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DESCRIÇÃO Estudo introdutório das bases da Nutrição Funcional e a importância na melhora e manutenção da saúde vital, bem como a influência dos fatores dietéticos e ambientais no desenvolvimento humano. PROPÓSITO Compreender o conceito e a origem da Nutrição Funcional para capacitar o profissional no atendimento individualizado do paciente, englobando a modulação de reações bioquímicas por meio de nutrientes e fitoquímicos. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer os princípios que norteiam a Nutrição Funcional MÓDULO 2 Reconhecer as implicações dietéticas em diferentes fases da vida MÓDULO 3 Compreender a interação droga-nutriente e suas implicações no envelhecimento MÓDULO 1 Reconhecer os princípios que norteiam a Nutrição Funcional INTRODUÇÃO O termo nutrição funcional foi criado, em 1990, pelo médico Jeffrey Bland, idealizador do Instituto para Medicina Funcional (IMF). Aplica-se à manifestação de mudanças nos processos fisiológicos básicos que influenciam não apenas a doença conhecida do indivíduo, mas as alterações nas funções orgânicas apresentadas, desde sua vida uterina até o seu presente estado clínico. Foto: Shutterstock.com É uma ciência integrativa que se baseia na pesquisa científica, cuja aplicação prática engloba tanto a prevenção como o tratamento de doenças, através de dietas elaboradas de acordo com a individualidade bioquímica de cada pessoa, levando em consideração seu genótipo e sua suscetibilidade genética no desenvolvimento de doenças. PRINCÍPIOS DA NUTRIÇÃO FUNCIONAL Alguns princípios que permeiam a Nutrição Funcional, como os que veremos detalhadamente a seguir, são trabalhados na teia das interconexões, considerando os processos bioquímicos e desequilíbrios nutricionais. Dessa forma, a abordagem da Nutrição Funcional rastreia sinais e sintomas, associando características individuais a inadequações de nutrientes (deficiência e/ou excessos) a fim de corrigi-los. Quando não há correção deste possível desequilíbrio, o sistema imunológico pode se sobrecarregar desencadeando alergias tardias e ainda doenças crônicas não transmissíveis. A Nutrição Funcional volta sua atenção para os fitoquímicos e nutrientes, atuando na modulação de diversas reações bioquímicas que estão envolvidas nas doenças. TRATAMENTO CENTRADO NO PACIENTE Uma importante abordagem do tratamento nutricional funcional é que o foco não é centrado na doença, e sim, no paciente. Isso só acontece porque, a inter-relação entre sistemas orgânicos, ambiente, cultura e fatores emocionais é considerada, assim como os antecedentes familiares e individuais, e o estilo de vida. Isso permite o olhar individualizado para o paciente, indicando as particularidades dos sinais e sintomas apresentados por ele. O sistema ATMs (Antecedents, Triggers, and Mediators, traduzido como Antecedentes, Gatilhos e Mediadores) deve ser sempre utilizado para que os desequilíbrios nutricionais, citados anteriormente, sejam identificados. Nesse sistema: Os antecedentes incluem o histórico de vida e familiar. Os gatilhos englobam fatores que podem se originar a partir de estresse mental, físico e/ou oxidativo, radiação, lipopolissacarídeos bacterianos (LPS) e ainda por alguns micro-organismos. Já os mediadores podem estar associados às diferentes disfunções do organismo e são conhecidos como: mediadores químicos (hormonais, neurotransmissores, radicais livres e citocinas), cognitivos e/ou emocionais (crenças), culturais e sociais. EQUILÍBRIO EMOCIONAL E BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES A ação dos nutrientes e sua absorção no âmbito celular são dependentes da adequação na ingestão, mas também do equilíbrio entre esses componentes, levando em consideração a matriz alimentar, forma de preparo e competição desses nutrientes no organismo, além da capacidade de absorção do indivíduo. INDIVIDUALIDADE BIOQUÍMICA É um dos princípios básicos da terapia nutricional funcional, definidos pelo conjunto de fatores genéticos, fisiológicos e bioquímicos individuais que participam do funcionamento do organismo com as respectivas necessidades nutricionais. Sendo assim, cada indivíduo apresenta um perfil de necessidade e/ou deficiência nutricional, que pode ser determinado por avaliação detalhada de sinais e sintomas apresentados e ainda pelo ambiente ao qual está exposto. AMBIENTE São fatores ambientais os hábitos alimentares, toxinas, poluentes e estresse. SAÚDE COMO VITALIDADE POSITIVA A saúde refere-se ao perfeito estado de bem-estar físico, mental e social, de acordo com a definição da OMS. O tratamento deve ter o objetivo de modular os possíveis desequilíbrios ocorridos. Dessa forma, a saúde plena pode ser atingida. javascript:void(0) A seguir, estudaremos a influência de diversos destes fatores na concepção e sua relação com a saúde do indivíduo ao longo da vida. PROGRAMAÇÃO METABÓLICA Já está descrito na literatura que o período em torno da concepção é crucial para os processos de mediação das influências dos pais na saúde da próxima geração. Fatores ambientais dos pais, incluindo dieta, composição corporal, metabolismo e estresse, afetam o risco de saúde e doenças crônicas nas pessoas ao longo de suas vidas, frequentemente, denominadas programação de desenvolvimento/programação metabólica. Imagem: Shutterstock.com Surgiu, dessa forma, o conceito de “origens do desenvolvimento da saúde e doenças” (DOHaD), propondo que a experiência de desenvolvimento pobre pode provocar aumento do risco de doenças não transmissíveis na vida adulta, particularmente, comorbidades cardiovasculares e metabólicas, como hipertensão, obesidade e diabetes tipo 2, condições atópicas e algumas formas de câncer, bem como comprometimento neurológico. ATENÇÃO Um foco recente na pesquisa DOHaD tem sido investigar durante a gravidez quando o concepto é mais vulnerável a tais influências adversas, informando, assim, a proteção direcionada e a possível intervenção (BARKER, 2013). Os estudos na área do DOHaD iniciaram-se com as observações epidemiológicas de Barker e colaboradores, que associaram o baixo peso ao nascer com maior risco cardiovascular na vida adulta (BARKER, 1998). Estas observações levaram a uma hipótese de que a desnutrição durante a gestação foi uma importante origem de doenças cardíacas e metabólicas em adultos, devido à programação fetal que modifica estrutura, função e metabolismo do organismo e contribuiu para o surgimento de doença na vida adulta (WADHWA et al., 2009). O período pré concepcional foi definido de várias maneiras, mas, para os processos DOHaD, os eventos-chave abrangem amplamente a conclusão da maturação meiótica dos oócitos, diferenciação dos espermatozoides, fertilização e retomada dos ciclos das células mitóticas no zigoto, marcando a transição do genoma parental para o embrionário e o início da morfogênese até a implantação. Isso ocorre em um período de algumas semanas, dependendo da espécie de mamífero, e é caracterizado por: EXTENSA MUDANÇA NA MORFOLOGIA (Emergência de linhagens celulares embrionárias e placentárias distintas). REORGANIZAÇÃO GENÔMICA (Modificações epigenéticas, como metilação do DNA para regular a expressão do gene específico da linhagem no concepto). MUDANÇAS NO METABOLISMO (Configuração de reguladores homeostáticos para crescimento e suprimento de energia). PRINCIPAIS EVENTOS Na Figura 1, temos um resumo dos principais eventos. Importante lembrar que já é reconhecido que as influências em todos os estágios, desde a primeira infância, podem moldar a saúde pré-concepção e, dessa forma, influenciar os resultados finais da gravidez e do nascimento. Imagem: Fleming et al. 2018, p. 1182, adaptado por Luís Rodrigues Figura 1. Eventos biológicos que sustentam o condicionamento periconcepcional. Veja algumas considerações sobre a Figura 1: O período periconcepcional é de grande mudança celular, compreendendo a conclusão da maturação meiótica dos oócitos, diferenciação dos espermatozoides, fertilização e retomada dos ciclos celularesmitóticos no zigoto, marcando a transição dos genomas parentais para embrionários e o início da morfogênese. As modificações morfológicas e celulares que ocorrem durante a mudança das gerações parentais para as embrionárias, que levam à formação de blastocisto, são impulsionadas por processos subcelulares e moleculares pronunciados. Estes incluem a reestruturação global do epigenoma (principalmente, metilação do DNA e modificações de histonas que controlam a expressão do gene), de modo que a expressão do novo genoma embrionário seja distinta dos genomas parentais. A reorganização epigenética permite que o embrião exiba primeiro totipotência, um estado celular ingênuo que confere a capacidade de construir linhagens de células embrionárias verdadeiras (fetais futuras) e linhagens extraembrionárias (placentárias) que se tornam evidentes no blastocisto. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Posteriormente, as modificações epigenéticas sustentam a pluripotência do embrião: a capacidade de gerar todas as três camadas germinativas (ectoderme, mesoderme e endoderme), uma vez que a gastrulação tenha ocorrido. A morfogênese do blastocisto é seguida pela eclosão do embrião a partir da camada da zona pelúcida e implantação mediada pela adesão da camada trofectoderme externa do blastocisto ao endométrio uterino e subsequente invasão e decidualização. A ativação do novo genoma embrionário antes da implantação não só permite a expressão gênica novamente distinta dos genomas parentais, mas também envolve o estabelecimento do metabolismo do embrião que amadurece ao longo do tempo. Criticamente, as etapas essenciais da reprodução nesse período ocorrem quando as poucas células envolvidas estão totalmente expostas às condições ambientais, tornando-as vulneráveis à perturbação dos mecanismos epigenéticos e a um perfil alterado da expressão do gene embrionário, que persiste durante os ciclos celulares subsequentes e conduz a um programa de desenvolvimento alterado. As características homeostáticas metabólicas e celulares do embrião, incluindo a atividade mitocondrial, também podem mudar em resposta à disponibilidade de nutrientes. Por outro lado, a sensibilidade periconcepcional submetida a diferentes condições ambientais, também levanta a possibilidade de que esta janela possa ser uma oportunidade, permitindo ao embrião a capacidade de resposta a condições diversas e de otimizar o desenvolvimento para melhor se adequar à sobrevivência e aptidão. Processos adversos de desenvolvimento na época da concepção foram demonstrados em modelos humanos e animais em resposta a diversas situações ambientais. In vivo, a qualidade da dieta da mãe (tanto a supernutrição quanto a obesidade ou subnutrição), e/ou outros aspectos de seu estado fisiológico (incluindo hiperglicemia/lipidemia) podem afetar o potencial embrionário com consequências para o risco de doença na prole ao longo da vida. O estilo de vida e o fenótipo paternos podem influenciar de forma semelhante a saúde da prole em longo prazo, mediada pelo esperma ou plasma seminal, e ainda, a exposição ambiental, muitas vezes, inadequada dos embriões na reprodução assistida, podendo afetar o fenótipo da prole. Na Figura 2, observamos quatro áreas condicionantes ao desenvolvimento e alguns mecanismos na progressão do risco de doença. Imagem: Fleming et al. (2018, p. 1842), adaptado por Luís Rodrigues Figura 2. Principais mecanismos destacados na progressão e risco de doença. CONDICIONAMENTO DO DESENVOLVIMENTO PERICONCEPCIONAL POR MEIO DA SUPERNUTRIÇÃO MATERNA E OBESIDADE A mudança de perfil nutricional da população em geral está relacionada a muitas doenças e isso também ocorre na fertilidade. Nesse cenário, o fator estilo de vida da família também será importante para mudar tal desfecho. A obesidade materna está associada à redução da fertilidade feminina e ao aumento do risco de obesidade na prole. O alto índice de massa corporal materna (IMC) pode promover na prole aumento do peso ao nascer e na infância. Concentrações elevadas de glicose e insulina materna, por exemplo, impulsionam o crescimento fetal e a adiposidade. O metabolismo prejudicado da prole também pode estar associado ao aumento do risco de doenças alérgicas e atópicas, revelando a complexidade do fenótipo. Em modelos animais de obesidade materna, confirmou-se a ligação com o risco de doenças cardiovasculares e metabólicas da prole. Mulheres obesas têm maiores concentrações circulantes de citocinas inflamatórias e de hormônios e metabólitos que se acumulam no fluido folicular ovariano, podendo afetar a maturação e o potencial do oócito de maneira adversa. Assim, o IMC materno está positivamente associado ao aumento do fluido folicular, insulina, lactato, triglicerídeos, leptina e outros reguladores metabólicos, considerando então que o período periconcepcional pode ser causal para o condicionamento relacionado à obesidade. Imagem: Shutterstock.com Além da superexposição de metabólitos, a obesidade materna em camundongos induz defeitos no fenótipo mitocondrial dos ovos, incluindo morfologia anormal e estrutura das cristas, potencial de membrana alterado e distribuição e aumento do conteúdo de DNA mitocondrial, todos marcadores de função mitocondrial e energia perturbada de homeostase. Oócitos de mães obesas, além de serem menores, também apresentam aumento do estresse oxidativo e anormalidades do fuso, sugerindo aumento do risco de aneuploidia. Esses defeitos mitocondriais nos oócitos podem ser derivados do elevado teor de lipídios e da resistência à insulina inerente causada pela alta adiposidade materna. A hiperlipidemia oocitária, por sua vez, leva à regulação metabólica prejudicada e ao estresse do retículo endoplasmático em camundongos, uma condição em que as proteínas se dobram incorretamente durante a biossíntese e que contribui para doenças metabólicas e cardiovasculares. CONDICIONAMENTO DO DESENVOLVIMENTO PERICONCEPCIONAL POR MEIO DA DESNUTRIÇÃO MATERNA A má nutrição no útero e o baixo peso ao nascer permanecem altamente prevalentes em países de baixa e média renda e estão associados a maiores riscos de doenças crônicas na vida adulta em diversas populações humanas, particularmente se seguidos por ganho de peso acelerado durante a infância. Consequências cardiometabólicas e neurológicas humanas semelhantes surgem da exposição materna à fome, como, por exemplo, o inverno da fome holandesa de 1944/1945. Em estudos com humanos, é difícil identificar janelas gestacionais quando ocorre aumento da sensibilidade à desnutrição materna, mas as análises holandesas da fome sugerem um prognóstico pior para os filhos concebidos durante a fome. ATENÇÃO A exposição durante o período periconcepcional da fome holandesa é relatada como causadora de desregulação epigenética, resultando na redução da metilação do DNA do gene IGF2 regulador de crescimento impresso que persiste na idade adulta, juntamente com a metilação diferencial nas regiões regulatórias dos genes que afetam o crescimento e o metabolismo. Da mesma forma, indivíduos expostos in utero, particularmente, durante o primeiro trimestre à Grande Fome Chinesa (1959-1961) têm risco aumentado de hipertensão na idade adulta. ORIGEM PATERNA DA PROGRAMAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO Atualmente, surgem ligações entre o estilo de vida paterno, a qualidade do esperma e a saúde prejudicada da prole. Os mecanismos paternos diretos (qualidade do esperma, estado epigenético, integridade do DNA) e indiretos (composição do fluido seminal) foram identificados com o potencial de afetar o desenvolvimento da prole de camundongos em várias gerações. Assim como na reprodução feminina, a fertilidade masculina está intimamente ligada à nutrição e à composição corporal. Em humanos e roedores, o IMC elevado está associado à redução da motilidade espermática, aumento da anormalidade espermática, aumento dos níveis de espécies reativas de oxigênio aos espermatozoides, reduçãoda testosterona sérica e aumento das concentrações de estradiol. Foto: Shutterstock.com VOCÊ SABIA O consumo de uma dieta de "estilo ocidental" rica em açúcar, gordura e alimentos processados associa-se à redução da motilidade espermática em homens, enquanto o consumo de dietas com alta densidade energética em homens e roedores está associado à baixa motilidade, morfologia e integridade do DNA dos espermatozoides. Em homens submetidos a tratamento de fertilização in vitro, a obesidade está associada ao desenvolvimento de blastocisto reduzido e às taxas de nascidos vivos. Em roedores, a obesidade paterna induzida por dieta rica em gordura aumenta os danos ao DNA do esperma, reduz o desenvolvimento de blastocisto e as taxas de implantação e causa subfertilidade em filhos de machos e fêmeas por até duas gerações. Curiosamente, esses efeitos negativos no desenvolvimento da prole podem ser evitados por meio da dieta paterna e intervenções de exercícios em camundongos, indicando que os efeitos mediados pelos espermatozoides podem ser transitórios e até reversíveis. Além dos mecanismos de programação de desenvolvimento específicos do esperma, a composição do plasma seminal (por exemplo, fator estimulador de colônia de granulócitos-macrófagos) influencia o desenvolvimento embrionário, placentário e da prole de camundongos e inicia respostas imunológicas do trato reprodutivo materno, essenciais no estabelecimento e manutenção da gravidez humana. Em camundongos, o fluido seminal paterno tem impacto sobre o ambiente uterino materno, alterando o desenvolvimento de blastocistos, o tamanho da placenta e a tolerância à glicose da prole adulta, adiposidade e pressão arterial. Foto: Shutterstock As influências compartilhadas da dieta materna e paterna e de outros estilos de vida podem se combinar para um maior impacto no desenvolvimento periconcepcional. No entanto, a maioria dos modelos de pesquisa até agora são uniparentais em design e os efeitos combinados de ambos os pais são desconhecidos. Também não se sabe se o impacto da dieta paterna inadequada no desenvolvimento e bem-estar da prole é de significância equivalente ao da dieta materna inadequada. O período periconcepcional é uma janela-chave durante a qual a fisiologia materna e paterna, a composição corporal, o metabolismo e a dieta inadequados podem induzir aumento do risco de doenças crônicas na prole, um legado ao longo da vida e um fator determinante da carga de saúde das próximas gerações. A evidência de que consequências semelhantes podem resultar de práticas de reprodução assistida aumentam o foco nesta janela. Fatores ambientais podem perturbar gametas ou embriões iniciais, afetando os mecanismos homeostáticos, ou podem induzir adaptações e sinais ambientais de desenvolvimento com consequências que persistem na idade adulta. A NUTRIÇÃO FUNCIONAL COMO ESTRATÉGIA DO CUIDADO AO PACIENTE A especialista Aline Cardozo Monteiro fala sobre a importância da Nutrição Funcional na conduta do nutricionista. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERANDO OS CONCEITOS DE PROGRAMAÇÃO METABÓLICA, PODEMOS AFIRMAR QUE AS ASSERTIVAS A SEGUIR ESTÃO: I) O PERÍODO PERICONCEPCIONAL PODE SER CAUSAL PARA O CONDICIONAMENTO RELACIONADO À OBESIDADE. II) MULHERES OBESAS TÊM MAIORES CONCENTRAÇÕES CIRCULANTES DE CITOCINAS INFLAMATÓRIAS E DE HORMÔNIOS E METABÓLITOS QUE SE ACUMULAM NO FLUIDO FOLICULAR OVARIANO E PODEM AFETAR A MATURAÇÃO E O POTENCIAL DO OÓCITO DE MANEIRA ADVERSA. A) I e II estão incorretas. B) I e II estão corretas e a II é causa da I. C) Apenas I está correta. D) Apenas II está correta. E) I e II estão corretas, porém II não é a causa da I. 2. JÁ ESTÁ DESCRITO NA LITERATURA QUE O PERÍODO EM TORNO DA CONCEPÇÃO É CRUCIAL PARA OS PROCESSOS DE MEDIAÇÃO DAS INFLUÊNCIAS DOS PAIS NA SAÚDE DA PRÓXIMA GERAÇÃO. CONSIDERANDO ESTA AFIRMAÇÃO, MARQUE A OPÇÃO QUE REPRESENTA A VERACIDADE DAS ASSERTIVAS. I) FATORES AMBIENTAIS DOS PAIS, COMO METABOLISMO, ESTRESSE, COMPOSIÇÃO CORPORAL E DIETA AFETAM O RISCO DE SAÚDE E DOENÇAS CRÔNICAS DAS PESSOAS AO LONGO DA VIDA. II) A OBESIDADE MATERNA, MAS NÃO A DESNUTRIÇÃO, PODE CONTRIBUIR PARA A PROGRAMAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS CARDIOMETABÓLICAS DE SEUS FILHOS. III) MULHERES DESNUTRIDAS TÊM MAIORES CONCENTRAÇÕES CIRCULANTES DE CITOCINAS INFLAMATÓRIAS E DE HORMÔNIOS E METABÓLITOS QUE SE ACUMULAM NO FLUIDO FOLICULAR OVARIANO, PODENDO AFETAR A MATURAÇÃO E O POTENCIAL DO OÓCITO DE MANEIRA ADVERSA. A) I e II estão incorretas. B) I e II estão corretas. C) Apenas I está correta. D) Apenas II está correta. E) Apenas III está correta. GABARITO 1. Considerando os conceitos de programação metabólica, podemos afirmar que as assertivas a seguir estão: I) O período periconcepcional pode ser causal para o condicionamento relacionado à obesidade. II) Mulheres obesas têm maiores concentrações circulantes de citocinas inflamatórias e de hormônios e metabólitos que se acumulam no fluido folicular ovariano e podem afetar a maturação e o potencial do oócito de maneira adversa. A alternativa "B " está correta. A obesidade tem influência no período periconcepcional, pois mulheres obesas têm maiores concentrações circulantes de citocinas inflamatórias e de hormônios e metabólitos que se acumulam no fluido folicular ovariano, podendo afetar a maturação e o potencial do oócito de maneira adversa. 2. Já está descrito na literatura que o período em torno da concepção é crucial para os processos de mediação das influências dos pais na saúde da próxima geração. Considerando esta afirmação, marque a opção que representa a veracidade das assertivas. I) Fatores ambientais dos pais, como metabolismo, estresse, composição corporal e dieta afetam o risco de saúde e doenças crônicas das pessoas ao longo da vida. II) A obesidade materna, mas não a desnutrição, pode contribuir para a programação de desenvolvimento de doenças cardiometabólicas de seus filhos. III) Mulheres desnutridas têm maiores concentrações circulantes de citocinas inflamatórias e de hormônios e metabólitos que se acumulam no fluido folicular ovariano, podendo afetar a maturação e o potencial do oócito de maneira adversa. A alternativa "C " está correta. Vários fatores contribuem para a saúde ao longo do tempo, reforçando a importância da programação metabólica, tais como fatores ambientais dos pais, dieta, composição corporal, metabolismo, estresse, que, por sua vez, estarão diretamente atrelados ao desenvolvimento das doenças crônicas. MÓDULO 2 Reconhecer as implicações dietéticas em diferentes fases da vida INTRODUÇÃO A nutrição humana é uma ciência relativamente nova, baseada na bioquímica. Embora suas raízes estejam cravadas em séculos de aprendizado na medicina, o estudo científico dos alimentos e das necessidades humanas começou há menos de 100 anos. O campo da nutrição humana está progredindo constantemente. A partir de estudos epidemiológicos geográficos, vem informando melhor entendimento dos indivíduos. No século IV a.C., Hipócrates destacou como os alimentos podem ser nosso primeiro remédio e como uma dieta balanceada pode ajudar a manter a saúde. Hoje, sabemos que a escolha dos alimentos pode, além de nutrir o organismo, modular a expressão gênica, a síntese de proteínas e os processos metabólicos e celulares e assim atuar na prevenção de doenças. Na segunda parte do século XX, houve enorme crescimento no conhecimento dos mecanismos subjacentes a certas doenças e sua relação com os componentes da dieta alimentar. Isso lançou as bases para a educação alimentar e o aconselhamento nutricional. Os alimentos, na verdade, contêm várias substâncias biologicamente ativas com benefícios para a saúde. As novas tecnologias ômicas, por exemplo, iluminaram recentemente o conhecimento sobre os efeitos moleculares e celulares dos nutrientes no indivíduo, e isso tem permitido a modulação das intervenções nutricionais, bem como o desenvolvimento de produtos com base na formaçãofisiológica, genética, étnica, cultural e econômica do indivíduo. TECNOLOGIAS ÔMICAS Ciências “ômicas” (transcriptômica, proteômica, metabolômica e a lipidômica), sendo o conjunto total de RNAs transcritos, de proteínas, metabólitos e lipídeos de um organismo, respectivamente. javascript:void(0) RECOMENDAÇÕES DIETÉTICAS As recomendações dietéticas devem levar em consideração os avanços científicos e os planos de profilaxia devem ter como objetivo explorar os potenciais fatores promotores da saúde nos alimentos, alcançando benefícios socioeconômicos, culturais, nutricionais específicos e individualizados. O equilíbrio entre saúde e doença pode ser influenciado por componentes químicos da dieta. Na verdade, dieta e estilo de vida representam fatores de risco importantes para vários tipos de doenças, como já discutido anteriormente. O conhecimento de guias alimentares para as populações específicas e das recomendações de energia é de fundamental importância para associação da nutrição integrativa. Vários compostos bioativos em alimentos têm, por exemplo: EFEITOS ANTI-HIPERTENSIVOS ANTIOXIDANTES ANTITROMBÓTICOS HIPOCOLESTEROLÊMICOS HIPOTRIGLICERIDÊMICOS ANTI-OBESIDADE Demonstrou-se que um estilo de vida correto, principalmente, baseado na ingestão adequada de nutrientes e alimentos bioativos, está correlacionado a um baixo risco de morbidade/mortalidade e uma expectativa de vida mais longa. Em particular, a escolha correta de alimentos está associada a um retardo no envelhecimento e redução de citocinas inflamatórias associadas a várias doenças, como as cardiovasculares (DCV). Uma dieta rica em frutas e vegetais demonstrou ter efeitos cardioprotetores em vários estudos epidemiológicos. As DCV representam importante causa de mortalidade e morbidade em todo o mundo. Além disso, alguns estudos prospectivos mostram uma correlação inversa entre consumo de frutas e vegetais e o desenvolvimento de DCVs (como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral). Isso acontece pelo perfil nutricional desses alimentos, como os antioxidantes, fibras, vitaminas, potássio e compostos bioativos, dentre outros nutrientes. O papel dos ácidos graxos também é de fundamental importância no equilíbrio do organismo. A redução de ácidos graxos saturados, aumento de ácidos graxos monoinsaturados e uma relação ótima entre o consumo de n- 6:n-3 deve estar presente no desenvolvimento de uma estratégia nutricional. Foto: Shutterstock.com Alimentos que possuem ácidos graxos. Demonstrou-se que a ingestão diária de ácidos graxos ω6 e ω3 diminui a biossíntese de ácidos graxos e a produção de triglicerídeos. Além disso, eles reduzem os níveis de oxidação de ácidos graxos no fígado e nos músculos esqueléticos. Os ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) n-3 podem regular o metabolismo lipídico, melhorar a sensibilidade à insulina e aumentar o metabolismo da glicose não oxidativa, mas esses efeitos benéficos dependem diretamente da quantidade de PUFA consumida na dieta. ATENÇÃO Torna-se fundamental, portanto, o conhecimento das funções dos nutrientes no organismo e ainda o conhecimento detalhado da composição nutricional dos alimentos e dos fatores que podem interferir na biodisponibilidade destes nutrientes, como por exemplo, o modo de cocção, a matriz dos alimentos, dentre outros relacionados à biodisponibilidade de nutrientes. MODELOS DE DIETAS As diferentes dietas vêm sendo estudadas como importantes modelos a serem seguidos para a manutenção da saúde e a prevenção de doenças. O consumo de frutas e vegetais é estimulado no modelo de dieta do mediterrâneo (DM), assim como o consumo de azeite, que é rico em ácidos graxos monoinsaturados e fitoquímicos, vinho tinto e plantas específicas (Thymus piperella, Berberis vulgaris, Scandix australis, Vitis vinifera, Foeniculm volgaris, Borago officinalis, Lactuga viminea etc.), que também possuem diversos fitoquímicos, como os polifenóis e importante capacidade antioxidante. Foto: Shutterstock.com Diversos estudos epidemiológicos investigaram o impacto de vários elementos da DM na longevidade e na saúde, prevenindo doenças crônicas e relacionadas à idade. Farmacologicamente, os polifenóis podem atuar direta ou indiretamente na nossa saúde, incluindo eliminação direta de radicais livres, enquanto sua atividade antioxidante indireta envolve a inibição enzimática. Os polifenóis também podem apresentar ações anti-inflamatórias, antiproliferativas, antidiabéticas e modificadoras de expressão gênica. Foto: Shutterstock.com Alimentos ricos em polifenóis. O estudo da modulação do estado inflamatório por meio de alguns nutrientes, como PUFA n-3, fibras e compostos bioativos, vem crescendo e permitindo que a estratégia nutricional se torne mais específica e eficaz para as diferentes necessidades dos indivíduos, sendo ainda fator preventivo de diversas doenças, como DCV (doença cardiovascular), obesidade, câncer, dentre outras. Esse fato ocorre pela possível alteração na expressão de mediadores químicos do estado inflamatório. O curso de algumas crônicas parece ser influenciado por genes que codificam citocinas como IL-1, IL-6 e TNFα, que, por sua vez, são capazes de modular a expressão gênica de mediadores inflamatórios. Os produtos nutricionais poderiam ser usados como agentes preventivos eficazes nas variações genéticas que causam um estado inflamatório alterado. Uma vez que o mecanismo por trás dessas interações seja compreendido, os nutrientes podem ser aplicados a grandes segmentos da população. Existe uma infinidade de substâncias bioativas em plantas e também em plantas alimentícias não convencionais (PANCs) já conhecidas, como flavonoides, carotenoides, álcoois monofenólicos, monoterpenos, ácidos fenólicos, taninos e