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Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 CASO 4 - TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE Grupo A: Indivíduos parecem esquisitos ou excêntricos. - Paranoide: desconfiança e suspeita tamanhas que as motivações dos outros são interpretadas como malévolas. - Esquizoide: distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão emocional. - Esquizotípica: desconforto agudo nas relações íntimas, distorções cognitivas ou perceptivas e excentricidades do comportamento. Grupo B: Costumam parecer dramáticos, emotivos ou erráticos. - Antissocial: desrespeito/violação dos direitos dos outros. - Borderline: instabilidade nas relações interpessoais, na autoimagem e nos afetos, com impulsividade acentuada. - Histriônica: emocionalidade e busca de atenção em excesso. - Narcisista: grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. Grupo C: Com frequência parecem ansiosos ou medrosos. - Evitativa: inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliação negativa. - Dependente: comportamento submisso e apegado relacionado a uma necessidade excessiva de ser cuidado. - Obsessivo-compulsiva: preocupação com ordem, perfeccionismo e controle. Transtorno da Personalidade (Critérios DSM-5) A. Um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. Esse padrão manifesta-se em duas (ou mais) das seguintes áreas: 1. Cognição (formas de perceber e interpretar a si mesmo, outras pessoas e eventos). 2. Afetividade (variação, intensidade, labilidade e adequação da resposta emocional). 3. Funcionamento interpessoal. 4. Controle de impulsos. B. O padrão persistente é inflexível e abrange uma faixa ampla de situações pessoais e sociais. C. O padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo e prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. D. O padrão é estável e de longa duração, e seu surgimento ocorre pelo menos a partir da adolescência ou do início da fase adulta. E. O padrão persistente não é mais bem explicado como uma manifestação ou consequência de outro transtorno mental. F. O padrão persistente não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (ex: droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (ex: traumatismo cranioencefálico). Traços de personalidade são padrões persistentes de percepção, de relacionamento com e de pensamento sobre o ambiente e si mesmo que são exibidos em uma ampla gama de contextos sociais e pessoais. Os traços de personalidade constituem transtornos da personalidade somente quando são inflexíveis e mal-adaptativos e causam prejuízo funcional ou sofrimento subjetivo significativos. Desenvolvimento e Curso As características de um transtorno da personalidade costumam se tornar reconhecíveis durante a adolescência ou no começo da vida adulta. Alguns tipos de transtorno da personalidade (notadamente os transtornos da personalidade antissocial e borderline) tendem a ficar menos evidentes ou a desaparecer com o envelhecimento, o que parece não valer para alguns outros tipos (transtornos da personalidade obsessivo-compulsiva e esquizotípica). Alguns transtornos da personalidade (ex: antissocial) são diagnosticados com maior frequência em indivíduos do sexo masculino. Outros (ex: borderline, histriônica e dependente) são diagnosticados mais frequentemente no sexo feminino. É frequente que as pessoas tenham transtornos de personalidade de grupos diferentes, sendo, individualmente, os mais prevalentes: C (9,1%), B (6%) e A (1,5%). Mudança de personalidade devido a outra condição médica - Perturbação persistente da personalidade decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica (ex: lesão no lobo frontal). Outro transtorno da personalidade especificado e transtorno da personalidade não especificado; utilizadas para 2 situações: 1. o padrão da personalidade do indivíduo atende aos critérios gerais para um transtorno da personalidade, estando presentes traços de vários transtornos da personalidade distintos, mas os critérios para qualquer um desses transtornos específicos não são preenchidos; OU 2. o padrão da personalidade do indivíduo atende aos critérios gerais para um transtorno da personalidade, mas considera-se que ele tenha um transtorno da personalidade que não faz parte do DSM-5 (ex: transtorno da personalidade passivo-agressiva). TRANSTORNO DA PERSONALIDADE PARANOIDE (A) Critérios Diagnósticos DSM-5 301.0 (F60.0) A. Um padrão de desconfiança e suspeita difusa dos outros, de modo que suas motivações são interpretadas como malévolas, que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes: 1. Suspeita, sem embasamento suficiente, de estar sendo explorado, maltratado ou enganado por outros. 2. Preocupa-se com dúvidas injustificadas acerca da lealdade ou da confiabilidade de amigos e sócios. 3. Reluta em confiar nos outros devido a medo infundado de que as informações serão usadas maldosamente contra si. 4. Percebe significados ocultos humilhantes ou ameaçadores em comentários ou eventos benignos. 5. Guarda rancores de forma persistente (não perdoa insultos, injúrias ou desprezo). 6. Percebe ataques a seu caráter ou reputação que não são percebidos pelos outros e reage com raiva ou contra-ataca rapidamente. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 7. Tem suspeitas recorrentes e injustificadas acerca da fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual. B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo com sintomas psicóticos ou outro transtorno psicótico e não é atribuível aos efeitos fisiológicos de outra condição médica. Nota: Se os critérios são atendidos antes do surgimento de esquizofrenia, acrescentar “pré-mórbido”. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico Indivíduos com transtorno da personalidade paranoide são geralmente de difícil convivência e apresentam frequentes problemas nos relacionamentos íntimos. Sua desconfiança e hostilidade excessivas podem se expressar como argumentações ostensivas, queixas recorrentes ou, ainda, indiferença calma. Como são hipervigilantes em relação a ameaças potenciais, podem agir de maneira discreta, secreta ou indireta e parecer “frios” e sem sentimentos afetivos. Ainda que possam parecer objetivos, racionais e não emotivos, frequentemente demonstram labilidade afetiva, com predomínio de expressões hostis, inflexíveis e sarcásticas. Como carecem de confiança nos outros, apresentam necessidade excessiva de autossuficiência e forte senso de autonomia. Precisam de elevado grau de controle sobre as pessoas. Frequentemente são rígidos, críticos em relação aos outros e incapazes de trabalhar em conjunto, têm grande dificuldade de aceitar críticas e podem culpar os outros por suas próprias deficiências. Os indivíduos podem apresentar fantasias irreais e pouco disfarçadas de grandeza, estão frequentemente ligados a questões de poder e posição e tendem a desenvolver estereótipos negativos dos outros. Atraídos por formulaçõessimplistas do mundo, costumam se precaver de situações ambíguas. Podem ser vistos como “fanáticos” e formar “cultos” ou grupos muito unidos com outros indivíduos que compartilham seus sistemas paranoides de crença. Especialmente em resposta ao estresse, podem apresentar episódios psicóticos breves (de minutos a horas). Em certos casos, o transtorno da personalidade paranoide pode surgir como o antecedente pré-mórbido de transtorno delirante ou esquizofrenia. Os indivíduos podem desenvolver transtorno depressivo maior e estar sob risco aumentado de agorafobia e TOC. Transtornos por uso de álcool e outras substâncias ocorrem com frequência. Os transtornos da personalidade concomitantes mais comuns são esquizotípica, esquizóide, narcisista, evitativa e borderline. Desenvolvimento e Curso O transtorno da personalidade paranoide pode aparecer pela primeira vez na infância e adolescência por meio de solidão, relacionamento ruim com os colegas, ansiedade social, baixo rendimento escolar, hipersensibilidade, pensamentos e linguagem peculiares e fantasias idiossincrásicas. Fatores genéticos e fisiológicos Existem algumas evidências de prevalência aumentada de transtorno da personalidade paranoide em parentes de probandos com esquizofrenia, além de evidências de uma relação familiar mais específica com transtorno delirante do tipo persecutório. Diagnóstico diferencial O transtorno da personalidade paranoide normalmente pode ser diferenciado do transtorno delirante devido à ausência de delírios fixos. Diferentemente de indivíduos com esquizofrenia paranoide, pessoas com transtornos da personalidade não têm alucinações nem um transtorno manifesto do pensamento. Tratamento A psicoterapia é o tratamento recomendado para indivíduos com transtorno da personalidade paranoide. Terapeutas devem tratar esses pacientes sempre de forma direta e lembrar de que confiança e tolerância a intimidade são áreas problemáticas para pessoas com esse transtorno. Portanto, psicoterapia individual exige um estilo profissional e não muito afetuoso do terapeuta. Indivíduos paranoides não se saem bem em psicoterapia de grupo, embora ela possa ser útil para melhorar habilidades sociais e reduzir suspeitas por meio de psicodrama. Muitos não conseguem tolerar a intromissão da terapia comportamental, também usada para treinamento de habilidades sociais. A farmacoterapia é útil para lidar com agitação e ansiedade. Na maioria dos casos, um ansiolítico como diazepam é o suficiente. Pode ser necessário usar um antipsicótico como haloperidol em pequenas doses e por períodos curtos para o manejo de agitação grave ou pensamento quase delirante. O antipsicótico pimozida reduziu a ideação paranoide com sucesso em alguns pacientes. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIZOIDE (A) Critérios Diagnósticos DSM-5 301.20 (F60.1) A. Um padrão difuso de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão de emoções em contextos interpessoais que surgem no início da vida adulta e estão presentes em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes: 1. Não deseja nem desfruta de relações íntimas, inclusive ser parte de uma família. 2. Quase sempre opta por atividades solitárias. 3. Manifesta pouco ou nenhum interesse em ter experiências sexuais com outra pessoa. 4. Tem prazer em poucas atividades, por vezes em nenhuma. 5. Não tem amigos próximos ou confidentes que não sejam os familiares de primeiro grau. 6. Mostra-se indiferente ao elogio ou à crítica de outros. 7. Demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo. B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo com sintomas psicóticos, outro transtorno psicótico ou transtorno do espectro autista e não é atribuível aos efeitos psicológicos de outra condição médica. Nota: Se os critérios são atendidos antes do surgimento de esquizofrenia, acrescentar “pré-mórbido”. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico Indivíduos com transtorno da personalidade esquizoide podem ter uma dificuldade particular para expressar raiva, mesmo em resposta a provocação direta, o que contribui para a impressão de que Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 carecem de emoção. Tais indivíduos frequentemente reagem de forma passiva a circunstâncias adversas e apresentam dificuldade em reagir adequadamente a acontecimentos importantes da vida. Devido à falta de habilidades sociais e à ausência de desejo de experiências sexuais, têm poucos amigos, raramente namoram e costumam não casar. O funcionamento profissional pode estar prejudicado, em especial quando há necessidade de envolvimento interpessoal; entretanto, podem ser bem-sucedidos quando trabalham em condições de isolamento social. Particularmente em resposta a estresse, podem ter vários episódios psicóticos muito breves (de minutos a horas). Em alguns casos, o transtorno da personalidade esquizoide pode surgir como o antecedente pré-mórbido de transtorno delirante ou esquizofrenia. Também podem, às vezes, desenvolver transtorno depressivo maior. Com frequência é concomitante com os transtornos da personalidade esquizotípica, paranoide e evitativa. Fatores genéticos e fisiológicos O transtorno da personalidade esquizoide pode ter prevalência aumentada entre familiares de indivíduos com esquizofrenia ou transtorno da personalidade esquizotípica. Questões Diagnósticas Relativas ao Gênero O transtorno da personalidade esquizoide é diagnosticado um pouco mais frequentemente em indivíduos do sexo masculino e pode causar-lhes mais incapacidade. Diagnóstico diferencial O transtorno da personalidade esquizoide pode ser distinguido de esquizofrenia, transtorno delirante e transtorno afetivo com características psicóticas com base em períodos com sintomas psicóticos positivos, como delírios e alucinações, nestes últimos. Tratamento Esquizoides têm tendência a introspecção; contudo, os pacientes podem se tornar devotados à psicoterapia, ainda que distantes. Com o desenvolvimento de confiança, o paciente pode, com bastante apreensão, revelar uma abundância de fantasias, amigos imaginários e temores de dependência insuportáveis – até mesmo de se fundir ao terapeuta. No contexto de terapia grupal, podem ficar calados por longos períodos; ainda assim, ficam envolvidos. A farmacoterapia com pequenas doses de antipsicóticos, antidepressivos e psicoestimulantes beneficia alguns pacientes. Agentes serotoninérgicos podem deixar o paciente menos sensível a rejeição. Benzodiazepínicos podem ajudar a diminuir a ansiedade. