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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE NUTRIÇÃO Camila Ferreira Gonçalves RA- 418102991 Débora Almeida Nascimento RA- 418106957 Letícia Oliveira Machado RA- 418106880 Taila Cristina Pedroso RA – 420105893 INFLUÊNCIA DA NUTRIÇÃO NA ANSIEDADE E DEPRESSÃO São Paulo 2021 Página | 1 UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE NUTRIÇÃO Camila Ferreira Gonçalves RA- 418102991 Débora Almeida Nascimento RA- 418106957 Letícia Oliveira Machado RA- 418106880 Taila Cristina Pedroso RA – 420105893 INFLUÊNCIA DA NUTRIÇÃO NA ANSIEDADE E DEPRESSÃO Trabalho desenvolvido para obtenção de nota na disciplina de “Trabalho de Conclusão de Curso – TCC” Orientadora: Profa. Dra. Renata Marciano Linha de Pesquisa: Diagnóstico e Intervenção Nutricional São Paulo 2021 Página | 2 Resumo A Ansiedade e a Depressão são doenças psicológicas que podem estar diretamente associadas a uma alimentação desequilibrada e inadequada, seja pelos costumes alimentares carregados desde a infância, ou em decorrência do próprio transtorno mental. Os hábitos alimentares e o estilo de vida desempenham um papel importante no quadro clínico dos indivíduos acometidos. As estatísticas mostram que cerca de 344 milhões de pessoas no mundo, sofrem com depressão, o diagnóstico da depressão requer a presença de sintomas, a soma e a gravidade destes possibilitam determinar o grau do episódio depressivo. A ansiedade é uma patologia complexa e minuciosa, ela é mais que um simples transtorno e uma emoção negativa que deixa um sentimento constante de angústia e medo. A alimentação adequada e a preservação de uma microbiota intestinal saudável têm se mostrado eficiente na prevenção e controle dos sintomas de depressão e ansiedade. Alguns nutrientes são de extrema importância para a regulação da cascata de neurotransmissores como dopamina, GABA, serotonina, entre outros. Esse trabalho tem como objetivo fazer uma revisão da literatura mostrando a influência da alimentação no controle da depressão e ansiedade. Tem sido realizado muitos estudos sobre esses transtornos, sua origem e seus efeitos no organismo, em busca de encontrar meios eficazes de intervenção, porém ainda são necessários mais estudos em humanos para saber os efeitos diretos sobre os neurotransmissores e as patologias em questão. Palavras-chave: nutrição e depressão, nutrição e ansiedade, neurotransmissores, serotonina, dopamina, ácido gama-aminobutírico (GABA), alimentação e depressão, alimentação e ansiedade, microbiota intestinal e depressão, dieta mediterrânea. Página | 3 Abstract Anxiety and Depression are psychological illnesses that can be directly associated with an unbalanced and inadequate diet, either due to eating habits from childhood, or as a result of the mental disorder itself. Dietary habits and lifestyle play an important role in the clinical picture of affected individuals. Statistics show that about 344 million people in the world suffer from depression. The diagnosis of depression requires the presence of symptoms, and the sum and severity of these symptoms make it possible to determine the degree of the depressive episode. Anxiety is a complex and detailed pathology, it is more than a simple disorder and a negative emotion that leaves a constant feeling of anguish and fear. Proper nutrition and the preservation of a healthy intestinal microbiota have been shown to be efficient in the prevention and control of symptoms of depression and anxiety. Some nutrients are extremely important for the regulation of the neurotransmitter cascade such as dopamine, GABA, serotonin, among others. This paper aims to review the literature showing the influence of food on the control of depression and anxiety. There have been many studies about these disorders, their origin, and their effects on the body, in an attempt to find effective means of intervention, but more studies in humans are still needed to know the direct effects on the neurotransmitters and the pathologies in question. Key Words: depression and nutrition, anxiety and nutrition, neurotransmitters, serotonin, dopamine, gamma-aminobutyric acid, diet and depression, diet and anxiety, intestinal microbiota and depression, mediterranean diet. Página | 4 Sumário 1. Introdução ........................................................................................... 05 2. Objetivo ................................................................................................ 07 3. Metodologia ......................................................................................... 07 4. Revisão da literatura ........................................................................... 08 4.1 Depressão e Ansiedade .......................................................................... 08 4.2 Neurotransmissão e Neurotransmissores ............................................... 09 4.3 Alimentação ............................................................................................ 18 4.3.1 Magnésio ...................................................................................... 18 4.3.2 Zinco ............................................................................................. 19 4.3.3 Triptofano ...................................................................................... 19 4.3.4 Ácidos Graxos – Omêga 6 e Omêga 3 ......................................... 20 4.3.5 Vitaminas do complexo B ............................................................. 21 4.3.6 Vitamina D .................................................................................... 21 4.4 Microbiota Intestinal ............................................................................... 24 5. Considerações Finais ............................................................................ 34 6. Referências Bibliográficas .................................................................... 35 Página | 5 1. Introdução Os neurônios são organizados em redes e comunicam-se por meio de sinapses, que são uma aproximação entre duas células neuronais em que as duas membranas ficam separadas por um espaço, denominado fenda sináptica. A comunicação entre os neurônios acontece pela transmissão de impulsos nervosos que são convertidos em sinalização química, denominados neurotransmissores. (1) Os neurotransmissores são liberados quando ocorre a abertura de canais de cálcio e sódio, que ocorre nos neurônios pré-sinápticos, permitindo a liberação de neurotransmissores na fenda sináptica que irá se fundir nas membranas dos neurônios pós-sinápticos, gerando o potencial de ação. O fim desse potencial de ação e, consequentemente, da liberação de neurotransmissores, é caracterizado pela inatividade dos canais de sódio e abertura dos canais de potássio. (1) As falhas desses neurotransmissores podem causar patologias como: - Depressão: caracterizado por um transtorno mental, comprometendo o estado físico e psicológico do indivíduo, normalmente causado pela insuficiência de dopamina e/ou serotonina, tendo como sintomas: tristeza persistente, perda de interesse por atividades que normalmente geravam prazer, falta de energia, alteração no sono e apetite, prejudicando significativamente a capacidade do indivíduo de praticar atividades diárias. As estatísticas mostram que cerca de 344 milhões (4,4%) de pessoas no mundo, sofrem com depressão sendo, mais comum em mulheres (5,1%) do que em homens (3,6%). (2–4) - Ansiedade: também causada por um transtorno mental, caracterizado por emoções negativas, comconstante sentimento de angústia e medo além, de sintomas corporais como tensão física, apreensão em relação ao futuro e inquietação. Normalmente, causada pela deficiência de neurotransmissores inibitórios, no caso GABA e/ou serotonina. Cerca de 264 milhões (3,6%) de pessoas no mundo, sofrem com