Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Infecções por helmintos EPIDEMIOLOGIA ASCARIS LUMBRICO IDES É encontrado em quase todos os países do mundo, com frequência variada a depender das condições climáticas, ambientais e do graus de desenvolvimento socioeconômico. O decréscimo do parasitismo, notadamente entre crianças com idade inferior a 12 anos, vem sendo observado em comunidades das regiões Sul e Sudeste que são beneficiadas por melhores condições de saneamento ambiental, especial mente água tratada. Outro aspecto que tem impacto positivo é a instalação em locais de risco de Unidades Básicas de Saúde com equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Estudos realizados com pré-escolares em regiões do Norte e Nordeste do Brasil mostram que os índices de parasitismo não apresentaram diminuição significativa especialmente em regiões onde estão aliadas precárias condições de saneamento e deficiência de políticas públicas de saúde. O A. lumbricoides continua sendo o helminto mais frequente em regiões pobres com uma estimativa de prevalência de aproximadamente 30%, ou seja, 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo. Distribuído por mais de 150 países e territórios, atinge cerca de 70% a 90% das crianças na faixa etária de 1 a 10 anos. Condições climáticas têm um importante papel nas taxas de infecção. Em geral, a prevalência é baixa em regiões áridas. Contudo é relativamente alta em locais de clima úmido e quente, condição ideal para a sobrevivência e o embrionamento dos ovos. Além disso, áreas desprovidas de saneamento com alta densidade populacional contribuem significativamente para o aumento da ascaridíase Assim, alguns fatores interferem na prevalência desta parasitose. São eles: • grande quantidade de ovos produzidos e eliminados pela fêmea; • viabilidade do ovo infectante por até 1 ano, principalmente no peridomicílio; O contato entre crianças portadoras e crianças suscetíveis no peridomicílio ou na escola, aliado ao fato de que suas brincadeiras são sempre relacionadas com o solo e o hábito de levarem a mão suja à boca, são os fatores que fazem com que a faixa etária de 1 a 12 anos seja a mais prevalente. Fatores sociais = fatores ambientais favoráveis, crescimento desordenado da população, saneamento básico precário, baixo poder econômico, migração humana (pode inserir o agente etiológico em áreas não endêmicas). ANCILOSTOMOSE Ainda é considerada uma doença negligenciada, sendo que se estima que 440 milhões de pessoas estejam infectadas, sendo que 50 milhões na américa latina e caribe. A prevalência e incidência também estão relacionados com as desigualdades sociais e infraestrutura precária (saneamento, serviços de saúde). N. americanus é a espécie predominante no mundo, exceto em algumas localidades onde a endemicidade do A. duodenale é focal. As principais regiões endêmicas para N. americanus incluem o sul e sudoeste da China, sul da índia, sudeste Asiático, África subsaariana e Américas Central e do Sul. A infecção por N. americanus ocorre em países de clima tropical, principalmente nas regiões costeiras. A. duodenale é predominante em regiões de clima temperado a frio e, diferentemente de N. americanus, sua sobrevivência em regiões mais frias é devida à sua capacidade de dormência (hipobiose) em tecidos do hospedeiro em períodos de seca ou frio A infecção por A. ceylanicum é mais prevalente na Ásia, onde é considerada uma zoonose mantida por cães e gatos. STRONGYLOIDES STERCORAL IS A estrongiloidose tem distribuição mundial heterogênea, sendo a prevalência dividida em três categorias: esporádica <1%, endêmica 1-5% e hiperendêmica 5%. Todas as áreas agrupadas como hiperendêmicas estão situadas nos trópicos; há áreas endêmicas subtropicais, mas também estão presente nos EUA, na Europa e na Ásia. Nos países desenvolvidos, a infecção prevalece em agricultores, hortigranjeiros, trabalhadores rurais, imigrantes e viajantes que visitaram áreas endêmicas. A prevalência de S. stercoralis é subestimada, sobretudo pela baixa sensibilidade dos métodos parasitológicos de diagnóstico empregados na rotina laboratorial e nos inquéritos epidemiológicos que não incluem os métodos específicos para pesquisa de larvas. No brasil foi confirmado hiperendemia, a ocorrência aumentou com a idade, sendo de 12,1% para os indivíduos com idade superior a 60 anos, e que nos indivíduos imunossuprimidos a positividade alcançou 11,8% por métodos parasitológicos e 19,5% pelos métodos imunológicos. A infecção natural pelo S. stercoralis confirmada em cães, gatos e macacos que estão em contato com o homem pode ser um importante reservatório da parasitose. Os fatores que influenciam o aparecimento, a manutenção e a propagação da estrongiloidose são: • fezes de homens ou animais infectados contaminando o solo; • larvas infectantes originárias dos ciclos direto e de vida livre no solo; • solo arenoso ou arenoargiloso, úmido, com ausência de luz solar direta; • temperatura entre 25° e 30°C; • condições sanitárias inadequadas; • hábitos higiênicos inadequados; • contato com alimento contaminado por água de irrigação poluída com fezes; • não utilização de calçados. ENTEROBIUS VERMICULAR IS Apresenta distribuição mundial cosmopolita, ocorrendo em diferentes populações, localidades e climas. O E. vermicularis é o helminto de importância clínica mais prevalente em países da Europa, na Australia e nos EUA, onde a prevalência total média foi estimada em 11,4%, sendo que na população infantil alcançou 30%. A idade do hospedeiro é um fator que influencia o parasitismo por E. vermicularis, sendo as crianças em idade escolar as mais parasitadas. Estima-se que a prevalência na população infantil como um todo é pelo menos o dobro da observada em adultos. Ademais, a intensidade de infecção média em crianças de até 10 anos de idade mostrou-se cerca de quatro