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Anatomia do aparelho biliar Ductos A bile produzida pelo fígado é coletada por um sistema de canalículos que drenam para os ductos hepáticos direito e esquerdo. Os dois ductos hepáticos emergem através da porta do fígado e logo se unem para formar o ducto hepático comum. Conforme esse ducto desce na margem livre do omento menor, ele é unido a partir da direita pelo ducto cístico para formar o ducto colédoco. Inicialmente, o ducto colédoco encontra margem livre do omento menor, à direita da artéria hepática e à frente da veia porta. Depois, passa atrás da primeira parte do duodeno com a artéria gastroduodenal e se curva para a direita atrás da cabeça do pâncreas, algumas vezes sulcando a glândula. O ducto colédoco perfura a parede da porção descendente do duodeno em companhia do ducto pancreático principal. Uma impact pedras dentro do ducto colédoco pode dar origem à icterícia e à cólica biliar, uma dor intermitente no epigástrio. Vesícula biliar Este é um órgão oco, em forma de pera, no qual a bile do fígado é concentrada e armazenada. Posiciona contra a superfície do fígado, muitas vezes parcialmente enterrada na sua substância, e com frequência se projeta além da margem inferior para terminar cegamente em um fundo arredondado. O fundo, normalmente, faz contato com a parede abdominal anterior onde a margem lateral (linha semilunar) do músculo reto do abdome direito cruza a margem costal. O corpo da vesícula biliar é a sua parte mais larga e se estreita superiormente no colo, que continua como o ducto cístico. Este ducto, através do qual a bile entra e sai, corre para cima em direção à porta do fígado e depois se vira para baixo para o ducto hepático. A face inferior da vesícula biliar é coberta pelo peritônio contínuo que envolve o fígado O corpo geralmente está relacionado com a parte proximal do duodeno e o fundo muitas vezes faz contato com o colo transverso. Inflamações associadas aos cálculos biliares podem evoluir para Cálculos biliares Anatomia do aparelho biliar coletada por um sistema de canalículos que drenam para os ductos hepáticos direito e esquerdo. Os dois ductos hepáticos emergem através da porta do fígado e logo se unem para formar o ducto hepático comum. Conforme esse ducto desce na margem livre do o menor, ele é unido a partir da direita pelo ducto cístico para formar o ducto colédoco. ducto colédoco encontra-se na margem livre do omento menor, à direita da artéria . Depois, passa atrás rte do duodeno com a artéria gastroduodenal e se curva para a direita atrás da cabeça do pâncreas, algumas vezes sulcando a ducto colédoco perfura a parede da porção descendente do duodeno em companhia do . Uma impactação por pedras dentro do ducto colédoco pode dar origem à icterícia e à cólica biliar, uma dor intermitente no órgão oco, em forma de pera, no qual a bile Posiciona-se perfície do fígado, muitas vezes parcialmente enterrada na sua substância, e com frequência se projeta além da margem inferior para terminar cegamente em um fundo arredondado. O fundo, normalmente, faz contato com a parede lateral (linha semilunar) do músculo reto do abdome direito cruza a O corpo da vesícula biliar é a sua parte mais larga e se estreita superiormente no colo, que Este ducto, através do orre para cima em direção à porta do fígado e depois se vira para baixo para o face inferior da vesícula biliar é coberta pelo peritônio contínuo que envolve o fígado. O corpo geralmente está relacionado com a parte o fundo muitas vezes faz Inflamações associadas aos cálculos biliares podem evoluir para ulceração, permitindo que as pedras passem da vesícula para duodeno ou colo. O suprimento arterial para a vesícula biliar é forn pela artéria cística, que geralmente brota a partir do ulceração, permitindo que as pedras passem da O suprimento arterial para a vesícula biliar é fornecido pela artéria cística, que geralmente brota a partir do Ana Carolina Thomaz Mendes ramo direito da artéria hepática, embora sua origem seja variável. A veia cística, normalmente, drena para a veia porta ou seu ramo direito. Vasos sanguíneos hepáticos O sangue é transportado para o fígado pela artéria hepática e pela veia porta, ambas as quais entram através da porta do fígado. O sangue é drenado pelas veias hepáticas embutidas no órgão, que entram imediatamente na face anterior da veia cava inferior abaixo do diafragma. A artéria hepática comum, um ramo do tronco celíaco, corre retroperitonealmente para baixo e para a direita até a margem superior da primeira parte do duodeno. Aqui, a artéria hepática comum dá origem às artérias gástrica e gastroduodenal direita e continua como a artéria hepática própria. A artéria gástrica direita surge acima da primeira parte do duodeno e corre para a esquerda dentro do omento menor, irrigando a curvatura menor do estômago. A artéria gastroduodenal maior desce atrás da primeira parte do duodeno ao longo do ducto biliar. Seus ramos terminais são a artéria pancreatoduodenal superior e a artéria gastro- omental direita. A artéria hepática própria ascende no limite livre do omento menor, à esquerda do ducto biliar e anterior à veia porta. Perto da porta do fígado, divide-se em ramos direito e esquerdo para entrar no fígado com os ramos correspondentes da veia porta. Os ramos esquerdos da artéria e da veia são distribuídos para o quadrante esquerdo e a maior parte do lobo caudado. Os ramos direitos irrigam o restante do fígado. A artéria hepática própria também irriga a vesícula biliar através da artéria cística. Dentro do fígado há vários segmentos, cada um com sua própria fonte arterial. Durante uma cirurgia hepática e da vesícula biliar, a artéria hepática própria pode ser comprimida, dentro do limite do omento menor, para conter o sangramento. Secreção e composição da bile A bile formada nos lóbulos hepáticos é secretada para dentro de uma complexa rede de canalículos, pequenos dúctulos biliares e ductos biliares maiores que se estendem juntamente com os vasos linfáticos e os ramos da veia porta e da artéria hepática nos tratos portais localizados entre os lóbulos hepáticos. Esses ductos biliares interlobulares reúnem-se para formar ductos biliares septais maiores, que se unem para formar os ductos hepáticos direito e esquerdo que, por sua vez, reúnem-se e formam o ducto hepático comum. Este último é alcançado pelo ducto cístico da vesícula biliar, para formar o ducto colédoco (DC [ducto biliar comum]) que penetra no duodeno (na maioria das vezes, depois de unir-se ao ducto pancreático principal) pela ampola de Vater. A bile hepática é um líquido isotônico com composição eletrolítica semelhante à do plasma. A composição eletrolítica da bile vesicular difere da bile hepática, pois a maioria dos ânions inorgânicos (cloreto e bicarbonato) já foi removida pela reabsorção por meio do epitélio da vesícula. Como resultado da reabsorção da água, a concentração total de solutos na bile aumenta de 3 a 4 g/dL na bile hepática para 10 a 15 g/dL na bile da vesícula. Os principais solutos da bile (em moles percentuais), consistem em ácidos biliares (80%), lecitina e traços de outros fosfolipídeos (16%), além de colesterol não esterificado (4%). No estado litogênico, o nível do colesterol pode alcançar níveis de até 8-10%. Outros componentes são bilirrubina conjugada, proteínas (todas as imunoglobulinas, albumina, metabólitos de hormônios e outras proteínas metabolizadas no fígado), eletrólitos, muco e, com frequência, fármacos e seus metabólitos. Ana Carolina Thomaz Mendes A secreção basal diária total de bile hepática é de cerca de 500 a 600 mL. Muitas substâncias captadas ou sintetizadas pelos hepatócitos são secretadas nos canalículos biliares. A membrana canalicularforma microvilosidades e está associada a microfilamentos de actina, microtúbulos e outros elementos contráteis. Antes de sua secreção para dentro da bile, muitas substâncias são captadas e penetram no hepatócito, enquanto outras (fosfolipídeos, parte dos ácidos biliares primários e do colesterol) são sintetizadas de novo no hepatócito. Três mecanismos são importantes para a regulação do fluxo da bile: transporte ativo dos ácidos biliares dos hepatócitos para dentro dos canalículos biliares, transporte ativo de outros ânions orgânicos e secreção colangiocelular. Este último processo é um mecanismo mediado pela secretina e depende do AMP cíclico, resultando na secreção de líquido rico em sódio e bicarbonato lançado nos ductos biliares. A secreção vetorial ativa dos componentes biliares do sangue portal para o interior dos canalículos é acionada por um conjunto de sistemas de transporte polarizados ao nível dos domínios das membranas plasmáticas basolateral (sinusoidal) e apical canalicular do hepatócito. Dois sistemas de captação dos sais biliares sinusoidais foram clonados nos seres humanos: cotransportador de Na+/taurocolato (NTCP, SLC10A1) e proteínas transportadoras de ânions orgânicos (OATPs), que transportam também grande variedade de ânions orgânicos diferentes dos sais biliares. Foram identificados diversos sistemas de transporte canaliculares dependentes de ATP, as denominadas “bombas de exportação” (proteínas de transporte de cassetes de ligação de ATP, também conhecidas como transportadores ABC), das quais as mais importantes são a bomba de exportação de sais biliares (BSEP, ABCB11); a bomba de exportação de conjugados aniônicos (MRP2, ABCC2), que é responsável pela excreção canalicular de vários conjugados anfifílicos formados pela conjugação da fase II (monoglicuronídeo e diglicuronídeo de bilirrubina e fármacos); bomba de exportação de múltiplos fármacos (MDR1, ABCB1) para compostos catiônicos hidrofóbicos; e bomba de exportação de fosfolipídeos (MDR3, ABCB4). Dois hemitransportadores ABCG5/G8, funcionando como uma dupla, constituem o transportador canalicular de colesterol e fitosteróis. O F1C1 (ATP8B1) é uma aminofosfolipídeo-transferase (“flipase”) essencial para a manutenção da assimetria lipídica da membrana canalicular. A membrana canalicular também tem sistemas de transporte independentes de ATP, como a isoforma 2 trocadora de ânions Cl/HCO3 (AE2, SLC4A2) para secreção canalicular de bicarbonato. Para a maioria desses transportadores, foram identificadas anomalias genéticas associadas a várias formas de colestase ou anormalidades da excreção biliar. A F1C1 está deficiente na colestase intra-hepática familiar progressiva tipo 1 (CIFP1) e na colestase intra-hepática recorrente benigna tipo 1 (CIRB1) e resulta em supressão de todas as outras funções transportadoras dependentes de ATP. A BSEP está deficiente na CIFP2 e na CIRB2. As mutações da MRP2 (ABCC2) causam a síndrome de Dubin-Johnson, um tipo hereditário de hiperbilirrubinemia conjugada. Uma anormalidade da MDR3 (ABCB4) causa CIFP3. Os ABCG5/G8 (hemitransportadores canaliculares de colesterol e outros esteróis neutros) estão anormais na sitosterolemia. O regulador da condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR, ABCC7), localizado nas células epiteliais dos ductos biliares, porém não nas membranas canaliculares, está alterado na fibrose cística, que está associada à anormalidade da regulação do pH colangiocelular durante a formação da bile ductular e à doença hepática colestática crônica, resultando ocasionalmente em cirrose biliar. Ácidos biliares Os ácidos biliares primários – ácido cólico e ácido quenodesoxicólico (AQDC) – são sintetizados a partir do colesterol no fígado, conjugados com glicina ou taurina e secretados na bile. Os ácidos biliares secundários – desoxicolato e litocolato – são formados no cólon como metabólitos bacterianos dos ácidos biliares primários. No entanto, o ácido litocólico é absorvido com muito menos eficiência no cólon que o ácido desoxicólico. Outro ácido biliar secundário, encontrado em baixas concentrações, é o ácido ursodesoxicólico (AUDC), um estereoisômero de AQDC. Nos indivíduos sadios, a relação entre os conjugados de glicina e taurina na bile é de cerca de 3:1. Os ácidos biliares são moléculas semelhantes a detergentes que, em solução aquosa e acima da concentração crítica em torno de 2 mM, formam Ana Carolina Thomaz Mendes agregados moleculares denominados micélios. O colesterol isoladamente é muito pouco solúvel nos ambientes aquosos e sua solubilidade na bile depende tanto da concentração lipídica total quanto dos percentuais molares relativos de ácidos biliares e de lecitina. As relações normais entre esses componentes favorecem a formação dos micélios mistos, que promovem a solubilização, enquanto as relações anormais facilitam a precipitação dos cristais de colesterol na bile por meio de uma fase intermediária de cristais líquidos. Além de facilitar a excreção biliar de colesterol, os ácidos biliares facilitam a absorção intestinal normal das gorduras da dieta, principalmente colesterol e vitaminas lipossolúveis, mediante um mecanismo de transporte micelar. Os ácidos biliares também atuam como estímulo fisiológico importante para o fluxo de bile hepática e ajudam no transporte de água e eletrólitos no intestino delgado e no cólon. Circulação êntero-hepática Em condições normais, há conservação eficiente de ácidos biliares. Os ácidos biliares não conjugados e, em menor grau, também os ácidos conjugados são absorvidos por difusão passiva ao longo de todo o trato gastrintestinal. Porém, para a recirculação dos sais biliares, é quantitativamente mais importante o mecanismo de transporte ativo dos ácidos biliares conjugados no íleo distal. Os ácidos biliares reabsorvidos entram na corrente sanguínea portal e são captados rapidamente pelos hepatócitos, são reconjugados e ressecretados na bile (circulação êntero-hepática). O pool normal de ácidos biliares tem cerca de 2 a 4 g. Durante a digestão de uma refeição, o pool de ácidos biliares passa por no mínimo um ciclo êntero- hepático, dependendo do tamanho e da composição da refeição. Em geral, o pool de ácidos biliares circula cerca de 5 a 10 vezes diariamente. A reabsorção intestinal desse reservatório tem eficiência aproximada de 95%; portanto, a perda fecal dos ácidos biliares oscila na faixa de 0,2 a 0,4 g/dia. Em condições de equilíbrio, essa perda fecal é compensada pela síntese diária igual de ácidos biliares por parte do fígado e, assim, o volume do reservatório de ácidos biliares é preservado. No intestino, os ácidos biliares liberam o fator de crescimento dos fibroblastos 19 (FGF19) na circulação, que é transportado para o fígado onde suprime a síntese de ácidos biliares a partir do colesterol pela inibição da enzima taxa-limitante citocromo P450 7A1 (CYP7A1) e também promove o relaxamento da vesícula biliar. Enquanto a perda de sais biliares nas fezes é compensada habitualmente pelo aumento da síntese hepática, a taxa máxima de síntese é de cerca de 5 g/dia; isto pode ser insuficiente para recompor o volume do reservatório de ácidos biliares quando existe diminuição pronunciada da reabsorção intestinal de sais biliares. A expressão dos transportadores ABC na circulação êntero-hepática e das enzimas taxa-limitantes da síntese de ácidos biliares e colesterol é regulada de maneira coordenada pelos receptores nucleares, que são fatores de transcrição ativados por ligantes. A BSEP hepática (ABCB11) é suprarregulada pelo receptor X farnesoide (FXR), um sensor de ácidos biliares que também reprime a síntese de ácidos biliares. A expressão do transportador de colesterol ABCG5/G8 é suprarregulada pelo receptorX hepático (LXR), que é um sensor de oxisterol. Funções da vesícula e dos esfincteres biliares No estado de jejum, o esfincter de Oddi (EO) constitui uma zona de alta pressão de resistência ao fluxo de bile do ducto colédoco para dentro do duodeno. Essa contração tônica serve para evitar o fluxo do conteúdo duodenal para dentro dos ductos pancreáticos e biliares e promover o enchimento da vesícula biliar. O principal fator que controla o esvaziamento da vesícula biliar é o hormônio peptídico colecistocinina (CCK), que é liberado pela mucosa duodenal em resposta à ingestão de gorduras e aminoácidos. A CCK causa os seguintes efeitos: contração vigorosa da vesícula biliar, redução da resistência do EO e ampliação do fluxo do conteúdo biliar para dentro do duodeno. A bile hepática é “concentrada” dentro da vesícula biliar pela absorção transmucosa de água e eletrólitos graças a um mecanismo que depende de energia. Quase todo o reservatório de ácidos biliares pode ficar sequestrado na vesícula depois de um jejum noturno, para ser lançado no duodeno com a primeira refeição do dia. A capacidade normal da vesícula biliar é de cerca de 30 mL de bile. Ana Carolina Thomaz Mendes Doenças da vesícula biliar CÁLCULOS BILIARES Epidemiologia e patogênese: Os cálculos biliares são muito prevalentes na maioria dos países ocidentais. A formação de cálculos biliares aumenta depois da idade de 50 anos. Nos Estados Unidos, a terceira etapa do NHANES (National Health and Nutrition Examination Survey) revelou prevalência global de cálculos biliares de 7,9% nos homens e de 16,6% nas mulheres. A prevalência é alta nos mexicano- americanos (8,9% dos homens e 26,7% das mulheres), intermediária nos brancos não hispânicos (8,6% dos homens e 16,6% das mulheres) e baixa em negros (5,3% dos homens e 13,9% das mulheres). Os cálculos biliares são formados em razão da composição anormal da bile. Existem dois tipos principais: cálculos de colesterol e cálculos pigmentares. Os cálculos de colesterol representam > 90% de todos os cálculos biliares detectados nos países ocidentais. Os cálculos de colesterol geralmente contém > 50% de monofosfato de colesterol acrescidos de uma mistura de sais de cálcio, pigmentos biliares, proteínas e ácidos graxos. Os cálculos pigmentares são constituídos principalmente de bilirrubinato de cálcio; contém < 20% de colesterol e são classificados em tipos “pretos” e “marrons”, sendo os últimos formados em razão de infecção biliar crônica. Cálculos de colesterol e lama biliar: O colesterol é praticamente insolúvel na água e depende de sua dispersão aquosa dentro de micélios ou vesículas, os quais necessitam da presença de um segundo lipídio para solubilizar o colesterol. O colesterol e os fosfolipídios são secretados e lançados na bile como vesículas delimitadas por bicamadas unilamelares que são transformadas em micélios mistos formados por ácidos biliares, fosfolipídios e colesterol por ação dos ácidos biliares. Quando há excesso de colesterol em relação aos fosfolipídios e ácidos biliares, observa-se a persistência de vesículas instáveis ricas em colesterol, que se agregam em grandes vesículas multilamelares a partir das quais ocorre a precipitação dos cristais do colesterol. Existem vários mecanismos importantes para a formação de bile litogênica (formadora de cálculos). O mais importante é a secreção biliar aumentada de colesterol. Isso pode estar associado à obesidade, à síndrome metabólica, a dietas com alto conteúdo calórico e ricas em colesterol ou a fármacos (clofibrato), e pode resultar do aumento de atividade da hidroximetilglutaril-coenzima A (HMG-CoA, a enzima taxa-limitante da síntese hepática de colesterol) e da captação hepática aumentada de colesterol a partir do sangue. Nos pacientes com cálculos biliares, o colesterol da dieta aumenta a secreção