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Hoje vamos aprender como rastrear, identificar e tratar as lesões neoplásicas do colo nas suas formas mais iniciais, antes que se tornem um tumor invasor com menor probabilidade de cura. Antes das medidas de políticas de saúde pública eficazes tinha-se no Brasil a estatística de 34 mil casos de câncer invasor de colo por ano, um número absurdo. E graças ao reconhecimento desse problema de saúde pública e no final dos anos 90, a mudança na política de rastreio para poder fazer uma intervenção na história natural, houve um grande sucesso que precisa ser reconhecido. Hoje a incidência de câncer de colo de útero invasor no nosso meio caiu na metade (16-17 mil casos/ano), não deixou de ser alto e ainda precisa abaixar mais, mas precisamos reconhecer a melhora. Vamos comentar sobre a vacina do HPV, que ainda vai abaixar muito esse número. Nos anos 1990 o Ministério da saúde (MS) trouxe o rastreio (que seria a busca pelas lesões em estágios iniciais) do câncer de colo de útero para atenção básica, envolveu demais profissionais de saúde, como o médico, no rastreio. E isso foi extremamente eficiente em termos de resultado a curto prazo, considerando que o câncer de colo de útero tem uma história evolutiva longa, desde uma lesão pré neoplásica até a manifestação de um tumor invasivo, passa um prazo de 10 anos ou mais, então ele dá muito tempo para gente intervir de maneira eficaz na evolução da história natural. Colo uterino: independentes, tanto do ponto de vista anatômico quanto do ponto de vista funcional (por exemplo: só tem endométrio no corpo), o epitélio de revestimento é diferente. Então o papel do colo uterino é principalmente durante a gestação, proteger/abrigar o feto que fica dentro da cavidade endometrial, e durante o momento do parto, sob contrações do miométrio se dilatar e permitir a passagem/expulsão do feto pela genitália. Além disso, permite a escoação da menstruação. Então ele funciona independentemente do corpo, tanto é possível fazer histerectomias subtotais (quando se vai tratar de uma patologia do corpo uterino) preservando o colo (as histerectomias totais, removem o corpo e colo uterino). Há indicações e contraindicações, e vantagens e desvantagens para ambas as técnicas. Pergunta: Qual faz a histerectomia subtotal, ainda precisa fazer o citopatológico? Resposta: A paciente deve ser informada que o colo não foi retirado e que ela precisa sim continuar fazendo o exame citopatológico. Raissa Novelli T.67 Aula 6 O colo é a porção intravaginal do útero -> órgão que tem forma piriforme, como se fosse uma pêra de cabeça para baixo, e ele faz essa projeção cônica para dentro da cavidade vaginal, e essa é uma grande vantagem em termo de propedêutica, uma vez que ele é facilmente acessível ao exame especular. O corpo e colo uterino, embora estejam no mesmo órgão, são absolutamente Esse colo é de uma paciente no menacme (período da Propedêutica do Colo Uterino sábado, 5 de junho de 2021 16:47 Página 1 de GINECOLOGIA paciente deve ser informada que o colo não foi retirado e que ela precisa sim continuar fazendo o exame citopatológico. que nunca entrou em trabalho de parto, geralmente é mais puntiforme, mais arredondado. O colo que já dilatou um dia, pode até não ter nascido por via vaginal mas entrou em trabalho de parto e dilatou uma vez, tem essa forma de fenda. Conceitos importantes:- Endocérvix - é a porção do colo entre o OE e o orifício cervical interno (OI) que está lá para cima, o revestimento epitelial é glandular, é um epitélio cilíndrico que secreta muco (o muco da foto anterior vem de lá). Existe também, embora não seja a forma mais comum, e tem aumentado um pouco, o adenocarcinoma de colo de útero; • Ectrópio - é o nome dado para a exteriorização que esse epitélio glandular vai sofrer durante o período de atividade hormonal na vida da paciente, esse epitélio cilíndrico- glandular que estava lá para dentro do canal cervical vai se exteriorizar, e isto é estrogênio dependente, ou seja, a partir do momento que a menina entra na puberdade, e daí em diante durante o período da fase reprodutiva da vida, ele sofre esse processo de