vezes maior que a observada em indivíduos de 11 a 16 anos de idade. A prevalência em climas temperados é maior, talvez devido à menor frequência de banhos e da característica dos vestuários. Devido Às características de transmissão, normalmente a família toda é contaminada quando algum membro está infectado, logo locais de aglomeração são fatores de risco. Ascaridíase ETIOLOGIA E MORFOLOGIA A doença é causada pelo helminto do gênero Ascaris e da espécie lumbricoides. As formas adultas são longas, robustas, cilíndricas e apresentam extremidades afiladas. O tamanho depende da carga parasitária e do estado de nutrição do hospedeiro. MACHOS Medem de 20 a 30 cm, possuem cor leitosa., a boca é contornada por 3 fortes lábios com serrilhas de dentículos. Segue-se assim o esôfago, e intestino. Extremidade posterior encurvada FÊMEAS Medem de 30 a 40 cm e mais robustas que os machos. A cor, a boca e o aparelho digestivo são semelhantes aos do macho. Extremidade posterior retilínea. OVOS Originalmente são brancos e adquirem cor castanha devido ao contacto com as fezes. São grandes, medindo aproximadamente 50 x 60 pm, ovais e com cápsula espessa, em razão da membrana externa mamilonada, secretada pela parede uterina e formada por mucopolissacarídeos. Essa membrana facilita a aderência dos ovos a superfícies propiciando sua disseminação. A esse envoltório seguem-se uma membrana média de constituição proteica e outra mais interna, delgada e impermeável à água, constituída de 25% de proteínas e 75% de lipídeos. Esta última camada confere ao ovo grande resistência às condições adversas do ambiente. Internamente, os ovos apresentam uma massa de células germinativas. Frequentemente podem-se encontrar nas fezes ovos inférteis. TRANSMISSÃO Ocorre pela ingestão de água ou alimentos contaminados com ovos contendo a larva L3. Alimentos de hortas regados com água contaminada, vetores como moscas e baratas. Ovos de A. lumbricoides têm grande capacidade de aderência a superfícies, o que representa um fator importante na transmissãoda parasitose. Uma vez presente no ambiente ou em alimentos não são removidos com facilidade por lavagens. Por isto, o uso de substâncias que tenham capacidade de inviabilizar o desenvolvimento dos ovos em ambientes e alimentos é de grande importância para o controle da transmissão. A resistência dos ovos de A. lumbricoides a vários agentes terapêuticos é outra característica importante na transmissão da doença. Testando a capacidade ovicida in vivo do levamisol, cambendazol, pamoato de pirantel, mebendazol, praziquantel e tiabendazol observou-se que somente o último medicamento foi efetivo na inibição completa do embrionamento dos ovos 48 horas após o tratamento. Já o tratamento com tiabendazol de indivíduos infectados confirmou a atividade ovicida intrauterina da droga, após eliminação dos vermes. FATORES DE R ISCO • concentração de indivíduos vivendo em condições precárias de saneamento básico; • grande quantidade de ovos no peridomicílio, em decorrência do hábito que as crianças têm de aí defecarem; • temperatura e umidade com médias anuais elevadas; • dispersão fácil dos ovos pelas chuvas, ventos, insetos e aves; • conceitos equivocados sobre a transmissão da doença e sobre hábitos de higiene na população. • Fatores sociais = fatores ambientais favoráveis, crescimento desordenado da população, saneamento básico precário, baixo poder econômico, migração humana (pode inserir o agente etiológico em áreas não endêmicas). CICLO BIOLÓGICO Habitat = Em infecções moderadas, os vermes adultos são encontrados no intestino delgado, principalmente no jejuno e no íleo, mas, em infecções intensas, ocupam toda a extensão do órgão. Podem ficar presos à mucosa, com auxílio dos lábios, ou migrarem pela luz intestinal. É do tipo monoxênico, isto é, possuem um único hospedeiro. Cada fêmea fecundada é capaz de colocar, por dia, cerca de 200.000 ovos não embrionados, que chegam ao ambiente juntamente com as fezes. Os ovos férteis em presença de temperatura entre 25° a 30°C, umidade mínima de 70% e oxigênio em abundância tomam-se embrionados em 15 dias. A primeira larva (L l) formada dentro do ovo é do tipo rabditoide, isto é, possui o esôfago com duas dilatações, uma em cada extremidade e uma constrição no meio. Após uma semana, ainda dentro do ovo, essa larva sofre muda transformando-se em L2 e, em seguida, nova muda transforma-se me L3, com estômago filarioide.. permanecem infectantes por vários meses, podendo ser ingeridas. Após a ingestão, os ovos contendo a L3 atravessam todo o trato digestório e as LARVAS ECLODEM NO INTEST INO DELGADO . A eclosão ocorre graças a fatores ou estímulos fornecidos pelo próprio hospedeiro como a presença de agentes redutores, o pH, temperatura, os sais e o mais importante, a concentração de C02, cuja ausência inviabiliza a eclosão. As larvas, uma vez liberadas, ATRAVESSAM A PAREDE INTEST INAL na altura do ceco, CAEM NOS VASOS L INFÁT ICOS e na veia mesentérica superior ATINGINDO O F ÍGADO ENTRE 18 E 24 HORAS APÓS A INFECÇÃO. Em 2 a 3 dias chegam ao ÁTRIO D IRE ITO pela veia cava inferior e 4 a 5 dias após são encontradas nos PULMÕES (ciclo de LOSS). Cerca de 8 dias da infecção, as larvas sofrem muda para L4, ROMPEM OS CAP ILARES E CAEM NOS ALVÉOLOS, onde mudam para L5. SOBEM PELA ÁRVORE BRÔNQUICA E TRAQUE IA , CHEGANDO ATÉ A FARINGE . Podem então ser expelidas com a EXPECTORAÇÃO OU SEREM DEGLUTIDAS , atravessando ilesas o estômago e F IXANDO-SE NO INTESTINO DELGADO. Transformam-se em ADULTOS entre 20 a 30 dias após a infecção. Em 60 dias . alcançam a maturidade sexual, fazem a cópula e a ovipostura , quando são encontrados ovos nas fezes do hospedeiro. Os vermes adultos têm uma longevidade de 1 a 2 anos. Resumo Ingestão dos ovos -> intestino eclode -> migra para fígado -> coração -> pulmão -> orofaringe -> engolidos -> se estabelecem