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Doença de Chagas

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1. MORFOLOGIA
a) Amastigota: pequeno e ovóide; pouco citoplasma e núcleo grande e redondo; cinetoplasto bem
visível e flagelo pequeno e intracelular (não há flagelo extracelular); imóvel (praticamente);
b) Epimastigota: cinetoplasto próximo ao núcleo; bolso flagelar (estreito canal ou reservatório) que se
abre para o exterior lateralmente; o flagelo mantém-se colado à membrana do citossomo por uma
prega da bainha flagelar denominada membrana ondulante, em vista de acompanhar os movimentos
flagelares; o flagelo emerge longe da extremidade anterior e, só depois de atravessar esse pólo
anterior, é que o flagelo se torna livre;
c) Tripomastigota: citossomo longo e achatado; cinetoplasto e bolso flagelar deslocados para a região
entre o núcleo e a extremidade posterior; o flagelo percorre externamente toda a extensão do corpo
celular aderido por sua longa membrana ondulante; polimorfismo a depender da espécie (formas
delgadas ou larga; porção livre do flagelo existente ou não, etc).
HOSPEDEIRO VERTEBRADO
Nos hospedeiros vertebrados e na cultura de tecidos são encontradas intracelularmente as formas
amastigotas e extracelularmente as formas tripomastigotas presentes no sangue circulante. As formas
amastigotas e tripomastigotas são infectantes para células in vitro e para vertebrados.
Todas as formas evolutivas do T. cruzi apresentam a organela cinetoplasto que é a mitocôndria
modificada, rica em DNA. A análise deste DNA extranuclear é usada na caracterização bioquímica de
diferentes amostras ou cepas de T. cruzi.
Os tripomastigotas sanguíneos apresentam polimorfismo (variações morfológicas). Diferentes
populações de T. cruzi apresentam ao longo da infecção tripomastigotas sanguíneos delgados,
intermediários ou largos. Algumas apresentam também formas muito largas.
As formas delgadas seriam mais infectantes para células, desenvolvendo parasitemias mais
precoces, porém mais sensíveis a ação de anticorpos circulantes. Sendo assim, tripomastigotas delgados
seriam destruídos por anticorpos ou desapareceriam da circulação para cumprir novo ciclo celular. Por outro
lado, as formas largas, menos infectantes, demorariam mais a penetrar nas células, desenvolvendo
parasitemias mais tardias, porém mais resistentes a ação de anticorpos circulantes e por isso capazes de
permanecer mais tempo na corrente circulatória.
As formas delgadas do parasito seriam relativamente mais frequentes no início da infecção do
hospedeiro vertebrado, quando ainda não existe uma imunidade humoral específica contra o parasito.
Gradualmente estas formas seriam substituídas pelas formas largas, menos sensíveis a ação de anticorpos.
Tripomastigotas delgados parasitam de preferência células do sistema mononuclear fagocitário
(SMF) do baço, fígado e medula óssea, sendo essas cepas chamadas de macrofagotrópicas. Já as cepas
que apresentam predomínio de formas largas têm tropismo para células musculares lisa, cardíaca e
esquelética, sendo denominadas miotrópicas.
HOSPEDEIRO INVERTEBRADO
No hospedeiro invertebrado, são encontradas inicialmente formas arredondadas com flagelo
circundando o corpo, denominadas esferomastigotas presentes no estômago e intestino do triatomíneo
(inseto vetor); formas epimastigotas presentes em todo o intestino e tripomastigotas presentes no reto. O
tripomastigota metacíclico constitui a forma mais natural de infecção para o hospedeiro vertebrado.
2. BIOLOGIA
O ciclo biológico do T. cruzi é heteroxênico, passando o parasito por uma fase de multiplicação
intracelular no hospedeiro vertebrado (homem e mamíferos pertencentes a sete ordens diferentes) e
extracelular no inseto vetor (triatomíneos).
CICLO BIOLÓGICO NO HOSPEDEIRO VERTEBRADO
Amastigotas, epimastigotas e tripomastigotas interagem com células do hospedeiro vertebrado e
apenas as epimastigotas não são capazes de nelas se desenvolver e multiplicar.
