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História da Educação Mário Fernandes Ramires Ebook 1 Neste Tópico: Educação tribal e pré-história ��������������� 3 Sociedades tribais e pré-história ���������� 5 Da chamada "pré-história às sociedades fluviais" ����������������������������������� 8 Antiguidade Oriental ������������������������������ 14 Fenícios, persas e hebreus ������������������� 23 Fenícios �������������������������������������������������������24 Persas �����������������������������������������������������������26 Hebreus �������������������������������������������������������28 Considerações Finais �������������������������������31 Síntese ��������������������������������������������������������� 33 História da Educação E-book 1 2 EDUCAÇÃO TRIBAL E PRÉ-HISTÓRIA A disciplina História da Educação possui como ob- jetivo abordar as relações de construção, aquisição e transmissão de conhecimentos e saberes nas mais diversas sociedades e grupos humanos, desde quando éramos nômades até os dias atuais. Nesse sentido, iremos estudar as vivências e formas de convívio entre os seres humanos, da época na qual não possuíamos moradia fixa e vagávamos em bus- ca de alimento até os dias atuais, onde a tecnologia prevalece em nossa sociedade. Para tanto, levaremos em conta que: O ato pedagógico pode, então, ser definido como uma atividade sistemática de interação entre seres sociais, tanto no nível do intrapessoal como no nível da influên- cia do meio, interação essa que se configura numa ação sobre sujeitos ou grupos de sujeitos visando provocar neles mudanças tão eficazes que os tornem elementos ativos desta própria ação exercida. (ARANHA, 1996a, p. 50). 3 A partir desses pressupostos, além da importância dos conhecimentos relacionados à história, é neces- sário ressaltar o merecido destaque que recebe a Filosofia, pois o pensamento filosófico se configura como base para refletirmos sobre as mais diversas características da educação em sociedades que vi- veram em outros tempos e espaços. 4 SOCIEDADES TRIBAIS E PRÉ-HISTÓRIA Antes do surgimento dos grandes conglomerados humanos na Mesopotâmia e no Egito, ao Norte da África, durante milhões de anos o ser humano viveu e, em muitos lugares ainda vive, de maneira nôma- de, seminômade ou reunidos em tribos. O convívio na forma tribal traz especificidades na educação e transmissão de conhecimentos bem distintas dos modelos tradicionais que estamos habituados a ver em nossa sociedade. Se tomarmos como exemplo os indígenas que habitam o Brasil, podemos perce- ber que o conhecimento não representa uma forma de exercer poder sobre algum outro membro da co- munidade. Os saberes são transmitidos entre gera- ções por meio da repetição e estão ligados ao dia a dia dessas pessoas, que exige habilidades de caça, pesca, artesanato, manuseio de armas, agricultura, construção de suas casas, conhecimentos acerca da natureza, entre outros. Analisando a educação tribal de forma geral, Maria Lúcia Aranha destaca que: 5 A cuidadosa adaptação aos usos e valores da tribo geralmente é levada a efeito sem castigos. Os adultos demonstram muita paciência com os enganos infantis e respeitam seu ritmo próprio. Por meio da educação difusa, de que todos participam, a criança toma co- nhecimento dos mitos ancestrais, desenvolve aguda percepção do mundo e aperfeiçoa suas habilidades (ARANHA, 1996b, p. 27). Dessa forma, a educação das crianças que vivem em tribos está a cargo de todos os adultos daquela sociedade e é transmitida por meio da oralidade e de rituais sagrados. Ainda devemos levar em conta que, por conta da divisão do trabalho existente entre esses povos, é bastante comum que a educação perpasse essa característica, sendo que as pessoas do sexo masculino, desde a infância, desenvolvem habilidades como a caça, a guerra e a construção de casas. Por outro lado, as mulheres se dedicam a tarefas como a agricultura, coleta de frutos e ar- tesanato e, em ambos os casos, as crianças vão se incluindo na sociedade e aprendem por observação e repetição, o que não quer dizer que não haja mu- danças de percepções e ações entre as gerações. O desenvolvimento da criança indígena, por exemplo, é marcado por brincadeiras e exploração da natureza, jogos como a peteca fazem parte desse desenvol- vimento. A arte, por ser tão marcante nas culturas indígenas, também faz parte do desenvolvimento de seus conhecimentos mais marcantes: a dança, a 6 música, a pintura corporal e os adornos são partes importantes dessa formação pessoal. De forma ge- ral, os membros mais velhos dessas comunidades são bastante respeitados, sendo responsáveis por manter suas tradições vivas, educando e ensinando aos mais novos. 