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10 - Cryptococcus sp. e Histoplasma sp. ● Introdução: A criptococose e a histoplasmose, representam uma das principais zoonoses causadas por fungos dentro da saúde coletiva. A criptococose é transmitida principalmente por pombos e provoca um quadro neurológico em humanos. Atualmente, a doença ocorre no mundo todo, estando associada aos casos de AIDS. Nos EUA ocorre em 85% dos pacientes com AIDS. Normalmente, a criptococose é adquirida pela inalação de propágulos fúngicos desidratados e/ou basidiósporos (esporos produzidos sexuadamente por fungos do filo Basidiomycota), encontrados em restos fecais de aves, vegetais e no solo. O vírus do HIV faz com que a imunidade caia e leva a diminuição de células T. As formas clínicas da criptococose e da histoplasmose mais descritas são: - pulmonar: Nessa forma, não há como fazer diferenciação das doenças. O foco primário ocorre no pulmão. - cutânea: é difícil se fazer o diagnóstico, porém é mais comum de ser encontrado. - mucocutânea; - encefálica; - visceral; - óssea; As meninges são as últimas barreiras a serem afetadas, ocorrendo quando a imunidade está muito baixa. A histoplasmose é uma zoonose causada por um fungo, transmitida por morcegos e aves e tem alta taxa de infecção em áreas endêmicas, onde a forma assintomática predomina(90%). São fungos dimórficos, e podem ser encontrada nas formas micelial( temperatura do ambiente - 25°C) ou leveduriforme (temperatura do corpo - 37°C) Sua ocorrência está associada a locais com alta concentração de fezes de morcegos, como: cavernas, minas abandonadas, túneis e sua distribuição é mundial. DICA! ➔ CRIPTOPOMBO - criptococose é transmitida por pombo. ➔ HISTOPLASMORCEGO - histoplasmose é transmitida pelo morcego. ● Cryptococcus sp: O gênero Cryptococcus contém cerca de 37 espécies, somente C. neoformans produz infecções oportunistas. As células das leveduras são redondas a ovais e com 3,5 a 8 μm de diâmetro. Uma célula-filha é formada como um brotamento, sobre um pescoço estreito, a partir da célula-mãe. Com a característica de brotamento, esse fungo pode ser confundido com malassezia. Porém a diferença da Malassezia com o Cryptococcus é que o Cryptococcus tem brotamento em forma larga. Quando recuperadas diretamente de animais afetados, as leveduras apresentam cápsula mucopolissacarídica espessa, que pode ser demonstrada em preparações com nanquim, que é um tipo de coloração que deixa o fundo preto e ajuda a ver as cápsulas. Habitat: O Cryptococcus neoformans var. neoformans pode ser isolado em fezes de pombos e de outras aves e a pelo solo enriquecido por essas fezes contaminadas. Dessa forma, o mecanismo de infeção desse microrganismo é por via inalatória. A creatinina, presente nas fezes, é utilizada por essas leveduras. Os pombos com C. neoformans no seu trato intestinal podem excretar o microrganismo por vários meses sem desenvolver doença. O Cryptococcus neoformans var. gattii é isolado em árvores de florestas, como espécies de Eucalyptus na Austrália, onde tem sido disseminado em produtos de madeira. As espécies de Cryptococcus são microrganismos aerobios(dependem de O2), não-fermentadores e que formam colônias mucóides em vários meios, incluindo ágar dextrose Sabouraud. A habilidade de crescer a 37°C diferencia C. neoformans de outras espécies de Cryptococcus. 1. Cryptococcus sp. - Colônia leveduriforme; 2. Tem aspecto mucoso (cor de leite condensado) : bege e reverso incolor. Atualmente, para o diagnóstico da espécie, é utilizado o ágar CGB. Na imagem abaixo, no primeiro tubo observa-se a mudança da cor do meio para azul, que é uma característica do C. gattii. No segundo tubo não houve alteração da cor do meio,o que caracteriza o Cryptococcus neoformans. 3. Cryptococcus gattii.