Os tripomastigotas metacíclicos eliminados nas fezes e urina do vetor, durante ou logo após o
repasto sanguíneo (o inseto suga o sangue), penetram pelo local da picada e interagem com células do SMF
da pele ou mucosas. Neste local, ocorre a transformação dos tripomastigotas em amastigotas, que aí se
multiplicam por divisão binária simples. A seguir, ocorre a diferenciação dos amastigotas em
tripomastigotas, que são liberados da célula hospedeira caindo na corrente circulatória. Eles atingem outras
células de qualquer tecido ou órgão para cumprir novo ciclo celular ou são destruídos por mecanismos
imunológicos do hospedeiro. Podem ainda ser ingeridos por triatomíneos (inseto barbeiro), onde
cumprirão seu ciclo extracelular.
No início da infecção do vertebrado (fase aguda), a parasitemia é mais elevada, podendo
ocorrer morte do hospedeiro (sobretudo em crianças). Quando o hospedeiro desenvolve resposta imune
eficaz, diminui a parasitemia e a infecção tende a se cronificar. Na fase crônica, o número de parasitas é
pequeno na circulação, só sendo detectados por métodos especiais. A evolução e o desenvolvimento das
diferentes formas clínicas da fase crônica da doença de Chagas ocorre lentamente, após 10 a 15 anos de
infecção ou mais.
O mecanismo de interação entre o parasito e as células do hospedeiro vertebrado é a endocitose.
Essa interação ocorre em 3 fases:
● Fase 1 - Adesão Celular: Quando ambos se reconhecem e o contato membrana-membrana ocorre;
● Fase 2 - Interiorização: Formação de pseudópodes e de vacúolo fagocitário. A concentração de Ca2+
tem sido também considerada um fator importante na penetração do parasita na célula hospedeira e
facilita a chegada dos lisossomas para as proximidades do parasita chegando mesmo a fazer parte da
membrana do vacúolo fagocitário;
● Fase 3 - Fenômenos Intracelulares: Formas epimastigotas são destruídas dentro do vacúolo
fagocitário e os tripomastigotas sobrevivem resistindo as ações das enzimas lisossômicas e
desenvolvendo-se livremente no citoplasma da célula, onde se transformam em amastigotas (3 horas
após a interiorização). Os amastigotas se multiplicam por divisão binária simples, a cada 12 horas,
num total de nove gerações, totalizando cerca de 540 parasitos, que a seguir se diferenciam em
tripomastigotas por um mecanismo de alongamento. A célula hospedeira, repleta de parasitos, se
rompe, liberando no interstício os tripomastigotas ou mesmo amastigotas que ainda não se
diferenciaram, além de detritos celulares da célula hospedeira.
CICLO BIOLÓGICO NO HOSPEDEIRO INVERTEBRADO
Os vetores triatomíneos se infectam ao ingerir as formas tripomastigotas presentes na corrente
sanguínea do hospedeiro vertebrado durante o hematofagismo. No estômago do inseto eles se transformam
em formas arredondadas e epimastigotas. No intestino médio, os epimastigotas se multiplicam por
divisão binária simples, sendo responsáveis pela manutenção da infecção no vetor. No reto, os
epimastigotas se diferenciam em tripomastigotas (infectantes para os vertebrados), sendo eliminados nas
fezes ou na urina.
Outros estudos revelaram que os tripomastigotas sangüíneos ingeridos se transformam no estômago
do vetor em organismos arredondados, denominados esferomastigotas, circundados ou não por flagelo. Estes
esferomastigotas poderiam se transformar em tripomastígotas metacíclicos infectantes ou em epimastigotas
do tipo curto, capazes de se multiplicar por divisão binária simples e então se transformar novamente em
esferomastigotas que dariam os tripomastigotas metacíclicos, ou epimastigotas do tipo longo, que não se
multiplicam e nem se diferenciam para tripomastigotas metacíclicos.
3. MECANISMOS DE TRANSMISSÃO
TRANSMISSÃO PELO VETOR
Maior importância epidemiológica. A infecção ocorre pela penetração de tripomastigotas metacíclicos
(eliminados nas fezes ou na urina de triatomíneos, durante o hematofagismo) na pele ou mucosas
TRANSFUSÃO SANGUÍNEA
Segundo mais importante, sendo maior ainda nas grandes cidades.
TRANSMISSÃO CONGÊNITA
Ocorre quando existem ninhos de amastigotas na placenta, que liberariam tripomastigotas que
chegariam à circulação fetal.