no intestino. PATOGENIA E QUADRO CLÍNICO Depende do ciclo biológico e da carga parasitária do hospedeiro LARVAS Nessa fase da infecção a resposta imunológica é caracterizada pelo aumento de eosinófilos sanguíneos e teciduais, bem como anticorpos IgE específicos, responsáveis por reações de hipersensibilidade. Em infecções de baixa intensidade, normalmente não se observa nenhuma alteração. Em caso de infecção maciça: ➔ Lesões hepáticas = pequenos focos hemorrágicos e necrosantes- que se tornam fibrosados ➔ Lesões pulmonares = vários pontos hemorrágicos na passagem das larvas para os alvéolos, edemaciação dos alvéolos com infiltrado inflamatório por polimorfonucleares. Dependendo do número de larvas pode haver um quadro pneumônico com febre, tosse, dispneia, manifestações alérgicas, bronquite e eosinofilia. A sintomatologia das vias respiratórias é denominada síndrome de Lõeffler. ➔ Tose produtiva, pode ser sanguinolenta e com larvas. . VERMES ADULTOS Em infecções com três a quatro vermes, em geral não há alterações clínicas e os sintomas quando ocorrem são inespecíficos. Já nas infecções médias, 30 a 40 vermes, ou maciças, 100 ou mais vermes: ➔ Ação espoliadora = os vermes consomem grande quantidade de proteínas, carboidratos, lipídeos e vitaminas A e C, levando o paciente, principalmente crianças, à subnutrição e depauperamento físico e mental. o O aparecimento de manchas na pele pode indicar grande déficit de vitaminas a e C, consumidas pelo parasita. o podem ocorrer obstrução intestinal, semiobstrução e eliminação dos parasitos e diarreia. ➔ Ação tóxica = a reação entre antígenos parasitários e os anticorpos alergizantes do hospedeiro causam edema, urticária e convulsões. ➔ Ação mecânica = os vermes causam irritação na parede intestinal e podem enovelar-se na luz, levando à obstrução. A obstrução intestinal é a complicação aguda mais comum contabilizando três quartos de todas as complicações. As crianças são mais propensas, principalmente pelo menor tamanho do intestino delgado e pela intensa carga parasitária ➔ Localização ectópica = nos casos de pacientes com altas cargas parasitárias ou ainda em que o verme sofra alguma ação irritativa, a exemplo de febre, uso impróprio de medicamento e ingestão de alimentos muito condimentados, o helminto desloca-se de seu hábitat normal atingindo locais não habituais. Aos vermes que fazem esta migração dá-se o nome de “áscaris errático” • apêndice cecal causando apendicite aguda; • duto colédoco, causando obstrução; • duto pancreático, causando pancreatite aguda; • eliminação do verme pela boca e pelas narinas • ouvido médio e tuba auditiva. Ancylostmatidae As família ancylostomatidae envolve algumas espécies que são agentes etiológicos da ancilostomose, como o Anncylostoma duodenale, Necator americanos e A. ceylanicum. São transmitidos pelo solo infectado que permite condições favoráveis para o embrionamento do ovo até seu estágio larval infectante. CLASSIF ICAÇÃO E MORFOLOGIA A família Ancylostomatidae pertence ao filo Nematoda e classe Chromadorea. Sua principal característica morfológica é a presença de cápsula bucal, uma projeção da cutícula na região anterior do verme adulto. Apresenta divisão em várias subfamílias, sendo duas de importância médica: ANCYLOSTOMINAE , cujas espécies apresentam dentes na cápsula bucal (A. duodenale e A. ceylanicum) e BUNOSTOMINAE , que possuem lâminas cortantes na margem da boca (N . americanus). O dimorfismo sexual é visível pelo tamanho da fêmea (maior~) e pela presença da bolsa copuladora nos machos. NECATUR AMER ICANUS Os vermes adultos apresentam forma cilíndrica e cápsula bucal contendo duas lâminas ou placas cortantes semilunares subventrais e duas lâminas cortantes subdorsais. • Machos – 5 a 9 mm com bolsa copuladora bem desenvolvida • Fêmeas – 9 a 11 mm com extremidade afilada. ANCYLOSTOMA DUODENALE Os vermes adultos apresentam dois pares de dentes ventrais na margem interna da boca e duas lancetas subventrais no fundo da boca.• Machos – 8 a 11 mm e fêmea de 10 a 18 mm. CICLO BIOLÓGICO Ovos liberados nas fezes do hospedeiro darão origem aos dois primeiros estádios larvais (LI e L2), com esôfago rabditoide e, posteriormente, ocorrerá a muda para a forma de vida infectante, com esôfago filarioide, que é a larva de terceiro estádio (L3). As L3 apesar de livre movimentação, já não se alimentam e apresentam dupla cutícula (durante a muda entre L2 e L3, há preservação da cutícula externa e formação de uma nova cutícula interna). As condições de oxigenação, temperatura e umidade do ambiente favorecem o desenvolvimento dos ovos até a formação das larvas de terceiro estádio. Em ambientes de oxigenação (p. ex., terrenos arenosos), umidade (superior a 90%) e temperatura (27-32°C para N. americanus e 21-27°C para Ancylostoma spp.) o embrionamento e a eclosão da LI ocorrem em 12 a 24 horas, a muda de LI para L2 em 3 a 4 dias e, a muda para L3, após 5 dias. O homem adquire a infecção pela PENETRAÇÃO NA PELE (V. americanus, A. duodenale e A. ceylanicum) ou pela INGESTÃO (invasão do epitélio bucal )(A. duodenale e A. ceylanicum) da larva de terceiro estádio. Ao entrar em contato com o ser humano, as larvas são estimuladas por sinais térmicos e químicos derivados do hospedeiro e CONTINUAM O SEU DESENVOLVIMENTO a partir da expressão gênica diferenciada que culmina na produção de produtos de secreção e excreção que, junto com a movimentação (contração e extensão) da larva, auxiliam na PENETRAÇÃO DE TECIDOS DO HOSPEDEIRO. O processo de penetração dura cerca de 30 minutos e as L3, após liberação da cutícula externa no meio externo, M IGRAM PELA CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA OU L INFÁTICA ATÉ ALCANÇAR OS PULMÕES . Em seguida atravessam os capilares do pulmão para a LUZ DOS ALVÉOLOS PULMONARES , onde ascendem para os bronquíolos, brônquios e traqueia, auxiliadas