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VESÍCULA BILIAR Órgão em forma de saco (7 a 10 cm de comprimento) e situa-se na face visceral do fígado, na junção do lobo direito e do lobo quadrado. Armazenamento de 35 a 50 ml. A camada mucosa interna da vesícula biliar é pregueada semelhante às pregas gástricas do estômago. Sua função é armazenar a bile, líquido produzido pelo fígado que atua na digestão de gorduras no intestino. Bile: líquido verde-amarelado, composto por sais biliares, bilirrubina e colesterol, responsável pela imensa maioria da formação de cálculos (pedras). Produzida continuamente pelo fígado e drena através dos ductos hepáticos e ducto colédoco para o duodeno. Quando o intestino está vazio, o esfíncter da ampola contrai e a bile é deslocada para o interior do ducto cístico para armazenamento na vesícula biliar. PATOGÊNESE Os cálculos biliares são formados devido uma composição anormal da bile: - Cálculos de colesterol: sais de cálcio, pigmentos biliares, proteínas e ácidos graxos; - Cálculos pigmentares: bilirrubinato de cálcio. Pretos e marrons. Cálculos de colesterol e lama biliar Há maior relação colesterol/fosfolipídeos + ácidos biliares: formação de micélios instáveis, que se unem e precipitam em cristais do colesterol. Formado exclusivamente na vesícula. A doença com cálculos biliares de colesterol ocorre em função de várias alterações, que consistem em: 1. Supersaturação da bile com colesterol 2. Nucleação do monoidrato de colesterol com subsequente retenção de cristais e crescimento do cálculo 3. Função motora anormal da vesícula biliar com esvaziamento retardado e estase. Aumento do colesterol: aumento do consumo. Pode ocorrer por aumento da HMG-CoA sintetase, da captação hepática de colesterol. Nos pacientes com cálculos biliares, o colesterol da dieta aumenta a secreção biliar de colesterol. Isso não ocorre nos pacientes sem cálculos com dietas ricas em colesterol. Fator genético: 9% dos casos, por polimorfismo de nucleotídeo único do gene codificador do transportador de colesterol hepático ABCG5/G8; Hipossecreção de fosfolipídeos e ácidos biliares: transformação acelerada do ácido cólico em desoxicólico, que é rapidamente absorvido. A supersaturação de colesterol não é suficiente para a formação de cálculos: a nucleação acelerada do monohidrato de colesterol na bile pode ser causada pelo excesso de fatores pró-nucleação ou pela deficiência de fatores anti nucleação. Pró: mucinas e imunoglobulinas; Anti: APO A1 e A2, além de glicoproteínas. Hipomotilidade da vesícula biliar: anormalidade no esvaziamento da vesícula. A incidência de cálculos biliares está aumentada em condições associadas ao esvaziamento infrequente ou reduzido da vesícula biliar (inclusive jejum, nutrição parenteral ou gestação) e em usuários de fármacos inibidores da motilidade da vesícula biliar. Cálculos pigmentares Pretos: bilirrubinato de cálcio puro ou por complexos de cálcio e glicoproteínas mucinas; - Mais comum em pacientes hemolíticos (aumento da bile conjugada), cirrose hepática, Síndrome de Gilbert ou fibrose cística. - Sua patogênese depende da reciclagem entero-hepática da bilirrubina. Marrons: sais de cálcio de bilirrubina não conjugada (BI) com colesterol e proteínas. - Causados pelo aumento da quantidade insolúvel de bilirrubina na bile (BI), que precipita e forma cálculos. - É produzida pela desconjugação excessiva pela Beta-glicuronidase endógena; - Essa enzima pode ser produzida em caso de infecção bacteriana crônica FATORES DE RISCO - Gravidez - Uso de medicamentos - Fístulas biliares - Pancreatite crônica - Pacientes hemolíticos - Cirrose hepática - Diabetes mellitus - Obesidade - Hipertrigliceridemia (hiperlipoproteinemia do tipo IV): elevação sérica dos triglicerídeos e pré-beta lipoproteínas, havendo uma deficiente regulação da secreção biliar, com redução do pool de sais biliares e síntese deficiente de lecitina. O tratamento com clofibrato reduz o colesterol à custa de uma secreção biliar aumentada, agravando seu potencial litogênico. - Exclusão anatômica ou funcional do íleo terminal: diminuição