TRANSMISSÃO ORAL
Pode acontecerem várias situações, como na amamentação, pois o T cruzi já foi encontrado em leite
materno na fase aguda da infecção; ingestão de alimentos contaminados com fezes ou urina de triatomíneos
infectados. A penetração do parasito, em todos estes casos, pode ocorrer pela mucosa da boca íntegra ou
lesada
COITO
Nunca foi comprovado na espécie humana. Há apenas relato de encontro de tripomastigotas em
sangue de menstruação e no esperma.
TRANSPLANTE
Pode desencadear fase aguda grave, pois o paciente que recebe o órgão transplantado infectado
toma drogas imunossupressoras.
DOENÇA DE CHAGAS
1. FASE AGUDA
Pode ser sintomática (aparente) ou assintomática (inaparente), sendo a assintomática mais
frequente. Ambas estão relacionadas com o estado imunológico do hospedeiro. Há predomínio da forma
aguda sintomática na primeira infância, levando a morte em cerca de 10% dos casos devido
principalmente a meningoencefalite e mais raramente a falência cardíaca (miocardite aguda difusa).
A fase aguda inicia-se através das manifestações locais, quando o T. cruzi penetra na conjuntiva
(sinal de Romana) ou na pele (chagoma de inoculação). Estas lesões aparecem em 50% dos casos
agudos dentro de 4-10 dias após a picada do barbeiro, regredindo em um ou dois meses. Concomitantemente
os linfonodos-satélites são comprometidos e no conjunto forma-se o complexo cutâneo elou
conjuntivo-linfonodal (chagoma primário, em qualquer parte do corpo, e linfadenite-satélite). O sinal de
Romana se caracteriza por edema bipalpebral unilateral, congestão conjuntival, linfadenite-satélite, com
linfonodos pré-auriculares, submandibulares e outros aumentados de volume, palpáveis, celulite do tecido
gorduroso periorbitário e palpebral e presença de parasitos intra e extracelulares em abundância.
As manifestações gerais são representadas por febre, edema localizado e generalizado,
poliadenia, hepatomegalia, esplenomegalia e, às vezes, insuficiência cardíaca e perturbações
neurológicas (muito raras; decorrentes da meningoencefalite).
2. FASE CRÔNICA ASSINTOMÁTICA
FORMA INDETERMINADA
Após a fase aguda, os sobreviventes passam por um período de 10 a 30 anos assintomáticos. Esta é
a fase da forma indeterminada (latente) caracterizada por: exames sorológicos e/ou parasitológicos positivos;
ausência de sintomas e sinais da doença; ECG normal; coração, esôfago e cólon normais à radiografia. Há
semelhança nas lesões da fase aguda, a diferença é a intensidade (a cardite é discreta, por exemplo).
Esta forma indeterminada tem a presença constante de anticorpos líticos. Apesar de assintomáticos e
de apresentarem lesões muito discretas, tem sido registrado morte súbita de pacientes com esta forma.
3. FASE CRÔNICA SINTOMÁTICA
Alguns pacientes, após longo período assintomáticos, apresentam sintomas relacionados ao sistema
cardiovascular (forma cardíaca), digestivo (forma digestiva) ou ambos (forma mista). Isso se deve à mudança
da anatomia do miocárdio e do tubo digestivo.
Observa-se reativação intensa do processo inflamatório, com dano destes órgãos, nem sempre
relacionada com o parasito, que se encontra extremamente escasso nesta fase.
FORMA CARDÍACA
Na cardiopatia chagásica crônica sintomática, o fato clínico principal é a insuficiência cardíaca
congestiva (ICC), que se deve a diminuição da massa muscular (substituída por áreas de fibrose); a
destruição do SNA simpático e parassimpático e ao próprio exsudato inflamatório em atividade são os
responsáveis pelos sintomas. Outro fator é a lesão no ápice dos ventrículos, na qual há pobreza de células
musculares com consequente herniação do endocárdio. Além da insuficiência cardíaca, devido ao
retardamento da circulação e da hipóxia, são frequentes os fenômenos tromboembólicos (que desenvolvem
insuficiência cardíaca). A partir destes trombos, desprendem-se êmbolos que podem originar infartos no
coração, pulmões, rins, baço, encéfalo, etc., causando assim a morte súbita.
