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ANÁLISE ESTRATÉGICA DE CUSTOS AULA 6 Prof. Allan Marcelo de Oliveira 2 CONVERSA INICIAL Caro(a) aluno(a), chegamos a nossa última aula e devemos manter nossa empolgação para alcançarmos mais conhecimento. Vamos tratar sobre alguns conceitos aplicados a nossa disciplina, visando agregar mais a você, querido(a) aluno(a). Iniciaremos nossa aula abordando custos perdidos, que de maneira sucinta podemos dizer que são aqueles custos já transcorridos, que não podem ser utilizados para a tomada de decisões futuras, porém muitas vezes não é bem isso o que ocorre nas empresas. Em seguida, abordaremos os custos imputados, que de certa maneira trata-se de um custo de oportunidade, os quais acabam gerando controvérsias, não sendo contabilizados muitas vezes devido a sua subjetividade e pelo fato de não gerar desembolsos. O terceiro tema que estudaremos são os custos de reposição, que serão os custos para repor o estoque vendido. Porém, nem sempre esse custo será igual àquele da última reposição, devendo a empresa sempre estar atenta a essas situações para não ser pega de surpresa, atuando para tentar atenuar possíveis efeitos da elevação dos preços. O penúltimo tema abordado será custos para decisão e para estoque, que são as diferenças das informações voltadas para a contabilidade geral daquelas focadas na contabilidade de custos, pois as duas devem andar juntas, mas existem diferentes abordagens em cada uma, que terão papel significativo na tomada de decisões da empresa, bem como no valor do estoque em cada abordagem. Finalizaremos nossa aula, e matéria, verificando a mão de obra direta como custo variável. Vamos exemplificar esse aspecto e o que deve ser considerado para dizer se efetivamente a mão de obra direta é um custo variável ou não, pois, dependendo de como é a estrutura de custos e de produção da empresa, isso poderá impactar em formas diferentes de interpretação, logo diferenças de alocação dos custos. CONTEXTUALIZANDO Dentro desse nosso universo da contabilidade de custos, caro(a) aluno(a), sempre há o que aprender, e os profissionais devem ficar atentos às mais diversas peculiaridades sobre assunto, pois cada empresa possui uma estrutura específica, cabendo a cada situação atuar com um foco específico. O profissional da contabilidade, quando está por dentro das possibilidades, pode agir da melhor 3 forma possível, e nossa aula de hoje visa situações diferenciadas que podem ser aplicadas às empresas. Cabe atenção maior devido ao crescimento da concorrência entre os profissionais que atuam nessa área, destacando-se aquele profissional que detém maior conhecimento, o qual vai ser procurado como referência no ramo de atuação. TEMA 1 – CUSTOS PERDIDOS Existem custos que não influenciam as decisões futuras, que são os chamados custos perdidos (sunk costs), pois esses não são considerados, já que pertencem ao passado (Borba; Murcia, 2005). Tratam-se de custos que já foram pagos, porém algum motivo faz com que a empresa desconsidere esse valor para o futuro, pois algum evento faz com que esse valor já pago deixe de ser aproveitado. Um exemplo de situação de custos perdidos, apresentado por Borba e Murcia (2005), é do indivíduo que, ao pagar $ 300,00 de anuidade de um clube de tênis, desenvolve uma lesão no cotovelo (muito comum nesse esporte, chamada de cotovelo de tenista), porém continua a frequentar o clube de tênis, pois, segundo ele: “como já paguei a anuidade, não posso perder meu investimento” (p. 2). Essa é uma situação bem comum em nosso dia a dia. Muitas vezes, tentamos aproveitar o valor que já gastamos e, de certa maneira, isso é de nossa natureza, já que nem sempre o ser humano raciocina de maneira lógica e objetiva, visto que muitas situações são dominadas pela subjetividade. Devido a essas situações, os gestores têm dificuldade na aceitação da existência dos custos perdidos. Agora, para que possamos entender melhor como se aplica o conceito de custos perdidos nas empresas, vamos verificar um novo exemplo retirado de Martins (2010). Digamos que uma empresa, fabricante de cosméticos, produz determinado produto com os seguintes dados: Quadro 1 – Custos da empresa Item Valor Materiais $ 130,00/un Depreciação de máquina específica $ 50,00/un Mão de obra (direta e indireta) $ 2.200.000,00/ano Depreciação planta embalagens $ 600.000,00/ano Depreciação planta produtos $ 1.000.000,00/ano 4 Energia elétrica e aluguel $ 800.000,00/ano Preço de venda $ 500,00/un Considerou-se o valor da depreciação de máquina específica como um custo variável, pois foi gasto o valor de $ 5.000.000,00 para fabricar uma máquina personalizada destinada à produção exclusiva desse produto. Considerou-se uma previsão de 100.000 unidades de vida útil da máquina, logo $ 50,00/un, e a empresa já elaborou 20.000/un até o momento. O valor da mão de obra é totalmente fixo, devido à especialização da produção. Quanto a depreciação da planta de embalagens, trata-se de uma fábrica montada pela empresa em um imóvel alugado, com finalidade exclusiva de produção dessas embalagens pesquisadas. Referente aos materiais variáveis, no valor de $ 130,00/un., $ 30,00 são relativos à embalagem. Da mão de obra de $ 2.200.000,00, $ 800.000,00 são gastos nessa planta só de embalagens, bem como $ 100.000,00 dos $ 800.000,00 em energia elétrica e aluguel. Ambas as fábricas, de embalagens e de produtos, possuem vida útil de cinco anos, após isso a empresa não terá mais interesse em trabalhar com esses produtos. Passou-se um ano já, e a depreciação das duas plantas é linear (20% ao ano). Espera-se continuar uma produção de 20.000/un por ano. Após os cinco anos, não se espera valor nenhum com a venda das plantas. Os custos podem ser separados por planta, conforme o Quadro 2: Quadro 2 – Separação dos custos por planta Embalagem Produto Total Produção 20.000 un 20.000 un 20.000 un Materiais 600.000,00 2.000.000,00 2.600.000,00 Depreciação M.E. 1.000.000,00 0,00 1.000.000,00 Mão de obra 800.000,00 1.400.000,00 2.200.000,00 Depreciação 600.000,00 1.000.000,00 1.600.000,00 Energia el. e aluguel 100.000,00 700.000,00 800.000,00 Total 3.100.000,00 5.100.000,00 8.200.000,00 Custo unitário 155,00 255,00 410,00 Esse é o custo de produção para o primeiro ano do