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Metodologia de Cálculo para Tributos Diretos e Indiretos APRESENTAÇÃO Os tributos diretos, relacionados à renda, e indiretos, vinculados ao consumo, afetam de forma direta e cotidiana a vida das empresas e dos consumidores. A carga fiscal do Brasil, uma das mais altas do mundo, revela um foco maior em arrecadação sobre o consumo do que sobre a renda, afetando diretamente a competitividade das empresas brasileiras. Frente a esta situação, é indispensável o entendimento não apenas sobre conceitos de tributos diretos e indiretos, como já estudado anteriormente, mas também em relação à metodologia para apuração destes tributos. Assim, esta Unidade de Aprendizagem apresenta dados e informações que englobam o assunto em questão. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a forma de metodologia aplicada para apurar tributos diretos e indiretos.• Reconhecer a metodologia aplicada para apurar tributos indiretos e indiretos.• Exemplificar cada uma destas metodologias.• DESAFIO Uma empresa que vende e presta serviços de conserto de eletrodomésticos, cujo regime tributário é com base no lucro presumido, obteve, no primeiro trimestre de determinado ano, os seguintes valores: • Receita de venda de mercadorias (descontado o IPI) - R$ 555.000,00 • Receita de prestação de serviços - R$ 80.000,00 • Vendas canceladas de mercadorias - R$ 55.000.00 Levando em consideração que se trata de uma metodologia de cálculo para tributos diretos (Imposto de Renda) e que os percentuais aplicáveis sobre as receitas são de 8% em relação às vendas de mercadorias e 32% na prestação de serviços e que a alíquota para o Imposto de Renda é de 15%, não havendo adicional, você é desafiado a encontrar o valor da base de cálculo para o pagamento deste tributo direto e, ainda, o valor a ser recolhido aos cofres públicos. INFOGRÁFICO A seguir, será apresentado o infográfico trazendo a metodologia de cálculo para os dois tipos de tributos. A metodologia de cálculo para tributos diretos, relacionados à renda e patrimônio, como é o caso do IR, é através de tabela progressiva de percentuais. No caso dos tributos indiretos, relacionados ao consumo, utiliza-se como metodologia de cálculo para cada tipo destes tributos um percentual específico. CONTEÚDO DO LIVRO A classificação de tributos diretos e indiretos é o primeiro passo para se compreender a receita dos impostos, taxas e contribuições que são recolhidos aos cofres públicos. A partir deste entendimento é possível analisar as formas como ocorre a tributação que incide sobre o consumo e sobre a renda. Congregando tais conhecimentos, é possível aprender sobre a metodologia de cálculo dos tributos diretos e indiretos, finalidade desta Unidade de Aprendizagem. Para tanto, leia um trecho da obra "Contabilidade tributária", o capítulo sobre Metodologia de cálculo para tributos diretos e indiretos que se inicia no assunto Introdução, na página XX, e se encerra em Metodologia aplicada aos tributos indiretos, na página XX. Boa leitura. CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Ramon Alberto Cunha de Faria Metodologia de cálculo para tributos diretos e indiretos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar a forma de metodologia aplicada para apurar tributos diretos e indiretos. � Reconhecer a metodologia aplicada para apurar tributos diretos e indiretos. � Exemplificar cada uma destas metodologias. Introdução Os tributos diretos, relacionados à renda, e os tributos indiretos, vinculados ao consumo, afetam de forma direta e cotidiana a vida das empresas e dos consumidores. A carga fiscal do Brasil, uma das mais altas do mundo, revela um foco maior em arrecadação sobre o consu- mo do que sobre a renda, afetando diretamente a competitividade das empresas brasileiras. Frente a esta situação, é indispensável que você compreenda não apenas os conceitos de tributos diretos e indiretos, mas também a metodologia para apuração desses tributos. Assim, este texto apresenta dados e informações sobre o assunto em questão. Análise da tributação sobre o consumo e sobre a renda Você vai ver agora que o Brasil obtém seu foco de arrecadação tributária dire- tamente sobre o consumo, o que é chamado de tributação indireta. Cerca de 21% da arrecadação tributária se dá sobre a renda e, 43%, sobre o consumo, demonstrando, portanto, que o Brasil é um país que desestimula o livre comércio e mantém com isto a desigualdade social. Conforme exposto no gráfico obtido da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Eco- nômico (OCDE), na Figura 1, fica claro que o Brasil não conta com a tribu- tação indireta das contribuições sociais, como o PIS, COFINS e a Contri- buição Social sobre o Lucro, dando uma margem de 26% de arrecadação com esses tributos. Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1 Se colocarmos no cálculo também as contribuições sociais, o percentual de tributação sobre o consumo sobe para 69%. Com esses dados, é possível que você tenha uma ideia de como os brasileiros sofrem com a tributação sobre o consumo e que seus produtos são os mais caros do mundo. É importante que você saiba a diferença entre tributação sobre o con- sumo (indireta) e tributação sobre a renda (direta). Assim, você terá uma visão mais ampla de que, para se chegar a uma justiça fiscal, é preciso dis- tribuir a tributação de forma equilibrada tanto sobre a renda como sobre o consumo. Em países como o Estados Unidos, a tributação sobre o consumo não passa dos 30%; seu maior foco é na tributação sobre a renda, em que o percentual chega a 38%. É a forma inversa de tributação que o Brasil usa. No gráfico apresentado na Figura 1, você verá claramente a diferença do Brasil em relação a outros países no que diz respeito à tributação sobre o con- sumo e sobre a renda. Figura 1. Tributação sobre o consumo e sobre a renda em diferentes países. Fonte: OCDE – países com mais de 10 milhões de habitantes. Uma análise simples e simbólica pode demonstrar como a tributação sobre o consumo prejudica mais os pobres do que os ricos. Contabilidade tributária2 Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1 Imagine que uma pessoa dita “rica” ganhe R$ 40.000,00 por mês. Parte desse dinheiro ela aplicará, e parte deixará para seu consumo. O que ela aplicou irá gerar mais riqueza, não afetando com isso sua renda, já que a tributação sobre a renda é de 21%. Então, parte do que ela ganhar poderá ser recuperada dessa perda, por ela ter uma capacidade maior de ter seu dinheiro investido. Agora, veja o exemplo de uma pessoa dita “pobre”, que ganhe R$ 900,00 por mês. O seu dinheiro terá de ir todo para o consumo, ela não terá como investir uma parte para sua rentabilidade. Tendo em vista que o Brasil tem seu foco de tributação sobre o consumo, que é de 44%, fica claro que o pobre suporta uma carga tributária muito maior do que as pessoas ricas. Esta é uma análise resumida sobre a tributação direta e indireta, e de como essa classificação afeta tanto a faixa mais pobre da população. Metodologia aplicada aos tributos diretos Por premissa, você considera que as metodologias de cálculos para tributos diretos serão sempre por alíquotas fixas e crescentes, de acordo com o valor do bem tributável. Por exemplo, no conceito de imposto sobre a renda, você utiliza uma tabela progressiva, na qual quanto maior for o rendimento, maior será a alíquota efetiva a ser tributada. Neste cálculo, inclui-se também os dependentes, a parcela paga de INSS e também um valor ao qual o governo permite deduzir do imposto a pagar, conforme você pode ver na Tabela 1. Fonte: Receita Federal do Brasil. Base de cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a deduzir do IRPF Até 1.903,98 - - De 1.903,99 até 2.826,65 7,5 142,80 De 2.826,66 até 3.751,05 15 354,80 De 3.751,06 até 4.664,68 22,5 636,13 Acima de 4.664,68 27,5 869,36Tabela 1. Incidência mensal. 3Metodologia de cálculo para tributos diretos e indiretos Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1 Você verá uma simulação para cálculo do IRPF mensal (considerado como tributo direto) e como se dá sua incidência em um salário base de R$ 5.000,00, em que o contribuinte possua 1 dependente e pague a previdência social um valor de R$ 558,94 (11,18% INSS). A alíquota de 11,18% de INSS está de acordo com as novas faixas de contribuição de INSS para os trabalhadores, que passaram a valer a partir de 01/03/2020. Com a reforma da previdência de 2019, as alíquotas do INSS passaram a ser aplicadas a cada faixa do salário progressivamente, semelhante ao que já ocorria no IRPF. Você pode ler mais sobre isso no texto “Muda cálculo para pagar INSS; fica mais caro ou barato conforme salário”, de Ricardo Marchesan, publicado