pela movimentação de cílios da árvore brônquica e pelo carreamento em muco e produtos de secreção do hospedeiro. Nos pulmões, estimuladas pela alta oxigenação, ocorre a MUDANÇA PARA O ESTÁDIO DE L4, que apresenta uma cápsula bucal provisória. Ao atingir a laringe, as L4 podem ser expectoradas ou DEGLUT IDAS . Neste caso, as larvas entram no trato gastrointestinal e migram até chegar ao INTEST INO DELGADO. No intestino delgado, as L4 já exercem a HEMATOFAGIA e, transcorridos 15 dias da infecção, mudam para formas adultas jovens, que darão origem a vermes adultos sexualmente maduros em mais alguns dias. Após a reprodução sexuada entre casais, as fêmeas DEPOSITAM OVOS na luz intestinal que são liberados ao meio exterior junto com as fezes. A hematofagia e a consequente perda de sangue do hospedeiro ocorrem antes da produção de ovos e continua por toda a vida do parasito. Ancilostomatídeos podem viver por anos no intestino humano (3-10 anos para N. americanus e 1-3 anos para A. duodenale e A. ceylanicum). O período pré-patente para N. americanus é de 42 a 60 dias; de 35 a 60 dias para A. duodenale e de 21 a 35 dias para A. ceylanicum. Parasitos da subfamília Ancylostomatidae podem infectar o homem por VIA ORAL, pela ingestão de L3 em alimentos ou água contaminada. Nesta via de infecção, as L3 deglutidas perdem a cutícula no estômago e MIGRAM PARA O INTESTINO DELGADO (região do duodeno), onde penetram na mucosa intestinal e mudam para L4. As L4, após emergirem na luz intestinal e iniciarem a HEMATOFAGIA , mudam para adultos jovens e, posteriormente, para adultos sexualmente maduros. O período pré-patente para infecção por via oral é menor, de 30 dias para N. americanus e A. duodenale e de 15 dias para A. ceylanicum. IMUNIDADE Observa-se em geral uma forte resposta Th2 com produção de IgE, e forte eosinofilia, IL-5, IL-10 e TNF. O parasita libera diversas moléculas que atuam na apoptose de células T e B, na proliferação de células T reguladoras, anergia de linfócitos T e redução da apresentação de antígenos. De forma geral, a infecção por ancilostomatídeos reduz a capacidade do hospedeiro em montar uma resposta imune eficiente para eliminar o parasito. PATOGENIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O primeiro sintoma é o aparecimento imediato de erupções papulovesiculares pruriginosas eritematosas. A gravidade das erupções pode variar de acordo com a infecção primária ou reinfecção, desde o aparecimento de simples pápulas eritematosas até o surgimento de pápulas vesiculadas, com edema generalizado e inchaço de linfonodos locais. Os sintomas subsequentes são resultados da migração do parasita. = tosse, febre, inflamação na garganta, coriza, faringite, laringite, sensação de obstrução da garganta e dor ao falar e deglutir Já na migração no trato gastrointestinal, é relatada dor epigástrica diminuição do apetite, indigestão, cólicas, náuseas, vômitos, flatulência e diarreia e, em casos mais graves, ulceração intestinal e colecistite. Após o estabelecimento no hábitat final, a laceração da mucosa e da submucosa pelos aparatos bucais cortantes dos vermes adultos, acompanhados por sucção e secreção de enzimas hidrolíticas e agentes anticoagulantes, resultam em uma intensa perda de sangue intestinal. As principais manifestações clínicas da ancilostomose são consequentes da perda crônica de sangue, acarretando em anemia por deficiência de ferro e hipoalbuminemia. A anemia microcítica e hipocrômica e a eosinofilia coincidem com o estabelecimento dos vermes adultos no intestino e são proeminentes durante a infecção. A hipoalbuminemia estaria associada à diminuição da capacidade de síntese da albumina no fígado, à perda de plasma durante a hematofagia e à desnutrição do hospedeiro Infecções moderadas e altas resultam em dores epigástricas recorrentes, náusea, dispneia, palpitações, dores no esterno e juntas, dor de cabeça, fadiga e impotência. É comum a alotriofagia (compulsão por substâncias não nutritivas – tijolo, terra, solo. Pode ocorrer a anemia e a subnutrição com perdas consideráveis de produtividade. Strongyloides stercoralis A estrongloidose é uma importante parasitose emergente, que possui a particularidade de desenvolver a autoinfecção, o que a torna mais severa. ➔ Apenas duas espécies da família Strongyloides são infectantes, a S. stercoralis e a S. fuelleborni. MORFOLOGIA FÊMEA PARASITO - Possui corpo cilíndrico com aspecto filiforme longo, extremidade anterior arredondada e posterior afilada. Mede 1,7 a 2,5 mm. Pode viver até cinco anos, produz 30 a 40 ovos por dia, via partenogênese, ou seja, não há machos, durante a vida parasitária. Também é ovovivípara, pois elimina na mucosa intestinal o ovo já larvado; a larva rabditoide, frequentemente libertada ainda no interior do hospedeiro, toma-se a forma evolutiva de fundamental importância no diagnóstico. MACHO DE VIDA L IVRE - aspecto fusiforme, mede cerca de 0,7 mm. Extremidade anterior arredondada e posterior recurvada ventralmente. OVOS - São elípticos, de parede fina e transparente, praticamente idênticos aos dos ancilostomídeos. LARVAS RABDITOIDES - O esôfago, do tipo rabditoide, dá origem ao nome das larvas. Visualizada a fresco, as larvas se mostram muito ágeis, com movimentos ondulatórios. As larvas LI ou L2 originadas da fêmea parasito atingem o meio externo, sendo encontradas de uma a 25 larvas por grama de fezes. Nas formas disseminadas são encontradas na bile, no escarro, na urina ou nos líquidos duodenal e pleural e liquor. LARVAS F ILARIOIDES - O esôfago, do tipo filarioide, dá origem ao nome das larvas. Este é longo correspondendo à metade do comprimento da larva. Há dois tipos de larvas L3: a larva infectante derivada dos ciclos direto ou indireto, vistas no meio ambiente e capa, de penetrar a pele ou mucosas; e a L3 autoinfectante (L3a) que evolui no interior do