produto, restando quatro anos de produção. Porém, imaginemos que a empresa recebe uma proposta de uma fábrica de embalagens no começo do segundo ano. A proposta é de entregar para a empresa 20.000 un de embalagens por ano pelos próximos quatro anos a um custo unitário de $ 90,00/un, ou seja, $ 1.800.000,00 por ano. 5 Para isso, ainda faz parte da proposta a compra dos equipamentos da planta de embalagem por $ 2.000.000,00 à vista, sendo necessária para a empresa apenas a aquisição de um equipamento embalador para a outra planta, no valor de $ 800.000,00. E agora, caro(a) aluno(a), a empresa deve ou não aceitar essa nova proposta? Essa é a resposta que todos querem saber. Vamos ver o que os diretores da empresa disseram a respeito: Diretor de produção: aceitando a proposta, estaremos economizando $1.300.000,00 por ano ($3.100.000 - $1.800.000), numa economia global em quatro anos de $ 5.200.000,00. Proponho a imediata aceitação da proposta. Diretor financeiro: seus números são até aí verdadeiros. Porém, você se esqueceu de que teremos de baixar dois ativos: a planta da fábrica, contabilizada por $ 2.400.000,00 ($ 3.000.000,00 de valor de compra menos $ 600.000,00 de depreciação do 1° ano), reduzindo seu valor de $ 5.200.000,00 para $ 4.800.000,00 (devido ao prejuízo na venda da planta, venda por $ 2.000.000,00, valor contábil de $ 2.400.000,00); também teremos que baixar $ 4.000.000,00 da máquina específica ainda não depreciados, reduzindo o ganho para $ 800.000,00. Opto tambémpela decisão de aceitar a proposta, mas evidenciando que não há vantagem tão extraordinária quanto poderia parecer. Diretor-presidente: apesar de ser presidente, não possuo grandes conhecimento técnicos de custos ou de produção, apenas raciocino de maneira simples. Tenho a seguinte lógica: se daqui a quatro anos nossas fábricas de nada valerão, interessa-me das duas alternativas aquela que, ao final desse período, deixar nossa empresa com maior valor em caixa. Temos um saldo hoje de $ X,00 (valor simbólico de “X”, como sendo o saldo em caixa nesse momento). Daqui a quatro anos, teremos, caso continuemos a fabricar a embalagem, esse saldo mais quatro vezes $ 4.400.000,00, ou seja, mais $ 17.600.000,00, já que receberemos em cada ano $ 10.000.000,00 de receitas, mas só desembolsaremos $ 5.600.000,00 de materiais, mão de obra, energia e aluguel; afinal, o gasto com pesquisa e a compra das máquinas são coisas que já fizemos no passado, e não mais alterarão nossa vida. Por outro lado, se vendermos a planta e comprarmos as embalagens, teremos a mesma receita de $10.000.000,00 anuais, mas nossos desembolsos serão de $ 5.900.000 6 por ano, já que economizaremos $ 1.500.000,00 com materiais, mão de obra, energia e aluguel na fábrica de embalagens, mas gastaremos $ 1.800.000,00 com o fornecedor; assim, no final do período, teremos o saldo de hoje mais quatro vezes $ 4.100.000,00 ($ 16.400.000,00), mais o valor da venda da planta, $ 2.000.000,00, menos os $ 800.000,00 a pagar pela embaladora, totalizando os mesmos $ 17.600.000,00 que na alternativa anterior. Opto pela decisão de comprarmos as embalagens e vendermos nossa fábrica, porque, aplicando esses fluxos de caixa anuais a juros, teremos uma renda maior nessa alternativa, pois $ 5.300.000,00 no primeiro ano ($ 4.100.000,00 + $ 2.000.000,00 - $ 800.000,00) e $ 4.100.000,00 por ano em três anos rendem mais do que quatro aplicações iguais de $ 4.400.000,00. Essa é, para mim, a única diferença entre ambas as hipóteses. Como podemos ver nesse exemplo, Martins (2010) deixa evidente que o diretor-presidente está aplicando o conceito de custos perdidos, pois devem ser abandonados os custos decorrentes de amortização e depreciação de ativos existentes, que são custos passados, provocando custos contábeis, no entanto são irrelevantes quanto a decisões referentes a fluxos financeiros, pois muitas decisões devem ser embasadas nos fluxos financeiros. Verificamos que os custos perdidos são aqueles que já foram desembolsados, porém não incorrerão em impactos de decisões futuras, uma vez que já foram pagos e não influenciam os fluxos financeiros futuros, pois muitas vezes, com alternativas igualmente lucrativas, deve-se optar por aquela que proporciona maior geração de caixa, e como depreciação e amortização, por exemplo, não implicam em saídas de caixa nesse momento, e sim no passado, dependendo da situação são considerados custos perdidos. TEMA 2 – CUSTOS IMPUTADOS Tratamos sobre os custos perdidos e vimos como pode ser a abordagem a esse respeito. Agora, vamos verificar custos imputados, outro conceito dentro da contabilidade de custos. Martins (2010) apresenta os custos imputados como aqueles valores que representam sacrifícios econômicos reais, no entanto não são contabilizados por diversas razões, seja por não ocasionarem gastos para a 7 empresa ou devido a sua subjetividade e polêmica ao abordar tais custos e sua mensuração. Um exemplo de custo imputado é o custo de oportunidade, pois em alguns casos acabamos imputando um valor a esse custo de oportunidade. No entanto, não contabilizamos em si esse valor, e, dentro da subjetividade, surge o questionamento sobre qual seria uma taxa adequada de custo de oportunidade ou, além da taxa, qual seria o valor correto. Essa situação pode causar polêmicas sobre a aplicação desse conceito. Vamos retomar o exemplo que tratamos sobre os custos perdidos, quando o diretor-presidente deu seu parecer, e vejamos um trecho do que ele abordou: “Opto pela decisão de comprarmos as embalagens e vendermos nossa fábrica, porque, aplicando esses fluxos de caixa anuais a juros, teremos uma renda maior nessa alternativa pois $ 5.300.000,00 no primeiro ano ($ 4.100.000,00 + $ 2.000.000,00 - $ 800.000,00) e $ 4.100.000,00 por ano em três anos rendem mais do que quatro aplicações iguais de $ 4.400.000,00.” O diretor-presidente, além de pensar nos fluxos de caixa, focou na situação de custo de oportunidade, pois sua opção teve foco na oportunidade de obter rendimento superior com juros sobre o capital aplicado conforme o fluxo de recebimentos. Caso a decisão fosse a de não vender, ele teria esse custo de oportunidade, ou seja, deixaria de ganhar os juros referentes a aplicação da outra hipótese, caracterizando então um custo imputado. Outro exemplo de custo imputado acontece quando a empresa realiza o cálculo dos juros sobre capital próprio sobre os produtos, o que é um custo de oportunidade pelo uso do capital. Essa é uma informação de cunho gerencial muito útil, mas não pode ser contabilizada. Muitas vezes, as empresas deixam o custo imputado de lado – nesse caso representado pelo custo de oportunidade –, pois existe o problema de alocação aos produtos, o que pode ser feito com base em rateios, mas esbarra na arbitrariedade. Uma situação corriqueira que pode incorrer em um custo imputado é o aluguel a ser apropriado no caso de imóvel próprio. O fato de a empresa optar por utilizar seu imóvel em vez de alugar a terceiros pode fazer com que ela ache adequado incluir em seus custos o valor que receberia de aluguel, caracterizando um custo imputado. 