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316 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 UM NOVO OLHAR PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA Cassia Regina Souza Gherlandi1 Sonia Regina Leite Merege 2 RESUMO O objetivo deste projeto é trabalhar com os profissionais da educação do ensino regular e/ou ensino comum formas efetivas de assegurar uma educação inclusiva de qualidade nas escolas Estaduais de Educação do estado do Paraná, visando construir um modelo do que esperamos e desejamos para o futuro de uma educação inclusiva. Além disso, realizar um levantamento das impressões dos profissionais da educação e esclarecer os pontos norteadores do tema nas escolas. O estudo acerca dos conceitos pesquisados visa empregar novas práticas pedagógicas; discutir como ocorre a educação formal nas Escolas Especiais; demonstrar um olhar diferenciado para os alunos da educação especial nas escolas de ensino comum; elencar as novas nomenclaturas de abordagem das pessoas com deficiência; analisar o histórico social do contexto educacional ofertado às pessoas com deficiência; realizando um levantamento das impressões dos profissionais da educação acerca do tema. Aproximando assim, esses profissionais às problemáticas vivenciadas por estudantes e professores da educação especial no ensino comum. PALAVRAS-CHAVE: Educação Inclusiva. Ensino Regular. Educação Especial. A NEW LOOK AT INCLUSIVE EDUCATION ABSTRACT The purpose of this project is to work with professionals in regular education and/or common education effective ways to ensure quality inclusive education in State Schools of Education in the state of Paraná, aiming to build a model of what we hope and wish for the future inclusive education. In addition, conduct a survey of the impressions of education professionals and clarify the points guiding the theme in schools. The study about the researched concepts aims to employ new pedagogical practices; discuss how formal education occurs in Special Schools; demonstrate a differentiated look for special education students in common schools; the new nomenclatures for approaching people with disabilities; analyze the social history of the educational context offered to people with disabilities; performing a survey of the impressions of education professionals about the theme. Approaching thus, these professionals to the problems experienced by students and teachers of the special education in the common teaching. 1Professora PDE 2016 – Professora da Rede Pública do Estado do Paraná – SEED, atua no Colégio Estadual D. Moralina Eleutério – EFM e no Colégio Estadual Tiradentes – EFM , graduada em Ciências com Habilitação em Biologia pela FAFIJA (1997/2001), pós-graduada em Educação Especial, Gestão e Políticas da Educação Inclusiva pela Faculdade Padre João Bagozzi e em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela Faculdade de Educação São Braz. 2Professora Orientadora PDE 2016/2017, graduada em Pedagogia pela Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de Jacarezinho (1979), Mestra em: Educação e Ensino na Formação do Professor, pela Universidade Estadual do Norte do Paraná-UENP. Professora do quadro próprio da Universidade Estadual do Norte do Paraná - Campus de Jacarezinho - CLCA e CCHE. 317 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 KEYWORDS: Inclusive Education. Regular education. Special education. INTRODUÇÃO O presente artigo é resultado de um projeto do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do estado do Paraná. O programa é uma iniciativa do governo estadual para formação continuada de professores da rede de ensino e tem como finalidade a produção e aplicação de propostas de inovação para melhoria da qualidade de ensino nas escolas públicas. O presente projeto é parte integrante do PDE e foi desenvolvido entre os anos de 2016 e 2017. Motivada pela visível falta de conhecimento e estranhamento com a temática da inclusão nas escolas públicas, o objetivo central da proposta foi transformar a realidade da Educação Especial e Inclusiva no Colégio Tiradentes – EFM por meio de palestras. Assim, visando discutir os conceitos e as formas de Inclusão Educacional nas escolas de ensino comum. Foram utilizados referenciais teóricos para uma contextualização sobre o tema para com isso perceber como a questão é relevante para o momento em que vivemos e pelo qual passa a sociedade brasileira quando se trata de Educação Inclusiva. Num primeiro momento foi trabalhado com os profissionais da educação formas efetivas de assegurar uma Educação Inclusiva de qualidade. Nesse ponto foram evidenciados conceitos como, compreensão, respeito e igualdade. Esta aquisição de (re)conhecimento e oportunidade de aprendizagem intencionaram beneficiar todos educadores e educandos; preferencialmente os que se relacionam com alunos com deficiência intelectual, auditiva, visual, neuromotora, transtornos do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) entre outros. Um grande desafio que pressupôs a aplicação de estratégias individualizadas, organizando o trabalho pedagógico e proporcionando assim o sucesso dos educandos desejado por toda a comunidade escolar. Claudia Gomes & Fernando Luis Gonzalez Rey (2007, p. 408) apresentam algumas considerações sobre os alunos da educação Especial relativas à elaboração deste artigo. Dentre elas, destaca-se a identificação desse alunado, que é reconhecido como Ao se considerar o aluno com necessidades educacionais especiais como cidadão que possuem direitos e deveres, o enfoque social de suas vidas é mudado, e eles