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Supervisão e Orientação Pedagógica 1º Edição / Setembro / 2010 São Paulo - SP Erlinda Martins Batista AULA 7 Supervisão 1 Introdução A partir do pressuposto filosófico de qu e os va lores são socioculturais, conforme afirma Saviani (2007), p ode-se argumentar, a priori, que eles constituem a base das ações sociais e culturais do supervisor pedagógico. “A filosofia dos valores como uma disciplina específica surgiu a partir do século XIX quando houve (...) uma reflexão explícita sobre (...) valores, dando origem a diferentes correntes” (p.52). Para o referido autor, os valores não existem dissociados do homem. Eles são determinados e resultados da experiência e da existência humana. Assim, as coisas têm valor para o homem a partir do momento que ele as descobre e sente sua necessidade. Em outras palavras o valor de algo para o homem está exatamente na sua relação de percebimento e necessidade desse algo. Para Saviani (2007), sem essa relação de percepção não há valor para o homem. “Os valores implicam fenômenos com os quais nós estabelecemos relação de não-indiferença, (...) nossa própria existência” (p.54). As discussões apresentadas pelo autor citado são fundamentadas na ideia de uma realidade humana, segundo a qual o homem se constitui em ser inerente a um meio natural e cultural. O homem só existe a partir de uma relação com o meio e com a cultura subjacente a esse meio em que ele se insere. 3 Na visão de Vigotsky (2003), o homem se constitui como sujeito na mediação com o social e com o cultural do meio em que nasce. Discutindo as ideias desse autor com as ideias de Saviani (2007), este afirma que “o homem não existe sem cultura. Se por um lado, o homem é o produtor da cultura, por outro (...) o homem para existir necessita transformar a natureza (...) ele é um ser natural que é capaz de intervir na natureza, modificando-a (...)” (pp. 54-55). Segundo essa citação, o poder e a capacidade de transformar e de domínio sobre a natureza é expandida para as relações entre os homens. Nesse sentido, é preciso averiguar em que condição social e histórica surgiu a estrutura social de dominação entre os homens, chegando à dominação de classe. Na estrutura social vigente em que há dominação de classe se discute a finalidade da educação. Para Saviani (2007) a educação não tem em si mesma um fim, mas, seus objetivos mais amplos são transformados em meios que a norteiam. Nessa ideia o autor citado estabelece 4 objetivos principais para a educação: 01 - Educação para o desenvolvimento das potencialidades da criança e para a subsistência ou desenvolvimento econômico; 02 - educação para a libertação; 03 - educação para a comunicação; 04 - educação para a transformação. No contexto desses 4 amplos objetivos é que o pesquisador reconhece a ação educativa do supervisor pedagógico. 4 2 Avaliação Uma das preocupações dos professores e de todos os envolvidos no processo de avaliação está relacionada à pergunta: Por que avaliar? HAYDT (1997) afirma que há duas razões para a avaliação: 1) Faz parte do trabalho docente, verificar e julgar o rendimento dos alunos, avaliando os resultados do ensino; 2) porque o progresso alcançado pelos alunos reflete a eficácia do ensino, sendo o ensinar e aprender duas faces da mesma moeda (p.07). Nesse sentido, o rendimento do aluno se torna o espelho do trabalho desenvolvido em sala, e a avaliação dos alunos acaba por se constituir a avaliação do trabalho do professor. Luckesi (2005) define avaliar como sendo o “diagnosticar e intervir, praticar a investigação sobre o que está acontecendo, tendo em vista proceder intervenções adequadas, objetivando a efetiva aprendizagem e o desenvolvimento do educando (p.8) LUCKESI (2005) define a avaliação como sendo “um ato subsidiário da prática pedagógica, com vistas à obtenção de resultados os mais satisfatórios possíveis diante do caminho de desenvolvimento de cada educando” (p.33). O ato de avaliar deve gerar a tomada de decisões que levem às ações motivadoras de resultados. Se o educador faz o diagnóstico, mas não intervém, qual a validade? O acolhimento 5 se faz da realidade, do educando, da situação como se apresenta e do aceitar o educando. Para Luckesi (2005), o ato de avaliar deve ser um ato amoroso que se caracteriza na inclusão, sendo essa inclusão, o acolher sem julgar, na dinâmica, na dialógica, e na pedagogia construtiva. A pedagogia construtiva para o autor mencionado compreende uma concepção pedagógica que leve em consideração o ser humano como um ser em movimento, em construção (p. 60). Seu conceito de avaliação inclusiva se traduz no incluir, como o acolher de forma que o professor “não seleciona os melhores dos piores, mas subsidia a busca de meios pelos quais todos podem aprender aquilo que é necessário para o seu desenvolvimento” (p. 15). Em sua teoria, o autor citado afirma que a avaliação é dinâmica porque não classifica o educando em um determinado nível de aprendizagem, mas diagnostica a situação para melhorá-la a partir das novas decisões pedagógicas (p. 18). Com relação à avaliação dialógica, ela possibilita a comunicação entre o professor e os estudantes. A prática dialógica se caracteriza pela dialogicidade. Segundo Ferreira (1999), dialogicidade provém de dialogar, ou da comunicação entre duas ou mais pessoas. Pesquisadores como Luckesi (2005), Silva (2006), entre outros, apresentam dois tipos de avaliação que, embora pareçam contrárias em suas bases filosóficas, podem ser visualizadas e concomitantemente utilizadas na maioria dos sistemas escolares vigentes: 1) A avaliação tradicional também denominada de avaliação liberal, e 2) A avaliação libertadora. 