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Jenneph Félix - @med_por_opção Medicina UFPE CAA Introdução ➨ 50% dos casos de morte associada ao trauma ➨ Das vítimas de traumatismo cranioencefálico - TCE, aproximadamente 80% são casos leves, 10% trauma moderado e 10% trauma grave. Gravidade do TCE segundo Escala de Glasgow ➨ECG ≥ 13� TCE leve ➨ECG entre 9 e 12 anos: TCE moderado ➨ECG ≤8� TCE grave ➨Objetivo do tratamento: Prevenção de lesão cerebral secundária, como hipoperfusão, hipoxemia, hipertensão intracraniana. ➨Objetivos: PA sistólica ≥ 90 mmHg PaO2 ≥ 60 mmHg Evitar hipercapnia que causa vasodilatação cerebral e aumenta a PIC. Anatomia Três camadas envolvem o encéfalo: couro cabeludo, crânio e meninges. ➨Couro cabeludo Cinco camadas 1- Pele 2- Tecido conjuntivo 3- Aponeurose ou gálea aponeurótica 4- Tecido areolar frouxo (sede dos hematomas subgaleais) 5- Pericrânio ➨Crânio Constituído por: 1- Calota ou abóbada: fina nas região temporal e acolchoada por músculos temporais Calota craniana 2- Base: por ser irregular contribui na formação de lesões quando o cérebro desliza (lesões de cisalhamento). Base do crânio ➨Meninges Revestem o cérebro: 1- Dura máter: formada por dois folhetos, um aderido ao periósteo craniano e outro com a aracnóide. Em alguns locais pode ocorrer acúmulo de sangue devido a frouxidão do folheto mais externo, como a região parietal, formando hematomas extradurais ou epidurais. São formados principalmente após lesão da artéria meníngea, com destaque para a a. média que se localiza sobre a fossa temporal. As veias em ponte (pequenas veias que unem a dura à aracnóide) também podem se romper, formando hematomas subdurais. 2- Aracnóide: segunda camada. Fina e transparente. 3- Pia - máter: terceira camada, aderida ao parênquima cerebral. Entre a aracnóide e a pia máter se localiza o espaço subaracnóide, onde circula o líquor. Hemorragia nesse local: hemorragia subaracnóidea. Camadas do couro cabeludo Lesões decorrentes do TCE ➨Fraturas de crânio Podem ser na calota ou base do crânio. Identificadas por meio de tomografia computadorizada com janela para o osso. Dividem-se em quatro grupos: Fraturas lineares simples, que normalmente não necessitam de tratamento cirúrgico; Fraturas com afundamento, onde o tratamento é dirigido para a possível lesão cerebral adjacente; Fraturas abertas são aquelas onde há rompimento da dura máter e contato do meio externo com o parênquima cerebral (faz-se necessário desbridamento e sutura das lacerações); Fraturas da base do crânio Sinais clínicos de fratura de base de crânio: Rinorreia, otorreia, hemotímpano : indicam fístula liquórica através do nariz ou ouvido. Disfunção do VII e VIII pares cranianos (paralisia facial e perda da audição). A disfunção do par I pode gerar anosmia se lesão na lâmina crivosa. Equimoses periorbitárias (sinal do guaxinim) e retroauricular (sinal de Battle). Mesmo uma fratura pequena na base do crânio indica trauma grave! Devido a intensa energia cinética, frequentemente há outras lesões. Fraturas fechadas não exigem manejo cirúrgico específico. Já as abertas precisam de reparo de escalpe e debridamento. Craniectomia: Nos casos de a depressão ser superior à espessura da calota associada à hematoma intracraniano e quando há acometimento dos seios frontais. ESCALPE (“SCALP”): Conjunto de quatro camadas (pele, tela subcutânea, aponeurose epicraniana e tecido subgaleal) que podem movimentar-se em bloco sobre o neurocrânio. Sinal do Guaxinim e Sinal de Battle Fraturas assintomáticas não exigem tratamento, mas na presença de fístula deve-se elevar a cabeceira da cama por vários dias e pode ser ou não realizada uma drenagem lombar por cateter. Não há muito o que se fazer em caso de lesões dos nervos cranianos. ➨Lesões Intracranianas Podem ser do tipo focal ou difusa. Lesões focais: hematomas epidurais, hematomas subdurais, as contusões e os hematomas intracerebrais. Podem exercer efeito de massa, causando desvio da linha média e hipertensão intracraniana. Lesões difusas: Concussões (podem ser temporárias) ou Lesão Axonal Difusa (normalmente definitivas). Geralmente causadas