passam a ser considerados também produtores e reprodutores de sua realidade social a ponto de sua limitação ser caracterizada como secundária, o que proporciona o 318 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 desenvolvimento de novas relações de convivência individuais e sociais. Essa mudança de enfoque, no entanto, parece esbarrar, prioritariamente, em aspectos subjetivos que há muito delimitam e estigmatizam esses alunos. Embora pouco se discuta com os profissionais do ensino regular sobre suas impressões de como ocorre ou deveria ocorrer a aplicabilidade da modalidade de ensino Educação Especial nas escolas regulares, percebeu-se a falta de valorização e repercussão do tema. Atrelado a isso, está o distanciamento dos próprios educadores e de outros componentes da comunidade escolar em torno do tema. Dessa forma, e visando analisar como esses membros da comunidade escolar compreendem a Educação Inclusiva, a intenção foi desenvolver um trabalho que desse conta das impressões que os membros do ensino regular têm da Educação Especial e Inclusiva, bem como, compreender e sugerir o melhor método para esclarecimento, no que consiste essa modalidade de ensino. Vale ressaltar que, embora a compreensão sobre o tema fosse apenas o primeiro passo, foi necessário traçar metas para a aplicação de metodologias e práticas inclusivas nas escolas Estaduais. Além disso, foi realizado um levantamento das impressões dos profissionais e tentamos esclarecer os pontos norteadores do tema, através de encontros sistematizados realizados no âmbito escolar. Proporcionamos reflexões acerca de como ocorre a “escolarização” nas Escolas Especiais, demonstrando um “olhar diferenciado” para os alunos da Educação Especial nas escolas de ensino comum, elencamos as novas nomenclaturas de abordagem das pessoas com deficiência, analisamos o histórico social do contexto educacional ofertado às pessoas com deficiência em nosso país, fazendo um comparativo com o Estado do Paraná. Todo esse estudo se consolidou na Formação Continuada dos professores da rede regular de ensino, profissionais da educação (AgenteI e Agente II), bem como graduandos (as) do curso de Pedagogia da Fanorpi, promovendo e ampliando novas formas de atuação para com os educandos, sejam eles da educação Especial e Inclusiva ou mesmo os educandos do ensino comum, para que esses pudessem refletir sobre sua postura diante da diversidade. A escola precisa ser modificada tornar-se receptiva às necessidades dos educandos e sensibilizar a todos. Dentre as possibilidades de desenvolvimento do trabalho, buscaram que os conteúdos referidos, auxiliassem os profissionais da educação a considerar os desafios 319 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 propostos, ampliando o leque de ações voltadas para a concretização de uma educação de qualidade para todos. Contribuindo para o desenvolvimento uma práxis pedagógica inovadora e que incite um trabalho comprometido com a ética profissional. Diante deste exposto, este artigo tem o propósito de buscar soluções para que ocorra efetivamente um processo educacional voltado para a Educação Inclusiva, assegurando o direito a educação, a igualdade de oportunidade para todos os alunos que fazem parte da diversidade na qual estamos inseridos. HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA Na área educacional, principalmente em relação à Educação Especial e Inclusiva, as mudanças são sempre vistas a princípio com alguma resistência, pois as mudanças causam alguns efeitos, visto que envolvem um processo que está enraizado a uma questão histórica “paternalista”, e não como uma visão de aceitação e respeito à diversidade. Para tentarmos compreender o cenário atual da Educação Especial e Inclusiva, faz- se necessário revisar a composição histórica de todo esse processo, uma vez que por muito tempo, as pessoas “portadoras de necessidades especiais” tiveram seus direitos negados por uma sociedade arcaica e preconceituosa. A seguir, apresentaremos resumidamente uma linha cronológica, assinalando os principais fatos ocorridos desde um período pré-histórico até os dias de hoje, baseando-se nas reflexões de (RODRIGUES,2008); (MIRANDA, 2003). No período pré-histórico, em uma sociedade primitiva as pessoas com alguma deficiência eram dependentes e morosas, justificando o motivo de muitas crianças serem abandonadas à própria sorte, pois, não poderiam colaborar em nada com suas tribos posteriormente. Na antiguidade crianças com deficiências eram consideradas “seres desprezíveis”, legitimando sua eliminação e abandono de seus pais, uma vez que Espartanos e Atenienses pregavam ideais atléticos, de beleza e perfeição para seu povo. Com o advento do Cristianismo na Idade Média essas pessoas ganham almas, deixando de ser consideradas seres diabólicos, e passam a ter significado de divindade, onde são protegidas e acolhidas por conventos e igrejas, porém, para suas famílias ainda existe o estigma de punição dos pecados realizados por seus pais, mas a conotação já é mais de caridade do que de abandono. 