7 DA CHAMADA "PRÉ-HISTÓRIA ÀS SOCIEDADES FLUVIAIS" Após analisarmos as características da educação em sociedades tribais, que existem há milhares de anos até os dias atuais, vamos estudar os mode- los de construção e transmissão de conhecimento desde as primeiras grandes civilizações. Esses gran- des centros populacionais deram origem a cidades, reinos e impérios que ocuparam grandes porções de terras e possuíam uma organização social já complexa, com desigualdades sociais e divisão do trabalho. Podcast 1 Por muitos anos, antes do surgimento das primeiras grandes civilizações na Mesopotâmia, na África ou na China, o ser humano não possuía moradia fixa e se deslocava em busca de alimento durante toda sua vida. Era necessário o domínio de habilidades que lhes garantisse a própria sobrevivência, ou seja, 8 se a pessoa não soubesse caçar ou coletar, não de- senvolvesse as habilidades de seguir os rastros dos animais por vestígios ou não desenvolvesse a prática da pesca, por exemplo, dificilmente sobreviveria. Figura 1: Animais pintados na Gruta de Lascaux, um dos sítios de arte rupestre mais famosos do mundo. | Fonte: https://pt.wikipedia. org/wiki/Arte_rupestre O período que compreende esse momento de noma- dismo é denominado paleolítico, ou “pedra lascada”, no qual durante milhões de anos o ser humano lite- ralmente utilizou lascas de pedra como instrumen- tos rústicos que eram utilizados para caçar e como ferramentas simples. Esse momento da história hu- 9 mana também foi caracterizado pelas chamadas pinturas rupestres, talvez as primeiras formas de representação artística humana, quando foram fei- tas pinturas nas paredes de cavernas em diversas regiões do mundo. Essas pinturas, de forma geral, mostram cenas do cotidiano, principalmente caças, pois se acredita que essas pessoas pensavam que ao representar a caça nas paredes, isso evocaria aquele acontecimento representado em suas vidas. Ou seja, a pintura também era uma forma de conhecimento e representação do cotidiano. Há cerca de oito mil anos, nota-se o desenvolvimento de técnicas que iriam ser uma verdadeira revolução na história da humanidade e nos levariam a um novo período, chamado neolítico. Essas técnicas são a agricultura e a criação de animais, além de, no final do período paleolítico, o ser humano ter dominado o fogo, o que possibilitou segurança, aquecimento e o preparo de alimentos, que não mais eram comidos de forma crua. 10 Figura 2: Armas e utensílios do período paleolítico. | Fonte: https:// upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/73/1872%2C_Museo_ Espa%C3%B1ol_de_Antig%C3%BCedades%2C_Armas_y_utensilios_ del_periodo_Paleol%C3%ADtico%2C_Letre.jpg 11 Processo de descascar Fusayola (peça de cerâmica) de afiar (Peso para o uso) Resto de tecido pré-histórico Tear Fusayola de te- celagem (peso de cedo para apertar os saltos do tear) Uso de afiar Cena de pastoreio: carneiros, cabras e touros. Cortadores neolíti-cos esculpidos em sllex (um deles mantém o cabo) A matança de animais para o consumo de carne Recipiente Filtro, funil e recipiente Ordenhando uma vaca Filtrando o leite CERÂMICA NEOLÍTICA PROCEDENCIA DE LAS ILUSTRACIONES: Escenas costumbristas mesópotamicas del 2.500 a. C.: escena de pastoreo, Estandarte de Ur (cara de la paz); escena de ordeño y filtrado de la leche, Friso de la lechería; escena de sacrificio de carnero y de hilado, Estandarte de Mari; cuchillos de silex: el que carece de mango es de la época predinástica egipica, el que tiene mango produce de Çatalhöyük (Turqía); reconstrucción de telar y huso y fusayolas de diferentes yacimientos valencianos; resto de tejido predinástico egipcio; cerámica neolítica mesopotámica. A REVOLUÇÃO DO NEOLÍTICO: O GADO Figura 3: Atividades que passaram a ser desenvolvidas no período Neolítico. | Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Neolitico- ganaderia.svg 12 A partir de