ansiedade sendo, mais comum em mulheres (4,6%) do que em homens (2,6%). (4,5) Página | 6 Neste contexto, a ansiedade e depressão podem estar relacionados a uma dieta inflamatória, com excesso no consumo de alimentos ricos em açúcar, gorduras e conservantes. Logo, um padrão de alimentação saudável com compostos bioativos pode ter um efeito protetor no tratamento dessas patologias, assim como o consumo de maior quantidade de fibras provenientes de frutas, legumes e verduras. (6) Os estudos evidenciaram a importância de uma conduta nutricional com o aumento do consumo por alimentos ou suplementação de vitaminas A, C, E e complexo B, além dos minerais, como zinco e magnésio, bem como incluir fontes alimentares que contenham triptofano e ômega 3, para o controle dos sintomas de ansiedade e de depressão. (6) Considerando que a depressão e a ansiedade podem causar malefícios a saúde física, psicológica e social, o presente trabalho tem a finalidade de justificar a importância da promoção de uma alimentação saudável, imprescindível na prevenção e no auxílio da recuperação dessas doenças. Página | 7 2. Objetivo Revisar o impacto da alimentação equilibrada e nutrientes específicos no controle da depressão e ansiedade. 3. Metodologia O presente trabalho foi realizado por meio de uma revisão da literatura científica que visa à importância de um estilo de vida alimentar saudável para o controle da depressão e ansiedade, de acordo com uma consulta a base de dados da PubMed, Medline, Lilacs, Scielo e Google Acadêmico, bem como textos de livros científicos. Foram selecionados artigos científicos de meta-análise, retrospectivos, prospectivos e estudo de coorte observacional, de publicações nacionais e internacionais, em idiomas português e inglês, considerando trabalhos de 2010 até 2021. O critério de exclusão foram artigos de revisão e textos científicos inferiores a dez anos. Para pesquisa foram considerados os descritores: nutrição e depressão, nutrição e ansiedade, neurotransmissores, serotonina, dopamina, ácido gama- aminobutírico (GABA), alimentação e depressão, alimentação e ansiedade, microbiota intestinal e depressão, dieta mediterranea e suas correspondentes em inglês, depression and nutrition, anxiety and nutrition, neurotransmitters, serotonin, dopamine, gamma-aminobutyric acid, diet and depression, diet and anxiety, intestinal microbiota and depression, mediterranean diet. Página | 8 4. Revisão da Literatura A alimentação é uma necessidade biológica para a nossa sobrevivência, entretanto, os valores culturais e simbólicos são incorporados à alimentação dos humanos, determinando seu comportamento alimentar, o qual é originado por aspectos demográficos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, psicológicos e nutricionais de um indivíduo ou sociedade. (5) 4.1 Depressão e Ansiedade A depressão é classificada pela OMS como o maior contribuinte para a incapacidade global (7,5%) e mortes por suicídio, que são cerca de 800.000 por ano. (3) As estatísticas mostram que cerca de 344 milhões de pessoas no mundo, sofrem com depressão sendo, no Brasil, aproximadamente 5,8% da população (que corresponde a 11.548.577 de pessoas). Entre os afetados, sabe-se a maioria são mulheres 5,1% dos índices em relação aos homens, que correspondem 3,6%. (4,7) Estudos indicam que é possível que a divergência entre a prevalência do transtorno entre homens e mulheres seja explicada pela diferença de funcionamento e ações do sistema hormonal, além de parâmetros socioculturais relacionados às variadas experiências, questões psicológicas e fisiológicas durante situações estressantes. (7,8) Como a 4ª causa principal de deficiência a depressão supostamente representa a maior parte da carga total de doenças (10,3%) e 76,4 milhões de pessoas são consideradas inválidas por todo o mundo. (7,9) O diagnóstico da depressão requer a presença de sintomas, a soma e a gravidade destes possibilitam determinar o grau do episódio depressivo. Sendo necessária a internação para os níveis moderados e graves, essencialmente quando há ideação suicida ou possíveis projetos de autodestruição. (10) A ansiedade é uma patologia complexa e minuciosa, ela é mais que um simples transtorno e uma emoção negativa que deixa um sentimento constante de angústia e medo. É considerada por muitos estudiosos o mal do século, um estado emocional que é voltado sempre ao futuro. É uma emoção natural do Página | 9 ser humano, apesar de trazer sensações desagradáveis como angústia, apreensão e alterações físicas, ela se faz presente para a autopreservação, mas quando exagerado com sintomas mais intensos ela passa a ser patológica, trazendo prejuízos em vários aspectos pessoais. Existem vários transtornos de ansiedade, sendo o de Ansiedade Social (TAS) e o de Ansiedade Generalizada (TAG) os que mais se destacam por interferirem no convívio social e nas atividades do cotidiano em geral. (5,10,11) Os sintomas da ansiedade são caracterizados por um conjunto de comportamentos (parecer preocupado, ansioso e inquieto), isto é uma resposta que origina no cérebro e se reflete elevando o batimento cardíaco e a tensão muscular, dispneia, falta de ar, fraqueza nas pernas e dormência nas extremidades. Como consequência leva a uma hiperventilação causando dor, tremor, secura da boca, sudorese, arrepios, vômitos, palpitação, dores abdominais e outras alterações biológicas e bioquímicas consequentes da hiperatividade do sistema nervoso. Cerca de 264 milhões (3,6%) de pessoas no mundo, sofrem com ansiedade sendo, mais comum em mulheres (4,6%) do que em homens (2,6%). (5,11) Tem sido realizado muitos estudos sobre esses transtornos, sua origem e seus efeitos no organismo, em busca de encontrar meios eficazes de intervenção, entre eles está o uso da função dos neurotransmissores a favor do controle da ansiedade, depressão e das emoções derivadas delas. (5) 4.2 Neurotransmissão e Neurotransmissores O sistema nervoso central contém mais de 100 bilhões de neurônios, organizados em redes e que se comunicam na forma de potencial de ação, chamados de impulsos nervosos que se propagam por sucessão de neurônios, por meio de sinapses. A sinapse é uma aproximação entre duas células neuronais em que as duas membranas ficam separadas por um espaço, denominado fenda sináptica. A comunicação entre os neurônios acontece pela transmissão de impulsos nervosos que são convertidos em sinalização química, denominados neurotransmissores. (1,12) Nessas sinapses, o primeiro neurônio que secreta neurotransmissor, chamado neurônio pré-sináptico vai atuar em proteínas receptoras, presentes Página | 10 na membrana do neurônio pós-sináptico, para promover excitação, inibição ou ainda modificar de outro modo a sensibilidade dessa célula. (1,12) Característica especial da maioria das sinapses é que o sinal normalmente se propaga apenas na direção anterógrada, do axônio de um neurônio precedente para os dendritos localizados nos neurônios seguintes. Esse fenômeno possibilita que o sinal trafegue na direção necessária para executar as funções nervosas requeridas. (1,12) O terminal dos axônios tem dois tipos de estruturas internas importantes para a função excitatória ou inibitória da sinapse: as vesículas transmissoras e as mitocôndrias. As vesículas transmissoras contêm o neurotransmissor que, quando liberada na fenda sináptica, excita ou inibe o neurônio pós-sináptico. As mitocôndrias fornecem o trifosfatode adenosina (ATP), que, por sua vez, supre a energia necessária para sintetizar novas moléculas da substância transmissora. (12) Os neurotransmissores são liberados quando ocorre a abertura de canais de cálcio e sódio, nos neurônios pré-sinápticos, permitindo a liberação de neurotransmissores na fenda sináptica que irá se fundir nas membranas dos neurônios pós-sinápticos, na qual é reconhecida pelos receptores, gerando