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Ana Júlia Cardoso Santos – T69 Lactente, 8 meses, encaminhada com queixa de diarreia há cinco meses associada a ganho de peso insuficiente neste período. QD: Diarreia há cinco meses. O quadro diarreico se iniciou aos três meses de idade, durante o desmame, apresentando fezes líquidas ou semi pastosas, sempre com muito muco e várias evacuações continham sangue “vivo”. Apresentava também cólicas abdominais exacerbadas, sem febre, com vômitos esporádicos que também começaram a conter “estrias de sangue vivo”. Nesta época, como havia comprometimento do estado geral, foi internada em nosso serviço para investigação diagnóstica. A paciente apresentava anemia (Hb = 6,2 g/l), requerendo duas transfusões sanguíneas e desnutrição proteico-calórica. • Antecedentes pessoais: a paciente nasceu a termo e com o peso adequado para idade gestacional, sem intercorrências. Sua mãe contava quadro de Dermatite Atópica, desde seu nascimento. • Alimentação pregressa: o leite de vaca foi introduzido no terceiro mês de vida. • Antecedentes familiares: referia história familiar de atopia (predisposição a reações de hipersensibilidade do tipo I). E seu irmão de 3 anos apresenta edema em lábios e hiperemia perioral quando ingere iogurte ou sorvete. Mãe apresentou quadro de reação anafilática após ingestão de camarão quando adolescente. Durante a investigação, para descartar diagnósticos diferencias foram solicitados vários exames que não mostraram alterações. Foi então realizado o Teste de Exclusão Alimentar e Teste de Desencadeamento que demonstrou reação clínica adversa (teste do desafio positivo). Por meio de adequação da dieta, houve resolução total dos sintomas e alcançou recuperação nutricional. A criança foi submetida ao teste de desencadeamento da dieta, mas somente a partir dos 18 meses de idade permaneceu assintomática. HD: ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA. Reação adversa aos medicamentos • Relacionadas a dose: exagero dos efeitos terapêuticos do medicamento. • Reações alérgicas: não são relacionadas à dose, mas necessitam de exposição prévia a um medicamento. O sistema imunológico do corpo desenvolve uma reação inadequada (sensibilização). • Reações idiossincráticas: imprevisível por mecanismos que não são atualmente compreendidos. Incluem erupções Ana Júlia Cardoso Santos – T69 cutâneas, icterícia, anemia, redução na contagem de glóbulos brancos, etc. Reação adversa aos alimentos Consiste em resposta clínica anormal, desencadeada pela ingestão de um alimento, sendo classificada em intolerância ou alergia. • Reações de intolerância: decorrentes das propriedades inerentes dos alimentos (componentes farmacologicamente ativos) ou das características dos hospedeiros (distúrbios metabólicos, reações idiossincrásicas ou psicológicas). • Alergia: decorrente de mecanismos imunológicos (IgE, não IgE mediados e mistos). Hipersensibilidade São reações excessivas, indesejáveis produzidas pelo sistema imune normal. As reações de hipersensibilidade aos alimentos podem ser classificadas de acordo com o mecanismo imunológico envolvido: • Mediadas por IgE: ocorre formação de anticorpos específicos da classe IgE, que se fixam a receptores de mastócitos e basófilos. Em contatos subsequentes há a liberação de mediadores vasoativos e citocinas Th2, que induzem às manifestações clínicas de hipersensibilidade imediata. o Reações cutâneas, gastrintestinais, respiratórias e sistêmicas. • Reações mistas (mediadas por IgE e hipersensibilidade celular): manifestações decorrentes de mecanismos mediados por IgE associados à participação de linfócitos T e de citocinas pró- inflamatórias. o Esofagite, gastrite e gastrenterite eosinofílica, dermatite atópica e asma. • Reações não mediadas por IgE: não são imediatas e caracterizam-se pela hipersensibilidade mediada por células. o Procite, enteropatia induzida por proteína alimentar e enterocolite induzida por proteína alimentar. Atopia Propensão de um indivíduo tem de apresentar uma resposta do sistema imunológico a substâncias e partículas comuns, como os alérgenos inaláveis ou alimentares. Essa resposta imunológica é promovida