320 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 Surgem então instituições específicas para o cuidado de pessoas com deficiência, relatados por Rodrigues (2008, p. 9). No século XIII, surge à primeira instituição para pessoas com deficiência, precursora de atendimento sistemático. Era uma colônia agrícola, na Bélgica, que propunha o tratamento com base na alimentação, exercícios e ar puro para minimizar os efeitos da deficiência. No século XIV, surge a primeira legislação sobre os cuidados com a sobrevivência e com os bens das pessoas com deficiência mental (Da praerogativa regis, baixada por Eduardo II, da Inglaterra). Mais adiante, nas primeiras décadas do sec. XX, a teoria da deficiência passa a ser apontada como algo biológico, ligado à hereditariedade, e por influência de alguns autores da época, emerge Rodrigues (2008, p. 14): As escolas para crianças com deficiência mental. Uma delas, a escola de Abendberg, criada em 1840, tinha como objetivo a recuperabilidade dos cretinos e idiotas visando sua autonomia e independência. Seu fundador, Guggenbuhl, não deixou contribuição metodológica ou doutrinária, mas sim a difusão da ideia da educabilidade das crianças com deficiência mental. Acrescentamos aqui o surgimento das escolas públicas, tendo como seu defensor Johan Heinrich Pestalozzi, pedagogista suíço e educador, defendia a ideia de que a educação pública era direito de todos, inclusive das crianças de classes populares, uma afronta para época. De acordo com Rodrigues (2008, p. 14): Froebel, visitando uma escola do seu mestre Pestallozzi, aprofunda seus estudos e cria um sistema de Educação Especial com materiais e jogos específicos, simples e eficazes, que tornam o ensino mais produtivo, ganhando um aspecto lúdico e concreto. Os princípios da metodologia de Froebel são: cada criança tem sua individualidade, é mais executiva do que receptiva e a educação formal deve começar antes dos seis anos. Ainda no sec. XX surgem as escolas montessorianas, método criado por Maria Montessori - educadora, médica, e pedagoga, para crianças com deficiências, partindo do concreto para o abstrato, facilitando o aprendizado através da observação e da experiência direta da procura e da descoberta. De acordo com Miranda (2003, p. 3): 321 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 A história da Educação Especial no Brasil tem como marcos fundamentais a criação do ―Instituto dos Meninos Cegos‖ (hoje ―Instituto Benjamin Constant‖) em 1854, e do ―Instituto dos Surdos-Mudos‖ (hoje, ―Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES‖) em 1857, ambos na cidade do Rio de Janeiro, por iniciativa do governo Imperial (JANNUZZI,1992; BUENO,1993; MAZZOTTA,1996). A fundação desses dois Institutos representou uma grande conquista para o atendimento dos indivíduos deficientes, abrindo espaço para a conscientização e a discussão sobre a sua educação. No entanto, não deixou de “se constituir em uma medida precária em termos nacionais, pois em 1872, com uma população de 15.848 cegos e 11.595 surdos, no país eram atendidos apenas 35 cegos e 17 surdos” (MAZZOTTA, 1996, p. 29), nestas instituições. A Educação Especial no Brasil foi introduzida com um caráter elitista, pois, poucas pessoas tinham acesso a esse tipo específico de atendimento, se caracterizava por fatos isolados e seu atendimento se restringia a deficiências visuais, auditivas e deficiências físicas. Já em relação à deficiência mental, quase nada se fazia para sanar algum problema diagnosticado, uma época muito atrasada para tal deficiência. Miranda (2003, p. 4) diz que: Em 1967, a Sociedade Pestalozzi do Brasil, criada em 1945, já contava com 16 instituições por todo o país. Criada em 1954, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais já contava também com 16 instituições em 1962. Nessa época, foi criada a Federação Nacional das APAES (FENAPAES) que, em 1963, realizou seu primeiro congresso (MENDES, 1995). Então no final da década de 50 e início da década de 60, começou a se pensar em outros tipos de “deficiências” no Brasil, as APAES e a Associação Pestalozzi começam a “cuidar” dessas pessoas com um enfoque menos clínico e mais para o aprendizado da pessoa com deficiência, iniciando com as AVDs3 e AVPs4. Pode-se perceber que houve uma ampliação das instituições privadas de caráter beneficente, isentando assim o governo da obrigatoriedade de oferecer o atendimento necessário aos deficientes na rede pública de ensino, e isto se dá até os dias de hoje. 3 Atividades de Vida Diária. 4 Atividades de Vida Prática. 322 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educaçãoem sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 A partir de 1957, Miranda (2003, p. 5) “o atendimento educacional a pessoas que apresentavam deficiência foi avocado pelo governo federal, em âmbito nacional”. Ao longo da década de 60, ocorreu um crescimento do número de escolas de ensino especial jamais observado no cenário do nosso país. Em 1969, havia mais de 800 estabelecimentos de ensino especial para deficientes mentais. Enquanto que, na década de 70, observamos nos países mais desenvolvidos amplos debates e indagações sobre a integração dos deficientes mentais na sociedade. Já no Brasil ocorre a institucionalização da Educação Especial através de programas de políticas públicas; sendo criado o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), em 1973. Em 1989, a lei Federal 7.853/89, institui a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência – CORDE, a oferta obrigatória e gratuita de Educação Especial em estabelecimentos públicos de ensino, e prevê crime punível com reclusão de uma a quatro anos e multa para os dirigentes de ensino público ou particular que se recusarem sem justa causa a matrícula de qualquer aluno com qualquer deficiência em seu estabelecimento. Com a publicação da Declaração de Salamanca, na metade do séc. XX surge um movimento em prol da Educação Inclusiva que defende a integração e a inclusão da pessoa com deficiência em toda esfera da sociedade, o indivíduo deficiente passa a ser “visto” como cidadão de direitos e