseguidos. 1965 Alexander Shulgin sintetiza o MDMA em seu laboratório. Ao mastigá-lo, sente "leveza de espírito" e apresenta a droga a psicoterapeutas. Anos 70 O uso da cocaína torna-se popular e passa a ser glamourizado. Nos anos 80, o preço de 1 Kg de cocaína cai de US$ 55 mil (1981) para US$ 25 mil (1984), o que contribui para sua disseminação. 1977 Início da "Era de Ouro" do ecstasy. Terapeutas experimentais fazem pesquisas em segredo para não chamar a atenção do governo. Década de 80 Surgeo crack, a cocaína na forma de pedra. A droga,acessível às camadas mais pobres da população tem um alto poder de dependência. 1984 Holanda libera a venda e consumo da maconha em estabelecimentos específicos - os coffee shops. 1984 O uso recreativo do MDMA ganha as ruas. Um ano depois, a droga é proibida nos EUA e inserida na categoria dos psicotrópicos mais perigosos. 2001 Os EUA dão apoio financeiro de mais de US$ 2 bilhões ao combate ao tráfico e à produção de cocaína na Colômbia. 2003 O governo canadense anuncia que vai vender maconha para doentes em estado terminal. É a primeira vez que um governo admite o plantio e comercialização da droga. FONTE: Revista Galileu Especial nº 3 – Agosto de 2003. Preparação e Métodos de Detecção As drogas de abuso podem ser classificadas em: • Lícitas Drogas de abuso lícitas são aquelas permitidas e liberadas legalmente. Exemplos: cigarros e bebidas alcóolicas. • Ilícitas Drogas de abuso ilícitas são aquelas proibidas legalmente. Exemplos: cocaína, heroína, maconha, LSD, etc. As drogas causam dependência pelo seu mecanismo de ação no Sistema Nervoso Central (SNC), gerando uma sensação de recompensa. Dessa forma, de acordo com relatos da literatura, todo comportamento que é reforçado por uma sensação de recompensa, tende a ser repetido. Para compreendermos o mecanismo de ação dessas substâncias, são necessários termos uma noção geral do funcionamento do SNC. Um estímulo é recebido por intermédio dos órgãos do sentido. A mensagem é enviada ao SNC, onde é processada, interpretada, elaborada, memorizada, associada, dentre outros. Porém, esse processo ocorre em milésimos de segundos. O SNC é constituído de bilhões de neurônios, células responsáveis pelo processamento das informações. Juntos, os neurônios formam uma complexa rede de comunicação. Na Figura está representada a estrutura simplificada de um neurônio. FIGURA - ESTRUTURA SIMPLIFICADA DE UM NEURÔNIO FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com>. Os neurônios não estão intimamente ligados, há um espaço entre eles chamado de fenda sináptica. Na fenda sináptica ocorre o processo de neurotransmissão ou sinapse, que representa a troca de informações entre os neurônios. FIGURA - FENDA SINÁPTICA FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com>. A informação é transmitida do neurônio pré-sináptico para o pós- sináptico pela liberação de substâncias químicas denominadas de neurotransmissores. Diante do exposto, as drogas psicotrópicas agem alterando essas comunicações entre os neurônios, produzindo diversos efeitos de acordo com o tipo de neurotransmissor envolvido e a forma como a droga atua. Como já foi citado anteriormente, as drogas psicotrópicas são classificadas em três grandes grupos: • Drogas depressoras São drogas que diminuem a atividade do SNC. Exemplos: álcool, inalantes, benzodiazepínicos. • Drogas Estimulantes: São drogas que estimulam a atividade do SNC. Exemplos: cocaína e derivados como crack, merla, pasta, etc. • Drogas pertubadoras São drogas que produzem uma mudança qualitativa no funcionamento do SNC. Exemplo: maconha, triexifenidil (Artane). A análise química tem sido amplamente utilizada em diversos segmentos da sociedade, em especial na Química Forense, para a verificação da utilização de drogas de abuso pelas pessoas sob suspeita. Diversas técnicas são utilizadas para avaliar amostras de fluidos biológicos e hoje há testes específicos para cada tipo de droga (maconha, cocaína, barbitúricos, anfetaminas, etc.). Os testes de detecção de drogas de abuso podem ser realizados com amostras