pela produção de IgE, e algumas pessoas nascem com predisposição genética a apresentar reações em função do aumento desse anticorpo. O trato gastrointestinal (TGI) é o único órgão onde existe uma convivência harmônica entre grande número de micro-organismos e o sistema imunológico, além de ter a capacidade de receber diariamente grande quantidade de antígenos alimentares sem que haja um processo inflamatório que cause danos. Mecanismos de defesa inespecíficos Ana Júlia Cardoso Santos – T69 Englobam a barreira mecânica representada pelo próprio epitélio intestinal e pela junção firme entre suas células epiteliais, a flora intestinal, o ácido gástrico, as secreções biliares e pancreáticas e a própria motilidade intestinal. Mecanismos de defesa específicos Podem ser encontrados em três níveis: barreira epitelial intestinal, lâmina própria e sistema imunológico o trato gastrointestinal (GALT), composto por lâmina própria e fatores IgA. Essas células desta barreira têm um papel importante na discriminação de quais bactérias benéficas e proteínas alimentares devem ser toleradas pelo indivíduo. Epidemiologia A prevalência de AA é maior em lactentes e crianças (6 a 8%) e decresce com a idade, acometendo 4% dos adultos. Se um dos pais ou irmão tiver a doença atópica, o risco de desenvolvimento de atopia em recém-nascidos (RN) e lactentes aumenta para 20 a 40%. A alergia a proteína do leite é a alergia alimentar mais comum da infância, com incidência de 2 a 3% no primeiro ano de vida e uma taxa de remissão de aproximadamente 45 a 50% ao 1 ano, 60 a 75% aos 2 anos e 85 a 90% aos 3 anos de idade. Alérgenos alimentares Define-se como alérgeno, qualquer substância capaz de estimular uma resposta de hipersensibilidade. Em sua maioria são glicoproteínas hidrossolúveis, que podem sofrer modificações conforme o processamento do alimento, resultando em aumento ou diminuição da alergenicidade. Há três possibilidades de um alimento se tornar capaz de induzir reações: • Quando o alimento é ingerido ou há contato com a pele ou trato respiratório; • Quando, pela reatividade cruzada, houve produção de IgE específica e sensibilização antes mesmo do contato com o alimento; • Quando há reatividade cruzada entre um alérgeno inalável responsável pela sensibilização e produção de IgE e ingestão do alimento. O leite de vaca contém proteínas, cerca de 30- 35 g/L, que podem induzir a formação de anticorpos IgE específicos em indivíduos geneticamente predispostos. A alergia a proteína do leite de vaca pode ser definida então como uma hipersensibilidade à proteína do leite, sendo mais comumente a: • Beta-lactoglobulina • Alfa-lactoalbumina • Caseína (80%) Essas proteínas estão presentes tanto no leite, quanto em seus derivados. A fervura não as inativa. Fatores de risco Uma série de fatores de risco têm sido associados à alergia alimentar, tais como: • Ser lactente do sexo masculino; • Etnia asiática e africana; • Comorbidades alérgicas • Desmame precoce • Insuficiência de vitamina D; Nos últimos 10 a 15 anos, houve um aumento da prevalência de doenças atópicas Ana Júlia Cardoso Santos – T69 • Redução do consumo dietético de ácidos graxos poli-insaturados do tipo ômega 3; • Redução do consumo de antioxidantes; • Uso de antiácidos que dificulta a digestão dos alérgenos; • Obesidade como doença inflamatória • Época e via de exposição aos potenciais alérgenos alimentares; • Cesariana: afeta a microbiota intestinal, gerando pré-disposição a alergiasalimentares. • Outros fatores relacionados à Hipótese da higiene. A predisposição genética, associada a fatores de risco ambientais, culturais e comportamentais, formam a base para o desencadeamento das alergias alimentares em termos de frequência, gravidade e expressão clínica. Classificação As manifestações clínicas das reações de hipersensibilidade aos alimentos são dependentes de mecanismos imunológicos envolvidos. Elas podem ser classificadas em: • Reações mediadas por IgE – ocorrem minutos após a exposição ao alimento envolvido; • Reações não-mediadas por IgE e mistas – podem demorar de horas até dias para se tornarem clinicamente evidentes. Fisiopatologia A fisiopatologia das reações de