do pool de sais biliares consequente à menor absorção. QUADRO CLÍNICO 80% assintomático ou oligossintomático Dor visceral: dor aguda e intensa no epigástrio ou QSD. Cólica biliar: por deslocamento ou obstrução. Dor contínua, intensa e crescente Sinal de Murphy → dor à palpação do hipocôndrio direito durante a inspiração → parada da inspiração Clínica de complicações: Sinal de Murphy, febre, acolia fecal. COLELITÍASE Os dois principais tipos de cálculos biliares são os cálculos de colesterol e os de pigmento. Os cálculos de colesterol contêm > 50% de monoidrato de colesterol. Os cálculos de pigmento possuem < 20% de colesterol e são formados principalmente por bilirrubinato de cálcio. Sinais e sintomas: assintomáticos ou (1) cólica biliar – dor constante e intensa no quadrante superior direito (QSD) do abdômen ou no epigástrio que começa bruscamente, ocorrendo com mais frequência 30 a 90 min após as refeições, durando várias horas e, por vezes, irradiando-se para a escápula direita ou costas; (2) náuseas e vômitos. O exame físico pode ser normal ou mostrar dor à palpação do epigastro ou QSD. Exames laboratoriais: elevações leves e transitórias de bilirrubina (< 85 μmol/L [< 5 mg/dL]) acompanham a cólica biliar. Exames de imagem: US Diagnóstico diferencial: doença ulcerosa péptica (DUP), refluxo gastroesofágico, síndrome do intestino irritável e hepatite. Complicações: colecistite, pancreatite e colangite. Tratamento: nos pacientes assintomáticos, o risco de surgirem complicações que tornam necessária uma cirurgia é pequeno. A colecistectomia eletiva deve ficar reservada para: (1) pacientes sintomáticos (que tenham cólica biliar apesar de seguir uma dieta pobre em gorduras); (2) pessoas com complicações prévias de colelitíase; e (3) as que apresentam condição subjacente que predisponha a maior risco de complicações (vesícula biliar calcificada ou em porcelana). Os pacientes com cálculos biliares > 3 cm ou com vesícula anômala contendo cálculos também devem ser considerados para cirurgia. A colecistectomia videolaparoscópica é minimamente invasiva e constitui o procedimento de escolha para a maioria dos pacientes que serão submetidos à colecistectomia eletiva. Os agentes orais (ácido ursodesoxicólico) dissolvem parcial ou completamente os pequenos cálculos radiotransparentes em 50% dos pacientes selecionados, em 6 a 24 meses. Pela frequência da recidiva dos cálculos e eficácia da cirurgia laparoscópica, o papel da terapia de dissolução oral ficou grandemente restrito a pacientes não candidatos à colecistectomia eletiva. COLECISTITE AGUDA A inflamação aguda da vesícula biliar costuma ser causada por obstrução do ducto cístico por um cálculo impactado. A resposta inflamatória é provocada por: (1) inflamação mecânica por aumento da pressão intraluminal; (2) inflamação química devida à liberação de lisolecitina; (3) inflamação bacteriana, que desempenha um papel importante em 50 a 85% dos pacientes com colecistite aguda. Etiologia: litiásica em cerca de 90% dos casos e alitiásica nos outros 10%. A colecistite alitiásica está associada a uma taxa de complicações mais alta assim como a uma enfermidade aguda (queimaduras, traumatismos, grande cirurgia), jejum, hiperalimentação que induz à estase vesicular, vasculite, carcinoma de vesícula biliar ou de colédoco, algumas infecções vesiculares (Leptospira, Streptococcus, Salmonella ou Vibrio cholerae), apesar de em > 50% dos casos não se encontrar explicação subjacente. Sinais e sintomas: (1) Cólica biliar (dor no QSD ou epigástrica) que piora progressivamente; (2) náuseas, vômitos, anorexia; e (3) febre. O exame em geral revela dor à palpação do QSD; massa palpável no QSD é encontrada em 20% dos pacientes. O sinal de Murphy está presente quando a inspiração profunda ou tosse durante a palpação do QSD produzem dor ou parada inspiratória. Exames laboratoriais: leve leucocitose; os níveis séricos de bilirrubina, fosfatase alcalina e aspartato aminotransferase (AST)podem estar ligeiramente elevados. Exames de imagem: US. Cintilografias com radionuclídeos (HIDA, DIDA, DISIDA) podem identificar