8 Vamos retomar o conceito de custos imputados de maneira bem sucinta: “Custo imputado é um valor apropriado ao produto para efeitos internos, mas não contabilizável” (Martins, 2010, p. 175). É um conceito utilizado internamente da empresa, voltado a decisões gerenciais da organização. Ao decidir por considerar os valores dos custos imputados, a empresa deve ainda segregar esses custos em fixos e variáveis, para que, ao calcular o resultado baseando-se no custeio variável, possa ter meios de calcular o ponto de equilíbrio considerando esses custos imputados. A aplicação dos custos imputados implica em uma evolução da contabilidade, porque, como relatam Iudícibus, Martins e Carvalho (2005), o contador deve introduzir noções de custos imputados, pois dessa maneira vai ultrapassar o limite de apenas atuar com a simples equação patrimonial histórica, contemplando o desafio de colocar o valor no lugar do custo. Vemos como é importante conhecer e aplicar os custos imputados dentro das empresas, dando um passo para a evolução da contabilidade e de seus profissionais. TEMA 3 – CUSTOS DE REPOSIÇÃO Entre as funções da contabilidade de custos, está a de fornecer informações com a finalidade de subsidiar as decisões. Martins (2010) ressalta que as decisões de reposição de estoques devem ser embasadas pelos valores atuais dos custos de reposição dos estoques e também pelos valores futuros de reposição. A empresa deve ter em mente que, sempre ao repor seus estoques, pode ocorrer variação do custo do produto, pois não se pode contar com uma estabilidade de preços por um longo período. A contabilidade de custos deve estar atenta aos valores pagos anteriormente pelos produtos ou insumos estocados, tendo assim meios de comparação com os novos valores a serem pagos para a reposição do estoque, pois esse aumento, quando ocorrer, deve ser pautado e considerado pela contabilidade. Avaliar o produto considerando o seu custo de reposição, muitas vezes, é necessário, pois algumas decisões devem ser tomadas de forma rápida, e considerar o valor de reposição chama a atenção principalmente em empresas de setores do mercado em que os preços sofrem constantes oscilaçõesou até 9 em situações de concorrência acirrada que fazem com que o valor do custo de reposição se altere (Martins, 2010). Para melhor entendermos a situação do custo de reposição, vamos imaginar uma empresa que tenha um produto e que seu único custo seja a matéria-prima, que foi comprada há 90 dias pelo preço de $ 20,00 por unidade. O produto é vendido por $ 30,00, porém, nessa data, para refazer o produto, custaria $ 22,00. Então, surge o questionamento sobre o verdadeiro lucro. De uma maneira bem simples, a contabilidade tradicional apura o resultado como lucro de $ 10,00, pois não leva em conta a reposição do estoque. Porém, gerencialmente, o raciocínio deve ser de que, devido a reposição ter aumentado o valor, o lucro será de $ 8,00, ou seja, o valor de venda menos o preço de reposição do produto vendido. A empresa, continuando a produzir e vender o produto, não está errada em considerar o lucro de apenas $ 8,00. No entanto, não está totalmente correto o raciocínio, pois, se o preço da matéria-prima se elevou sem a influência da inflação, então não foram ganhos apenas $ 8,00 por unidade, visto que a empresa, por ter matéria-prima no seu estoque, atualmente vale mais do que antes, pois, se ao elevar o custo de reposição, acaba por valorizar o estoque já comprado também, ocasiona, provavelmente, um aumento no preço de venda do produto pela empresa. Esse acontecimento faz com que patrimônio se valorize, sem levar em consideração o valor que sobrou em caixa. Esse ganho da empresa possui parte financeira e parte econômica. Economicamente, existe uma valorização do produto, porém, mesmo com essa valorização, a empresa só pode aplicar financeiramente o valor de $ 8,00, pois é o quanto restará líquido em caixa. Caso a empresa aplique valor superior a $ 8,00 em outras situações, faltará dinheiro para repor o estoque, comprometendo a capacidade de geração de lucro. Martins (2010) afirma que, em um pensamento simples, os donos da empresa entendem que o lucro é aquilo que podem retirar dela sem afetar o patrimônio, mas a valorização do estoque, mesmo sendo um lucro, só vai se converter financeiramente em lucro se a empresa for vendida ou descontinuada. Caso ocorra a descontinuidade, e a empresa detenha um valor em estoque, o valor do lucro será de $ 10,00 por unidade, pois é a diferença entre o valor efetivamente investido e o preço de venda. 