hipersensibilidade varia de acordo com o mecanismo envolvido. Reações mediadas por IgE Resultado de falta da indução ou quebra dos mecanismos de tolerância oral do TGI, que ocorre em indivíduos geneticamente predispostos. Tanto na falta de indução, quanto na quebra de mecanismos de tolerância oral, ocorre a produção excessiva de IgE específica ao alimento envolvido. Estes anticorpos ligam-se a receptores de alta afinidade, presentes em mastócitos e basófilos e em receptores de baixa afinidade, presentes em macrófagos, monócitos, linfócitos, eosinófilos e plaquetas. Com uma nova exposição ao alérgeno alimentar, ocorre sua ligação aos anticorpos IgE específicos, fixados em mastócitos e basófilos, sendo liberados mediadores como histamina, prostaglandinas e leucotrienos, que promovem vasodilatação, contração do músculo liso e secreção de muco, com indução de sintomas característicos. A ativação de mastócitos também promove a liberação de várias citocinas, que são importantes na fase tardia da resposta IgE-mediada. Exemplos de manifestações mediadas por IgE: • Manifestações cutâneas: urticária, angioedema e dermatite atópica. o Urticária: caracterizada pela presença de pápulas eritematosas bem delimitadas, de contornos Exposição ao alérgeno, havendo produção excessiva de IgE. IgE se liga a receptores de alta e baixa afinidade. Em uma nova exposição ao alérgeno, este irá se ligar aos anticorpos e haverá a liberação de mediadores Produção excessiva de IgE específica ao alimento envolvido. Ana Júlia Cardoso Santos – T69 geográficos com halo central e, em geral, intensamente pruriginosas. Pode ser o sintoma inicial de anafilaxia, uma vez que cerca de 90% dos pacientes com esta reação grave apresentam manifestações dermatológicas. ▪ A urticária induzida por alimentos pode vir acompanhada de sintomas gastrointestinais ou respiratórios, e neste caso, caracteriza-se uma anafilaxia. o Angioedema: o processo é semelhante da urticária, mas há acometimento de porções mais profundas da pele. o Dermatite atópica: caracterizada por eczema atópico. Apresenta pele seca, erupções que coçam e crostas. Seu surgimento é mais comum nas dobras dos braços e da parte de trás dos joelhos. • Manifestações gastrointestinais: podem ser variadas na dependência dos mecanismos fisiopatológicos. o Síndrome da alergia oral: precedida por sensibilização por via respiratória a polens que contêm proteínas homólogas às encontradas em determinadas frutas. As manifestações têm início logo após a exposição ao alérgeno e incluem edema, hiperemia, prurido e sensação de queimação nos lábios, língua, palato e garganta. o Hipersensibilidade gastrointestinal imediata (anafilaxia gastrointestinal): náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia que aparecem em minutos ou até duas horas após a ingestão do alérgeno. As manifestações gastrintestinais acompanhadas por outras manifestações alérgicas acometendo a pele e/ou o pulmão caracterizam a anafilaxia. De modo geral, as alergias mediadas por IgE são mais graves e podem levar a morte. Anafilaxia O complexo de sintomas resulta da ação de mediadores que atuam em alvos como os sistemas respiratório, cardiovascular, gastrintestinal, cutâneo e nervoso. Os alimentos mais apontados são leite de vaca, ovo, camarão, peixe, amendoim e nozes. Critérios diagnósticos de anafilaxia 1 – Doença de início agudo (minutos ou algumas horas) com envolvimento de pele, mucosa ou ambos (ex: urticária generalizada, prurido, eritema, edema de lábios, língua úvula) e pelo menos um dos seguintes: • Comprometimento respiratório (ex: dispneia, broncoespasmo, estridor, hipóxia). • Comprometimento cardiovascular (ex: hipotensão, colapso). 2 – Duas ou mais das seguintes situações que ocorrem rapidamente após a exposição a um alérgeno conhecido para um paciente (minutos ou algumas horas): • Envolvimento cutâneo ou mucoso (ex: urticária generalizada, prurido, rubor, angioedema). • Comprometimento respiratório (ex: dispneia, broncoespasmo, estridor, hipóxia) Ana Júlia Cardoso Santos – T69 • Comprometimento cardiovascular (ex: hipotensão, colapso). • Sintomas gastrintestinais persistentes (ex: cólicas abdominais recorrentes, vômitos). 