o potencial de ação, que serão conduzidos aos demais neurônios. O fim desse potencial de ação e, consequentemente, da liberação de neurotransmissores é caracterizado pela inatividade dos canais de sódio e abertura dos canais de potássio. A transmissão sináptica precisa ser interrompida, a fim de controlar a ação excessiva dos neurotransmissores. Para que isso ocorra, há uma diminuição da concentração de neurotransmissores na fenda sináptica por difusão lateral, recaptação de neurônios e degradação enzimática desses neurotransmissores. (1,12) Página | 11 Figura 1 - Sinapse Química Fonte: Guyton, Hall, 2017. (12) A recaptação do neurotransmissor é realizada pelo neurônio pré- sináptico, que possui proteínas transportadoras, assim, os neurotransmissores presentes na fenda sináptica ligam-se ao transportador, que se encontra na membrana pré-sináptica, para que esses neurotransmissores sejam rearmazenados e reutilizados em outro momento. Já a degradação é feita, na maioria, pelas enzimas monoamina oxidase (MAO), que são responsáveis por quebrar as moléculas dos neurotransmissores. (1) Na sinalização neural, células especializadas transferem um impulso elétrico (potencial de ação) a partir de uma extremidade da célula (o corpo celular) ao longo de uma extensão citoplasmática alongada (o axônio). Existem três tipos de canais iônicos controlados por voltagem que são essenciais a esse mecanismo de sinalização. Ao longo de todo o comprimento do axônio estão canais de Na+ controlados por voltagem, permanecem fechados quando a membrana está em repouso, mas se abrem brevemente quando a membrana é despolarizada em resposta aos neurotransmissores. Também distribuídos ao longo do axônio estão canais de K+ controlados por voltagem, os quais se Página | 12 abrem, uma fração de segundo mais tarde, em resposta a despolarização quando os canais de Na+ próximos se abrem. (1,12,13) O Na+ encontra-se em maior quantidade no meio extracelular, porém quando os neurotransmissores são lançados para a fenda sinápticas, esses canais iônicos se abrem, permitindo o influxo de Na+, através de exocitose por receptores inotrópicos, causando um potencial excitatório. Já o potencial pós sináptico inibitórios ocorre com a mobilização de K+ para fora da célula ou de Cl- para o meio interno, causando por uma hiperpolarização, afastando os neurônios pós sinápticos. Entretanto, os canais de K+ são muito mais lentos e o pico de permeabilidade dos canais de K+ abrem -se bem depois aos de Na+. (1,13,14) Existe também os receptores metabotrópicos são acoplados a proteína G na membrana pós-sinápticas, o componente intracelular, que atravessa toda a membrana pós-sináptica até alcançar o interior do neurônio pós-sináptico. A ativação dos receptores controla a abertura dos canais iônicos na célula pós- sináptica mediante a ativação de um “segundo mensageiro” que não é canal iônico e, sim, molécula que, projetando-se para o citoplasma da célula, ativa uma ou mais substâncias localizadas no interior do neurônio pós-sináptico. (1,12) Nessa revisão vamos focar apenas alguns neurotransmissores ligados à ansiedade e depressão. Figura 2 - Neurotransmissores e Neuromoduladores Fonte: Marane, 2015 . (15) Página | 13 A serotonina é um neurotransmissor monoamina que desempenha um papel em várias funções biológicas complexas. Ele atua na forma de hormônio, neurotransmissor e mitógeno em nosso corpo. Esse complexo neural ficou conhecido como sistema serotonérgico. (16,17) A maior concentração de serotonina está nas células enterocromafins do trato gastrointestinal com pequenas quantidades no sistema nervoso central, periférico e nas plaquetas. A serotonina induz alterações na célula por sua ação sobre os receptores serotonérgicos, que estão acoplados a diferentes proteínas G mediando alterações intracelulares. (15–17) A serotonina desempenha vários papéis no corpo humano, como influenciar no aprendizado, memória, felicidade e recompensa, bem como processos fisiológicos, como regulação do sono, comportamento e apetite, porém a função, clinicamente, mais relevante, quando em níveis baixos, é nos transtornos psiquiátricos como: ansiedade, depressão e manias. (8,16,17) O aminoácido essencial para síntese de serotonina é o triptofano, podendo ser adquirido através da alimentação. O triptofano será hidroxilado a 5- hidroxitriptofano (5-HTP) pela triptofano hidroxilase. Em uma segunda etapa, o 5-HTP sofre descarboxilação para formar 5-HT. Após a formação de serotonina, ela é armazenada em grânulos secretores nos neurônios serotoninérgicos e liberada por exocitose, durante o processo de despolarização neural, se ligando aos seus receptores pós-sinápticos específicos de 5-HT ou autorreceptores pré-sinápticos. (15–17) A ligação da serotonina ao receptor autólogo atua como um feedback negativo para a liberação subsequente na fenda sináptica. O papel do transportador de serotonina altamente seletivo (SERT) é remover a serotonina da fenda sináptica. Depois que a serotonina é transportada para os neurônios pré-sinápticos, ela será reciclada de volta para as vesículas pré-sinápticas, protegendo-as assim do metabolismo. O metabolismo da monoamina oxidase (MAO) ocorre no citoplasma dos neurônios pós-sinápticos. (8,16,17) A serotonina das células enterocromafins é liberada na circulação portal e é rapidamente eliminada do plasma por meio da absorção de plaquetas e do metabolismo hepático. Os transportadores de serotonina nas membranas Página | 14 plaquetárias e células enterocromafins podem capturar a serotonina nessas células. A 5-HT que escapa da absorção e do metabolismo do fígado, chega aos pulmões, onde é metabolizada. (8,16) Estima-se que 90% da serotonina no corpo humano é armazenada em células enterocromafins localizadas no trato gastrointestinal. Após a secreção luminal e basolateral, o composto é absorvido pelas plaquetas circulantes. Uma vez ativada, a serotonina funciona na motilidade intestinal por meio da estimulação dos neurônios mioentéricos. (8,16) Embora, apenas 10% da serotonina seja produzida por neurônios localizados no sistema nervoso central, é por sua função no cérebro que é mais conhecida. É no SNC que a serotonina muda o humor, a ansiedade e a felicidade, aumentando a estimulação nervosa e os impulsos elétricos. Alguns tipos de drogas aumentam os níveis de serotonina no cérebro para produzir efeitos como aumento do apetite, aumento do impulso sexual, euforia e até alucinações. (8,15,16) Estudos comprovam que uma alimentação rica em triptofano não garante que o aminoácido irá se transformar em serotonina no cérebro, mesmo que a concentração tenha aumentado no plasma sanguíneo. A concentração de triptofano no cérebro é influenciada pela captação desse aminoácido na circulação sanguínea, pois o transportador localizado na barreira hematoencefálica (BHE) é compartilhado com outros aminoácidos neutros (valina, tirosina, isoleucina, leucina e fenilalanina). (15) Podemos concluir que uma dieta rica em carboidratos, aumenta a disponibilidade de triptofano na BHE, diminuindo a competição com os aminoácidos neutros, já que com o aumento da insulina, eles serão desviados para os músculos, onde ocorrerá a síntese proteica. (15) A dopamina é um neurotransmissor do grupo das aminas biogênicas, da classe das catecolaminas, sendo um importante envolvido no controle damotilidade, nos mecanismos de recompensa, nas emoções e ainda em funções cognitivas e endócrinas. A dopamina, a noradrenalina e a adrenalina são passos sucessivos da cascata de Biosintética que se inicia com a tirosina, um aminoácido não essencial, ou seja, sintetizado pelo corpo através do Página | 15 aminoácido fenilalanina que será convertido em tirosina pelo fígado. A maior parte da tirosina é obtida através de alimentos como: legumes, verduras, ervilhas, feijão, nozes, castanha do pará, castanha de