deveres. A Declaração de Salamanca foi promulgada em junho de 1994, na Espanha, onde se estabeleceu que escolas regulares inclusivas se tornassem eficazes no combate à discriminação e determinava que as escolas devessem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, mentais, sociais, emocionais e linguísticas. Mais adiante, na publicação da LDB 9394/1996 as pessoas com deficiência tiveram seus direitos assegurados na forma da Lei: Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. §1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial. §2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular. 323 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 Toda essa evolução da Educação Especial se deu de forma lenta e culturalmente perturbadora; para muitas famílias era difícil admitir um deficiente em seu meio, sendo este um processo ainda mais lento nas cidades interioranas. Famílias mais abastadas e com uma compreensão intelectual um pouco melhor, buscavam atendimento para seus filhos e parentes nas escolas especializadas existentes, já famílias mais humildes, ainda escondiam seus filhos em suas casas, e às vezes os mandavam morar em asilos ou em casa de parentes em outros estados, pois, existia a “cultura da vergonha” de se ter um filho(a) dito “especial”. Com o tempo isso foi sendo amenizado, pois, quanto mais se manifestava sobre o tema e esse era disseminado na mídia e na sociedade contemporânea, os próprios familiares começaram a procurar mais estabelecimentos de ensino, que pudessem dar atendimento para seus filhos de maneira digna e saudável. No ano de 2001 volta-se a discutir sobre os direitos dos deficientes, agora no CNE e CEB que estabelece em seu Parecer: A elaboração de projeto preliminar de Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica havia sido discutida por diversas vezes, no âmbito da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, para a qual foi enviado o documento “Referenciais para a Educação Especial”. Após esses estudos preliminares, a Câmara de Educação Básica decidiu retomar os trabalhos, sugerindo que esse documento fosse encaminhado aos sistemas de ensino de todo o Brasil, de modo que suas orientações pudessem contribuir para a normatização dos serviços previstos nos Artigos 58, 59 e 60, do Capítulo V, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN. Soma-se a isso, uma análise detalhada feita de modo a demonstrar os prós e os contras sobre a Educação Inclusiva, tornou-se um assunto frequente no meio educacional, mas não o suficiente para exaurir os medos e as expectativas que muitos profissionais da educação levam em seu íntimo, evidenciando uma aflição sempre que um “aluno especial” adentra os portões das escolas e colégios do Ensino Regular. A proposta da Educação Inclusiva é bem mais ampla, e tem por intuito oferecer uma educação de qualidade para todos os membros da comunidade escolar. 324 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 No Parecer da CNE/CEB 17/2001 - HOMOLOGADO Despacho do Ministro em15/8/2001, publicado no Diário Oficial da União de 17/8/2001, Seção 1, p. 46. explicita o que é Inclusão: Inclusão: Representando um avanço em relação ao movimento de integração escolar, que pressupunha o ajustamento da pessoa com deficiência para sua participação no processo educativo desenvolvido nas escolas comuns, a inclusão postula uma reestruturação do sistema educacional, ou seja, uma mudança estrutural no ensino regular, cujo objetivo é fazer com que a escola se torne inclusiva, um espaço democrático e competente para trabalhar com todos os educandos, sem distinção de raça, classe, gênero ou características pessoais, baseando-se no princípio de que a diversidade deve não só ser aceita como desejada. Ainda que na legislação recomende-se o atendimento de pessoas com deficiência no ensino comum, o mesmo não chega a 40% da população que necessita dos serviços propostos. No entanto, as matrículas de crianças com deficiências na rede pública têm aumentado, conforme o Censo Escolar do MEC/INEP (2006), passando, gradativamente, a responsabilidade desse atendimento para as esferas municipais, estaduais e federais e não mais para as entidades beneficentes, mantidas com o auxílio da comunidade. O Estado do Paraná tem buscado atender a legislação vigente, em 2005 e 2007, houve concurso específico para Educação Especial, sendo que esses concursados atendem na rede regular de ensino, e presta serviços nas Instituições conveniadas ao Estado. A SEED tem em seu organograma uma pasta que atende essa demanda. De acordo com o Art. 41, do Regimento Interno da SEED, compete ao Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional – DEEIN: “Gerir as políticas públicas em Educação Especial para alunos com deficiência intelectual, deficiência física neuromotora, deficiência visual, surdez, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação”. Para considerarmos uma oferta de Escola Inclusiva, faz-se necessário refletir como os professores deveriam ser adequadamente capacitados em suas ações do cotidiano para que possam modificar sua prática pedagógica. Em um âmbito geral, sabemos que os professores que atuam na Rede Regular de Ensino foram pouco ou nada preparados para receber e acolher as peculiaridades enfrentadas pelos alunos da Educação Especial, em contra 325 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 partida, está arraigado em seus saberes a homogeneização da classe, negando as diferenças. Nesse sentido, Duk (2005, p. 60 e 61) destaca que: O conceito de diversidade é inerente à educação inclusiva e evidencia quecada