biliar de colesterol. Isso não ocorre nos pacientes sem cálculos com dietas ricas em colesterol. Além dos fatores ambientais como as dietas com alto conteúdo calórico e ricas em colesterol, os fatores genéticos desempenham um papel importante na doença calculosa biliar. Os autores encontraram polimorfismo de nucleotídeo único do gene codificador do transportador de colesterol hepático ABCG5/G8 em 21% dos pacientes com cálculos biliares, porém em apenas 9% da população geral. Acredita-se que esse polimorfismo produza ativação funcional do transportador de colesterol e contribua para a hipersecreção de colesterol. A prevalência dos cálculos biliares é mais alta entre parentes de primeiro grau de portadores de cálculos biliares, assim como em certas populações étnicas como índios norte-americanos, índios chilenos Ana Carolina Thomaz Mendes e chileno-hispânicos. Um traço genético comum foi identificado em algumas dessas populações pela análise do DNA mitocondrial. Em alguns pacientes, a transformação hepática prejudicada do colesterol em ácidos biliares também pode ocorrer, resultando no aumento da relação colesterol litogênico/ácidos biliares. A maioria dos cálculos de colesterol tem base poligênica, porém existem raras causas monogênicas (mendelianas). Recentemente, foi descrita uma mutação do gene CYP7A1 que resulta em deficiência da enzima colesterol-7-hidroxilase, catalizadora da etapa inicial da quebra do colesterol e da síntese dos ácidos biliares. O estado homozigótico está associado à hipercolesterolemia e aos cálculos biliares. Como o fenótipo é expresso no estado heterozigótico, as mutações do gene CYP7A1 podem contribuir para a suscetibilidade à doença caracterizada por cálculos biliares de colesterol na população. As mutações do gene MDR3 (ABCB4), codificador da bomba de exportação dos fosfolipídios na membrana canalicular do hepatócito, podem causar alteração na secreção dos fosfolipídios na bile, resultando em supersaturação de colesterol biliar e formação de cálculos biliares de colesterol na vesícula e nos ductos biliares. Assim, o excesso de colesterol biliar em relação aos ácidos biliares e fosfolipídios é devido principalmente à hipersecreção de colesterol, porém a hipossecreção de ácidos biliares ou fosfolipídios também pode contribuir. Outro distúrbio metabólico dos ácidos biliares que provavelmente colabora para a supersaturação da bile com colesterol é a transformação acelerada do ácido cólico em ácido desoxicólico, com substituição do pool de ácido cólico por um pool ampliado de ácido desoxicólico. Isso pode resultar da desidroxilação ampliada do ácido cólico e da maior absorção do ácido desoxicólico recém- formado. A secreção aumentada de desoxicolato está associada à hipersecreção de colesterol na bile. Embora a supersaturação da bile com colesterol seja um importante pré-requisito para a formação de cálculos biliares, em geral isso por si só é insuficiente para causar precipitação do colesterol in vivo. A maioria dos indivíduos com bile supersaturada não desenvolve cálculos, porque o tempo necessário para que os cristais de colesterol possam sofrer nucleação e crescer é maior que o período durante o qual a bile permanece na vesícula biliar. Um mecanismo importante é a nucleação dos cristais de monoidrato de colesterol, que está muito acelerada na bile litogênica humana. A nucleação acelerada do monoidrato de colesterol na bile pode ser causada pelo excesso de fatores pró-nucleação ou pela deficiência de fatores antinucleação. A mucina e certas glicoproteínas não mucina, principalmente as imunoglobulinas, parecem ser fatores pró-nucleação, enquanto as apolipoproteínas A-I e A-II, assim como outras glicoproteínas, parecem ser fatores antinucleação. É possível que partículas pigmentares sejam importantes como fatores de nucleação. Em uma análise genômica ampla dos níveis séricos de bilirrubina, a variantegenética da síndrome de Gilbert uridina-difosfato-glicuroniltransferase 1A1 (UGT1A1) foi associada à presença de doença da vesícula biliar. Como a maioria dos cálculos biliares associados à variante UGT1A1 era de cálculos de colesterol, essa observação aponta para o papel de partículas pigmentares na patogênese de cálculos da vesícula biliar. A nucleação dos cristais de monoidrato de colesterol e o crescimento dos cristais ocorrem provavelmente dentro da camada de gel de mucina. A fusão das vesículas forma cristais líquidos que sofrem nucleação e transformam-se em cristais sólidos de monoidrato de colesterol. O crescimento contínuo dos cristais ocorre por nucleação direta das moléculas de colesterol a partir das vesículas uni ou multilamelares de bile supersaturada. Um terceiro mecanismo importante para a formação dos cálculos biliares de colesterol é a hipomotilidade da vesícula biliar. Quando a vesícula esvazia-se completamente da bile supersaturada ou que contém cristais, não pode haver desenvolvimento de cálculos. Um percentual alto dos pacientes com cálculos biliares tem anormalidades do esvaziamento da vesícula. Exames de US mostram que pacientes com cálculos biliares apresentam aumento do volume da vesícula durante o jejum também após uma refeição- teste (volume residual), e que o esvaziamento percentual depois da estimulação da vesícula diminui. A incidência de cálculos biliares está aumentada em condições associadas ao esvaziamento infrequente ou reduzido da vesícula biliar (inclusive jejum, nutrição parenteral ou gestação) e em usuários de fármacos inibidores da motilidade da vesícula biliar. Ana Carolina Thomaz Mendes Lama biliar é um material mucoso espesso que, ao exame microscópico, revela cristais líquidos de lecitina-colesterol, cristais de monoidrato de colesterol, bilirrubinato de cálcio e géis de mucina. A lama biliar forma uma camada semelhante a um crescente na porção mais baixa da vesícula biliar, sendo reconhecida por ecos característicos à US. A presença de lama biliar sugere duas anormalidades: distúrbio do equilíbrio normal entre secreção de mucina pela vesícula biliar e sua eliminação, e nucleação dos solutos biliares. Várias observações evidenciaram que a lama biliar pode ser uma forma precursora de doença calculosa. Deve ser enfatizado que a lama biliar pode formar-se nas condições que causam hipomotilidade de vesícula, isto é, intervenção cirúrgica, queimaduras, nutrição parenteral total, gravidez e anticoncepcionais orais – todas associadas à formação de cálculos biliares. Contudo, a presença de lama biliar indica supersaturação da bile com colesterol ou bilirrubinato de cálcio. Outras duas condições estão associadas à formação de cálculos de colesterol ou lama biliar: gravidez e redução rápida do peso mediante dieta com teor calórico muito baixo. Durante a gravidez, parecem ocorrer duas alterações fundamentais que contribuem para o “estado colelitogênico”: aumento acentuado da saturação de colesterol da bile durante o terceiro trimestre e contração lenta da vesícula em resposta a uma refeição padronizada, resultando em menos esvaziamento da vesícula biliar. Vários estudos confirmaram que essas alterações estão relacionadas com a gravidez em si e mostraram reversão dessas anormalidades rapidamente depois do parto. Embora seja comum na gravidez, a lama biliar geralmente é assintomática e regride espontaneamente depois do parto. Os cálculos biliares, que são menos comuns que a lama e frequentemente estão associados à cólica biliar, também podem desaparecer após o parto, devido à dissolução espontânea relacionada com o fato de a bile deixar de ser saturada com colesterol no período pós-parto. Cerca de 10 a 20% das pessoas que apresentam perda rápida do peso corporal resultante de dieta de muito baixa caloria desenvolvem cálculos biliares. Em um estudo envolvendo 600 pacientes que completaram uma dieta com 520 kcal/dia durante um período de 3 meses, o AUDC na dose de 600 mg/dia revelou-se altamente eficaz para profilaxia da formação de cálculos biliares; os cálculos desenvolveram-se em apenas 3% dos que tinham recebido AUDC, em comparação com os 28% dos pacientes que usaram placebo. Nos pacientes obesos tratados com banda gástrica elástica, a dose de 500 mg/dia de AUDC diminuiu o risco de formação de cálculos biliares de 30 para 8% no acompanhamento de 6 meses. Em resumo, a doença causada por cálculos de colesterol ocorre em função de várias alterações, inclusive supersaturação da bile com colesterol; nucleação do monoidrato de colesterol com subsequente retenção de cristais e crescimento do cálculo; e função motora anormal da vesícula biliar com esvaziamento retardado e estase. Cálculos pigmentares: Os cálculos pigmentares pretos são compostos por bilirrubinato de cálcio puro ou por complexos semelhantes a polímeros com cálcio e glicoproteínas mucinas. Esses cálculos são mais comuns nos pacientes com estados hemolíticos crônicos (com aumento da bilirrubina conjugada na bile), cirrose hepática, síndrome de Gilbert ou fibrose cística. Os cálculos biliares dos pacientes com doenças ileais, ressecção ileal ou bypass ileal geralmente são cálculos pigmentares pretos. A reciclagem êntero- hepática da bilirrubina nas doenças ileais contribui para sua patogênese. Os cálculos pigmentares marrons são compostos por sais de cálcio de bilirrubina não conjugada com quantidades variáveis de colesterol e proteínas. Esses cálculos são causados pelas quantidades aumentadas de bilirrubina não conjugada insolúvel na bile, que se precipita e forma cálculos. A desconjugação do excesso de monoglicuronídeo e diglicuronídeo de bilirrubina solúveis pode ser mediada pela β-glicuronidase endógena, embora possa ocorrer também por hidrólise espontânea. Às