caju, abacate, centeio e cevada. (15,18) Nos neurônios dopaminérgicos, a dopamina é o produto final da via das catecolaminas. Todos os neurônios dopaminérgicos tem como início a tirosina, transportada através da barreira hematoencefálica por um processo ativo, convertida em L-dopa pela enzima tirosina hidroxilase. A L-dopa por sua vez é convertida em dopamina por uma descarboxilase específica. (15) A dopamina é armazenada nas vesículas sinápticas A entrada da dopamina está dependente do gradiente de pH estabelecido por uma proteína presente na membrana da vesícula. A liberação de dopamina na fenda sináptica envolve exocitose, com despolarização da membrana. (15) A via dos adrenérgicos continua e a dopamina é convertida em noradrenalina pela dopamina hidroxílase. A noradrenalina é o transmissor primário para os neurónios pós-ganglionares simpáticos. Nas células cromafins da medula supra-renal a via continua, é adicionado um radical metilo à noradrenalina para produzir a hormônio adrenalina. (15,19) Uma vez no espaço sináptico a dopamina difunde-se e é rapidamente captada pelos receptores da membrana pós-sináptica. A dopamina pode também ser recaptada pelo neurônio pré-sináptico e reincorporada em vesículas por transportadores de alta afinidade. Pode também ser degradada quer na fenda sináptica ou no terminal pré-sináptico. As catecolaminas são rapidamente metabolizadas pela catecol-Ometiltransferase (COMT) e pela monoaminoxidase (MAO), convertidas à forma O-metilada e desaminadas, respectivamente, produzimos o ácido homovanílico (HVA), que é secretado na urina. (15,19) As catecolaminas produzem seus efeitos através da ativação de receptores metabotrópicos. Os receptores dopaminérgicos são encontrados pré e pós sinapticamente. Podemos agrupar os receptores de dopamina em duas classes distintas: a família D1, que inclui os receptores D1 e D5, ligados a estimulação da Adenil ciclase, e a família D2, que inclui D2, D3 e D4, ligados a inibição da Página | 16 adenil ciclase. A ativação da adenil ciclase leva à produção do segundo mensageiro cAMP, que leva à produção da proteína quinase A (PKA), que posteriormente faz a transcrição no núcleo, já os receptores D2 a D4 acoplam- se aos locais inibidores de G, que inibem a adenil ciclase e ativam os canais de K+. (15,19) O estresse fisiológico ou emocional e a ansiedade que ele produz permitem que um organismo evite perigos e forneça motivação para atingir objetivos. No entanto, o excesso de estresse pode ter efeitos deletérios, incluindo o surgimento de transtornos psiquiátricos importantes, como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, uso de drogas e esquizofrenia. Os estressores, entretanto, não são todos iguais; eles podem diferir em intensidade, curso de tempo ou natureza. (15,18,19) A hipoatividade dopaminérgica pode ser ligada a algumas formas de depressão. Também pode estar relacionada com o excesso de apetite e a síndrome do pânico. Muitos dos sintomas vistos na depressão - como anedonia e a motivação - têm sido mais consistentemente associados a disfunções no sistema DA. Estudos identificaram hiperatividade na área cortical pré-frontal como um correlato da depressão. Além disso, descobriu-se que a amídala é hiper-responsiva a estímulos com carga emocional na depressão, principalmente àqueles estímulos que têm um componente afetivo negativo. (15,18) O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do SNC e é o oposto do neurotransmissor excitatório glutamato. Por ser tão importante no processo de excitação e inibição, a maioria dos neurônios possuem receptores glutamatérgicos e gabaérgicos. Nesse sentido, transtornos de ansiedade, coordenação motora, epilepsia, distúrbios do sono e esquizofrenia têm como ponto em comum a hiperexcitabilidade, essa situação é consequência do aumento da atividade glutamatérgica e redução da transmissão gabaérgicas. (1,19) O ciclo glutamato-GABA-glutamina é o processo multicelular pelo qual o glutamato, a glutamina e o GABA são processados. O GABA é formado a partir da descarboxilização do glutamato pela enzima glutamato descarboxilase, nos Página | 17 neurônios pós-sinápticos com dependência da piridoxina (vitamina B6) como cofator. (19) Interneurônios GABA expressam dois subtipos de receptores de GABA: GABAA e GABAB . O receptor mais proeminente, GABA A, é um canal de íon Cl dependente de ligante (ionotrópico), ou seja, quando o potencial de ação atinge os interneurônios gabanérgicos, os canais de cálcio dependente se abrem, ocorrendo o influxo no terminal axônico e aumentando o efluxo de potássio, estimulando o movimento das vesículas sinápticas, liberando, por exocitose, o GABA na fenda sináptica, causando a inibição neural. (1,19,20) O GABA-B é um receptor acoplado à proteína G e estão localizados principalmente em locais pré-sinápticos. A ativação dessa classe de receptores (metabotrópico), resulta na abertura dos canais de potássio com uma produção de corrente inibitória lenta ou na redução do influxo de cálcio via inibição da atividade da adenilato ciclase e dos canais de cálcio dependentes de voltagem nos terminais dos axônios, resultando na modulação da atividade intracelular e liberação de neurotransmissores, respectivamente. Os receptores GABA-B estão presentes como autoreceptores que inibem a liberação de GABA ou heterorreceptores que reduzem a liberação de glutamato, norepinefrina, serotonina ou dopamina. Os receptores pré-sinápticos GABA-B também são acoplados a canais de potássio retificadores internos acoplados à proteína G para estimular a captação de potássio e causar hiperpolarização, limitando a liberação de glutamato. (1,20,21) Em pacientes com transtorno depressivo maior (TDM) e animais expostos a estresse crônico, foi observado a diminuição da expressão de marcadores de interneurônios GABAérgicos e alterações em GABA A e GABA B níveis de receptor. Os neurônios gabaérgicos desempenham um papel importante no término da resposta ao estresse por meio da regulação do eixo hipotálamo- pituitária-adrenal (HPA), e a interrupção dessa resposta regulatória contribui para os efeitos anormais da exposição crônica ao estresse. No cérebro, esse estresse crônico altera a função desses neurotransmissores e a resposta da neuroplasticidade adequada, que podem precipitar a depressão em seres humanos. (19,20) Página | 18 O GABA é inibidor do hormônio liberador de corticotropina (CRF) e vasopressina, que são neuropeptídeos que estimulam o eixo hipotálamo- pituitária-adrenal (HPA). Esse eixo está associado ao estresse, portanto, a hiperatividade crônica do eixo HPA, contribuída em parte pelo GABA, está associada ao estresse patológico, depressão e ansiedade. A amígdala, um local do cérebro para a criação e armazenamento de memórias associadas ao medo, também está associada a transtornos de ansiedade, pois os pacientes com ansiedade geralmente apresentam hiperativação da amígdala. Embora a depressão esteja, geralmente, associada a alterações na dopamina, norepinefrina e serotonina, os déficits de sinalização de GABA também desempenham um papel importante. (19,20) O teste de plasma GABA pode ser usado para apoiar o diagnóstico de transtornos de humor e transtorno de uso de álcool como um teste específico, porém tem baixa sensibilidade e é usado mais comouma ferramenta de pesquisa do que uma medida clínica padronizada. (19,20) 4.3 Alimentação A Ansiedade e a Depressão são doenças psicológicas que podem estar diretamente associadas a uma alimentação desequilibrada e inadequada, seja pelos costumes alimentares carregados desde a infância, ou em decorrência do próprio transtorno mental. Os hábitos alimentares e o estilo de vida desempenham um papel importante no quadro clinico dos indivíduos acometidos, desse modo, é importante a manutenção e incentivo de um padrão de alimentar saudável com o consumo de hortaliças, frutas, grãos