hospedeiro, ocasionando os casos de autoinfecçâo interna. TRANSMISSÃO Através da pele e ocasionalmente pelas mucosas, boca e esôfago. Nas pessoas que não usam calçados, a penetraçãoocorre pela pele dos pés, particularmente nos espaços interdigitais, e lateralmente, uma vez que a superfície plantar muito espessa pode constituir uma barreira Autoinfecção externa- larvas rabiditoides da região perianal se transformam em filarioides e penetram ali mesmo, comum em crianças, idosos ou pessoas que permanecem com fralda por muito tempo. Autoinfecção interna- Larvas rabditoides, ainda na luz intestinal de indivíduos infectados, transformam-se em larvas filarioides, que penetram a mucosa intestinal (íleo ou cólon). Esse mecanismo pode cronificar a doença por vários meses ou anos. Em casos raros, nesse tipo de autoinfecção, podem ser encontradas fêmeas partenogenéticas nos pulmões A hiperinfecção é a elevação do número de parasitas no intestino e pulmões, e pode se disseminar para vários órgãos. Ambas são consideradas formas graves, potencialmente fatais, em indivíduos imunodeprimidos. As associações mais comuns da hiperinfecção são aquelas induzidas farmacologicamente (corticosteroides) sobretudo por tratamento de doença autoimune, alergia ou doenças inflamatórias e no tratamento para prevenir rejeição de órgãos transplantados CICLO BIOLÓGICO Hábitat - As fêmeas partenogenéticas em seu hábitat normal localizam-se na parede do intestino, mergulhadas nas criptas da mucosa duodenal, principalmente nas glândulas de L:eberkühn e na porção superior do jejuno, onde fazem as posturas. Nas formas graves, são encontradas da porção pilórica do estômago até o intestino grosso. Apresenta ciclos de vida distintos: o ciclo direto, ou partenogenético, e o indireto, sexuado ou de vida livre, ambos monoxênicos. As fêmeas parasitos podem produzir 3 tipos diferentes de larvas • Rabditoides – viram filaróides infectantes, no ciclo direto. • Larvas rabiditoides – viram fêmeas de vida livre. • Larvas rabditoides – macho de vida livre. A fase que necessita do solo exige solo arenoso, umidade alta, temperatura entre 25 e 30 °C e ausência de luz direta No ciclo direto, as larvas rabiditoides no solo ou na região perianal, se tornam infectantes em 24 a 72 horas. No ciclo indireto a fêmea possui fêmeas e machos de vida livre. As larvas filarioides são menos resistentes e permanecem no solo até 4 semanas. Os ciclos direto e indireto se completam pela PENETRAÇÃO ATIVA DAS LARVAS L3 NA PELE OU EM MUCOSAS ORAL, ESOFÁGICA OU GÁSTRICA do hospedeiro. Essas larvas secretam metaloproteases, que as auxiliam , tanto na penetração quanto na migração através dos tecidos. Algumas morrem no local, mas o ciclo continua pelas larvas que alcançam as circulações venosa e linfática e através desses vasos seguem para o CORAÇÃO E OS PULMÕES. Chegam aos CAPILARES PULMONARES , onde se transformam em L4, atravessam a membrana alveolar e, por meio de M IGRAÇÃO PELA ÁRVORE BRÔNQUICA, CHEGAM À FAR INGE . Podem ser expelidas pela expectoração ou DEGLUTIDAS , chegando ao INTESTINO DELGADO , onde se transformam em fêmeas partenogenéticas que depositam poucos ovos por dia na mucosa intestinal. Nesse local, as larvas rabditoides maturam, alcançam a luz intestinal e são eliminadas com as fezes do paciente, constituindo a forma diagnostica visualizada em microscopia óptica. O período pré-patente, isto é, o tempo decorrido desde a penetração da larva filarioide na pele até que ela se tome adulta e comece a eliminar ovos larvados e eclosão das larvas no intestino, é de aproximadamente 15 a 25 dias. IMUNIDADE A interação entre S. stercoralis e o hospedeiro humano é complexa graças à sua capacidade intrínseca de reprodução, existindo em indivíduos infectados três possibilidades de evolução: a erradicação da infecção, a cronicidade decorrente da autoinfecção e a possibilidade de hiperinfecção ou disseminação. Esses fatores dependem do sistema imune do hospedeiro e da capacidade de evasão do parasito. A defesa local mediada por mastócitos pode atuar no controle da intensidade da infecção, tanto pelas lesões ao parasito, quanto pela ativação dos eosinófilos. A maioria dos indivíduos desenvolve anticorpos das classes IgG, IgA, IgM e IgE específico. Os IgGs são os mais comuns, positivando-se após a 2 semana de infecção e permanecendo por longo tempo, após a cura terapêutica. Em casos de proteção, há aumento dos níveis de IgE e nos casos graves e disseminados há aumento do IgG. O ciclo do parasito sugere também que ele pode estimular as respostas local e sistêmica mediadas por anticorpos IgA. O mecanismo efetor da IgA está relacionado com a modulação da eliminação das larvas pelo decréscimo da fecundidade da fêmea e da viabilidade dos ovos. Crianças de áreas endêmicas podem adquirir IgG e IgA pelo leite materno. Em camundongos foi demonstrado que a imunidade à larva L3 é dependente de complemento, eosinófilos e IgM; se um desses componentes estiver ausente, a imunidade protetora ficará comprometida. Observa-se que a eosinofilia está presente na maioria dos pacientes imunocompetentes e a eosinopenia tem sido relatada como mau prognóstico. A resposta Th2 está associada com a imunidade protetora para prevenir formas de hiperinfecção ou disseminação. Tais células secretam citocinas, como as interleucinas (IL-3, IL-4, IL-5, IL-6, IL-10 e IL-13). PATOGENIA , PATOLOGIA E SINTOMATOLOGIA Indivíduos com pequena quantidade de parasitos no intestino geralmente são assintomáticos ou oligossintomáticos. Deve-se levar em conta fatores intrínsecos (subalimentação, diarreia, vômito - facilitam a autoinfecção- comprometimento imune) e extrínsecos – carga parasitária. As principais alterações na estrongiloidose são devidas a ações mecânica, traumática, irritativa, tóxica e antigênica decorrente não apenas das fêmeas partenogenéticas, mas também das larvas