vezes, a enzima é produzida também quando a bile é infectada cronicamente por bactérias, caso em que esses cálculos são marrons. A formação dos cálculos pigmentares é frequente na Ásia e costuma estar associada às infecções da vesícula e árvore biliar. Ana Carolina Thomaz Mendes Diagnóstico: A US da vesícula biliar é muito confiável para detectar colelitíase e substituiu a colecistografia oral. Cálculos de apenas 1,5 mm de diâmetro podem ser identificados de forma confiável, desde que sejam utilizados critérios rígidos (“sombreado” acústico de opacidades que estão dentro do lúmen vesicular e que se modificam com a posição do paciente [pela gravidade]). Nos principais centros médicos, os percentuais de resultados falso-negativos e falso- positivos na US dos pacientes com colelitíase oscila de 2 a 4%. A lama biliar é representada por um material de baixa atividade ecogênica, que forma uma camada na posição mais baixa da vesícula biliar. Essa camada desloca-se com as mudanças posturais, porém não produz sombreado acústico; essas duas características distinguem a lama dos cálculos biliares. A US também pode ser usada para determinar a função de esvaziamento da vesícula biliar. A radiografia simples do abdome pode detectar cálculos biliares contendo quantidades de cálcio suficientes para se tornarem radiopacos (10 a 15% dos cálculos de colesterol e cerca de 50% dos cálculos pigmentares). Também pode ser usada para fazer o diagnóstico de colecistite enfisematosa, vesícula em porcelana, bile calcificada e íleo biliar. Os radiofármacos como os ácidos iminodiacéticos com substituição de N e marcados com 99mTc (HIDA, DIDA, DISIDA, etc.) são extraídos rapidamente do sangue e excretados na árvore biliar em altas concentrações, mesmo na presença de elevações séricas leves a moderadas de bilirrubina. A impossibilidade de demonstrar a vesícula biliar apesar da evidência dos ductos biliares pode indicar obstrução do ducto cístico,colecistite aguda ou crônica, ou ressecção cirúrgica do órgão. Esses exames têm alguma utilidade no diagnóstico de colecistite aguda. Sintomas de doença biliar: Os cálculos biliares geralmente causam sintomas porque provocam inflamação ou obstrução após migrarem para dentro do ducto cístico ou do ducto colédoco. O sintoma mais específico e característico da colelitíase é cólica biliar – dor constante e, na maioria das vezes, duradoura. A obstrução do ducto cístico ou do ducto colédoco por um cálculo causa elevação da pressão intraluminal e distensão da víscera, que não podem ser aliviadas por contrações biliares repetitivas. Nos casos típicos, a dor visceral resultante é uma sensação contínua de plenitude ou dor intensa no epigástrio ou quadrante superior direito do abdome, frequentemente com irradiação para a área interescapular, escápula direita ou ombro. A cólica biliar surge repentinamente e pode persistir com alta intensidade por 30 minutos a 5 horas e, em geral, regride de forma lenta ou gradativa. A dor é muito mais constante que intermitente, como poderia sugerir a palavra cólica, que deve ser considerada uma Ana Carolina Thomaz Mendes designação incorreta, apesar de sua ampla utilização. Um episódio de dor biliar que persiste por mais de 5 horas deve levantar a suspeita de colecistite aguda. Náusea e vômitos acompanham com frequência os episódios de dor biliar. Nível elevado de bilirrubina sérica e/ou fosfatase alcalina sugere cálculo do ducto colédoco. Febre ou calafrios com dor biliar geralmente indica alguma complicação, isto é, colecistite, pancreatite ou colangite. Queixas como plenitude epigástrica difusa de curta duração, dispepsia, eructações ou flatulência, especialmente depois de uma refeição gordurosa, não devem ser confundidas com dor biliar. Esses sintomas são induzidos com frequência em pacientes com ou sem colelitíase biliar, mas são inespecíficos de cálculos biliares. A cólica biliar pode ser desencadeada pela ingestão de refeição gordurosa, consumo de uma refeição farta depois de um período de jejum prolongado, ou ingestão de uma refeição normal; a cólica é noturna na maioria dos casos e começa algumas horas depois de deitar-se. História natural: Colelitíase diagnosticada em um paciente assintomático, ou cujos sintomas não podem ser atribuídos à colelitíase, é um problema clínico comum. Entre 60 e 80% dos pacientes com cálculos biliares assintomáticos não desenvolvem sintomas por até 25 anos. A probabilidade de desenvolver sintomas dentro de 5 anos depois do diagnóstico é de 2 a 4% ao ano, mas diminui para 1 a 2% subsequentemente. A incidência anual de complicações é de cerca de 0,1 a 0,3%. Pacientes que permanecem assintomáticos por 15 anos não tendem a desenvolver sintomas no decorrer de qualquer período de acompanhamento adicional, enquanto a maioria dos pacientes que desenvolvem complicações em razão de seus cálculos biliares apresentou sintomas prévios de alerta. Conclusões semelhantes são aplicáveis aos pacientes diabéticos com cálculos biliares silenciosos. Uma análise decisória sugeriu que o risco cumulativo de morte por doença calculosa biliar na vigência de uma conduta expectante é pequeno, e a colecistectomia profilática não se justifica. As complicações que tornam necessária a colecistectomia são muito mais comuns nos pacientes com cálculos biliares que já desenvolveram sintomas de dor biliar. Pacientes jovens com cálculo biliar são mais propensos do que aqueles com > 60 anos ao desenvolvimento de sintomas da colelitíase, no momento do diagnóstico inicial. Os pacientes com DM e cálculos biliares podem ser ligeiramente mais suscetíveis às complicações sépticas, porém ainda não foi definida a magnitude do risco de complicações biliares sépticas nos pacientes diabéticos. Tratamento cirúrgico A recomendação de realizar colecistectomia em um paciente com cálculos biliares deve basear-se provavelmente na avaliação de três fatores: existência de sintomas suficientemente frequentes ou intensos a ponto de interferir na rotina geral do paciente; ocorrência de complicação prévia da doença calculosa biliar, isto é, história de colecistite aguda, pancreatite, fístula biliar, etc. ou presença de condição subjacente que predisponha o paciente a maior risco de complicações devidas aos cálculos biliares (vesícula biliar calcificada ou de porcelana, e/ou episódio pregresso de colecistite aguda, apesar do atual estado assintomático). Pacientes com cálculos biliares muito volumosos (> 3 cm de diâmetro) e aqueles com cálculos na vesícula biliar que apresentam alguma anomalia congênita também podem ser considerados candidatos à colecistectomia profilática. A pouca idade é um fator preocupante nos pacientes com cálculos biliares assintomáticos, no entanto poucos autores recomendam colecistectomia de rotina a todos os pacientes jovens com cálculos assintomáticos. A colecistectomia laparoscópica é uma abordagem de acesso mínimo para retirada da vesícula biliar juntamente com seus cálculos. Suas vantagens consistem em redução da permanência hospitalar, incapacitação mínima e o custo reduzido, constituindo o procedimento de escolha para a maioria dos pacientes encaminhados para colecistectomia eletiva. Tratamento clínico – dissolução dos cálculos biliares Para pacientes cuidadosamente selecionados, cuja vesícula biliar seja funcional e que apresentem cálculos radiotransparentes com diâmetro < 10 mm, a dissolução completa pode ser conseguida em cerca de 50% dos casos, dentro de 6 meses a 2 anos. De forma a assegurar resultados satisfatórios dentro desse intervalo razoável, o tratamento deve ser limitado aos pacientes com cálculos radiotransparentes com diâmetro < 5 mm. A dose de AUDC deve ser de 10 a Ana Carolina Thomaz Mendes 15 mg/kg/dia. Cálculos medindo > 10 mm de diâmetro raramente dissolvem. Os cálculos pigmentares não respondem ao tratamento com AUDC. Provavelmente, 10% ou menos dos pacientes com colelitíase sintomática são candidatos a esse tipo de tratamento. No entanto, além do problema incômodo dos cálculos recorrentes (30 a 50% ao longo de 3 a 5 anos de acompanhamento), existe o fator adicional do uso de um fármaco extremamente caro por até 2 anos. As vantagens e o sucesso da colecistectomia laparoscópica reduziram, em grande parte, o papel da dissolução dos cálculos de pacientes que desejam evitar ou que não são candidatos à colecistectomia eletiva. No entanto, os pacientes com doença induzida por cálculos biliares de colesterol que têm episódios recorrentes de coledocolitíase depois da colecistectomia devem fazer tratamento prolongado com AUDC. COLECISTITES AGUDA E CRÔNICA Colecistite aguda: A inflamação aguda da parede da vesícula geralmente acompanha a obstrução do ducto cístico por um cálculo. A resposta inflamatória pode ser induzida por três fatores: inflamação mecânica produzida por pressão e distensão intraluminais aumentadas com isquemia subsequente da mucosa e parede da vesícula biliar; inflamação química causada pela liberação de lisolecitina (devido à ação da fosfolipase sobre a lecitina na bile) e por outros fatores teciduais locais; e inflamação bacteriana, que pode desempenhar algum papel em 50 a 85% dos pacientes com colecistite aguda. Os microrganismos frequentemente isolados por cultura da bile da vesícula desses pacientes são Escherichia coli, Klebsiella spp., Streptococcus spp. e Clostridium spp. A colecistite aguda geralmente começa como uma crise de dor biliar que piora progressivamente. Cerca de 60 a 70% dos pacientes relatam já haver experimentado crises precedentes que regrediram espontaneamente. Porém, à medida que o episódio progride, a dor da colecistite aguda torna-se mais generalizada no QSD do abdome. Como