outros com propriedades anti-inflamatórias. Foto: Frank Vincentz/ wikimedia commons/licença (CC -BY-SA- 3.0) Foto: Shutterstock.com PANC chamada de peixinho-da-horta. A capacidade dos extratos de plantas de inibir a estimulação de citocinas inflamatórias, como TNF-α, IL-8, IL-1 e IL-6, quimiocinas, moléculas de adesão celular e síntese de óxido nítrico dependente de iNOS, explica os efeitos anti-inflamatórios deste estilo de alimentação. javascript:void(0) INOS Óxido nítrico sintase induzida. Os carboidratos complexos, especificamente, as fibras, podem influenciar o estado inflamatório. Um estudo recente mostrou que o conteúdo de fibra na refeição pode afetar os níveis circulantes de IL-18 tanto em indivíduos saudáveis quanto em pacientes com diabetes mellitus tipo 2. Dado o efeito anti-inflamatório da fibra alimentar, é possível considerar a hipótese de que o estresse oxidativo transitório pode ser influenciado pela fibra presente na dieta. Além do papel anti-inflamatório dado pela fibra alimentar, os ácidos graxos poli-insaturados n-3 também têm sido sugeridos como desempenhando um papel positivo no estado inflamatório, como já dito anteriormente. Além disso, os ácidos graxos n-3 podem reduzir o risco de doença cardíaca coronária, diminuindo os níveis de triglicerídeos séricos e melhorando a disfunção endotelial. O ácido α-linoléico (ALA), um ácido graxo n-3 presente nos óleos de linhaça e chia, pode ser convertido em ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA), prevenindo assim a DCV por diminuir a tendência trombótica. Tanto a dieta DASH (abordagens dietéticas para parar a hipertensão) quanto a dieta OmniHeart (ingestão ideal de macronutrientes para prevenir doenças cardíacas) com base na ingestão reduzida de gorduras saturadas e aumento no fornecimento de frutas e vegetais frescos, com outras características específicas de cada, mostraram melhora na pressão arterial e no nível de lipídios, reduzindo o risco de DCV. Peptídeos inibidores da enzima conversora de angiotensina (ACE) de peixes, soja, ovo, carne e vitaminas, polifenóis, carotenoides de frutas e vegetais, peptídeos antioxidantes de caseína do leite, proteína de soro de leitee proteína de soja, peptídeos antitrombóticos de K-caseína bovina, proteínas hipocolesterolêmicas de soro de leite, compõem outro grupo que pode reduzir o risco de DCV. DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS Modificações dietéticas podem ser particularmente úteis em indivíduos predispostos a doenças neurodegenerativas com altos níveis de homocisteína e alelo δ4 da apolipoproteína E, por meio do fornecimento de antioxidantes, gordura monoinsaturada, PUFA n-3 e agentes anti-inflamatórios, fornecimento de vitamina B6, B12, ácido fólico e redução de gorduras saturadas e colesterol. As doenças de Alzheimer e Parkinson são caracterizadas por estresse oxidativo, comprometimento metabólico e agregação anormal de proteínas, o que significa uma necessidade de antioxidantes e agentes que preservem a função mitocondrial, além de um sistema desintoxicante mais eficiente do que em indivíduos normais sem uma predisposição genética. Imagem: Shutterstock.com Embora nenhuma evidência mostre qualquer benefício claro de distúrbios neurodegenerativos pelo uso de ácido fólico e pela redução da ingestão de determinados alimentos, pode ser interessante realizar este tipo de intervenção antes do início da doença ou em estágios pré-clínicos iniciais, como uma intervenção de prevenção. A nutrição tem importante papel na gênese das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), consideradas um dos mais importantes problemas de saúde pública da atualidade em nosso país e no mundo. Além da quantidade, a qualidade dos alimentos que consumimos (em particular aqueles que são fonte de gorduras) participa tanto na patogênese das doenças cardiovasculares (DCV) quanto na sua prevenção. Com base em evidências científicas, especialistas em todo o mundo têm elaborado guias sobre o consumo de gorduras e proposto adequação de suas quantidades, além de limitar o consumo dos tipos saturada e trans. Tem- se priorizado avaliar e propor padrões alimentares mais saudáveis, não valorizando alimentos individualmente, com uma abordagem muito mais racional na prevenção cardiovascular, adequando-se o consumo calórico, a inclusão de grãos, frutas e hortaliças, e a restrição de carboidratos refinados, alimentos ultraprocessados, priorizando-se gorduras mais saudáveis, em detrimento das saturadas e trans (IZAR et. al, 2021). INGESTÃO DIETÉTICA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA Diversos problemas de saúde se iniciam na infância, quando não vêm desde a concepção, como já discutido anteriormente. Sendo assim, o olhar do nutricionista para a adequação nutricional, nos diversos ciclos de vida, deve ser aprofundado. Neste tópico, faremos uma apresentação geral sobre alguns nutrientes importantes na infância e adolescência. Como já é sabido, a infância é um período crítico de rápido crescimento físico e desenvolvimento cognitivo. Nessa fase da vida, as crianças têm grandes necessidades de nutrientes. Consequentemente, a quantidade certa de ingestão de energia na dieta e o consumo de alimentos ricos em nutrientes são fundamentais. É muito importante fornecer uma boa variedade e diversidade de alimentos para cada fase de idade, garantindo o desenvolvimento infantil. O Global Burden of Disease (2019) concluiu que hábitos alimentares inadequados estão associados a uma série de doenças crônicas, podendo ser um dos principais contribuintes para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e uma causa de mortalidade em todos os países do mundo (11 milhões de mortes em 2017). O consumo regular de produtos lácteos, especialmente leite de vaca (que é um dos produtos lácteos mais consumidos por crianças em todo o mundo) é um importante determinante do desenvolvimento infantil devido ao seu rico perfil de nutrientes, que inclui macronutrientes (proteína, gordura) e micronutrientes que ajudam a manter uma boa saúde. EXEMPLO Cálcio, fósforo, magnésio e vitamina D desempenham papéis importantes no crescimento e desenvolvimento da massa óssea, que está em seu máximo na fase pediátrica. Durante a infância e a adolescência, uma ingestão adequada desses nutrientes pode contribuir para atingir um pico ideal de massa óssea, o que pode ajudar a prevenir o desenvolvimento de osteoporose em fases posteriores da vida. No entanto, a ingestão de muitos dos nutrientes envolvidos na remodelação óssea (ou seja, cálcio, magnésio e vitamina D) demonstrou ser insuficiente em uma alta porcentagem de crianças, em populações tanto desenvolvidas como em desenvolvimento. Apesar da importância nutricional e dietética do leite e produtos lácteos, o consumo está diminuindo e se afastando do nível recomendado em muitos países. Foto: Shutterstock Além disso, há algum tempo, os benefícios potenciais do leite e seus derivados para a saúde vêm sendo questionados, porém, é necessário que, ao retirar o grupo de lácteos da dieta, os nutrientes fornecidos por esses alimentos sejam avaliados e inseridos por outras fontes alimentares. O cálcio é o nutriente presente neste grupo alimentar que mais necessita de atenção para ajuste por outros grupos de alimentos. AVALIAÇÃO DA INGESTÃO DIETÉTICA Existem diferentes métodos de recordatório alimentar usados em pesquisas nutricionais, que se baseiam no pressuposto de que a ingestão alimentar relatada mostra a ingestão habitual. O procedimento de obtenção da ingestão habitual torna-se mais complexo em crianças pequenas, para as quais os métodos de recordação alimentar são conduzidos por cuidadores. Portanto, a identificação do instrumento correto e a habilidade do profissional em interpretar esta análise de consumo é fundamental para a obtenção de resultados que representem a ingestão usual e que sejam fisiologicamente plausíveis, podendo partir como apoio para o desenvolvimento da estratégia nutricional. Foto: Shutterstock.com Diante do exposto, é essencial entender a ingestão de nutrientes na dieta e as fontes de alimentos nutritivos em crianças, devido ao fato de que a nutrição na primeira infância determina o tipo de preferências alimentares futuras, hábitos alimentares e influencia os resultados futuros de saúde. Foto: Shutterstock.com Especificamente, a ingestão inadequada de energia e nutrientes (como alto consumo de proteína ou gordura saturada) pode ter um efeito adverso na saúde de crianças e adolescentes e predispô-los ao risco de desenvolvimento de doenças não transmissíveis, incluindo sobrepeso, obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2. Foto: Shutterstock.com Segundo dados da pesquisa do orçamento familiar (POF) 2017-2018, mais da metade (53,4%) do valor energético consumido vem de alimentos in natura ou minimamente processados, sendo 15,6% de ingredientes culinários processados, 11,3% de alimentos processados e 19,7% de alimentos ultraprocessados. Esses últimos fornecem, em média, cerca de 27% do total de calorias diárias dos adolescentes, enquanto para a população com 60 ou mais de idade é de 15,1% (BRASIL, 2020). Imagem: Extraído de IBGE, 2020, elaborado pela designer instrucional Alessandra Guedes Porcentagem referente ao valor energético de alimentos consumidos. Pesquisa do orçamento familiar (POF) 2017-2018. Esses dados nos mostram o quanto as escolhas nutricionais estão inadequadas no Brasil e sinalizam para uma expressiva contribuição do nutricionista. Porém, para isso, é necessário conectar os dados de consumo do paciente com as necessidades e recomendações, além de ainda aplicá-los ao olhar integrativo da nutrição funcional. Essa forma de trabalho é a garantia de um tratamento nutricional individualizado e global do indivíduo. Destaca-se, ainda, a importância de se associar a esta discussão as necessidades específicas de cada fase da vida. A NUTRIÇÃO FUNCIONAL E AS DIFERENTES FASES DA VIDA A especialista Aline Cardozo Monteiro fala sobre a importância da Nutrição Funcional nas diferentes fases da vida. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. COM RELAÇÃO AS ASSERTIVAS SOBRE O PAPEL DOS NUTRIENTES NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS CRÔNICAS, MARQUE A RESPOSTACORRETA. I) O CURSO DE ALGUMAS DOENÇAS CRÔNICAS PARECE SER INFLUENCIADO POR GENES QUE CODIFICAM CITOCINAS, COMO IL-1, IL-6 E TNFΑ. II) O CONTEÚDO DE FIBRA NA REFEIÇÃO PODE AFETAR OS NÍVEIS CIRCULANTES DE IL-18 E MODULAR O ESTADO INFLAMATÓRIO E ALIMENTOS FONTES DE FITOQUÍMICOS, COMO PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS QUE PODEM SER UTILIZADAS NESTE SENTIDO. III) CITOCINAS COMO IL-1, IL-6 E TNFΑ SÃO CAPAZES DE MODULAR A EXPRESSÃO GÊNICA DE MEDIADORES INFLAMATÓRIOS. A) I e II estão incorretas. B) I, II e III estão corretas e a III é causa da I. C) Apenas I e III estão corretas e a III é causa da I. D) Apenas II está correta. E) I, II e III estão corretas, porém III não é a causa da I. 2. MARQUE (C) PARA AS ASSERTIVAS CORRETAS E (I) PARA INCORRETAS, DEPOIS INDIQUE A OPÇÃO CORRETA. ( ) ALGUMAS DOENÇAS COMO ALZHEIMER E PARKINSON SÃO CARACTERIZADAS POR ESTRESSE OXIDATIVO, COMPROMETIMENTO METABÓLICO E AGREGAÇÃO ANORMAL DE PROTEÍNAS, O QUE SIGNIFICA UMA NECESSIDADE DE ANTIOXIDANTES E AGENTES QUE PRESERVEM A FUNÇÃO MITOCONDRIAL E UM SISTEMA DESINTOXICANTE MAIS EFICIENTE DO QUE EM INDIVÍDUOS NORMAIS SEM UMA PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA. ( ) A DIETA MEDITERRÂNEA É CARACTERIZADA POR ALTO CONSUMO DE AZEITE, CARACTERIZANDO MAIOR CONSUMO DE ÁCIDOS GRAXOS MONOINSATURADOS, IMPORTANTE NAS DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS. ( ) O ÁCIDO Α-LINOLÉICO (ALA), UM ÁCIDO GRAXO N-6 PRESENTE NOS ÓLEOS DE CANOLA E CHIA, PODE SER CONVERTIDO EM ÁCIDO EICOSAPENTAENÓICO (EPA) E ÁCIDO DOCOSAHEXAENÓICO (DHA), PREVENINDO ASSIM A DCV POR DIMINUIR A TENDÊNCIA TROMBÓTICA. A) I – C – C B) C –C –C C) C – I – C D) C – C – I E) I – I – C GABARITO 1. Com relação as assertivas sobre o papel dos nutrientes na prevenção de doenças crônicas, marque a resposta correta. I) O curso de algumas doenças crônicas parece ser influenciado por genes que codificam citocinas, como IL-1, IL-6 e TNFα. II) O conteúdo de fibra na refeição pode afetar os níveis circulantes de IL-18 e modular o estado inflamatório e alimentos fontes de fitoquímicos, como plantas alimentícias não convencionais que podem ser utilizadas neste sentido. III) Citocinas como IL-1, IL-6 e TNFα são capazes de modular a expressão gênica de mediadores inflamatórios. A alternativa "B " está correta. Citocinas como IL-1, IL-6 e TNFα são capazes de modular a expressão gênica de mediadores inflamatórios, dessa forma, são capazes de interferir no aparecimento e curso de algumas doenças crônicas que podem ser influenciadas por genes que codificam essas citocinas. 2. Marque (C) para as assertivas corretas e (I) para incorretas, depois indique a opção correta. ( ) Algumas doenças como Alzheimer e Parkinson são caracterizadas por estresse oxidativo, comprometimento metabólico e agregação anormal de proteínas, o que significa uma necessidade de antioxidantes e agentes que preservem a função mitocondrial e um sistema desintoxicante mais eficiente do que em indivíduos normais sem uma predisposição genética. ( ) A dieta mediterrânea é caracterizada por alto consumo de azeite, caracterizando maior consumo de ácidos graxos monoinsaturados, importante nas doenças neurodegenerativas. ( ) O ácido α-linoléico (ALA), um ácido graxo n-6 presente nos óleos de canola e chia, pode ser convertido em ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA), prevenindo assim a DCV por diminuir a tendência trombótica. A alternativa "D " está correta. A dieta do mediterrâneo é rica em ácidos graxos monoinsaturado, por exemplo, pelo uso do azeite de oliva. Além disso, doenças como Alzheimer e Parkinson estão associadas ao estresse oxidativo, devendo ser estimulado o uso de antioxidantes na alimentação. MÓDULO 3 Compreender a interação droga-nutriente e suas implicações no envelhecimento INTRODUÇÃO De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) (WHO, 2005), envelhecimento é um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte. Imagem: Shutterstock.com A população brasileira está envelhecendo em ritmo acelerado. Isso se deve ao aumento da proporção dos idosos na população. Isso vem ocorrendo por dois motivos básicos: o primeiro é a diminuição da mortalidade, que leva a um aumento da expectativa de vida, e o segundo é a queda de fecundidade. Dessa forma, o cuidado com a população deve ser maior, principalmente, no que corresponde à atenção dos órgãos públicos e da sociedade, enfatizando suas características sociais, econômicas e de saúde, em cada região do território nacional. O envelhecimento normal (senescência) já leva a várias modificações fisiológicas que podem diminuir a função e atividade de vários órgãos e sistemas; alterações mais graves podem ocorrer caso o processo de envelhecimento seja patológico (senilidade), ou seja, quando associado a uma ou mais doenças crônicas. Independentemente do processo de envelhecimento, é muito comum o paciente idoso fazer uso de uma ou mais medicações e com todas essas modificações fisiológicas acabam mais suscetíveis às reações de interações medicamentosas adversas, pois essas mudanças podem influenciar a farmacocinética e farmacodinâmica dos remédios, principalmente na biotransformação hepática e excreção renal, podendo aumentar a toxicidade e acelerar ainda mais o processo de envelhecimento. INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA A interação medicamentosa é um evento clínico em que os efeitos de um fármaco ficam alterados pela presença de outro medicamento, fitoterápico, alimento, bebida alcoólica ou agente químico ambiental. Quando se administra um fármaco por via oral, sua absorção pelo tubo gastrointestinal e, consequentemente, sua concentração sanguínea são dependentes de vários fatores conforme o Quadro 1: Aspectos relacionados aos fármacos Variações individuais Solubilidade Idade Tamanho da partícula Ingestão de fluidos Forma farmacêutica Ingestão de alimentos Efeitos dos fluidos gastrointestinais Tempo de trânsito intestinal Metabolismo pré-sistêmico Microflora intestinal Concentração do fármaco Metabolismo intestinal e hepático Natureza química Doenças gastrintestinais Liberação imediata ou lenta PH gastrointestinal Quadro 1. Fatores que influenciam a biodisponibilidade dos fármacos. Elaborada por Cíntia Ramos Pereira Azara. Alterações físico-químicas, fisiológicas e/ou patológicas podem acontecer por meio de interações entre nutrientes e fármacos, causadas através de sua toxicidade. Reações entre um ou mais fármacos e um nutriente e/ou composto alimentar caracterizam as interações físico- químicas. As interações fisiológicas são induzidas por medicamentos que vão interferir no apetite, digestão, esvaziamento gástrico, biotransformação e excreção. As patológicas ocorrem quando os fármacos diminuem a absorção e/ou inibem o processo metabólico de nutrientes. A administração de medicamentos em conjunto com alimentos (no horário de refeições) pode ter efeito positivo ou negativo em relação à absorção da droga e dos nutrientes sobre o trato gastrointestinal. Essa oferta simultânea ocorre por três razões fundamentais: Possibilidade de aumento da sua absorção da droga. Redução no efeito irritante de alguns fármacos sobre a mucosa gastrointestinal. Auxílio no cumprimento da terapia, associando sua ingestão com uma atividade relativamente fixa, como as principais refeições. Uma vez afetando a biodisponibilidade, por modificação dos processos farmacocinéticos, ocorrerá alteração da farmacodinâmica e da terapêutica. Sendo assim, é fundamental conhecer as substâncias ativas cuja velocidade de absorção e/ou quantidade são alteradas, bem como aquelas que não são afetadas pela presença de nutrientes. As interações medicamentosas podem diminuir ou anular o potencial terapêutico ou aumentar seuefeito tóxico quando: Nutrientes influenciam no processo de absorção de fármacos. Nutrientes alteram o processo de biotransformação de algumas substâncias. Ocorrem alterações na excreção de fármacos por influência de nutrientes. Alguns fármacos alteram o estado nutricional. O estado nutricional interfere sobre o metabolismo de certos fármacos. Foto: Shutterstock.com Nesse contexto, o estado nutricional também tem importantes implicações, visto que o controle de grande parte das doenças crônicas ou infecciosas, além da prevenção de complicações decorrentes das mesmas, dependem do bom estado nutricional do idoso. Sendo assim, as interações entre nutrientes e o uso de medicamentos em idosos, provocam grande impacto farmacológico devido às alterações fisiológicas e efeitos deletérios de drogas no estado nutricional. Essa interação pode acontecer por meio de: Modificação do pH do conteúdo gastrointestinal; Esvaziamento gástrico Aumento do trânsito intestinal Competição por sítios de absorção Fluxo sanguíneo esplâncnico e/ou ligação direta do fármaco com componentes dos alimentos. Esses fatores podem aumentar ou diminuir a absorção de um fármaco ou retardar o processo de absorção, tornando-o mais lento (Quadro 2). Fármacos Alimentos/Nutrientes Mecanismos/Efeitos Recomendações Referências Antimicrobianos Rifampicina Refeição regular Retarda o esvaziamento gástrico, a liberação e a dissolução; ↓ absorção Administrar 2h antes ou 3h após as refeições Zent & Smith (1995) Eritromicina - base e estearato Refeição regular; dieta hiperlipídica Retarda o esvaziamento gástrico, a liberação e a dissolução; ↓ absorção Administrar 2h antes ou 3h após as refeições ou usar preparações que não são afetadas pelos alimentos Welling (1984) Randinitis et al. (1989) Ampicilina Refeição regular