O comprometimento do SNA regulador das contrações cardíacas (nó sinusal, nó atrioventricular e
feixe de Hiss) traz perturbações na formação dos estímulos (arritmia, extra-sístoles) e/ou na sua propagação
(bloqueio atrioventriculares, bloqueio do ramo direito do feixe de Hiss, esta última alteração considerada
patognomônica da doença de Chagas).
Quando a compensação cardíaca não dá conta das deficiências de sua força de contração, surge a
ICC, que se traduz clinicamente por dispnéia de esforço, insônia, congestão visceral e edema dos
membros inferiores evoluindo em dispnéia continua, anasarca (edema generalizado) e morte. Pacientes
com este quadro apresentam cardiomegalia intensa (!!!!!).
FORMA DIGESTIVA
Menos comum que a cardíaca. Representada pelos “megas”. O megaesôfago apresenta quadro
clínico de disfagia, odinofagia, dor retroesternal, regurgitação, pirose, soluço, tosse e sialose. O megacólon
(sigmoide e reto) agrava o quadro de desnutrição e associa-se, em geral, ao megaesôfago. Pode evoluir para
obstrução intestinal e perfuração (cuidado com a peritonite).
FORMA NERVOSA
Está presente naqueles pacientes cujo quadro clínico dominante são as manifestações neurológicas
(alterações psicológicas, comportamentais e perda de memória), diferenciando assim das lesões neurológicas
que participam da evolução dos megas.
O mecanismo patogênico básico nesta forma clínica seria a denervação, contestada por alguns
autores por consistir em agregados de células gliais e linfóides sem encontro de parasitas. Admite-se, todavia,
que na fase crônica da doença a perda ou diminuição dos neurônios possa ser consequência da isquemia
devido a ICC e arritmias cardíacas, bem como de processos auto-imunes.
4. DOENÇA DE CHAGAS CONGÊNITA (DCC)
Menos comum. A transmissão pode ocorrer em qualquer momento da gravidez causando abortos,
prematuridade e natimortalidade. Fatores, como a cepa do parasito e lesões prévias da placenta, facilitam a
penetração do mesmo, que passa a se localizar nas células das vilosidades coriônicas. Daí o T. cruzi pode
atingir a circulação fetal.
Nos casos de DCC comprovada com feto a termo, a criança evolui bem sem nenhum sintoma da
doença ou pode ter peso reduzido, hepatoesplenomegalia, abdome distendido, meteorismo intestinal,
alterações da crase sanguínea e às vezes sinais de ICC.
Nos natimortos, a presença do parasita é mais comum no SNC, coração, fígado, trato GI e pele. As
causas de morte são meningoencefalite, miocardite e infecções intercorrentes.
5. PATOGÊNESE E PATOLOGIA DA DOENÇA DE CHAGAS
FASE AGUDA
Durante a fase aguda da infecção o macrófago deve ser a célula que tem mais chances de adesão.
Nesta fase, o parasito pode sofrer degeneração, assim como a célula hospedeira, ocorrendo liberação do
parasito no interstício (amastigota, epimastigota ou tripomastigota), bem como de organelas citoplasmáticas
da célula hospedeira. Devido a estes imunógenos íntegros ou degenerados e a outras substâncias
liberadas pela célula hospedeira surge uma inflamação aguda focal estabelecendo-se, já na segunda
semana, uma imunidade. Mesmo assim, os parasitos não são detidos no foco inflamatório inicial, indo
parasitar aleatoriamente qualquer órgão.
Na fase aguda o coração pode ser lesado intensamente, devido ao rompimento de ninhos de
amastigotas (nas células musculares, nos histiócitos, nos fibroblastos, nas células gliais e raramente nos
neurônios dos plexos nervosos) decorrentes do parasitismo elevado. O exsudato inflamatório que predomina
é o de células mononucleadas, como linfócitos, macrófagos e por vezes granulócitos, neutrófilos e eosinófilos.
A presença de focos inflamatórios é proporcional aos ninhos de parasitas presentes. Deste modo, a
inflamação, de início focal, pode se estender a todo órgão, tornando-se difusa, grave e podendo levar a morte,
como acontece por exemplo na miocardite chagásica aguda ou meningoencefalite.
Há aumento da área cardíaca devido ao hidropericárdio e ao próprio coração que se mostra
globoso, flácido e muito congesto em consequência da inflamação que acomete os 3 folhetos cardíacos.