integrais, laticínios de baixo teor de gordura, peixes e azeite para uma melhora na sintomatologia e nos marcadores inflamatórios desses transtornos. Buscando intervenções nutricionais que amenizem as deficiências de ácidos graxos ômega-3, vitaminas do complexo B, minerais e aminoácidos precursores de neurotransmissores, carências nutricionais mais comumente encontradas em pacientes depressivos e com ansiedade. (2,6) 4.3.1 Magnésio O magnésio está envolvido em mais de 300 processos celulares, incluindo sistemas de defesa inflamatória. Possui também um papel essencial no Página | 19 metabolismo energético participando da formação e utilização de adenosina trifosfato (ATP) e na regulação iônica do cérebro. Quando os neurônios não conseguem fornecer a energia necessária para manter as bombas iônicas funcionando de forma adequada, ocorre uma disfunção cíclica na liberação de cálcio e glutamato, podendo assim, originar danos neuronais. (6,22) A depleção de magnésio leva a hiperatividade do aspartato e, como consequência, sintomas depressivos, ansiedade, alterações neuroendócrinas, distúrbios do sono e aumento da inflamação. Os níveis séricos de magnésio são mais baixos em adultos com depressão em relação aos não deprimidos. O magnésio foi identificado como um nutriente deficiente pelo Comitê Consultivo de Diretrizes Dietéticas de 2015 porque é subconsumido pela EUA ressaltando a importância da ingestão adequada. (22) 4.3.2 Zinco O mineral exerce influência no neurotrófico derivado do cérebro, que está diretamente ligado aos transtornos depressivos devido a sua capacidade de aumentar a sobrevivência das células do Sistema Nervoso Central. A suplementação de zinco tem sido associada a uma promotora redução em diversos marcadores inflamatórios, como: interleucina-6, proteína C reativa e fator de necrose tumoral, tais marcadores associados aos sintomas depressivos. Sendo assim, a influência do zinco como aliado aos sistemas imune e nervoso, deixa evidente suas propriedades antidepressivas. Deficiências graves resultam em distúrbios neurológicos e sintomas comuns aos distúrbios depressivos, incluindo disfunção imunológica, irritabilidade, alterações de humor e deficiências cognitivas. (6,22) Os mecanismos antidepressivos propostos para o zinco hiperatividade glutamatérgica e interações complexas com o sistema serotonérgico e múltiplos alvos intracelulares. Uma meta-análise recente de 3 ensaios clínicos randomizados mostrou que a suplementação de 25 mg de zinco como adjuvante ao tratamento antidepressivo dentro de 6-12 semanas tem um efeito positivo nos sintomas depressivos de pacientes com depressão maior. (22) 4.3.3 Triptofano Página | 20 O triptofano é o único precursor da serotonina, neurotransmissor ligado ao temperamento humano, sua concentração plasmática é determinada, principalmente, pelo balanço entre a ingestão dietética e sua remoção do plasma para síntese proteica. Como a serotonina está envolvida na regulação do humor e da ansiedade, os baixos níveis de serotonina no cérebro podem contribuir para o aumento da ansiedade e da depressão. A ingestão adequada do aminoácido e equilibrada de nutrientes que envolvem a composição dessa enzima (magnésio e vitaminas do complexo B) é essencial no tratamento do transtorno mental. Geralmente é recomendado que adultos saudáveis consumam cerca de 5mg / kg de peso corporal por dia de triptofano, aumentando a disponibilidade deste nutriente. (6,23,24) Os aminoácidos neutros (alanina, valina, leucina, fenilalanina, prolina, triptofano, metionina e isoleucina) competem com o triptofano por seu transporte através da barreira hematoencefálica pelo transportador L1, preferencial de leucina. Uma alimentação rica em triptofano aumentará a disponibilidade de triptofano no cérebro para a biossíntese de 5- hidroxitriptamina (5HT, serotonina). Porém, essa dieta geralmente contém também outros aminoácidos em altas concentrações, de modo que a alteração da proporção de triptofano para a de aminoácidos neutros é muito baixa. Alguns nutrientes antioxidantes podem ter dois efeitos positivos nas taxas de produção de serotonina: eles protegem a tetrahidrobiopterina (BH4), cofator da enzima triptofano 5-hidroxilase (T5H), da oxidação e, assim, apoiar a biossíntese de serotonina, diminuindo a formação de interferon de citocina do tipo Th1g (IFN-g) e, portanto, a atividade da indolamina 2,3-dioxigenase (IDO), que resgata o triptofano e aumentando o seu transporte para o cérebro. (24) 4.3.4 Ácidos graxos Ômega 3 e Ômega 6 São ácidos graxos poli-insaturados essenciais, e assim sendo, não são sintetizados pelo organismo e precisam ser introduzidos pela ingestão de fontes alimentares para a manutenção no indivíduo. (6) Segundo LAKHAN et al (2008), dados epidemiológicos e estudos clínicos já comprovaram que ácidos graxos ômega-3 podem trazer resultados efetivos no tratamento da depressão. O consumo diário de suplementos contendo de 1,5 a Página | 21 2g de EPA significou uma efetiva melhora no humor de pacientes depressivos. (6) Sabendo que o processo inflamatório agudo pode afetar diretamente o Sistema Nervoso Central, é fundamental a manutenção de uma alimentação saudável, rica em ômegas 3 e 6, em quantidades e porções adequadas para o desenvolvimento e fortalecimento neurológico, notoriamente determinante para a amenização dos sintomas do quadro clínico. (6) 4.3.5 Vitaminas do complexo B A deficiência de vitamina B6, B9 e B12 pode estar diretamente vinculada ao surgimento do quadro depressivo, pois exercem função importante em um carbono na síntese dos neurotransmissores de moaminas, incluindo serotonina, domapina, noroepinefrina e epirefrina, todos conhecidos por afetar humor e cogniçao. O consumo inadequado dessas vitaminas é um fator de risco para indivíduos depressivos, podendo causar queda na síntese de neurotransmissores ou aumento na concentração de homocisteína, aminoácido corresponsável pelo aparecimento de diversas patologias e consequentemente relacionado à baixa efetividade dos medicamentos, principais fatores responsáveis pela recaída na intervenção médica proposta. O aumento da homocisteína leva a produção de agentes neurotóxicos, superativando os receptores glutamatérgicos. (6,22) Até o momento, a maioria dos estudos transversais, vários estudos prospectivos e metanálises mostraram baixos níveis de folato sérico ou eritrocitário, baixos níveis séricos de vitamina B12, baixa ingestão de ácido fólico e vitamina B12 na dieta e altos níveis séricos de homocisteína está associada a um risco aumentado de depressão. Os baixos níveis de ácido fólico também estão associados à depressão grave e maior duração dos episódios depressivos. (25) O uso de suplementos de ácido fólico pode, possivelmente, prevenir ou retardar o início da depressão maior entre pessoas com sintomas depressivos. Além do folato a alta ingestão de vitamina B6 e B12 mostraram ser protetoras em um estudo prospectivo. (25) Página | 22 4.3.6 Vitamina D A vitamina D é produzida principalmente através da exposição solar e pode ser adquirida através da ingestão alimentar. No entanto, ela precisa antes ser metabolizada no fígado e em seguida nos rins, para que ocorra a conversão para suaforma biologicamente ativa. (6) Devido o quadro depressivo, os indivíduos tendem a ficar mais reclusos e isolados, consequentemente, inibem a síntese da vitamina no organismo proveniente do sol. A deficiência contribui para o aparecimento dos sintomas ligados às doenças mentais e afeta a função cognitiva. A suplementação é essencial, bem como, o incentivo a exposição solar nos horários recomendados, podendo trazer expressivos benefícios ao tratamento, apesar de escassos, os estudos são promissores neste sentido. (6) No SNC encontramos receptores de vitamina D e a sua enzima ativadora, 1 α-hidroxilase, uma vez que a vitamina D consegue