exteriorização que chamamos de ectrópio (alguns autores chamam de ectopia); • Junção escamo-colunar - se eu tenho dois revestimentos epiteliais histologicamente distintos, o ponto de união entre eles é chamado de junção escamo-colunar (JEC). A identificação de elementos da JEC, do ponto de vista de histologia, é imprescindível/indispensável para poder avaliar que a amostra seja de qualidade para diagnóstico oncológico e principalmente nos estudos histopatológicos nos fragmentos de • Esse colo é de uma paciente no menacme (período da vida que vai da menarca a menopausa) -> é um colo que tem um trofismo normal; e é possível ter certeza que o primeiro dia da última menstruação foi a 14/15 dias por conta do aspecto do muco cervical (aspecto filante, tipo clara de ovo -> característico do muco ovulatório); e o orifício cervical externo (OE) está na forma de fenda (esse colo mostra que já houve parto, ou pelo menos já entrou em trabalho de parto alguma vez). O OE de uma nulípara, aquela Ectocérvix - o epitélio que reveste externamente o colo, é do tipo espinocelular ou escamoso. A maior parte dos cânceres de colo são carcinomas espinocelulares ou escamosos; • biópsias do colo do útero. Porque o câncer de colo uterino nasce na grande maioria das vezes na JEC, então ter representatividade da JEC nas amostras citológicas e histológicas Página 2 de GINECOLOGIA Zona de transformação - E essa região, nesse momento que está passando de uma forma histológica que é cilíndrica/colunar/glandular para uma forma mais plana/escamosa /espinocelular é chamada de zona de transformação. • microrganismos. É possível delimitar bem a área, as vezes um ponto ou outro que não fica bem delimitado, a onde está passando de um epitélio pra outro. Teste de Schiller: Teste de Schiller Negativo: Colo normal depois da aplicação de Lugol- grande maioria das vezes na JEC, então ter representatividade da JEC nas amostras citológicas e histológicas é fundamental para sensibilidade e especificidade dos exames citopatológico e histopatológico; Metaplasia escamosa - o termo metaplasia significa que um tecido se transformou em outro. Ao longo desses longos anos de exteriorização da formação do ectrópio, com o tempo esse tecido glandular vai transformar, ou seja, vai sofrer metaplasia do tipo escamoso, ele vai tornar epitélio escamoso também. Isso acontece lentamente, ao longo dos anos do período reprodutivo da vida do menacme; • JEC e ectrópio: ectocérvix (verde) - com epitélio escamoso/espinocelular; extensa área de ectrópio (rosa), ou seja, essa área estava lá para dentro do canal e ela está sofrendo uma exteriorização pelo orifício cervical externo (OE), que vai sofrer o processo de metaplasia escamosa, enquanto ela está em transformação é chamada de zona de transformação. Notem que existe uma mudança de coloração (marcado de branco), é uma área mais friável, consequentemente mais sensível a agressão por A solução iodada (base de lugol), chamada de solução de schiller, esse teste é baseado na propriedade que as células do colo são ricas em glicogênio, e que o glicogênio tem afinidade pelo Página 3 de GINECOLOGIA Teste de Schiller positivo:- epitelial e vai merecer uma investigação propedêutica adicional. Obs.: o Schiller só pode ser feito após a coleta do material, se não ele inviabiliza a qualidade do material colhido. Colpocitologia oncótica: o grande método de rastreio do colo é o exame citopatológico Finalidade: rastreio de lesões pré-neoplásicas - a finalidade hoje em dia é principalmente oncótica. Tem outras finalidades que não são tão uteis, como por exemplo, microbiológica que vem descritoo padrão da flora, ou microrganismos patogênicos. Porque o diagnóstico de vulvovaginites e cervicites é eminentemente clínico. Pode ser hormonal também, ela dá o padrão de descamação dominante, e o status hormonal da paciente - que pode ser de utilidade na investigação de puberdade precoce. Mas não é a finalidade principal, a sua finalidade é oncótica; - Sensibilidade (S): 44-78% - sensibilidade de razoável para boa; Especificidade (E): 91-96% - boa. Isso quer dizer que a paciente pode ter uma lesão de colo e não aparecer na citologia (S); e se eu achar