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Práticas Médicas II – 5º período Dermatologia Denise Matos – Turma 108 Aula gravada dia 08/02/2021 Prof. Leonardo DERMATOLOGIA – FARMACODERMIAS CONCEITO • Farmacodermias: reações adversas à administração de medicamentos, vacinas e terapias diversas que ocorrem na pele • Reações medicamentosas: podem ocorrer em qualquer órgão/sistema Pele é o órgão mais acometido por tais reações. • Síndromes cutâneas relacionadas às drogas: reações medicamentosas na pele CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PATOGÊNESE E FISIOPATOLOGIA • Não imunológicas (não alérgicas) Superdosagem (ex.: necrose por derivados do ergot) Fatores individuais (ex.: idiossincrasia e intolerância) Efeitos colaterais (ex.: alopecia pelo uso de citostáticos) Alteração do equilíbrio ecológico (ex.: candidíase vaginal após corticoterapia ou antibioticoterapia) Teratogenicidade (ex.: focomelia por talidomida) Interações medicamentosas (ex.: inibindo ou estimulando a metabolização pelo citocromo p450) • Imunológicas (alérgicas) – classificação de Gel-Coombs Reação tipo 1: imediata (após 30 a 60 min) mediada por IgE, provocando degranulação de mastócitos e basófilos, liberando histamina, prostalandinas e leucotrieno. Representada por urticária, angioedema e reação anafilática Reação tipo II: citotoxicidade mediada por anticorpos (IgG e IgM). Ex.: anemia hemolítica Reação tipo III: mediada por imunocomplexos. Exemplificada pela vasculite cutânea e a doença do soro Reação tipo IV: medada pela imunidade celular (linfócito T helper). Exemplificada pela dermatite de contato ERUPÇÕES MACULO PAPULARES (EXANTEMAS MEDICAMENTOSOS) • Tipo de reação medicamentosa cutânea mais comum • Características: Aparecimento súbito: surgem em 2 4-48h após a adm da medicação e duram em média 8 dias (5 a 14 dias ou após o termino). Exantema morbiliforme ou escarlatiniforme: macropapular, vermelho vivo, forma pequenas placas; após resolução, evolui com descamação fufurácea (obrigatório) • Maculas ligeiramente infiltradas (maculopapular) confluentes e coalescentes • Diagnostico diferencial: semelhante ao exantema causado pelo sarampo (morbiliforme) e pela escarlatina (escarlatiniforme); não é possível diferencias clinicamente. Pruriginoso: muita coceira associada Progressão craniocaudal simétrica: início com comprometimento facial -> tronco -> porções proximais dos membros • Dificilmente atinge as porções distais dos membros • Simetria: distribuição similar em ambos os lados Pode gerar hiper ou hipopigmentação residual: por estimulo ou inibição dos melanócitos nas áreas de inflamação. Febre, artralgias, cefaleia: especialmente na população pediátrica; adultos menos comuns Repetição com reexposição: a cada reexposição à medicação o quadro pode se tornar ainda mais agudo e grave. • Drogas implicadas: é reação medicamentosa cutânea mais comum, podendo ser gerada por qualquer droga. Mais comuns: ampicilina/penicilina, anticonvulsivantes (fenitoína), sulfonamidas, fenobarbitais, carbamazepina, gentamicina, eritromicina, sais de ouro • Ampicilina/penicilina: causa reações mais frequentemente quando associadas com a presença do vírus Epstein-barr: gera metabolitos intermediários que são mais dificilmente metabolizados na presença dos vírus. Menos comuns: cefalosporinas, tiazídicos, atropina • Tratamento: parte da suspeita de reação relacionada à medicação (anamnese); deve-se suspeitar da última droga introduzida, novas medicações. Interrupção da droga causadora Anti-histamínicos orais: controle do prurido • Tópicos: não são medicações efetivas; são irritantes primários que podem ocasionar eczemas de contato com uso tópico. Práticas Médicas II – 5º período Dermatologia Denise Matos – Turma 108 Aula gravada dia 08/02/2021 Prof. Leonardo Emolientes não sensibilizantes: hidratação é fundamental; macromoléculas que evitam a desidratação, mas não são absorvidas (evitar mais reações), normalmente derivadas do petróleo ou óleos vegetais. Corticoides tópicos: raros casos, em áreas mais especificas, pois, exantema determina grande área de superfície comprometida que dificulta aplicação tópica. Corticoides orais: utiliza-se quando o