transpor a barreira hematoencefálica, sugerindo que essa vitamina pode ter propriedades autócrina/parácrina no cérebro humano. A vitamina D também influencia na síntese de alguns neurotransmissores ligados a depressão e ansiedade, como a dopamina e noroepinefrina. É sabido também que ela tem papel importante na regulação da ação dos níveis de fator neutrófico derivada do cérebro (BNDF). A deficiência de BNDF pode causar diversos problemas como neurodegeneração e disfunção cognitiva, bem como depressão. A suplementação de vitamina D tem se mostrado eficiente, pois mostram aumento de BNDF. (26) Um artigo de revisão baseado em estudos transversais encontrou associação inversa entre a concentração de 25 (OH) D e marcadores inflamatórios em pessoas com quantidade insuficiente de 25 (OH) D circulante. Outro estudo apontou que a suplementação de vitamina D reduziu níveis de TNF-α e IL-6, que são associadas á depressão. O aumento de vitamina D através de suplementação também se mostrou importante a marcadores de estresse oxidativo reduzidos, diminuição da expressão gênica relacionada à apoptose celular e perda do potencial mitocondrial. (26) Página | 23 Quadro 1 - Fontes Alimentares de Vitaminas, Minerais e outros Elementos. Suplementos e Minerais Alimentos Fontes Ômega 6 Castanha de caju, semente de uva, amendoim, óleo de milho, nozes, óleo de soja, óleo de girassol, semente de girassol, avelã. Vitaminas do complexo B – B6 (PIRIDOXINA) Gérmen de trigo, farinha de mandioca torrada, amendoim cru em grãos, nozes, batata inglesa assada, banana, fígado de galinha cozido, chocolate ao leite, alfavaca crua, abacate, salsa crua, carne, soja, lentilha, acelga crua, farinha láctea, cenoura, leite. Vitaminas do complexo B – B9 (ÁCIDO FÓLICO) Gérmen de trigo, feijão fradinho cozido, grão de bico cozido, espinafre, feijão preto cozido, feijão branco cozido, abacate, aspargo cozido, pão integral, ervilhas cozidas, laranja, banana. Vitaminas do complexo B – B12 (CIANOCOBALAMINA) Fígado de boi, ostras cozidas no vapor, salmão assado, carne bovina grelhado, lombo grelhado, queijo suíço, ovo, leite, frango. Vitamina D Sardinha enlatada, camarão, bacalhau, creme de leite, fígado de porco, manteiga, gema de ovo, queijo. Página | 24 Fonte: adaptada de Franco, 2005; Pacheco, 2011; TACO, 2006. (21) 4.4 Microbiota Intestinal A microbiota intestinal é um complexo ecossistema que povoa o trato gastrointestinal (TGI), constituída predominantemente por bactérias, sendo em maior quantidade os filos Bacteroidetes e Firmicutes. A composição da é definida geneticamente, sendo já adquirida ao nascimento e se estabelece por volta de 2 anos de idade, mas pode sofrer influência de fatores ambientais como idade, localização geográfica, dieta e uso de medicamentos. (21,27,28) A microbiota intestinal possui muitas funções em nosso organismo como: regulação e absorção de nutrientes, estímulo do sistema imunológico, produz Triptofano Queijo, amendoim, castanha de caju, carne de frango, ovo, ervilha, pescada, amêndoa, abacate, couve-flor, batata, banana, leite, cereais integrais, berinjela, soja kiwi, brócolis, tomate, nozes, alface. Zinco Ostra crua, Agrião, Farelo de trigo, Pasta de gergelim, Cogumelos frescos, Semente de abóbora, Broto de alfafa, Escarola, Farinha de arroz, Carne moída, Contrafilé grelhado, Salsinha fresca, Carne assada, Fígado de boi, Acelga, Costela assada, Gema de ovo, Peru, Aveia, Lentilha, Espinafre, Pão de trigo, salsa. Magnésio Salsa, Cebola, Semente de linhaça, Farinha de soja, castanha de caju, Soja, Espinafre, Figo, Ostra, Feijão fradinho, Linguado, Amêndoa, Alfavaca, Cavalinha, Grão de bico, Abacate, Manjericão, Nozes, Quiabo, Farelo de Aveia, Fubá, Jaca, Feijão preto, Sardinha, Bacalhau, Filé de frango, Couve manteiga, Uva passa, Leite integral e desnatado, Maracujá, Mamão, Mandioca, Merluza. Ômega 3 Truta, sardinha, semente de linhaça, óleo de fígado de bacalhau, nozes, sementes de chia, óleo de salmão, atum, peixe branco. Página | 25 componentes necessários para renovação celular de seu epitélio, atua na produção de vitaminas e enzimas, entre outros. (27) O TGI através do eixo intestino-cérebro é um elo fundamental entre a microbiota e os transtornos de humor. Modificações nesse eixo e, especialmente na composição da microbiota, desencadeiam o que chamamos de disbiose intestinal, onde há um predomínio de bactérias patogênicas sobre as consideradas benéficas. (28,29) Muitos autores reconhecem a comunicação bidirecional intestino-cérebro, via sistema nervoso autônomo (SNA), entérico (SNE), neuroendócrino, imunológico, central (SNC) e microbiota intestinal. (28) A disbiose pode aumentar a permeabilidade da mucosa intestinal, facilita a entrada de toxinas e gera inflamação, o que ativa o sistema nervoso parassimpático por modular o SNC e o SNE, regulando as características epiteliais no intestino. Como há um aumento na produção de citocinas inflamatórias que ativa as vias que se relacionam com padrões moleculares danificados pelo estresse (DAMPs), por bactérias e seus produtos, os padrões moleculares associados a microrganismos (PAMPs). (28) O aumento da permeabilidade da membrana intestinal é a porta de entrada de microrganismos patogênicos e seus metabólitos, os lipopolissacarídeos (LPS) e fosfatase alcalina (AP). Os LPS podem atuar nos receptores neurais entéricos, em neurônios sensoriais aferentes da medula espinal e em células cerebrais. Quando ativam os receptores troll-like da micróglia, causam liberação direta de citocinas no SNC ou sua liberação indireta no TGI. (27,28) Há evidências de que os LPS estão ligados a depressão e fadiga crônica quando se tem um aumento das imunoglobulinas IgA e IgM séricas. (28) As fibras colinérgicas da mucosa intestinal é uma rede composta por interneurônios aferentes, eferentes e células da glia, que têm relação com a secreção, a motilidade e respostas inflamatórias. (28) Outro mecanismo associado a depressão é o eixo hipotálamo - hipófise (pituitária) - adrenal (HPA) que regula a liberação de cortisol por meio de feedback negativo , mas estressores ou inflamações podem causar a Página | 26 hiperatividade do eixo HPA, resultando no aumento de cortisol, aumentando a supressão do sistema imune, que vai gerar o aumento de citocinas inflamatórias (IL-6, IL-1, TNF-α), levando a um maior risco de depressão e ansiedade, podendo ser normalizada ou prevenida alterando o eixo microbiota- intestino-cérebro através da modulação da microbiota intestinal. (21,28,29) O início dos estudos sobre o eixo microbiota - intestino - cérebro se deu através da observação de que existe uma alta incidência de depressão e ansiedade em pacientes com doenças inflamatórias intestinais e síndrome do intestino irritável. Modelos animais que têm depressão mostram uma microbiota alterada em comparação com os controles. (21,27) O efeito direto da microbiota intestinal foi demonstrado em estudos que identificaram camundongos e ratos nascidos e criados em ambiente livre de microbiota quepossuíam comportamentos emocionais semelhantes ao da ansiedade. (21,27) Página | 27 Figura 3 - O papel da microbiota intestinal nas intervenções dietéticas para depressão e ansiedade Fonte: Bear, Dalziel, Coad, et al, 2020. (27) A exaustão dos neurotransmissores monoaminas é considerada o maior fator de risco para depressão, e a maioria dos antidepressivos atuais visa aumentar os níveis dos neurotransmissores monoaminas na sinapse. Eles desempenham papéis essenciais na manutenção da homeostase em todo o corpo humano e na regulação do desenvolvimento e da plasticidade dos circuitos neurais envolvidos nos transtornos do humor, como a depressão. 