10 Se a empresa continuar em atividade, o lucro a ser considerado disponível para outros investimentos será a receita ($ 30,00) menos o valor de reposição do estoque ($ 22,00). Dessa maneira, as operações não serão prejudicadas, uma vez que a empresa já “reservou” o valor para a reposição do estoque. Vimos sobre custo de reposição e sua aplicação, mas se o cenário de mercado sofrer influência de inflação, como devemos atuar em relação a reposição dos produtos? Vamos considerar o mesmo exemplo, mas agora com a ocorrência de inflação de 5%. Caso a empresa se interesse pela descontinuidade do negócio, seu lucro será o valor de receita deduzido do custo corrigido pela inflação, então teríamos: $ 30,00 - $ 20,00 x 1,05 = $ 9,00. Em caixa, o resultado é de $ 10,00 a mais que o valor investido, porém, devido à desvalorização da moeda pela inflação de 5%, $ 1,00 não é considerado lucro, pois consiste na reposição da moeda desvalorizada, por isso o lucro é de apenas $ 9,00. Se a empresa continuar em atividade, seu lucro também será de $ 9,00, pois iniciou o período com $ 20,00, valor que, corrigido pela inflação, equivale a $ 21,00, e a venda é feita por $ 30,00. Porém, se observamos do ponto de vista financeiro, o lucro é de apenas $ 8,00. Então, o lucro global é de $ 9,00, porém apenas $ 8,00 estão disponíveis, já que $ 1,00 deve retornar para o estoque devido ao aumento de custo de sua reposição. Para ficar mais elucidada a diferença dos resultados, vejamos no Quadro 3 a comparação. Quadro 3 – Comparação dos resultados Lucro à base de valores históricos Lucro à base de valores históricos corrigidos pela inflação Lucro à base de valores de reposição corrigidos pela inflação Receita $ 30,00 $ 30,00 $ 30,00 (-) Custo histórico ($ 20,00) - - (-) Custo histórico corrigido - ($ 21,00) - (-) Custo de reposição corrigido - - ($ 22,00) Lucro disponível 8,00 Lucro de estocagem 1,00 Lucro total 10,00 9,00 9,00 Vimos que, em cada situação, o lucro é apurado à sua maneira e podemos observar termos diferenciados, como lucro disponível e lucro de estocagem. O lucro disponível é o valor do montante financeiro que resultou da venda; o lucro 11 de estocagem existe quando o estoque é valorizado acima da inflação – no caso, a inflação fez o custo ser de $ 21,00, mas a reposição tem custo de $ 22,00, logo existe um lucro de estocagem, e esse valor precisa ser mantido para reposição do estoque. Então, para adotar os custos de reposição, deve-se focar nos efeitos futuros, verificando como será o comportamento dos custos e do resultado no futuro (Martins, 2010). Martins (2010) apresenta um exemplo em que no dia anterior foi fabricado um produto a um custo de $ 5.000,00 e que, entre ontem e hoje, praticamente é inexistente a inflação. Digamos que houve um aumento salarial, com vigência a partir de hoje. Dessa forma, o custo de reposição do produto será de $ 5.600,00 devido ao aumento dos salários. O produto, vendido a $ 6.000,00, gera um lucro contábil de $ 1.000,00. No entanto, o resultado financeiro é de apenas $ 400,00. Ao verificar o preço de venda, além de pensar no custo atual, deve ser observado qual será o custo de reposição do item. Sempre que a empresa for elaborar um orçamento para algum cliente, ou até para informações internas, a base de referência deve ser o custo histórico, porém a atenção deve focar na relevância dos custos de reposição, sejam eles do material, mão de obra, e dos demais custos envolvidos na produção do item. TEMA 4 – CUSTOS PARA DECISÃO E PARA ESTOQUE Muitas vezes, nas empresas, as informações podem ter dois vieses. Podemos trabalhar com informações para a finalidade de tomada de decisões ou focar em informações de apuração e controle de estoque. Essa alteração de foco ou finalidade muda a maneira como vemos e interpretamos as informações, e devemos ter isso em mente para não nos equivocarmos. Para o bom andamento da empresa, deve haver uma conciliação entre a contabilidade de custos e a contabilidade geral, pois a geral fornece valores à de custos, que devolve em forma de produtos (Martins, 2010). A contabilidade de custos possui um foco gerencial, para fornecer informações que subsidiem a tomada de decisões, mas também deve auxiliar a contabilidade geral a apurar o valor dos estoques e mensurar o resultado. Ficam claros dois objetivos da contabilidade de custos: atender as questões gerenciais e as situações da contabilidade geral. Muitas vezes, para atender esses objetivos 12 distintos, pode haver critérios opostos a serem utilizados dentro de cada objetivo a ser alcançado. Para a contabilidade geral, a abordagem é mais clássica, sendo necessária a apuração dos custos por meio do custeio por absorção, segregando os custos e as despesas e considerando apenas os valores registrados historicamente na contabilidade. No entanto, para a contabilidade gerencial, que foca no uso interno de informação, são utilizadas mais apropriações, pois, geralmente, é usado o custeio variável, que utiliza as despesas variáveis, mesmo que não tenham se incorrido ainda. Também utilizam valores de reposição, custo de oportunidade, dentre outros dados e métodos incompatíveis com os princípios contábeis seguidos pela contabilidade geral. Então, podemos dizer que existem duas contabilidades de custos, cada uma com sua finalidade específica, causando certo impasse no uso de cada uma delas (Martins,2010). Essa situação muitas vezes vai causar erros na gestão da empresa, devido a divergência de informações sobre o mesmo assunto. Vamos imaginar que cada setor, geral e de custos, apresenta um relatório sobre o resultado da empresa, no caso relatórios diferentes. Como pode o resultado ser diferente na empresa? Os executivos vão duvidar de ambos, desacreditando os relatórios, mesmo ambos estando corretos dentro de suas abordagens. As divergências de informações entre os setores da empresa podem acarretar problemas até de relacionamento entre os setores, pois cada uma das contabilidades vai defender seus relatórios e sua forma de trabalhar. Então, as empresas que atuam com os dois tipos de contabilidade, geral e de custos, devem ter atenção especial e tentar conciliar as duas informações geradas. Sabe-se das diferenças entre as informações, e nenhuma delas é considerada errada ou melhor do que a outra, pois seus objetivos são diferentes, mas devem atuar conjuntamente para o bem maior da organização. Vamos imaginar a situação de um gestor que recebe dois relatórios diferentes referentes ao mesmo assunto, com resultados diferentes da empresa. Ele não sabe em qual relatório se embasar, é isso que vai acontecer quando existir um conflito entre as contabilidades geral e de custos. Tudo seria diferente se o mesmo gestor recebesse os dois relatórios distintos, porém acompanhada deles uma explicação dos motivos das diferenças, tendo dessa forma o gestor 13 mais condições de avaliar a qualidade de cada relatório e entender o grau de detalhamento de informações que a empresa possui. Devido a isso, Martins (2010) relata a importância da segregação entre a contabilidade de custos e a geral, mas com uma conciliação, processo que fica facilitado se ambas forem subordinadas