FASECRÔNICA
O fator patogênico mais importante é a denervação parassimpática tanto no coração quanto nos
megas chagásicos. Outros fatores na gênese das lesões são: 1) alterações das glândulas do intestino que
secretam vários tipos de hormônios; 2) alterações do reflexo peristáltico intrínseco com relação ao extrínseco;
3) alterações na neurossecreção dos gânglios simpáticos (catecolaminas, indolaminas), que permanecem
íntegros interferindo na motilidade e condutibilidade das células musculares; 4) fibrose difusa, presente tanto
na CCC quanto nos megas e responsável pela incapacidade contrátil do órgão
Além disso, a infecção leva a desvios da modulação das respostas imunitárias, que traz alterações na
matriz extracelular (que envolve as células musculares, por exemplo, alterando estas). Assim, macrófagos,
linfócitos, fibroblastos e outras células, via citocinas, são responsáveis pelas alterações da matriz extracelular.
● Forma indeterminada
Assintomáticos com infecção latente.
● Forma Cardíaca
20 a 30 anos após a infecção pode ocorrer cardiopatia chagásica crônica (CCC) sintomática.
Observa-se, macroscopicamente, aumento do volume e peso (cardiomegalia), congestão com
espessamento nodulares brancos no epicárdio ao longo das coronárias
● Forma Digestiva
O T. cruzi parasita as células musculares, os fibroblastos e principalmente o sistema nervoso
intramural (plexos de Meissner e Auerbach). Dependendo do grau e da extensão das lesões é que
surgem os primeiros sinais de incoordenação motora (aperistalse) acompanhados de alterações da
secreção e absorção. Somente nos casos mais graves, 10 a 20 anos após a infecção inicial, é que
surge em 20% a 30% dos pacientes o megaesôfago e o megacólon.
A víscera apresenta dilatação permanente (e às vezes alongamento da parede), espessamento
muscular e alterações na mucosa (ex: úlcera). Microscopicamente, observa-se parasitismo acentuado
(na fase aguda) das células musculares e nervosas, miosite e neurite, fibrolopoese focal e difusa,
hipertrofia das células do músculo ainda íntegro e inflamação crônica da mucosa (com ou sem
ulcerações).
6. IMUNIDADE NA DOENÇA DE CHAGAS
IMUNIDADE HUMORAL (mediada por anticorpos)
Uma forte ativação do sistema imunológico ocorre durante a fase aguda da doença de Chagas. No
primeiro estágio da doença é observada uma grande mobilização do sistema imune com o objetivo de conter
o parasito e os danos da infecção. O parasito promove a ativação inespecífica de macrófagos e células
natural killer (imunidade celular) acompanhado de ativação de linfócitos T e B, resultando numa
produção de imunoglobulinas (imunidade humoral).
O surgimento o de IgM e IgG são precoces (7 a 15 d) atingindo níveis elevados a partir da quinta
semana de infecção, o que coincide com o aumento da parasitemia detectável ao exame a fresco. Depois da
queda da parasitemia, os níveis de IgM diminuem progressivamente até desaparecerem. São raros os
casos de IgM positiva durante a fase crônica da infecção. Por outro lado, anticorpos IgG aumentam por
mais alguns meses e depois decrescem lentamente estabilizando-se. Alguns estudos têm encontrado
correlação entre a presença de altos níveis de IgM e cardiopatia chagásica crônica, níveis elevados de IgA e
forma digestiva da doença e níveis elevados de IgE anti-T. cruzi em pacientes chagásicos com a forma
cardíaca.
Na fase crônica, o mecanismo de LMCo (lise mediada por complemento) atua no controle da
infecção, sendo que os anticorpos responsáveis por este fenômeno (denominados anticorpos líticos,
subclasses IgG1 e IgG2) atuam apenas sobre tripomastigotas vivos e estão presentes em infecções
ativas. Sendo assim, métodos de diagnóstico explorando este mecanismo foram padronizados com o objetivo
de determinar a cura de pacientes tratados.