3 – Hipotensão após exposição a alérgeno conhecido para aquele paciente (minutos ou algumas horas): • Hipotensão para criança é definida como pressão sistólica < 70 mmHg de 1 mês a 1 ano; [ < 70 mmHg + (2 x idade)] entre 1 e 10 anos e < 90 mmHg entre 11 e 17 anos. O tratamento para a anafilaxia consiste na administração de adrenalina intramuscular. Reações não mediadas por IgE (mediadas por células) Embora vários relatos discutam outros mecanismos de hipersensibilidade não mediados por IgE, as evidências que dão respaldo ao seu papel são limitadas, sendo a resposta de hipersensibilidade celular tipo IV (induzida por células), a mais relacionada com várias doenças, e nela a resposta clínica pode ocorrer de várias horas até dias após a ingestão do alimento suspeito. Os linfócitos T CD4+ (Th1 e Th17) encontram antígenos em sítios inflamatórios, sendo então ativados, liberando interleucinas e moléculas de adesão. Esse evento facilita a migração e ativação de leucócitos, levando a reações inflamatórias. Em alguns casos, os T CD8+ destroem as células hospedeiras. Exemplos de reações não mediadas por IgE: • Refluxo gastroesofágico por alergia alimentar: sintomas de RGE são mais expressivos, tais como vômitos propulsivos, regurgitações frequentes, má aceitação alimentar, choro excessivo, arqueamento de tronco e desaceleração de ganho ponderal. Dados como início dos sintomas após a introdução de fórmula, história familiar de alergia alimentar e presença de dermatite atópica aumentam a suspeição de alergia às proteínas do leite de vaca. • Enteropatia induzida por proteína alimentar: caracterizada por diarreia não sanguinolenta, de caráter protraído. A manutenção do quadro resulta em má absorção intestinal significante e déficit pôndero-estatural. O quadro é acompanhado muitas vezes por vômitos intermitentes e anemia. Na biópsia intestinal há alterações de mucosa de caráter focal com presença de graus variados de atrofia vilositária. • Síndrome da enterocolite induzida por proteína alimentar: se manifesta usualmente em lactentes por náuseas, vômitos intratáveis, hipotonia, palidez, apatia e diarreia com muco e/ou sangue ou não que iniciam 1 a 3 horas após a ingestão da proteína desencadeante. Pode haver desidratação, acidose metabólica, choque hipovolêmico, o que propicia o diagnóstico equivocado de sepse ou de alergia alimentar IgE mediada. De modo geral, as alergias não mediadas por IgE geram uma sintomatologia gastrointestinal, como cólica, refluxo, sangramento intestinal, perda de peso e podem desenvolver anemia por conta do sangramento. Reações mistas O diagnóstico da APLV de caráter misto é mais desafiador do que o da mediada apenas pela IgE. Mecanismos humorais (anticorposIgE específicos) e celulares (Linfócitos T) estão envolvidos e podem se apresentar como Ana Júlia Cardoso Santos – T69 sintomas agudos e/ou crônicos, tornando a relação causal mais difícil de se detectar. É comum em crianças maiores e adolescentes. Exemplos de reações mistas: • Esofagite eosinofílica: caracterizada clinicamente por manifestações de disfunção esofagiana e histologicamente por inflamação predominantemente eosinofílica. O diagnóstico é feito pela endoscopia digestiva alta com biópsias que revelam infiltrado eosinofílico no esôfago em número maior ou igual a 15 eosinófilos por campo de grande aumento. o Sintomas de problemas alimentares e de DRGE na criança menor e, principalmente, de disfagia e impactação alimentar no esôfago nas crianças maiores e nos adultos. • Gastrite e duodenite eosinofílica: caracterizada pela presença de processo inflamatório eosinofílico, em geral na camada mucosa. Os sintomas incluem vômitos, dor abdominal, anorexia, saciedade precoce, hematêmese/sangramento gástrico, déficit de crescimento, e mais raramente, sintomas de obstrução antral ou duodenal. Outras manifestações clínicas Cólica do lactente Classificada como doença de ordem funcional, tendo início precoce e finda em lactentes menores de 3 meses de idade. A etiologia é multifatorial, conjugando fatores gastrintestinais, como imaturidade intestinal, fatores neurológicos e ambientais. A alergia alimentar só deverá ser aventada nas situações mais