à mesma pessoa, podendo ser o controller, o diretor financeiro ou o superintendente, dentre outros. Essa pessoa, responsável por conciliar os dois relatórios, verifica os pontos comuns e diferentes para poder explicar ao gestor tais situações de divergência, evidenciando a relevância de cada relatório. Vejamos um exemplo, retirado da obra de Martins (2010), sobre relatórios diferentes, um que avalia o estoque de acordo com o custeio por absorção, conforme a contabilidade geral, e outro com dados relevantes do ponto de vista gerencial, conforme a contabilidade de custos. Os valores expostos no Quadro 4 referem-se a uma unidade de produto. Quadro 4 – Comparação de relatórios da contabilidade Materiais diretos: Absorção Variável Valores histórico- contábeis Valores de reposição $ 2.080,00 $ 2.164,00 Matéria-prima $ 1.350,00 $ 1.410,00 Componentes $ 430,00 $ 430,00 Embalagens $ 300,00 $ 324,00 Mão de obra direta $ 970,00 $ 1.035,00 Depto. 32 $ 450,00 $ 450,00 Depto. 33 $ 130,00 $ 156,00 Depto. 35 $ 390,00 $ 429,00 Custos indiretos variáveis $ 270,00 $ 288,00 Combustíveis $ 150,00 $ 150,00 Energia Elétrica $ 120,00 $ 138,00 Custos indiretos fixos $ 770,00 $ 0,00 Depto. 32 $ 340,00 $ 0,00 Depto. 33 $ 150,00 $ 0,00 Depto. 35 $ 280,00 $ 0,00 Soma $ 4.090,00 $ 3.487,00 Despesas variáveis de venda $ 0,00 $ 265,00 Comissões $ 0,00 $ 150,00 Entrega $ 0,00 $ 80,00 PIS $ 0,00 $ 35,00 Total $ 4.090,00 $ 3.752,00 Preço de venda sem ICMS $ 5.000,00 $ 5.000,00 Lucro Margem de contribuição $ 910,00/un $ 1.248,00/un 14 Vamos verificar a explicação para as diferenças entre os dois relatórios: a. Matéria-prima: consumidos 200 kg; preço médio do estoque: $6,75/kg; preço atual de mercado: $7,05/kg; b. Embalagens: circular do fornecedor comunica 8% de acréscimo para o próximo mês; c. Mão de obra direta: a partir do próximo mês, aumento de 20% no depto. 33 e de 10% no depto. 35; d. Energia elétrica: aumento de 15% a partir do próximo mês; e. Custos indiretos fixos: rateados à base do tempo de produção nos deptos. 32 e 33, e à base de peso no depto. 35. Como podemos ver, cada coluna apresenta um resultado diferente. Além de diferença no valor, a nomenclatura do valor também difere. Então, poderia ser um problema para o gestor entender as informações, mas, com a devida conciliação entre a contabilidade geral, representada pela coluna dos valores histórico-contábeis, e a contabilidade de custos, representada pela coluna dos valores de reposição, o gestor poderá lidar tranquilamente com as informações relatadas pelos dois departamentos. Como podemos ver, as diferenças nos valores podem ser explicadas devido às elevações dos custos para o próximo período. Dentro desses aspectos que vimos, é bom deixar claro que o custeio por absorção e o custeio variável não são excludentes e podem ser ambos adotados, cada um com sua finalidade (Martins, 2010). Valores históricos e de reposição também podem ser usados de maneira conjunta, basta ter o discernimento de saber aproveitar cada um no momento adequado, bem como utilizar a contabilidade geral quando se faz necessário e a contabilidade de custos nos momentos adequados. TEMA 5 – MÃO DE OBRA DIRETA COMO CUSTO VARIÁVEL Dentro da contabilidade de custos, podem surgir dúvidas de como classificar os custos, se são variáveis ou fixos, e nesse contexto vamos abordar a mão de obra direta, a qual tende a ser um custo variável. Para isso, consideramos apenas a parte utilizada na produção, e o tempo ocioso deve ser considerado como custo indireto (Martins, 2010). 15 Quando o empregado possui remuneração baseada na produção, fica evidente que se trata de um custo variável. No entanto, na maioria das empresas, os empregados são contratados com salários fixos, conforme previsto na legislação, podendo ser segregado o valor conforme o tempo utilizado efetivamente na produção e a parte ociosa. Um cuidado que deve ser tomado para a divisão do tempo utilizado na produção do ocioso pode ser inviável, pois talvez o custo para realizar tal procedimento seja mais caro que a informação gerada. Nesse tipo de situação, a mão de obra direta é considerada um custo fixo, sem que haja medição, podendo até haver críticas conceituais, mas agilizando a situação prática (Martins, 2010). Então, a classificação da mão de obra direta como fixa ou variável deve ser feita conforme o tipo de decisão que se quer tomar, podendo observar situações especificas, caso o volume da atividade da empresa seja reduzida por um longo período de tempo, ou ocorrências de oscilações muito elevadas na produção, o que faria com que os custos da mão de obra direta voltassem a ser tratados como variáveis. Vejamos um exemplo retirado da obra de Martins (2010, p. 181) que aborda essa variação da classificação da mão de obra direta: uma empresa com 800 pessoas que trabalham diretamente na linha de produção produz 10.000 unidades semanais nessas condições. Em função da demanda, em determinado mês, a empresa vai produzir apenas 9.000 unidades semanais. Mesmo com a redução da produção, o pessoal ocioso não será despedido, já que se espera retomar futuramente o nível normal de produção. Pode-se, assim, classificar como MOD apenas a parte utilizada nas 9.000 unidades, e o restante ser considerado como custo indireto, ou todo o valor pode ser considerado como custo direto, e o mais adequado para a tomada de decisão é que todo o valor seja considerado fixo. Se não fosse um caso pontual, mas sim uma programação de produção de 8.000 unidades semanais por um período de seis meses, aí sim a mão de obra desse pessoal assumiria classificação de custos variável, devido a uma dispensa de 20% do pessoal que ficar ocioso. Então, dependendo de qual decisão será tomada ou da análise a ser realizada, a mão de obra direta será enquadrada como custo fixo ou custo variável. 