6 A avaliação tradicional, ou liberal, é caracterizada como: 1) Ação individual e competitiva. 2) De concepção classificatória, sentensiva. 3) Com a intenção de reprodução das classes sociais. 4) De postura disciplinadora e diretiva do professor. 5) Valorização da memorização. 6) Possui exigência burocrática periódica. Já a segunda, a avaliação libertadora, é caracterizada por: 1) Ação coletiva e consensual. 2) De concepção investigativa, reflexiva. 3) Traz a proposição de conscientização das desigualdades sociais e culturais. 4) Define-se numa postura cooperativa entre os elementos da ação educativa. 5) Valoriza a compreensão. 6) propicia a consciência crítica de todos sobre o cotidiano (Silva 2006: p 24, apud Hoffmann 2004a: p. 91). Perrenoud (2000) menciona a utilização da “pedagogia frontal” que consiste em “fazer regularmente provas escritas e alertar os alunos com dificuldades, anunciando uma reprovação provável, se não se recuperarem” (p. 13). Argumenta que essa é uma forma tradicional de “administrar a progressão das aprendizagens” (idem). Apresenta uma pedagogia mais inovadora ao sugerir a prática da avaliação formativa. Nessa, o professor realiza um apoio integrado ao lado de “outras formas de diferenciação, para evitar que as distâncias aumentem” (ibidem). Alguns pesquisadores como Hoffmann (2004a), Silva (2006), mencionam a avaliação mediadora. Esses autores a conceituam como uma avaliação em que educadores e aprendizes estão em reflexão permanente na trajetória de construção do conhecimento. Apresentam três pontos fundamentais nesse tipo de avaliação, sugerindo que ela é adequada às situações de avaliação nos contextos educativos on-line e ou a distância, nos ambientes virtuais de aprendizagem. A avaliação mediadora se caracteriza por três pontos mostrados na tabela 3, a seguir: 7 Além desses três pontos, Silva (2006) afirma que na avaliação mediadora sugerida por Hoffmann (2004), o professor deve observar quatro passos: 1) O contexto sociocultural do aluno. 2) Os saberes significativos. 3) As questões epistemológicas. 4) O cenário educativo / avaliativo. 3 A recuperação paralela Antes que um conteúdo seja apresentado em sala de aula, o professor deve verificar a s c ondições p révias d os a lunos paraa aprendizagem. Esse momento anterior, a que se refere Libâneo (1994), oportuniza a elaboração de um planejamento. Na elaboração do planejamento das aulas de recuperação paralela, o professor deve estar ciente sobre os saberes dos seus alunos, e quais conhecimentos deverão ser revisados. É importante, nessa investigação prévia, saber o nível de desenvolvimento dos alunos, seus saberes e suas experiências, além dos seus conhecimentos Tabela 03 – Três pontos característicos da avaliação mediadora. 1 - Liberdade de expressão garantida Criar oportunidades para a expressão 2 – Mediação interativa A interação com outros nas tarefas 3 – Atuação do Professor Lançar questões para o grupo (fórum) Fonte: Materiais de estudos organizados por Batista (2009). 8 prévios, suas habilidades e hábitos de estudo. Conhecimentos específicos sobre os alunos são fundamentais antes de se elaborar novo planejamento das atividades e ou aulas de recuperação paralela. A questão da recuperação significa, em palavras simples, a retomada da matéria quando ainda em desenvolvimento do conteúdo na sala de aula, em função dos resultados de testes de averiguação do conhecimento dos alunos, e que se apresentaram não satisfatórios. Um exemplo de recuperação paralela: Um professor explicou a matéria e aplicou exercícios com o objetivo de verificar os conhecimentos assimilados de ortografia já trabalhados. Ao corrigir os exercícios, constatou que alguns alunos cometeram muitos erros ortográficos. Então, ele resolve fazer uma revisão da matéria dada. A revisão se constitui uma recuperação paralela. Nela, os conteúdos, os conhecimentos são revisados e quando em seguida o professor aplica um ditado, ele reavalia os conteúdos assimilados pelos alunos. Esse ditado se constitui uma avaliação subjetiva e compõe os procedimentos da recuperação paralela. Ele não avisa aos alunos que estão sendo avaliados, mas aplica o ditado com o propósito de verificar o que, de fato, eles assimilaram nessa recuperação. Assim, a recuperação paralela surge a partir das avaliações parciais do conhecimento do aluno. Após a avaliação de cada unidade do conteúdo trabalhado, é preciso revisar e reavaliar. Revisar os conteúdos junto aos estudantes se traduz na aplicação de novos exercícios e novos problemas inerentes à matéria estudada, no sentido de detectar a compreensão e assimilação dos conhecimentos por parte dos alunos. Revisados e reavaliados os itens dados das matérias, o professor tem os dados daqueles que não tiveram êxito na assimilação e compreensão dos conteúdos. Nesse momento se requer uma revisão do plano de ensino para se dar novo encaminhamento ao trabalho docente até aí realizado. 