educando possui uma maneira própria e específica de absorver experiências e adquirir conhecimento, embora todas as crianças apresentem necessidades básicas comuns de aprendizagem, as quais são expressas no histórico escolar e obedecem às diretrizes gerais de desempenho acadêmico. Tal concepção remete ao entendimento de que todos os alunos(a)s apresentam certas necessidades educacionais individuais que podem ocorrer em momentos diferentes durante a escolarização. Isto quer dizer que as diferenças individuais - aptidões, motivações, estilos de aprendizagem, interesses e experiências de vida - são inerentes a cada ser humano e têm grande influência nos processos de aprendizagem que são únicos para cada pessoa. Podemos pensar a inclusão como algo transformador da sociedade contemporânea, bem como transformador do seu próprio espaço escolar, uma vez que traz a necessidade de se repensar à educação inclusiva, principalmente nas dificuldades encontradas pelos profissionais da educação no Ensino Comum, quando recebem em suas salas de aulas e nos seus Colégios alunos com algum tipo de deficiência. Elencaremos aqui algumas deficiências mais encontradas no cotidiano da Escola Regular de Ensino e/ou Ensino Comum. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Segundo a American Association on Mental Retardation-AAMR: sistema 2002 Coerente com a prática classificatória e categorial, a deficiência mental tem sido identificada como uma condição individual, inerente, restrita à pessoa. Essa posição encontra fundamento nas perspectivas organicistas e psicológicas, atribuindo-se pouca importância à influência de fatores socioculturais. O diagnóstico da deficiência mental está a cargo de médicos e psicólogos clínicos, realizando-se em consultórios, hospitais, centros de reabilitação e clínicas. Equipes interdisciplinares de instituições educacionais também o realizam. De um modo geral, a demanda atende a propósitos educacionais, ocupacionais, profissionais e de intervenção (pepsic - Erenice). Para compreendermos um pouco mais sobre esse tipo de deficiência faz-se necessário o auxílio de outros autores sobre o tema, pois este é bastante amplo e de complexa interpretação, para (Luckasson e cols., 2002, p. 8): 326 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 Deficiência caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, como expresso nas habilidades práticas, sociais e conceituais, originando-se antes dos dezoito anos de idade. (pepsic - Erenice) Acrescentamos também a análise de Mantoan, 1998 para a definição conceitual sobre deficiência intelectual: A última revisão da definição de deficiência mental da AAMR, bastante recente (Luckasson et. ali.,1994), propõe que se abandonem os graus de comprometimento intelectual, pela graduação de medidas de apoio necessárias às pessoas com déficit cognitivo e destaca o processo interativo entre as limitações funcionais próprias dos indivíduos e as possibilidades adaptativas que lhes são disponíveis em seus ambientes de vida. Essa nova concepção da deficiência mental implica transformações importantes no plano de serviços e chama a atenção para as habilidades adaptativas, considerando-as como um ajustamento entre as capacidades dos indivíduos e as estruturas e expectativas do meio em que vivem, aprendem, trabalham e se aprazem (p. 67). Podemos perceber que as definições atuais para deficiência intelectual são bastante amplas, mas com uma conotação mais compreensiva, não mais, classificatória como nas décadas de 70 e 80 e sim mais acolhedora em relação às peculiaridades. Compreendemos que a conceitualização de deficiência intelectual se altera conforme o coeficiente de comprometimento do indivíduo, bem como sua situação biopsicossocial e cultural. Deveras fica destacada a relevância de se conhecer os educandos na sua totalidade, voltando-se para o que eles têm em comum com os demais, para depois focalizar as diferenças existentes entre eles. DEFICIÊNCIA VISUAL Nunes e Lomônaco apresentam em seu artigo uma definição para deficiência visual: “A cegueira é uma deficiência visual, ou seja, uma limitação de uma das formas de apreensão de informações do mundo externo - a visão. Há dois tipos de deficiência visual: cegueira e baixa visão” (2010, p. 55-64). Do mesmo modo Masini, 2008 descreve: (...) criança cega é aquela cuja perda de visão indica que pode e deve funcionar em seu programa educacional, principalmente através do uso do sistema Braille, de aparelhos de áudio e de equipamento especial, necessário para que alcance seus objetivos educacionais com eficácia, sem o uso da visão residual. Portadora de visão subnormal, a que conserva 327 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 visão limitada, porém útil na aquisição da educação, mas cuja deficiência visual, depois de tratamento necessário, ou correção, ou ambos, reduz o progresso escolar em extensão tal que necessita de recursos educativos. Há também que se considerar o aspecto social da falta da visão, que implica atitudes e crenças vindas do imaginário coletivo, ao longo da história da humanidade, reeditadas nos mitos familiares que identificam o modo como o “cego é visto por aqueles que enxergam e qual o lugar que ele ocupa no discurso instaurado, quer no âmbito pessoal, quer no social (ORMELEZI, 2000, p. 21).” Segundo o Decreto Federal 5.296/04: Cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores. É consenso geral que a pessoa com deficiência visual tem seus direitos assegurados pela Constituição Federal, haja vista a Portaria nº 2.678/02 do MEC: aprova diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território nacional. Retomando o contexto das políticas públicas para pessoas com deficiência visual, baixa visão e cegas percebemos como é nova toda essa legislação, desta forma a aplicabilidade e a aceitação do novo é algo que causa desconforto, uma vez que uma parcela dos profissionais que trabalham atualmente no âmbito escolar, foram “formados” em uma Universidade ou Faculdade excludente, onde não se pensava na diversidade como nos dias atuais. DEFICIÊNCIA AUDITIVA Para uma melhor análise da deficiência auditiva em questão, podemos nos remeter a Quadros, 2004. Surdos – são as pessoas que se identificam enquanto surdas. Surdo é o sujeito que apreende o mundo por meio de experiências visuais e tem o direito e a possibilidade de apropriar-se da língua brasileira de sinais e da língua portuguesa, de modo a propiciar seu pleno desenvolvimento e 328 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 garantir o trânsito em diferentes contextos sociais e culturais. A identificação dos surdos situa-se culturalmente dentro das experiências visuais. Entende-se cultura surda como a identidade cultural de um grupo de surdos que se define enquanto grupo diferente de outros grupos. Essa cultura é multifacetada, mas apresenta características que são especificas, ela é visual, ela traduz-se de forma visual. As formas de organizar o pensamento e a linguagem transcendem as formas ouvintes (p. 67). Deficiência auditiva(também conhecida como hipoacusia ou surdez) é a incapacidade parcial ou total da audição. Pode ser de nascença ou causada posteriormente por doenças. No passado, costumava-se achar que a surdez era acompanhada por algum tipo de déficit de inteligência. Entretanto, com a inclusão dos surdos no processo educativo, compreendeu-se que eles, em sua maioria, não tinham a possibilidade de desenvolver a inteligência em virtude dos poucos estímulos que recebiam e que isto era devido à dificuldade de comunicação entre surdos e ouvintes. Porém, o desenvolvimento das diversas línguas de sinais e o trabalho de ensino das línguas orais permitiram aos surdos os meios de desenvolvimento de sua inteligência. Para Ricardo Ampudia (2011) deficiência auditiva é: A perda parcial ou total da audição, causada por má-formação (causa genética), lesão na orelha ou nas estruturas que compõem o aparelho auditivo. A deficiência auditiva moderada é a incapacidade de ouvir sons com intensidade menor que 50 decibéis e costuma ser compensada com a ajuda de aparelhos e acompanhamento terapêutico. Em graus mais avançados, como na perda auditiva severa (quando a pessoa não consegue ouvir sons abaixo dos 80 decibéis, em média) e profunda (quando não escuta sons emitidos com intensidade menor que 91 decibéis), aparelhos e órteses ajudam parcialmente, mas o aprendizado de Libras e da leitura orofacial, sempre que possível, é recomendado. Perdas auditivas acima desses níveis são consideradas casos de surdez total. Quanto mais agudo o grau de deficiência auditiva, maior a dificuldade de aquisição da língua oral. É importante lembrar que a perda da audição deve ser diagnosticada por um médico especialista ou por um fonoaudiólogo (p. 97). São várias as definições de Deficiência Auditiva e Surdez, levantamos alguns dados aqui para elucidar tal deficiência, e para podermos discutir com nossos pares sobre o assunto, pois é evidente que em algum momento em nossas escolas poderemos receber um aluno ou vários alunos com essa ou aquela deficiência. Se estivermos cientes da situação, ou pelo menos já tivermos discutido sobre o assunto, é evidente que a situação problema será 329 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 diagnosticada mais rapidamente e facilmente solucionada por uma equipe pedagógica e docente melhor preparada. DEFICIÊNCIA FISICA NEUROMOTORA De acordo com o Decreto nº 5.296 de 02 de dezembro de 2004, deficiência física é: A alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando- se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções. O trabalho para com educandos com deficiência fisicaneuromotora é um tanto complexo, a SEED oferta o atendimento a esses alunos através do professor de apoio permanente, que realiza um trabalho de apoio à aprendizagem em sala de aula do Ensino Comum. Os profissionais que atuam nesse processo pedagógico conhecem a diversidade e a complexidade de se trabalhar com esses educandos. É necessário estabelecer aos docentes das disciplinas que para poder colaborar, faz-se necessário à elaboração de estratégias de ensino que possam desenvolver e enfocar o potencial desses alunos e não suas limitações. Pode-se definir deficiência física como diferentes condições motoras que acometem as pessoas comprometendo a mobilidade, a coordenação motora geral e a fala, em consequência de lesões neurológicas, neuromusculares, ortopédicas, ou má formações congênitas ou adquiridas (MEC, 2004). É sabido que como com qualquer outro aluno, o profissional da educação deverá estar atento aos processos de ensino e aprendizagem, para identificar as necessidades peculiares do aluno com deficiência fisicaneuromotora. Na prática do contexto escolar, esses conhecimentos básicos relativos ao aluno com deficiência fisicaneuromotora trarão segurança à escola e ao professor, em sala de aula, no processo ensino-aprendizagem, bem como serão indicativos das medidas a serem tomadas no atendimento às necessidades educacionais especiais. TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE - TDAH 330 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade - TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). É um transtorno reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em alguns países, como nos Estados Unidos, portadores de TDAH são protegidos pela lei quanto a receberem tratamento diferenciado na escola. Cabe também ressaltar em que há casos, principalmente em alunos do sexo masculino, onde ocorre apenas o TDA sem a hiperatividade, essas ocorrências também devem ser diagnosticadas por um profissional da área da saúde. Fica evidente nesses casos, o descomprometimento do aluno frente a atividades que demonstram alguma dificuldade na sua realização; geralmente são alunos que não gostam de leituras, não gostam de realizar operações matemáticas escritas preferem cálculo mental, muitas vezes são apáticos frente a desafios, entre outros aspectos. Nas escolas é comum encontrarmos crianças com essas características, o que ocorre muitas vezes é que parte do corpo docente quer diagnosticar, identificar, apontar alunos com esse transtorno, muitas vezes confundido com “falta de limites”. O diagnóstico só poderá ser realizado por um profissional da área da saúde, os encaminhamentos necessários para uma melhor aprendizagem desses alunos podem ser realizados em parceria com profissionais da área da saúde, mas nunca desrespeitando os métodos pedagógicos utilizados nas escolas. DISLEXIA Segundo Simone Aparecida Capellini, 2007: A dislexia é caracterizada como transtorno da leitura e da escrita, que interfere no rendimento escolar, deixando-o inferior ao esperado em relação à idade cronológica do indivíduo, ao seu potencial intelectual e à sua escolaridade. Estima-se que afete em torno de 5 a 10% de escolares. Tanto o TDAH como a dislexia são condições genético/neurológicas que podem apresentar, em sua história acadêmica, o fracasso escolar, quer seja determinado por alterações na entrada, como ocorre no TDAH ou no processamento cognitivo da leitura, como na dislexia (p. 44). Este é outro transtorno que acomete milhares de alunos do ensino fundamental e médio em nosso país. Por esse motivo a pesquisa de melhores métodos de como trabalhar 331 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 com crianças com dislexia se expande a cada dia. De difícil diagnóstico e de difícil tratamento, necessita de uma equipe multidisciplinar (psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos) esses profissionais são muitas vezes de difícil acesso pela família do aluno com dislexia, dificultando o atendimento necessário. O apoio da família é incondicional no que tange o aspecto do desenvolvimento educacional satisfatório, porém sabemos que muitas vezes a família deixa a “educação familiar” e a “educação escolar” apenas por conta da escola, sendo esse um dos fatores que dificulta o aprendizadodos alunos com dislexia. Tabaquim (2015) nos diz: Os professores podem acreditar que o aluno com dislexia seja desatento, e os pais podem relacionar as dificuldades na escola a atitudes comportamentais que refletem desinteresse pelo estudo. Até mesmo o próprio aluno pode considerar-se incapaz, com o autoconceito e a autoestima prejudicados, decorrentes da vivência de múltiplos insucessos no cotidiano, principalmente no contexto acadêmico. As dificuldades na leitura e expressão escrita, as letras deformadas e desorganizadas são algumas características típicas do quadro, capazes de criar situações constrangedoras ao aluno e limitantes ao professor (p. 87). Dislexia é uma das causas de evasão escolar em nosso país, e uma das causas do chamado "analfabetismo funcional" que, por permanecer envolta no desconhecimento, na desinformação ou na informação imprecisa, não é considerada como desencadeante de insucessos no aprendizado. Dislexia é uma dificuldade específica de aprendizado da Linguagem: em Leitura, Soletração, Escrita, em Linguagem Expressiva ou Receptiva, em Razão e Cálculo Matemáticos, como na Linguagem Corporal e Social. Não tem como causa falta de interesse, de motivação, de esforço ou de vontade, como nada tem a ver com acuidade visual ou auditiva como causa primária. Dificuldades no aprendizado da leitura, em diferentes graus, é característica evidenciada em cerca de 80% dos disléxicos. Dislexia, antes de qualquer definição, é um jeito de ser e de aprender; reflete a expressão individual de uma mente, muitas vezes perspicaz e até genial, mas que aprende de maneira diferente. Esperamos que com essas informações sobre o histórico da Educação Especial, as informações e conceitos de algumas deficiências possam colaborar com os professores do Ensino comum maneiras de diminuir as dificuldades encontradas no âmbito escolar sobre a temática e desmistificar a Educação Inclusiva. 332 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 PERCURSO METODOLÓGICO A Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica proposta na Unidade Didática, foi realizada no Colégio Estadual Tiradentes – EFM , situado a Rua Rui Barbosa, S/N – Vila Rennó, na cidade de Santo Antônio da Platina – PR, pertencente ao NRE de Jacarezinho, nos meses de abril e maio de 2017, com os profissionais da educação do colégio sendo estendido também o convite à outros profissionais de outros colégios da cidade. No início do processo, foi realizado um questionário para identificar o perfil dos participantes, sexo, idade, cargo que ocupava dentro dos colégios, se possuíam graduação, especialização, há quanto tempo trabalhavam em escolas, em seguida foram feitos questionamentos sobre o que é deficiência, se conheciam algum tipo de deficiência, se saberiam identificar alguma deficiência e a pergunta crucial se saberia