16 Caso a empresa considere o valor total da mão de obra direta como custo estrutural ou de determinado setor e nãofocar no produto, considerará como custo fixo. Outro aspecto que induz a classificação como custo fixo é a grande automação industrial, pois o volume depende das máquinas, deixando a mão de obra como algo acessório na produção, podendo então assumir de maneira definitiva a classificação como custo fixo (Martins, 2010). TROCANDO IDEIAS Agora, chegou o momento de você, caro(a) aluno(a), discutir alguns temas de nossa aula com seus colegas. Então, visando nortear o diálogo do vocês no fórum, foram formuladas algumas perguntas: a. Em quais situações o conceito de custos perdidos pode ser utilizado no dia a dia para fundamentar decisões de maneira mais embasada? b. Como os custos imputados podem fornecer informações comparativas quanto a custo de oportunidade, por exemplo? c. Deve ser levada em conta pela gestão a informação de que o conceito de custo de reposição considera o novo valor a ser pago para repor o estoque? Explique. d. Qual é a importância de haver uma conciliação entre a contabilidade geral e a de custos? e. A mão de obra direta é um custo fixo ou variável? Explique. NA PRÁTICA Prezado(a) aluno(a), vamos ver uma situação relacionada a custos perdidos e custos imputados, para podermos praticar aquilo que estudamos em nossa aula de hoje. Uma indústria fabrica apenas o produto X, pois possui experiência e expertise na fabricação e na venda desse produto. Para melhor entender a situação da indústria, vamos verificar as informações constantes no Quadro 5, que se referem a dados da produção e venda do produto. Quadro 5 – Custos da indústria Item Valor 17 Matéria-prima A $ 100,00/un Produto intermediários $ 160,00/un Embalagem $ 40,00/un Depreciação de máquina personalizada $ 80,00/un Mão de obra (direta e indireta) $ 4.000.000,00/ano Depreciação planta embalagens $ 800.000,00/ano Depreciação planta produto intermediário $ 1.000.000,00/ano Depreciação planta produtos $ 2.000.000,00/ano Energia elétrica e aluguel $ 1.000.000,00/ano Preço de venda $ 700,00/un Foi considerado o valor da depreciação de máquina personalizada como um custo variável, pois foi gasto o valor de $ 16.000.000,00 para sua fabricação; como consideraram uma previsão de vida útil de 200.000 unidades, logo $ 80,00/um. A empresa já elaborou 40.000/un no primeiro ano. O valor da mão de obra é totalmente fixo. Quanto a depreciação, divide- se em três, pois a empresa possui uma planta específica para as embalagens, uma para a fabricação do produto intermediário e outra para os produtos. Referente aos materiais variáveis, a matéria-prima A é adquirida a custo $ 100,00/un, o produto intermediário possui custo de $ 160,00/un, e a embalagem, custo $ 40,00/un. Da mão de obra de $ 4.000.000,00, 30% referem-se à planta do produto intermediário, e 20% referem-se à planta de embalagens, enquanto o restante pertence à planta dos produtos acabados. A energia elétrica e o aluguel possuem as mesmas proporções do valor da mão de obra. As três fábricas, do produto intermediário, de embalagens e de produtos, possuem vida útil de cinco anos. Depois disso, a empresa não terá mais interesse em trabalhar com esse produto. Passou-se um ano já, e a depreciação das três plantas é linear (20% ao ano). Espera-se continuar uma produção de 40.000/un por ano e, após os cinco anos, não se espera valor nenhum com a venda das plantas. Os custos podem ser separados por planta, conforme o Quadro 6: Quadro 6 – Separação dos custos por planta Produto intermediário Embalagem Produto Total Produção 40.000 un 40.000 un 40.000 un 40.000 un Materiais 6.400.000,00 1.600.000,00 4.000.000,00 12.000.000,00 Depreciação M.P. 0,00 3.200.000,00 0,00 3.200.000,00 Mão de obra 1.200.000,00 800.000,00 2.000.000,00 4.000.000,00 Depreciação 800.000,00 1.000.000,00 2.000.000,00 3.800.000,00 Energia el. e aluguel 300.000,00 200.000,00 500.000,00 1.000.000,00 Total 8.700.000,00 6.800.000,00 8.500.000,00 24.000.000,00 18 Custo unitário 217,50 170,00 212,50 600,00 Como podemos ver no Quadro 6, temos o custo de produção para o primeiro ano do produto, restando assim quatro anos de produção. Porém, imaginemos que a empresa recebe uma proposta de uma fábrica de embalagens no começo do segundo ano e, também, uma proposta de uma empresa para fornecer o produto intermediário. Na sequência, seguem as duas propostas: Proposta da fábrica de produto intermediário: Venda de cada unidade de produto intermediário por $ 180,00, 40.000 unidades por ano pelos próximos 4 anos, chegando ao valor de $ 7.200.000,00 por ano. Para manter essa proposta, a empresa deveria comprar a matéria-prima A deles também, pelo valor de $ 110,00 a unidade. Essa fábrica ainda ofereceu o valor de $ 2.500.000,00 à vista pela planta de fabricação do produto intermediário. Proposta da fábrica de embalagens: Entregar 40.000 unidades de embalagens por ano, pelos próximos 4 anos, a um custo unitário de $ 170,00/un, ou seja, $ 6.800.000,00 por ano. Para isso, ainda faz parte da proposta a compra dos equipamentos da planta de embalagem por $ 7.000.000,00 à vista, sendo necessária para a empresa apenas a aquisição de um equipamento embalador para a outra planta, no valor de $ 1.000.000,00, que se depreciará em quatro anos. E agora, caro(a) aluno(a), a empresa deve aceitar essas novas propostas? Apenas a proposta do fornecedor de embalagens? Apenas a proposta do fornecedor do produto intermediário? Ou deve recusaras duas propostas e continuar sua produção como está atualmente? Caro(a) aluno(a), nesse momento nos cabe, como contadores, verificar o que seria melhor para a empresa, considerando tanto o conceito dos custos perdidos como também conceitos do custo de oportunidade. Agora, vamos ver como ficariam os cenários da empresa, caso ela recuse as propostas, aceite uma delas ou aceite ambas. 1º cenário – Manter a produção da maneira atual A empresa, caso não aceite nenhum das propostas, terá sua estrutura de custos composta conforme exposto no Quadro 6. Então, terá um custo unitário 19 de $ 600,00, vendendo o produto por $ 700,00, com lucro unitário de $ 100,00. Considerando a produção e a venda anual de 40.000 unidades, pelos próximos 4 anos a empresa alcançara um lucro contábil de $ 16.000.000,00. O caixa gerado será de $ 44.000.000,00, pois todos os gastos já desembolsados são considerados como custos perdidos, e valores com essa classificação somam o total anual de $ 7.000.000,00. Desse total, $ 3.200.000,00 representam a amortização da pesquisa de mercado relacionada a produção da embalagem o produto, e os outros $ 3.800.000,00 referem-se à depreciação das plantas industriais. Os gastos não desembolsáveis então totalizam $ 28.000.000,00 no período. A diferença entre o caixa gerado e o lucro refere-se aos valores já desembolsados, que atendem ao conceito de custos perdidos, ocorridos no passado, não devendo interferir nas decisões atuais. 