e dos ovos. CUTÂNEA discreta, nos pontos de penetração tanto na pele quanto nas mucosas, com reação celular apenas em tomo das larvas mortas que não conseguiram alcançar o sistema circulatório.. Nos casos de reinfecção, há reação de hipersensibilidade com formação de edema, eritema, prurido, pápulas hemorrágicas e urticárias. Como consequência da disseminação das larvas, observa-se migração única ou múltipla das larvas filarioides no tecido subcutâneo determinando um aspecto linear ou serpiginoso urticariforme com prurido, lesão caracterizada como larva currens, que ocorre mais frequentemente no tronco, nádegas, perineo, virilha e coxas, avançando de 5 a 15 cm/h. PULMONAR presente em todos os indivíduos infectados, caracterizada por tosse, com ou sem expectoração, febre, dispneia e crises asmatiformes decorrentes das larvas filarioides e, ocasionalmente, de fêmeas, que aí podem alcançar a maturidade, produzindo ovos e larvas rabditoides. A perfuração dos alvéolos promove hemorragias, infiltrado inflamatório e até broncopneumonia e insuficiência respiratória. INTEST INAL - Enterite catarral - os parasitos são visualizados nas criptas glandulares e ocorre uma reação inflamatória leve, caracterizada pelo acúmulo de células que secretam mucina e, portanto, acompanhada por aumento de secreção mucoide, com caráter reversível. - Enterite edematosa- os parasitos são visualizados em todas as túnicas da parede intestinal e ocorre reação inflamatória com edema de submucosa e desapareci mento do relevo mucoso, caracterizado por síndrome de má absorção intestinal; considerado de certa gravidade, porém de caráter reversível. - Enterite ulcerosa - os parasitos em grande quantidade provocam inflamação com eosinofilia intensa; ulcerações, com invasão bacteriana, que durante a evolução serão substituídas por tecido fibrótico determinando rigidez da mucosa intestinal. Essa lesão é irreversível e considerada grave uma vez que a fibrose pode provocar alterações no peristaltismo, ocasionando íleo paralítico. Os sintomas mais comuns vão desde dor epigástrica antes das refeições, que melhora com a alimentação e piora com o excesso; diarreia em surtos;náusea e vômito, até síndrome disentérica com esteatorreia, seguida de desidratação, que pode levar a choque hipovolêmico, se associada a vômito, emagrecimento e acentuado comprometimento do estado geral do doente, muitas vezes fatal. DISSEMINADA Observada em pacientes infectados e imunocomprometidos pelas situações citadas ou por megacólon, diverticulite, íleo paralítico, uso de antidiarreicos e constipação que favorecem a autoinfecção com grande produção de larvas rabditoides e filarioides no intestino, que alcançam a circulação e se disseminam para múltiplos órgãos. São encontrados nos rins, fígado, vesícula biliar, coração, cérebro, pâncreas, ovários, tireoide, adrenais, próstata, glândulas mamárias e linfonodos. Esse quadro pode complicar-se com infecções bacterianas secundárias, uma vez que bactérias intestinais poderiam ser transportadas pelas larvas para a circulação ou por ulcerações da mucosa intestinal que permitiriam que as enterobactérias penetrassem a circulação. Ocorrem dor abdominal, vômito, diarreia intensa, pneumonia hemorrágica, broncopneumonia bacteriana, insuficiência respiratória. culminando em óbito. Pode ainda apresentar anemia, sudorese, incontinência urinária, palpitações, tontura, alterações no eletrocardiograma, astenia. irritabilidade, depressão, insônia e emagrecimento ou manifestações incomuns, como ascite, perfuração intestinal e artrite. Enterobius vermicularis Também conhecido como áscaris vermivulares, oxyurus vermiculares. Pertence à família Oxyuridae e ao gênero Enterobius, sendo que a espécies vermicularis é a única de importância ao ser humano. MORFOLOGIA Embora o E. vermicularis apresente nítido dimorfismo sexual, há caracteres comuns aos dois sexos: cor branca, corpo filiforme e cutícula finamente estriada em sentido transversal. Na extremidade anterior, lateralmente à boca, notam-se expansões vesiculares da cutícula muito típicas, chamadas “asas cefálicas”. A boca é pequena, com três pequenos lábios retráteis. Segue um esôfago também característico, claviforme e relativamente musculoso, o qual termina em um bulbo cardíaco. FÊMEA – até 1,2 cm. À medida que o número de ovos intrauterinos nas fêmeas grávidas de E. vermicularis aumenta, seu corpo gradualmente se distende e é tomado quase em sua totalidade pelos ovos do parasito, cujo total pode ser de até 16 mil em uma única fêmea (saco de ovos) MACHO – mede até 0,5 cm, OVO – de 50 a 60um. Apresenta formato de ´´D´´ e quando os ovos de E. vermicularis deixam o corpo da fêmea, já apresentam no seu interior uma larva formada. Ainda em desenvolvimento. Na superfície tem uma substância viscosa de albumina que favorece a aderência. TRANSMISSÃO - Heteroinfecção – ingestão de ovos de outro hospedeiro. - Indireta – ingestão de ovos expelidos pelo mesmo hospedeiro - Autoinfecção externa – ingestão de ovos após coçadura do anus. - Autoinfecção interna – ovos eclodem no reto e migram ao ceco. - Retro infecção – as larvas eclodidas no anus readentram e ascendem pelo intestino grosso. CICLO BIOLÓGICO Tanto o macho quanto a fêmea têm o ceco como habitat natural, estando livres ou aderidos à mucosa, exemplares adultos, em especial jovens, podem também ser observados no íleo, enquanto as formas imaturas ocorrem ao longo de todo intestino delgado. Fêmeas grávidas, abarrotadas de ovos, são frequentemente encontradas no ânus e na região perianal do hospedeiro. Em mulheres, o parasito é mais comumente encontrado em localizações ectópicas, sobretudo na uretra e na vagina. Depois da cópula, os machos são eliminados com as fezes do hospedeiro e morrem. As fêmeas grávidas de E. vermicularis, em vez de liberar os ovos diretamente no lúmen do tubo digestivo, o