graves, onde as cólicas estão associadas a outros sintomas gastrintestinais. Proctocolite eosinofílica Tem início nos primeiros meses de vida, e na maior parte dos casos as fezes não apresentam redução de consistência. Em cerca da metade dos casos pode ser observado eosinofilia no sangue periférico. Em geral, não há comprometimento do estado geral e a criança apresenta-se saudável e com bom ganho de peso. Constipação intestinal por alergia alimentar O mecanismo exato da gênese da dismotilidade digestiva é desconhecido. É provável que exista interação entre o sistema nervoso entérico e células inflamatórias, além de secreção de citocinas pró-inflamatórias. Neste contexto, a estimulação do sistema nervoso aferente pode fazer com que o cérebro induza alteração no tônus esfincteriano, provocando alteração do ritmo intestinal na vigência do processo alérgico. Alterações respiratórias De maneira geral, os sintomas respiratórios quando presentes em quadros de alergia alimentar indicam manifestação mais grave, e geralmente fazem parte do quadro clínico de anafilaxia. O diagnóstico de alergia alimentar como causa de rinite alérgica ou asma crônica é difícil de ser estabelecido. • Rinite alérgica: ocorre associada a sintomas cutâneos ou do TGI. • Asma persistente: como manifestação isolada causada por alergia alimentar é evento raro. • Asma e rinite pela inalação de partículas alimentares: são basicamente doenças profissionais. • Síndrome de Heiner: decorrente da APLV. Caracterizada por anemia, atraso no crescimento, hemossiderose pulmonar Ana Júlia Cardoso Santos – T69 e pneumonia recorrente, com infiltrados pulmonares persistentes. Complicações Além do choque anafilático, a criança pode desenvolver complicações crônicas, como o desenvolvimento de outras alergias alimentares, anemias e desnutrição energético proteica, com baixo desenvolvimento. Diagnóstico A solicitação dos exames complementares deve levar em consideração o tipo de reação de hipersensibilidade e o órgão acometido, mas ainda hoje não existe um teste laboratorial considerado padrão-ouro para o diagnóstico da APLV. A pesquisa de anticorpos IgE específicos para o leite de vaca pode ser solicitada. Existem duas categorias de exames laboratoriais que avaliam a presença de anticorpos IgE específicos: testes cutâneos (in vivo) e no sangue (in vitro). Teste de puntura ou prick test Avalia a presença de IgE específica in vivo. • Valor preditivo positivo de uma prova cutânea: 50%; • Valor preditivo negativo: 95% Dessa forma, o resultado positivo está associado a reações clínicas verdadeiras em apenas 50% dos casos, sendo a história clínica o fator determinante. Sorologia Realizada através do teste RAST, ImmunoCAP e UniCAP. A IgE sérica específica detecta meramente a presença do anticorpo e não indica, necessariamente, que a ingestão do alimento resulte em reações clínicas. Em resumo, a determinação da IgE específica pode ser utilizada para fins diagnósticos de AA, para indicar o melhor momento para o teste de provocação oral ou para predição do prognóstico, pois pacientes com níveis elevados de IgE específica parecem ter maior probabilidade de apresentar alergia persistente e maior risco de desenvolver doenças atópicas, como dermatite atópica, rinoconjuntivite e asma. Para as alergias não IgE mediadas, poucos testes laboratoriais existem, o que implica em maior dificuldade no estabelecimento de diagnóstico. Teste de provocação oral (padrão-ouro) Tem papel importante em duas situações: na confirmação diagnóstica das crianças com suspeita de alergia alimentar e para avaliação do desenvolvimento de tolerância nos pacientes em tratamento para AA. CUIDADO COM A ANAFILAXIA. Consiste em oferecer alimentos em doses crescentes e intervalos regulares, sob supervisão médica. São classificados em: • Aberto: paciente e médico cientes, sem placebo; • Simples-cego: apenas o médico tem conhecimento do alimento que está sendo administrado, se placebo ou alimento em teste; • Duplo-cego: é controlado por placebo: apenas uma terceira pessoa, como nutricionista, responsável pela randomização, tem essas informações; considerado o padrão ouro. Os pacientes portadores de APLV devem