2º cenário – Aceitar a proposta da fornecedora do produto intermediário e recusar a proposta da fornecedora de embalagens Nesse momento, vamos verificar como ficaria o resultado da empresa aceitando a proposta de adquirir o produto intermediário e a matéria-prima A do mesmo fornecedor, porém mantendo a produção das embalagens. Caro(a) aluno(a), para que nossa visualização seja facilitada, acompanhemos o Quadro 7 com os dados separados por planta. Quadro 7 – Dados no segundo cenário Produto intermediário Embalagem Produto Total Produção 40.000 un 40.000 un 40.000 un 40.000 um Materiais 7.200.000,00 1.600.000,00 4.400.000,00 13.200.000,00 Depreciação M.P. 0,00 3.200.000,00 0,00 3.200.000,00 Mão de obra 0,00 800.000,00 2.000.000,00 2.800.000,00 Depreciação 0,00 1.000.000,00 2.000.000,00 3.000.000,00 Energia El. e Aluguel 0,00 200.000,00 500.000,00 700.000,00 Total 7.200.000,00 6.800.000,00 8.900.000,0022.900.000,00 Custo unitário 180,00 170,00 222,50 572,50 Com esse cenário, o custo unitário do produto será de $ 572,50; vendendo pelos mesmos $ 700,00, o lucro unitário será de $ 127,50. Vendendo as 40.000 unidades anuais pelos próximos 4 anos, chega-se a lucro de $ 20.400.000,00 pela venda dos produtos. 20 Temos um detalhe do lucro, pois, como a empresa venderá a planta que produz o produto intermediário por $ 2.500.000,00 e ainda possui um custo a ser depreciado de $ 3.600.000,00, contabilmente deve ser deduzido do lucro o valor de $ 1.100.000,00, chegando a um lucro contábil total de $ 19.300.000,00. Podemos ver que o lucro se eleva ao aceitar a proposta do fornecedor, pois, mesmo o preço pago pela matéria-prima A aumentando de $ 100,00 para $ 110,00, a redução do custo do produto intermediário compensa tal aumento, devido à redução dos gastos fixos. Ao olhar o quanto de caixa é gerado pela aceitação da proposta desse fornecedor, o valor é de $ 44.100.000,00. A diferença de $ 24.800.000,00 é composta por $ 3.200.000,00 anuais da amortização da pesquisa de mercado das embalagens e $ 3.000.000,00 anuais das depreciações das plantas. Como podemos perceber, aceitando a proposta, o lucro contábil e o valor de caixa gerado serão maiores do que na atual situação da empresa. 3º cenário – Aceitar a proposta da fornecedora de embalagens e recusar a propostas da fornecedora do produto intermediário Agora, verificaremos como fica um terceiro cenário, em que aceitamos a proposta das embalagens e recusamos a do fornecedor de produto intermediário. Para que fique mais fácil nossa visualização, vamos acompanhar o Quadro 8 com os dados. Quadro 8 – Dados no terceiro cenário Produto intermediário Embalagem Produto Total Produção 40.000 un 40.000 un 40.000 un 40.000 un Materiais 6.400.000,00 6.800.000,00 4.000.000,00 17.200.000,00 Depreciação M.P. 0,00 0,00 0,00 0,00 Mão de obra 1.200.000,00 0,00 2.000.000,00 3.200.000,00 Depreciação 800.000,00 0,00 2.250.000,00 3.050.000,00 Energia el. e aluguel 300.000,00 0,00 500.000,00 800.000,00 Total 8.700.000,00 6.800.000,00 8.750.000,00 24.250.000,00 Custo Unitário 217,50 170,00 218,75 606,25 Nesse cenário, já podemos perceber que o custo unitário se eleva. Ele era de $ 600,00 no cenário atual e, nesse momento, chega a $ 606,25. Com a venda por $ 700,00, considerando 40.000 unidades anuais pelos próximos 4 anos, temos um lucro das vendas de $ 15.000.000,00. Ao considerar que a planta foi 21 vendida por $ 7.000.000,00, com custo ainda a depreciar de $ 4.000.000,00, chega-se ao lucro total de $ 18.000.000,00. O lucro é superior ao do cenário atual, porém isso acontece apenas devido à venda da planta, que proporciona um lucro de $ 3.000.000,00. Essa verificação é importante, caro(a) aluno(a), pois, às vezes, os números podem nos enganar. O valor gerado de caixa é de $ 36.200.000,00, com uma diferença de $ 18.200.000,00 para o lucro contábil. A diferença é composta por $ 12.200.000,00 referentes a depreciação, que foram gastos já desembolsados, e os outros $ 6.000.000,00 que advêm dos $ 7.000.000,00 recebidos pela planta das embalagens, deduzidos $ 1.000.000,00 referentes à compra da máquina de embalar colocada na planta da produção do produto final. O valor gerado de caixa é inferior nesse cenário em relação ao do cenário atual da empresa, devendo ser verificado o caixa gerado também, e não apenas o lucro contábil, principalmente devido a existência dos custos perdidos. 4º cenário – Aceitar a proposta da fornecedora de produto intermediário e também a da fornecedora de embalagens Caso a empresa aceita as propostas de ambos os fornecedores, será que seria mais viável? Vamos verificar qual seria o resultado aceitando as duas propostas, mantendo assim apenas uma planta de produção, a referente ao produto final. Vamos ver o Quadro 9 com as informações do quarto cenário. Quadro 9 – Dados no quarto cenário Produto intermediário Embalagem Produto Total Produção 40.000 um 40.000 um 40.000 um 40.000 um Materiais 7.200.000,00 6.800.000,00 4.400.000,00 18.400.000,00 Depreciação M.P. 0,00 0,00 0,00 0,00 Mão de obra 0,00 0,00 2.000.000,00 2.000.000,00 Depreciação 0,00 0,00 2.250.000,00 2.250.000,00 Energia el. e aluguel 0,00 0,00 500.000,00 500.000,00 Total 7.200.000,00 6.800.000,00 9.150.000,00 23.150.000,00 Custo unitário 180,00 170,00 228,75 578,75 Nesse cenário, o custo unitário é de $ 578,75, mantendo o preço de venda de $ 700,00, e o lucro unitário é de $ 121,25. Com as 40.000 unidades anuais a serem vendidas pelos próximos 4 anos, temos um lucro das vendas de $ 19.400.000,00. Nessa situação, também ocorre a venda das plantas de 22 produção do produto intermediário e de embalagens, a primeira vendida por $ 2.500.000,00, com custo de depreciação de $ 3.600.000,00, que incorre em perda de $ 1.100.000,00, enquanto a venda da planta das embalagens proporciona um ganho de $ 3.000.000,00, pois foi vendida por $ 7.000.000,00 e possuía custo a ser depreciado de $ 4.000.000,00. Então, no período final, a empresa alcança um lucro geral de $ 21.300.000,00. A opção desse cenário vai gerar um caixa de $ 38.800.000,00, diferença de $ 17.500.000,00 