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIZOTÍPICA (A) Critérios Diagnósticos DSM-5 301.22 (F21) A. Um padrão difuso de déficits sociais e interpessoais marcado por desconforto agudo e capacidade reduzida para relacionamentos íntimos, além de distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento excêntrico, que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por 5 (ou mais) dos seguintes: 1. Ideias de referência (excluindo delírios de referência). 2. Crenças estranhas ou pensamento mágico que influenciam o comportamentoe são inconsistentes com as normas subculturais (ex: superstições, crença em clarividência, telepatia ou “sexto sentido”; em crianças e adolescentes, fantasias ou preocupações bizarras). 3. Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões corporais. 4. Pensamento e discurso estranhos (ex: vago, circunstancial, metafórico, excessivamente elaborado ou estereotipado). 5. Desconfiança ou ideação paranoide. 6. Afeto inadequado ou constrito. 7. Comportamento ou aparência estranha, excêntrica ou peculiar. 8. Ausência de amigos próximos ou confidentes que não sejam parentes de primeiro grau. 9. Ansiedade social excessiva que não diminui com o convívio e que tende a estar associada mais a temores paranoides do que a julgamentos negativos sobre si mesmo. B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo com sintomas psicóticos, outro transtorno psicótico ou transtorno do espectro autista. Nota: Se os critérios são atendidos antes do surgimento de esquizofrenia, acrescentar “pré-mórbido”. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico Indivíduos com transtorno da personalidade esquizotípica costumam buscar tratamento mais para os sintomas associados de ansiedade ou depressão do que para as características do transtorno da personalidade em si. Particularmente em resposta a estresse, podem apresentar episódios psicóticos transitórios (de minutos a horas), insuficiente para um diagnóstico adicional. Em alguns casos, sintomas psicóticos clinicamente significativos podem atender aos critérios de transtorno psicótico breve, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante ou esquizofrenia. Mais de metade dos indivíduos com o transtorno da personalidade esquizotípica pode ter história de pelo menos um episódio depressivo maior. Existe considerável concomitância de transtornos da personalidade esquizoide, paranoide, evitativa e borderline. Desenvolvimento e Curso O transtorno da personalidade esquizotípica apresenta curso relativamente estável, com apenas uma pequena parte dos indivíduos vindo a desenvolver esquizofrenia ou outro transtorno psicótico. Pode se manifestar primeiramente na infância e adolescência por solidão, relacionamento ruim com os colegas, ansiedade social, baixo rendimento escolar, hipersensibilidade, pensamentos/linguagem peculiares e fantasias bizarras. As crianças podem parecer “estranhas” ou “excêntricas” e atrair provocação. Fatores genéticos e fisiológicos Parece ser familiarmente agregado, sendo mais prevalente entre familiares biológicos de 1º grau com esquizofrenia. Pode haver também um aumento pequeno de esquizofrenia e de outros transtornos psicóticos em familiares de probandos esquizotípicos. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 Tratamento Esses pacientes apresentam padrões de pensamento peculiares, e alguns estão envolvidos em cultos, estranhas práticas religiosas e o ocultismo. Na psicoterapia, o profissional não deve ridicularizar essas peculiaridades nem criticar essas crenças ou atividades. Medicamentos antipsicóticos podem ser úteis para lidar com ideias de referência, ilusões e outros sintomas do transtorno e ser usados em conjunto com psicoterapia. Antidepressivos são válidos quando houver um componente depressivo da personalidade. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL (B) Critérios Diagnósticos DSM-5 301.7 (F60.2) A. Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas que ocorre desde os 15 anos de idade, conforme indicado por três (ou mais) dos seguintes: 1. Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos legais, conforme indicado pela repetição de atos que constituem motivos de detenção. 2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer pessoal. 3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro. 4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas corporais ou agressões físicas. 5. Descaso pela segurança de si ou de outros. 6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida em manter uma conduta consistente no trabalho ou honrar obrigações financeiras. 7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou racionalização em relação a ter ferido, maltratado ou roubado outras pessoas. B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade. C. Há evidências de transtorno da conduta com surgimento anterior aos 15 anos de idade. D. A ocorrência de comportamento não se dá exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou transtorno bipolar. A característica essencial do transtorno da personalidade antissocial é um padrão difuso de indiferença e violação dos direitos dos outros, o qual surge na infância ou no início da adolescência e continua na vida adulta. Esse padrão já foi referido como psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade dissocial. Pode ser útil integrar informações adquiridas por meio de avaliações clínicas sistemáticas e informações de outras fontes colaterais. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico Indivíduos com transtorno da personalidade antissocial frequentemente carecem de empatia e tendem a ser insensíveis, cínicos e desdenhosos em relação aos sentimentos, direitos e sofrimentos dos outros. Podem ter autoconceito inflado e arrogante (ex: sentem que o trabalho comum cotidiano está abaixo deles ou carecem de uma preocupação real a respeito dos seus problemas do momento ou a respeito de seu futuro) e podem ser excessivamente opiniáticos, autoconfiantes ou convencidos. Podem exibir um charme desinibido e superficial e podem ser muito volúveis e verbalmente fluentes (ex: usar termos técnicos ou jargão que podem impressionar uma pessoa que desconhece o assunto). Falta de empatia, autoapreciação inflada e charme superficial são aspectos comumente incluídos em concepções tradicionais da psicopatia e podem ser particularmente característicos do transtorno e mais preditivos de recidiva em prisões ou ambientes forenses. Esses indivíduos podem, ainda, ser irresponsáveis e exploradores nos seus relacionamentos sexuais. Podem ter história de vários parceiros sexuais e jamais ter mantido um relacionamento monogâmico. Como pais, podem ser irresponsáveis, conforme evidenciado por desnutrição ou doença de um filho resultante de falta de higiene mínima, dependência de outros familiares para abrigo ou alimento de um filho, fracasso em encontrar um cuidador para um filho pequeno ou, ainda, desperdício recorrente do dinheiro necessário para a manutenção doméstica. Podem ser dispensados do exército de forma desonrosa, fracassar em prover o próprio sustento, empobrecer ou até ficar sem teto ou, ainda, passar muitos anos em institutos penais. Também são mais propensos a morrer prematuramente de formas violentas. Podem também apresentar disforia, incluindo queixas de tensão, incapacidade de tolerar a monotonia e humor deprimido. Podem ter transtornos de ansiedade, transtornos depressivos, transtornos por uso de substância, transtorno de sintomas somáticos, transtorno do jogo e outros transtornos do controle de impulsos associados.Também apresentam com frequência aspectos de personalidade que atendem a outros transtornos da personalidade, em particular borderline, histriônica e narcisista. A probabilidade de desenvolvimento de transtorno da personalidade antissocial na idade adulta aumenta se o transtorno da conduta do indivíduo teve início na infância (antes dos 10 anos) e se houve também TDAH associado. Abuso ou negligência infantil, paternidade/maternidade instável ou errática ou disciplina parental inconsistente podem aumentar a probabilidade de o transtorno da conduta evoluir para transtorno da personalidade antissocial. Desenvolvimento e Curso O transtorno da personalidade antissocial tem um curso crônico, mas pode se tornar menos evidente ou apresentar remissão conforme o indivíduo envelhece, em particular por volta da quarta década de vida. Embora essa remissão tenda a ser especialmente evidente quanto a envolvimento em comportamento criminoso, é possível que haja diminuição no espectro total de comportamentos antissociais e uso de substância. Fatores genéticos e fisiológicos Transtorno da personalidade antissocial é mais comum entre familiares biológicos de 1º grau daqueles que têm o transtorno. O risco para familiares biológicos de mulheres com o transtorno tende a ser maior do que para homens. Familiares biológicos de indivíduos com a doença têm ainda risco aumentado de transtorno de sintomas somáticos e por uso de substância. Dentro de uma família na qual um membro apresenta transtorno da personalidade antissocial, os indivíduos do sexo masculino têm mais frequentemente transtorno da personalidade antissocial e por uso de substância, ao passo que os do feminino apresentam com Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 mais frequência transtorno de sintomas somáticos. Nessas famílias, no entanto, há prevalência aumentada de todos esses transtornos em ambos os sexos. Estudos sobre adoção indicam que fatores genéticos e ambientais contribuem para o desenvolvimento do transtorno da personalidade antissocial. Tanto filhos adotivos quanto biológicos de pais com o transtorno têm risco aumentado de desenvolver transtorno da personalidade antissocial, transtorno de sintomas somáticos e transtornos por uso de substância. Crianças que conviveram algum tempo com os pais biológicos e depois foram encaminhadas para adoção assemelham-se mais aos pais biológicos. Questões Diagnósticas Relativas à Cultura: O transtorno parece ter ligação com condição socioeconômica baixa e contextos urbanos. Relativas ao Gênero: Muito mais comum no sexo masculino. Têm havido algumas preocupações pela possibilidade de subdiagnóstico em indivíduos do sexo feminino, especialmente pela ênfase em itens de agressividade na definição do transtorno da conduta. Diagnóstico diferencial O transtorno da personalidade antissocial pode ser distinguido de comportamento ilegal pois envolve diversas áreas da vida. Se o comportamento ilegal visa apenas ganhos e não está acompanhado de traços de personalidade rígidos, mal-adaptativos e persistentes, é classificado como comportamento criminoso não associado a um transtorno da personalidade. Psicoterapia Caso sejam confinados (ex: internados em um hospital), pacientes com transtorno da personalidade antissocial frequentemente se tornam receptivos a psicoterapia. Quando o indivíduo sente que está entre pares, sua falta de motivação para mudança desaparece. Antes que o tratamento possa ter início, é fundamental estabelecer limites firmes. Farmacoterapia Usada para lidar com sintomas incapacitantes como ansiedade, raiva e depressão, mas, como os pacientes com frequência abusam de substâncias, devem ser usados de forma criteriosa. Caso um paciente mostre evidências de TDAH, metilfenidato pode ser útil. Foram realizadas tentativas de alterar o metabolismo de catecolamina e de controlar o comportamento impulsivo com antiepilépticos (ex: carbamazepina ou valproato), especialmente quando identificadas ondas anormais no EEG. Antagonistas dos receptores β-adrenérgicos foram usados para reduzir agressividade. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BORDERLINE (B) Critérios Diagnósticos DSM-5 301.83 (F60.3) Um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos afetos e de impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado. (Nota: Não incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.) 