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Hemorragia digestiva alta • Sangramento intraluminal resultante de uma lesão proximal ao ligamento de Treitz, podendo envolver o esôfago, estômago ou duodeno; • ETIOLOGIA: o Sangramento de úlceras pépticas (ulcera gástrica mais comum que ulcera duodenal); o Uso de ácido acetilsalicílico por doenças cardiovasculares pode elevar a incidência de HDA por úlceras pépticas; o Esofagite erosiva; o Varizes esofágicas (comum em pacientes com cirrose hepática) o Os principais fatores associados com sangramento de úlcera péptica incluem: ▪ Infecção pelo Helicobacter pylori. ▪ Uso de anti-inflamatórios não esteroidais. ▪ Estresse fisiológico, sepse e choque. ▪ Hipersecreção ácida. • QUADRO CLINICO: o vômitos com laivos de sangue ou “em borra de café”, hematêmese franca ou melena (fezes escurecidas com um odor característico intenso), hematoquezia. o Dados como infecção por vírus C e etilismo significativo podem sugerir o diagnóstico de varizes esofágicas. Já a presença de síndrome dispéptica e o uso de anti- inflamatórios não esteroidais podem sugerir o diagnóstico de doença ulcerosa péptica; o O toque retal é indicado em todos os pacientes e pode demonstrar sangue em dedo de luva; • EXAMES COMPLEMENTARES: o endoscopia digestiva alta é o exame de escolha para o diagnóstico etiológico e deve ser realizada o mais precocemente possível (idealmente em menos de 24 horas), assim que o paciente estiver estabilizado; o Em pacientes que na apresentação demonstram instabilidade hemodinâmica, idealmente deve-se realizar o exame em 12 horas; o A endoscopia precoce permite a alta de pacientes com baixo risco de ressangramento e reduz internação hospitalar desnecessária, além de definir a etiologia do sangramento e possivelmente modificar seu manejo. A administração precoce de terapia farmacológica com análogos da somatostatina também pode levar à parada temporária de sangramento, caso sangramento por varizes esofágicas, e pode facilitar a execução do exame endoscópico; o Caso a fonte de sangramento não seja detectada, uma possibilidade é a realização de cintilografia com mapeamento de hemácias marcadas por tecnécio; o arteriografia, que consegue detectar sangramentos tão pequenoscomo 0,5 mL/minuto e pode realizar o diagnóstico em casos de EDA negativa ou em sangramentos importantes com visualização difícil pela EDA. O exame pode ainda delinear a anatomia da lesão sangrante e sugerir a sua etiologia. o Outras opções incluem enteroscopia e cápsula endoscópica; o hemograma com hematócrito e hemoglobina seriados, coagulograma, função renal (ureia e creatinina)e hepática e eletrólitos, que são recomendados em todos os pacientes. • ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO: o Os pacientes devem ser estratificados na apresentação ao DE em relação ao risco de ressangramento. o Fatores clínicos que predizem uma hemorragia grave e uma necessidade para avaliação urgente incluem taquicardia, hipotensão, aspirado nasogástrico com sangue vermelho e uma concentração de hemoglobina inferior a 8 g/Dl; o escore de Glasgow Blatchford, calculado com base em parâmetros clínicos isoladamente, tem grande importância por predizer a necessidade de endoscopia; o As diretrizes de 2019 agora aceitam até um ponto de escore sem indicar hospitalização, com endoscopia digestiva ambulatorial (idealmente em até 1 semana), outros pacientes precisam de admissão hospitalar e endoscopia digestiva alta. • DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: o O principal é hemorragia digestiva baixa. • TRATAMENTO: o Devem ser avaliados imediatamente, e a ressuscitação, incluindo estabilizaçãoda pressão sanguínea e restauração do volume intravascular, deve preceder a avaliação diagnóstica; o A presença de sintomas de ansiedade, torpor, síncope, dispneia, além da presença de sinais de choque (extremidades frias e úmidas, pressão arterial sistólica < 100 mmHg e frequência cardíaca > 100 bpm) e alterações hemodinâmicas ortostáticas (queda de 10 mmHg ou mais na pressão sistólica e elevação de > 15 bpm na frequência cardíaca quando o paciente é mobilizado da posição supina para a sentada) sugerem perda de aproximadamente 20% do volume circulatório com indicação de ressuscitação volêmica; o A ressuscitação hemodinâmica é prioritária e deve ser realizada através de dois acessos venosos periféricos calibrosos e de rápida infusão de cristaloide (soro fisiológico ou Ringer lactato); o Os objetivos na reposição volêmica são: o Atingir uma PAS de 100 mmHg e FC < 100 bpm. o A preferência é por soluções cristaloides em comparação aos coloides por menor custo; o Em