por desaceleração. Hematomas Epidurais Entre a dura-máter e o crânio. Ocorre em aproximadamente 0,5% de todos os indivíduos com TCE. Tipicamente de forma biconvexa à TC. Causa mais comum: Lesão da artéria meníngea média (na região temporal ou temporoparietal). É importante lembrar que trauma na parte lateral da cabeça pode causar hematoma epidural. Se apresenta com intervalo lúdico: uma perda de consciência que se segue a um período lúdico e que rapidamente se deteriora para o coma com midríase homolateral à lesão e paresia dos membros contralaterais ao hematoma. Acontece em cerca de 60% dos pacientes Principais indicações de tratamento cirúrgico: volume ≥ 30 ml, espessura ≥ 15 mm e/ou desvio da linha média ≥ 5 mm, além de coma, déficit neurológico focal ou anisocoria. Realizar craniotomia ampla frontotemporoparietal, seguida de tratamento de lesão com remoção de hematoma e coagulação bipolar das áreas de hemorragia. Os pacientes tratados conservadoramente devem ser monitorados com ex. neurológico e tomografia seriada. Imagem de TC de hematoma epidural e localização da artéria meníngea média Hematomas Subdurais São mais comuns. Mortalidade em torno de 60%. Comumente são secundários a lesões das veias em ponte entre a dura - máter e a aracnóide. Tipicamente tem localização frontotemporoparietal e a TC mostra uma imagem que acompanha a curvatura da calota craniana, chamada de “imagem em crescente”. Risco maior em idosos e alcoólatras devido a atrofia cerebral com aumento do espaço subdural e em usuários de anticoagulantes. Um hematoma subdural costuma ser muito mais grave que um hematoma epidural. Pode cursar com alteração do nível da consciência, déficits lateralizados, anisocoria, posturas patológicas e arritmia respiratória. Atenção para síndrome da Hipertensão Intracraniana: Tríade de Cushing → hipertensão arterial, bradicardia e arritmia respiratória. Tais achados indicam HIC grave com herniação transtentorial iminente. Indicação de tratamento cirúrgico: hematoma com ≥ 10 mm de espessura ou desvio da linha média ≥ 5mm, sinais de herniação cerebral, anisocoria, deterioração neurológica. O coma não é indicação absoluta de abordagem cirúrgica (diferente do hematoma epidural). Tratamento conservador: realizar exame neurológico, monitorização da PIC e tomografias seriadas. Pacientes anticoagulados devem ter o efeito anticoagulante revertido. TC de Hematoma subdural - “Imagem crescente” Contusões e Hematomas Intracerebrais Contusões: geralmente nos lobos frontal e temporal. Em 20% dos casos podem se expandir para formar um hematoma intracerebral, o que exige intervenção cirúrgica imediata. Por isso há recomendação de se repetir a TC dentro de 12-24h. Quadro clínico semelhante ao AVE isquêmico, com déficit neurológico focal. Também pode evoluir com formação de cicatriz (fator de risco para epilepsia por TCE). Concussões Pode ocorrer perda breve de consciência (< 6 horas) e amnésia retrógrada ou anterógrada. Amnésia Anterógrada: o indivíduo se lembra perfeitamente das ocorrências a longo prazo, porém não se recorda dos acontecimentos recentes. Normalmente ocorre por traumas cerebrais. Amnésia Retrógrada: o indivíduo se recorda somente dos fatos ocorridos depois do trauma sofrido, esquecendo-se dos fatos passados. Leve: quando ocorre apenas distúrbio neurológico sem perda de consciência. Clássica: perda temporária da consciência, durante máximo de 6h. Lesão Axonal Difusa Quadro grave que se caracteriza por lesão dos axônios. Mecanismo de trauma: aceleração rotacional da cabeça. Acomete mais frequentemente as estruturas inter hemisféricas (corpo caloso) e a porção rostral do tronco encefálico. Clínica: coma > 6 horas (visa diferenciar das concussões). Deve-se solicitar a TC visando excluir formação de lesão expansiva (hematomas), hipertensão intracraniana ( o que poderia justificar o estado comatoso) e demonstrar a presença de discretos pontosde hemorragia no corpo caloso e centro semioval (presente em 50% dos casos e vista melhor na RM).. LAD Grave: estado comatoso > 24h e coexistem sinais de envolvimento do tronco encefálico, como postura de descerebração. A