biológicas como fluidos corporais (sangue, urina) e queratinizadas (cabelos ou pelos). Na Tabela 5 estão descritas as principais drogas e as matrizes biológicas utilizadas na sua detecção. TABELA - PRINCIPAIS DROGAS DE ABUSO E MATRIZES BIOLÓGICAS UTILIZADAS NA DETECÇÃO FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br>. As amostras devem ser coletas com cautela e armazenadas de forma a manter a confiabilidade das mesmas, para garantir a conservação. Exame de Urina A urina somente é aceita como amostra para verificação do uso recente de drogas de abuso. Porém, não permite distinguir o usuário ocasional do abusivo ou dependente. O período de duração da detectabilidade das drogas na urina depende da intensidade e frequência do uso. A duração da detectabilidade na urina das principais drogas pode ser vista na Tabela. TABELA - DURAÇÃO DA DETECTABILIDADE DAS DROGAS DE ABUSO NA URINA FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br>. Exame de sangue A pesquisa direta da droga de abuso no sangue possibilita apenas verificar o uso recente de substâncias (algumas horas). São várias as técnicas de quantificação de drogas de abuso utilizadas na atualidade. Serão descritas abaixo as mais utilizadas. Cromatografia gasosa (GC) A técnica de cromatografia gasosa já foi descrita anteriormente. É bastante atrativa devido à possibilidade de detecção em escalas mínimas. É, portanto uma técnica que apresenta alta sensibilidade, sendo possível separar misturas complexas com até 200 compostos. Desvantagem: é necessário que a amostra seja volátil ou estável termicamente. Espectrometria de massas Esta técnica também já foi descrita anteriormente. Permite uma análise quantitativa extremamente precisa e confiável. Cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) A cromatografia líquida recebe esse nome porque a sua fase móvel é um solvente. É um método utilizado para separação de espécies iônicas ou macromoléculas e compostos termolábeis. É considerada de alta eficiência pelo fato de ser altamente seletiva. Na Tabela está uma comparação entre a GC e a HPLC. TABELA - DIFERENÇAS ENTRE A GC E A HPLC FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br>. A ABORDAGEM PERICIAL EM OPERAÇÕES POLICIAIS EXAMES PERICIAIS Perícias são todos os exames levados a efeito por profissionais da medicina legal ou diversos profissionais capacitados de outras áreas do conhecimento, destinadas a uso como meio de prova judicial. Diante disso, podemos comprovar que a Criminalística conta com o auxílio de todas as áreas do conhecimento por meio de seus profissionais. FIGURA - RELAÇÃO ENTRE AS ÁREAS DO CONHECIMENTO FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br>. O objetivo geral da perícia é a produção de um documento técnico, de acordo com a área em questão, denominado de laudo pericial. A perícia pode ser classificada de diversas formas. Na Figura está descrita a classificação. FIGURA - CLASSIFICAÇÃO DAS PERÍCIAS FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br>. Exame Pericial em Alimentos O exame pericial em alimentos é solicitado sempre que há questionamentos relacionados à qualidade, integridade, inocuidade e/ou presença de qualquer irregularidade que os torne impróprios ao consumo. Os crimes relacionados a alimentos são: Crimes contra as Relações de Consumo e Crimes contra a Saúde Pública. O laudo pericial é, portanto, o instrumento utilizado na confirmação ou não de avarias e fraudes em alimentos. Para a documentação do laudo pericial, as avaliações dos alimentos são feitas de acordo com vários critérios, por peritos qualificados. São avaliadas as embalagens, a fim de verificar o prazo de validade, a presença das informações nos rótulos que são obrigatórias e o estado de conservação das mesmas. São realizadas análises sensoriais dos alimentos com o objetivo de verificar o aspecto, a cor, o odor, a consistência e a textura. Os alimentos são avaliados também quantoà presença de sujidades, corpos estranhos e presença de microorganismos. Para a realização dessa etapa, muitas vezes são utilizados microscópios. Diante