acontece coma cólica biliar, a dor da colecistite pode irradiar-se para a área interescapular, escápula direita ou ombro. Os sinais peritoneais de inflamação, como agravamento da dor com a movimentação ou respiração profunda, podem ser evidentes. O paciente apresenta-se anorético e, na maioria das vezes, nauseado. Os vômitos são relativamente comuns e podem causar sintomas e sinais de depleção volêmica vascular e extravascular. A icterícia é incomum no início da evolução da colecistite aguda, mas pode ocorrer quando as alterações inflamatórias edematosas acometem os ductos biliares e linfonodos circundantes. Nos casos típicos, a febre é baixa, porém calafrios com tremores são comuns. O QSD do abdome apresenta- se quase invariavelmente hipersensível à palpação. A vesícula biliar tensa e aumentada de volume é palpável em 25 a 50% dos pacientes. A respiração profunda ou tosse durante a palpação subcostal do QSD geralmente causa aumento da dor e parada inspiratória (sinal de Murphy). É comum haver descompressão dolorosa com hipersensibilidade localizada no QSD, assim como distensão abdominal e ruídos peristálticos hipoativos em função do íleo paralítico, porém geralmente não há sinais peritoneais generalizados nem rigidez abdominal na ausência de perfuração. O diagnóstico de colecistite aguda é estabelecido habitualmente com base na anamnese característica e em um bom exame físico. A tríade de início súbito de hipersensibilidade no QSD, febre e leucocitose é altamente sugestiva. A leucocitose varia de 10.000 a 15.000 células por microlitro com desvio à esquerda na contagem diferencial. A bilirrubina sérica está discretamente aumentada (< 85,5 μmol/L [5 mg/dL]) em menos da metade dos pacientes, enquanto cerca de 25% evidenciam elevações moderadas das aminotransferases séricas (em geral, < 5 vezes). A US mostra cálculos em 90 a 95% dos casos e é útil para detectar sinais de inflamação da vesícula, como espessamento da parede, líquido pericolecístico e dilatação do ducto biliar. A cintilografia biliar com radionuclídeo (HIDA) pode confirmar o diagnóstico se for demonstrado ducto biliar sem visualização da vesícula biliar. Cerca de 75% dos pacientes tratados clinicamente conseguem remissão dos sintomas agudos dentro de 2 a 7 dias depois da internação hospitalar. Entretanto, em 25% dos casos, ocorre complicação da colecistite aguda mesmo com o tratamento conservador. Nesses casos, é necessária uma intervenção cirúrgica imediata. Dentre os 75% que representam os Ana Carolina Thomaz Mendes pacientes com colecistite aguda que conseguem a remissão dos sintomas, cerca de 25% têm recidiva da colecistite em 1 ano e 60% sofrem pelo menos um episódio recorrente em 6 anos. Em vista da história natural da doença, a colecistite aguda deve ser tratada preferencialmente com cirurgia imediata, sempre que possível. A síndrome de Mirizzi é uma complicação rara na qual um cálculo biliar fica impactado no ducto cístico ou no colo da vesícula biliar, causando compressão do ducto colédoco e resultando em obstrução desse ducto com icterícia. A US mostra cálculos biliares fora do ducto hepático. A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE), ou colangiografia transepática percutânea (CTP), ou ainda colangiopancreatografia por RM (CPRM), geralmente demonstra a característica compressão extrínseca do ducto colédoco. O tratamento cirúrgico consiste em remover o ducto cístico, a vesícula biliar doente e o cálculo impactado. O diagnóstico pré-operatório da síndrome de Mirizzi é importante para evitar uma lesão do ducto colédoco. Colecistite acalculosa: Em 5 a 10% dos pacientes com colecistite aguda, não se encontram cálculos obstruindo o ducto cístico durante a cirurgia. Em > 50% desses casos, falta uma explicação plausível para a inflamação acalculosa. O risco aumentado de desenvolver colecistite acalculosa está associado especialmente a um traumatismo grave ou a queimaduras, período pós-parto subsequente a um trabalho de parto prolongado e pós-operatório de grandes intervenções cirúrgicas ortopédicas e de outra natureza não biliar. A condição pode complicar períodos de hiperalimentação parenteral prolongada. Para alguns desses casos, a lama biliar no ducto cístico pode ser o fator responsável. Outros fatores desencadeantes são vasculite, adenocarcinoma obstrutivo da vesícula biliar, DM, torção da vesícula biliar, infecções bacterianas “incomuns” da vesícula biliar (Leptospira, Streptococcus, Salmonella ou Vibrio cholerae) e infestação parasitária da vesícula biliar. A colecistite acalculosa pode ser detectada também em ampla variedade de outros processos patológicos sistêmicos (sarcoidose, doença cardiovascular, tuberculose, sífilis, actinomicose). As manifestações clínicas da colecistite acalculosa são indiferenciáveis da colecistite calculosa, porém a presença de inflamação aguda da vesícula biliar que complica uma enfermidade subjacente grave é característica da doença acalculosa. Imagens de US ou TC demonstrando vesícula grande, tensa e estática, sem cálculos e evidenciando esvaziamento precário por período prolongado podem ser muito úteis para firmar o diagnóstico em alguns casos. O índice de complicações da colecistite acalculosa é mais alto que o da colecistite calculosa. O tratamento bem-sucedido da colecistite acalculosa aguda parece depender principalmente do diagnóstico e da intervenção cirúrgica precoces, com atenção meticulosa aos cuidados pós-operatórios. Colecistopatia acalculosa: A motilidade desordenada da vesícula biliar pode provocar dor biliar recorrente nos pacientes sem cálculos biliares. A infusão de um octapeptídeo de CCK pode ser realizada para medir a fração de ejeção vesicular durante a colecintilografia. Os achados cirúrgicos incluem anormalidades como colecistite crônica, hipertrofia da camada muscular da vesícula biliar e/ou ducto cístico extremamente estreitado. Alguns desses pacientes podem apresentar também antecedente de doença da vesícula. Os seguintes critérios podem ser usados para identificar os pacientes com colecistopatia acalculosa: episódios repetidos de dor no QSD típica da dor referida ao trato biliar, colecintilografia com CCK anormal, demonstrando fração de ejeção vesicular < 40%, e infusão de CCK que reproduz a dor do paciente. Um indício adicional pode ser a demonstração da vesícula biliar volumosa ao exame US. É importante ressaltar que a disfunção do EO também pode causar dor recidivante no QSD e anormalidades na cintilografia com CCK. Colecistite enfisematosa: A chamada colecistite enfisematosa parece surgir com colecistite aguda (calculosa ou acalculosa) seguida de isquemia ou gangrena da parede vesicular, e infecção por microrganismos produtores de gases. As bactérias mais comumente isoladas em cultura nessas circunstâncias consistem em anaeróbios (Clostridium welchii ou C. perfringens) e aeróbios (E. coli). Essa condição ocorre com mais frequência em homens idosos, assim como em pacientes diabéticos. As manifestações clínicas são essencialmente indiferenciáveis da colecistite não gasosa (não enfisematosa). O diagnóstico geralmente é firmado por uma radiografia simples do abdome Ana Carolina Thomaz Mendes demonstrando a presença de gás dentro do lúmen e infiltrando o interior da parede da vesícula para formar um anel gasoso, ou nos tecidos pericolecísticos. As taxas de morbidade e mortalidade da colecistite enfisematosa são consideráveis. Intervenção cirúrgica imediata combinada com antibióticos adequados é a conduta obrigatória. Colecistite crônica: A inflamação crônica da parede da vesícula está quase sempre associada à presença de cálculos biliares e admite-se que resulte de episódios repetidos de colecistite subaguda ou aguda, ou irritação mecânica persistenteda parede por cálculos biliares. Bactérias na bile são observadas em > 25% dos pacientes com colecistite crônica. A presença de bile infectada em um paciente com colecistite crônica submetido a uma colecistectomia eletiva aumenta muito pouco o risco operatório. A colecistite crônica pode ser assintomática por vários anos, pode progredir para doença sintomática da vesícula biliar ou colecistite aguda, ou pode causar complicações. Complicações da colecistite ● Empiema e hidropsia: O empiema da vesícula biliar resulta habitualmente da progressão da colecistite aguda com obstrução persistente do ducto cístico para superinfecção da bile estagnada por uma bactéria formadora de pus. O quadro clínico é semelhante ao da colangite: febre alta, dor intensa no QSD, leucocitose acentuada e, com frequência, prostração. O empiema da vesícula biliar leva a um alto risco de sepse Gram-negativa e/ou perfuração. A intervenção cirúrgica emergencial com cobertura antibiótica apropriada é necessária tão logo a suspeita desse diagnóstico seja levantada. A hidropsia ou mucocele da vesícula biliar também pode resultar da obstrução prolongada do ducto cístico, em geral por um cálculo solitário grande. Nesse caso, o lúmen da vesícula obstruída é distendido progressivamente, durante um longo período, por muco (mucocele) ou transudato claro (hidropsia) produzido pelas células epiteliais mucosas. Ao exame físico, é possível detectar facilmente uma massa indolor que se estende do QSD até a fossa ilíaca direita. O paciente com hidropsia da vesícula biliar geralmente permanece assintomático, embora possa ocorrer também dor crônica no QSD. A colecistectomia está indicada, visto que empiema, perfuração ou gangrena pode complicar a condição. ● Gangrena e perfuração: A gangrena da vesícula biliar resulta da isquemia da parede e necrose tecidual segmentar ou completa. As condições coexistentes frequentemente incluem