então, não era mais necessário ficar dias a fio perseguindo animais ou buscando frutos para coletar, nesse momento já era possível criar os ani- mais e cultivar diversos gêneros alimentícios, o que possibilitou tempo para desenvolver inúmeras técni- cas e habilidades, como a tecelagem, a metalurgia, a construção de casas e o surgimento das primeiras grandes civilizações. Esses novos conhecimentos que vão surgindo, tam- bém mudam as formas de ensino e aprendizagem, uma vez que vão se diversificando as possibilidades de atuação e da própria existência, ocorrendo o de- senvolvimento de diversas áreas do conhecimento, o que acaba por originar uma divisão do trabalho mais complexa e diversificada. Estudos matemáticos e do meio, assim como a observação de animais e plantas se tornam indispensáveis para essas sociedades que surgiram então. As primeiras aldeias de pastores e agricultores sur- gem nas proximidades de grandes rios, como o Nilo, na África, e Tigres e Eufrates, na Mesopotâmia. As cheias desses rios que, em um primeiro momento causavam mais mortes do que proporcionavam a vida, se tornaram fundamental para a prática da agri- cultura, da pecuária e do pastoreio. A lama fértil que ficava por quilômetros ao redor de suas extensões proporcionava o milagre de grandes áreas de plantio em pleno deserto. 13 ANTIGUIDADE ORIENTAL Após o desenvolvimento de técnicas da agricultu- ra, pecuária e metalurgia, conforme verificamos no tópico anterior, diversos grupos civilizatórios se de- senvolveram nas margens de grandes rios. Esses agrupamentos deram origem às chamadas socie- dades fluviais, que dependiam das águas desses rios para o transporte, higiene pessoal, criação de animais, consumo e cultivo de alimentos. Vamos começar nossos estudos pela região conhe- cida como Mesopotâmia, palavra de origem grega que pode ser traduzida como “Terra entre rios”, sendo eles os rios Tigres e Eufrates. Localizada no Oriente Médio, esse território presencia guerras e disputas territoriais há milênios e deu origem a grandes civili- zações como: Sumérios, Acádio, Amoritas, Caldeus, Assírios, entre outros. 14 Gútio Susa 100milhas Quilômetros Meturna (Me-Turnu) Lugares na Mesopotâmia mencionados pelo Cilindro de Ciro Der Assur Zambam? (Zabam) Acádia? (Ágade) Ur Babilônia (Suana/ Tintir) Suméria Esnuna Babilônia Assíria Tigre Eufrates Elam Figura 4: Mapa antigo da Mesopotâmia. | Fonte: https://pt.wikipedia. org/wiki/Ficheiro:Cyrus_cylinder_Mesopotamia-pt.svg No que diz respeito à organização social dos povos que se desenvolveram na Mesopotâmia, de forma geral, a propriedade da terra deixa de ser coletiva e passa a existir como Estado, mas ainda não é o Estado nacional que surgiu na Era Moderna. Nesse sentido, cabe destacar que: A administração burocrática do Estado controla a pro- dução agrícola, arrecada impostos, recruta mão de obra para a construção de grandes templos, túmulos, palácios, diques. Ao se tornar Estado cada vez mais centralizado e poderoso, cresce também a importância dos dirigentes, como altos funcionários do governo, sacerdotes e escribas. (ARANHA, 1996b, p. 32). 15 No entanto, povos como os sumérios, por exemplo, tinham uma administração política descentralizada e suas cidades possuíam certa autonomia de comércio Ainda sobre os sumérios, cabe destacar a importân- cia dessa civilização para o surgimento da escrita, fundamental para a educação, tornando mais con- cretas a assimilação e a transmissão de conteúdos. Podcast 2 A forma de escrita desenvolvida pelos sumérios é denominada cuneiforme, por ser realizada com esti- letes e seus caracteres serem em formas de cunhas, escritos sobre tábuas de argila. Esse acontecimento possibilitou a intensificação de trocas comerciais e culturais entre esses povos, pois a escrita cuneifor- me foi adotada em várias regiões da Mesopotâmia. Figura 5: Tábua de argila com escrita cuneiforme | Fonte: http:// historiaecoisaetal.blogspot.com/2011/07/traducao-do-alfabeto- -cuneiforme.html 16 Os assírios, povo guerreiro que se originou no Norte da Mesopotâmia, que e se tratava de uma região árida, desenvolveram a habilidade das guerras de conquistas e estenderam seu poder por toda região. Nesse processo de expansão, tomaram contado com o alfabeto cuneiforme, desenvolvido pelos Sumérios e, assim como os demais