dessas análises, o alimento é classificado em: Alimento genuíno Um alimento genuíno corresponde a um alimento saudável, livre de qualquer tipo de substância não autorizada. São alimentos que cumprem as exigências e especificações regulamentárias. Alimento adulterado O alimento é considerado adulterado quando é impuro, impróprio ou nocivo à saúde. Alimento Alterado O alimento alterado é aquele em que sua composição química ou suas características organolépticas foram alteradas por processos físicos, químicos ou microbianos. Essas alterações podem ocorrer no processo de fabricação, conservação ou transporte. Alimento Falsificado Um alimento é considerado falsificado quando é elaborado com a finalidade de copiar a aparência e características gerais de outro alimento legítimo e se denominam como este, porém não são. Alimento contaminado Um alimento é considerado como contaminado quando apresenta micro- organismos, substâncias liberadas por esses e/ou substâncias químicas que acarretam danos à saúde. Exame Pericial em Locais de Incêndios De acordo com o Decreto nº 7.257, de 04 de agosto de 2010, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC, desastres são resultados de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, naturais ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais. O Manual de Planejamento em Defesa Civil volume IV define incêndio como o fogo que escapa do controle do homem, assumindo características de um sinistro ou desastre, causando, assim, grandes danos e prejuízos. São exemplos de incêndios: • Incêndios em instalações de combustíveis, óleos e lubrificantes; • Incêndios em meios de transporte marítimo e fluvial; • Incêndios em áreas portuárias; • Incêndios em plantas e distritos industriais; • Incêndios em edificações com grandes densidades de usuários; • Incêndios em veículos automotivos. As proporções dos incêndios são variáveis e, portanto, esses são classificados segundo as mesmas em: Incêndio Incipiente ou Princípio de Incêndio Incêndio Incipiente ou Princípio de Incêndio corresponde ao evento de proporções mínimas que necessita apenas da utilização de um ou mais aparelhos extintores portáteis para sua extinção. Pequeno Incêndio Corresponde a um evento em que as proporções exigem emprego de pessoal e material especializado. É extinto com facilidade. Não apresenta perigo iminente de propagação. Médio Incêndio Corresponde ao evento em que a área atingida e sua intensidade exigem a utilização de meios e materiais especializados, equivalentes a um socorro básico de incêndio. Apresenta perigo iminente de propagação. Grande Incêndio Evento em que ocorre propagação crescente. Necessita do emprego efetivo de mais de um socorro básico para a sua extinção. Incêndio Extraordinário Tipo de incêndio decorrente de abalos sísmicos, atividades vulcânicas, bombardeios e similares. Para a extinção desse tipo de incêndio são necessitados vários socorros e o apoio da Defesa Civil. A investigação pericial de incêndios e dos fatores que influenciam ou contribuem para seu início, propagação ou generalização é de grande importância para a segurança pública. São objetivos de uma investigação pericial de incêndio e explosão: • Registrar a ocorrência e os fatos coletados durante o incêndio; • Verificar o trabalho operacional; • Comprovar a causa do incêndio. A investigação pericial divide-se em: a) Investigação pericial objetiva • A investigação pericial objetiva é a investigação realizada pelos peritos de incêndio; • É baseada em instrumentos técnicos e científicos. • É realizada nos locais, mediato e imediato à ocorrência do sinistro de incêndio. • O perito realiza a coleta de vestígios de interesse que venham a elucidar a causa do incêndio. b) Investigação pericial subjetiva • Na investigação pericial subjetiva são obtidas declarações de testemunhas e demais pessoas relacionadas ao ocorrido. • É realizada por demais profissionais como: delegados, peritos diversos e encarregados de inquérito. Diante do exposto, pode ser observada a grande importância das investigações. É apenas por meio