quadro não é controlado com suspensão da droga e anti-histamínico oral. ERITEMA MULTIFORME / ERITEMA POLIMORFO • Foi considerado uma apresentação limitada da síndrome Steven-Jonhnson (doença rara e grave da pele e das membranas mucosas, com erupções, bolhas, descascamento, além de sintomas sistêmicos iniciais semelhantes a gripe) • Relacionado ao uso de medicações e a infecções virais (especialmente da família herpes vírus) • Drogas mais implicadas: barbitúricos, sulfonamidas, penicilinas, tiazídicos, antineoplásicos, quinolonas, cefalosporinas, alopurinol e AINE OBS: pode ser causada por qualquer droga. • Características: Início súbito: poucas horas (até dias) após administração da droga Autolimitado: pode haver involução mesmo durante o uso da droga Recorrente: novo quadro, normalmente mais agudo e grave, quando ocorre reexposição a droga causadora. Aspecto morfológico variável: eritêmato-papuloso; eritêmato-vésico-bolhoso; purpúricas; lesões em alvo/irisadas (lesões eritêmato-papulosas com vesícula central) Lesões em alvo triplo: 3 halos concêntricos; halo mais externo, halo intermediário e halo central (normalmente pápula ou vesícula); mais comum quando a causa é viral. Também podem haver halos incompletos: mais comum Erupções medicamentosas: normalmente alvo incompletos, e pode atingir outras áreas que não as acrais. • Comprometimento de mucosa oral: pode preceder o comprometimento cutâneo, padrão em alvo (halos) mais difícil de ser visualizado, pois é área de semimucosa; gera descolamento e exulceração; Isoladas ou confluentes Simétricas e acomete mais regiões acrais: palmas, plantas, dorso de mãos e porções distais dos membros; pode acometer outras áreas também. Pruriginosas: processo inflamatório intenso, podendo gerar sensação de dor e ardor Lesões de mucosa (25-50%): podem ocorrer em até metade dos pacientes e preceder o quadro cutâneo Evolução média: 7 dias • Tratamento: suspeita de causa medicamentosa (anamnese) Interrupção da droga causadora: ultima droga introduzida a rotina Anti-histamínicos orais Emolientes não sensibilizantes Corticoides tópicos: é utilizado pois afecção acomete menores áreas, tornando mais fácil adm tópica. Corticoides sistêmicos: quando há processo inflamatório intenso, aparecimento de bolhas/vesículas. Práticas Médicas II – 5º período Dermatologia Denise Matos – Turma 108 Aula gravada dia 08/02/2021 Prof. Leonardo SINDROME DE STEVENS JOHNSON (SSJ) E NECRÓLISE EPIDÉRMICA TOXICA (NET) • Grande acometimento sistêmico, além do cutâneo. • São uma mesma entidade clínica: Descritas separadamente: 1922 (Stevens e Johnson) e 1956 (Lyell): relataram pele escaldada e descamativa em crianças Espectros clínicos de uma mesma afecção SSJ e eritema multiforme eram consideradas a mesma afecção: respectivamente, eritema multiforme major (maior acometimento da pele) e eritema multiforme minor (menor acometimento, só mucosa ou mucosa e regiões acrais). Entretanto, são afecções diferentes. Lesões variáveis e tendência à generalização • SSJ: lesões isoladas, com descolamento <10% da superfície corporal; espectro menos grave • Formas transicionais: 10-30%; mais próximas do polo de gravidade da NET. • NET: confluentes, com deslocamento >30% da superfície corporal; mais grave • Drogas mais implicadas: carbamazepína, fenitoína, fenobarbital (anticonvulsivantes)l; sulfonamidas (SMZ + TMP10x maior chance de desenvolver na HIV+), lomotrífgina, AINE, aminopenicilinas Sulfonamidase HIV: medicamentos geram metabolitos que são mais dificilmente degradados na presença do vírus HIV, facilitando o acometimento da síndrome (NET/SSJ). • Características (comprometimento cutâneo): tem um comprometimento cutâneo grave. Caráter espectral Latência: 4 a 28 dias (tempo que leva para aparecer a partir do início da adm do medicamento); normalmente na primeira semana. Iniciam com sintomas inespecíficos: febre, dor, prostração (semelhante a síndromes gripais). Lesões da mucosa (bucal e labial): podem preceder as lesões cutâneas (também pode ser simultâneo); mucosas conjuntival/anogenital também podem ser acometidas. • Sinéquia: cicatrização que causa completa perda da pálpebra e da capacidade de abertura ocular, Exulceração