povos da Mesopotâmia, passaram a utilizar essa forma de escrita. Os assírios possuíam uma biblioteca na cidade de Nínive com mais de cinco mil tábuas de argila, contendo infor- mações sobre os mais diversos temas: astronomia, matemática, história, religião, arquitetura, guerra, entre outros. No que diz respeito ao ensino nessas sociedades, se tratava de um modelo denominado tradicionalista, onde os valores tradicionais eram transmitidos de uma geração para a outra. Eram valorizados os cos- tumes voltados para a religião e a cultura dos povos e, tendo em vista que se tratavam de sociedades com rígida divisão entre os grupos sociais, aprender a ler e a escrever era para poucas pessoas. Saiba mais Sobre a organização política, social e econômica dos povos da Mesopotâmia, sugerimos a seguin- te leitura: ROSSI, Luiz Alexandre S. Cultura militar e de vio- lência no mundo antigo: Israel, Assíria, Babilônia, Pérsia e Grécia. São Paulo: Annablume, 2008. 17 Os grupos sociais que desenvolviam o papel de educadores, além da família, eram os escribas e sacerdotes. Os primeiros sendo responsáveis por registrar as colheitas, impostos e demais conteúdos referentes à administração pública. Já os sacerdotes eram responsáveis por todo o universo espiritual e religioso, sendo muito respeitados pelos seus conhe- cimentos, que iam além do mundo dos vivos. Uma das únicas formas de possibilidade de ascensão social era se tornar escriba, por exemplo. Outra grande civilização que se desenvolveu no mundo antigo foi a egípcia, que se desenvolveu nas margens do Rio Nilo, que possui mais de cinco mil quilômetros de extensão e praticamente atravessa todo o Egito. Amônio Náucratis Canopo Saís Tânis Pelúsio Heliópolis MÊNFIS Gaza Cades Berneia Eziongabar Jerusalém Jericó Damasco Sídon Tiro Elim El-Amarna (Aquetáton) Heracleópolis Abidos Tinis Coptos TEBAS Luxor Carnaque Porto Leuco Siene Berenice Primeira Catarata L. Moéris Jo rd ão NI LO Figura 6: Mapa Egito Antigo. | Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Ficheiro:Egito_pt.svg 18 Figura 7: Mapa da África com o Egito em destaque. | Fonte: http://web. ccead.puc-rio.br/condigital/mvsl/linha%20tempo/Metodo_Cientifico/ mapa_africa.html Assim como na Mesopotâmia, o Egito se caracteri- zava por uma sociedade com rígidadivisão social e enorme valorização do universo mágico e espiritual. A sociedade egípcia se caracterizou pela construção das maiores obras do mundo antigo, majoritariamen- te religiosas, como templos e pirâmides, além de diques, aquedutos e palácios. A medicina também foi bastante desenvolvida, principalmente por conta do processo de mumificação pelo qual passavam seus mortos, especialmente os faraós. Outras áreas como a matemática, astronomia, arquitetura, enge- nharia, metalurgia, entre outras, foram desenvolvidas e aprimoradas pelos egípcios. No Egito também não havia instituições escolares tal qual conhecemos hoje. De forma geral, prevalecia a 19 perpetuação da tradição, principalmente religiosa e as aulas ocorriam nas casas dos membros dos es- cribas mais notáveis. Além do que, o castigo corporal era comum nessas aulas, que não previam qualquer reflexão acerca dos conteúdos, apenas exercícios sobre cálculos matemáticos, botânica, agricultura, entre outros. Podcast 3 Em relação à escrita, o Egito apresentou um desen- volvimento muito interessante, pois desenvolveu três formas de registros escritos: hieróglifo, hierático e demótico. Dessas, a principal e mais famosa entre nós se trata do hieróglifo, que não se trata de uma es- crita fonética igual ao português, pois os caracteres são desenhos que representam determinadas ideias. Proveniente do grego, a palavra hieróglifo significa “entalhe sagrado”, pois está presente em templos e pirâmides (túmulos dos faraós), além do Livro dos Mortos, que se trata de uma espécie de biografia da vida de alguns faraós. As escritas hierática e demó- tica eram mais simples e utilizadas no dia a dia, para registros mais rápidos e precisos. 