a mais do que o lucro. A composição da diferença de $ 9.000.000,00 refere-se à depreciação do período total, $ 2.500.000,00 da venda da planta de produção do produto intermediário e $ 6.000.000,00 da venda da planta de embalagens, vendida por $ 7.000.000,00. Porém, foram gastos $ 1.000.000,00 na aquisição de máquina para fechar as embalagens que foi instalada na planta do produto final. Como podemos ver, cada cenário oferece situações diferentes, tendo prós e contras no resultado contábil, bem como na geração de caixa. Resumo dos quatro cenários Agora, caro(a) aluno(a), vamos ver de forma resumida os resultados dos quatro cenários, para que fiquem facilitadosa a comparação e o entendimento. Vamos observar o Quadro 10, em que consta o resumo das informações de cada cenário. Quadro 10 – Resumo dos cenários 1º cenário 2º cenário 3º cenário 4º cenário Lucro contábil R$ 16.000.000,00 R$ 19.300.000,00 R$ 18.000.000,00 R$ 21.300.000,00 Caixa gerado R$ 44.000.000,00 R$ 44.100.000,00 R$ 36.200.000,00 R$ 38.800.000,00 Como podemos ver, o 1º cenário é o que apresenta o menor lucro contábil para o período dos próximos 4 anos, enquanto o 4º cenário apresenta o maior lucro contábil. Vale lembrar que, no 4º cenário, $ 3.000.000,00 do lucro advêm da venda da planta das embalagens, ou seja, um lucro não operacional, do contrário o maior lucro seria do 2º cenário. Como vimos, quando tratarmos de custos perdidos, devemos considerar o quanto de caixa está sendo gerado para a empresa, pois, uma vez com dinheiro em caixa, a empresa tem opções de investimentos, sejam ampliações 23 da indústria, como também uma simples aplicação financeira para receber um retorno em forma de juros. Quanto a geração de caixa, o 2º cenário é o que mais gera, chegando a $ 44.100.000,00; o 1º cenário ficou bem próximo, com o valor de $ 44.000.000,00. Já o pior desempenho é do 3º cenário, que gerou um valor de caixa de $ 36.200.000,00, inferior em $ 7.900.000,00 ao do melhor cenário. Como podemos ver, em todos os cenários há uma diferença considerável entre o lucro contábil e o caixa gerado. Tal discrepância advém dos custos perdidos, pois são os valores de depreciação e amortização do exemplo que já foram desembolsados e não devem interferir nas decisões futuras dos gestores, cabendo ao contador explicitar tais informações, deixando claras as duas situações, contábil e caixa. Então, caro(a) aluno(a), vale muito conhecer o conceito de custos perdidos para as decisões das empresas em que você trabalhar terem uma base confiável elaborada por você, que, temos certeza, será um(a) ótimo(a) profissional.FINALIZANDO Querido(a) aluno(a), chegamos ao final de nossa sexta aula e também ao final de nossa disciplina de Análise Estratégica de Custos. Nesta aula, começamos falando sobre os custos perdidos, que são aqueles custos já incorridos, os quais não devem servir de base a influenciar decisões futuras, pois são gastos já incorridos. Muitas vezes, as empresas não percebem que determinados custos são perdidos e acabam por tomar decisões inadequadas por falta de conhecimento desse conceito e de sua aplicação para melhorar as tomadas de decisão dentro da empresa. O segundo tema abordado foram os custos imputados, que são custos não registrados na contabilidade, porém, para a tomada de decisão, eles devem ser considerados. Como exemplo de custos imputados, temos o custo de oportunidade, que seria o retorno caso o capital fosse aplicado em outra situação, como também as empresas que utilizam imóvel próprio, porém consideram como custo o valor do aluguel que receberiam caso alugassem o imóvel a terceiros. Então, os custos imputados são custos perceptíveis, porém não registrados contabilmente. Também estudamos o custo de reposição, conceito importante, pois, mesmo que as empresas possuam um custo histórico na contabilidade, não se pode acreditar que o custo de reposição 24 será igual a esse valor, e a empresa deve ter isso em mente; caso a reposição venha a ter um custo superior, essa informação deve ser considerada para apurar o resultado gerencialmente, pois, no caso de elevação do valor de reposição, deverá ser reservado maior valor para repor seu estoque. Dentro do conceito de custo de reposição, ainda pode haver situações de influência da inflação, que também devem ser consideradas para apurar o resultado de maneira gerencial, pois, em muitas situações, ignorar o efeito da inflação pode causar erros no planejamento da empresa. O penúltimo tema que verificamos foi a diferença entre custos utilizados para tomada de decisões e custos para estocagem, ou, como poderíamos segregar de maneira mais simples, diferenças entre contabilidade de custos e contabilidade geral. Nesse tema, verificamos que relatórios sobre o mesmo assunto tendem a ser diferentes, vista a finalidade de cada área da contabilidade, devendo a empresa, para não gerar controvérsias nas interpretações desses relatórios, buscar a conciliação entre a contabilidade de custos e a geral. O último tema foi sobre como considerar a mão de obra direta, se como custo variável ou fixo, e vimos que, dependendo da situação, vamos considerar a mão de obra direta de uma forma ou de outra, pois devem ser considerados a estrutura da empresa e o volume de produção, para que se possa ter precisão na verificação. Caso a remuneração seja por produção, fica clara a classificação como custo variável. Já em outras ocasiões, pode haver diferenciação, sendo uma parte do salário como variável, e outra, como indireto, bem como há casos em que o total é considerado como custo indireto. Caro(a) aluno(a), esperamos que tenha gostado de nossa disciplina de Análise Estratégica de Custos e que tenha tirado o máximo de proveito, aprendendo muito sobre a disciplina. Abraços! 25 REFERÊNCIAS BORBA, J. A.; MURCIA, F. D. A Influência dos custos perdidos (Sunk Costs) no processo de tomada de decisão: Um estudo empírico baseado em cenários de decisão. In: IX Congresso Brasileiro de Custos, Florianópolis, 2005. IUDICIBUS, S; MARTINS, E; CARVALHO, L. N. contabilidade: aspectos relevantes da epopeia de sua evolução. Revista Contabilidade e Finanças, n. 38, p. 7-9, 2005. MARTINS, E. Contabilidade de custos. 10. ed. São Paulo: Altas, 2010.
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