de córnea, podendo levar a cegueira. Ocorre quando afecção não é tratada adequadamente/não há acompanhamento oftalmológico. • Semelhantes as lesões de mucosa do eritema multiforme. Ardor e dor: comum preceder as lesões cutâneas; ardência e dor na pele; contato provoca dor. Lesões máculo-papulares eritematosas: ligeiramente infiltradas e com tendência a confluência. Práticas Médicas II – 5º período Dermatologia Denise Matos – Turma 108 Aula gravada dia 08/02/2021 Prof. Leonardo Região de acometimento: tronco e regiões proximais dos membros são as mais acometidas; extremidades tem grau de acometimento menor que face e tronco. Sinal de Nikolsky presente: descolamento (epiderme-derme) de uma pele, quando friccionada, que inicialmente parecia íntegra; não é exclusivo dessa afecção (presente em doenças autoimunes e bolhosas) • Também pode haver descolamento de pele palmo- plantar Evolução: em 2 a 3 dias após o início das medicações (podendo variar entre horas até 1 semana) • Características (comprometimento sistêmico): Não é interdependente com o comprometimento cutâneo; a gravidade de um não determina gravidade do outro Disfagia e hemorragia digestiva alta: erosões esofagianas Traqueobronquite e pneumonite: gera desconforto e pode levar a insuficiências respiratórias. Alteração dos hidroeletrolíticos: perda da barreira cutânea -> grande perda de água trans epidérmica e causa desidratação, que pode causar óbito em crianças (pois possuem maior porcentagem de água corporal). Dificilmente gera óbito em adultos. Infecções: mais suscetíveis pois há perda da barreira cutânea; causa óbito em adultos. Insuficiência Aguda Pré-renal e Necrose Tubular aguda: gerada pela desidratação (PQ?) Alterações hemodinâmicas: também relacionada à desidratação Alterações hematológicas: “penias”; anemia, linfopenias; secundária a coagulação intravascular disseminada (CIVD) Hepatite: 10% • Doença grave, com grave comprometimento sistêmico • Avaliação do prognostico: Fatores de mau prognóstico são: idade avançada, HIV positivo, ingestão de múltiplos fármacos, lesão orgânica (especialmente renal), desnudamento extenso. Causa mais comum de morte é septicemia Altíssimo índice de mortalidade quando presentes 5 fatores ou mais: Práticas Médicas II – 5º período Dermatologia Denise Matos – Turma 108 Aula gravada dia 08/02/2021 Prof. Leonardo • Tratamento e medidas de suporte clínico: depende da suspeição diagnostica Identificação precoce e retirada imediata da droga implicada: fundamental para o tratamento • Uma vez retirada a droga, a progressão da doença é interrompida. Internação hospitalar: de preferência em ambiente de terapia intensiva Medicações: para acelerar efeitos positivos da retirada da droga (principal). • Imunoglobulina intravenosa: adm até 48-72h após o aparecimento das lesões; dose: 1-2g/kg/dia, por 3 a 5 dias. • Após 72h: se houver lesões em atividades ou progressão persistente da doença. Acesso venoso: se possível em área de pele integra Suspender TODAS as medicações desnecessárias • Não prescrever analgésicos e antieméticos de forma profilática DESCONTINUAR corticoide (se em uso): droga imunossupressora que vai facilitar ocorrência de infecções. Não deve ser introduzido. Avaliação laboratorial: HMG, RX tórax, funções hepáticas e renais e eletrólitos Rastreio infeccioso: hemo e uroculturas; fundamental mesmo sem sinais de infecção. Antibiótico endovenoso: quando houver infecções documentadas ou sinais clínicos de sepse Monitoramento hidroeletrolítico rigoroso: especialmente da população pediátrica – guiada pelos sinais vitais, hemtócrito e eletrólitos séricos Abordagem multidisciplinar: acompanhamento e avaliação por oftalmo, gineco, uro, pneumo, gastro, fisioterapeuta, odontologista. Medidas oftalmológicas preventivas (lubrificantes oculares, limpeza e remoção de adesões) Fisioterapia diária: motora e respiratória Medidas de alivio da dor: analgésicos opioides (morfina e derivados) pois tem baixa possibilidade de causar reações medicamentosas. • EX: dipirona, apesar de ser efetiva para dor, tem alta chance de causa reações. Cuidados mucocutâneos: • Evitar formulações tópicas com sulfas: pode causar sensibilização, favorecendo reações