que possibilitaria que eles alcançassem o meio exterior junto ao material fecal, desprendem-se do ceco, passam por todo o intestino grosso, pelo esfíncter anal e alcançam o ambiente externo. Essas fêmeas são então expulsas junto com as fezes do hospedeiro como um '‘saco de ovos”, ou fixam-se no ânus e em áreas adjacentes. Embora se tenha já relatado a postura de ovos pela fêmea de E. vermicularis na região perianal dos indivíduos infectados, a ideia que mais tem sido aceita é a de que a oviposiçâo não é de fato de grande importância nessa espécie, sendo a maior parte dos ovos liberados no momento da ruptura mecânica do corpo do verme. Considerando-se que a fêmea grávida, já extremamente distendida, tende a diminuir a sua motilidade, estando sujeita ao dessecamento no meio externo, é provável o seu rompimento em algum momento por traumatismos, incluindo o ato de coçar do hospedeiro. Cada fêmea tem em média 11 mil ovos. Os aglomerados de ovos são vistos aderidos não apenas à região perianal, mas muitas vezes também no períneo, podendo ser encontrados a mais de 5 cm do ânus do hospedeiro. A estreita proximidade desses ovos, já embrionados, com a superfície de mucosas e/ou pele do sujeito parasitado faz tornarem-se infectantes em até 6 horas, quando, presume-se, duas mudas larvais já ocorreram. Esse tempo tende a ser maior no solo, onde a temperatura é mais variável e com médias usualmente menores. Os ovos podem resistir até três semanas no ambiente. Após a ingestão dos ovos do parasito pelo hospedeiro, larvas do tipo rabditoide eclodem no duodeno, passam pelo jejuno e pelo íleo, alcançando então o ceco. Nesse trajeto, realizam duas novas mudas e transformam-se em vermes adultos. As fêmeas são encontradas no ânus entre 45 e 60 dias pós infecção. Não havendo reinfecção, o parasitismo extingue-se aí. PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA O E. vermicularis possui baixa patogenicidade, o que pode ser visto pelos poucos sintomas associados, e quando presentes se relacionam com as alterações intestinais (quando há invasão de mucosa, as alterações são mínimas), lesões anais e perianais, lesões do parasitismo ectópico. Os principais sintomas são irritação anal, lesões intestinais pequenas com alguns sinais de inflamação, quando surge uma ulceração, normalmente é em decorrência da invasão oportunista bacteriana. Em casos de alta carga parasitária, pode ocorrer uma inflamação catarral, comum de outras infecções por helmintos, como dores gastrointestinais, náusea, vômito, alteração na frequência evacuatória e na característica das fezes. O deslocamento das fêmeas grávidas do parasito pela mucosa anal e pela pele da região perianal do hospedeiro é frequentemente relacionado com a gênese do prurido local, a manifestação clínica mais prevalente na enterobiose, cuja exacerbação é no período noturno devido ao calor do leito. O prurido também pode ser relacionado com o contato de antígenos dos ovos e das larvas com a mucosa, desenvolvendo hipersensibilidade local. A mucosa pode revelar-se edemaciada. congesta, com pontos hemorrágicos e recoberta de muco, às vezes sanguinolento, sendo ovos, fêmeas grávidas inteiras e fragmentos de parasitos observados localmente. A intensidade do prurido é de tal modo intensa que leva o indivíduo infectado a coçar, persistentemente, o próprio ânus e a região perianal. Esse comportamento, além de agravar a irritação anal, pode resultar em ferimentos, inclusive escoriações e sangramento. Pode ocorrer alterações neurocomportamentais, devido ao comprometimento do sono, insônia, sono superficial, agitação, bruxismo, sonambulismo e pesadelos. Apatia durante o dia, inquietação, e redução do rendimento escolar. Pode haver anorexia, irritabilidade, convulsão, vertigem. Vermes em locais ectópicos podem acarretar sérias complicações, causando abrasão tecidual, inflamação, rompimento intestinal e do apêndice além da circulação hematogênica.. pode haver a formação de abcessos decorrentes do carreamento de bactérias enterais pelos vermes. Pode migrar em mulheres para o canal vaginal provocando prurido vulvar, corrimento, abcessos, e inflamações pélvicas. DIAGNÓSTICO DAS INFECÇÕES POR HELMINTOSCLÍNICO Para ascaridíase é complicado devido a poca sintomatologia, e como o parasita não se prolifera no indivíduo, depende da carga parasitária que foi ingerida. Para a ancilostomose é baseado na anamnese associada aos sintomas cutâneos, pulmonares e intestinais, acompanhados ou não de anemia e eosinofilia. O diagnóstico laboratorial é realizado pelo exame coproparasitológico, utilizando métodos qualitativos ou quantitativos (para avaliação de carga parasitária do hospedeiro). • Diagnóstico diferencial ente as espécies – coprocultura e morfologia. Na estrongiloidiase é dificultado pois 50 % dos casos são assintomáticos e quando presentes são comuns em outras helmintoses. A tríade clássica de diarreia, dor abdominal e urticária é sugestiva. Na oxiurose o prurido anal noturno, irritação e mudança de comportamentos, como insônia são bem sugestivos. LABORATORIAL • Exame parasitológico de fezes É padrão ouro para ascaridíase visto que a fêmea libera milhares de ovos por dia Na estrongiloidiase pode ser dificultada pelo pequeno número de parasitos, além de a liberação de larvas nas fezes ser mínima e irregular na infecção moderada, necessitando de três a cinco amostras de fezes, coletadas em dias alternados, para confirmação da presença de larvas rabditoides. Demonstrou-se que uma única amostra de fezes falha em detectar larvas em até 70% dos casos. Repetidos exames de fezes aumentam a chance de encontrar os parasitos, elevando a sensibilidade para 50% com três amostras e aproximadamente para 100% com sete amostras fecais seriada. Para identificação de oxiúros não deve ser feito o exame de fezes, visto que a fêmea não faz ovoposição na luz intestinal. Deve-se