delas que são obtidas as provas periciais, que fornecem a certeza das causas do sinistro de incêndio. Dessa forma, os peritos criminais de incêndios realizarão os exames nos locais mediatos e imediatos à ocorrência, almejando a descoberta de vestígios de valor criminalístico e elaborarão um laudo pericial de incêndio e explosão, no qual constarão todas as informações do caso em questão. Exame pericial de incêndio e explosão em locais (edificações urbanas, etc.) O objetivo da perícia em locais de incêndio é a investigação da causa. Essa é influenciada pelo grau de queima dos materiais na zona de origem e próximos ao foco inicial. Diante disso, antes de dar início ao exame pericial é recomendável limitar a entrada das pessoas e ações de deslocamento excessivo de materiais no local. Há situações em que esses procedimentos não são possíveis, o que torna os recursos fotográficos e de filmagens de extrema importância para a investigação. O perito líder da investigação é responsável por distribuir as funções aos membros da equipe junto ao cenário e sinistro investigados (escavação, fotografia, desenhista, entrevistador, investigador de prejuízos e investigador da zona de origem/foco inicial, dentre outros). Ao chegar ao local, realiza-se a obtenção de informações com as pessoas relacionadas ao sinistro, no intuito de abandonar prejulgamentos e para se ter uma visão do local na posição de terceiros. Depois disso, é dado o início da investigação, que é constituída de várias etapas, sendo: 1) Verificação do aspecto geral do local Nesta etapa, os procedimentos que devem ser adotados pela equipe são: • Delimitar as regiões do local sinistrado; • Configurar o contorno do local; • Determinar as áreas de acesso e de escape do local; • Avaliar o local que sofreu o incêndio do alto; • Fotografar e filmar toda a área envolvida; • Determinar a dinâmica do incêndio, objetivando determinar a zona de origem; 2) Coleta de informações das pessoas relacionadas com a edificação São necessários vários depoimentos de testemunhas para se estabelecer uma ou mais linhas de investigação. Nessa etapa, todo tipo de informação é relevante. As informações básicas coletadas pela equipe são: • O nome, a data de nascimento, profissão e a constituição familiar da testemunha; • O mês e o ano da construção do prédio ou de reforma da estrutura. • O estado das trancas e travas em portas e janelas. • Inadequação de uso dos aparelhos elétricos ou equipamentos de combustão; • As atitudes de pessoas suspeitas antes do incêndio. 3) Escavação Além da fonte de fogo há também o acúmulo de vários objetos queimados que normalmente não são facilmente identificáveis por meio da simples observação. A função da escavação é determinar a sequência de propagação do fogo para os materiais à sua volta e posterior ampliação das chamas e da fumaça. A escavação consiste em encontrar e coletar o material que relaciona o surgimento do fogo à propagação e determinar o seu posicionamento tanto no plano horizontal como no vertical, isolando, assim, as possíveis causas do incêndio, impedindo também a sua propagação. Essa fase é de grande importância nas investigações das causas do incêndio, já que permite inferir quais objetos fazem ou não partedo ocorrido. Deve ser feito o esquadrinhamento de toda a área, ou seja, dividi-la em quadrantes. Deve-se definir uma única rota de entrada e saída no cenário do incidente e maximizar as ações de busca e limpeza dos quadrantes. Da retirada dos materiais caídos: Os primeiros materiais a serem retirados são os provenientes da cobertura ou do teto das edificações. Da escavação na zona de origem A escavação deve ser feita manualmente nos sentidos “DE CIMA PARA BAIXO” e “DO EXTERIOR PARA O INTERIOR” dentro dos quadrantes delimitados. Após a remoção da maior parte dos escombros deve ser iniciada uma nova sequência de registros fotográficos com referências intermediárias de planialtimetria. Não devem ser utilizados materiais perfurocortantes nos trabalhos de escavação. São equipamentos utilizados nas escavações: água (como solvente), secadores de ar, baldes, vassouras, ímãs, mangueiras, pincéis, etc. 4) Identificação das fontes geradoras de fogo junto ao foco inicial Nesta etapa, os procedimentos da equipe são: • Determinar se há focos de eletricidade no local; • Verificar a composição química dos materiais envolvidos no incêndio; • Verificar as condições do tempo na região. Após a coleta, todas as informações são confirmadas e os dados devem ser confrontados com os projetos aprovados dos sistemas de prevenção e proteção contra incêndio e pânico combinado com a distribuição do “plant layout” feito pelo responsável ou usuários da edificação. 