5- HT, um mensageiro parácrino utilizado por células enterocromafins e um sistema de interneurônios mioentéricos descendentes longos, está causalmente implicado em múltiplas facetas nervosas centrais do controle do humor. (21) Página | 28 Dopamina e o sistema dopaminérgico são muito importantes para regular a anedonia, uma característica central da depressão. Curiosamente, DA também impacta a motilidade intestinal e a secreção intestinal, e o sistema DA está supostamente envolvido na função do eixo microbiota-intestino-cérebro. A E. faecium, um membro natural reconhecido da flora GI, demonstrou modular o sistema imunológico e influenciar o hospedeiro por meio de vias dopaminérgicas, e camundongos tratados com Bifidobacterium em longo prazo mostraram aumentar os níveis de DA e 5-HT e melhorar os comportamentos semelhantes à depressão. As cepas de Lactobacillus brevise e Bifidobacterium dentium , que são produtoras de GABA são capazes de metabolizar o glutamato monossódico ideal para produzir GABA, novamente indicando que a modulação da microbiota pode ser considerada uma abordagem terapêutica promissora para a depressão. (21) O número de espécies de Bifidobacterium e Lactobacillus no trato intestinal de pacientes deprimidos está significativamente reduzido, e os probióticos podem estar implicados na expressão reduzida de mRNA de receptores GABA associados a transtornos depressivos. Digno de nota, L. rhamnosus é conhecido por reduzir os níveis de corticosterona induzida por estresse em camundongos e melhorar o comportamento semelhante à depressão. (21) Os metabólitos microbianos podem desempenhar papel importante, pois algumas bactérias são capazes de produzir neuromoduladores e/ou neurotransmissores encontrados no sistema nervoso de animais, como GABA, serotonina, dopamina e norepinefrina. Os ácidos graxos de cadeia curta (SCFA), particularmente butirato, contribuem para diminuir a inflamação intestinal e aumentar a integridade epitelial intestinal. Os SCFAs ativam os receptores de ácidos graxos livres, que parecem ter um efeito antiinflamatório direto na ativação microglial, além de serem geralmente antiinflamatórios. Nenhuma diferença em SCFAs foi encontrada nas amostras fecais de pessoas com depressão em comparação com controles saudáveis, mas quando as amostras fecais foram transplantadas em camundongos, um aumento no acetato fecal e total de SCFAs foi encontrado as bactérias intestinais também Página | 29 são uma fonte significativa de vitaminas, incluindo vitamina K-2 (menaquinona) e vitaminas B niacina (B3), biotina (B7), folato (B9) e piroxidina (B6). (27,29,30) A maioria dos prebióticos são fibras, no entanto, não é um pré-requisito para ser considerado um prebiótico. Conforme a pesquisa contínua, é provável que componentes dietéticos adicionais, como polifenóis, possam ser reconhecidos como prebióticos. Os prebióticos estão presentes nos alimentos, por exemplo, cebola, raiz de chicória e trigo, ou em forma de suplemento dietético. (27,29,30) Os compostos prebióticos promovem seletivamente o crescimento e a atividade microbiana de bactérias benéficas e conferem resultados positivos à saúde. Normalmente aumentam as concentrações de Bifidobactérias e Lactobacilosmas. Os prebióticos mais pesquisados são as fibras solúveis frutanos (frutooligossacarídeos FOS e inulina) e galactanas (galactoolissacarídeos GOS). (27,29,30) Os fenólicos e os fitoquímicos apresentam efeitos prebióticos, embora alguns dos benefícios à saúde possam ser provenientes de metabólitos secundários produzidos microbianamente. O ácido linoleico conjugado e os PUFAs também são considerados candidatos a prebióticos. Até o momento, as evidências do impacto dos prebióticos no humor são confusas, mas em sua maioria positivas. (27,29,30) Os estudos com GOS e FOS tem-se mostrado promissor em humanos, demonstram efeito ansiolítico, numa dosagem de 5g/dia ou mais, porém esse estudo foi realizado em indivíduos saudáveis. Outros dois estudos demonstraram efeitos positivos para pessoas com síndrome do intestino irritável. (21,29) Os prebióticos demonstraram efeitos psicobióticos, bactéria ou fonte de suporte para bactérias que afeta beneficamente a relação entre a microbiota e o cérebro, melhorando regiões cerebrais que controlam as emoções e as sensações, dessa maneira, impactando positivamente na ansiedade e depressão, além de ser relevantes no tratamento de distúrbios gastrointestinais e obesidade. (21,27,28) Página | 30 O conceito válido é que probióticos são microrganismos vivos, que quando aplicados em quantidades satisfatórias, concedem proveitos à saúde do hospedeiro, 107 demonstraram benefícios para a saúde mental. São inerentes a muitos alimentos fermentados, por exemplo, iogurte, chucrute e kefir, e estão disponíveis comercialmente como suplementos dietéticos. O consumo de probióticos pode promover as funções do microbioma gastrointestinal, incluindo a inibição de espécies patogênicas, integridade da barreira epitelial e modulação da resposta imune. (21,29) Os probióticos, quando consumidos por via oral, atravessam o estômago e se acostam na mucosa intestinal, dificultando a fixação epitelial de bactérias patogênicas. Seus efeitos imunomoduladores vêm sendo estudados, e descobriu-se que a ingestão de Lactobacillus rhamnosus facilita e altera a atuação de outras bactérias, afetando a microbiota intestinal. (21) Estudos clínicos comprovaram os efeitos favoráveis dos probióticos nas doenças do trato gastrointestinal, tais como síndrome do intestino irritável, eliminação de bactérias Helicobacter pylori, doença inflamatória intestinal e diarreias, e em doenças alérgicas de pele como a dermatite atópica. É relevante atentar que nem todas as espécies de bactérias probióticas integram a microbiota intestinal humana normal e que os efeitos benéficos conferidos a uma cepa não podem ser difundidos para outras. Apesar do mecanismo de ação dos probióticos ainda ser desconhecido, sugere-se que vários estejam envolvidos. (21,29) Estudos que investigam o efeito de probióticos de cepa única no humor relataram melhorias em humanos. Além disso, o cortisol salivar estava elevado no tratamento com placebo, mas não em indivíduos que consumiam tratamento com probióticos, conforme o exame se aproximava. Também é importante observar que os efeitos probióticos das bactérias dependem da cepa. Probióticos multi-cepas também demonstraram a capacidade de melhorar o humor em populações saudáveis ou doentes. (29) Para compreender completamente os efeitos dos probióticos no humor, estudos adicionais de intervenção precisam ser conduzidos em populações Página | 31 saudáveis e doentes e as dosagens prescritas do probiótico e da cepa devem ser semelhantes aos estudos anteriores. (21,29) A ingestão habitual de grupos alimentares específicos tem sido associada ao estresse e à depressão. Foi relatado que a ingestão de fibra alimentar derivada de frutas e vegetais, mas não a ingestão total, solúvel ou insolúvel de fibra, está inversamente relacionada aos sintomas de depressão. Quando elas são fermentadas por microrganismosresidentes, resultam na produção de ácidos graxos de cadeia curta (SCAF). Porém a ingestão inadequada ou falta de fibras na alimentação leva a microbiota a uma privação de nutrientes, com isso os microrganismos resistentes usam as glicoproteínas do muco secretado, desgastando a barreira do muco do cólon aumentando a permeabilidade da barreira intestinal. (27,29,30) A dieta mediterrânea com suplementação de óleo de peixe pode melhorar a saúde mental e a qualidade de vida de pacientes com depressão. Durante a intervenção dietética de 6 meses, estipulou - se o consumo diário de cápsulas de óleo de peixe e foi realizado oficinas quinzenais, orientando os alunos a preparar e cozinhar refeições de acordo com a dieta mediterrânea, já o grupo controle não recebeu nenhum treinamento e suplemento, mas participaram de workshops quinzenais. Após três meses os participantes não fizeram mais os workshops, mas continuaram a suplementar o óleo de peixe até o final, o