2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização. 3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo. 4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (ex: gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar). (Nota: Não incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.) 5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante. 6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (ex: disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias). 7. Sentimentos crônicos de vazio. 8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (ex: mostras frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes). 9. Ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico Indivíduos com transtorno da personalidade borderline podem ter um padrão de sabotagem pessoal no momento em que uma meta está para ser atingida (ex: abandono da escola logo antes da formatura; regressão grave após conversa sobre os bons rumos da terapia; destruição de um relacionamento bom exatamente quando está claro que ele pode durar). Alguns desenvolvem sintomas semelhantes à psicose (alucinações, distorções da imagem corporal, ideias de referência, fenômenos hipnagógicos) em momentos de estresse. Indivíduos com esse transtorno podem se sentir mais protegidos junto a objetos transicionais (animal de estimação ou objeto inanimado) do que em relacionamentos interpessoais. Pode ocorrer morte prematura por suicídio, especialmente naqueles em que há ocorrência simultânea de transtornos depressivos ou transtornos por uso de substância. Deficiências físicas podem resultar de comportamentos de abuso autoinfligidos ou de tentativas de suicídio. Perdas de emprego recorrentes, interrupção da educação e separação ou divórcio são comuns. Abuso físico e sexual, negligência, conflito hostil e perda parental prematura são mais comuns em histórias de infância daqueles com o transtorno da personalidade borderline. Transtornos concomitantes incluem transtornos depressivo e bipolar, transtornos por uso de substância, transtornos alimentares (bulimia nervosa), TEPT, TDAH e transtornos da personalidade. Desenvolvimento e Curso Há considerávelvariação no curso do transtorno da personalidade borderline. O padrão mais comum é o de instabilidade crônica no início da vida adulta, com episódios graves de descontrole afetivo e Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 impulsivo e níveis altos de uso dos recursos de saúde e saúde mental. O prejuízo decorrente do transtorno e o risco de suicídio são maiores entre os adultos jovens e desaparecem gradualmente com o avançar da idade. Embora a tendência para emoções intensas, impulsividade e intensidade nos relacionamentos costume perdurar a vida toda, indivíduos que se engajam em intervenções terapêuticas frequentemente demonstram melhoras já no 1º ano. Dos 30 aos 50 anos, a maioria dos indivíduos com o transtorno alcança estabilidade maior nos seus relacionamentos e no seu funcionamento profissional. Estudos de seguimento indicam que, após cerca de 10 anos, até metade deles não mais apresenta um padrão de comportamento que atenda aos critérios para o transtorno da personalidade borderline. É diagnosticado predominantemente (75%) no sexo feminino. Fatores genéticos e fisiológicos O transtorno da personalidade borderline é cerca de 5 vezes mais comum em parentes biológicos de primeiro grau de pessoas com o transtorno do que na população em geral. Também há aumento do risco familiar para transtornos por uso de substância, transtorno da personalidade antissocial e transtorno depressivo ou bipolar. Diagnóstico diferencial O transtorno diferencia-se de esquizofrenia com base no fato de o paciente com personalidade borderline não apresentar episódios psicóticos prolongados, transtorno do pensamento e outros sinais clássicos de esquizofrenia. Psicoterapia A psicoterapia para pacientes com transtorno da personalidade borderline é uma área intensamente pesquisada e se tornou o tratamento recomendado. A psicoterapia é difícil para o paciente e para o terapeuta. O paciente regride com facilidade, age por impulso e demonstra transferências positivas ou negativas lábeis ou fixas, as quais são difíceis de analisar. Identificação projetiva pode causar problemas de contratransferência. O mecanismo de defesa de cisão faz o paciente amar ou odiar o terapeuta de forma alternada, assim como as outras pessoas em seu ambiente. O treinamento de habilidades sociais, sobretudo com reprodução de gravações em vídeo, permite ao paciente ver como suas ações afetam outras pessoas e melhorar seu comportamento interpessoal. A terapia comportamental dialética (TCD), foi usada especialmente nos casos de comportamento parassuicida, como cortes frequentes. Outro tipo de psicoterapia para o borderline é a terapia baseada na mentalização. A psicoterapia focada na transferência é uma forma modificada de psicoterapia psicodinâmica que também é usada. Farmacoterapia A farmacoterapia é útil para lidar com características específicas da personalidade que interferem no funcionamento geral do paciente. Usaram-se antipsicóticos para controlar raiva, hostilidade e episódios psicóticos breves. Antidepressivos melhoram o humor deprimido comum em indivíduos com transtorno da personalidade borderline. IMAOs modularam com sucesso o comportamento impulsivo em alguns pacientes. Benzodiazepínicos, especialmente alprazolam, ajudam com ansiedade e depressão, mas alguns pacientes exibem desinibição com essa classe. Anticonvulsivantes, como carbamazepina, podem melhorar o funcionamento global de algumas pessoas. ISRS foram úteis em alguns casos. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE HISTRIÔNICA (B) Critérios Diagnósticos DSM-5 301.50 (F60.4) Um padrão difuso de emocionalidade e busca de atenção em excesso que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por 5 (ou mais) dos seguintes: 1. Desconforto em situações em que não é o centro das atenções. 2. A interação com os outros é frequentemente caracterizada por comportamento sexualmente sedutor inadequado ou provocativo. 3. Exibe mudanças rápidas e expressão superficial das emoções. 4. Usa reiteradamente a aparência física para atrair a atenção para si. 5. Tem um estilo de discurso que é excessivamente impressionista e carente de detalhes. 6. Mostra autodramatização, teatralidade e expressão exagerada das emoções. 