20 Figura 8: Hieróglifos e egípicios. | Fonte: https://pt.depositphotos. com/127162952/stock-photo-mystery-egyptian-hieroglyphs.htmlM No que diz respeito ao ensino e à educação, a socie- dade egípcia, por possuir uma rígida divisão social, não oferecia ensino para todas as pessoas. De forma geral, os que estudavam eram aqueles que, muitas vezes, seguiam o ofício de seus pais. Nesse sentido, os filhos dos escribas aprenderiam a ler e a escrever, assim como muitos sacerdotes. Médicos, arquitetos, militares e educadores, também possuíam o privilé- gio da educação, sendo poucas as pessoas capazes de exercer essas profissões. Contudo, mesmo não sendo membro de uma família de elite, se tornar um escriba era, talvez, a única maneira de algum cam- ponês ter ascensão social. As escolas egípcias possuíam métodos rígidos em seu modelo educacional e os alunos estavam sujei- tos a castigos corporais constantemente. De forma 21 geral, essa educação prezava por transmitir valores e costumes entre as gerações, buscando manter aquela estrutura social e era aplicada em templos e casas, com cerca de 20 alunos em cada turma. Em relação aos conteúdos estudados nessas aulas, temos as seguintes informações: Apesar do forte teor religioso da cultura egípcia as in- formações são muito práticas, como o cálculo da ração das tropas em campanha, o número de tijolos necessá- rios para uma construção e complicados problemas de geometria destinados à agrimensura. Extensas listas de plantas e animais indicam grande conhecimento de botânica, zoologia, mineralogia e geografia. (ARANHA, 2000, p. 34a). Dessa maneira, quando pensamos nas sociedades na Antiguidade Oriental, podemos perceber a existência de modelos educacionais pautados pela rigidez no ensino, com propósito de resolver questões práticas e cotidianas. Outra característica marcante desses modelos de ensino era o não questionamento da or- dem social; pelo contrário, a intenção era manter as tradições, pautadas por forte pensamento religioso. 22 FENÍCIOS, PERSAS E HEBREUS No mundo antigo, assim como ocorreu no Egito e na Mesopotâmia, surgiram diversas outras socie- dades que ocuparam territórios que iam do mar Mediterrâneo até fronteira com o continente asiático. Vamos nos atentar especificamente para três dessas civilizações: fenícios, persas e hebreus. Figura 9: Fenícios, persas e hebreus. | https://pt.slideshare.net/ SilmaraNogueira1/fencioshebreus-e-persas 23 FENÍCIOS Ocupando a parte Leste do mar Mediterrâneo, a ci- vilização fenícia iniciou seu desenvolvimento por volta do ano 3000 a.C. e perdurou, ao que tudo indi- ca, até o século IX a.C. No decorrer desse período, os fenícios formaram uma civilização próspera que praticava intenso comércio com povos de diversas partes do Mediterrâneo. Sua área de ocupação cor- respondia à parte da região da Palestina, equivalendo aos territórios do Líbano, paste da Síria e de Israel. No que diz respeito à organização política, as cidades da Fenícia possuíam bastante autonomia entre si e constantemente entravam em conflito para disputar a hegemonia da região. Entre essas cidades desta- cam-se Tiro, Biblos e Sidón. Esses grandes centros urbanos eram governados, por ricos mercadores que atuavam no comércio marítimo, em regiões costeiras, estabelecendo relações de compra, troca, guerras e conquistas com diversos povos do mar Mediterrâneo. Os principais produtos que comercializavam eram a madeira, o vidro e a púrpura, que se tratava de uma tinta vermelha extraída de um molusco, o Murex. Ao realizarem essas relações e trocas culturais com outras sociedades, os fenícios desenvolveram im- portantes áreas do conhecimento, como a mate- mática, a astronomia, a navegação, entre outras, o que mostra a existência de um eficiente sistema de ensino-aprendizagem. 24 No entanto, a grande contribuição dos fenícios para nossa sociedade foi a criação do alfabeto, na cida- de de Biblos, onde consta o primeiro registro dessa forma de escrita. Contendo vinte e dois caracteres, a escrita alfabética surgiu por conta de necessida- des, principalmente comerciais, e trouxe grandes transformações para as formas de registro e trans- missão de conhecimento. O alfabeto foi aprimorado pelos gregos e romanos, que incluíram as vogais e deixaram muito próximo ao modelo que utilizamos atualmente. Você já pensou nossa sociedade sem o alfabeto? Como seria nossa forma de aprender e ensinar sem sermos alfabetizados? Figura 10: Imagem representando a escrita fenícia. | Fonte: http:// cambarcultura-pontodasletras.blogspot.com/2009/07/o-alfabeto- -semitico.html 25 PERSAS Os persas foram um dos