pacientes sem resposta à reposição volêmica, pode-se considerar transfundir concentrado de hemácias, com o objetivo de manter níveis de hemoglobina > 7 g/dL a 8 g/dL; o A aplicação intravenosa de vitamina K (5-10 mg) reverte a coagulopatia por deficiência dessa vitamina, mas seu efeito completo pode levar até 24 horas. o A varfarina pode ser reintroduzida após o controle do sangramento; o Pacientes em uso de medicações antitrombóticas não necessitam de transfusão de plaquetas de rotina. o Pacientes em uso de AAS podem retornar o uso assim que hemostasia for atingida. o Outros anti-inflamatórios não esteroidais devem ser descontinuados em toda a fase aguda da HDA; o A passagem de sonda nasogástrica (número 16 ou 18) no paciente com HDA é controversa e não deve ser realizada rotineiramente; o Em pacientes com sangramento por doença ulcerosa péptica, a base do tratamento medicamentoso é a administração intravenosa de inibidores da bomba de prótons (IBP); ▪ O uso de inibidores da bomba de prótons não substitui a endoscopia de urgência em pacientes com sangramento ativo. ▪ O uso de bloqueadores H2, por sua vez, tem pouco benefício e não são recomendados na fase aguda de hemorragia digestiva alta por doença péptica; ▪ A dose ideal de IBP é controversa. Sugerimos esomeprazol ou omeprazol 80 mg IV bolus seguido por 40 mg a 80 mg IV 12/12 h. ▪ A utilização de uma infusão intravenosa contínua (omeprazol 8 mg/h) por 72 horas pode ser indicada para pacientes que tenham sido submetidos a hemostasia endoscópica com úlceras de alto risco para ressangramento; ▪ Em pacientes em que se presume visibilidade prejudicada, como pacientes com gastroparesia, pode-se utilizar eritromicina 3 mg/kg ou 250 mg EV 20 a 120 minutos antes do procedimento, pois a medicação aumenta motilidade gastrointestinal e pode melhorar visibilidade na EDA; ▪ Em pacientes com instabilidade hemodinâmica e hematêmese ativa, deve ser realizada a endoscopia de urgência com hemostasia durante ou logo após a reanimação inicial. ▪ Injeção de adrenalina diluída isoladamente é considerada como tratamento insuficiente. ▪ Uma segunda modalidade de tratamento deve ser realizada para induzir a trombose da artéria, seja clipes hemostáticos, seja um dispositivo térmico (ambos com resultados similares); em pacientes com sangramento agudo; ▪ Pacientes com sangramento maciço que não respondem ao controle primário têm muitas vezes indicação de cirurgia; ▪ Em pacientes que vão manter uso de terapia antiplaquetária após controle da HDA é recomendado manter profilaxia com inibidores de bomba de prótons; o mesmo vale para pacientes em uso de anticoagulantes orais. o Em pacientes com cirrose ou hipertensão portal, deve-se presumir que o sangramento é por varizes esofágicas. ▪ A prioridade inicial é de estabilização hemodinâmica; ▪ A administração precoce de terapia farmacológica com análogos da somatostatina pode levar à parada temporária de sangramento, facilitar a execução do exame endoscópico e reduzir a necessidade transfusional em pacientes com sangramento de varizes esofágicas ▪ A terlipressina é a medicação de escolha, pois parece estar associada à redução de mortalidade; é um análogo sintético da vasopressina, com menores efeitos colaterais, umameia-vida maior e pode ser administrado na dose de 2 a 4 mg IV bolus, seguida por 2 mg por 48 horas, seguida por 1 mg a cada 4 horas até totalizar 5 dias de tratamento. ▪ A somatostatina é bem tolerada e possui poucos efeitos colaterais; pode ser mantida por até 5 dias; ▪ É importante salientar que, independentemente da eficácia do tratamento medicamentoso, todos os pacientes com suspeita de sangramento varicoso devem ser submetidos à endoscopia de emergência e a técnicas endoscópicas para interrupção do sangramento, incluindo a ligadura elástica, quando se colocam bandas elásticas na coluna da variz, injetando agentes esclerosantes (escleroterapia de varizes) ou adesivos teciduais em obturação das varizes gastroesofágicas. o PREVENÇÃO ▪ Os pacientes com história de úlceras pépticas devem ser testados para H. pylori e tratados se houver infecção; ▪ uso de IBP em pacientes com mais de 60 anos que forem usar anti- inflamatórios não esteroidais ou corticoides é recomendado. IBP também é indicado em pacientes com dispepsia ou sintomas de refluxo. ▪ Em pacientes com a doença ulcerosa associada ao H. pylori, um tratamento de erradicação é significativamente mais eficaz do que o tratamento antissecretório de manutenção a longo prazo com os inibidores da bomba de prótons ou bloqueadores H2. Medicina de Emergência da USP. 14 edição
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