uma célula atípica é porque deve ter alguma coisa mesmo (E). Então embora eu possa ter alguma lesão de colo que a citologia não pega, se a citologia pegar, é porque deve ter alguma coisa mesmo; - Quando iniciar? Quais são as mulheres que devem ser incluídas no programa de rastreio Ministério da Saúde preconiza que o inicio do rastreio para o câncer de colo com a Citopatologia seja aos 25 anos de idade - houve muita discussão sobre a data de início. O câncer de colo tem a história natural lenta, podendo demorar até 10 anos. Uma crítica seria quando você considera que as meninas estão tendo o início da vida sexual mais cedo, por volta dos 15 anos, até os 25 anos ela vai ter 10 anos de intervalo para que aconteça • - solução de schiller, esse teste é baseado na propriedade que as células do colo são ricas em glicogênio, e que o glicogênio tem afinidade pelo iodo. Então faz parte do exame ginecológico passar no colo essa solução iodada, de maneira a se identificar se esse colo se cora ou não homogeneamente pela solução. Essa imagem é de um teste de schiller negativo, em que o colo se cora todo, área iodo positiva. Já nessa figura temos o contrário, temos o teste de schiller positivo --> iodo negativo. Existe uma grande área (azul) em que esse epitélio deve ter alguma alteração, que vai merecer uma atenção. Teste de Schiller Negativo Área iodo-positiva Teste de Schiller Positivo Área iodo-negativa Schiller Negativo, significa que corou bem -> área iodo- positiva; Schiller Negativo, alguma área não corou direito -> área iodo-negativa. O teste de Schiller sozinho não significa muita coisa, mas ele serve para direcionar que essa área tem suspeição para algum problema Página 4 de GINECOLOGIA por volta dos 15 anos, até os 25 anos ela vai ter 10 anos de intervalo para que aconteça alguma coisa. Porém os epidemiologistas do MS levaram isso em consideração, e chegaram a conclusão que o que se perderia nesse intervalo em termos de diagnóstico não é estatisticamente significativo. Mas há sim controvérsias e críticas. Antes dessa edição de 2016, a recomendação era que o inicio da coleta de citologia se desse em até 3 anos após o início da atividade sexual (Canuto: "Eu achava uma conduta mais apropriada"). Periodicidade: intervalo entre as coletas Anual x 3/3 anos - a recomendação hoje claramente expressa, e essa tem muita fundamento fisiopatológico é que se eu tenho 2 exames citológicos, ambos negativos para malignidade colhidos em um intervalo de 1 anos, eu posso espaçar essa coleta para trianual (de 3 em 3 anos). Esse espaçamento conta com a longa história de evolução do tumor, que dá tempo de fazer o diagnósticos na época apropriada. • - Quando interromper? 65-70 anos - limite superior da população alvo. A expectativa de vida da mulher brasileira gira em torno de 80 anos, se ela não morreu até os 70 anos de câncer de colo de útero, provavelmente ela não tem expectativa de vida de morrer de câncer de colo de útero, ela vai morrer de outra coisa. • - Obs.: não quer dizer que ela (>65a) não precisa de fazer exame ginecológico, ela não precisa de fazer exame citopatológico (o exame ginecológico pode ser feito com citologia ou sem citologia). Temos que lembrar que ela continua a ter endométrio, ovário e outros órgãos que podem ser sede de câncer também. Paciente submetida a histerectomia total? - pacientes submetidas a histerectomia total não têm mais colo, então não precisam mais ser submetida ao exame. A paciente não tem obrigação de saber que ela não tem mais colo (histerectomia subtotal), então tem que fazer o exame ginecológico para ver. Nesses casos da subtotal tem que continuar fazendo. Existe uma exceção, que mesmo se a paciente tenha sido submetida a histerectomia total pode-se continuar colhendo citologia do fundo da cavidade vaginal, que é quando a paciente tem história pregressa de lesões pré-neoplásicas ou neoplásicas de colo. Então se o que motivou a histerectomia foi uma lesão de colo essas pacientes ainda tem um tempo de follow up com coleta de citologia lá no fundo da cavidade vaginal; - Técnica da coleta:- Esse palitinho é a espátula de ayre; e essa escovinha é a citobrush, é a escova cervical. A