grupo de controle melhorou todos os resultados desde o início. No entanto, o grupo da dieta mediterrânea mostrou uma melhora maior ao longo do estudo em comparação com o grupo de controle. Nenhuma mudança nos resultados de três a seis meses foi relatada, apesar de pontuações semelhantes na dieta mediterrânea entre os dois grupos. A adesão a uma dieta para reduzir os sintomas de depressão e o aconselhamento nutricional reduziram os sintomas de depressão em indivíduos com depressão maior. (27,29,30) A ingestão de gordura na dieta também pode influenciar a microbiota gastrointestinal e a inflamação. Resumidamente, a ingestão de gordura na dieta estimula a secreção de ácidos biliares. (27,29,30) Página | 32 A adesão à dieta mediterrânea pode reduzir o número de bactérias patogênicas, por exemplo Escherichia coli, e aumentam as principais bactérias simbióticas, como Bifidobacterium, Clostridium e Bacillus frederi e também aumentaram os metabólitos dos microrganismos, incluindo concentração de SCFA nas fezes, metabólitos fenólicos, ácido benzóico e Ácido 3- hidroxifenilacético. Está provado que a dieta vegetariana, também, reduz a inflamação intestinal. (27,29,30) Assim, a alta ingestão de gordura na dieta pode reduzir o número total de bactérias no intestino grosso, enquanto a proporção de bactérias gram- negativas é aumentada, aumentando uma importante fonte de lipopolissacarídeos. (27,29,30) Há evidência fornecida a partir de ensaios clínicos sugere que a qualidade da dieta afeta o humor. A relação entre fibra e humor é menos explorada do que os n-3-PUFAs. No entanto, ambos podem melhorar o humor reduzindo a inflamação sistêmica. (27,29,30) Estudos em camundongos indicam que o efeito antiinflamatório do ω- 3FA pode ser devido ao seu efeito na microbiota. Na dieta fornecida a camundongos do tipo selvagem, uma dieta com uma alta proporção de ω-6 FA a ω-3 FA (como uma dieta típica em uma dieta humana de estilo ocidental) aumentou a concentração de endotoxemia LPS e indicadores metabólicos de ligação de proteínas no soro, bem como o aumento da permeabilidade, em comparação com camundongos transgênicos gordos-1 alimentados com a mesma dieta. (27,29,30) Outro estudo realizado em ratos mostrou que a suplementação com ω- 3FAs (EPA e DHA) está relacionada à restauração dos distúrbios da flora intestinal causados pelo estresse nos primeiros estágios da vida. A falta de ω- 3FA na dieta pode aumentar os comportamentos de medo das crianças, diminuir as habilidades sociais e aumentar os comportamentos depressivos na idade adulta. Não há dúvida de que a dieta está relacionada a diferenças na composição de ácidos graxos no cérebro, mas também a diferenças nas características da microbiota fecal. As mudanças nos números da microbiota Página | 33 mostraram a proporção de Firmicutes para Bacteroidetes foi aumentada pela deficiência de ω-3 FA. (27,29,30) A ingestão dietética de ω-3 FA não está apenas diretamente relacionada à concentração de EPA ou DPA e processos neurológicos. Para aqueles com inflamação sistêmica causada por disfunção intestinal, é importante a proporção de ω-3 FA e ω-6 FA na dieta. (27,29,30) Um grande impulsionador do efeito da dieta na composição da microbiota intestinal é a variação nas proporções, quantidades e tipos de macronutrientes. Uma dieta rica em carboidratos tende a aumentar a fermentação microbiana e a produção de SCFA, porém depende da quantidade, tipo de fibra e carboidratos que chegam ao cólon. A fermentação de proteína também gera SCFA, ácidos graxos de cadeia ramificada, sulfetos e compostos fenólicos, porém os tipos de bactérias promovida pelo consumo de proteínas ainda não é bem definida. (27,29,30) O aumento do consumo de gordura, altera a composição da flora intestinal por meio da estimulação da bile e sua modulação em produtos biliares ácidos secundários, também pode afetar o metabolismo, a inflamação e a permeabilidade intestinal por meio da microbiota intestinal, provavelmente mediada por LPS e o receptor CD14. (27,29,30) Os compostos dietéticos também interagem entre si e podem compensar seus efeitos individuais. O aumento de carboidratos na dieta, particularmente compostos prebióticos, pode reduzir alguns dos produtos da fermentação de proteínas porque o carboidrato é o substrato prioritário. (27,29,30) O aumento da inflamação e da endotoxemia em camundongos causada por uma HFD (dieta rica em gordura) foram atenuadas pela suplementação de polifenóis ou extratos de plantas ricos em polifenóis. A suplementação com polifenóis também foi associada a diferenças nas bactérias intestinais, incluindo um aumento em Firmicutes e Verrucomicrobia, Akkermansia spp e uma diminuição de Bacteriotides. (27,29,30) Página | 34 Estudos em camundongos mostraram que os emulsificantes podem alterar a composição da microbiota intestinal, aumentar o potencial pró- inflamatório da microbiota intestinal, aumentar a permeabilidade da camada de mucosa intestinal e alterar o comportamento semelhante à ansiedade. O sal é outro aditivo alimentar que tende a estar em alta concentração em alimentos processados e o aumento da salinidade nas fezes pode aumentar a proliferação de algumas bactérias patogênicas. A maltodextrina reduz a produção de muco e aumenta a inflamação intestinal, aumentando o estresse do retículo endoplasmático. As ligações entre uma dieta ocidental e a depressão podem incluir um efeito dos aditivos alimentares na microbiota intestinal. (27,29) Página | 35 5. Considerações Finais O comportamento alimentar pode ser bastante afetado pelas emoções, visto que as suas escolhas alimentares, as quantidades ingeridas e a frequência das refeições dependem de vários fatores, sendo um deles as emoções e não apenas as suas necessidades fisiológicas. A ansiedade e depressão são patologias que afetam uma grande parte da população e como recurso de tratamento, medicamentos e psicoterapia são as principais intervenções utilizadas. O monitoramento nutricional e fitoterápico é considerado como tratamento adjuvante importante para essas patologias. Suplementação de nutrientes como zinco, magnésio, vitamina A, C, D, E e complexo B, assim como inclusão de alimentos contendo triptofano e ômega 3 tem se mostrado eficiente no tratamento dessas doenças. Uma dieta saudável com melhores fontes de nutrientes ou suplementos é boa para prevenir e ajudar na recuperação dessas doenças. A dieta Mediterrânea tem se mostrado efetiva no tratamento de doenças psiquiátrica devido a sua grande quantidade de fibras, fitoquímicos e gorduras poli e monoinsaturadas em comparação a dieta ocidental. Apesar dos escassos estudos em humanos, fica claro que existe uma inter-relação entre microbiota intestinal, eixo intestino cérebro e as patologias mentais. A modulação da microbiota intestinalpela alimentação tem sido cada vez mais tentada, e algumas estratégias têm mostrado efeitos benéficos e promissores. Desta forma, é possível afirmar-se que o comportamento alimentar sofre alterações de acordo com o estado emocional, pois existe uma relação direta entre boa alimentação e saúde nutricional, porém para compreender melhor os mecanismos entre alimentação, depressão e ansiedade, estudos clínicos e animais adicionais e o desenvolvimento de abordagem analítica são extremamente fundamentais. Página | 36 6. Referências Bibliográficas 1. Cardoso BR, Cozzolino SM. Doenças neurológicas - aspectos bioquímicos, fisiológicos e nutricionais. In: Cozzolino SM, Cominetti C. Bases Bioquímicas e Fisiológicas da Nutrição: Nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença. 2. ed. São Paulo: Manole; 2020. p. 1378. 2. Sezini AM, Gil CSG do C. Nutrientes E Depressão. Vita Sanitas [Internet]. 2014;08:p.39-57. Available from: http://fug.edu.br/revista/index.php/VitaetSanitas/article/viewFile/29/21 3. 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