no portal do Uol (BRASIL, 2020). Figura 2. Simulação para cálculo do IRPF mensal. Fonte: Receita Federal – Simulador de IRPF. (Continua) Contabilidade tributária4 Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1 Figura 2. Simulação para cálculo do IRPF mensal. Fonte: Receita Federal – Simulador de IRPF. (Continuação) Para fazer o cálculo do IRPF, utilize a Simulação de Alíquota Efetiva de 2020, disponível no site da Receita Federal. Na simulação, você verá que o valor do imposto de renda é de R$ 320,45, descontado em folha no momento do pagamento. A alíquota efetiva do IRPF corresponde a 6,41% do salário base. Portanto, você verá que o Brasil tem a tendência de tributar mais o consumo do que a renda. Esse método servirá de análise para que você entenda este mecanismo próprio do governo brasileiro. Como você pode observar, o método de cálculo direto sobre a renda (sa- lário, aluguel, aplicação financeira) para calcular o imposto de renda obedece aos princípios da capacidade contributiva, a progressividade do rendimento, ou seja, quanto maior a renda, maior será alíquota efetiva. O conceito de método progressivo de tributação direta é também utilizado para apurar o IPTU. 5Metodologia de cálculo para tributos diretos e indiretos Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1 Metodologia aplicada aos tributos indiretos As metodologias para calcular os tributos indiretos variam de acordo com a espécie tributária e também dependem de seu regime tributário (simples na- cional, lucro presumido ou lucro real). Os tributos indiretos são: � ICMS; � IPI; � PIS; � COFINS; � CIDE – Combustível; � ISS, entre outros. A metodologia de cálculo para incidência do ICMS obedece a princípios constitucionais tributários, ao quais o legislador observou ao fazer incidir tal tributo sobre os consumos, como: não cumulatividade, valor para base de cál- culo, fato gerador, contribuinte passivo, responsável tributário, entre outros aspectos materiais, espaciais e temporais. No exemplo do ICMS (imposto indireto de maior incidência sobre o con- sumo), credita-se o seu valor decorrente da compra de mercadoria, e debita- -se o valor do ICMS referente a venda. A diferença será o ICMS a pagar ou recuperar (se o resultado for credor, será lançado em conta a recuperar, e se o resultado for devedor, seu lançamento será em conta de recolhimento). Este método é bem resumido e simplificado, não ensejando o cálculo por completo, apenas para elucidar de forma didática sua sistemática de apuração. Entre outros tributos indiretos temos também o IPI, como estudado an- teriormente, que obedece ao mesmo princípio e regra do ICMS. Somente no caso do PIS/COFINS é que a base de cálculo será o resultado (receita bruta) de determinado negócio, ensejando a aplicação da alíquota sobre a base de cálculo apurada. Os consumidores finais, ao consumirem seus produtos e serviços, não percebem o quanto estão pagando de impostos, pois os tributos indiretos não aparecem no preço final dos produtos e serviços adquiridos. Foi por isso que a sociedade se moveu e criou uma medida sócio educativa chamada “De Olho no Imposto”, que depois virou a Lei nº 12.741/2012, que obriga as empresas a destacarem em documento fiscal os valores dos tributos indiretos, conforme modelo de um documento fiscal exposto a seguir: Contabilidade tributária6 Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1 Figura 3. Cupom fiscal com descriminação da carga tributária. O Instituo Brasileiro de Pesquisas Tributárias (IBPT) criou este mecanismo para que os consumidores ficassem atentos aos impostos indiretos que incidem sobre o consumo dos produtos e serviços adquiridos e repassados a eles. Este instrumento ainda precisa ser aperfeiçoado, porque os valores dos tri- butos indiretos são difíceis de serem obtidos, pois é sobre a cadeia produtiva que recaem esses impostos, ou seja, começa pelos fabricantes a repassarem esses tributos aos varejos, e eles aos atacados, e eles aos comércios, e por úl- timo, ficando com todo o ônus dos tributos indiretos os consumidores finais. 