- No ágar Sabouraud; Às colônia são leveduriformes mucóide, com cor branca a bege e reverso incolor. O diagnóstico da espécie: na identificação da espécie se utiliza o meio de CGB. Neste meio, como observado na imagem abaixo, é possível confirmar a espécie C. gattii que muda o pH do meio e produz cor azulada no meio, já o C. neoformans não altera a cor do meio. . Na próxima imagem, é o Espaço subaracnoide com numerosas leveduras de Cryptococcus spp. As leveduras mostradas com as setas, possuem um halo não corado (cápsula) e célula arredondada e basofílica. Entre as leveduras há vários macrófagos. H.E. Obj. 20. ● Patogênese: Acomete a cavidade nasal, os tecidos paranasais e pulmões, podendo se espalhar pelo sistema nervoso central (SNC), olhos, pele e outros órgãos. Além de também ocorrer em seres humanos, animais domésticos e silvestres. Em gatos, ficam com a característica de nariz de palhaço, formando inchaço e pode ser confundida com outros microorganismos pela aparência da lesão. As leveduras capsuladas são do complexo causadoras da criptococose fazem parte das espécies Cryptococcus gattii (sorotipos B e C) e C. neoformans (sorotipos A, D e AD) e ainda mais com duas variedades: C. neoformans variedade grubii e C. neoformans variedade neoformans. - Patogenia: Após a penetração do agente no organismo, ocorre um foco primário no pulmão. Em seguida, por disseminação via hematógena, e ocorrem focos nas meninges e no cérebro. Também podem ocorrer focos na pele, mucosas, ossos e outros órgãos. Nos casos de mortalidade em humanos, geralmente são pessoas com a doença da AIDS ativa, e o percentual da mortalidade de pessoas associadas a essa doença é de 12% - Patogênese em humando: Em humanos, a maioria dos casos é de: ➔ Meningite: é a inflamação das membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal; ➔ Meningoencefalite: processo inflamatório que envolve o cérebro e meninges; Estas formas ocorrem após a forma pulmonar que muitas vezes é assintomática. A infecção pulmonar pode levar à cura ou dar lugar a grandes massas granulomatosas – criptococose, ou disseminar-se via hematógena. A Sintomatologia contém: ➔ Febre; ➔ dor torácica; ➔ hemoptise: escarro de sangue vindos dos pulmões ou da árvore traqueobrônquica; ➔ massa granulomatosa: nódulos únicos ou múltiplos no Rx; ➔ pápulas e abcessos na pele, com posterior ulceração ➔ dor de cabeça e rigidez na nuca; ➔ distúrbios visuais, confusão mental, alterações de personalidade; ➔ meningite criptocócica: ocorre em pacientes com deficiência da imunidade e que quase sempre é fatal se não tratada adequadamente. Em gato, a lesão se caracteriza por deformação do plano nasal com inchaço subcutâneo na ponta do nariz, conhecida como nariz de palhaço. No Cão da imagem abaixo da raça Lhasa Apso, a lesão na região de focinho causada pelo Cryptococcus spp o plano nasal e o arredor tem característica de dermatite micótica com exsudação e tumefação de narina. A síndrome neurológica é mais comum em cães e pode apresentar na forma de uma meningoencefalomielite, estando os locais neurológicos relacionados com o local da lesão. O envolvimento do sistema nervoso central é descrito em mais ou menos 25% dos gatos afetados e resultam de expansão hematógena. Em casos desse tipo, foram descritas lesões no cérebro e medula espinhal causando meningoencefalite granulomatosa. Quando o sistema nervoso central é afetado, os sinais são crônicos e podem incluir: convulsões, cegueira e alterações comportamentais. ● Diagnóstico: O Cryptococcus spp. pode ser analisado por microscopia direta, através de isolamento e exame histopatológico. O padrão ouro para um bom diagnóstico é fazer o isolamento e cultivo correto das amostras desses microorganismos. O exame direto é realizado com a utilização de Tinta da China (tinta nanquim) ajuda na visualização da levedura que é envolta por uma cápsula. Quando é isolado em Ágar