distensão acentuada da vesícula biliar, vasculite, DM, empiema ou torção que resulta em obstrução arterial. Em geral, a gangrena predispõe à perfuração da vesícula biliar, embora esta última possa ocorrer também na colecistite crônica, sem sintomas premonitórios de alerta. As perfurações localizadas geralmente são contidas pelo omento ou pelas aderências produzidas pela inflamação recorrente da vesícula biliar. A superinfecção bacteriana do conteúdo da vesícula bloqueado resulta na formação de um abscesso. A maioria dos pacientes deve ser tratada preferencialmente com colecistectomia, porém alguns pacientes gravemente enfermos podem ser controlados com colecistostomia e drenagem do abscesso. A perfuração livre é menos comum, porém está associada à taxa de mortalidade de cerca de 30%. Esses pacientes podem ter alívio transitório e súbito da dor no QSD quando ocorre descompressão da vesícula distendida, o que é acompanhado por sinais de peritonite generalizada. ● Formação de fístula e íleo biliar: A formação de fístula para o interior de um órgão adjacente aderido à parede da vesícula pode resultar da inflamação e formação de aderências. As fístulas no duodeno são extremamente comuns, seguidas em frequência pelas fístulas na flexura hepática do cólon, estômago ou duodeno, parede abdominal e pelve renal. As fístulas enterobiliares clinicamente “silenciosas” que ocorrem como complicação da colecistite aguda são encontradas em até 5% dos pacientes submetidos à colecistectomia. Às vezes, as fístulas colecistoentéricas assintomáticas podem ser diagnosticadas pela demonstração de gás na árvore biliar em Ana Carolina Thomaz Mendes radiografias planas do abdome. Os exames contrastados com bário ou a endoscopia do trato gastrintestinal alto ou do cólon podem demonstrar a fístula. O tratamento do paciente sintomático consiste habitualmente em colecistectomia, exploração do ducto colédoco e fechamento do trajeto fistuloso. Íleo biliar refere-se à obstrução intestinal mecânica resultante da passagem de um cálculo biliar volumoso e sua entrada no lúmen intestinal. O cálculo geralmente entra no duodeno a partir de uma fístula colecistoentérica nesse nível. O sítio de obstrução pelo cálculo impactado geralmente está localizado ao nível da valva ileocecal, desde que o intestino delgado mais proximal seja de calibre normal. A maioria dos pacientes não relata história de sintomas precedentes relacionados com o trato biliar, nem queixas sugestivas de colecistite aguda ou de formação de fístula. Admite-se que os cálculos volumosos (> 2,5 cm de diâmetro) predisponham à formação de fístula em função da erosão gradativa através do fundo da vesícula. A confirmação diagnóstica pode ser ocasionalmente obtida pela radiografia simples do abdome (obstrução do intestino delgado com gás na árvore biliar e cálculo biliar ectópico calcificado) ou depois da seriografia gastrintestinal alta (fístula colecistoduodenal com obstrução do intestino delgado no nível da valva ileocecal). A laparotomia com extração do cálculo (ou propulsão para dentro do cólon) ainda é o procedimento de escolha destinado a eliminar a obstrução. Deve ser realizada também a remoção dos cálculos grandes existentes dentro da vesícula biliar. Em geral, a vesícula biliar e suas aderências aos intestinos devem permanecer intactas. ● Bile tipo leite de cálcio e vesícula de porcelana: Os sais de cálcio depositados no lúmen da vesícula biliar, quando presentes em concentração suficiente, podem produzir precipitação do cálcio e opacificação difusa e nebulosa da bile, ou ainda um efeito de superposição de camadas à radiografia simples do abdome. Essa condição denominada “bile tipo leite de cálcio” costuma ser clinicamente inócua, ainda que leve à recomendação de uma colecistectomia, sobretudo na vesícula biliar hidrópica. Na condição conhecida como vesícula de porcelana, a deposição dos sais de cálcio dentro da parede da vesícula biliar cronicamente inflamada pode ser identificada à radiografia simples do abdome. A colecistectomia é recomendável a todos os pacientes com vesícula de porcelana, porque em uma porcentagem alta dos casos esse achado parece estar associado ao desenvolvimento de carcinoma da vesícula biliar. Tratamento Colecistite aguda - tratamento clínico Embora o tratamento cirúrgico ainda seja a base do tratamento da colecistite aguda e suas complicações, um período de estabilização intra-hospitalar pode ser necessário antes da colecistectomia. A ingestão oral deve ser eliminada e a aspiração nasogástrica pode estar indicada, enquanto a depleção do volume extracelular e as anormalidades eletrolíticas são corrigidas. Meperidina ou um AINE como cetorolaco, ou ainda opioides (morfina e hidromorfona) geralmente são administrados para conseguir analgesia. Antibióticos intravenosos geralmente estão indicados aos pacientes com colecistite aguda grave, embora seja possível que a infecção bacteriana da bile não tenha ocorrido nos estágios iniciais do processo inflamatório. O tratamento antibiótico é dirigido aos microrganismos Gram-negativos e anaeróbios mais comumente presentes, inclusive E. coli, Klebsiella spp. e Streptococcus spp. Os antibióticos eficazes são piperacilina com tazobactam, ceftriaxona com metronidazol, ou levofloxacino com metronidazol. A cobertura anaeróbia proporcionada pelos antibióticos como o metronidazol deve ser acrescentada quando há suspeita de colecistite gangrenosa ou enfisematosa. O imipeném e o meropeném devem ser reservados às infecções mais graves e potencialmente fatais, quando os outros esquemas de antibióticos tiverem falhado. As complicações pós-operatórias, como infecção da ferida, formação de abscesso e sepse, são reduzidas nos pacientes tratados com antibióticos. Ana Carolina Thomaz MendesTratamento cirúrgico A ocasião ideal para a intervenção cirúrgica nos pacientes com colecistite aguda depende de sua estabilização. A tendência evidente é para a cirurgia mais precoce, o que se deve em parte às exigências de internações hospitalares mais curtas. A colecistectomia ou colecistostomia urgente (emergencial) é provavelmente apropriada para a maioria dos pacientes com suspeita ou confirmação de complicação da colecistite aguda, como empiema, colecistite enfisematosa ou perfuração. Os pacientes com colecistite aguda sem complicações devem ser submetidos à colecistectomia laparoscópica eletiva precoce, de preferência dentro de 48 a 72 horas depois do diagnóstico. O índice de complicações não é maior nos pacientes submetidos à colecistectomia imediata, em comparação com a intervenção mais tardia (> 6 semanas depois do estabelecimento do diagnóstico). A intervenção cirúrgica postergada deve ficar reservada provavelmente aos seguintes casos: pacientes cuja condição clínica geral imponha risco inaceitável para a cirurgia precoce, e pacientes cujo diagnóstico de colecistite aguda seja duvidoso. Assim, colecistectomia imediata (dentro de 72 horas) é o tratamento de escolha para a maioria dos pacientes com colecistite aguda. Na maioria dos centros, as taxas de mortalidade da colecistectomia de emergência variam de 1 a 3%, enquanto o risco de mortalidade da colecistectomia imediata eletiva é de cerca de 0,5% nos pacientes com < 60 anos. Evidentemente, o risco operatório aumenta com as doenças relacionadas ao envelhecimento afetando outros sistemas de órgãos e a presença de complicações de longo ou curto prazo da doença vesicular. Os pacientes gravemente doentes ou debilitados com colecistite podem ser tratados com colecistostomia e drenagem por tubo da vesícula biliar. Então, a colecistectomia eletiva pode ser adiada. Complicações pós-colecistectomia: As complicações iniciais da colecistectomia incluem atelectasia e outros distúrbios pulmonares, formação de abscesso (na maioria das vezes, subfrênico), hemorragia externa ou interna, fístula enterobiliar e extravasamentos de bile. Icterícia pode indicar absorção de bile a partir de um acúmulo intra- abdominal pós-extravasamento biliar ou obstrução mecânica do ducto colédoco pela presença de cálculos retidos, coágulos sanguíneos intraductais ou compressão extrínseca. As denominadas “síndromes pós-colecistectomia” podem ser devidas aos seguintes fatores: estenoses biliares, cálculos biliares retidos, síndrome do coto do ducto cístico, estenose ou discinesia do EO, ou diarreia ou gastrite induzida por sais biliares. Síndrome do coto do ducto cístico: Na ausência de cálculos retidos demonstrados pela colangiografia, os sintomas que se assemelham à dor biliar ou à colecistite no paciente pós-colecistectomia são atribuídos com frequência à doença de um remanescente de ducto cístico longo (> 1 cm). Entretanto, uma análise minuciosa revela que as queixas pós-colecistectomia podem ser atribuídas a outras causas em quase todos os pacientes cujo complexo sintomático tenha sido originalmente considerado resultante da existência de um coto de ducto cístico longo. Desse modo, convém pesquisar com muito cuidado o possível papel de outros fatores na produção dos sintomas pós-colecistectomia, antes de atribuí-los à síndrome do coto do ducto cístico. Estenose e discinesia do esfíncter de ODDI e discinesia biliar: Sintomas de cólica biliar acompanhada de sinais de obstrução biliar intermitente recidivante podem ser causados por colecistopatia acalculosa e por estenose ou discinesia do EO. Admite-se que a estenose papilar resulte da inflamação aguda ou crônica da papila de Vater, ou da hiperplasia glandular do segmento papilar. Os cinco critérios usados para definir estenose do EO são: dor no abdome superior, geralmente no QSD ou na região epigástrica; anormalidades nas provas de