tópicas e/ou sistêmicas. • Higiene oral (clorexidina a 0,12% e vaselina para proteção da mucosa) • Limpeza do saco conjuntival (SF 0,9%) • Xampu infantil (áreas pilosas) • Óleo mineral/vaselina: proteger a pele Manter quarto aquecido: evitar hipotermia pois há perda da barreira cutânea EVITAR manipulação do paciente: evitar infecções Cateter do Foley/Sonda nasoenteral: se necessário; se houver comprometimento do canal uretral e do tubo digestivo. Desbridamento cirúrgico: discutível; geralmente não é feito; manter “curativo biológico”; exceto em infecções de foco cutâneo – feito quando termina a progressão da doença (fase estável), recobrindo-se as lesões com gaze embebida em soro fisiológico ou curativos hidrocoloides SINDROME DE HIPERSENSIBILIDADE INDUZIDA POR DROGAS (DHIS/DRESS) • Apresenta sintomas cutâneos e sistêmicos (hematológicos e hepáticos) • Drogas mais implicadas: carbamazepina, fenitoína, fenobarbitol (anticonvulsivantes), sulfonamidas, lamotrigina, alopurinol, dapsona. Síndromes das sulfonas: quadro de DRESS associado a sulfonas; dapsona (tratamento de hanseníase, sintomas aparecem a partir da 3ª e 4ª dose). Deve-se proceder com esquema adaptativo, substituir por floxacino. • Características: Instalação e resolução lentas: latência de 2 a 8 semanas e sintomas persistem mesmo após retirada da droga, quadro pode permanecer ativo e progressivo em até 1 mês. (diferente da SSJ-NET) Comprometimento cutâneo menos grave; comprometimento sistêmico mais intenso (diferente da SSJ-NET) • Fases de evolução (quadro clinico): divisão didática; inicia-se com fase prodrômica e então ocorrem simultaneamente (cutânea e visceral), não se trata de evolução temporal. Primeira fase (prodrômica): Práticas Médicas II – 5º período Dermatologia Denise Matos – Turma 108 Aula gravada dia 08/02/2021 Prof. Leonardo • febre baixa (primeiro sinal) • Linfadenomegalia generalizada, dolorosa e simétrica; principalmente linfonodos cervicais Segunda fase (Cutânea): • Exantema maculopapular bem infiltrado; simétrico e de padrão craniocaudal -> (semelhante a exantema medicamentoso, com maior infiltração e comprometimento de extremidades mais acentuados) • Edema facial, labial e periorbitário importante (diferenciação do exantema medicamentoso). • Edema palmo-plantar (de extremidades), clássico da DRESS • Resolução com descamação, especialmente em áreas de edema, do tipo lamelar Terceira fase (visceral): • Comprometimento hepático (61%): hepatite causada pela DRESS, muito comum • Renal (15%) • Cardíaco, pulmonar, gastrointestinal, tireoidiano, neurológico • Pancreatite (DM).• Diagnóstico: não há exames específicos para tal; é obtido por conjunto de exames (alterações laboratoriais inflamatórias e distúrbios hidroeletrolíticos) e observação dos sinais clínicos. Aplica-se também critérios internacionais: Franceses: Melhor aplicáveis no contexto brasileiro; são menos específicos. Pelo menos 3 critérios clínicos Japoneses: 7 critérios determinam DRESS típica; 5 critérios determinam DRESS atípica. Mais difíceis de aplicar no contexto brasileiro pois é necessário documentar reativação da infecção ou atividade pela HHV6 (herpes vírus tipo 6) e para isso é preciso métodos menos disponíveis (análise por PCR), limitando os diagnósticos. Práticas Médicas II – 5º período Dermatologia Denise Matos – Turma 108 Aula gravada dia 08/02/2021 Prof. Leonardo • Tratamento: depende da suspeição diagnostica Identificação e retirada da droga implicada • OBS: mesmo após retirada, a doença continua progredindo; deve-se manter conduta • Não é suficiente Introdução da corticoterapia (diferente de SSJ-NET): tem mais efetividade, especialmente por conta do caráter lento da afecção. Medidas de suporte clinico: conforme necessário Casos refratários: • Imunomoduladores: ex ciclosporina; de preferência com início de ação mais rápido – Glicocorticoides • Alguns imunossupressores não são uteis por conta do intervalo de tempo entre administração da droga e início de ação; a demora para o início de ação não é o ideal para uma afecção que tem resolução lenta. - Ex: poupadores de corticoides • Imunoglobulina: questionável
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