Sabouraud Dextrose (SDA), após 5 dias de incubação a 37°C, há o crescimento mucóide e brilhante de coloração creme. Observação microscópica para confirmação de C neoformans, será feita pelo isolamento em cultura, além da Imunofluorescência direta. No líquor e no soro vai ser usado aglutinação do látex e ELISA. ● Tratamento: O itraconazol é o medicamentoutilizado normalmente para o tratamento da criptococose em cães e gatos, porém, somente quando não há risco de morte e sinais neurológicos. O fluconazol é a droga escolhida para pacientes que têm alterações no sistema nervoso central, porque atravessa a barreira hematoencefálica. O cetoconazol é um medicamento eficiente em alguns felinos, mas leva à inapetência, vômito, diarreia, perda de peso e aumento nas atividades das enzimas hepáticas em alguns felinos e cães. A anfotericina B é um potente medicamento antifúngico de amplo espectro e início de ação rápida. Como medicação única nesse caso, ele não é tão eficiente contra criptococose. Por isso, geralmente não é indicado, exceto nos casos de doença disseminada com risco à vida. ● Controle: A principal estratégia para o minimizar a criptococose é controlar a população de pombos, porém essa é uma estratégia praticamente impossível, vendo que a população de pombos é muito alta. ● Histoplasma sp: A histoplasmose é uma zoonose causada por um fungo, transmitida por morcegos e aves e tem alta taxa de infecção em áreas endêmicas, de forma assintomática predomina (90%). Sua ocorrência está associada a locais com alta concentração de fezes de morcegos, que quando ressecadas ficam suspensas ao ar em forma de aerossóis. O local onde podem ser encontradas essas fezes de morcegos contaminados são em: cavernas, minas abandonadas e túneis. A histoplasmose é uma micose sistêmica causada pelo fungo dimórfico(Histoplasma capsulatum), ou seja, tem duas formas: ➔ micelial: encontradas no ambiente (25°C); Em temperatura ambiente, na forma filamentosa, o micélio cresce no formato de uma colônia branca aérea, que têm microconídios e macroconídios tuberculados e que com o envelhecimento da colônia formam projeções espiculadas em sua superfície. ➔ leveduriforme: encontradas no interior do corpo (37°C); ● Habitat: Estes patógenos estão no solo contendo fezes de aves ou morcegos, que servem como um meio de crescimento para que o fungo permaneça no ambiente por longos períodos de tempo. A contaminação se dá por via inalatória de conídios que vão para os pulmões onde são fagocitados. No interior dos macrófagos os fungos se multiplicam e provocam o rompimento da célula, liberando numerosas leveduras que atingem a corrente sanguínea. Em animais imunocompetentes a infecção pode ocorrer de forma mais simples e branda,mas se o sistema imune estiver comprometido a infecção pode se tornar grave. - Outras caracteristicas: ➔ Essa doença é de distribuição mundial. ➔ Fase parasitária é semelhante à forma de levedura (37ºC) ➔ Fase saprofítica ou micelial (solo)é característico de micélio filamentoso com macro e microconídios. ➔ Tem duas variedades: - Histoplasma capsulatum var. capsulatum: (distribuição mundial) - Histoplasma capsulatum var. duboissi (África Central). ● Epidemiologia: A Fonte de infecção se dá pelos morcegos e as aves desempenham papel passivo, porque não eliminam o agente, mas suas fezes ajudam a proliferação da fase saprofítica. A Via de eliminação pelos morcegos é nas fezes e a Via de transmissão é o contágio com a inalação do pó dessa fezes ressecadas direto via aerógena. A Porta de entrada desses aerossóis contaminação ocorre pelo trato respiratório e as espécies que estão suscetível a esse fungo são: ➔ mamíferos; ➔ Homem: são hospedeiros acidentais, pois não participam da manutenção ou transmissão da doença. ● Patogênese: ➔ O período de incubação é de aproximadamente 5 a 18 dias; Após a