função hepática; dilatação do ducto colédoco à CPRM ou CPRE; drenagem retardada (> 45 minutos) do contraste presente no ducto; e pressão basal alta no EO. Após a exclusão da hipótese de colecistopatia acalculosa, o tratamento consiste em esfincteroplastia endoscópica ou cirúrgica para garantir a ampla permeabilidade das porções distais dos ductos biliares e pancreáticos. Quanto maior o número dos critérios precedentes presentes, maior a probabilidade de que o paciente tenha grau de estenose papilar suficiente para justificar sua correção. Os fatores geralmente considerados indicações para esfincteromia são: duração prolongada dos sintomas, ausência de Ana Carolina Thomaz Mendes resposta ao tratamento sintomático, incapacitação acentuada, e opção do paciente pela esfincterotomia ao tratamento cirúrgico (com base em uma clara compreensão de sua parte acerca dos riscos envolvidos em ambos os procedimentos). Os distúrbios do EO biliar caracterizam-se por três critérios: dor biliar, inexistência de cálculos no ducto biliar ou outras anormalidades, e elevações das enzimas hepáticas ou dilatação do ducto colédoco, mas não de ambas simultaneamente. Nesses casos, a cintilografia hepatobiliar ou a manometria do EO pode confirmar o diagnóstico. É importante ressaltar que a existência de elevações das enzimas hepáticas com dilatação do ducto colédoco deve sugerir a possibilidade de obstrução. Os mecanismos propostos para explicar a disfunção do EO são espasmo do esfincter, hipersensibilidade de desnervação resultando em hipertonia, e anormalidades da sequência ou frequência das ondas contráteis do esfincter. Quando a avaliação detalhada falha em demonstrar outra causa para a dor, enquanto os critérios de manometria e colangiografia sugerem o diagnóstico de discinesia do EO, recomenda-se o tratamento clínico com nitratos ou anticolinérgicos para tentar produzir relaxamento do esfincter, ainda que não tenha sido avaliado por estudos detalhados. A esfincterotomia biliar endoscópica (EBE) ou esfincterotomia cirúrgica pode estar indicada aos pacientes que não melhoram após 2 a 3 meses de tratamento clínico experimental, sobretudo quando as pressões do EO estão elevadas. Cerca de 45% desses pacientes conseguem alívio prolongado da dor depois da EBE. Esse procedimento passou a ser o preferido para remover cálculos do ducto biliar e corrigir outros problemas biliares e pancreáticos. Diarreia e gastrite induzida por sais biliares: Depois da colecistectomia, os pacientes podem apresentar sintomas de dispepsia atribuídos ao refluxo duodenogástrico de bile. Entretanto, faltam dados concretos capazes de relacionar tais sintomas à gastrite biliar subsequentemente à remoção cirúrgica da vesícula biliar. A colecistectomia causa alterações persistentes do trânsito intestinal que acarretam modificação perceptível dos hábitos intestinais. A colecistectomia reduz o tempo de trânsito intestinal porque acelera a passagem do bolo fecal pelo cólon, com intensa aceleração no cólon direito, acarretando aumento do débito colônico de ácidos biliares, assim como desvio da composição de ácidos biliares para suas formas secundárias causadoras de diarreia (ácido desoxicólico). A diarreia suficientemente grave (3 ou mais evacuações líquidas por dia) pode ser classificada como diarreia pós-colecistectomia, que ocorre em 5 a 10% dos pacientes submetidos à colecistectomia eletiva. O tratamento com fármacos sequestradores de ácidos biliares como colestiramina ou colestipol frequentemente é eficaz e consegue aliviar a diarreia incômoda. COLEDOCOLITÍASE Fisiopatologia e manifestações clínicas: Eliminação dos cálculos biliares e sua entrada no ducto colédoco ocorre em cerca de 10 a 15% dos pacientes com colelitíase. A incidência dos cálculos de colédoco aumenta com a idade do paciente, de forma que até 25% dos pacientes idosospodem apresentar cálculos de colédoco por ocasião da colecistectomia. Cálculos intraductais não detectados persistem em cerca de 1 a 5% dos pacientes colecistectomizados. A grande maioria de cálculos ductais é representada por cálculos de colesterol formados na vesícula biliar que, a seguir, migram para a árvore biliar extra-hepática através do ducto cístico. Os cálculos primários recém- formados nos ductos em geral são cálculos pigmentares marrons que se desenvolvem nos pacientes com: parasitismo hepatobiliar ou colangite recorrente crônica; anomalias congênitas dos ductos biliares (em especial, doença de Caroli); ductos dilatados, esclerosados ou estreitados; ou anomalia do gene MDR3 (ABCB4), que acarreta secreção biliar alterada de fosfolipídeos (colelitíase de colesterol associada a baixos níveis de fosfolipídeos). Os cálculos de colédoco podem permanecer assintomáticos por anos, ser eliminados espontaneamente e entrar no duodeno, ou (na maioria das vezes) manifestar-se com cólica biliar ou uma complicação. Complicações ● COLANGITE A colangite pode ser aguda ou crônica, e os sintomas resultam de uma inflamação geralmente causada pela obstrução ao menos parcial do fluxo biliar. Bactérias estão presentes na cultura da bile em cerca de 75% dos casos de pacientes com colangite aguda no início da evolução Ana Carolina Thomaz Mendes sintomática. A manifestação típica da colangite aguda envolve dor biliar, icterícia e picos febris com calafrios (tríade de Charcot). As hemoculturas frequentemente são positivas e a presença de leucocitose é característica. A colangite aguda não supurativa é extremamente comum e pode responder com relativa rapidez às medidas de suporte e ao tratamento com antibióticos. Porém, na colangite aguda supurativa, a presença de pus sob pressão em um sistema ductal completamente obstruído origina sintomas decorrentes de toxemia grave – confusão mental, bacteremia e choque séptico. Em tais circunstâncias, a resposta ao tratamento apenas com antibióticos é relativamente precária, é comum haver múltiplos abscessos hepáticos e a taxa de mortalidade aproxima-se de 100%, salvo quando se consegue o alívio endoscópico ou cirúrgico imediato da obstrução e a drenagem da bile infectada. O tratamento endoscópico da colangite bacteriana é tão eficaz quanto a intervenção cirúrgica. A CPRE com esfincterotomia endoscópica é segura e constitui o procedimento inicial preferido para estabelecer o diagnóstico definitivo e tratar de maneira eficaz a doença. ● ICTERÍCIA OBSTRUTIVA A obstrução gradativa do ducto colédoco durante um período de semanas ou meses costuma induzir manifestações iniciais de icterícia ou prurido sem sintomas associados de cólica biliar ou colangite. A icterícia indolor pode ocorrer nos pacientes com coledocolitíase, porém é muito mais característica da obstrução biliar secundária a uma neoplasia maligna da cabeça do pâncreas, ductos biliares ou ampola de Vater. Nos pacientes cuja obstrução é secundária à coledocolitíase, a colecistite crônica calculosa associada é muito comum e a vesícula biliar, nessas circunstâncias, pode ser incapaz de distensão. A inexistência de vesícula biliar palpável na maioria dos pacientes com obstrução biliar devida a cálculos ductais é a base da lei de Courvoisier, isto é, a presença de uma vesícula biliar aumentada e palpável sugere que a obstrução biliar é secundária a uma doença maligna subjacente, em vez de colelitíase. A obstrução das vias biliares causa dilatação progressiva dos ductos biliares intra- hepáticos, à medida que as pressões intrabiliares aumentam. O fluxo de bile hepática é suprimido e a reabsorção e regurgitação da bilirrubina conjugada para a corrente sanguínea resultam em icterícia acompanhada de urina escura (bilirrubinúria) e fezes de coloração clara (acólicas). A hipótese de cálculos do colédoco deve ser levantada em qualquer paciente com colecistite apresentando níveis séricos de bilirrubina > 85,5 μmol/L (5 mg/dL). Somente em casos raros, o nível máximo de bilirrubina excede > 256,5 μmol/L (15 mg/dL) nos pacientes com coledocolitíase, exceto na presença de hepatopatia ou nefropatia concomitante, ou diante de outro fator qualquer que resulte em hiperbilirrubinemia acentuada. Níveis séricos de bilirrubina maiores ou iguais a ≥ 342 μmol/L (20 mg/dL) devem sugerir a possibilidade de obstrução neoplásica. O nível sérico de fosfatase alcalina quase sempre está elevado na obstrução biliar. A elevação da fosfatase alcalina geralmente precede à icterícia detectável clinicamente e pode ser a única anormalidade das provas de função hepática de rotina. Pode haver também elevação de 2 a 10 vezes nas aminotransferases séricas, sobretudo quando associada à obstrução aguda. Após a correção do processo obstrutivo, as elevações séricas das aminotransferases em geral normalizam rápido, enquanto o nível sérico de bilirrubina pode demorar 1 a 2 semanas para retornar ao normal. Em geral, o nível de fosfatase alcalina diminui aos poucos, de forma mais demorada que a redução na bilirrubina sérica. ● PANCREATITE A doença do trato biliar é o distúrbio detectado com mais frequência em pacientes com pancreatite não alcoólica. A evidência bioquímica de inflamação pancreática complica a colecistite aguda em 15% dos casos, e a coledocolitíase em > 30%. Aparentemente, o fator comum a essas duas condições é a passagem de cálculos pelo colédoco. A coexistência de pancreatite deve ser considerada nos pacientes com sintomas Ana Carolina Thomaz Mendes de colecistite que manifestam (1) dor na coluna dorsal ou à esquerda da linha média abdominal; (2) vômitos prolongados com íleo paralítico; ou (3) derrame pleural, sobretudo no lado esquerdo. O tratamento cirúrgico da doença calculosa biliar costuma estar associado à resolução da pancreatite. ● CIRROSE BILIAR