técnica correta impacta no material enviado para o patologista. A espátula de ayre tem uma indentação para se adaptar ao colo, permitindo que gire a espátula para um lado e para o outro (não pode ser muito forte, se não traumatiza o colo, mas não pode ser muito fraco, porque senão não colhe o material), a espátula colhe o material da ectocérvix; a escova colhe o material Página 5 de GINECOLOGIA Confecção do esfregaço: • mais liso é para baixo, e tem uma maneira certa de passar o material na lâmina. O material da espátula é passado na vertical, confeccionando o esfregaço longitudinal e na metade da lâmina (aproximadamente 40%) e o material da escovinha é passado na horizontal, vai rodando a escovinha, confeccionando o esfregaço transversal nos outro 50-60% da lâmina. Lembrar de fixar o material logo após, borrifando 2 ou 3 vezes o spray em uma distância de aproximadamente 30 cm, seca um pouquinho a lâmina no ar e logo após guarda na caixinha que tem que ser identificada com os dados da paciente (nome, data de nascimento, DUM). Existem muitas condições que tornam essa amostra inviável. O esfregaço é um material citológico, material descamado. Obs.: a classificação de Papanicolau não é mais utilizada hoje em dia, ela foi substituída pela de Bethesda. Ela caiu em desuso por mostrar que nem sempre corresponderia a verdade histológica definitiva. Por exemplo, poderia ter uma paciente que foi classificada como III (displasia) e para falar verdade era classe V (carcinoma invasor). A classificação de Bethesda é mais fidedigna. Obs.: de novo vou falar com vocês sobre a importância de mandar o material certinho, aquele documento que é preenchido na hora da coleta faz parte de um sistema muito importante do MS que é o SISCAN (sistema de informação de câncer do MS). O patologista quando preenche o laudo dele também vai para o SISCAN. É uma responsabilidade muito grande, para que a informação seja fidedigna, porque ao gerar falsidade estatística eu gero impacto na epidemiologia do problema, o gestor que está olhando aonde alocar recurso ele tem que ter essa informação fidedigna porque senão ele não é eficaz na sua atuação na saúde pública. Classificação de Bethesda (1988): revisada em 2001 e 2014 - o laudo tem uma padrão semelhante na descrição dos achados Qualidade do esfregaço: a primeira coisa que a classificação de Bethesda identifica é se o material colhido é suficiente para o patologista fazer o diagnóstico citológico Satisfatório; • Satisfatório, mas limitado - foi removido da classificação, hoje em dia se é satisfatório, mas limitado por considera-se insatisfatório. Situações que podem deixar o esfregaço insatisfatório ou limitado para avaliação oncótica: desde material colhido, artefato de coleta, ressecamento da lâmina, até mesmo condições inerentes a própria paciente (por exemplo, se a paciente estiver com algum sangramento ou menstruada, a única coisa que vai ter na lâmina é hemácia). Se for uma questão inerente a paciente tenta-se resolver o problema, e depois fazer uma nova coleta; • Insatisfatório.• - Obs.:esfregaço paucicelular, pobre em material - pacientes menopausadas com muitos anos de hipoestrogenismo, mas ainda estão na faixa etária de coleta. As vezes tem que fazer um estrogênio tópico e repetir a coleta em 15 dias, para melhorar a qualidade do material. Maioria ser muito fraco, porque senão não colhe o material), a espátula colhe o material da ectocérvix; a escova colhe o material da endocérvix. Na hora de confeccionar a lâmina, o lado mais fosco da lâmina é para cima e o lado Página 6 de GINECOLOGIA estrogênio tópico e repetir a coleta em 15 dias, para melhorar a qualidade do material. Maioria das vezes a descrição é da flora normal da cavidade vaginal, predominantemente lactobacilar (bacilos de Doderlein são os lactobacilos que fazem a fermentação do glicogênio e produzem ácido lático e mantém o ph vaginal mais ácido, em torno de 3,5 e 4,5). Infecções: Tricomonas, cândida, vaginose, clamídia, herpes, actinomicetos.• - Alterações reacionais: ele avalia as alterações celulares como reativas e/ou reparativas ~ inflamação. Se for só o achado citológico sem correspondente clínico não requer nenhum tratamento, o exame é complementar apenas . Inflamatório.