7Metodologia de cálculo para tributos diretos e indiretos Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1 BRASIL. Novas alíquotas da Previdência entram em vigor em março. Brasília: Ministério da Eco- nomia, 2020. Disponível em: http://www.previdencia.gov.br/2020/02/novas-aliquotas-da- -previdencia-entram-em-vigor-em-marco/. Acesso em: 9 abr. 2020. KMPG. Tributos indiretos no Brasil: abordagem da gestão de risco e criação de valores nos ne- gócios. [São Paulo: KPMG], c2010. Disponível em: <http://www.kpmg.com.br/publicacoes/ tax/impostos_indiretos/Tributos_Indiretos_no_Brasil.pdf>. Acesso em: 13 set. 2016. MACHADO SEGUNDO, H. B. Direito tributário e financeiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006. Leitura recomendada CARVALHO, P. B. Curso de Direito Tributário. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. Contabilidade tributária8 Identificação interna do documento NEHASB9NVN-H3M7JY1 DICA DO PROFESSOR Buscando exemplificar uma metodologia de cálculo de tributos indiretos, veja no vídeo a seguir formas de calcular o ICMS nas operações de compra e de venda de mercadorias. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Em relação à tributação no Brasil, assinale a alternativa correta: A) a) As contribuições da PIS e da COFINS ocorrem de modo direto. B) b) Boa parte da tributação do Brasil é sobre a renda. C) c) A diferença entre o Brasil e outros países, como a Argentina, é o maior foco na arrecadação sobre a renda. D) d) A carga tributária no Brasil afeta mais a população rica que a pobre. E) e) A tributação deveria ser equilibrada entre renda e consumo. 2) Qual o tipo de metodologia aplicada aos tributos diretos? A) a) Tabela regressiva. B) b) Alíquotas fixas. C) c) Tabela progressiva. D) d) Alíquotas que variam de acordo com a possibilidade de ganho. E) e) Tabela fixa. 3) A respeito da metodologia de cálculo para tributos indiretos, marque a alternativa correta: A) a) Todos os tributos indiretos utilizam-se de uma mesma base de cálculo. B) b) Alguns dos aspectos considerados pelos legisladores em relação à metodologia de cálculo dos tributos indiretos são os aspectos materiais, temporais e espaciais. C) c) Dependem exclusivamente do regime fiscal adotado. D) d) São calculados sobre o faturamento. E) e) A CIDE é uma contribuição que não utiliza a metodologia de cálculo dos tributos indiretos. 4) Assinale a opção correta sobre a metodologia de cálculo do ICMS: A) a) O valor referente à compra de mercadoria deve ser debitado. B) b) A COFINS obedece o mesmo método de cálculo do ICMS. C) c) Seu valor não consta descriminado em nota fiscal. D) d) O método de cálculo do ICMS obedece o princípio de não cumulatividade. E) e) Para ter o ICMS a recuperar no final do período, o saldo da conta deve ser credor. 5) Qual a forma correta de se calcular o ICMS devido ao Fisco? A) a) Aplicando a alíquota do ICMS em relação às receitas. B) b) Considerar o ICMS pago ou a pagar como um adiantamento da empresa. C) c) O montantedo ICMS deve ser somado à receita bruta, totalizando, assim, a receita líquida. D) d) A diferença entre o ICMS recebido na venda e o pago na compra resulta sempre em um ICMS a recolher. E) e) Deve ser incluído do custo de aquisição de mercadorias para revenda e de matérias- primas o montante de ICMS a recuperar. NA PRÁTICA A reportagem de julho de 2016 do site Brasileiros, cujo título é Dívida com o Fisco ultrapassa arrecadação anual pela primeira vez na história, traz informações acerca da inadimplência dos brasileiros, que chegou a R$ 2,21 trilhões, enquanto que a arrecadação estava em R$ 2,01 trilhões. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação - IBPT, foi a primeira vez que o endividamento de pessoas físicas e de empresas à Receita Federal ultrapassou a arrecadação anual da União, Estados e Municípios. De acordo com o coordenador de estudos do instituto, Sr. Gilberto Luiz do Amaral, este fenômeno se deu devido à desaceleração da atividade econômica e ao fator de desemprego. Diante deste contexto, o Governo estuda uma proposta para a unificação das contribuições como o Programa de Integração Social - PIS e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins, ambas com metodologias de cálculo de tributos indiretos, instituindo um novo tipo de contribuição social e aumentando a taxa de 3,65% de PIS/Cofins recolhidas pelas organizações para 9,25% ao ano. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Compra de mercadorias - Registros contábeis Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Tributos sobre vendas Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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