7. É sugestionável (facilmente influenciado pelos outros ou pelas circunstâncias). 8. Considera as relações pessoais mais íntimas do que na realidade são. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico Indivíduos com transtorno da personalidade histriônica podem ter dificuldades em alcançar intimidade emocional em relacionamentos românticos ou sexuais. Sem se dar conta disso, costumam desempenhar um papel (“vítima” ou “princesa”) em suas relações com os outros. Podem buscar controlar seu parceiro por meio de manipulação emocional ou sedução em um nível, ao mesmo tempo que mostram dependência acentuada deles em outro nível. Geralmente têm relacionamentos difíceis com amigos do mesmo sexo, pois seu estilo interpessoal sexualmente provocativo pode parecer uma ameaça aos relacionamentos afetivos destes. Podem também afastar os amigos com exigências de atenção constante. Podem buscar obstinadamente novidades, estímulos e excitação e ter tendência a entediar-se com a rotina. Não costumam tolerar ou se sentem frustrados por situações envolvendo atraso de gratificação. Embora com frequência comecem um trabalho ou projeto com muito entusiasmo, seu interesse pode se dissipar rapidamente. Relacionamentos de longa data podem ser negligenciados para dar espaço à excitação de novos. As principais defesas de pacientes com transtorno da personalidade histriônica são repressão e dissociação. Em conformidade com isso, os indivíduos não estão cientes de seus verdadeiros sentimentos e não conseguem explicar suas motivações. O risco real de suicídio não é conhecido, mas a experiência clínica sugere que esses indivíduos estão sob risco aumentado de gestos e ameaças suicidas que realizam com o intuito de obter atenção e coagir os demais a oferecer melhores cuidados. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 O transtorno da personalidade histriônica tem sido associado a taxas mais altas de transtorno de sintomas somáticos, transtorno conversivo (transtorno de sintomas neurológicos funcionais) e depressivo maior. Com frequência, transtornos da personalidade borderline, narcisista, antissocial e dependente são concomitantes. Diagnóstico diferencial A distinção entre transtorno da personalidade histriônica e borderline é difícil, mas, neste último, tentativas de suicídio, difusão de identidade e episódios psicóticos breves são mais prováveis. O transtorno de sintomas somáticos (síndrome de Briquet) pode ocorrer em conjunto com o da personalidade histriônica. Pacientes com transtornos psicótico breve e dissociativos podem justificar um diagnóstico coexistente de transtorno da personalidade histriônica. Tratamento Pacientes com transtorno da personalidade histriônica costumam não estar cientes de seus próprios sentimentos reais; a clarificação de seus sentimentos interiores é um processo terapêuticoimportante. Psicoterapia e orientação psicanalítica, em grupo ou individual, provavelmente seja o tratamento mais indicado. A farmacoterapia pode funcionar como tratamento adjunto quando direcionada aos sintomas (ex: antidepressivos para depressão e queixas somáticas, ansiolíticos para ansiedade, e antipsicóticos para desrealização e ilusões). TRANSTORNO DA PERSONALIDADE NARCISISTA (B) Critérios Diagnósticos DSM-5 301.81 (F60.81) Um padrão difuso de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração e falta de empatia que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Tem uma sensação grandiosa da própria importância (ex: exagera conquistas e talentos, espera ser reconhecido como superior sem que tenha as conquistas correspondentes). 2. É preocupado com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal. 3. Acredita ser “especial” e único e que pode ser somente compreendido por, ou associado a, outras pessoas (ou instituições) especiais ou com condição elevada. 4. Demanda admiração excessiva. 5. Apresenta um sentimento de possuir direitos (expectativas irracionais de tratamento especialmente favorável ou que estejam automaticamente de acordo com as próprias expectativas). 6. É explorador em relações interpessoais (tira vantagem de outros para atingir os próprios fins). 7. Carece de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e as necessidades dos outros. 8. É frequentemente invejoso em relação aos outros ou acredita que os outros o invejam. 9. Demonstra comportamentos ou atitudes arrogantes e insolentes. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico A vulnerabilidade na autoestima torna os narcisistas muito sensíveis a “feridas” resultantes de crítica ou derrota. Embora possam não evidenciar isso de forma direta, a crítica pode assustá-los, deixando neles sentimentos de humilhação, degradação, vácuo e vazio. Podem reagir com desdém, fúria ou contra-ataque desafiador. Isso geralmente leva a retraimento social ou a uma aparência de humildade que pode mascarar e proteger a grandiosidade. Relações interpessoais costumam ser afetadas devido a problemas resultantes da crença no merecimento de privilégios, da necessidade de admiração e da relativa desconsideração das sensibilidades dos outros. Embora a ambição e a confiança desmedidas possam levar a grandes conquistas, o desempenho pode ser comprometido pela intolerância a críticas ou derrotas. Sentimentos persistentes de vergonha ou humilhação e a autocrítica acompanhante podem estar associados a retraimento social, humor deprimido e transtorno depressivo persistente (distimia) ou transtorno depressivo maior. Por sua vez, períodos sustentados de grandiosidade podem estar associados a humor hipomaníaco. Os transtornos da personalidade borderline, histriônica e antissocial frequentemente acompanham o transtorno da personalidade narcisista, de modo que um diagnóstico diferencial é difícil. Esse transtorno está ainda associado a anorexia nervosa e transtornos por uso de substância (especialmente cocaína). Desenvolvimento e Curso Entre os diagnosticados, 50 a 75% são do sexo masculino. Traços narcisistas podem ser particularmente comuns em adolescentes e não necessariamente indicam que a pessoa vai desenvolver o transtorno da personalidade. Indivíduos com esse transtorno podem ter dificuldades especiais de adaptação ao surgimento de limitações físicas e profissionais inerentes ao processo de envelhecimento. Tratamento Visto que os pacientes precisam renunciar a seu narcisismo para progredir, o tratamento é difícil. Kernberg e Heinz Kohut defendem o uso de abordagens psicanalíticas, mas são necessárias pesquisas para validar o diagnóstico e determinar o melhor tratamento. Alguns defendem terapia de grupo para que eles aprendam a compartilhar e, sob circunstâncias ideais, desenvolver uma reação empática. Usou-se lítio em pacientes cujo quadro incluía mudanças de humor. Como os pacientes têm baixa tolerância a rejeição e são suscetíveis à depressão, antidepressivos serotoninérgicos podem ser úteis. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE EVITATIVA (C) Critérios Diagnósticos DSM-5 301.82 (F60.6) Um padrão difuso de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliação negativa que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes: 1. Evita atividades profissionais que envolvam contato interpessoal significativo por medo de crítica, desaprovação ou rejeição. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 2. Não se dispõe a envolver-se com pessoas, a menos que tenha certeza de que será recebido de forma positiva. 3. Mostra-se reservado em relacionamentos íntimos devido a medo de passar vergonha ou de ser ridicularizado. 4. Preocupa-se com críticas ou rejeição em situações sociais. 5. Inibe-se em situações interpessoais novas em razão de sentimentos de inadequação. 6. Vê a si mesmo como socialmente incapaz, sem atrativos pessoais ou inferior aos outros. 7. Reluta de forma incomum em assumir riscos pessoais ou se envolver em quaisquer novas atividades, pois estas podem ser constrangedoras. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico Indivíduos com transtorno da personalidade evitativa costumam avaliar vigilantemente os movimentos e as expressões daqueles com quem têm contato. Sua conduta temerosa e tensa pode provocar o ridículo e o deboche dos outros, o que, em contrapartida, confirma suas dúvidas pessoais. Se sentem muito ansiosos diante da possibilidade de reagirem à crítica com rubor ou choro. São descritos como “envergonhados”, “tímidos”, “solitários” e “isolados”. A baixa autoestima e a hipersensibilidade à rejeição estão associadas a contatos interpessoais restritos. Os indivíduos podem ficar relativamente isolados e em geral não apresentam rede de apoio social capaz de auxiliá-los a espantar crises. Desejam afeição e aceitação e podem fantasiar relacionamentos idealizados. Outros transtornos comumente diagnosticados com o transtorno da personalidade evitativa incluem transtornos depressivo, bipolar e de ansiedade, em especial fobia social. O transtorno da personalidade evitativa é frequentemente diagnosticado junto ao transtorno da personalidade dependente, visto que as pessoas ficam muito apegadas e dependentes às poucas pessoas de quem são amigas. Também tende a ser diagnosticado com o transtorno da personalidade borderline e com os transtornos do Grupo A. Desenvolvimento e Curso O comportamento evitativo costuma iniciar na infância pré-verbal ou verbal por meio de timidez, isolamento e medo de estranhos e de novas situações. Embora a timidez em crianças seja um precursor comum do transtorno da personalidade evitativa, na maior parte dos indivíduos ela tende a desaparecer lentamente com o passar dos anos, por isso, esse diagnóstico deve ser usado com muita cautela em crianças e adolescentes Os indivíduos podem ficar cada vez mais tímidos e evitativos na adolescência eno início da vida adulta, quando os relacionamentos sociais com novas pessoas se tornam especialmente importantes. Existem algumas evidências de que o transtorno tende a ficar menos evidente ou sofrer remissão com o envelhecimento. Tratamento O tratamento psicoterapêutico depende da solidificação de uma aliança com o paciente. Com o desenvolvimento da confiança, o terapeuta pode transmitir uma atitude de aceitação dos temores do paciente, especialmente o medo de rejeição. A terapia de grupo pode ajudar o paciente a compreender como sua sensibilidade a rejeição o afeta e atinge os outros. Treinamento de assertividade pode ensiná-lo a expressar abertamente suas necessidades e aumentar sua autoestima. Usa-se farmacoterapia para o manejo de ansiedade e depressão quando são associadas ao transtorno. Alguns pacientes se beneficiam de antagonistas de receptores β-adrenérgicos, como atenolol, para o manejo de hiperatividade do SNA, propensa a ser elevada nesses indivíduos, em especial quando lidam com situações que lhes inspiram temor. Agentes serotoninérgicos podem ajudar. Em teoria, fármacos dopaminérgicos podem gerar comportamento de busca por novidades; entretanto, o indivíduo deve estar psicologicamente preparado para os possíveis resultados de novas experiências. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE DEPENDENTE (C) Critérios Diagnósticos DSM-5 301.6 (F60.7) Uma necessidade difusa e excessiva de ser cuidado que leva a comportamento de submissão e apego que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Tem dificuldades em tomar decisões cotidianas sem uma quantidade excessiva de conselhos e reasseguramento de outros. 2. Precisa que outros assumam responsabilidade pela maior parte das principais áreas de sua vida. 3. Tem dificuldades em manifestar desacordo com outros devido a medo de perder apoio ou aprovação. (Nota: Não incluir os medos reais de retaliação.) 4. Apresenta dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria (devido mais a falta de autoconfiança em seu julgamento ou em suas capacidades do que a falta de motivação ou energia). 5. Vai a extremos para obter carinho e apoio de outros, a ponto de voluntariar-se para fazer coisas desagradáveis. 6. Sente-se desconfortável ou desamparado quando sozinho devido a temores exagerados de ser incapaz de cuidar de si mesmo. 7. Busca com urgência outro relacionamento como fonte de cuidado e amparo logo após o término de um relacionamento íntimo. 8. Tem preocupações irreais com medos de ser abandonado à própria sorte. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico Indivíduos com transtorno da personalidade dependente com frequência se caracterizam por pessimismo e autoquestionamentos, tendem a subestimar suas capacidades e seus aspectos positivos e podem constantemente referir a si mesmos como “estúpidos”. Encaram críticas e desaprovação como prova de sua desvalia e perdem a fé em si mesmos. Podem buscar superproteção e dominação por parte dos outros. O funcionamento profissional pode ser prejudicado diante da necessidade de iniciativas independentes. Podem evitar cargos de responsabilidade e ficar ansiosos diante de decisões. As relações sociais tendem a ser limitadas àquelas poucas pessoas de quem o indivíduo é dependente. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 Pode haver risco aumentado de transtornos depressivos, de ansiedade e de adaptação. Costuma ser concomitante com outros transtornos da personalidade, especialmente borderline, evitativa e histriônica. Doença crônica ou transtorno de ansiedade de separação na infância/adolescência podem predispor ao transtorno. Desenvolvimento e Curso Esse diagnóstico deve ser usado com muita cautela, ou até não ser usado, em crianças e adolescentes. O comportamento dependente pode ser apropriado do ponto de vista do desenvolvimento. Em contextos clínicos, o transtorno da personalidade dependente tem sido diagnosticado mais frequentemente no sexo feminino, embora alguns estudos relatem taxas similares de prevalência. Tratamento O tratamento do transtorno da personalidade dependente costuma ser bem-sucedido. Terapias voltadas para o insight, terapia comportamental, treinamento de assertividade, terapia de família e de grupo foram todas bem-sucedidas. Tem-se usado farmacoterapia para lidar com sintomas específicos, como ansiedade e depressão. Pacientes com ataques de pânico ou níveis elevados de ansiedade de separação podem se beneficiar de imipramina. Benzodiazepínicos e agentes serotonérgicos também foram úteis. Caso a depressão de um paciente ou os sintomas de abstinência reajam a psicoestimulantes, eles podem ser usados. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE OBSESSIVO-COMPULSIVA (C) Critérios Diagnósticos DSM-5 301.4 (F60.5) Um padrão difuso de preocupação com ordem, perfeccionismo e controle mental e interpessoal à custa de flexibilidade, abertura e eficiência que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por 4 (ou mais) dos seguintes: 1. É tão preocupado com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários a ponto de o objetivo principal da atividade ser perdido. 2. Demonstra perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas (ex: não consegue completar um projeto porque seus padrões demasiadamente rígidos não são atingidos). 3. É excessivamente dedicado ao trabalho e à produtividade em detrimento de atividades de lazer e amizades (não explicado por uma óbvia necessidade financeira). 4. É excessivamente consciencioso, escrupuloso e inflexível quanto a assuntos de moralidade, ética ou valores (não explicado por identificação cultural ou religiosa). 5. É incapaz de descartar objetos usados ou sem valor mesmo quando não têm valor sentimental. 6. Reluta em delegar tarefas ou trabalhar com outras pessoas a menos que elas se submetam à sua forma exata de fazer as coisas. 7. Adota um estilo miserável de gastos em relação a si e a outros; o dinheiro é visto como algo a ser acumulado para futuras catástrofes. 8. Exibe rigidez e teimosia. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico Parece ser diagnosticado cerca de 2 vezes mais no sexo masculino. Indivíduos com transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva podem ter tanta dificuldade para decidir as tarefas às quais dar prioridade ou qual a melhor maneira de fazer alguma tarefa específica que podem jamais começar o que quer que seja. Têm propensão ao aborrecimento ou à raiva em situações nas quais não conseguem manter controle do seu ambiente físico ou interpessoal, embora a raiva não costume ser manifestada de forma direta (ficam ruminando um pensamento). Em outras ocasiões, a raiva pode ser expressa por meio de indignação em relação a um assunto aparentemente insignificante. Podem dar atenção especial a seu estado relativo nas relações de domínio-submissão e exibir deferência excessiva a uma autoridade que respeitam e resistência excessiva a uma que não respeitam. Geralmente manifestam afeto de forma altamente controlada ou artificiale podem sentir grande desconforto na presença de outros que se expressam com emoção. As relações cotidianas são sérias e formais, e eles podem parecer sisudos em situações em que outros sorririam e ficariam alegres. Eles se contêm cuidadosamente até estarem certos de que o que dirão será perfeito. Podem se preocupar com a lógica e com o intelecto e ser intolerantes ao comportamento afetivo dos outros. Com frequência apresentam dificuldades de expressar sentimentos amorosos e raramente fazem elogios. Indivíduos com transtornos de ansiedade, inclusive TAG, fobia social e fobias específicas, bem como TOC, têm probabilidade aumentada de apresentar perturbação da personalidade que atenda aos critérios do transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva. Mesmo assim, a maioria das pessoas com TOC não apresenta um padrão de comportamento que atenda aos critérios. Muitas características do transtorno se sobrepõem-se às características de “tipo A” (ex: preocupação com o trabalho, competitividade, urgência temporal), e estas podem estar presentes em pessoas com risco de infarto do miocárdio. Pode haver associação entre transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva e transtornos bipolar e depressivo e transtornos alimentares. Psicoterapia Diferentemente de outros transtornos da personalidade, indivíduos com transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva costumam estar cientes de seu sofrimento e buscam tratamento sozinhos. Com bastante treinamento e socialização, esses pacientes valorizam associação livre e terapia sem diretrizes. O tratamento, no entanto, costuma ser prolongado e complexo, e problemas de contratransferência são frequentes. Terapia de grupo e terapia comportamental eventualmente oferecem certas vantagens. Farmacoterapia Clonazepam, benzodiazepínico com uso anticonvulsivante, reduziu os sintomas em pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo. Desconhece-se sua utilidade para transtornos da personalidade. Clomipramina e agentes serotonérgicos (fluoxetina), normalmente em dosagens de 60 a 80 mg ao dia, podem ser úteis se sinais e sintomas obsessivo-compulsivos se manifestarem. A nefazodona pode beneficiar alguns pacientes.
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