IMUNIDADE CELULAR
O parasito ativa as células NK a sintetizarem o IFN-y. Esta citocina constitui um importante mediador
da resistência a infecção e passa nos estágios posteriores da infecção a ser produzida por células T CD4' e T
CD8'. As citocinas IL-12 e TNFa (produzidas por macrófagos) e IFN-y participam desta interação de forma
cooperativa. A IL-10, antagônica ao IFN-y, também é produzida intensamente pelos macrófagos durante a
infecção. Portanto, o balanço dessas respostas determinaria o curso da infecção aguda na doença de
Chagas. Entretanto, a divisão de aspectos protetores e lesivos no paradigma Thl e Th2 não foi estabelecida
para esta infecção.
Quando se analisa as linhagens de células T, verifica-se que as células T CD4' aparentemente são
mais importantes na proteção contra a infecção por 7: cruzi na fase aguda da infecção, devido a produção de
citocinas, como IFN-g, e pelo estímulo de produção de anticorpos líticos que auxiliam na destruição dos
parasitas intra e extracelulares. As células T CD8+ parecem ter participação mais importante na fase crônica
da infecção e na gênese das lesões, estando associadas a fenômenos de citólise, fibrose tecidual e, portanto,
as manifestações cardíacas e intestinais da doença.
AUTOIMUNIDADE
A ocorrência de lesões progressivas na fase crônica da infecção, apresentando as formas clínicas
graves da doença, sugerem que a auto-imunidade atua na gênese das lesões na doença de Chagas. Isso
porque tecidos e órgãos do hospedeiro adquirem componentes do parasito sendo, portanto, reconhecidos por
anticorpos e células que atuariam sobre o mesmo, gerando lesões nos tecidos.
7. DIAGNÓSTICO
CLÍNICO
● Fase Aguda: Origem do paciente (localidade, social…), a presença dos sinais de porta de entrada
(sinal de Romana e/ ou Chagoma de inoculação) acompanhadas de febre irregular ou ausente,
adenopatia-satélite ou generalizada, hepatoesplenomegalia, taquicardia, edema generalizado ou
dos pés.
● Fase Crônica: As alterações cardíacas acompanhados de sinais de insuficiência cardíaca
confirmadas pelo eletrocardiograma e as alterações digestivas e do esôfago e do cólon (reveladas
pelos raios X).
Entretanto, em ambos os casos, é preciso diagnóstico por métodos laboratoriais para confirmação.
LABORATORIAL
● Fase Aguda: Alta parasitemia, anticorpos inespecíficos e início da formação de anticorpos específicos
(IgM e IgG). Nesta fase, recomenda-se: pesquisa direta e, se necessário, pesquisa indireta do
parasito.
EXAMES PARASITOLÓGICOS
➔ Exame de sangue a fresco; exame de sangue em gota espessa (maior acurácia)
➔ Esfregaço sanguíneo: em casos de parasitemia elevada; permite analisar a morfologia
➔ Cultura de sangue ou biópsia de linfonodos
➔ Inoculação do sangue ou creme leucocitário: observa-se os parasitos
➔ Métodos de concentração: coagular o sangue e espremer o coágulo; os parasitos vão
para o soro
➔ Xenodiagnóstico e hemocultura: muito sensíveis na fase aguda; o resultado demora
EXAMES SOROLÓGICOS
➔ Reação de precipitação: reação específica, mas não se usa mais atualmente; antígeno
homólogo (parece com o infeccioso) reage com anticorpos (se houver) no soro
➔ Reação de imunofluorescência indireta (RIFI): alta sensibilidade a partir do 15º dia;
detecta IgM (RIFI é mais indicada para a fase aguda!!!)