5) A identificação do sentido da queima pela profundidade de carbonização A identificação do sentido da queima é realizada pela verificação da profundidade da carbonização com o auxílio de um profundímetro. Exame pericial de incêndio e explosão em veículos automotivos Com relação a incêndios e explosões em veículos, há duas possibilidades: incêndios intencionais diretos (incêndios criminosos diretos), os incêndios intencionais indiretos (são os incêndios decorrentes de negligência, imperícia, imprudência – criminosos indiretos) e os incêndios naturais (decorrentes de algum problema mecânico). Um veículo pode ser mais ou menos suscetível a incêndios. São características que influenciam e devem ser avaliadas antes de dar início à perícia propriamente dita: • Tipo de veículo; • A utilização; • O tempo de uso; • O estado de conservação; • Os materiais de construção do veículo; • Os materiais transportados pelo veículo. O passo seguinte é determinar se o incêndio e explosão iniciaram-se a partir do veículo (em seu interior ou exterior) ou se o veículo foi atingido por incêndio próximo ao mesmo. Para isso, sempre que possível, a perícia deve ser realizada no local do acontecido. O perito deve estar atento a todo tipo de vestígio, como pegadas e marcas de pneus, que podem ser um indicativo da presença de terceiros. A direção e intensidade do vento também são de extrema importância. Normalmente são preferidos por criminosos locais ermos para a realização de incêndios intencionais. Muitas vezes é necessária a remoção do veículo incendiado do local do sinistro para ser submetido a exames mais adequados e apropriados, que habitualmente são realizados em oficinas mecânicas especializadas. Nesta situação, o perito deve estar ciente das avarias que podem ocorrer ao veículo. O passo seguinte da investigação é a caracterização do veículo e a identificação do seu código alfanumérico do chassi (VIN), que fornece informações importantes sobre o veículo. Muitas vezes o VIN é removido do veículo incendiado, o que é um forte indício da intencionalidade do incêndio. FIGURA - SUBTRAÇÃO DO CÓDIGO ALFANUMÉRICO DE CHASSI EM VEÍCULO INCENDIADO FONTE: Disponível em: <http://www.periciacriminal.com>. Outro procedimento que deve ser realizado pelo perito é a constatação da posição original das portas e tampas dos compartimentos do motor e de bagagem, a situação original de abertura ou fechamento dos vidros das portas e ventarolas e também da tampa de fechamento do tanque de combustível. Esses procedimentos são importantes já que os padrões de queima das portas são conclusivos quanto à situação de abertas e fechadas. Por exemplo: vidros fechados por ocasião de incêndio tendem a exibir intenso esfumaçamento na sua superfície interna; a concentração de vidro fundido no setor inferior interno das portas significa que os vidros encontravam- se abertos; a existência de vidros quebrados sem esfumaçamento na superfície interna denuncia que a fratura dos vidros ocorreu antes do incêndio, indicativo, portanto, de incêndio intencional. A existência de um maior número de portas abertas comparadas ao possível número de ocupantes do veículo pode significar a abertura deliberada das portas para a entrada de ar visando alimentar o incêndio com ar atmosférico, ou ainda, para a retirada de objetos. O perito deve estar atento também para vestígios de arrombamento no veículo. A ausência de componentes e acessórios no veículo é um forte indicativo de incêndios