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Kaysa Suassuna Medicina | FITS ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS Farmacologia | 4º Período SÍNTESE DE PROSTAGLANDINAS ➢ Via da cicloxigenase Todos os eicosanoides com estrutura anelar (PGs, tromboxanos e prostaciclinas) são sintetizados pela via da cicloxigenase. Foram descritas duas isoformas relacionadas das enzimas cicloxigenases: a cicloxigenase-1 (COX-1) é responsável pela produção fisiológica de prostanoides, e a COX-2 provoca o aumento da produção de prostanoides em locais de doença e inflamação crônicas. A COX-1 é uma “enzima constitutiva” que regula os processos celulares normais, como a citoproteção gástrica, a homeostase vascular, a agregação plaquetária e as funções reprodutiva e renal. A COX-2 é expressa de maneira constitutiva em tecidos, como cérebro, rins e ossos. Sua expressão em outros locais aumenta durante os estados inflamatórios crônicos. Diferenças na forma dos locais de ligação permitiram o desenvolvimento de inibidores COX-2 seletivos. ➢ Via da lipoxigenase: Alternativamente, várias lipoxigenases podem atuar no ácido araquidônico formando leucotrienos. Fármacos antileucotrienos como zileutona, zafirlucaste e montelucaste são opções de tratamento da asma. Kaysa Suassuna Medicina | FITS ➢ Usos terapêuticos das prostaglandinas As PGs têm seu papel principal na modulação da dor, da inflamação e da febre. Elas também controlam várias funções fisiológicas, como a secreção ácida e a produção de muco no trato gastrintestinal (TGI), a contração uterina e o fluxo de sangue nos rins. As PGs também estão entre os mediadores químicos liberados nos processos alérgicos e inflamatórios. ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES Os AINEs são um grupo de fármacos quimicamente heterogêneos que se diferenciam na sua atividade antipirética, analgésica e anti-inflamatória. A classe inclui derivados do ácido salicílico (ácido acetilsalicílico [AAS], diflunisal e salsalato), do ácido propiônico (ibuprofeno, fenoprofeno, flurbiprofeno, cetoprofeno, naproxeno e oxaprozina), do ácido acético (diclofenaco, etodolaco, indometacina, cetorolaco, nabumetona, sulindaco e tolmetina), do ácido enólico (meloxicam e piroxicam), de fenamatos (ácido mefenâmico e meclofenamato) e do inibidor COX-2 seletivo (celecoxibe). Eles atuam, principalmente, inibindo as enzimas cicloxigenase que catalisam o primeiro estágio da biossíntese de prostanoides. Isso leva à redução da síntese de PGs, com efeitos desejados e indesejados. (Nota: diferenças na segurança e na eficácia dos AINEs podem ser explicadas pela seletividade relativa das enzimas COX-1 ou COX-2. A inibição da COX-2 parece levar aos efeitos anti -inflamatório e analgésico dos AINEs, ao passo que a inibição da COX-1 é responsável pela prevenção dos eventos cardiovasculares e pela maioria dos eventos adversos.) Ácido acetilsalicílico e outros anti-inflamatórios não esteroides O AAS pode ser considerado um AINE tradicional, mas ele apresenta efeito anti-inflamatório apenas em dosagens relativamente altas, raramente usadas. Ele é mais usado em dosagens baixas para a prevenção de eventos cardiovasculares, como o acidente vascular encefálico (AVE) e o infarto do miocárdio (IM). O AAS é diferenciado dos outros AINEs, frequentemente, por ser um inibidor irreversível da atividade da cicloxigenase. ➢ Mecanismo de ação O AAS é um ácido orgânico fraco que acetila irreversivelmente e, assim, inativa a cicloxigenase. Todos os outros AINEs são inibidores reversíveis da cicloxigenase. Os AINEs, inclusive o AAS, realizam três ações terapêuticas principais: reduzem a inflamação (afeito anti-inflamatório), a dor (efeito analgésico) e a febre (efeito antipirético). Entretanto, como será explicado mais adiante, nem todos os AINEs são igualmente potentes em cada uma dessas ações. ➢ Ação anti-inflamatória A inibição da cicloxigenase diminui a formação de PGE2 e prostaciclina e, assim, modula os aspectos da inflamação(diminui Kaysa Suassuna Medicina | FITS vasodilatação e, indiretamente o edema) nos quais as PGs atuam como mediadoras. Os AINEs inibem a inflamação na artrite, mas não evitam o avanço da doença nem induzem remissão. ➢ Ação analgésica Acredita-se que a PGE2 sensibiliza as terminações nervosas à ação da bradicinina, a histamina e de outros mediadores químicos liberados localmente pelo processo inflamatório. Assim, diminuindo a síntese de PGE2, a sensação de dor pode diminuir. Como a COX-2 é expressa durante inflamações e lesões, parece que a inibição dessa enzima é responsável pelo efeito analgésico dos AINEs. Nenhum AINE demonstrou eficácia superior aos demais (a eficácia de todos eles é considerada, em geral, equivalente). Os AINEs são usados, principalmente, para combater dores de leves a moderadas originadas de distúrbios musculosqueléticos. Uma exceção é o cetorolaco, que pode ser usado contra dores mais graves, mas por um curto período. ➢ Ação antipirética A febre ocorre quando o “ponto de referência” do centro termorregulador hipotalâmico anterior é aumentado. Isso pode ser causado pela síntese da PGE2, que é estimulada quando agentes endógenos causadores de febre (pirógenos), como as citocinas, são liberados pelos leucócitos ativados por infecção, hipersensibilidade, câncer