• - Anomalias em células escamosas: Lesões de baixo ou alto grau; ASCUS - quer dizer atipias de células escamosas de significado indeterminado. • - Células glandulares: as atipias podem acometer também as células glandulares, tanto na endocérvix ou endometriais Endocervicais, endometriais; AGUS - atipias de células glandulares de significado indeterminado. • - Carcinomas e adenocarcinomas.- Colposcopia: tem que ter em todo centro secundário, não é necessário nas UBS. Os consultórios médicos privados todos têm, mas não tem necessidade de usar em toda paciente Hans Hinselmann – 1925;- É um sistema de lentes de aumento, que promove um Aumento de 6 a 40 vezes o colo uterino para gente poder enxergar adequadamente. É indicada em pacientes que tem alteração de colo identificadas a olho nu ou na citologia; - Permite guiar a biópsia de colo, obtendo amostra de área de maior suspeição - essas biópsias guiadas tem maior sensibilidade; - Colposcópio:- Achados: vou mostrar a título de ilustração mesmo, porque isso já é do especialista. - Epitélio branco (1) - epitélio aceto-branco; • Mosaicos (2);• Pontilhados;• Leucoplasias;• Orifícios glandulares espessados;• Página 7 de GINECOLOGIA Biópsia do colo uterino: Obs.: HPV - já falei no 7 período. 99% do cânceres de colo de útero tem na sua etiopatogenia uma infecção prévia pelo HPV, sendo que o contrário felizmente não é verdadeiro, a maioria das infecções pelo HPV não vão se transformar em lesões carcinomatosas. No entanto é importante Orifícios glandulares espessados;• Vasos atípicos (3);• Condilomas (4) - lesão HPV induzida. • Diagnóstico de certeza;- Preferencialmente guiada por colposcopia;- Obs.: pode ser feita de duas maneiras: a frio ou pelo CAF (cirurgia de alta frequência) CAF - é um aparelho a onde corre uma corrente elétrica. Tem uma grande vantagem, ele é propedêutico (colhe um fragmento para estudo histopatológico), diagnóstico e ao mesmo tempo, ao depender da - Conização: se dentro desse segmento tiver uma NIC III com a retirada já está tratado. • lesão, pode ser terapêutico (permite ressecar completamente uma lesão), permite inclusive fazer uma conização. Página 8 de GINECOLOGIA infecções pelo HPV não vão se transformar em lesões carcinomatosas. No entanto é importante que seja identificada e tratada a lesão que o vírus provoca, e não o vírus uma vez que não há medicamento para tratar eficazmente o vírus. O que vai fazer a segunda revolução, que nós vamos evidenciar juntos, é a questão da vacinação. É esperado, se a vacina atingir a cobertura e a eficácia esperada, que a incidência de câncer de colo de útero despenque mais ainda. Ainda temos muitas perguntas e dúvidas sobre a vacina, mas é uma estratégia eficaz de saúde pública, e esperamos colher os resultados dela a médio e longo prazo. No momento não há nenhuma recomendação que o rastreio citológico deva ser deixado de lado. O ideal é que a vacina seja feita preferencialmente antes de se dar início a vida sexual, mas pode ser aplicada depois também. A vacina adotada na rede pública é a quadrivalente, que protege contra os subtipos mais oncogênicos do HPV, que são o 16 e o 18, e também os subtipos mais relacionados a DST (condiloma acuminado). Neoplasias intraepiteliais cervicais (NICs): A revolução que aconteceu no Brasil (o rastreamento, a propedêutica do colo uterino na atenção básica de saúde) na virada dos anos 90 para o início dos anos 2000, que fez com que a incidência de Ca de colo invasor caísse pela metade no nosso meio. No entanto, e como era esperado fez aumentar a incidência das neoplasias intraepiteliais cervicais (NICs), o objetivo era esse mesmo, identificar essas lesões antes que elas se tornassem tumores maiores e menos sensíveis ao tratamento. Então a incidência de NICs em um primeiro momento e até hoje, sofrerem um aumento significativo na sua incidência, exatamente porque passamos a procurar mais e procurando mais encontramos mais lesões precoces. As NICs já são câncer do ponto de vista histológico, porém ela não ultrapassaram a lâmina basal, ou seja, não se tornaram invasoras Definição: “Espectro de alterações