9 O professor observa os alunos nos momentos formais e informais do cotidiano escolar; durante as aulas, nos intervalos, no recreio e nos contatos e relações que estabelece com eles. Os dados dessas observações somados aos dados obtidos nas avaliações dão ao professor uma noção clara do desempenho, do aproveitamento e crescimento dos alunos. Ao revisar o plano de ensino, outros objetivos são acrescentados ao primeiro plano elaborado e nessa oportunidade os objetivos, ao serem revisados, ficam ainda mais claros e completos, dando ao professor mais segurança no processo de condução e organização do trabalho pedagógico. As reações observadas dos alunos possibilitam ao professor a tomada de novas decisões, a aplicação de novas atividades que ao mesmo tempo recuperam os conteúdos, permitindo aos alunos novas elaborações cognitivas e, consequentemente, o alcance da aprendizagem. Professores (Batista 2006, 2008) e outros pesquisadores têm averiguado que no decorrer das práticas pedagógicas, em particular nas atividades de recuperação, equipam os alunos a partir de seus próprios esforços e dedicação às atividades de modo mais comprometido e responsável, resultando em aproveitamento do conhecimento. Com a recuperação paralela, todos os estudantes - os ativos, os dinâmicos, os lentos e os apressados, os interessados e os desinteressados -, têm a oportunidade de crescer na estruturação cognitiva a partir dos conteúdos reestudados e reelaborados nas atividades de recuperação. Oportunizar o conhecimento para todos os alunos, por meio da recuperação paralela, evidencia uma ação docente perceptiva das diferenças existentes entre os estudantes. Libâneo 10 (1994) esclarece que “os alunos não são iguais, nem no nível sócio- econômico nem nas suas características individuais” (p.201). A recuperação paralela possibilita, ao professor que a utiliza, o desenvolvimento de um perfil de compreensão e o conhecimento de cada aluno, e da sua condição em relação ao ensino e à aprendizagem. O termo “recuperação” parece inadequado no contexto de uma avaliação escolar processual. Ao trabalhar a recuperação paralela, a ideia é que o estudante “recupere” os conhecimentos, os estudos de conteúdos já trabalhados concomitantemente aos estudos dos novos conteúdos em curso, seguindo o cronograma do plano de ensino. Se há assimilação, a apropriação do conhecimento e dos conteúdos no tempo de sua execução, isto é, no tempo delimitado pelo plano de ensino, e suas respectivas avaliações, acredita-se, não haveria necessidade de recuperação paralela. Entretanto, os fatos e estudos mostram que nem sempre o trabalho em sala de aula obtém o sucesso esperado, contribuindo então para a organização da “recuperação paralela”. Nesse caso, deve o professor retomar os objetivos de seus planos de aulas, no sentido de ter um guia por onde replanejar o trabalho de cada tópico a ser recuperado. Na retomada dos conteúdos, durante as recapitulações dos conteúdos trabalhados, se requer do docente que ele volte sua atenção para as atividades dos alunos. Cada novo item reestruturado requer uma avaliação do entendimento do aluno sobre o assunto. Para “enxergar” o entendimento do aluno a respeito do conteúdo trabalhado, o educador reelabora atividades que ao serem executadas pelos alunos, os conduzirão no processo de assimilação e apropriação do conhecimento. Nas situações didáticas em que os alunos retomam os 11 conteúdos, o professor observa o estudante em suas atividades. Por meio dessa observação, o docente avalia informalmente, para sua compreensão, as capacidades e habilidades adquiridas pelos alunos a partir dos conteúdos retrabalhados e que estão expressas em suas atividades. As ações docentes de observação das habilidades e capacidades dos alunos em recuperação, bem como as aplicações das atividades em sala de aula, permitem ao professor o conhecimento das potencialidades de seus alunos que foram desenvolvidas no trabalho de recuperação paralela. Vale ressaltar que as atividades traduzidas em problemas apresentados aos alunos a serem resolvidos por eles, ampliam o processo de verificação dos saberes adquiridos pelos estudantes durante a recuperação paralela. Tal verificação, quando repetida em diversas etapas ao longo do processo, se constituem constantes avaliações objetivas passíveis de comprovar a assimilação e o conhecimento dos alunos, sem que eles saibam que estão passando por uma avaliação. A forma natural e livre de avaliação sem pressões psicológicas favorece a ausência de temores das provas, o que possibilita a aprendizagem e o desenvolvimento do educando, de modo prazeroso e sem estresse. Além da avaliação sugerida, durante a recuperação paralela ou retomada dos conteúdos podem ocorrer simultaneamente avaliações subjetivas. Essas, embora relevantes no processo, não excluem a necessidade das avaliações objetivas. 12
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