Retarda o esvaziamento gástrico; ↓ absorção Administrar 1h antes ou 2h após as refeições Kirk (1995) Welling (1984) Ciprofloxacina Leite, iogurte, alimentos ricos em Fe, Mg, Zn, Ca ↓ absorção por complexação com cátions Administrar 2h antes ou 3h após as refeições Neuvonen et al. (1991) Tetraciclina Refeição regular Leite, iogurte, alimentos ricos em Fe, Mg, Ca Retarda o esvaziamento gástrico, a liberação e a dissolução; cria barreira física; ↓ absorção ↓ absorção por complexação com cátions divalentes Administrar 2h antes ou 3h após as refeições Administrar 2h antes ou 3h após as refeições Roe (1984) Welling (1977; 1984) Griseofulvina Dieta hiperlipídica ↑ excreção de sais biliares; ↑ solubilidade; ↑absorção Administrar com as refeições Kirk (1995) Thomas (1995) Isoniazida Refeição regular Retarda o esvaziamento gástrico; ↑ pH gástrico; Administrar com estômago vazio, se tolerado Self et al. (1999) ↓ a solubilidade e a absorção. Cefalosporinas Refeição regular Altera a motilidade e o tempo de trânsito no trato GI, reduzindo e retardando o nível sérico do antibiótico Administrar 2h antes ou 3h após as refeições McCraken et al. (1978) Fármacos Alimentos/Nutrientes Mecanismos/Efeitos Recomendações Referências Cardiovasculares/diuréticos Digoxina Refeição regular Altera o tempo de trânsito gastrintestinal e a motilidade; ↓ velocidade de absorção Administrar 2h antes ou 3h após as refeições ↓ os efeitos colaterais (náuseas, vômitos) Welling (1977) Johnson et al. (1978) Captopril Refeição regular ↓ absorção; ↓ efeito terapêutico Administrar 2h ou 3h após as refeições Ohman et al. (1985) Nifedipina Dieta hiperlipídica ↑ a velocidade e a extensão da absorção; ↑ incidência de efeitos colaterais (dor de cabeça, tonteira, etc.). Administrar fora das refeições ↓ incidência dos efeitos colaterais Qato & Mohammed (1998) Propranolol Dieta hiperprotéica ↓ fase I da biotransformação hepática; Administrar 2h ou 3h após as refeições Liedholm et al. (1990) ↑ fluxo sangüineo esplâncnico; ↑ absorção Hidralazina Refeição regular ↓ 1º passo do metabolismo; bloqueia a biotransformação enzimática no trato GI; ↑absorção Administrar 2h ou 3h após as refeições Melander et al. (1977) Melander et al. (1985) Broncodilatadores Teofilina Dietas hiperprotéicas e hipoglicídicas ↑ atividade do citocromo P450; ↓ meia-vida plasmática do medicamento; ↓ tempo de efeito Ingerir dieta equilibrada Anderson et al. (1979) Teofilina Café, chá, outras bebidas contendo cafeína Parte da cafeína é convertida em teofilina com ↑ da sua concentração, ocorrendo saturação enzimática e prejudicando etapas de biotransformação e eliminação Ingestão moderada de cafeína Sato et al. (1993) Antiparkinsonianos Levodopa Dieta hiperprotéica Há competição entre o fármaco e aminoácidos pela absorção através da Monitorar a resposta clínica e evitar dietas Kempster & Wahlqvist (1994) mucosa intestinal e do cérebro. hiperprotéicas se oportuno. Imunossupressores Metotrexato (MTX) Desjejum ↓ a velocidade e a extensão da absorção. Administrar com estômago vazio Dupuis et al. (1995) Fármacos Alimentos/Nutrientes Mecanismos/Efeitos Recomendações Referências Antipiréticos, analgésicos e sicos e anti-inflamat inflamatórios Ac. acetilsalicílico Refeição regular; leite; vegetais Modifica pH gástrico; ↓solubilidade; ↓ a velocidade e a extensão da absorção Apesar da diminuição da absorção, a recomendação clínica é de administrar com alimentos para ↓ irritação gástrica Harrison et al. (1992) Ibuprofeno Refeição regular Retarda a absorção. Administrar com alimentos para ↓irritação gástrica Halsas et al. (1999) Paracetamol Dietas hiperlipídicas ↓ a liberação e a dissolução; ↓ a velocidade e a extensão da absorção Administrar 2h antes ou 3h após as refeições Wessel et al. (1992) Quadro 2. Influência dos alimentos/nutrientes no processo de absorção e de biotransformação de fármacos. Nota: ↓ diminui; ↑ aumenta. Adaptada de Moura e Reyes, 2002, p. 237 e 238. ALTERAÇÕES NA ABSORÇÃO DE NUTRIENTES Quando o uso de medicamentos é prolongado, este pode provocar alteração na absorção de nutrientes, sendo, muitas vezes, necessário o uso de suplementos nutricionais para restabelecer a saúde do paciente. As alterações causadas pelas substâncias ativas na absorção de nutrientes podem ser: Primárias: consequências dos efeitos diretos dos agentes farmacológicos sobre a mucosa ou sobre o processo intraluminal. Secundárias: causadas pelo estado fisiológico deficiente ou pela interferência do fármaco sobre o metabolismo de um nutriente que, por sua deficiência, poderá ocasionar a má absorção de outros. Veja exemplos de modificações fisiológicas do processo de envelhecimento que podem interferir no estado nutricional do indivíduo e proporcionar interações medicamentosas: Diminuição da reserva muscular Aumento da reserva adiposa Alterações na atividade enzimática e nos componentes das secreções gástricas (diminuição da amilase salivar, de enzimas de atividade proteolítica e de amilase e lipase pancreáticas) Hipocloridria e acloridria Redução da tolerância à glicose Diminuição do fluxo sanguíneo renal e da velocidade de filtração glomerular (mesmo na ausência de doença renal) Fármacos Perda de nutrientes Mecanismos/efeitos Referências Antiácidos Hidróxido de alumínio Carbonato de cálcio Bicarbonato Lipídeos, folacina, K, Ca, P ↑ pH, modifica a solubilidade; forma complexos; ↓ absorção Roe (1985) de sódio Trisilicato de magnési Laxativos Óleo mineral Caroteno, vitaminas A, D, K, lipídeos Cria barreira física para absorção; solubiliza nutrientes; ↑ trânsito intestinal Clark et al. (1987) Fenolftaleína Vitaminas A, E, K, D, lipídeos e cálcio ↑ trânsito intestinal; ↓ tempo de permanência; ↓ vilosidades intestinais; ↓ absorção Roe (1978) Bisacodil Lipídeos, Na, K, Ca Estimula diretamente a motilidade intestinal; ↓ tempo de permanência; ↓ absorção no cólonKirk (1995) Antibióticos Neomicina Isoniazida Lipídeos, Na, K, Ca, Fe, Vitaminas B12, B6 Danifica a mucosa; ↓ vilosidades intestinais; precipita sais biliares; provoca esteatorréia; ↓ atividade da lipase pancreática Melander et al. (1976); Pellock et al. (1985) Tetraciclinas Cálcio e ferro ↓ absorção por ligações com íons cálcio ou sais de ferro (forma quelatos) Roe (1984b); Neuvonen & Turakka (1974) Agente Hipocolesterolêmico Colestiramina, Lipídeos, Fe, Provoca perda de apetite; liga-se com ácidos Roe (1985) colestipol clofibrato vitaminas A, K, D, B12 biliares e nutrientes; ↓ absorção Quadro 3. Perda da absorção intestinal de nutrientes induzida por fármacos. Nota: ↓ diminui; ↑ aumenta. Adaptada de MOURA E REYES, 2002, p. 231. Como vimos, os medicamentos utilizados por idosos podem interferir em seu estado nutricional de diversas maneiras, principalmente, por diminuir a capacidade de absorção de alguns nutrientes, sendo comum em idosos a utilização de terapias múltiplas. Em contrapartida, uma alteração do estado nutricional do idoso pode dificultar a ação de um fármaco, além do mais, alterações fisiológicas do envelhecimento podem influenciar na farmacocinética de um medicamento. Sendo assim, um idoso se torna uma população de maior risco para as interações medicamentosas. INTERAÇÃO DROGA-NUTRIENTE E ENVELHECIMENTO A especialista Aline Cardozo Monteiro fala sobre a interação droga-nutriente e envelhecimento. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AS INTERAÇÕES ENTRE NUTRIENTES E O USO DE MEDICAMENTOS EM IDOSOS PROVOCAM GRANDE IMPACTO FARMACOLÓGICO DEVIDO ÀS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS E EFEITOS DELETÉRIOS DE DROGAS NO ESTADO NUTRICIONAL. MARQUE A OPÇÃO QUE NÃO REPRESENTA UMA DAS FORMAS DE COMO AS INTERAÇÕES PODEM OCORRER. A) Esvaziamento gástrico B) Aumento do trânsito intestinal C) Competição por sítios de absorção D) Fluxo sanguíneo esplâncnico e/ou ligação direta do fármaco com componentes do alimento E) Manutenção de pH gástrico e intestinal 2. SOBRE O CONTEÚDO ABORDADO DOS FÁRMACOS ADMINISTRADOS VIA ORAL, MARQUE A OPÇÃO CORRETA EM RELAÇÃO ÀS ASSERTIVAS APRESENTADAS. I) QUANDO SE ADMINISTRA UM FÁRMACO POR VIA ORAL, SUA ABSORÇÃO PELO TUBO GASTRINTESTINAL E, CONSEQUENTEMENTE, SUA CONCENTRAÇÃO SANGUÍNEA, SÃO DEPENDENTES DE VÁRIOS FATORES, COMO POR EXEMPLO, O MECANISMO PRÉ-SISTÊMICO. II) A MICROFLORA INTESTINAL PODE-SE APRESENTAR FREQUENTEMENTE ALTERADA NO ENVELHECIMENTO. III) OS EFEITOS DOS FLUIDOS GASTROINTESTINAIS PODEM INTERFERIR NA BIODISPONIBILIDADE DE FÁRMACOS EM INDIVÍDUOS IDOSO PODENDO OCORRER PELAS VARIAÇÕES INDIVIDUAIS COMO O TEMPO DE TRÂNSITO INTESTINAL. A) I e II estão incorretas. B) I, II e III estão corretas e a II é causa da I. C) Apenas I está correta. D) Apenas II está correta. E) I, II e III estão corretas, porém II não é a causa da I. GABARITO 1. As interações entre nutrientes e o uso de medicamentos em idosos provocam grande impacto farmacológico devido às alterações fisiológicas e efeitos deletérios de drogas no estado nutricional. Marque a opção que NÃO representa uma das formas de como as interações podem ocorrer. A alternativa "E " está correta. A manutenção do pH não é o fator de interferência da interação droga-nutrientes, e sim, as alterações de pH. 2. Sobre o conteúdo abordado dos fármacos administrados via oral, marque a opção correta em relação às assertivas apresentadas. I) Quando se administra um fármaco por via oral, sua absorção pelo tubo gastrintestinal e, consequentemente, sua concentração sanguínea, são dependentes de vários fatores, como por exemplo, o mecanismo pré-sistêmico. II) A microflora intestinal pode-se apresentar frequentemente alterada no envelhecimento. III) Os efeitos dos fluidos gastrointestinais podem interferir na biodisponibilidade de fármacos em indivíduos idoso podendo ocorrer pelas variações individuais como o tempo de trânsito intestinal. A alternativa "B " está correta. Os efeitos dos fluidos gastrointestinais podem interferir na biodisponibilidade de fármacos em indivíduos idosos, ocorrendo pelas variações individuais, como o tempo de trânsito intestinal, que leva à modificação da microbiota intestinal, podendo causar disbiose intestinal. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS A nutrição personalizada deve selecionar os alimentos mais adequados para cada indivíduo, por exemplo, com base na ação que exercem sobre a expressão gênica e/ou a composição da microbiota intestinal. Levando em consideração apenas as necessidades e características pessoais, além do perfil genético do indivíduo, é possível desenvolver protocolos alimentares com maior probabilidade de serem úteis e bem- sucedidos. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BARKER, D. J. In utero programming of chronic disease. Clin Sci (Lond), p. 95, 1998. BARKER, D. J.; THORNBURG, K. L. The obstetric origins of health for a lifetime. Clinical obstetrics and gynecology, p. 56, 2013. BRASIL. Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2020. FLEMING, T. P.; WATKINS, A. J.; VELAZQUEZ, M. A.; MATHERS, J. C.; PRENTICE, A. M.; STEPHENSON, J.; BARKER, M.; SAFFERY, R.; YAJNIK, C. S.; ECKERT, J. J.; HANSON, M. A.; FORRESTER, T.; GLUCKMAN, P. D.; GODFREY, K. M. Origins of lifetime health around the time of conception: causes and consequences. Lancet. London, England, v. 391, p. 1842–1852, 2018. GLOBAL BURDEN OF DISEASE. GBD. Health effects of dietary risks in 195 countries, 1990–2017: a systematic analysis forthe Global Burden of Disease Study 2017. Lancet, London, England, v. 393, 2019. IZAR, M. C. O. et al. Posicionamento sobre o Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular. Arq. Bras. Cardiol., v. 116, p. 160-212, 2021. MOURA, M. R. L.; REYES, F. G. Interação fármaco-nutriente: uma revisão. Rev. Nutr., v. 15, p. 223-238, 2002. WADHWA, P. D.; BUSS, C.; ENTRINGER, S.; SWANSON, J. M. Developmental origins of health and disease: brief history of the approach and current focus on epigenetic mechanisms. Semin. Reprod. Med., v. 27, p. 358-68, 2009. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde, 2005. EXPLORE+ Para ampliar seus conhecimentos sobre o conteúdo: Leia: Maternal influences on fetal brain development: The role of nutrition, infection and stress, and the potential for intergenerational consequences, de Fitzgerald & Drake (em inglês). Fatores que afetam o consumo alimentar e a nutrição do idoso, de Maria Teresa Fialho de Sousa Campos, Josefina Bressan Resende Monteiro e Ana Paula Rodrigues de Castro Ornelas. Consulte: Guia alimentar para a população brasileira e Guia alimentar para crianças menores de 2 anos, ambos do Ministério da Saúde. CONTEUDISTA Cíntia Ramos Pereira Azara CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); DESCRIÇÃO Identificação e interpretação das condições metabólicas para compreensão do sistema de interconexão metabólica e planejamento de conduta. PROPÓSITO Compreender as condições fisiológicas e metabólicas, além das interconexões para um diagnóstico clínico nutricional, assim como a elaboração de uma conduta nutricional individualizada para atuação na prática clínica. PREPARAÇÃO Antes de iniciar este conteúdo, tenha em mãos um bloco de notas para fazer suas anotações e tenha acesso à Internet para acessar alguns conteúdos. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer os fatores antecedentes, mediadores e gatilhos que norteiam a teia de interconexão metabólica MÓDULO 2 Identificar os fatores individuais, genéticos e ambientais que moldam os processos bioquímicos MÓDULO 3 Formular o diagnóstico nutricional individualizado baseado no sistema ATMS INTRODUÇÃO O sistema de Antecedentes, “Triggers” (gatilhos), Mediadores e Sintomas (ATMS) é um método de diagnóstico que leva em consideração a interação entre todos os sistemas fisiológicos, permitindo identificar os desequilíbrios bioquímicos/metabólicos associadosàs condições clínicas individualizadas. O OBJETIVO DESSE MÉTODO É INDIVIDUALIZAR O ATENDIMENTO E IDENTIFICAR ANTECEDENTES, MEDIADORES, GATILHOS E SINTOMAS, A FIM DE COMPREENDER AS RELAÇÕES ENTRE A TEIA DE INTERCONEXÕES METABÓLICAS E TRAÇAR UMA CONDUTA MAIS ESPECIALIZADA E EFETIVA. No primeiro módulo, além de abordar os antecedentes e gatilhos, conheceremos a escala de Bristol e os mediadores para, então, no segundo módulo, explorar a teia de interconexões. Por fim, no último módulo, analisaremos um caso prático de aplicação de conduta. MÓDULO 1 Reconhecer os fatores antecedentes, mediadores e gatilhos que norteiam a teia de interconexão metabólica Diante da crescente incidência de doenças crônicas e de sua íntima relação com o estado nutricional e hábitos alimentares, evidencia-se a importância da aplicação dos princípios da Nutrição Clínica Funcional para a manutenção do estado de saúde e redução do risco de doenças. SENDO O SISTEMA ATMS CONSIDERADO HOJE O PADRÃO OURO PARA A AVALIAÇÃO CLÍNICA E NUTRICIONAL, VALE COMPREENDER DE FORMA INDIVIDUAL CADA UM DE SEUS PONTOS. ANTECEDENTES Os antecedentes do sistema ATMS estão relacionados à história familiar (herança genética) e de vida do paciente. Incluem fatos que ocorreram durante sua vida, desde a gestação. Os dados coletados na anamnese para identificar os antecedentes são: hábitos de vida e de alimentação desde o nascimento, tipo de parto, atividade física, uso de medicamentos e/ou suplementos, histórico de doenças pessoais e familiares, entre outros. Pode incluir, inclusive, a saúde da mãe no momento da gestação (SOUZA et al., 2018). Foto: Shutterstock.com O estilo de vida, principalmente no que se refere aos hábitos alimentares, pode influenciar de forma direta o desenvolvimento de doenças crônicas ou desencadear sinais e sintomas. O alto consumo de gorduras saturadas ou trans, alta ingestão de sal ou açúcar, uma alimentação pobre em fibras e desequilibrada em macro e micronutrientes são considerados fatores de risco para diabetes, doenças cardiovasculares e obesidade, notadamente quando associados a um estilo de vida sedentário. NA EPIGENÉTICA, ACREDITA-SE QUE OS FATORES AMBIENTAIS POSSAM SE SOBREPOR AOS FATORES GENÉTICOS, UMA VEZ QUE A ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL PODE, INCLUSIVE, SILENCIAR OU ATIVAR GENES ASSOCIADOS ÀS DOENÇAS. ATENÇÃO A epigenética é caracterizada por um mecanismo associado a mudanças hereditárias na expressão do gene, que não envolvem alterações na sequência do DNA, sendo reversíveis e ainda podem ser herdadas entre gerações. Alterações epigenéticas estão associadas com o gene/dieta e interações gene/ambiente, resultando em metabolismo alterado de lipídeos, inflamação e outros desequilíbrios metabólicos que levam a doenças cardiovasculares e obesidade (ORDOVAS et al., 2011). Contudo, segundo Hanley et al. (2010), dependendo das escolhas alimentares, alguns nutrientes podem ser capazes de reverter os padrões epigenéticos anormais, e podem induzir melhoria da saúde por meio da intervenção dietética em pontos específicos de desenvolvimento, principalmente na infância. Nesse tópico, incluem-se hipersensibilidades ou alergias a alimentos. As reações adversas aos alimentos podem gerar quadros de alergia alimentar (mediada por IgE), hipersensibilidade alimentar (mediada por IgG, IgM, IgA, IgE e células T) e intolerância (deficiência metabólica, por exemplo, intolerância à lactose por deficiência de lactase), que podem causar manifestações clínicas, como enxaqueca, dores musculares, doenças autoimunes, ansiedade, déficit de memória e concentração, transtornos emocionais, além de alterações gastrointestinais, cardiovasculares e respiratórias. Foto: Shutterstock.com GATILHOS – “TRIGGERS” Os gatilhos são ativados por fatores que induzem à inflamação e ao estresse oxidativo. Radiação Traumas Estresse emocional Xenobióticos Lipopolissacarídeos bacterianos (LPS) Vírus e parasitas QUANDO ACIONADOS, OS GATILHOS AUMENTAM A ATIVIDADE DO NFKB (FATOR DE TRANSCRIÇÃO NUCLEAR DE CITOCINAS INFLAMATÓRIAS). O intestino é a principal barreira. Qualquer alteração intestinal, segundo Souza et al. (2016), que curse com atrofia celular, diminuição de barreira intestinal e acréscimo da permeabilidade, aumenta a translocação de substâncias que funcionam como gatilho para desencadear uma cascata inflamatória e/ou de estresse oxidativo, alterando a atividade celular, podendo ser o principal fator para o desenvolvimento de algumas doenças crônicas. A disbiose intestinal, estado no qual há alteração na qualidade e quantidade das bactérias intestinais (microbiota intestinal), além de proporcionar mudanças na sua atividade metabólica e também em sua distribuição no TGI (trato gastrointestinal), pode ser gatilho para doenças crônicas que cursam com inflamação e estresse oxidativo. Isso porque o intestino contém o maior reservatório de células imunocompetentes do organismo, sendo o seu desenvolvimento diretamente dependente de microrganismos intestinais. Uma microbiota saudável promove um desenvolvimento normal do sistema imune. A disbiose intestinal pode ser avaliada de acordo com o padrão alimentar: Dietas com baixo teor de fibra e excesso de carboidratos de alto índice glicêmico, principalmente açúcares, caracterizam o padrão “por fermentação”. Já uma dieta rica em produtos industrializados, considerados xenobióticos, pode caracterizar uma disbiose “por inflamação”. O alto consumo de carnes, principalmente vermelha, e embutidos, caracterizam um padrão “por putrefação”, que também está associado com inflamação. Outra forma de identificar as alterações intestinais e, consequentemente, caracterizar um padrão de disbiose, é pela caracteristica das fezes (imagem abaixo), segundo a Escala de Bristol para Consistência de Fezes – EBCF (Bristol Stool Form Scale) , desenvolvida e validada por Kenneth W. Heaton e S. J. Lewis (PERÉZ; MARTÍNEZ, 2009). O formato das fezes se modifica em várias doenças intestinais, por exemplo, as diarreias infecciosas, colites, constipação intestinal, incontinência anal, doença inflamatória intestinal, entre outras. A investigação desses parâmetros durante a avaliação do paciente pode ser determinante no diagnóstico e acompanhamento dessas doenças. Além disso, a EBCF pode ser usada como método para investigar a evolução ou não do paciente, facilitando para o profissional a abordagem e a elaboração da melhor conduta nutricional. Tipo 1 Pequenas bolinhas duras, separadas como coquinhos, difíceis para sair. Tipo 2 Formato de linguiça encaroçada, com pequenas bolinhas grudadas. Tipo 3 Formato de linguiça com rachadura na superfície. Tipo 4 Alongada, no formato de salsicha ou cobra. Lisa e macia. Tipo 5 Pedaços macios e separados com bordas bem definidas (fáceis de sair). Tipo 6 Massa pastosa e fofa com bordas irregulares. Tipo 7 Totalmente líquida, sem pedaços sólidos. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Escala de Bristol para avaliação da consistência das fezes em adultos. Adaptado de Russo et al. (2012). Tipo 1 Pequenas bolinhas duras, separadas como coquinhos, difíceis para sair. Tipo Formato de linguiça encaroçada, com pequenas 2 bolinhas grudadas. Tipo 3 Alongada, no formato de salsicha ou cobra. Lisa e macia. Tipo 4 Massa pastosa e fofa com bordas irregulares. Tipo 5 Totalmente líquida, sem pedaços sólidos. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Escala de Bristol para avaliação da consistência das fezes modificada para crianças. Adaptado de Chumpitazi et al. (2010). UMA BOA ESTRATÉGIA PARA O TRATAMENTO DA DISBIOSE É O PROGRAMA “4 RS” (REMOVER, REINOCULAR, REPARAR E REAVALIAR). Para a estratégia de “remover” são necessários patógenos, xenobióticos e alérgenos alimentares. Em xenobióticos, estão incluídos: antibióticos, fármacos, moléculas bioativas e poluentes. Dessa forma, deve ser orientado o consumode alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos e aditivos químicos, tais como glutamato, sulfitos e nitratos que são adicionados a muitos produtos industrializados (SARTOR, 2012). Para “reinocular” é necessário modular a microbiota intestinal. Nesse ponto, é importante investigar a ingestão de fibras e, se for necessário, fazer a suplementação com frutanos (inulina e frutooligossacarídeo – FOS), que são fibras 100% fermentáveis, além de verificar também a necessidade de suplementar probiótico. Os Lactobacillus são importantes para colonizar principalmente o intestino delgado e o gênero Bifidubacterium, para albergar o intestino grosso. A legislação brasileira, determina que a quantidade mínima viável de cepas deve estar na faixa de 108 a 109 UFC (unidades formadoras de colônia) na porção diária (BRASIL, 2007). Para “reparar” as células intestinais é necessário fornecer o substrato energético principal, ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), que são produzidos quando há fermentação de fibras pelas bactérias. Além disso, a suplementação de glutamina, em torno de 5g/dia, também tem sido associada, já que esse aminoácido tem a função de favorecer a replicação celular. Outros nutrientes como zinco, ácido fólico, vitamina A (DAVIDSON; KRITAS; BUTLER, 2007) e os polifenóis (TOMÁS-BARBERÁN; SELMA; ESPÍN, 2016) também são necessários para o reparo da mucosa intestinal, além do aumento da ingestão hídrica. É fundamental que seja feita a reavaliação, após todas as etapas, para verificar a eficácia do tratamento e se haverá necessidade de recomeçar. MEDIADORES Como o nome já diz, os mediadores são substâncias que mediam os sintomas, ou seja, que desencadeiam as manifestações clínicas sintomatológicas. Segundo Souza et al. (2016), os principais mediadores estudados são: Hormônios Neurotransmissores Neuropeptídeos Citocinas Radicais livres Os mediadores hormonais podem ser modulados por meio da nutrição. O Cortisol, hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais, cuja função é controlar o estresse, reduzir inflamações, contribuir para o funcionamento do sistema imune e favorecer a homeostase da glicose, pode ser modulado por: BETA-SITOSTEROL FOSFATIDILSERINA THEANINE BETA-SITOSTEROL Aparentemente este fitoesterol modula os efeitos do cortisol, em especial após o exercício. FOSFATIDILSERINA Fosfolipídios encontrados nos peixes, vegetais folhosos escuros, na soja e no arroz. É fundamental para o adequado funcionamento dos neurônios. Sua suplementação por 3 semanas reduziu os níveis de ACTH (hormônio corticotrófico ou corticotrofina) e cortisol plasmático. THEANINE É um aminoácido encontrado no chá-verde que atravessa a barreira hipotalâmica, exercendo propriedades psicoativas e reduzindo estresse físico e mental pelo controle dos níveis de cortisol. Além disso, aumenta a produção de GABA (ácido gama-aminobutírico). Já a insulina, ou melhor, a resistência à insulina, é uma alteração comum do paciente que apresenta alteração dos mediadores hormonais, principalmente em pacientes que apresentam inflamação ou alguma doença crônica. Sua modulação pode ser feita por meio de nutrientes como: ÁCIDO ALFA-LIPÓICO ÁCIDOS GRAXOS W-3 CROMO E VANÁDIO MAGNÉSIO ZINCO VITAMINA D ÁCIDO ALFA-LIPÓICO Previne o estresse oxidativo, prevenindo a resistência à insulina e disfunção das células beta. ÁCIDOS GRAXOS W-3 Melhoram a fluidez da membrana celular, aumentando a atividade do receptor de insulina e, com isso, a sensibilidade ao hormônio. CROMO E VANÁDIO Melhora a sensibilidade à insulina por meio do aumento do número de receptores de insulina e da maior translocação de GLUT4, auxiliando no controle glicêmico. MAGNÉSIO O magnésio melhora a atividade dos receptores de insulina. ZINCO É cofator na síntese e utilização da insulina. Além disso, por ser antioxidante, protege a insulina da degradação. VITAMINA D Promove uma ativação geral da síntese proteica das células beta pancreáticas, estimulando a conversão da pró-insulina e insulina. Sendo assim, o sistema ATMS (imagem a seguir) interage entre si, desencadeando alterações funcionais que estão interligadas e conectam-se de tal forma que, para o tratamento adequado, o cuidado deve ser multidisciplinar, pensando na funcionalidade das células e melhoria das conexões entre órgãos e sistemas. Imagem: Giselle França da Costa. Sistema ATMS. O SISTEMA ATMS A especialista Aline Cardozo Monteiro fala sobre o sistema ATMS na conduta do nutricionista. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O SISTEMA DE ANTECEDENTES, “TRIGGERS” (GATILHOS), MEDIADORES E SINTOMAS (ATMS) É UM MÉTODO OURO DE DIAGNÓSTICO QUE LEVA EM CONSIDERAÇÃO A INTERAÇÃO ENTRE TODOS OS SISTEMAS FISIOLÓGICOS, PERMITINDO IDENTIFICAR OS DESEQUILÍBRIOS BIOQUÍMICOS/METABÓLICOS ASSOCIADOS ÀS CONDIÇÕES CLÍNICAS INDIVIDUALIZADAS. EM RELAÇÃO AOS GATILHOS, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA. I) QUANDO ACIONADOS, OS GATILHOS AUMENTAM ATIVIDADE DO NFKB (FATOR DE TRANSCRIÇÃO NUCLEAR DE CITOCINAS INFLAMATÓRIAS). II) QUALQUER ALTERAÇÃO INTESTINAL, QUE CURSE COM ATROFIA CELULAR, DIMINUIÇÃO DE BARREIRA INTESTINAL E ACRÉSCIMO DA PERMEABILIDADE, AUMENTA A TRANSLOCAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS QUE FUNCIONAM COMO GATILHO. III) OS GATILHOS PODEM SER ATIVADOS POR XENOBIÓTICOS, LIPOPOLISSACARÍDEOS BACTERIANOS, MAS NÃO POR INFLAMAÇÃO E ESTRESSE OXIDATIVO. A) Apenas a I está correta. B) I, II e III estão corretas. C) Apenas a III está correta. D) I e II estão corretas. E) II e III estão corretas. 2. AS REAÇÕES ADVERSAS AOS ALIMENTOS PODEM GERAR QUADROS DE ALERGIA ALIMENTAR (MEDIADA POR IGE), HIPERSENSIBILIDADE ALIMENTAR (MEDIADA POR IGG, IGM, IGA, IGE E CELS T) E INTOLERÂNCIA (DEFICIÊNCIA METABÓLICA, POR EXEMPLO, INTOLERÂNCIA À LACTOSE POR DEFICIÊNCIA DE LACTASE), QUE PODEM CAUSAR MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS COMO ENXAQUECA, DORES MUSCULARES, DOENÇAS AUTOIMUNES, DENTRE OUTRAS. CONSIDERANDO A AVALIAÇÃO PELO SISTEMA ATMS, EM QUAL DOS PONTOS DE AVALIAÇÃO ESSA INVESTIGAÇÃO DEVE SER INSERIDA? A) Gatilhos e antecedentes B) Antecedentes C) Mediadores e sintomas D) Sintomas e gatilhos E) Sintomas GABARITO 1. O sistema de antecedentes, “triggers” (gatilhos), mediadores e sintomas (ATMS) é um método ouro de diagnóstico que leva em consideração a interação entre todos os sistemas fisiológicos, permitindo identificar os desequilíbrios bioquímicos/metabólicos associados às condições clínicas individualizadas. Em relação aos gatilhos, marque a alternativa correta. I) Quando acionados, os gatilhos aumentam atividade do NFkB (fator de transcrição nuclear de citocinas inflamatórias). II) Qualquer alteração intestinal, que curse com atrofia celular, diminuição de barreira intestinal e acréscimo da permeabilidade, aumenta a translocação de substâncias que funcionam como gatilho. III) Os gatilhos podem ser ativados por xenobióticos, lipopolissacarídeos bacterianos, mas não por inflamação e estresse oxidativo. A alternativa "D " está correta. Os fatores que envolvem a inflamação e o estresse oxidativo podem ser considerados gatilhos que contribuirão para os desequilíbrios bioquímicos/metabólicos associados às condições clínicas individualizadas. 2. As reações adversas aos alimentos podem gerar quadros de alergia alimentar (mediada por IgE), hipersensibilidade alimentar (mediada por IgG, IgM, IgA, IgE e cels T) e intolerância (deficiência metabólica, por exemplo, intolerância à lactose por deficiência de lactase), que podem causar manifestações clínicas como enxaqueca, dores musculares, doenças autoimunes, dentre outras. Considerando a avaliação pelo sistema ATMS, em qual dos pontos de avaliação essa investigação deve ser inserida? A alternativa "B " está correta. No método de investigação por meio do sistema ATMS, os antecedentes envolvem fatores ambientais, genéticos e também reações alérgicas ou de hipersensibilidade. MÓDULO 2 Identificar os fatores individuais, genéticos e ambientais que moldam os processos bioquímicos A nutrição,
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