cito-histológicas com características intermediárias entre o carcinoma in situ e o epitélio cervical normal” Reagan 1953 - essa é uma definição antiga mas ainda válida, em um primeiro momento foi cunhado o termo Displasia, que se refere a algum grau de atipia celular, e essa displasia pode ser dividida em: Displasia em leve, moderada e acentuada, conforme a espessura do epitélio acometido. Lembrando que aqui estamos usando duas referências diferentes, uma referência citológica (ou seja, aquilo que se analisa em material colhido por descamação da parede do colo uterino) e a referência histológica (aquela que se refere ao exame do fragmento de tecido obtido, por exemplo por biópsia). ○ • - Richart – 1967 – esse autor substituiu o termo displasia por NIC de grau I, II e III, baseado em estudo anatomopatológico; - Classificação de Bethesda: que é uma classificação citológica, também inclui essa terminologia com algumas variações Lesões de baixo grau – HPV e NIC I;• Lesões de alto grau – NIC II, III e Ca in situ.• - NICs:- A antiga displasia leve foi substituída pelo termo NIC I, e significa que 1/3 da espessura do epitélio está acometida mas não ultrapassando a lâmina basal; a antiga displasia moderada hoje definida como NIC II é quando a alteração ocupa 2/3 da Página 9 de GINECOLOGIA História Natural: O carcinoma in situ se origina, no mínimo, uma década antes do carcinoma invasor - o ca de colo de útero é de progressão muito lenta, ele dá muito tempo para poder identificar as lesões precoces; • Estudos de progressão têm limitações técnicas e éticas - a gente sabe que a lesão é de evolução lenta por estudo retrospectivo, por acompanhamento; existe a questão ética, hoje em dia não se pode deixar a lesão evoluir espontaneamente para acompanhar o tempo que leva para poder evoluir; • Regressão após biópsia – Retirada de toda a lesão? Indução de resposta imune?;• Tempo médio de progressão: Displasia leve (NIC I) => ca in situ – 58 meses - quase 5 anos;○ Displasia moderada (NIC II) => ca in situ – 38 meses - quase 3 anos;○ Displasia acentuada (NIC III/ca in situ) => ca in situ – 12 meses - o tempo é menor porque é basicamente uma mesma lesão; ○ Ca in situ => ca invasor – 3 a 10 anos - até se tornar invasor, até ultrapassar a lâmina basal, é um longo período. Isso significa que temos um longo período para poder identificar essas evoluções e propor condutas adequadas. ○ • - Progressão/regressão das lesões: Östor 1993 - esse estudo mais antigocomparando a progressão e a possibilidade de regressão espontânea. - espessura do epitélio está acometida mas não ultrapassando a lâmina basal; a antiga displasia moderada hoje definida como NIC II é quando a alteração ocupa 2/3 da espessura do epitélio, sem ultrapassar a lâmina basal; a NIC III que é a antiga displasia severa, ela ocupa toda espessura do epitélio, sendo que hoje considera-se NIC III e Ca in situ, que seria o estadio O do ca de útero, como uma mesma lesão do ponto de vista histopatológico. NIC I; NIC II; NIC III; sendo essa classificação baseada em histopatologia e não em citologia. • I II III Página 10 de GINECOLOGIA Diagnóstico e conduta (citologia): baseado nas diretrizes brasileiras do ministério da saúde para o rastreamento do câncer do colo do útero As diretrizes Baseiam-se no uso da citologia, colposcopia e histologia (biópsia) - a colposcopia é um passo a seguir da citologia, e baseado no resultado da colposcopia propõe outros procedimentos de conduta para cada grau de lesão. É a utilização hierarquizada dos recursos, citologia para todo mundo, colposcopia para algumas e biópsia com estudo histológico para aquelas que tiverem alterações citológicas progressivas e identificadas na colposcopia (as biópsia de colo colposcópio dirigidas tem uma sensibilidade maior, na hora da retirada do material/fragmento pode-se ser mais específico); • Citologia normal => seguimento normal de rastreamento (anual; 3/3 anos) - o MS recomenda a citologia para faixa etária entre 25 e 64 anos. 2 exames citológicos consecutivos colhidos com intervalo de um ano, ambos negativos para malignidade permite espaçar essa coleta para de 3 em 3 anos (baseado no conhecimento de