maiores impérios do mun- do antigo. Após surgir e se estabilizar na região que hoje corresponde ao Irã, o Império Persa partiu para grandes conquistas, incluindo a Fenícia, a Síria, a Palestina e colônias gregas da Ásia Menor. Grandes imperadores como Ciro, Dário e Xerxes se tornaram nomes memoráveis nessas conquistas e contatos com povos e culturas tão distantes. Em sua organização política e administrativa, se tra- tava de um Estado com poder centralizado na figu- ra do imperador, ou seja, as cidades não possuíam autonomia, como no caso dos Fenícios e Sumérios. O imperador contava com funcionários reais que se estabeleciam nas diversas partes do império e atuavam como os “olhos e ouvidos do rei”. Nesse processo de expansão, conquistas e desenvol- vimento social, a educação merece destaque entre os persas, pois havia um sistema estruturado, que mis- turava o tradicionalismo teocrático de outros povos antigos, como o Egito e a Mesopotâmia, por exemplo, com questões referentes à existência humana, como a valorização do trabalho. Ainda assim, o tradicional era marcante e a educação se fazia severa, desde a infância, com o ensinamen- to dos princípios morais e religiosos. Não havia a ideia de escola ou colégio que temos hoje, por isso 26 o ensino ocorria sobremaneira no seio familiar, onde os valores morais eram ensinados e reforçados atéos sete anos de idade. O modelo de escrita utilizado era a cuneiforme, que, conforme verificamos ante- riormente, foi desenvolvido pelos sumérios. Após os primeiros sete anos, as crianças aprendiam com os mais velhos as habilidades básicas que se- riam necessárias para sua vida naquela sociedade, principalmente voltadas à guerra e aos campos de batalha. Aos 15 anos, ingressavam na educação mi- litar, de fato; algo parecido com o serviço militar obri- gatório no Brasil, só que no caso persa durava dez anos, ou seja, lá os jovens permaneciam até os 25 anos. A partir de então, tornavam-se guerreiros, iam para as campanhas militares, colocavam em prática toda a teoria que haviam recebido de seus mestres, que eram os guerreiros mais virtuosos, geralmente aposentados aos 50 anos de idade. Contudo, temos que levar em conta que esse modelo de educação estava reservado a determinados gru- pos sociais. É provável que as pessoas mais pobres possuíssem uma educação mais básica. No caso das mulheres, tendo em vista que muitas ocuparam im- portantes cargos na administração do Estado, algu- mas podem ter recebido uma educação semelhante à dos homens pertencentes às classes dominantes. 27 HEBREUS Dentre esses povos da chamada Antiguidade Oriental, os hebreus também merecem destaque, tanto por trazerem uma nova perspectiva religiosa, que per- meou todo aquele povo, como por utilizarem uma forma de escrita diferente daquela que predominava então, que se trata do hebraico, utilizado até hoje entre essa comunidade. Originários da região da Palestina, os hebreus passa- ram por diversos momentos de migração, estabele- cendo relações com outros povos do Oriente antigo, tendo sido escravizados pelo Egito e pela Babilônia, assimilando diversos valores culturais e religiosos desses povos. No que diz respeito ao pensamento religioso, tão presente nessas sociedades que estamos estudando, os hebreus são os primeiros a trazer, de forma clara e explícita, a ideia do monoteísmo, ou seja, a crença em um único Deus. Sua sociedade se desenvolveu, primeiramente, em torno do patriarcado, momento no qual o ensino estava a cargo dos homens mais velhos, que exerciam o poder naquela sociedade. Esse pensamento tradicionalista e voltado aos valo- res religiosos se mantém no período da monarquia. 28 Entre os hebreus, os costumes e tradições passaram a ser registrados de forma escrita, dando origem ao antigo Testamento da Bíblia e também ao livro conhecido como Torá, sagrado entre os judeus até os dias atuais. O registro em forma escrita garantiu a permanência dos costumes e valores desse povo por milênios, sendo que até os dias atuais tanto as famílias quanto as escolas judaicas reforçam suas crenças, costumes e tradições em seu cotidiano. Entre outras características da educação hebraica, Maria Lúcia Arruda Aranha destaca que: Outro aspecto do judaísmo é a importância dada ao ofício e todo o reconhecimento do valor da educação