SECUNDÁRIA A cirrose biliar secundária pode complicar a obstrução ductal prolongada ou intermitente, com ou sem colangite recorrente. Embora possa ser detectada nos pacientes com coledocolitíase, essa complicação é mais comum nos casos de obstrução prolongada por estenose ou neoplasia. Uma vez estabelecida, a cirrose biliar secundária pode ser progressiva mesmo depois da correção do processo obstrutivo, e a cirrose hepática progressivamente mais grave pode causar hipertensão portal ou insuficiência hepática e morte. A obstrução biliar prolongada pode estar associada também a deficiências clinicamente relevantes das vitaminas lipossolúveis A, D, E e K. Diagnóstico e tratamento: O diagnóstico de coledocolitíase geralmente é confirmado por colangiografia, seja no pré-operatório por colangiografia retrógrada endoscópica (CRE) ou CPRM, seja no intraoperatório, durante a colecistectomia. Até 15% dos pacientes submetidos à colecistectomia têm cálculos do ducto colédoco. Quando há suspeita de cálculos do ducto colédoco antes da colecistectomia laparoscópica, a abordagem preferida é a realização pré-operatória de CPRE com papilotomia endoscópica e extração do cálculo. Isso não apenas assegura a eliminação do cálculo como também define a anatomia da árvore biliar em relação ao ducto cístico. Os cálculos de ducto colédoco devem ser considerados nos pacientes com cálculos biliares que apresentam qualquer um dos seguintes fatores de risco: história de icterícia ou pancreatite; testes anormais da função hepática; e evidência US ou por CPRM de ducto colédoco dilatado ou cálculos no ducto. Por outro lado, quando a colangiografia intraoperatória revela cálculos retidos, pode ser realizada CPRE pós-operatória. Espera-se que a necessidade de realizar CPRE pré-operatória diminua conforme as técnicas laparoscópicas de exploração dos ductos biliares são aprimoradas.A utilização generalizada da colecistectomia laparoscópica e CPRE reduziu a incidência de doença complicada do trato biliar, assim como a necessidade de realizar coledocolitotomia e drenagem por tubo T dos ductos biliares. A EBE seguida de eliminação espontânea ou extração do cálculo constitui o tratamento de escolha para pacientes com cálculos de ducto colédoco, em especial pacientes idosos ou de alto risco. Icterícias Icterícia é uma coloração amarelada dos tecidos do corpo resultante da deposição de bilirrubina. A deposição de bilirrubina nos tecidos ocorre apenas quando há hiperbilirrubinemia sérica e é um sinal de doença hepática ou, o que é menos comum, de um distúrbio hemolítico ou do metabolismo da bilirrubina. O grau de elevação da bilirrubina sérica pode ser estimado pelo exame físico. Aumentos discretos do nível sérico de bilirrubina são detectados mais facilmente pelo exame das escleróticas do olho para detectar icterícia. As escleróticas têm afinidade especial por bilirrubina em razão de seu teor alto de elastina e a existência de icterícia das escleróticas indica que o nível sérico de bilirrubina seja de 3 mg/dL Ana Carolina Thomaz Mendes no mínimo. A capacidade de detectar icterícia das escleróticas é comprometida quando a sala de exame possui iluminação fluorescente. Quando o médico suspeita de icterícia das escleróticas, outra área a ser examinada é a região sublingual. À medida que os níveis séricos de bilirrubina aumentam, a pele torna- se amarelada nos pacientes de pele clara e mesmo esverdeada quando o processo é de longa duração; a coloração esverdeada é produzida por oxidação da bilirrubina em biliverdina. O diagnóstico diferencial da coloração amarelada da pele é muito restrito. Além da icterícia, devem ser considerados carotenodermia, uso do fármaco quinacrina e exposição excessiva aos fenóis. Carotenodermia é uma coloração amarelada conferida à pele de indivíduos saudáveis que consomem quantidades excessivas de vegetais e frutas que contêm caroteno, como cenoura, vegetais folhosos, abóbora, pêssego e laranja. Na icterícia, a coloração amarela da pele distribui-se uniformemente pelo corpo, enquanto, na carotenodermia o pigmento concentra-se nas palmas, plantas, fronte e pregas nasolabiais. A carotenodermia pode ser diferenciada da icterícia pela ausência de pigmentação das escleróticas. A quinacrina provoca uma coloração amarelada da pele em 4 a 37% dos pacientes tratados. Outro indicador sensível do aumento de bilirrubina sérica é o escurecimento da urina, que decorre da excreção renal de bilirrubina conjugada. Com frequência, os pacientes descrevem a urina como se tivesse cor de chá ou de refrigerantes do tipo cola. Bilirrubinúria indica elevação da fração direta da bilirrubina sérica e, portanto, presença de doença hepática. Os níveis séricos de bilirrubina aumentam quando há desequilíbrio entre a produção e a depuração de bilirrubina. Uma avaliação racional do paciente ictérico requer a compreensão de como a bilirrubina é produzida e metabolizada. Produção e metabolismo da bilirrubina A bilirrubina – um pigmento tetrapirrólico – é um produto da degradação do heme (ferroprotoporfirina IX). Cerca de 80 a 85% da quantidade total de 4 mg/kg de peso corporal de bilirrubina produzida diariamente são derivados da decomposição da hemoglobina das hemácias senescentes. O restante provém de células eritroides destruídas prematuramente na medula óssea e do turnover das hemoproteínas, como a mioglobina e os citocromos, encontradas nos tecidos corporais. A formação da bilirrubina ocorre nas células reticuloendoteliais, principalmente no baço e fígado. A primeira reação, catalisada pela enzima microssômica hemeoxigenase, cliva por reação oxidativa a ponte α do grupo porfirina e abre o anel do heme. Os produtos finais dessa reação são biliverdina, monóxido de carbono e ferro. A segunda reação, catalisada pela enzima citosólica biliverdina- redutase, reduz a ponte de metileno central da biliverdina e a converte em bilirrubina. A bilirrubina formada nas células reticuloendoteliais é praticamente insolúvel em água em razão de uma ligação de hidrogênio interna firme entre a fração hidrossolúvel da bilirrubina – isto é, a ligação dos grupos carboxila de ácido propiônico na metade dipirrólica da molécula com os grupos imino e lactâmico da metade oposta. Essa configuração bloqueia o acesso de solventes aos resíduos polares da bilirrubina e coloca os resíduos hidrofóbicos voltados para fora. Para ser transportada no sangue, a bilirrubina deve estar solubilizada. A solubilização é obtida pela ligação não covalente reversível da bilirrubina à albumina. A bilirrubina não conjugada ligada a albumina é transportada ao fígado. Nesse órgão, a bilirrubina – mas não a albumina – é captada pelos hepatócitos por meio de um processo que, ao menos em parte, envolve transporte pela membrana mediado por carreador. Depois de entrar no hepatócito, a bilirrubina não conjugada é ligada no citosol a diversas proteínas, incluindo a superfamília da glutationa S-transferase. Essas proteínas atuam tanto para reduzir o efluxo de bilirrubina para o soro quanto para disponibilizá-la para conjugação. No retículo endoplasmático, a bilirrubina é tornada solúvel em água por conjugação com o ácido glicurônico – um processo que quebra as ligações internas de hidrogênio hidrofóbicas e forma monoglicuronídeo e diglicuronídeo de bilirrubina. A conjugação do ácido glicurônico com a bilirrubina é catalisada pela bilirrubina uridina-difosfato- glicuronosiltransferase (UDPGT). Os conjugados de bilirrubina, agora hidrofílicos, difundem-se do retículo Ana Carolina Thomaz Mendes endotelial para a membrana canalicular, onde o monoglicuronídeo e o diglicuronídeo de bilirrubina são ativamente transportados para dentro da bile canalicular por um mecanismo dependente de energia, que envolve a proteína associada à resistência a múltiplos fármacos 2 (MRP2). Uma parte dos glicuronídeos de bilirrubina é transportada para dentro dos sinusoides e para a circulação portal por meio da MRP3 e está sujeita à recaptação pelo hepatócito por ação das proteínas 1B1 e 1B3 de transporte de ânions orgânicos sinusoidal (OATP1B1 e OATP1B3). A bilirrubina conjugada excretada dentro da bile drena para o duodeno e atravessa inalterada a parte proximal do intestino delgado. A bilirrubina conjugada não é reabsorvida pela mucosa intestinal em razão de sua hidrofobicidade e do seu peso molecular alto. Quando atinge a parte distal do íleo e o intestino grosso, a bilirrubina conjugada é hidrolisada em bilirrubina não conjugada pelas β- glicuronidases bacterianas. A bilirrubina não conjugada é reduzida pelas bactérias do intestino normal para formar um grupo de tetrapirrois incolores conhecidos como urobilinogênios e outros produtos, cuja composição e quantidades relativas dependem da flora bacteriana existente. Cerca de 80 a 90% desses produtos são excretados nas fezes, quer na forma inalterada, quer oxidados em derivados alaranjados denominados urobilinas. Os 10 a 20% restantes dos urobilinogênios entram no ciclo entero- hepático. Uma pequena fração (geralmente < 3 mg/dL) escapa da captação hepática e é filtrada pelos glomérulos renais, sendo excretada na urina. A excreção urinária aumentada de urobilinogênios pode ser causada pelo aumento da produção de bilirrubina, aumento da reabsorção hepática de urobilinogênio originado do cólon, ou eliminação hepática reduzida de urobilinogênio. Dosagem da bilirrubina sérica Os termos bilirrubina direta e indireta – isto é, bilirrubina conjugada e não conjugada, respectivamente – se baseiam na reação original de van den Bergh. Essa técnica, ou uma variação dela, ainda é usada em muitos laboratórios de análise
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