ser submetidos ao teste de desencadeamento oral, em intervalos de 6 a 12 meses, para determinar se desenvolveram tolerância. DIAGNÓSTICO E ACOMPANHAMENTO. Tratamento O tratamento da APLV baseia-se na exclusão das proteínas do leite de vaca da dieta, devendo-se Ana Júlia Cardoso Santos – T69 também evitar a inalação e contato com a pele, e manter as necessidades nutricionais do paciente. Para os RN e lactentes em aleitamento materno, recomenda-se dieta de restrição para a mãe nutriz. Para aqueles que estão em uso de fórmulas infantis, deve-se avaliar a melhor opção, conforme a idade e o quadro clínico do paciente. As fórmulas infantis disponíveis atualmente podem ser classificadas em: • Fórmulas poliméricas; • Fórmulas parcialmente hidrolisadas; • Fórmulas extensamente hidrolisadas – diminuem o risco da reação alérgica, sendo muito boa para o tratamento de crianças com baixo risco de desenvolverem formas graves. • Fórmulas de aminoácidos. Com relação ao tratamento medicamentoso, várias drogas podem fornecer alívio para certas manifestações da alergia alimentar, como por exemplo os anti-histamínicos e os corticoesteroides, mas são muito pouco utilizados. Prognóstico O paciente deve sempre ser orientado para consultar especialista visando a confirmação do agente etiológico/cofatores, orientação dietética (alimentos substitutos, reatividade cruzada, alérgenos ocultos, etc.), educação do paciente e familiares (manifestações de anafilaxia e uso de autoaplicador de adrenalina), e avaliação do prognóstico (desenvolvimento de tolerância). • 50 % melhoram antes do primeiro ano de vida; • 70% melhoram antes do segundo ano de vida; • 85% melhoram antes do terceiro ano de vida. Um cuidado especial deve ser feito com as crianças que possuem alergia mediada por IgE, principalmente devido ao risco de desenvolverem anafilaxia. Nesses casos, o exame IgE específica é capaz de localizar quais proteínas do leite o paciente apresenta alergia. Nos casosonde há um resultado elevado para a caseína, isso se torna um sinal de alerta para persistência e gravidade da alergia. Já a alfa-lactoalbumina e beta-lactoalbumina dizem respeito a quadros mais leves de alergia. Fibrose cística A fibrose cística (FC) é doença autossômica recessiva letal. É caracterizada por acúmulo de secreção espessa e purulenta, infecções respiratórias recorrentes, perda progressiva da função pulmonar e clearence mucociliar diminuído. A diarreia da FC é caracterizada como crônica, com evacuações volumosas, amarelo palha, brilhantes, gordurosas e fétidas. Geralmente são mais de cinco dejeções ao dia. Podem ser percebidos restos alimentares não digeridos nas fezes. Os lactentes com diarreia crônica muitas vezes recebem o diagnóstico inicial de alergia ao leite de vaca e, por isso, há introdução de leite de soja na dieta. Isso é suficiente para Ana Júlia Cardoso Santos – T69 desencadear uma desnutrição aguda, geralmente acompanhada de anemia intensa. Enteroparasitoses Os mecanismos pelos quais os enteropatógenos produzem diarreia são diversos, mas pode-se dividi-los entre os que promovem resposta infamatória sem causar dano morfológico e os que alteram a estrutura da mucosa intestinal, com ou sem invasão tecidual. O tipo de diarreia que se desenvolve parece depender da localização dos vermes. Respostas inflamatórias que ocorrem no intestino delgado proximal causam má absorção e, em consequência, diarreia osmótica. Quando o cólon é envolvido, distúrbios da absorção de água e exsudação de pus e sangue contribuem para o desenvolvimento de disenteria. Doença celíaca A doença celíaca (DC) é uma doença sistêmica imunomediada, induzida pela ingestão de prolaminas do trigo, do centeio e da cevada, em indivíduos geneticamente predispostos, que se expressa por uma enteropatia mediada por linfócitos T. A diarreia está presente na forma clássica da doença, sendo caracterizada como diarreia crônica, geralmente acompanhada de distensão abdominal e perda de peso. O paciente também pode apresentar diminuição do tecido celular subcutâneo, atrofia da musculatura glútea, falta de apetite, alteração de humor, vômitos e anemia.
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