➔ Enzime-linked-immunosorbent-assay (ELISA): detecta anticorpos específicos; mais
indicada para a fase aguda (já que na fase crônica não há muitos anticorpos e até o IgG
é em pequena quantidade)
● Fase Crônica: Baixíssima parasitemia, presença de anticorpos específicos (IgG). Nesta fase, a
presença de anticorpos IgM é detectada esporadicamente. Recomenda-se métodos sorológicos ou a
pesquisa indireta de parasitos (esta é mais usada quando a sorologia é duvidosa)
EXAMES PARASITOLÓGICOS
➔ Xenodiagnóstico: método de pesquisa indireta; coloca-se os barbeiros (triatomíneos)
para sugar o sangue do paciente e 30 a 60 dias após é realizada análise das fezes do
inseto; é positivo se houver tripomastigotas e epimastigotas;
➔ Hemocultura: leva até 60 dias; sangue sem plasma;
➔ Inoculação em camundongos: mesma coisa da fase aguda;
EXAMES SOROLÓGICOS
➔ Reação de fixação de complemento (RFC):antígeno homólogo; técnica ultrapassada
➔ Reações de imunofluorescência indireta(RIFI): muito sensível; a mais utilizada;
antígeno e anticorpo (no soro do sangue do pct) analisados no microscópio usando anti
imunoglobulina fluorescente;
➔ Reação de hemaglutinação indireta (RHA): simples e muito sensível; fase aguda ou
crônica; hemácias sensibilizadas com antígenos do T. cruzi reagem com o soro do
paciente (se houver anticorpos, ocorre aglutinação);
➔ Enzyme-linked-immunosorbent-assay (ELISA): mecanismo semelhante ao RIFI, porém
o conjugado (anti imunoglobulina marcada com substância fluorescente) é marcado
com uma enzima.
MÉTODOS NÃO CONVENCIONAIS
➔ Lise mediada por complemento (LMCo): detecta anticorpos líticos capazes de agir sobre
tripomastigotas vivos reconhecendo uma molécula de 360kd na membrana do parasita,
lizando-os na presença de complemento humano
➔ Pesquisa de anticorpos anti tripomastigotas vivos (AATV): realizada em microplacas e
empregando suspensão de tripomastigotas vivos; permite quantificar a presença de
anticorpos presentes no soro do paciente; alta sensibilidade
MÉTODO PARASITOLÓGICO-MOLECULAR
Reação em cadeia da polimerase (PCR) é a amplificação in vitro de fragmentos de kDNA de T.
cruzi presentes em amostras de sangue ou tecidos. É uma técnica muito sensível
8. CRITÉRIO DE CURA
Os critérios clínicos são limitados, por isso, o critério de cura é estabelecido pela clínica + laboratório.
Considera-se "curado" todo paciente que apresentar além da negativação parasitológica (xenodiagnóstico,
hemocultura e PCR), negativação da sorologia convencional, LMCo e pesquisa de AATV. Isto porque já foi
verificado que pacientes que apresentaram exames parasitológicos negativos e sorologia convencional com títulos
persistentemente baixos, voltaram a apresentar positividade dos exames parasitológicos e elevação dos títulos
sorológicos em tempo variável após o fim do tratamento.
9. PROFILAXIA
MELHORIA DAS HABITAÇÕES RURAIS
Construção de casa de alvenaria em lugar das de pau-a-pique e melhoria da higiene da habitação
COMBATE AO BARBEIRO
Uso de inseticidas
CONTROLE DA DOAÇÃO DE SANGUE
Exames sorológicos e outros para selecionar o doador ou esterilização do sangue pela violeta
genciana
CONTROLE DA TRANSMISSÃO CONGÊNITA
Todo recém-nascido de mãe com sorologia positiva para T. cruzi deveria (mas não é comum) ser
examinado imediatamente após o nascimento, para pesquisa de IgM anti-T cruzi e, caso positivo, tratar
imediatamente.
VACINAÇÃO
Ainda em fase de estudos.
10. TRATAMENTO
As drogas são mais eficientes quando aplicadas em esquemas terapêuticos prolongados para
manutenção de níveis duradouros e eliminação das formas sanguíneas até a exaustão das formas teciduais.
Ambos os fármacos mostrados a seguir são mais indicados para a fase aguda.
NIFURTIMOX
Age contra as formas sanguíneas e parcialmente contra as formas teciduais. É administrado via oral,
sob a forma de comprimido na dose 8 a 12mg/kg por dia, até 90 dias. Os efeitos colaterais (que aumentam
com doses mais prolongadas) são anorexia, emagrecimento, náuseas, vômitos, alergia cutânea, parestesias
irreversíveis, polineuropatia. Esta droga foi recentemente retirada do mercado.
BENZONIDAZOL
Possui efeitos apenas contra as formas sanguíneas. Deve ser empregado em comprimidos, por via
oral, na dose de 5 a 8mg/kg por dia, durante até 60 dias. Os efeitos colaterais observados são: anorexia,
perda de peso, vertigens, dermatites urticariformes, cefaléia, sonolência e dores abdominais,
hiperexcitabilidade, depressão medular, polineuropatia (mais frequente em idosos e de efeito cumulativo).

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