ou inflamação. Os AINEs diminuem a temperatura corporal em pacientes febris, impedindo a síntese e a liberação da PGE2. Esses fármacos, essencialmente, recolocam o “termostato” no normal. Isso rapidamente baixa a temperatura corporal de pacientes febris, aumentando a dissipação do calor como resultado da vasodilatação periférica e da sudoração. Os AINEs não têm efeito sobre a temperatura normal do organismo. ➢ Aplicações cardiovasculares O AAS é usado para inibir a aglutinação plaquetária. Doses baixas de AAS inibem a produção de TXA2 mediada por COX-1, reduzindo, assim, a vasoconstrição e a aglutinação de plaquetas mediada por TXA2 e o subsequente risco de eventos cardiovasculares. Doses baixas de AAS (menores do que 325 mg; muitos consideram doses de 75 a 162 mg, comumente 81 mg) são usadas profilaticamente para : ● Reduzir o risco de eventos cardiovasculares recorrentes e/ou morte em pacientes com IM prévio ou angina de peito instável; ● Reduzir o risco de ataques isquêmicos transitórios (AITs) recorrentes ou AVEs; ● Reduzir o risco de eventos cardiovasculares ou morte em pacientes de alto risco, como aqueles com angina estável crônica ou diabetes. Como o AAS inibe irreversivelmente a COX-1, o efeito antiplaquetário persiste por toda a vida da plaqueta. O uso crônico de doses baixas assegura a inibição contínua conforme novas plaquetas vão sendo produzidas. O AAS também é usado para diminuir o risco de morte em IM agudo e em pacientes submetidos a certos procedimentos de revascularização. EVENTOS ADVERSOS Devido aos eventos adversos associados enumerados a seguir, é preferível usar os Kaysa Suassuna Medicina | FITS AINEs na menor dosagem eficaz e pelo menor tempo possível. ➢ Efeitos GI Os efeitos adversos mais comuns dos AINEs são relacionados ao TGI, variando desde dispepsia até sangramento. Normalmente, a produção de PGI2 inibe a secreção de ácido gástrico, e a PGE2 e a PGF2α estimulam a síntese de muco protetor no estômago e no intestino delgado. Fármacos que inibem a COX-1 diminuem os níveis benéficos dessas PGs, resultando em aumento da secreção de ácido gástrico, diminuição da proteção da mucosa e aumento do risco de sangramento GI e ulcerações. Fármacos com maior seletividade relativa para a COX-1 podem ter maior risco de eventos GI se comparados àqueles com menor seletividade pela COX-1 (isto é, maior seletividade pela COX-2). Os AINEs devem ser tomados com alimento ou líquido para diminuir o desconforto GI. Se os AINEs forem usados em pacientes com risco alto de eventos GI, inibidores da bomba de prótons ou misoprostol devem ser usados concomitantemente para prevenir úlceras induzidas pelos AINEs. ➢ Aumento do risco de sangramentos (efeito antiplaquetário) O TXA2 aumenta a aglutinação das plaquetas, ao passo que a PGI2 a reduz. O AAS inibeirreversivelmente a formação de TXA2 mediada por COX-1, e outros AINEs a inibem reversivelmente. Como as plaquetas não possuem núcleo, elas não podem sintetizar novas enzimas quando inibidas pelo AAS, e a falta de tromboxano persiste durante toda a vida da plaqueta (3-7 dias). Como resultado da diminuição de TXA2, a aglutinação plaquetária (o primeiro estágio da formação do trombo) é reduzida, produzindo efeito antiplaquetário com aumento do tempo de sangramento. Por esse motivo, o uso do AAS é suspenso ou não é administrado por pelo menos uma semana antes de uma cirurgia. Além do AAS, outros AINEs não são usados por seu efeito antiplaquetário, mas podem prolongar o tempo de sangramento. (Nota: conforme os fármacos se tornam mais seletivos para a COX-2, espera-se menor efeito na inibição plaquetária e no tempo de sangramento.) ➢ Ação sobre os rins Os AINEs previnem a síntese de PGE2 e PGI2, PGs responsáveis pela manutenção do fluxo sanguíneo renal. A diminuição da síntese de PGs pode resultar na retenção de sódio e água e, consequentemente, causar edema em alguns pacientes. Pacientes com histórico de insuficiência cardíaca ou doença renal estão sob maior risco. Esses efeitos também podem diminuir o efeito benéfico dos anti-hipertensivos. → Uso crônico abusivo pode causar nefropatia!! ➢ Efeitos cardíacos Fármacos como o AAS, com alto grau de seletividade pela COX-1, mostraram efeito protetor cardiovascular provavelmente devido à redução na produção de TXA2. Fármacos com maior seletividade relativa para a COX-2 são associados ao aumento do risco de Kaysa Suassuna Medicina | FITS eventos cardiovasculares, possivelmente por diminuir a produção de PGI2 mediada pela COX-2. O aumento do risco de eventos cardiovasculares, incluindo IM e AVE, é associado a todos os AINEs, com exceção do AAS. O uso de AINE, exceto AAS, é desaconselhado em pacientes com doença cardiovascular estabelecida. Para pacientes com doença cardiovascular nos quais o tratamento com AINEs não pode ser evitado, o naproxeno parece ser o menos prejudicial. O uso de AINEs deve ser limitado à menor dosagem e à menor duração possíveis. ➢ Gestação A maioria dos AINEs está na categoria C de risco à gestação nos primeiros dois trimestres. (Nota: o paracetamol é o fármaco preferido para efeito antipirético ou analgésico durante a gestação.) No terceiro trimestre, os AINEs em geral devem ser evitados. Kaysa Suassuna Medicina | FITS
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