intencionais. No exame da carroceria devem-se localizar, por meio do exame visual externo, as regiões de maior intensidade de ação do calor, o que dá boa indicação do foco do incêndio. Dessa forma, uma ação direta da chama na carroceria resulta no consumo total da película de tinta, resultando em uma chapa viva (espelho metálico). FIGURA - CHAPAS METÁLICAS DAS PORTAS SUBMETIDAS A FOGO EXTERNO FONTE: <http://www.periciacriminal.com>. Já uma ação indireta é caracterizada pela presença de restos de pintura, com formação de uma casca de fácil desprendimento. FIGURA - AÇÃO INDIRETA FONTE: Disponível em: <http://www.periciacriminal.com>. Um procedimento importante que deve ser realizado pelo perito é o exame da superfície inferior do teto, que é um bom indicativo do foco quando o incêndio inicia-se no interior do veículo. Outro exame que deve ser realizado é a detecção de substâncias acelerantes no incêndio. A evidência desse tipo de substância pode ser observada pela ocorrência de diversas colorações, devido às diversas camadas de tinta presentes no veículo. FIGURA - PADRÕES DE COLORAÇÃO INDICATIVOS DE UTILIZAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS ACELERANTES FONTE: Disponível em: <http://www.periciacriminal.com>. O perito, ao final da perícia, deve realizar uma comparação final do veículo incendiado, com outro idêntico, em perfeitas condições, com o objetivo de compreender a configuração original do veículo incendiado. Exame Pericial em Medicamentos, Cosméticos e Saneantes Os exames periciais em medicamentos, cosméticos e saneantes visam detectar, pela análise dos materiais, se houve adulteração, alteração, falsificação ou corrupção. Medicamentos e cosméticos A avaliação de medicamentos pelo perito ocorre em várias etapas e visa à detecção de anormalidades que indiquem a possível fraude. As principais etapas são: 1) Avaliação das embalagens dos medicamentos sob suspeita As embalagens são classificadas em dois tipos: primárias, que são as que se encontram em contato direto com o medicamento e secundárias, que são as que contêm as embalagens primárias. As embalagens secundárias são as primeiras a serem analisadas pelos peritos e estas devem conter informações básicas, como: • Nome comercial do medicamento (ausente no caso de medicamentos genéricos); • Denominação genérica do princípio ativo; • Nome, endereço e CNPJ do detentor de registro no Brasil; • Nome do fabricante e local de fabricação do produto; • Número do lote; • Data de fabricação (no mínimo mês/ano); • Data de validade (no mínimo mês/ano); • Sigla “MS” seguida do número de registro no Ministério daSaúde, conforme publicado em Diário Oficial da União (D.O.U), sendo necessários os 13 dígitos; • Telefone do Serviço de Atendimento ao Consumidor – SAC; • Cuidados de conservação, indicando a faixa de temperatura e condições de armazenamento. 2) Análise das características de segurança A segunda etapa realizada pelo perito é a avaliação das características de segurança presentes na embalagem secundária. Essas características são: a tinta reativa e a inviolabilidade (lacre ou selo de segurança). FIGURA - CARACTERÍSTICAS DE SEGURANÇA DAS EMBALAGENS DE MEDICAMENTO FONTE: ANVISA, 2010. A tinta reativa é uma ferramenta de extrema importância no combate à falsificação de medicamentos. Essa tinta reage quando raspada com algum objeto de metal, possibilitando visualizar a palavra “Qualidade” e a logomarca da empresa. FIGURA - TINTA REATIVA FONTE: ANVISA, 2010. Já o lacre de segurança deve ter como características o rompimento irrecuperável e detectável, ser adesivo e personalizado. 87 FIGURA - INVIOLABILIDADE FONTE: ANVISA, 2010. As empresas fabricantes de medicamentos, para seu funcionamento, devem obter prévia autorização junto à ANVISA. Devem manter arquivo informatizado com o registro de todas as suas transações comerciais. As mesmas etapas são válidas nos casos de cosméticos. Os peritos devem estar atentos a todo vestígio que indique uma possível anormalidade e devem tomar as medidas cabíveis com relação aos suspeitos de conduzirem a fraude.