fazer O TESTE DA F ITA adesiva (coloca fita ao redor do tubo de ensaio, insere na região perianal e depois analisa ao microscópio). • Métodos imunológicos Na ancilostomose (ELISA, hemaglutinação, reação de fixação de complemento etc.) apresentam eficácia diagnostica limitada uma vez que não diferenciam infecção presente de passada. Métodos moleculares (PCR em fezes) têm sido aplicados em inquéritos epidemiológicos e desenvolvidos para futura aplicação em rotina. Uma vantagem do método é a possibilidade de diagnóstico de múltiplas infecções (incluindo todas as helmintoses e protozooses intestinais) de forma específica. Na estrongiloidiase serve como screening. Para a estrongiloidíase pode ser realizado também: • Coprocultura é um método limitado pela demora na obtenção dos resultados (cinco a sete dias) e risco de infecção durante a manipulação de larvas infectantes. • Pesquisa em secreções - A pesquisa das formas evolutivas por exame direto ou após centrifugação, em bronco pulmonar - exame de escarro e lavado broncopulmonar; duodenal - coletado por tubagem; urina; líquido pleural; vômito; líquido ascítico e liquor. • Endoscopia digestiva - Visualização da mucosa gastrointestinal, recomendada em pacientes com infecção maciça e alterações duodenojejunais. Propicia a ampla visualização do aspecto da mucosa intestinal, que se apresenta principalmente edemaciada, com vilosidades esbranquiçadas e eritema, e possibilita a realização de biópsia em várias localizações. • Biópsia + histopatológico - A biópsia ou o tecido removido durante cirurgia podem ser realizados em todo trato gastrointestinal. A visualização das diferentes formas evolutivas de Strongyloides ou é confirmada diretamente ou realizada após coloração pela hematoxilina-eosina. -Hemograma- eosinofilia, associado ao mau prognóstico. -Imagem – determinar alterações intestinais. -Métodos imunológicos – pesquisa de anticorpos, antígenos e imunocomplexos. -PCR – alta sensibilidade e especificidade. TRATAMENTO Para ascaridíase – albendazol, (o pode atuar de duas maneiras: pela ligação seletiva nas tubulinas inibindo a tubulina-polimerase, prevenindo a formação de microtúbulos e impedindo a divisão celular; e, ainda, impedindo a captação de glicose inibindo a formação de ATP, que é usado como fonte de energia pelo verme.) Mebenzadol e ivermectina (Sua atuação está baseada na indução do fluxo de íons-cloro que atravessam a membrana, fazendo uma disruptura nervosa na trans missão de sinais, resultando na paralisia do parasito e sua posterior eliminação) Para ancilostomose – tratamento com anti-helminticos é simples, pode ser feito em dose única- foi realizado o tratamento em massa em virtude da facilidade do tratamento, porem no brasil não funcionou devido à constante reinfecção. A strongiloidiase é a mais difícil de ser tratada das nematoses. • Timidazol – fêmeas partenogenéticas, Os efeitos colaterais observados são: náusea, vômito, diarreia, tontura, cefaleia, sonolência e erupções cutâneas, que regridem com a suspensão do tratamento. Nos casos de hiperinfecção e na doença disseminada, o tratamento deve ser mantido por 10 ou mais dias. Em pacientes com AIDS preconiza-se a repetição da terapêutica por dois ou três dias, mensalmente • Cambendazol – fêmeas partenogenéticas e larvas. A eficácia também é superior a 90%. São raros os efeitos colaterais, mas, quando presentes, observam-se cólicas, náusea, vômito, diarreia e sonolência. • Albendazol - Atua sobre as fêmeas partenogenéticas e larvas. Não deve ser administrado nas formas disseminadas. Os efeitos colaterais observados são: cefaleia, tontura e desconforto gastrointestinal. . • Ivermectina - Atualmente a ivermectina pode ser considerada a substância de escolha no tratamento da estrongiloidose em indivíduos imunocompetentes, imunossuprimidos e pacientes coinfectados com HIV, uma vez que é mais bem tolerada. Nos casos de autoinfecção interna, em que há constipação intestinal, é importante que o paciente receba, além da terapêutica específica, um laxativo para restabelecimento do funcionamento intestinal, com a finalidade de impedir a evolução das larvas rabditoides para filarioides pelo retardamento da eliminação do material fecal. Apesar de o diagnóstico ser facilitado pela grande carga parasitária, a síndrome de hiperinfecção pode ser difícil de tratar, com taxa de mortalidade variando de 70 a 85%. Nos indivíduos com a forma grave e principalmente naqueles com a forma disseminada da doença, recomenda-se, além do balanço hidreletrolítico, o tratamento concomitante com antibióticos que atuem para bactérias gram- negativas, uma vez que a bacteremia está geralmente presente graças ao acompanhamento das enterobactérias na migração das larvas pelo organismo. Para oxiíurus – pamoato de pirantel (80 a 100% de eficácia), albendazol, e ivermectina. PROFILAXIA E CONTROLE Para as demais helmintoses, o uso de medidas preventivas para controle deve ser baseado na implementação e na melhora das condições socioeconômicas da população afetada. Acesso à infraestrutura sanitária e ao atendimento básico em saúde, além de condições mínimas de alimentação, educação e habitação seriam pré-requisitos para estabelecer o controle da doença Educação em saúde para hábitos de higiene, defecar em locais apropriados, manuseio dos alimentos e proteção individual, lavagem das mãos, diferença entre as parasitoses, e conscientização para o diagnóstico. Para a oxiurus, deve-se orientar o manejo correto com as roupas de cama e roupas íntimas (não ´´sacudir´´ de manha e sim enrolar e lavar em água fervente, todos os dias), desincentivar a onicofagia, a coçadura da região perianal, cortar as unhas e orientar a lavagem de mãos constantemente. O tratamento dos familiares e da comunidade também é uma estratégia de controle eficaz para reduzir a cadeia de transmissão.
Compartilhar