suspeita desse tipo de lesão aparece na ausência de sinais de aumento da PIC (como assimetria pupilar ou motora). LAD moderada: Paciente em coma >24h que não apresente sinais de decorticação ou descerebração. LAD leve: coma > 6 horas e < 24h. Déficits neurológicos e de memória podem ser encontrados. O tratamento é de suporte!!! Lesão axonal difusa Atendimento ao paciente com TCE ➨ABCDE do trauma → prevenção de lesões secundárias. Deve-se tratar sinais de choque e ventilação. Avaliação: ➨Nível da Consciência → utilizar a Escala de Coma de Glasgow de forma seriada (avaliação quantitativa). Descartar uso de drogas e álcool. Escala de Coma de Glasgow - atualizada ➨Função pupilar → simetria e reflexo fotomotor. Assimetria maior que 1mm indica acometimento cerebral. Lesões expansivas graves (hematomas), levam ao aumento da PIC e fazem com que a parte medial do lobo temporal (uncus) sofra herniação através da tenda do cerebelo e comprima o terceiro par craniano (oculomotor) no mesencéfalo, o que ocasiona midríase (e perda de resposta à luz) ipsilateral à lesão do III par (ipsilateral à lesão). Uma hérnia de uncus também pode causar déficit motor lateralizado (contralateral à lesão) devido à compressão do trato corticoespinal (primeiro neurônio motor) em sua passagem no mesencéfalo. Localização do Uncus Hérnia de Uncus ➨Déficit Motor Lateralizado → observar a presença de assimetria nos movimentos voluntários ou provocados por estímulos dolorosos. Por esse exame é possível classificar como um TCE grave quaisquer achados: ● Pupilas assimétricas ● Assimetria motora ● Fratura aberta de crânio com perda de líquor ou exposição do tecido cerebral ● Escore de Glasgow menor ou igual a oito ou queda maior que três pontos na reavaliação (independente do escore inicial). ● Fratura de crânio com afundamento Manejo do paciente vítima de TCE ➨ TCE Leve: ECG 13-15 Os pacientes estão bem, alertas e verbalizando. Realizar TC se alto nível de intervenção cirúrgica: Escala de Coma de Glasgow < 15 após 2h do acidente, suspeita de fratura de crânio aberta com afundamento, sinais de fratura de base de crânio, vômitos (> 2 episódios), uso de anticoagulantes; ou se risco moderado de intervenção cirúrgica: perda da consciência > 5min, amnésia retrógrada (> 30 minutos do trauma), mecanismo de trauma que sugere lesão grave, como ejeção de veículo, atropelamento, queda de uma altura > 0,9 m ou > 5 degraus. O paciente deve ficar em observação pelas próximas horas, sendo o ideal que não fique desacompanhado nas próximas 24h. ➨TCE Moderado: ECG 9- 12 Pacientes não estão alertas, podem apresentar sonolência, certo grau de confusão, déficit neurológico focal e obedece a comandos verbais simples. Após estabilização realizar TC. Tratar em unidade de terapia intensiva. ➨TCE Grave: ECG ≤ 8 Realizar intubação orotraqueal e acoplado à ventilação mecânica. Também deve-se monitorar a pressão intracraniana por meio de catéter. Pontos para o tratamento da HIC: ● Elevação da cabeceira do leite (30 a 45 graus); ● Manter a Pressão de Perfusão Cerebral (PPC) > 70 mmHg. A PPC é calculada pela fórmula PAM – PIC. Para obtermos uma PAM adequada, com redução da mortalidade, a pressão arterial sistólica deve ser ≥ 100 mmHg em indivíduos de 50 a 69 anos, ou ≥ 110 mmHg em pacientes de 15 a 49 anos e em idosos > 70 anos. ● Drenagem de Liquor por meio da ventriculostomia para redução do edema. Também pode-se realizar hidratação venosa em pacientes hipotensos. ● Osmoterapia com Manitol (um diurético osmoticamente ativo) para redução do edema. Pode ser feita com manitol a 20%, 1 g/kg em bolus (e depois 0,25-0,5 g/kg a cada 6-8 horas, mantendo osmolaridade sérica < 320 mOsm/L). ● Sedação (com midazolam, propofol ou opióides)→ pacientes agitados podem ter aumento da PIC. Obs: o uso de corticóides não melhora o prognóstico. Referências GREENBERG, David A.; AMINOFF, Michael J.; SIMON, Roger P. Neurologia clínica. 8. ed.Porto Alegre: AMGH, 2014. VELASCO, Irineu T; et al. Medicina de emergência: abordagem prática. 14 ed. Barueri, SP: Manole, 2020. Medcurso - Trauma
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