uma obstrução do ducto cístico. Diagnóstico diferencial: pancreatite aguda, apendicite, pielonefrite, DUP, hepatite e abscesso hepático. Complicações: empiema, hidropsia, gangrena, perfuração, fistulização, íleo biliar e vesícula em porcelana. Tratamento: jejum, aspiração nasogástrica, fluidos e eletrólitos IV, analgesia (meperidina ou AINEs) e antibióticos (ureidopenicilinas, ampicilina sulbactam, ciprofloxacino, cefalosporinas de terceira geração; a cobertura anaeróbia deve ser acrescentada quando se suspeita de colecistite gangrenosa ou enfisematosa; imipenem/meropenem cobrem o espectro das bactérias que causam colangite ascendente, mas devem ficar reservados às infecções mais ameaçadoras quando outros antibióticos falharem). Os sintomas agudos desaparecerão em 70% dos pacientes. O momento ideal para a cirurgia depende da estabilização do paciente, e a intervenção deve ser realizada logo que for possível. A colecistectomia urgente é apropriada na maioria dos pacientes com suspeita ou confirmação de complicação. Retardar a cirurgia fica reservado aos pacientes com alto risco de cirurgia de emergência e quando existe dúvida acerca do diagnóstico. Estabilização: antibióticos e analgésicos → depois cirurgia Se não acontece estabilização: cirurgia de emergência. COLECISTITE CRÔNICA Inflamação crônica da vesícula biliar; associada quase sempre a cálculos biliares. Resulta de colecistites aguda/subaguda repetidas ou da irritação mecânica prolongada da parede vesicular. Sinais e sintomas: pode ser assintomática por vários anos, progredir para doença vesicular sintomática ou para colecistite aguda, ou manifestar-se com complicações. Exames de imagem: US, mostra cálculos biliares em uma vesícula biliar contraída. Diagnóstico diferencial: DUP, esofagite, síndrome do intestino irritável. Tratamento: cirurgia é indicada quando o paciente se mostra sintomático. COLEDOCOLITÍASE/COLANGITE Nos pacientes com colelitíase, a passagem dos cálculos para o colédoco ocorre em 10 a 15% dos casos e isso aumenta com a idade. Por ocasião da colecistectomia, cálculos não identificados são deixados em 1 a 5% dos pacientes. Sinais e sintomas: pode manifestar-se como um achado incidental, cólica biliar, icterícia obstrutiva, colangite ou pancreatite. A colangite manifesta-se habitualmente como febre, dor no QSD e icterícia (tríade de Charcot). Síndromes colestáticas: fezes claras, urina escura, icterícia obstrutiva. Exames laboratoriais: elevações nos níveis séricos de bilirrubina, fosfatase alcalina e aminotransferases. Leucocitose costuma acompanhar a colangite; com frequência, as culturas de sangue são positivas. A amilase mostra-se elevada em 15% dos casos. Exames de imagem: colangiografia, seja no pré-operatório por colangiopancreatografia endoscópica retrógrada, seja no intraoperatório por ocasião da colecistectomia. A ultrassonografia pode revelar ductos biliares dilatados, porém não é sensível para identificar os cálculos coledocianos. Diagnóstico diferencial: colecistite aguda, cólica renal, perfuração de vísceras ocas e pancreatite. Complicações: colangite, icterícia obstrutiva, pancreatite biliar e cirrose biliar secundária. Tratamento: colecistectomia laparoscópica e a colangiopancreatografia endoscópica retrógrada reduziram a necessidade de realizar a coledocolitotomia e a drenagem por tubo em T dos ductos biliares. Quando se suspeita de cálculos coledocianos antes da colecistectomia laparoscópica, a colangiopancreatografia endoscópica retrógrada pré-operatória com papilotomia endoscópica e extração dos cálculos é a abordagem preferida. Deve-se suspeitar de cálculos no colédoco em pacientes com cálculos biliares e (1) história de icterícia ou pancreatite, (2) provas de função hepática (PFH) anormais e (3) evidência ultrassonográfica de um colédoco dilatado ou cálculos no ducto. A colangite deve ser tratada como a colecistite aguda; suspensão da ingesta oral, hidratação, analgesia e antibióticos representam a base do tratamento; os cálculos devem ser removidos cirúrgica ou endoscópicamente.
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