inalação dos conídios, eles se alojam nos alvéolos e bronquíolos e depois de alguns dias, germinam e há fagocitose das leveduras que são fagocitadas pelos microorganismos, onde vão se proliferam e ocorre a forma pulmonar, que pode ser aguda ou crônica. Depois, por via hematógena, ocorre a forma disseminada que ataca: pele, mucosas e outros órgãos da tríade (baço, fígado, coração). Havendo um desenvolvimento da imunidade, os microrganismos adquirem a capacidade de destruir as leveduras fagocitadas e a infecção desaparece. A maioria das infecções nessas espécies é assintomática. Após inalação, microconídios são ingeridos pelos macrófagos alveolares dos pulmões, nos quais as formas de levedura se replicam. Lesões granulomatosas podem ser encontradas nos pulmões, tanto de cães como de gatos. A Doença disseminada tem sido relatada principlamente associada à imunidade celular prejudicada. Em cães, as lesões ulcerativas intestinais são normalmente encontradas, e em gatos o envolvimento intestinal relacionado a essas doenças é raro em gatos. Os sinais clínicos em cães afetados incluem: ➔ tosse crônica; ➔ diarréia persistente ➔ emagrecimento. Com menos frequência, casos de: ➔ linfadenite periférica: infecção dos gânglios linfáticos que pode ser causada por qualquer microorganismo; ➔ nódulos ulcerativos na pele ➔ lesões nos olhos ➔ claudicação ➔ disfunções neurológicas Os sinais clínicos em gatos estão relacionados com envolvimento pulmonar e incluem: dispnéia, depressão, febre e perda de peso. A histoplasmose disseminada de forma rotineira pode ser fatal. ● Patogênese em humanos: A patogênese em humanos se caracteriza pelo foco primário nos plasmoses na formas: ➔ Pulmonar aguda: Mais frequente, semelhante à gripe, durando de um dia a várias semanas. Com a presença de: Tosse, dor torácica e pode passar despercebida, por se assemelhar com uma gripe. ➔ Pulmonar cavitária crônica: acomete pessoas com mais de 40 anos, homens, com enfermidade pulmonar pré-existente. É semelhante à tuberculose pulmonar, com formação de cavidades, com duração de meses a anos. Pode haver dano pulmonar permanente ou cura espontânea. ➔ Pulmonar Disseminada: É a mais grave, acometendo pessoas muito jovens ou muito velhas. 10-25% de pessoas com AIDS em áreas endêmicas desenvolvem esta forma, além de apresentar 10% de mortalidade nesses casos. ● Diagnóstico: ➔ Exame direto corado pelo Giemsa(coloração prática e barata) ou Wright e histopatologia: observado no interior de macrófagos como células ovóides, unibrotantes, com um halo de material não corado ao redor dessas leveduras. ➔ Cultura: colônias filamentosas(aspecto algodonoso) brancas com centro rachado e reverso castanho. Microscopia: hifas septadas hialinas, microconídios e macroconídios mamilhonados. ➔ Esfregaços de exsudatos ou aspirados corados com Giemsa: demonstram as formas ovaladas dentro dos macrófagos. Pode ser usado o padrão ouro que é o isolamento em cultura.Também a inoculação em camundongos, porém não é tão usual. ➔ Exames histopatológicos dos tecidos afetados revelam focos piogranulomatosos contendo a forma leveduriforme. ➔ Teste cutâneo positivo: usando histoplasmina, mas apenas indica a exposição ao fungo. ➔ Material refrigerado em solução salina: utiliza as fezes de morcego, de pombos, material de biópsia, secreção pulmonar. ● Controle: A principal estratégia para minimizar a histoplasmose é com a aspersão de formol 3% sobre fezes de morcegos e aves, uso de máscaras em ambientes de minas e cavernas. Os poleiros das aves contém uma grande quantidade de propágulos infectivos. Evitar entrar em cavernas, túneis, minas abandonadas,é uma boa opção, porque nesses lugares há uma grande concentração de fezes de morcegos, e com isso há o maior risco de infecção de exploradores de cavernas e turistas.
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