manual, o que atestam as seguintes citações ‘A mesma obrigação tens de ensinar a teu filho um ofício como de instruí-lo na Lei’ e ‘É bom acrescentar a teus estudos o aprendizado de um ofício, isso te ajudará a livrar-te do pecado’. (ARANHA, 1996, p.36). Dessa forma, podemos perceber que nas socieda- des do Oriente antigo, notadamente nas regiões do Egito (e outras partes da África), Mesopotâmia, Mediterrâneo e Palestina, de forma geral, surgiram as primeiras grandes civilizações da humanidade. As formas de ensino e transmissão de conhecimento es- tavam pautadas em tradições e costumes vinculados 29 ao estabelecimento do poder e de perpetuações de seus costumes e tradições, principalmente religiosas. Formas de escrita foram desenvolvidas para registrar relações comerciais, culturais e livros sagrados. No tópico seguinte, iremos ver os povos que rompe- ram com essas tradições na educação e em diversas formas de pensamento e organização da sociedade, estamos falando de gregos e romanos. 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS Você acaba de aprender dois dos três períodos da Pré-história: Paleolítico, ou conhecido também como Pedra Lascada, e o Neolítico, além de ver também sobre a Educação Tribal. No Paleolítico, o nomadismo foi uma das principais características do homem, que caminhava grande parte de sua vida em busca de abrigo e comida. Nesse período foram desenvolvidas as primeiras ferramentas de caça, para coleta de frutas e constru- ção de pequenos abrigos. A educação nessa época era baseada na sobrevivência e os registros eram feitos por meio de desenhos e atividades cotidianas, ainda sem registros escritos. A Educação Tribal traz especificidades na educação e transmissão de conhecimentos bem distintas dos modelos tradicionais que estamos habituados a ver em nossa sociedade. As crianças aprendem imitan- do os gestos dos adultos nas atividades diárias e nas cerimônias dos rituais. Não há apropriação do ensino com fins de poder ou lucro entre os demais membros da aldeia, mas há divisão social e de gê- nero do trabalho. Já no período Neolítico, o homem surge desenvol- vendo atividades de agricultura, pecuária, pastoreio 31 e metalurgia. Há conglomerados urbanos e grandes civilizações e as atividades e conhecimentos eram mais complexos. A educação era voltada para man- ter a ordem social e religiosa, e para práticas milita- res. Nessa época houve desenvolvimento da escrita cuneiforme e do alfabeto pelos fenícios. 32 Síntese Parabéns! Chegamos ao final do primeiro tópico do nosso curso. �������� •Nomadismo •Caça, pesca e coleta •Educação baseada na sobrevivência •Registros, por meio de desenhos, de atividades cotidianas •Sem registros escritos Paleolítico Educação Tribal • Existente entre tribos desde o paleolítico. • Muitas etnias indígenas ainda se valem desse modelo. • O ensino da criança não é de responsabilidade única dos pais. • Não há apropriação do ensino com fins de poder ou lucro entre os demais membros da aldeia. • Divisão social e de gênero do trabalho. • Agricultura, pecuária, pastoreio e metalurgia • Moradia fixa(sedentarismo) • Conglomerados urbanos e grandes civilizações. • Atividades e conhecimen- to mais complexos. • Sociedades do Egito, da Mesopotâmia e demais regiões do Oriente Médio. • Educação voltada para manter ordem social e religiosa e para práticas militares. • Desenvolvimento da escrita cuneiforme na Suméria e do alfabeto pelos fenícios. Neolítico/ Idade de Ouro Referências ARANHA, Maria Lúcia Arruda. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo: Moderna, 2006. ________ História da Educação. 2 ed. São Paulo: Editora Moderna, 2000. FARIA FILHO. Luciano Mendes de. Pensadores so- ciais e História da Educação. 3ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. HILSDORF, Maria Lucia S. História da Educação: lei- turas. São Paulo: Cengage Lerning, 2003. MORAIS, Christianni C., PORTES, Écio A., ARRUDA, Maria Ap. (orgs.). História da Educação: ensino e pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2006. Educação tribal e pré-história Sociedades tribais e pré-história Da chamada "pré-história às sociedades fluviais" Antiguidade Oriental Fenícios, persas e hebreus Fenícios Persas Hebreus Considerações Finais Síntese
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