dizer o que era Inclusão? A partir desses questionamentos, foram propostos oito encontros, no formato de palestras, onde procuramos explicar e exemplificar um pouco melhor sobre Inclusão seus aspectos e descrever algumas deficiências. No primeiro encontro discutimos como chegamos a Inclusão Educacional, partindo da Educação Especial; no segundo encontro foi debatido o tema sobre Legislação para a Educação Inclusiva; no terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e oitavo encontros, foram elucidados os temas: Deficiência Intelectual e suas prevenções; Deficiência Visual; Deficiência Auditiva; Deficiência Física Neuromotora; TDAH e Dislexia. Para finalizar foi realizado um seminário entre os participantes, para que houvesse um momento de discussão e reflexão sobre os temas abordados, quais os encontros que foram mais relevantes, o que apresentou mais novidades aos participantes, o encontro que não apresentou relevância alguma. Houve um momento de explanação dos profissionais que já tinham tido alguma experiência com a educação especial e inclusiva em suas escolas de atuação, entre outros aspectos. Os encontros puderam proporcionar uma formação continuada aos participantes, pois ocorreu uma parceria entre a IES – UENP e UNIESP/FANORPI, sendo estes certificados com uma carga horária de 40 horas. Os graduandos de Pedagogia da FANORPI também tiveram a mesma oportunidade dos profissionais 333 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 da educação, participando do Projeto: Um Novo Olhar para a Educação Inclusiva, que aconteceu num momento posterior ao do Colégio Tiradentes, no início do 2º Semestre, sendo este realizado de 01 a 11 de agosto de 2017. Todos os encontros tiveram um intuito de demonstrar como é possível que ocorra a Inclusão dos alunos com alguma deficiência ou com algum transtorno emocional ou educativo nas escolas de ensino regular, contribuindo para formação continuada dos profissionais da educação em busca de uma educação de qualidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ficou claro em vários momentos o desconhecimento por parte de muitos participantes sobre o que é Inclusão Educacional, principalmente no que tange as questões da Legislação. O que é direito e dever do deficiente e de suas famílias. No entanto, foi possível observar a inquietude dos participantes em relação ao tema, pois este está presente em todas as esferas sociais, não há como esconder ou escolher quem é que terá um ente querido com alguma deficiência ou não em seu meio familiar. Houve também uma constatação por parte de muitos sobre o processo de Educação Especial estar se revertendo para uma Educação Inclusiva. Assinalaram também haver alguma dificuldade de lidar com alguns aspectos de algumas deficiências, principalmente no âmbito de como abordar o educando cego, uma vez que não possuem especialização necessária para tanto e também como se socializar com um educando surdo, uma vez que os profissionais da educação não sabem falar LIBRAS, necessitando de um intérprete. Mesmo assim, todos os participantes demostraram serem capazes de mudar suas perspectivas diante do tema, para que o ocorra verdadeiramente uma mudança de concepções frente à inclusão educacional no âmbito de seus estabelecimentos de ensino onde atuam. CONSIDERAÇÕES FINAIS Dada à importância do assunto, fica evidente a necessidade de desenvolver práticas pedagógicas mais inclusivas. Sem dúvidas, uma análise conceitual traz a tona que se não houver “Um Novo Olhar para a Educação Inclusiva”, não haverá práticas pedagógicas que 334 Revista Científica Educ@ção v.2 ● n.3 ● maio/2018 ● Educação em sua Diversidade. REVISTA CIENTÍFICA EDUC@ÇÃO ISSN 2526-8716 possam atingir o objetivo desse estudo, que é, trazer o educando da Educação Especial para o âmbito escolar de uma forma que ele possa se sentir inserido no processo educativo. Destaco aqui, que teoria e prática necessitam de estarem atreladas paralelamente nesse contexto, a formação continuada teve grande valia e relevância aos participantes dos encontros, uma vez que a cada palestra surgiam dúvidas que eram sanadas pelos palestrantes na medida do possível. A oferta das Salas de Recursos nas Escolas Regulares de Ensino é identificada como uma grande estratégia de Inclusão Educacional, mas ainda é necessário que os profissionais da educação que não são especialistas em Educação Especial saibam lidar com as diferenças apresentadas nesse estudo, pois muitas vezes fica a cargo apenas do professor da Sala de Recursos terem que “dar conta” desse alunado, e não é bem assim. A formação continuada sobre Educação Inclusiva veio para tirar as dúvidas e inserir o professor e o profissional da educação neste processo da Inclusão. As políticas educacionaisvoltadas à Inclusão estabelecem formas de corresponder aos alunos da educação especial, dando-lhes o acesso ao conhecimento e a concretização de sua emancipação como indivíduos de direitos e deveres, tornando os cidadãos autônomos, coisa que há muito pouco tempo não aconteceria. Portanto, a responsabilidade é de todos os envolvidos neste processo, sendo imprescindível o estudo e a capacitação profissional inicial e continuada dos profissionais da educação, para que haja uma sensibilização e mudanças de comportamentos por parte de todos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMPUDIA, Ricardo. O que é deficiência Intelectual. Revista Nova Escola. 2011. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br. Acesso em: 11 out. 2017. CAPELLINI, Simone Aparecida et. al. 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