lenta progressão das lesões); • Lesão de baixo grau/HPV => repetir a citologia em 6 meses => persistência das lesões => colposcopia. • - Nomenclatura para as alterações citológicas e condutas frente aos resultados: Visa padronizar o laudo citológico, evitando interpretações duvidosas - Legenda: ASCUS: atipias de células escamosas de significado indeterminado; LSIL: lesão intraepitelial de baixo grau; HSIL: lesão intraepitelial de alto grau - que pode estar em diferentes padrões evolutivos (pode ser a antiga classe III ou antiga classe IV); AIS: carcinoma in situ. As lesões iniciais tem maior possibilidade de regressão espontânea e menor nas lesões mais avançadas, mas ainda é significativa. Esse quadro compara as classificações. A classificação de Bethesda é a que é atualmente utilizada para citologia. E a classificação própria do MS. Página 11 de GINECOLOGIA situ. Amostra insatisfatória para avaliação: já falou lá em cima na parte da qualidade do esfregaço É considerada insatisfatória a amostra cuja leitura esteja prejudicada pelas razões expostas abaixo, algumas de natureza técnica e outras de amostragem celular, podendo ser assim classificada: 1. Material acelular ou hipocelular (<10% do esfregaço);○ 2. Leitura prejudicada (>75% do esfregaço) por presença de sangue, piócitos, artefatos de dessecamento, contaminantes externos ou intensa superposição celular. ○ • Recomendações: O exame deve ser repetido em 6 a 12 semanas com correção, quando possível, do problema que motivou o resultado insatisfatório. ○ • - Alterações celulares benignas (reativas ou reparativas): não preocupamos com ela, é clinicamente pouco significativa. Corresponde na maioria das vezes a processo inflamatório inespecíficos ou específicos que vamos tratar, por exemplo, se for uma candidíase A prevalência de NIC II/III subjacente em mulheres com alterações celulares benignas é baixa (cerca de 2%). • - Inflamação sem identificação de agente - Recomendações: Havendo queixa de corrimento ou conteúdo vaginal anormal, a paciente deverá ser conduzida conforme diretriz direcionada para o tratamento de corrimento genital e doenças sexualmente transmissíveis. Seguir a rotina de rastreamento citológico como para as mulheres com resultado normal; • Na ausência de queixa ou evidência clínica de colpite, não há necessidade de encaminhamento para exame ginecológico ou tratamento ou repetição do exame citopatológico. O exame citopatológico não deve ser utilizado para diagnóstico dos processos • - Página 12 de GINECOLOGIA citopatológico. O exame citopatológico não deve ser utilizado para diagnóstico dos processos inflamatórios ou infecciosos vaginais. Células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASCUS): Conjunto de achados citológicos caracterizados pela presença de alterações celulares insuficientes para o diagnóstico de lesão intraepitelial, mas alterações mais significativas do que as encontradas em processos inflamatórios. Não tem achados suficientes para serem determinados como NIC Células escamosas atípicas de significado indeterminado, possivelmente não neoplásicas (ASC- US): • Células escamosas atípicas de significado indeterminado, quando não se pode excluir lesão intraepitelial de alto grau (ASC-H): maior proporção de células de alto grau de atipias • - Essa diferenciação da faixa etária conta com o longo tempo de evolução da lesão Avaliação do canal endocervical colhendo outra amostra de dentro do colo do útero; Página 13 de GINECOLOGIA Células glandulares atípicas de significado indeterminado, possivelmente não neoplásicas (AGC-US) ou células glandulares atípicas de significado indeterminado quando não se pode excluir lesão intra-epitelial de alto grau (AGC-H): - Já vai direto para colposcopia Página 14 de GINECOLOGIA Células atípicas de origem indefinida, possivelmente não neoplásicas ou células atípicas de origem indefinida, quando não se pode afastar lesão de alto grau: - AGC-US: esse G na terminologia é de glândulas. Essas células glandulares geralmente provem da endocérvix ou então do endométrio (principalmente em mulheres mais velhas e menopausadas), por isso tem a avaliação endometrial. Propedêutica do endométrio: US para medida da espessura; histeroscopia; e etc, falaremos mais na aula de ca de endométrio. Página 15 de GINECOLOGIA Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LoSil): isso já é NIC (é uma referência citológica, não confundam isso). Já é uma lesão mais preocupante Se > 25 anos:• - Origem indefinida porque não se sabe se a origem é glandular ou escamosa. Nesses casos vai direto para colposcopia e avaliação do endométrio também. Página 16 de GINECOLOGIA Se até 24 anos:• A biópsia dá o diagnóstico definitivo, que é o diagnóstico histopatológico. Página 17 de GINECOLOGIA Lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HiSil): Se > 25 anos: não tem controle citológico intermediário, vai direto para colposcopia• - Página 18 de GINECOLOGIA Se até 24 anos:• Página 19 de GINECOLOGIA Recomendações especiais: para cada uma dessas lesões descritas, condições e faixas etárias, existe uma recomendação diferente/especial para esses grupos de mulheres Gestantes; Pós-menopausa; Imunossuprimidas.• - Seguimento pós-tratamento de NIC II/III (NIC é nomenclatura histológica proposta por Richart): trata a lesão (retira da lesão, conização) e não o vírus, então depois tem que fazer acompanhamento Nos casos em que o exame histopatológico da peça cirúrgica mostrar margens livres de doença ou comprometidas por NIC I, a mulher deverá ser submetida à citologia seis e 12 meses após o procedimento. A colposcopia poderá ser realizada a critério do serviço. Após o primeiro ano, o seguimento deverá ser realizado com citologia anual até completar cinco anos do tratamento na unidade básica de saúde; • Nos casos em que o exame histopatológico da peça cirúrgica mostrar qualquer uma das margens comprometidas por NIC II/III, o seguimento deverá ser feito com exame citopatológico e colposcopiasemestrais nos primeiros dois anos. Após os dois primeiros anos, o seguimento deverá ser feito com a citologia anual até completar cinco anos do tratamento, na unidade básica de saúde; • Em ambos os casos, após os primeiros cinco anos do tratamento a mulher (de acordo com a faixa etária dela) deverá retornar para o rastreamento citopatológico trienal. A história de doença intraepitelial tratada deverá ser informada no pedido do exame citopatológico (a atenção do patologista é diferenciada). Um novo procedimento excisional estará indicado quando houver comprometimento das margens cirúrgicas por NIC II/III, seja ecto ou endocervical, e não for possível o seguimento por questões técnicas ou da mulher; • Na evidência de lesão residual ou recorrente, a mulher deverá ser conduzida da mesma forma quando da lesão inicial. • - Página 20 de GINECOLOGIA forma quando da lesão inicial. Lesão intraepitelial de alto grau não podendo excluir microinvasão ou carcinoma epidermóide invasor: também é achado citológico. Microinvasor já ultrapassou a lâmina basal, já não é mais ca in situ não é mais estadiamento 0, já é estadiamento IA O carcinoma microinvasor constitui o estadiamento IA da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) e também é denominado microcarcinoma; • Todas as pacientes que apresentem exame citopatológico com diagnóstico de lesão de alto grau não podendo excluir microinvasão ou carcinoma epidermóide invasor, ou tenham suspeita clínica de câncer na unidade básica, devem ser encaminhadas à unidade secundária para colposcopia. • - Diagnóstico e conduta (citologia): Colposcopia negativa => repetir citologia endocervical (escovinha);• Insatisfatória sem lesão => repetir citologia endocervical;• Insatisfatória com lesão => biópsia ou exérese da lesão;• Positiva => biópsia ou exérese da lesão.• - Diagnóstico e conduta (histopatológico): Até NIC III com margens livres => repetir citologia e colposcopia em 6 meses;• Até NIC III com margens comprometidas ou espécime insatisfatório => repetir citologia e colposcopia em 2 meses => persistência da lesão => tratamento (ablação, CAF, conização, histerectomia); • - Obs: no caso de lesão de alto grau e margens acometidas, recomenda-se a conização Carcinoma ou adenocarcinoma invasores => tratamento terciário.• Página 21 de GINECOLOGIA
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